Catirina e Pai Francisco em quadrinhos – para além do auto do bumba meu boi

Catirina e Pai Francisco. Capa. Reprodução
Catirina e Pai Francisco. Capa. Reprodução

 

O quadrinhista Beto Nicácio volta ao universo da cultura popular do Maranhão em Catirina e Pai Francisco [Dupla Criação, 2016, 40 p.], nova hq que lança hoje, às 19h, na Galeria do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (Praia Grande).

Em preto e branco, optando pela limpeza típica do cartum (também uma linguagem pela qual o autor se aventura), a revista vai além do auto do bumba meu boi, remontando ao ciclo do gado, quando Pai Francisco ainda era criança e seu pai deu a vida para salvar o dono da fazenda, seu patrão.

O que Beto Nicácio faz é uma livre adaptação da lenda, talvez a enriquecendo. Não concentra-se apenas no enredo em que Catirina, grávida, deseja a língua do mimoso, o boi predileto do patrão. Embora não fuja dele.

Caminho natural da publicação seria adentrar o ambiente de escolas públicas e privadas, contribuindo para a difusão da cultura popular do Maranhão, em linguagem acessível para todas as idades. A revista tem a preocupação didática de, ao final, explicar detalhes, propor atividades e o consequente aprofundamento dos leitores em temas abordados na história em quadrinhos.

Autor, entre outros, de A lenda da carruagem encantada de Ana Jansen, sobre outra conhecida lenda destas plagas, o autor já tem outros projetos mixando as tradições do Maranhão e a nona arte. Mas cada coisa a seu tempo e agora é tempo de São João.

A noite de autógrafos será regada a mingau de milho e na ocasião, uma arte original da hq será sorteada entre os presentes. A revista custa R$ 20,00.

Catirina e Pai Francisco em quadrinhos – para além do auto do bumba meu boi

Catirina e Pai Francisco. Capa. Reprodução
Catirina e Pai Francisco. Capa. Reprodução

 

O quadrinhista Beto Nicácio volta ao universo da cultura popular do Maranhão em Catirina e Pai Francisco [Dupla Criação, 2016, 40 p.], nova hq que lança hoje, às 19h, na Galeria do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (Praia Grande).

Em preto e branco, optando pela limpeza típica do cartum (também uma linguagem pela qual o autor se aventura), a revista vai além do auto do bumba meu boi, remontando ao ciclo do gado, quando Pai Francisco ainda era criança e seu pai deu a vida para salvar o dono da fazenda, seu patrão.

O que Beto Nicácio faz é uma livre adaptação da lenda, talvez a enriquecendo. Não concentra-se apenas no enredo em que Catirina, grávida, deseja a língua do mimoso, o boi predileto do patrão. Embora não fuja dele.

Caminho natural da publicação seria adentrar o ambiente de escolas públicas e privadas, contribuindo para a difusão da cultura popular do Maranhão, em linguagem acessível para todas as idades. A revista tem a preocupação didática de, ao final, explicar detalhes, propor atividades e o consequente aprofundamento dos leitores em temas abordados na história em quadrinhos.

Autor, entre outros, de A lenda da carruagem encantada de Ana Jansen, sobre outra conhecida lenda destas plagas, o autor já tem outros projetos mixando as tradições do Maranhão e a nona arte. Mas cada coisa a seu tempo e agora é tempo de São João.

A noite de autógrafos será regada a mingau de milho e na ocasião, uma arte original da hq será sorteada entre os presentes. A revista custa R$ 20,00.

Masterpiece

O herói e a lenda. Capa. Reprodução
O herói e a lenda. Capa. Reprodução

Fui alfabetizado por Tex Willer. Explico: tendo aprendido a ler um pouco antes, aos sete anos descobri as coleções de revistas do ranger de meus tios. Devorei um a um os volumes de minha primeira paixão literária. E logo passei a montar a minha própria coleção. Lembro particularmente de um sebista reclamar do “dois por um” normalmente praticado nas operações de escambo: ele achava que duas Turma da Mônica eram muito finas, referindo-se ao número de páginas, para valer um Tex.

