A nanobiografia do autor, ao fim do volume, afirma: “formou-se em jornalismo, mas deixou a profissão para se dedicar às histórias em quadrinhos”. A bem da verdade, ele não deixou a profissão: Joe Sacco [Malta, 1960] tornou-se talvez o mais importante autor de jornalismo em quadrinhos e este Reportagens [Quadrinhos na Cia., 2016, 199 p.; tradução de Érico Assis; leia um trecho] é prova inconteste.
Aliás, Journalism é o título original deste álbum, que reúne verdadeiras lições de jornalismo – e geopolítica – em um gênero em geral tido como menor, menos sério ou menos importante. O próprio Sacco assina uma “saraivada introdutória para achacar todos aqueles que se opõem à legitimidade dos quadrinhos como forma eficiente de fazer jornalismo” – lição número um.
Seu trabalho é tão profundo quanto reportagens que se utilizam apenas de palavras e fotografias – aliás, seus quadrinhos deixam no chinelo muitos jornalistas acostumados (viciados) aos ares-condicionados de confortáveis redações e/ou ao copia e cola de releases e opiniões prontas dos patrões.
Joe Sacco não vai apenas para a rua, como é necessário para o bom e velho jornalismo, não apenas enfia os pés na lama: ele vai literalmente para o meio do olho do furacão, retratar dramas humanos em zonas de guerra.
Reportagens é uma coletânea de trabalhos de menor extensão publicados por ele mais ou menos recentemente em revistas e jornais como Boston Globe, Details, Guardian Weekend, Harper’s Magazine, New York Times Magazine, Virginia Quarterly Review e XXI.
O jornalista-quadrinhista é objetivo sem se tirar de cena – por vezes as reportagens têm um quê de making-of (além de um texto ao final de cada uma, detalhando pormenores de suas feituras e opiniões do autor sobre o próprio trabalho, um interessante exercício de autocrítica, inclusive).
O ponto em comum destas reportagens é a violência. O modus operandi militar – igual em qualquer parte do mundo – é alvo de Julgamentos de guerra, que se passa no Tribunal Penal Internacional, em Haia. O preconceito contra imigrantes africanos em Malta – terra natal de Sacco – é retratado em Os indesejáveis. Kushinagar retrata fiel e cruamente as injustiças, desigualdades sociais e a fome na Índia.
Se há quem ainda torça o nariz para o jornalismo em quadrinhos – gênero ainda pouco explorado no Brasil –, há quem reconheça Joe Sacco como um dos maiores correspondentes de guerra de nossos tempos, ele, autor também de Notas sobre Gaza [Companhia das Letras, 2010, 432 p.] e Palestina [Conrad, 2011, 328 p.], temas e geografias que também frequentam Reportagens.
Diante de pautas tão densas e cruéis é impossível falar em ludicidade – mesmo em se tratando de histórias em quadrinhos. Sacco não perde o bom humor e, aqui e ali, tira onda de seus interlocutores, fazendo com isso, críticas a funcionários públicos corruptos e coronéis – tenham os nomes que tiverem em outros países e línguas.
Jotabê Medeiros e o blogueiro na Feira do Livro de São Luís em 2013, quando ele lançou “O bisbilhoteiro das galáxias”. Foto: Talita Guimarães
Amanhã (23) em São Paulo, o jornalista Jotabê Medeiros reúne diversos amigos para celebrar a obra de Belchior, artista cearense de quem está escrevendo a biografia Pequeno perfil de um cidadão comum, título de uma conhecida canção sua, parceria com Toquinho.
E-flyer de divulgação do evento. Arte: André Kitagawa
“Eu tenho diversos amigos que partilham comigo essa paixão pela obra do Belchior e pela coerência artística dele. Me ocorreu que é legal manter uma obra como a dele, que está agora, talvez, um tanto quanto esquecida, pelo fato de que ele deu um sumiço, que seria legal reunir as pessoas que têm algo a dizer e fazer umas provocações. Os beatniks faziam muito isso, houve uma tradição uma época no mundo cultural, reunir as pessoas, o dadaísmo se reunia no Cabaret Voltaire, lá em Zurique, e lá eles realizavam suas provocações artísticas. A gente esqueceu um pouco essa tradição, tá tudo muito ligado a questões como showbiz, a realização de um show, achei até que essa coisa da extinção do Ministério da Cultura liberou um pouco pras pessoas fazerem ações coletivas sem fins outros que não a própria ação. Esse encontro, Invocação Belchior, é uma coisa assim, eu até brinquei, como tinha essa coisa lá nos beatniks, os belchniks vão se reunir no dia 23 aqui em São Paulo”, anuncia Jotabê.
Biógrafo e biografado têm trajetórias parecidas, como lembra Belchior na autobiográfica Fotografia 3×4, “pois o que pesa no norte/ pela lei da gravidade/ disso Newton já sabia/ cai no sul, grande cidade”, ele cearense de Sobral, Jotabê paraibano de Sumé, o primeiro desce para o eixo Rio-SP em busca de um lugar ao sol na MPB da época dos grandes festivais, o segundo forma-se em jornalismo em Londrina/PR e fixa residência em São Paulo, onde consolida-se como um dos mais importantes jornalistas culturais em atividade no país.
“Belchior tratou em algumas músicas da questão da migração, tem também entrevistas que tratam dessa coisa, o fato do cidadão migrante, principalmente do Nordeste, ser visto como um pária, às vezes, aqui no Sul, Sudeste, ser visto como um ser, eles fazem essa confusão, geralmente é o porteiro ou é o pedreiro, no Rio de Janeiro chamam todo mundo de Paraíba, aqui em São Paulo chamam de baiano, sempre com um tom meio agressivo, e o Belchior sentiu isso na pele e fez algumas músicas maravilhosas sobre esse sentimento. Eu sou migrante, mas vim beber pra cá pro Sudeste, conheço esse sentimento meio transversalmente, mas reconheço a grande poesia que nasce desse estado de preconceito. Belchior fez maravilhas, Fotografia 3×4 é a história de todos nós”, prossegue Jotabê.
A Belchiorgrafia em progresso e o evento de amanhã são exceções no noticiário relativo ao artista nos últimos anos, seu bigode grisalho tingido pelo marrom da imprensa sensacionalista, especulando sobre dívidas, motivações e até seu quadro psicológico. Jotabê trabalha com afinco, em meio a uma agenda intensa de compromissos profissionais, atuando como jornalista independente há pouco mais de um ano, escrevendo regularmente em seu blogue, no site Farofafá e no portal Uol.
“Seria ótimo poder falar com ele, cotejar alguns temas da obra dele, perguntar, por exemplo, eu tou tendo que ir a fontes, parceiros, para chegar, por exemplo, por que o desespero era moda em 73?, um verso famoso dele [de A palo seco]. O desespero era moda em 73 por que naquela época quem mandava no país era um general chamado Emílio Garrastazu Médici, era linha dura, a perspectiva para artistas e pessoas que eram vítimas da censura era muito dura, então ele cunhou esse verso em relação a esse período do Médici, e pouca gente sabe disso. Eu gostaria de falar com ele e perguntar para ele, diretamente. Não vai ser possível”, contenta-se.