Até o início da adolescência cheguei a ter uma razoável coleção com mais de 400 exemplares. Lamentei quando cupins deram cabo em boa parte dela. O que se salvou teve algum sebo como destino: seria muito difícil, numa era pré-internet, conseguir novamente os volumes destruídos. Passei anos sem voltar a ler Tex e fui devolvido ao vício pelo Breganejo Blues, de Bruno Azevêdo: o mito bonelliano era leitura de cabeceira – ou de porta-luvas – do taxista, detetive “de corno” nas horas vagas.

Está nas bancas o belo volume de Tex, O herói e a lenda, de Paolo Eleuteri Serpieri [Mythos Editora, maio/2016, 50 p., R$ 29,90]. “No Oeste, se a lenda se encontra com a realidade, vence a lenda” é o mote – de John Ford, no clássico O homem que matou o facínora – que ancora a história, que o autor dedica a Sergio Bonelli.

Mote que me faz lembrar a ocasião em que Ricardo Calil entrevistou João Gilberto pelo facebook – ou quem quer que assinasse seu perfil na rede social. Realidade ou lenda? Pouco importava: a revista Trip [março/2011] publicou a entrevista –na ocasião já citava o faroeste.

Em 1913, em Nova York, Kit Carson está internado num hospital psiquiátrico, também um asilo para idosos. Recebe a visita de um jovem historiador e, a princípio aparentemente cansado, chega a tratar mal uma enfermeira que ousa despachar a visita, julgando que o velho quisesse ou precisasse dormir. Logo Carson começa uma narrativa lembrando um feito cruel de Tex.

Na aventura colorida, o longevo personagem – publicado em diversos formatos há mais de 70 anos – já veste camisa amarela e calça azul, mas está como eu particularmente nunca o tinha visto antes: cabeludo. Como, em parte, o Carson que narra os feitos a seu interlocutor (guardo o inesperado desfecho para não estragar a surpresa dos leitores), lembrando a bravura e o heroísmo do companheiro de tantas aventuras, que se conheceram durante o episódio que conta, em que Tex vence sozinho uma legião de índios e brancos, liberta uma moça e chega a discutir com autoridades – bem ao estilo que o consagrou.

Ao jovem que ouve Carson e ao diretor do lugar em que ele está internado pode ficar a dúvida sobre Tex ter existido ou não passar de lenda. “Você percebeu que esse homem tem muita fantasia? Ele conta coisas que não aconteceram”, o segundo adverte o primeiro. Lenda ou realidade, importa mais estarmos diante de uma verdadeira obra de arte.

Esfregando genialidade na cara da humanidade

Mate minha mãe. Capa. Reprodução
Mate minha mãe. Capa. Reprodução

 

O que quer alguém que já venceu o Oscar, o Pulitzer e o Obie Awards ao se meter e fazer uma graphic novel? Esfregar sua genialidade na cara da humanidade? “O que é que pode fazer um homem comum neste presente instante?”, hein, meu caro Belchior?

O melhor a fazer é deleitar-se com o exagerado talento de Jules Feiffer, 87, esfregado em nossa cara página a página, quadro a quadro de Mate minha mãe [Companhia das Letras/ Quadrinhos na Cia., 2015, 160 p., leia um trecho].

50 tons de cinza (e marrom) que realmente valem a pena, trama bem urdida, nada a ver com o soft pornô, best seller em livrarias e cinemas – refiro-me à coloração desta obra-prima de Feiffer, ser incomum e raro (redundo?), avalizado na contracapa por Neil Gaiman, Art Spiegelman, Chris Ware e Stan Lee. Querem mais?

Com talento mais que comprovado em outras áreas, Feiffer, escritor e cartunista com mais de 35 livros publicados, estreia em grande estilo com esta graphic novel policial, recheada de música. Não à toa, suas personagens cantam e dançam (às vezes literalmente), equilibrando-se na corda bamba entre o rabisco e a obra de arte.

Assistente de Will Eisner na adolescência, Feiffer, de cara, agradece a mestres que dão pistas das referências encontradas em Mate minha mãe: os quadrinhistas Milton Caniff e o próprio Eisner, os romancistas Dashiell Hammett, Raymond Chandler e James M. Cain e os cineastas John Huston, Billy Wilder e Howard Hawks.