Em 2016 Alucinação completa 40 anos. O disco de Belchior foi eleito o melhor da música produzida no Ceará, em enquete do jornal O Povo. Em outubro, o compositor completa 70 anos, quando deve ser lançado Pequeno perfil de um cidadão comum. “Vai estar na mão do editor daqui a um mês, então acho que sai. Tá previsto, vai sair”, garante. Segundo livro de Jotabê Medeiros, o aguardado sucessor de O bisbilhoteiro das galáxias – No lado b da cultura pop [Lazuli, 2013], será certamente um presente e tanto para Belchior, seus fãs e interessados em música e jornalismo cultural em geral.
Ouça o álbum Alucinação:
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O texto toma por base entrevista concedida por Jotabê Medeiros ao blogueiro no programa Conversa à Beira Mar da última quarta-feira (20), na Rádio Timbira AM (1290KHz).
Fenômeno das redes sociais, referência de um jornalismo que se assume de esquerda, a jornalista Cynara Menezes, editora do blogue Socialista Morena, estará em São Luís terça-feira que vem (19) para um debate sobre “Mídia, poder e democracia”, promovido pela Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop).
O evento “Diálogos insurgentes” acontece na Galeria do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (Praia Grande), às 17h, gratuito e aberto ao público. Ela dividirá a mesa com Francisco Gonçalves, titular da Sedihpop, professor doutor do departamento de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e Ricarte Almeida Santos, sociólogo e radialista, secretário executivo da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, produtor e apresentador do dominical Chorinhos e Chorões, na Rádio Universidade FM (106,9MHz).
Formada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Cynara já passou por grandes redações, como Folha e O Estado de S. Paulo, Veja, Isto É/Senhor, Vip e CartaCapital. Atualmente é colunista da revista Caros Amigos, onde assina o Boteco Bolivariano.
Zen Socialismo. Capa. Reprodução
Inaugurou o Socialista Morena em 2012, assumidamente esquerdista. Em sua casa na internet, prega um socialismo à brasileira, mestiço, moreno, como defendiam Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, a quem ela homenageia em seu espaço, o primeiro veículo de comunicação brasileiro a ter uma editoria de “maconha” – ousadia imperdoável para os reacionários que não perdem tempo em agredi-la por… pensar.
No blogue, ao contrário da regra geral da internet – sim, há exceções –, busca escrever textos que sobrevivam à pressa e instantaneidade típicas da rede. Ano passado reuniu os melhores em Zen Socialismo (os melhores posts do blog Socialista Morena) [Geração Editorial, 2015, 240 p.; leia o primeiro capítulo], que ela autografará após o debate.
Por e-mail, Cynara Menezes conversou com exclusividade com o Homem de vícios antigos.
Cynara Menezes, a Socialista Morena, em clique de João Fontoura
Você tem feito a defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff, com as devidas críticas a seus governos e aos de Lula. Na sua opinião, o PT é vítima de uma armadilha que criou para si, ao não democratizar a comunicação e as verbas de publicidade governamental? Acho que o PT cometeu um erro de estratégia ao repetir a aliança com o PMDB em 2014. Não lhe acrescentou nada, pelo contrário. Estaria muito melhor hoje se Dilma tivesse sido eleita numa chapa puro sangue. Quanto à democratização da mídia, ainda que ela não tivesse se concretizado, seria possível ao partido (não ao governo) investir em mídias próprias, em vez de gastar tanto dinheiro em marketing político durante a campanha eleitoral. Para mim, a existência da internet é, em si, uma democratização da mídia. O PT e as esquerdas em geral poderiam ter avançado mais nos últimos anos em busca de meios de comunicação próprios.
O Socialista Morena é, hoje, um fenômeno nas redes sociais, algo raro para um site assumidamente de esquerda. Sua iniciativa é sustentada por seu público leitor. A que você credita essa preferência? Acho que toquei num ponto que muitos órgãos da grande mídia parecem não perceber: a carência do leitor por textos bacanas, curiosos, sobre fatos atuais ou históricos. Invisto no meu blog em posts atemporais justamente por isso; os posts noticiosos acabam ficando “datados” rapidamente, de certa forma repetem o impresso, que no dia seguinte já estará embrulhando o peixe. Também me situei num nicho existente: a demanda por leituras de esquerda, que os jornalões não contemplam de forma alguma. Pode-se dizer que ninguém de esquerda hoje se sente representado pela mídia hegemônica. E somos metade da população, pelo menos.
O blogue surgiu em paralelo à sua atividade na imprensa, como repórter de CartaCapital. O hobby virou um compromisso mais sério? Você é adepta do pensamento de que “quem trabalha com o que gosta vive eternamente de férias”? Nunca foi hobby, sempre foi um plano B para mim. Quando comecei o blog, já tinha em mente que estava iniciando meu veículo de comunicação. Quem trabalha com o que gosta é mais feliz, sem dúvida. Eu trabalho pacas, jamais podia dizer que estou eternamente de férias.
A transparência entre quem escreve e quem lê deveria ser um pressuposto da prática jornalística, não é? Raramente se vê um veículo ou profissional assumir de forma explícita posição político-ideológica, escondendo-se sob o falso manto da imparcialidade. O cenário está mudando? Sim, depende do veículo. Alguns jornais e revistas proíbem que seus jornalistas se posicionem politicamente nas redes sociais, caso da Folha. Mas vejo, por exemplo, que os profissionais do jornal O Globo são mais liberados para falar o que pensam, assim como os repórteres dos canais esportivos, mesmo os da Globo. Recentemente vi também jornalistas da TV Globo e GloboNews assumirem posturas ideológicas, tanto mais progressistas quanto mais à direita. Acho isso bom, fica mais transparente.
De uns tempos para cá, muita gente tem migrado de veículos para profissionais, isto é, deixado de acompanhar jornal A ou B para acompanhar jornalista X ou Y. A seu ver, quais as vantagens e desvantagens deste modelo? A vantagem é que os jornalistas se firmam sem a necessidade de estar vinculados a grandes veículos. Para o leitor, facilita na orientação do que ler: quando você confia em alguém como guia de leitura, evita perder tempo com conteúdos desinteressantes ou com os quais a pessoa não se identifica. A desvantagem é que ainda somos poucos, isso reduz o espectro da informação. Quando formos muitos informadores autônomos, haverá um leque mais amplo de escolha para o leitor.
Quais as suas melhores e piores lembranças de seus tempos de grande mídia? Trabalhei muito bem na Folha de S. Paulo, tive grandes oportunidades lá. Pude entrevistar alguns dos escritores mais importantes do país e fiz muitas matérias divertidas. O chato para mim na Folha era o veto ao pensamento político próprio. Isso, depois de certa idade, se torna insuportável. Minha pior lembrança é, sem dúvida, minha passagem de oito meses pela revista Veja, uma escola de como não fazer bom jornalismo.
Seu claro posicionamento ideológico tem um preço: ataques, grosserias e toda sorte de péssimos comportamentos de quem não consegue tolerar sua postura. A veiculação de mentiras sobre sua pessoa é uma constante. De vez em quando você anuncia processos na justiça contra a perpetuação dessa prática. É possível fazer um balanço das causas? Dá para comprovar, como parte, a lentidão e seletividade da justiça brasileira? É muito difícil penalizar alguém. O máximo que a gente consegue é dar um tranco, enviando interpelações judiciais a caluniadores. No caso do senador Ronaldo Caiado, pedi direito de resposta em seu twitter por ter me caluniado. A ação está correndo na Justiça.