Dividida em dois atos, a história se passa nas décadas de 1930 e 40. Pode soar clichê, mas parece impossível fugir da comparação dos quadrinhos com o cinema (noir): os diálogos rápidos, os capítulos curtos, a agilidade das personagens, saltando fora dos quadrinhos, os núcleos se cruzando: cinco mulheres e um alcoólatra arremedo de detetive.

Blues, bom humor, ironia: Feiffer tira um sarro de Hollywood, onde se passa a segunda parte da história, com uma personagem transgênero desfilando entre as estrelas, em determinado momento convertidas em atrações para soldados em guerra.

Gênio!

Linguagem: vírus e vício/s de Burroughs

Burroughs. Capa. Reprodução
Burroughs. Capa. Reprodução

 

Burroughs [Veneta, 2015, 128 p.], de João Pinheiro, outro brasileiro de reconhecimento internacional, é um mergulho profundo na atormentada mente do escritor beat – o quadrinista já havia hqbiografado outro da geração, em Kerouac [Devir, 2011]. A impressão arroxeada do miolo da graphic novel lembra as provas mimeografadas da escola da infância.

“A linguagem é um vírus vindo do espaço”, determina um dos primeiros quadros da história. O big bang de William Burroughs (1914-1997) foi o assassinato de sua esposa Joan, numa brincadeira de de seu xará Tell.

A HQ retrata um Burroughs perseguido por fantasmas, escrevendo para fugir deles, seu processo criativo, o método cut up utilizado por ele, Mugwumps, drogas, alucinações, o famoso inseto de Kafka, sua bissexualidade, a interzona e o Almoço nu – levado ao cinema por David Cronenberg. Também estão lá a violência – sobretudo contra homossexuais – e a sociedade que a aplaude, aos gritos de “bandido bom é bandido morto”.

“Morfina, heroína, dilaudid, eucodal, pantopom, diocodid, diosane, ópio, demerol, dolofina, paufium… comi, cheirei, injetei, enfiei no reto… o método não importa, o resultado é sempre o mesmo: dependência”, revela a certa altura. “Foram 15 anos no vício. Aos quarenta e cinco anos de idade, me livrei da doença da dependência. (…) Registrei minhas alucinações em centenas de páginas que mais tarde seriam publicadas sob o título Almoço nu”, continua. E arremata: “A única coisa real sobre um escritor é o que ele escreve, e não a sua vida. (…) Sinto-me forçado à conclusão apavorante de que nunca teria me tornado um escritor… sem a morte de Joan”.

Burroughs é, em suma, a história da busca de seu protagonista, um artista que viria a influenciar gerações, por salvação através da literatura, sua única crença possível.

Dinheiro não traz felicidade

O quadrinista Marcello Quintanilha é um especialista em retratar dramas humanos, de gente comum. Poderia ser a vida deste resenhista, ou a do leitor, tão reais são suas personagens.

Ele foi premiado recentemente num dos maiores festivais de quadrinhos do mundo, em Angoulême, na França, por sua trama policial Tungstênio [Veneta, 2014, 184 p.], seu álbum anterior.

Talco de vidro. Capa. Reprodução
Talco de vidro. Capa. Reprodução

Artista completo, Quintanilha assina roteiro e desenhos, tanto naquele quanto no drama psicológico Talco de vidro [Veneta, 2015, 160 p.], em que aborda a inveja e a mesquinhez, sentimentos sórdidos que levam à tragédia.

A HQ conta a história de Rosângela, dentista niteroiense sempre acostumada a ter tudo: seu primeiro consultório montado foi presente do pai e, bem casada, recebeu do marido – com quem tem dois filhos –, de presente (surpresa!), em sua casa de praia, um carro zero quilômetro.

Mas a protagonista de Talco de vidro não está satisfeita e, infeliz, sente inveja do sorriso da prima pobre. Não lhe inveja morar no subúrbio ou ir às festas espremida num Fiat 147 a serviço da família inteira – obviamente maior que a lotação do veículo.

A história mergulha na mente doentia de Rosângela, cuja vida entra em franca decadência, entre o fim do casamento, a vida desregrada que passa a ter, sob olhares moralistas, e a depressão, até o trágico desfecho.

Entre as belas paisagens do Rio de Janeiro, seja de bairros de classe média alta ou da periferia, o fosso que separa as parentes que protagonizam a graphic novel, o que o traço de Quintanilha faz é representar sentimentos bastante comuns, quase sempre escondidos, por vergonha ou por conta das regras do jogo chamado vida. Quem tem dinheiro para comprar tudo tem inveja daquilo que o dinheiro não pode comprar.

Mas engana-se quem fizer julgamentos antecipados atribuindo qualidade apenas ao traço do autor: seus diálogos e narrativa são tão bem construídos que, arrisco dizer, sobreviveriam como obra literária, sem o suporte das imagens. Certamente é justo neste casamento, que se fortalece a cada lançamento de Quintanilha, que reside a força que lhe garantiu sucesso internacional: é dos poucos quadrinistas brasileiros com projeção fora do país desenhando gente comum – mesmo quando “diferenciada”.

Mercado de quadrinhos em debate

30 de janeiro é o Dia do Quadrinho Nacional. A data alude à publicação da primeira HQ brasileira, As aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma viagem à corte, de Angelo Agostini, em 1869.

Em São Luís, a comemoração da data será antecipada e acontece hoje, na Galeria Trapiche Santo Ângelo (Praia Grande, em frente ao Terminal de Integração), com uma Roda de quadrinhos, formada por gente que entende do riscado: Iramir Araújo e Beto Nicácio (da Dupla Criação, que organiza o evento), Ronilson Freire, Rom Freire, Zilson Costa e Bruno Azevêdo debaterão o “Mercado de quadrinhos: expectativas e perspectivas”.

O encontro é, também, uma oportunidade de comprar, direto da mão de autores e editores, quadrinhos autorais, além de conhecer um pouco melhor o trabalho de uma turma que rala bastante e nem sempre tem o devido reconhecimento.

Divulgação
Divulgação

Personagem de si mesmo, Mutarelli volta aos quadrinhos em novo romance

Quadrinista tornado escritor, Lourenço Mutarelli entrou para a história: foi o primeiro escritor brasileiro a protagonizar a adaptação de um livro seu para o cinema, O natimorto [DBA, 2004; Companhia das Letras, 2009], após uma ponta em O cheiro do ralo, também adaptação de um sucesso literário seu.

O Grifo de Abdera. Capa. Reprodução
O Grifo de Abdera. Capa. Reprodução

Em O Grifo de Abdera [Companhia das Letras, 2015, 264 p.; leia um trecho], Mutarelli realiza um interessante exercício literário ao brincar com várias faces de si mesmo. É um jogo de trocadilhos, desde a composição dos nomes dos personagens, anagramas que ganham vidas e histórias, de dar à vida aspectos de ficção, e de revelar segredos por trás dos bastidores do ofício de escritor – ou do quadrinista, muito mais trabalhoso e menos reconhecido, embora ambos, de algum modo, glamurizados.

Mutarelli tira onda até mesmo com sua fórmula de escrever romances: os protagonistas são sempre homens mais ou menos em sua faixa etária, levando vidas mais ou menos comuns, até um acontecimento surpreendente e uma guinada, confessa.

Suas obras, entre as realmente lançadas e fictícias, estão lá citadas. Amigos escritores, de verdade e inventados, tornam-se personagens: Paulo Lins, Marcelino Freire, Marçal Aquino, Ferréz, além de Raimundo Maria Silva, Oliver Mulato e Mauro Tule Cornelli, que “assinam” O Grifo de Abdera com Mutarelli, este último seu anagrama. Um deles é quem figura nas fotos de orelha e viagens do autor a eventos literários, dentro e fora do Brasil.

O livro é a história de um duplo, fabricado a partir da chegada, às mãos de um dos protagonistas, da moeda que dá título à obra. As obsessões continuam perseguindo o autor, entre citações – entre outros, William S. Burroughs e Kurt Vonnegut, que já tiveram os nomes inscritos noutras obras de Mutarelli –, diálogos ligeiros e certeiros, exigindo e prendendo a atenção do leitor, a vasta pesquisa – um personagem acometido de síndrome de Tourette repete frases grosseiras e, portanto, inoportunas em espanhol digitadas pelo duplo no tradutor do Google – e o entrecruzar de diversos enredos paralelos, a vidinha nada besta de professores, escritores e biscateiros.