Uma trincheira de sua luta é a defesa de um modelo alternativo de socialismo, mais à brasileira, mestiço, moreno, evocando figuras como Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, a quem o nome de seu blogue homenageia. Mais que possível, é um socialismo necessário? Eu vejo a existência do socialismo como uma condição sine qua non para o equilíbrio do planeta. Imaginem se no mundo só houvesse capitalistas! Acho que as teorias em torno do socialismo estão mudando. Não sou nenhuma teórica, mas percebo que talvez o socialismo não seja, como se pensava, um modelo de sociedade, e sim um sistema de governo. Talvez sejam possíveis governos socialistas e não uma sociedade socialista.
Você visita o Maranhão governado por Flávio Dino, primeiro governador eleito pelo PCdoB na história do Brasil, após décadas de dominação da oligarquia Sarney. É possível, à distância, fazer uma avaliação do mandato do comunista? Não me chegam muitas informações, mas o que conheço, gosto. Sobretudo por ele ter sido capaz de desmontar a oligarquia Sarney. Acompanhei recentemente a abertura de concurso para professores com salário inicial de 5 mil reais na rede estadual. Valorizar os professores é sempre um bom sinal. Darcy Ribeiro aprovaria.
O processo de impeachment de Dilma Rousseff lembra, guardadas as devidas proporções, a cassação do governador maranhense Jackson Lago, em abril de 2009, através de um golpe judiciário. Após pouco mais de dois anos de governo, o pedetista tinha certo desgaste com alguns setores e contou com pouco apoio popular. Que conselhos você daria a Flávio Dino para um mandato realmente popular, democrático e progressista? Governar com a participação dos movimentos sociais. Dilma se afastou deles nos dois mandatos, foi um de seus principais equívocos. Saber ouvir as pessoas, principalmente os jovens, que estão muito interessados em participar das gestões e das decisões. Acho que toda secretaria deveria ter um conselho de jovens. Temos que ouvir os jovens, eles estão na rua o dia todo, estão na escola, na universidade, têm contato com a insegurança, com a polícia. Um governo de esquerda também tem que ser criativo, buscar sempre novas soluções para os problemas, e deve estar atento para a mobilidade urbana, uma questão fundamental do século 21.
A menina vinda do interior da Bahia que venceu na vida: passou por grandes redações, morou na Espanha e hoje tem um dos blogues mais respeitados do país. Num tempo em que o jornalismo parece se esfarelar em sua mesquinhez movida por interesses outros que não a notícia e a verdade em si, o que você diria a jovens estudantes que serão jornalistas num futuro breve? Que procurem investir em sua formação intelectual. Aprender idiomas, ler boa literatura, bons ensaios e bons conteúdos na rede. Fuçar, não perder a curiosidade, sempre. Procurar conhecer os mestres também é importante. Tudo isso vai ajudá-los a se tornarem profissionais diferenciados no meio. Gente despreparada não terá lugar no jornalismo, ou fará mais do mesmo.
João Miguel na pele do jornalista Ernesto. Frame. Divulgação
Quase memória [drama, Brasil, 95 min.] é caminhar no pântano: nem sempre se pode confiar onde se está pisando. Será verdade tudo o que lembramos?
O filme de Ruy Guerra baseado no romance de Carlos Heitor Cony é esta tensão entre o claro e o escuro, lembranças vívidas e lapsos, lacunas, o que o título nos entrega de bandeja.
Quase memória, o livro, é, em termos de vendagem, título brasileiro raro, quase na casa do meio milhão de exemplares vendidos.
O filme é uma livre adaptação, em que Carlos Campos (espécie de alter-ego cinematográfico do escritor) conversa consigo mesmo neste exercício de reconstrução da memória. Ele é Tony Ramos – em estupenda interpretação – e Charles Fricks, num longa que conta ainda com atuações de João Miguel e Mariana Ximenes.
O Carlos velho ouve no rádio o decreto do ato institucional nº. 5, em 13 de dezembro de 1968, o que deixaria a ditadura ainda mais dura, perdoem o trocadilho infame; o Carlos jovem vê na tevê a notícia da morte do piloto brasileiro de fórmula 1 Ayrton Senna em 1º. de maio de 1994.
Sem compará-los são dois momentos trágicos da vida pública nacional, estopim para o diálogo que Carlos terá consigo mesmo ao longo de uma noite e uma madrugada. O relógio bate seis vezes marcando a hora da Ave Maria e o início do diálogo e, dia amanhecendo, garrafa de uísque vazia, seis vezes anunciando a chegada da manhã.
Jornalista, Cony é filho de jornalista, e livro e filme acabam sendo, também, uma declaração de amor ao ofício cada vez mais avacalhado nestes tempos sombrios – se o blogueiro parece pessimista, a adaptação não.
Há humor nas lembranças que Carlos tem do pai em diversos momentos marcantes de Quase memória, mesmo os trágicos, como o crítico de teatro Mário Flores (Júlio Adrião), que morre vítima de infarto ao saber de sua demissão por notícia do jornal em que havia dedicado três décadas a óperas e que tais. Noutra passagem, Ernesto (João Miguel), pai de Carlos, é promovido a autor da coluna de obituários, após imaginar (e publicar) o discurso de um padre – que acabou morrendo sem proferi-lo.
Parceiro de Chico Buarque em músicas como Tira as mãos de mim, Bárbara, Fado Tropical, Ana de Amsterdam, Tatuagem e Não existe pecado ao sul do Equador, Ruy Guerra já havia adaptado ao cinema um livro do escritor: Estorvo [2000].
Quase memória pré-estreia na abertura da oitava edição do festival Maranhão na Tela, com exibição gratuita e aberta ao público dia 21 de março, às 19h, no Teatro João do Vale (Rua da Estrela, Praia Grande).
Homem de vícios antigos assistiu o filme a convite da produção do festival.
Artista disponibilizou três faixas, antecipando o álbum que gravará em 2016. Também já está no ar o videoclipe de Chocolate meio amargo, uma das faixas de Descostura
Este é o videoclipe de Chocolate meio amargo, uma das três faixas de Descostura, EP que Valéria Sotão acaba de disponibilizar na internet. Compositora e cantora – é ela quem prefere ser chamada nesta ordem – que acrescenta um “de voz miúda” ao se apresentar nas redes sociais.
Descostura. Capa. Reprodução
Chocolate meio amargo tem direção de Emilio Andrade e atuação de Luciano Teixeira e Larissa Ferreira. Descostura, o EP, está disponível para audição no soundcloud da artista, que promete para ano que vem o álbum completo de estreia. Apesar de jovem, Valéria já deu algumas guinadas na vida.
Primeiro, abandonou o jornalismo. “Fiz jornalismo porque queria mudar o mundo, mas aprendi logo a falta de autonomia na área. Sempre quis música; mas minha família queria uma garantia, então fiz faculdade e adiei a música”, conta. Dedicou-se por algum tempo à fotografia, profissionalmente. Com Descostura alça, agora, voo musical.
“Acho que o jornalismo me trouxe uma bagagem cultural única, que posso usar na música, e a fotografia é uma arte e todas as artes são relacionadas”, afirma, costurando suas áreas de atuação.
Valéria Sotão, compositora e cantora “de voz miúda”. Foto: divulgação
Ela compõe desde os 15 anos, mas só recentemente fez sua estreia num palco, durante o evento Lição de moda, no recém-inaugurado Shopping Passeio, no Cohatrac. “O produtor do evento me chamou sem nunca ter me ouvido, pois disse que confiava no meu bom gosto. Moda é arte, forma de expressão assim como a música”, acredita.
Descostura tem uma pegada pop, cujas influências, ela mesmo confessa, são Caetano Veloso, Rita Lee, Secos & Molhados, Placebo e David Bowie. Ela, no entanto, não renega a cultura popular – o clipe de Chocolate meio amargo tem trechos rodados num de seus principais palcos no Maranhão, a Praia Grande. “Eu adoro a cultura popular maranhense. Já vivi muitas coisas na Praia Grande, já fiz faculdade de música – que não terminei – por ali… Adoro bumba meu boi”, revela.
Raflea (nome artístico de Rafael Cunha França, integrantes de bandas como Torre de Papel e Casaloca), um exército de um homem só, tocou todos os instrumentos do disco, exceto a bateria, assinada por Carlos Silva, e o violão da faixa-título, tocado pela própria Valéria. A capa do EP é um desenho de Ksyfux (nome artístico de Agnaldo da Silva Jr.).
As três faixas são ótimo aperitivo. É esperar, em 2016, pelo início da gravação do álbum completo, que incluirá as faixas de Descostura e outras inéditas e, após isso, por shows de lançamento.
Nana Queiroz não temeu envolver-se com personagens. O resultado é uma narrativa leve contando as histórias de um sistema brutal – e covarde
Presos que menstruam. Capa. Reprodução
A tragédia e os dramas particulares e coletivos vividos no sistema penitenciário brasileiro são, em alguma medida, bastante conhecidos. Sobretudo em tempos de rebeliões e mortes em massa, quando o tema, vez por outra, pauta o noticiário nacional.
A jornalista e ativista feminista Nana Queiroz mergulhou na realidade de diversas prisões do Brasil, abordando-as com um recorte inusitado: a vida de mulheres – inclusive gestantes e parturientes – tratadas como homens em prisões. O resultado é o comovente Presos que menstruam [Record, 2015, 292 p.], em que a própria autora torna-se personagem: chegou a ser presa por algumas horas diante da intransigência das autoridades penitenciárias.
Nana enfiou literalmente o pé na lama, envolveu-se, meteu a mão no bolso, emocionou-se. E conta diversas histórias a um só tempo brutais e emocionantes. Não é à toa o subtítulo “A brutal vida das mulheres – tratadas como homens – nas prisões brasileiras”.
A autora não torna nenhuma personagem santa, tampouco faz julgamentos – papel da Justiça, não de jornalistas, é sempre bom lembrar. Mergulha nas histórias, contando-as da melhor forma possível, utilizando-se de memória privilegiada (quase sempre era proibida de entrar com gravadores nas prisões) e texto leve (apesar da dureza e crueza do assunto abordado).
Mas engana-se quem pensa que a história acaba aí: Presos que menstruam deve virar filme ou minissérie em breve e tem levado Nana Queiroz a diversos debates país afora: quem sabe não seja o início de um novo momento da discussão sobre a realidade carcerária no Brasil? Leitura fundamental para gestores e operadores do sistema e aos que teimam em propagar a velha e surrada cantilena do “bandido bom é bandido morto”.
Nana Queiroz conversou com exclusividade com o Homem de vícios antigos sobre o livro, jornalismo independente, ativismo e a citada cantilena, reflexo do “ódio social”.
A jornalista e ativista feminista Nana Queiroz em foto de João Fellet
Presos que menstruam é um livro que garante dimensão humana a mulheres encarceradas, algo que falta na prática cotidiana do jornalismo que cobre esta pauta. A seu ver, onde reside o problema? Eu acho que isso não é um problema do jornalismo, é um problema cultural brasileiro. Eu até entrevistei a responsável pelo sistema penitenciário do Brasil, do Ministério da Justiça, há uns tempos, pr’uma reportagem para a revista Superinteressante sobre bebês encarcerados, e ela falou: “olha, você me desculpa, mas eu nem posso investir muito nesse setor, para melhorar a vida dessas crianças, por que o brasileiro tem tanto ódio no coração, que eles vão pegar pesado em cima do poder público se investir no sistema carcerário”. Por que existe um ódio social mesmo, a velha ideia do “bandido bom é bandido morto”. Essa, pra mim, é a raiz de todos os problemas, que se refletem, claro, na realidade das prisões, se reflete na mídia, se reflete na literatura. Não é à toa que só em 2015 a gente viu o primeiro livro com uma grande reportagem sobre o sistema carcerário brasileiro feminino. É uma questão a ser pensada, é uma questão de ódio mesmo, social.
Um dos grandes trunfos do livro é seu envolvimento com as personagens. De certo modo, você acaba tornando-se uma, por exemplo, no episódio em que ficou retida por algumas horas em uma penitenciária que visitava. O jornalismo precisa enfiar mais o pé na lama, sobretudo ao abordar temas tão difíceis? Olha, os jornalistas sempre enfiaram o pé na lama, nisso eu não tenho nenhum mérito a mais do que as outras pessoas que fizeram grandes reportagens por aí. O que eu acho que faço de diferente, e não sou precursora – Eliane Brum já vem fazendo isso há anos, por exemplo –, é a conclusão de que sentimento faz parte da realidade. Antes o jornalista tentava transmitir uma realidade fria, em que ele era ausente. Eu entendo, como entende, imagino, a Eliane Brum, que é minha grande ídola [risos], que jornalismo tem fatos, opiniões e sentimentos e cheiros e tatos e paladares e tudo isso. Então, isso foi o que eu tentei transmitir com a minha presença no livro, eu tou presente só pra falar de sentimentos, é só pra eu me botar no lugar do leitor que vai estar lendo. Eu também nunca cometi um crime, e estou me relacionando com mulheres que cometeram, eu tentei pensar como as pessoas poderiam se sentir como eu estava me sentindo. Isso faz parte dessa realidade, isso tem que ser discutido, principalmente quando você tá falando, tratando de uma questão que é praticamente invisível por conta do ódio social. A minha capacidade de chegar lá, ter empatia e amar essas mulheres é importante para que o leitor perceba que se ele estivesse lá, talvez ele também as amasse. E talvez valha a pena recuperar em vez de se vingar. Mesmo do ponto de vista puramente egoísta é mais inteligente para a sociedade. Uma mulher presa custa de 2 a 5 mil reais por mês, dependendo do estado. Uma mulher empoderada, capacitada, custa, sei lá, um curso no Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial] de mil reais por mês, durante um ano, e depois não custa nada. Sabe? É uma questão do tipo: será que a gente não quer recuperar e prevenir o crime em vez de punir, castigar e só se sustentar enquanto sociedade na base do olho por olho e dente por dente?