É recorrente também a ideia de Mutarelli, personagem, retomar os quadrinhos. Dividido em três partes – O livro do fantasma, O livro do duplo e O livro do livroO Grifo de Abdera é um presente aos fãs que o acompanham desde Transubstanciação [1991] e/ou aos recém-chegados. Após cinco anos do último romance – Nada me faltará [2010] – quatro do último álbum – Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia quente [2011] – e três do volume único que reuniu a trilogia do detetive Diomedes [2012], o múltiplo Mutarelli mescla romance e quadrinhos (as 80 páginas centrais do livro) em uma obra que, além de agradar a leitores antigos e mais novos, certamente aumentará seu fã-clube. A pergunta, talvez óbvia, que não lhes calará é: quando O Grifo de Abdera será adaptado ao cinema?

Jornalismo, música e quadrinhos

Malcolm. Capa. Reprodução
Malcolm. Capa. Reprodução

Em 1995 Malcolm McLaren (1946-2010) visitou os estúdios da MTV Brasil. Pego de surpresa, o escalado para entrevistá-lo foi Fábio Massari, o Reverendo, profundo conhecedor de cultura pop. Apenas cerca de 15 minutos da entrevista de quase uma hora foi ao ar e o material bruto (em VHS) continuava apenas no acervo pessoal do radialista – e no da emissora, ele descobriria depois, contrariando a expectativa de destruição na qual ele próprio acreditava.

Mesmo no susto, Massari cumpriu bem seu papel e certamente seria um dos poucos brasileiros a fazê-lo, como atesta André Barcinski no posfácio. Por anos, guardou também uma cópia da transcrição da conversa, recheada, e não poderia ser diferente, de citações – sobretudo de música, moda e política – do universo ao redor dos Sex Pistols, a maior invenção do entrevistado.

Quase duas décadas depois, após um desejo acalentado por anos, Massari e o quadrinista Luciano Thomé, cujo traço encarna a alma punk do protagonista, transpõem a entrevista televisiva – na íntegra – à HQ Malcolm [Edições Ideal, Coleção Mondo Massari, 2014, 64 p.; leia um trecho]. O resultado é tão bom que parece que a conversa foi originalmente pensada para o formato.

O papo orbita em grande parte em torno do grupo de John Lydon e companhia, mas é um passeio pela indústria cultural, em companhia de quem sempre tirou um sarro por dentro. McLaren afirma, por exemplo, que os Sex Pistols nasceram como manequins: mais importava vestirem o que era conveniente ao empresário que que soubessem tocar (bem) algum instrumento. “Em 1977 criamos um movimento em que tudo era possível e não era necessário saber tocar guitarra”, diz. Quer atitude mais punk que isso?

A intimidade de Massari com o universo também aponta para as influências de MC5, Iggy & The Stooges e New York Dolls, e o legado deixado pelo grupo, que influenciou grupos como The Damned, Buzzcocks “e muitas outras bandas”. Sobram críticas à cultura americana – minimizada a “rock’n’roll, Levi’s, Coca-Cola e Marylin Monroe” –, à própria MTV – “se você ouve música, você é menos controlado por ela. Se você assiste na TV, você está mais propenso a ser controlado por ela e ela se torna uma… uma droga que o transforma num zumbi” – e a artistas que McLaren não aprecia – “o importante é ter algo a dizer em vez de botar todo mundo para dormir com música insossa, do tipo Mariah Carey”.

Para o inglês Malcolm McLaren não havia lugar para gênios nos Estados Unidos: “os gênios transformam a vida e os EUA não querem mudanças. Vivem um momento conservador”.

Malcolm, a HQ, é um belo tributo ao legado de seu protagonista, em geral amado e odiado ao mesmo tempo e na mesma intensidade, um dos personagens mais interessantes e controversos da música em todos os tempos.