Como você custeou as despesas para realizar o livro e qual a maior dificuldade em escrever a obra? Como eu custeei as despesas? Com meu dinheiro, trabalhando [risos]. Ninguém me deu dinheiro nenhum. Eu fui fazendo essa pesquisa nas minhas folgas, férias, finais de semana, com meu próprio dinheiro. Quando a editora entrou eles me deram um pequeno adiantamento, mas a maior parte do livro já tava escrita, a apuração já tava feita. Claro que o adiantamento da editora superajudou, a editora é ótima, tem profissionais ótimos, a Record, mas grande parte foi tirada do meu bolso, como um ato de fé no projeto.
Seu livro deve virar filme ou série de televisão. Como estão as negociações? Sim. A gente viu já um edital em Brasília, de 100 mil, para fazer o piloto, agora a gente tá negociando para possíveis patrocinadores. A ideia é produzir o piloto primeiro, com toda liberdade criativa, de ideal e ética que a gente quiser ter, e depois ver que canais topam comprar o projeto do jeito que ele é. Esse ano a gente está investindo muito dinheiro pra que ele cresça, fazendo várias negociações com vários canais, e a ideia é começar a gravação lá pro fim do ano que vem, mesmo.
Seu relato humanizado é escoltado por pesquisas acadêmicas e obras em geral sobre a questão carcerária, embora ainda insuficientes. Em que medida você acredita que seu livro preenche uma lacuna importante sobre o assunto? Poxa, cara, relato humanizado. Eu sempre acredito que antes de ser jornalista eu sou ser humano e eu não acredito naquele mito de que eu tenho que tirar minha roupa de ser humano pra ser jornalista, sabe? Eu acho que, como aquele jornalista que eu conheci a história dele na época da faculdade, me marcou muito e eu decidi que nunca ia deixar de ser humana antes de ser jornalista. É um fotógrafo famoso [o sul-africano Kevin Carter, vencedor do Pulitzer em 1994], tava cobrindo a fome na África e fotografou uma criança no momento em que ela morria e um urubu descia sobre ela pra comê-la, e ele depois se suicidou de culpa por não ter ajudado aquela criança. Eu decidi que eu sempre ia ser o tipo da jornalista que põe a mão na lama, ajuda a criança e perde a foto, e depois, se der tempo, eu conto a história. Eu acho que seria uma história muito mais incrível, de como esse cara salvou essa criança, do que a fotografia da morte e da força da morte. Eu acho que é isso, esse é o relato que eu tento fazer, o relato do ser humano que acontece de ser jornalista e não do jornalista que eventualmente é ser humano.
Em torno de seu livro, campanhas têm sido deflagradas em diversos estados do Brasil em favor de mulheres apenadas. Em São Luís, o Coletivo Fridas realizou a campanha Ciranda de Afetos, em que arrecadou doações, sobretudo de kits de higiene e absorventes, e doaram a detentas, além de lhes proporcionarem momentos lúdicos. Ao escrever o livro você vislumbrava este engajamento? O que acha deste tipo de iniciativa? Nunca, jamais, nenhuma atitude que eu tive como jornalista ou como ativista eu pensei que as pessoas fossem se engajar o tanto que elas se engajaram. O Eu não mereço ser estuprada [campanha contra a culpabilização das vítimas de estupro] foi uma puta surpresa pra mim, o Presos que menstruam, por toda essa mobilização ao redor do mundo foi uma surpresa igual. Eu nunca imaginei, mas foi um acalento tão gostoso. Produzir esse livro me deixou derrotada, desesperançada. Ver que o mundo se preocupa, ver agora as pessoas se preocupando com as crianças presas, é para mim um acalento sem igual.
Você é editora da revista Az Mina, de temática feminista. A revista online também amarga suas dores e delícias. A importância da iniciativa compensa as dificuldades? Engraçado cê perguntar isso: hoje eu acabei de fazer um post, eu nunca trabalhei tanto, fui tão mal paga e fui tão feliz [gargalhada]: ô, se compensa! E compensa por que a gente tem um grupo de leitores crítico que não deixa a gente em paz. Eu adoro isso, sabe? Eu adoro esse clima de, tipo, “eu tou em cima, vocês não vão fazer merda!”. Isso é que devia ser o jornalismo em todo lugar, entendeu? Isso devia ser o jornalismo na grande mídia, isso é jornalismo! É tipo você fiscalizar o poder público, mas você ter o povo fiscalizando você, entendeu?. A gente não é o quarto poder pra ser o quarto poder, que é onipotente. A gente é o quarto poder fiscalizado pelo quinto, que é o povo. Eu acho incrível! A nossa redação é uma redação amorosa, em que o conceito de sororidade, que é esse conceito da irmandade entre as mulheres, chega a seus limites. A gente está sempre aberto a críticas, a gente fala umas com as outras, às vezes até para apontar defeitos, mas de maneira muito amorosa, então a gente tá construindo uma coisa especial, acima da média.
Seu depoimento à campanha #primeiroassedio, do coletivo feminista Think Olga, relatou um abuso sofrido aos cinco anos de idade, de um colega de infância praticamente da mesma faixa etária. Em que medida o sofrimento com a situação levou você ao ativismo em defesa dos direitos das mulheres? Eu nunca tinha tido coragem de falar desse sofrimento antes, em nenhuma outra entrevista, mesmo durante o Eu não mereço ser estuprada, e é duro pra mim. Eu acho que em muitos momentos eu não quis falar por que eu não queria que a minha história pessoal tivesse mais destaque do que a causa em si. E eu continuo não querendo. Mas eu partilhei o meu relato no Primeiro assédio, por que eu achei que o Primeiro assédio merecia engajamento, merecia que as pessoas contassem histórias que iam muito além do assédio para chegar ao estupro e ao abuso sexual severo, como foi meu caso, que me marcou a vida inteira e foi misturado com um quê de culpa cristã mal administrada e um pouco de fanatismo religioso, foi bem grave. Por que eu conto isso? Por que muita gente não sabe que se você for abusada por uma criança não significa que você não foi abusada. Você foi, as características de estupro estão todas lá. É como se você for assassinado por uma criança de sete anos não significa que você não morreu. Então, o estupro por uma criança de sete anos não significa que você não foi estuprada, é o meu caso. Eu, hoje, avalio que a culpa não foi dessa criança, mas dos adultos que estavam ao redor e educaram essa criança pro abuso, por conta de uma cultura extremamente machista, de uma casa que era muito machista, a dele, eu conheço a família dele. Eu [pausa] não sei, eu sei que essa pessoa se tornou um homem difícil de lidar, mas eu tento encontrar [algo] dentro do meu coração para transformar essa dor em construtividade, assim, na vontade de querer que isso não aconteça com outras pessoas, e isso me consola, sabia? Isso me consola.
Três gerações da música do Maranhão se encontram hoje (14), às 20h, no Porto da Gabi (Aterro do Bacanga), no Baile da Tarja Preta, festa que comemora o aniversário de seis anos do Vias de Fato.
Cesar Teixeira, Marcos Magah e Tássia Campos, além do DJ Jorge Choairy estarão juntos para celebrar a longevidade do “jornal que não foge da raia”. Além de música, a noite terá a encenação do esquete Xópim Tarja Preta, de autoria do jornalista Emílio Azevedo, um dos fundadores do Vias de Fato, encenada pelos atores Lauande Aires e Rejane Galeno.
“Os personagens travam um diálogo sobre quem é louco e quem é normal. Conversam sobre o que seria loucura e normalidade, dentro da sociedade em que vivemos; nesse capitalismo à brasileira, com sua herança escravocrata, racista, violenta, patrimonialista; com sua urbanidade profundamente desigual, consumista; com seus profissionais liberais e seus mendigos; e com a presença cada vez mais ameaçadora de um conservadorismo raivoso, de fundo religioso, pseudocristão”, adianta Emílio.
O jornal nasceu a partir do movimento Vale Protestar, contraponto ao Vale Festejar, um festejo junino fora de época que privatizou por muitos anos o Convento das Mercês. Entre 2006 – ano da eleição de Jackson Lago, depois cassado por um golpe judiciário – e outubro de 2009, quando circulou a primeira edição do jornal, muitas discussões e amadurecimento das ideias.
Também fundador do jornal mensal, Cesar Teixeira atesta a importância do jornal para a realidade maranhense: “O Vias de Fato é uma prova de que ainda se pode acreditar em um jornalismo sem amarras no Maranhão, fazendo da sua sobrevivência um compromisso com a sociedade e com a história”, afirmou.
Indago-lhe sobre sua participação no Baile da Tarja Preta e seu aval aos talentos de Tássia Campos e Marcos Magah. “A minha participação será modesta. O palco é deles. Vai ser um prazer estar junto de dois legítimos representantes da nova geração e, embora não seja um avalista do seu talento, assino embaixo”, declarou.
Tássia corresponde o entusiasmo: “[Este encontro] ressignifica as coisas nas quais acredito e é também um lisonjeio, porque eu não componho. O que tenho escrito é apenas a minha história e eles escrevem a história. Me sinto feliz pela possibilidade deste encontro”, afirmou.
Com formação em Ciências Sociais, a cantora é tida por seus pares como uma das mais autênticas artistas de sua geração. Ela não se preocupa em ganhar ou perder patrocínios e espaço para agradar ou desagradar: é uma artista de opinião. Sobre esta questão, ela declarou ao blogue: “Não consigo ficar em cima do muro. Tenho posicionamentos, não acredito em blindagem à crítica – isto já me coloca à margem de algumas coisas – e procuro ser coerente. Acredito que mais artistas com pensamento crítico faria diferença demais. Aqui ainda rola o provincianismo, da colegagem, do disse-me-disse, o que compromete, inclusive profissionalmente, muita coisa. Mas não posso delegar essas responsabilidades aos outros. Mas me incomoda demais isso de, por conta de falta de postura crítica, pouca gente se dá muito bem, pra muita gente se dar muito mal”.
Ela ainda deu pistas do repertório que apresentará logo mais: “Decidi que vou contemplar meus compas de palco: vou cantar Cesar, Magah, Bruno Batista… Mas também tem coisa dA mulher do fim do mundo, [disco novo] da Elza [Soares], Novos Baianos e uns reggaes que eu amo cantar. Vai ter também encontro com os meus rapazes, Chico Maranhão e outras cositas”, antecipou.
Um dos responsáveis pela consolidação de uma cena punk rock em São Luís do Maranhão, Marcos Magah integrou a Amnésia, ainda na década de 1980 – a banda chegou a tocar no comício do então candidato à presidência da república Lula, para uma multidão, na Praça Deodoro, em 1989. Sumido por algumas temporadas, fez de tudo um pouco até reaparecer com Z de vingança [2012], lançado pelo selo Pitomba!, do escritor e editor Bruno Azevêdo, que, de cara, incluiu o disco entre seus prediletos em enquete do Vias de Fato.
A entrevista que Marcos Magah deu a Los Perros Borrachos – Igor de Sousa e este que vos escreve –, publicada pelo jornal meses depois, teve grande repercussão. É a este espírito coletivo que Emílio credita a longevidade do jornal. “A longevidade é, sem sombra de dúvida, fruto do grupo que faz parte do jornal, é consequência do trabalho de quem distribui, divulga, escreve, milita. Sem este trabalho coletivo, que começou no impresso e logo se expandiu para a internet, o Vias não teria durado nem um ano. Some isso a nossa relação direta com as ações de organizações e movimentos populares, de alguns professores e estudantes. Todo esse pessoal, toda esta ação conjunta, é, sem dúvida, a força deste projeto”, finalizou.
Os ingressos para o Baile da Tarja Preta custam R$ 30,00 e podem ser adquiridos no local.
Desde Caim o planeta azul sempre foi povoado por variada gama de mentes doentias e criminosas. Quando a máscara cai – A verdadeira história do homem que fingiu ser um Rockefeller [Companhia das Letras, 2015, 247 p., tradução de Sérgio Tellaroli; leia um trecho], de Walter Kirn, é a biografia de uma dessas mentes, um assassino que se passou por integrante de uma das mais famosas e ricas famílias americanas. Um mergulho atormentado/r na mente de um manipulador profissional e a tentativa de autoconhecimento, o porquê de se deixar enredar na teia farsesca.
Um ser humano fascinante, é como o autor o classifica, a maldita mania de quem, jornalista e/ou escritor por paixão e/ou vício, acredita que tudo e todos podem render grande reportagem e/ou romance. É aí que começa a via crucis de Kirn, que atravessa boa parte dos Estados Unidos dirigindo uma caminhonete – e depois pegando um avião – para entregar ao suposto Rockefeller uma cadela presa a uma cadeira de rodas.
O episódio é relatado minuciosamente: fazer um favor de tal monta a um Rockefeller, era mais que estar próximo de um, e o autor de Amor sem escalas embarcou literalmente na aventura a fim de ter um personagem para um próximo romance. O desembarque e seu encontro com aquela personalidade desencadeia uma série de mentiras: da coleção de obras de arte falsificadas a empresas, bancos, propriedades, veículos e vizinhos famosos (Tony Bennett e J. D. Salinger, por exemplo), tudo é teatro nas mãos – e imaginação – hábeis do manipulador, que chegou a usar nove nomes falsos – ou além: a encarnar nove personalidades diferentes – ao longo de sua jornada criminosa.
O que ninguém sabia – e o autor sequer imaginava quando começou a pensar em tomá-lo como personagem – é que o falso Rockefeller era um assassino frio, que armazenou pedaços do corpo esquartejado de sua vítima em sacolas de livraria. Ao longo dos capítulos dedicados a seu julgamento e condenação – e após, quando o personagem insiste em seu teatro doentio – há diversas citações (Jornada nas estrelas, Alfred Hitchcock e Patricia Highsmith incluídos) de filmes, livros e séries de tevê, usadas para compreender o impostor, suas motivações e até mesmo o comportamento do júri durante o julgamento. Era de onde ele retirava ideias, citações e trejeitos: era um mero plagiador, sem ideias próprias, inclusive para seus livros e roteiros para cinema – outras frustrações em seu currículo.