Pitomba vai botar a banca no Sebo no Chão

A banca da Pitomba

Depois do sucesso do lançamento coletivo de ontem (11) no Chico Discos, a editora Pitomba vai botar a banca no Sebo no Chão: domingo (15), a partir das 19h, na praça da Igreja do Cohatrac, Bruno Azevêdo, Celso Borges, Jorgeana Braga e Reuben da Cunha Rocha autografam seus novos livros, respectivamente Baratão 66, O futuro tem o coração antigo, A casa do sentido vermelho e As aventuras de Cavalodada em + realidades q canais de tv.

Na ocasião haverá ainda o tradicional comércio de livros organizado por Diego Pires, exibição do filme Luises – Solrealismo maranhense, do coletivo Éguas, além de apresentações musicais de Acsa Serafim, Sfanio Mesquita e Tammys Loyola.

No Guesa Errante (Jornal Pequeno) de sábado passado (7) escrevi sobre As aventuras de Cavalodada em + realidades q canais de tv. Continue Lendo “Pitomba vai botar a banca no Sebo no Chão”

De quatro é mais gostoso

A lua, a data e o catálogo da Pitomba são crescentes. 11/12/13. Noite. Chico Discos. Quatro autores, Bruno Azevêdo (Baratão 66, com Luciano Irrthum), Celso Borges (O futuro tem o coração antigo), Jorgeana Braga (A casa do sentido vermelho) e Reuben da Cunha Rocha (As aventuras de Cavalodada em + realidades q canais de tv), autografam seus novos livros, a estreia, no caso do último.

Se liguem: dia onze, mês doze, ano treze. Sacaram? “O gato preto cruzou a estrada/ passou por debaixo da escada”. Antes isso que ficar em casa nessa data. Pra quem não for, nunca a frase “azar o seu” fez tanto sentido.

Apareçam! Encontrem conhecidos e desconhecidos. Conversem. Bebam. Tirem gosto com queijo e azeitona. E principalmente: comprem e leiam os livros, que estão lindos por fora e por dentro.

Mais sobre cada um digo depois (sobre o de Celso eu e Flávio Reis, autor também publicado pela Pitomba, já dissemos). De aperitivo, deixo-lhes as capas.

Esse sai com duas capas. A outra vocês conhecerão no lançamento
Poesia de Celso Borges vem embalada em registro fotográfico da cidade fora do convencional
Segundo livro da poeta, que estreia no romance
Entre a poesia e o manifesto, a estreia de Reuben da Cunha Rocha

Isabel, cômica

Isabel faz pose enquanto autografa um exemplar do álbum de retratos inventado por seus pais

O escritor Bruno Azevêdo e a jornalista Karla Freire escolheram uma forma nada convencional – mais que isso, uma forma genial – de documentar os primeiros anos de sua filha, Isabel: fotografando-a e criando histórias.

Ontem, na Livraria Leitura (Shopping da Ilha), aconteceu o lançamento de Isabel Comics! – ano dois [Pitomba, 2013, 54 p., R$ 20,00], que reúne tiras do segundo ano de vida da criança mais famosa de São Luís.

Os pais, autores de, entre outros, O Monstro Souza – romance festifud [Pitomba, 2010, 244 p., esgotado] e Onde o reggae é a lei [Edufma/ Pitomba, 2012, 304 p., R$ 45,00], respectivamente, passaram boa parte de seu tempo, nos últimos dois anos – que Isabel completou em março passado –, fotografando, escrevendo e montando as histórias mui engraçadas de sua filha.

A capa já entrega a sapequice – existe essa palavra? – da guria, ao desafiar a ordem estabelecida, tentando subir em um escorregador justo no lugar em que se deveria descer. Não se pode ser herdeira de Bruno e Karla impunemente.

Bruno Azevêdo é um quadrinhista que não desenha. Em Isabel Comics!, ele e sua esposa também são atores na fotonovela cuja personagem principal é sua filha, com pontas do Gato Marreco – um agente secreto aposentado – e de alguns parentes e amigos. Fotografam-se uns aos outros e recheiam as histórias de referências a alta e baixa cultura, distinções que aqui nem fazem sentido (e fazem nalgum lugar?).