Quando a máscara cai é ainda uma espécie de assunção pública de fraqueza e vergonha de alguém que caiu feito um pato no enredo de mentiras de um terceiro – e ali se manteve durante 15 anos de “amizade”. O autor lança-se ao personagem pensando no romance e consegue um livro interessante e bem escrito, de alguma forma comparado, guardadas as devidas proporções, a A sangue frio, de Truman Capote, e O talentoso Ripley, de Patricia Highsmith, de onde vem uma das epígrafes do livro. No fim das contas, do começo da amizade com o protagonista à sua condenação por sequestro e assassinato, a aventura de Walter Kirn é sobre a escrita do livro em si, não ficção em que sobressai o talento jornalístico do romancista.
Graduado em Física pela Universidade de São Paulo (USP), Bernardo Kucisnki é cientista político e jornalista, e neste último campo, autor de ao menos uma obra fundamental: Jornalistas e revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa [Página Aberta, 1991].
Assinando simplesmente B. Kucinski, bastou um livro para que ele passasse a ser também reconhecido como “escritor” ou “autor de ficção” – o que no fundo deve servir apenas a quem organiza as obras nas estantes, em livrarias, bibliotecas ou coleções particulares.
K. – Relato de uma busca [Expressão Popular, 2011; Cosac Naify, 2014, 190 p.], primeiro romance do autor, foi finalista dos prêmios Portugal Telecom e São Paulo de Literatura em 2012.
Você vai voltar pra mim. Capa. Reprodução
O tema era urgente, embora o autor o tenha maturado por quase 40 anos: K. é o relato autobiográfico, embora o livro seja classificado como ficção, sobre o desaparecimento, em 1974, 10 anos após o início da ditadura militar brasileira, da irmã e do cunhado de Kucinski – Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva –, ela química, professora da USP; ele físico, funcionário de uma empresa.
Como o assunto exigia mais, o autor não se contentou e, na sequência, lançou o volume de contos Você vai voltar pra mim [Cosac Naify, 2014, 188 p.] e o romance policial Alice: não mais que de repente [Rocco, 2014, 191 p.], o único que não se passa durante a ditadura, totalmente ficcional, sobre o assassinato de uma professora da USP.
Alice. Capa. Reprodução
Kucinski revela que os 28 contos de Você vai voltar pra mim foram selecionados de um universo de 150 – os que tinham a ditadura militar como tema/ambiente –, escritos entre 2010 e 2013. “Embora o autor não nos explique nada a respeito da veracidade, ou não, dos episódios, alguns deles são muito conhecidos das vítimas e dos estudiosos do período. Minha memória sugere que todos eles sejam, como se afirma nas legendas finais de alguns filmes, inspirados em fatos reais”, a psicanalista Maria Rita Kehl nos coloca a boa e quase óbvia pulga atrás da orelha no prefácio. O conto-título, aliás, é frase dita por um torturador a uma vítima.
Os muitos anos de jornalismo e magistério certamente ajudaram Kucinski com a forma: narrativas bem estruturadas, doses de ironia, a cumplicidade do leitor com a urgência dos personagens – o que lhes/nos espera nas linhas seguintes? – e a dúvida não incômoda: autobiografia? Invenção? Ou um mix? O conteúdo, mesmo que com pitadas de ficção, é, por vezes, fruto de seu próprio sofrimento, transformado em literatura da melhor qualidade. De um modo ou outro, ele dá uma bela contribuição à discussão sobre o direito à memória e à verdade no Brasil, um debate infelizmente tardio e por vezes enviesado e sem a profundidade necessária.
O bom público que prestigiou o Ilumiara contradiz Douglas Pinto. Foto: fb/ilumiara
Talvez o músico Leandro César (violão, marimba e voz), integrante do grupo mineiro Ilumiara, tenha queimado etapas. Dos problemas, o menor. Explico: sábado passado (12), no Teatro Alcione Nazareth (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande), foi combinado, entre a assessoria do Sesc e a TV Mirante, uma passagem, ao vivo, para um jornal da emissora, durante o concerto do grupo, pelo circuito Sonora Brasil.
O problema é que após o ao vivo, a equipe da TV Mirante continuou no recinto, entrevistando pessoas na plateia, com a luz forte e amarela ligada. Seis músicas depois – de acordo com a contabilidade do músico – eles continuavam lá. Leandro César desceu do palco, reclamou, e pediu que a equipe se retirasse. Quando falo em queimar etapas quero dizer que poderia ter, antes, solicitado a retirada da equipe à assessoria do Sesc e, em seguida, caso não fosse atendido, pedir, do palco mesmo, talvez ameaçar interromper o concerto – não sei se o fez.
Voltou ao palco aplaudido pelos presentes, entre afirmações como “é esta mesma Rede Globo que entra na casa das pessoas e destrói nossas culturas, destrói isto que estamos mostrando aqui”.
Douglas Pinto se retirou e, do hall, pude ouvir: “eu vou é falar mal!” em tom alterado – não consegui identificar se a voz era sua, mas a fala não faria sentido noutra boca. Depois o repórter publicou algo no facebook, com repercussão no blogue de Gilberto Lima ainda na mesma noite do espetáculo. Além de reclamar de uma suposta “humilhação” – particularmente não entendo assim – o repórter destilou preconceito, tratando os membros do Ilumiara por “anônimos”, “antiprofissionais” e “grosseiro” – o último adjetivo destinado a Leandro César.
O repórter foi além e afirmou que “muitos artistas de fora quando chegam aqui acham que o Maranhão é o fim do mundo e podem fazer o que bem querem por aqui”. Como diz minha sábia avó, “o bom julgador, por si julga os outros”, e Douglas Pinto acaba por traduzir o que, por vezes, é o comportamento de alguns colegas de profissão, que às vezes acham-se mais importantes que os próprios artistas. Além do mais, não cabe ao Sistema Mirante nem a qualquer funcionário seu recomendar “que o Sesc escolha melhor os artistas que venham se apresentar no Maranhão”, como fez o profissional, em episódio lamentável.
Por um lado, compreendo a ânsia do repórter, de resto um bom profissional, em fazer seu trabalho: os patrões certamente não aceitariam justificativa de ele voltar ao estúdio “apenas” com o ao vivo na bagagem, apesar de, certamente, sempre exigirem pressa, na cobertura do máximo de pautas, o já conhecido esquema industrial de um jornalismo a cada dia mais robotizado. Por outro, a necessidade dos músicos, de um ambiente propício ao ofício, sobretudo nos moldes do Sonora Brasil, em cujas apresentações é dispensado o uso de qualquer tipo de amplificação.
Espero que o acontecido não vá resultar num boicote da/s emissora/s e seus profissionais ao projeto e/ou ao Sesc, que, apesar de enormes e conhecidas limitações, tem proporcionado momentos importantes de fruição e circulação cultural à população maranhense.
Estava na plateia e não me considero motivo de vergonha para ninguém – como também afirmou o repórter em seu “desabafo” na rede social. E na condição de parte do público, fiz questão de dizer algo sobre o episódio (ainda que tardiamente), na tentativa de ajudar, a quem interessar possa, a entender o que de fato aconteceu, tendo em vista, por exemplo, o Ilumiara e/ou o Sesc/MA não terem ainda se manifestado – talvez por acharem desnecessário e talvez tenham razão: o brilho do espetáculo não pode ser ofuscado por este desagradável incidente.
Em tempo: a quem interessar possa, os concertos do Sonora Brasil seguem, em São Luís e Caxias. Veja a programação completa – inclusive com as apresentações dos demais grupos que compõem a edição deste ano – ao fim do post em que anunciei a apresentação do grupo na capital maranhense – hoje (14) eles tocam em Teresina/PI e quarta-feira (16) em Caxias.
Que o Ilumiara volte sempre ao Maranhão e seja sempre bem recebido por aqui!
Tenho certeza que todos/as os/as coleguinhas que passaram pela faculdade de jornalismo viram O nome da rosa, de Jean-Jacques Annaud, baseado no livro de Umberto Eco.
Há quase um mês o escritor italiano declarou que “as redes sociais dão o direito à palavra a uma “legião de imbecis” que antes falavam apenas “em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade””.
Recorro ao mestre – que talvez me localizasse nesta “legião de imbecis” – para tratar do assassinato de Cleidenilson Pereira da Silva, de 29 anos, segunda-feira passada (6), por volta de meio dia, no Jardim São Cristóvão.
O caso já é por demais conhecido, sobretudo após ganhar repercussão nacional: depois de uma tentativa de assalto a um bar na região, Cleidenilson foi rendido, amarrado a um poste, despido, e assassinado a socos, chutes, pauladas, pedradas e garrafadas, sangrando em via pública até o óbito.
Nada justifica o ato selvagem, a barbárie nossa de cada dia, a “vingança” coletiva – São Luís tem uma média de um linchamento mensal, embora nem todos ganhem a mesma repercussão. O ato, além de tudo, foi extremamente covarde, já que a vítima estava imobilizada.
A maioria dos comentaristas de internet faz jus à sentença de Eco: “o drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. Quase nenhum deles consegue ir além das tentativas de justificar o crime pela exceção: “e se invadissem sua casa?”, “e se estuprassem sua filha?”, “leva pra casa!” – este último comentário em relação ao adolescente que sobreviveu à turba enfurecida que assassinou Cleidenilson. A maioria não apenas concorda, como teria ajudado a linchá-lo se lá estivesse presente. E além: ajudarão a linchar qualquer um/a em qualquer circunstância, se no futuro tiverem oportunidade.
De minha parte, prefiro acreditar no – e lutar pelo – aperfeiçoamento dos sistemas de justiça e segurança pública, entre outras políticas públicas garantidoras de direitos, para que não existam Cleidenilsons – não no sentido de aniquilá-los, mas no de que deixem ou sequer ingressem no mundo do crime – nem linchadores, com suas práticas medievais em pleno século XXI.
À “legião de imbecis” que aplaudiu o linchamento – segundo o carioca Extra, que deu uma bela capa hoje (8) sobre o assunto, 71% dos que comentaram a notícia no perfil do jornal no facebook são a favor da prática – soma-se agora a que critica o deputado federal Jean Wyllys (PSol/RJ), justamente por ele ter emitido opiniões contrárias à manada enfurecida que bate/u palmas para o preto tingido de vermelho sob o sol inclemente de São Luís do Maranhão em pleno meio dia.
Uns revoltaram-se com as expressões “turba de psicopatas” e “multidão surtada de fascismo”, usadas por ele. “A carapuça só assenta na cabeça de quem usa”, já diria minha sábia vozinha. Acham ilegítimas as manifestações do parlamentar pelo fato de ele ser baiano, ter sido eleito pelo Rio de Janeiro e pouco visitar o Maranhão (à distância só se pode incentivar o linchamento?).
O diabo não é o “idiota da aldeia” ou a “legião de imbecis”: estes são o autointitulado “cidadão de bem”, propagador do senso comum – alimentado pelos programas policialescos de rádio e tevê, cabe lembrar – de que “bandido bom é bandido morto”. O diabo é jornalistas e veículos ditos “sérios” embarcarem no tom monocórdio, em vez de separar o joio do trigo.
A também muito boa capa de O Estado do Maranhão de ontem (7). Reprodução
“O declínio dos Sarney”. A manchete de capa da piauí #98, de novembro/2014, anuncia a ótima reportagem em que Malu Delgado relata a derrota eleitoral do mais longevo grupo político brasileiro.
Fui assinante da revista, em seu início, por dois ou três anos. Hoje é das que compro em banca, sempre.
Neste novembro já passei por Dácio (Praia Grande), Angela (Deodoro), seu João (João Lisboa) e outras bancas Ilha adentro. Nem sinal da publicação.
Pode ser uma espécie de último suspiro antidemocrático da oligarquia, como já fizeram com a Caros Amigos, quando a revista trazia “A candidata que virou picolé”, sobre o aborto das intenções presidenciais de Roseana Sarney, matéria de Palmério Dória (que depois transformou o texto num livrinho, que saiu pela mesma editora Casa Amarela que publicava a revista). À época também desapareceu das bancas maranhenses.
Diante de meus reclames, amigos e amigas ofereceram-se a comprar a revista em outros estados e me enviar, me ceder seu código de assinante, colar a matéria em word e me enviar e até mesmo me ensinar: “digite quaisquer nove números no campo do código de assinante e dá pra ler a íntegra do texto”.
Com o texto em mãos, colei-o na íntegra do facebook, anunciado por boa parte desse texto que colo aqui de novo. Sabe-se lá por que, talvez algum limite de caracteres por post que eu desconheça, a rede social publicou-o incompleto. Pois baixem-no aí em pdf e espalhem!
O livro que abre este post merece atenção especial, inclusive deveria ser bibliografia das disciplinas de jornalismo cultural nas faculdades. Depois digo mais dele, num post específico.
Logo mais este que vos perturba debato o “jornalismo cultural nos bastidores da cultura pop” com seu autor, Jotabê Medeiros, repórter e crítico do jornal O Estado de S. Paulo, e aproveito para pegar meu autógrafo. Ele trouxe uns exemplares na mochila e lança esta coletânea de histórias de bastidores fartamente ilustrada, contando encontros, às vezes inusitados, com nomes como Bob Dylan, Axl Rose, Zé Ramalho e Manu Chao, entre muitos outros.
Vai ser às 16h, no Café Literário Odylo Costa, filho, no térreo do Convento das Mercês, na programação da 8ª. Feira do Livro de São Luís.
Amanhã estaremos entre os bastidores e a plateia de Edvaldo Santana.
Neste domingo de finados a música do Maranhão amanheceu mais triste: perdeu o sorriso largo e fácil de Léo Capiba, falecido na noite de sábado (1º.), vítima de ataque cardíaco.
Cearense do Crato, radicado em São Luís há quase 30 anos, Capiba tinha 67 anos e chegou a adiar, por problemas de saúde, o show Desde que o samba é samba, anunciado para 17 de outubro passado.
O Regional Tira-Teima, que deve lançar em breve o disco de estreia, registrou duas composições suas: Pra ser feliz, dedicada à esposa Sandra Tavora, com quem teve três filhos, e Zona do agrião, que usa metáforas futebolísticas para falar de amor.
No disco Memória – Música no Maranhão, lançado em 1997, sob direção musical e arranjos de João Pedro Borges, Léo Capiba cantou e tocou pandeiro em Não vá deixar o samba da vila, do compositor madredivino Henrique Martiniano Reis, o Sapo.