Estão lá A Galinha Pintadinha, as “tias” da creche, o mar cheio de merda da Ilha capital (uma das páginas preferidas deste blogueiro), o sorveteiro Quantos – sucesso absoluto (há “quantos” anos?) pelos corredores da UFMA, onde os pais de Isabel cursaram graduações e mestrados –, Tony, o Troninho, a nutricionista (recomendando em alto e bom som “Mocotó pra Missu!” – seu apelido), Bob Esponja, South Park, Star Wars e os Backyardigans – “Biardigans”, na pronúncia de Missu. Sobra até mesmo para o sociólogo Pierre Bourdieu e o diabo – sim, o capeta, imortalizado em uma parede do Desterro, bairro do Centro Histórico ludovicense, e agora em uma página de Isabel Comics!.

Algumas histórias do álbum podem ser vistas no perfil da publicação no Facebook e no blogue do pai. A quem ainda não sacou o sorriso de Bebel fazendo-nos sorrir, se liguem: este ano dois é o último da publicação deste álbum de fotografias, pois como advertem os pais numa espécie de bilhete de abertura, “não queremos que você cresça como um personagem de gibi”. Será mesmo que não rolaram umas sobras?

Dica: três quadrinhos charmosos

Compartilho com os poucos mas fiéis leitores três publicações que me chegaram recentemente às mãos. São quadrinhos charmosos, independentes, de bolso e a preços justos. Infelizmente não são encontrados em qualquer banca de revista – embora mereçam ser mais populares –, mas podem ser adquiridos pela internet, direto com os autores.

Onde meu gato senta, de Pedro Leite: ele tira onda de si mesmo, como todo bom humorista deveria saber fazer. Zoa dizendo que é considerado um dos maiores desenhistas do Brasil, pelo fato de ter mais de dois metros de altura. Mas ele é realmente bom. O livro [2012, 57 p.] é sobre a mania que gatos, donos de tudo, inclusive de seus donos, têm de encontrar o lugar mais inapropriado e se instalar. Em cima do jornal que leio sobre a mesa, dentro da mala que arrumo, sobre o teclado do computador justo quando estou digitando e tantas outras situações por que quem tem gato – ou gata, Pagu, no meu caso, veja-a curtindo meu exemplar – certamente já passou.

Quadrinhos ácidos, zine de Pedro Leite e Leandro Difini: uma série de tirinhas que faz piada com nosso cotidiano besta. Diz umas verdades e pisa nuns calos. É melhor não presentear aquele amigo que gosta de Big Brother com ele, por exemplo. Os quadrinhos fazem jus ao nome.

Tension de la passion, vol. 1 [Beleléu, 2013, 36 p.]: este livreto cor de rosa é obra coletiva. Diversos artistas do traço interpretam o seguinte mote erótico: “A noite me envolvia quando François apareceu, misterioso e sedutor/ nossos corpos trêmulos se tocaram/ no estupor do momento, perdi a razão/ nunca mais o vi, jamais o esqueci”. Comparecem às páginas Daniel Carvalho, Daniel Lafayette, Eduardo Arruda (ilustrador de A intrusa, de Bruno Azevêdo), Eduardo Belga, Elcerdo, Koostella, LTG, Mateus Acioli, Pablo Carranza, Rafael Campos Rocha, Rafael Sica e Stêvz (autor do texto mote).

Proscritos no Dia do Quadrinho Nacional

Certamente intencional a escolha da data de hoje para Beto Nicácio lançar seu mais novo álbum. Proscritos chega ao mercado logo mais às 19h, na Galeria do SESC Deodoro, quando o autor distribuirá sorrisos e autógrafos e discutirá O quadrinho no Brasil: produção e mercado, tema da mesa que precede o lançamento em si, que ele dividirá com Bruno Azevêdo, Iramir Araújo, Rôm Freire e Zilson “Zeck”, nomes sempre lembrados em se tratando de uma cena local de HQs.

No lançamento o livro será vendido por 30 reais e haverá ainda coquetel e sorteio da promoção realizada no blogue de Proscritos.

Abaixo, a homenagem de André Dahmer à classe.