Terceira faixa de Com defeito de fabricação (1998), de Tom Zé.
Presentinho à nossa classe politicanalha pelos controversos 400 anos da Ilha. Engraçado que a justaposição “politicanalha” soa quase como “política na Ilha”.
Passem óleo de peroba em suas caras de pau e enfiem bem sabem onde suas falsas promessas.
“A carapuça assenta na cabeça de quem usa”, sempre ouvi minha sábia avó dizer.
O Diretório do PT no Maranhão foi denunciado por estelionato à Justiça Criminal de São Luís. A queixa é da Open Door Comunicação, que desde 2004 tenta receber R$ 628 mil do partido. Os quatro cheques dados para quitar a dívida não tinham fundos. O acordo à época foi feito com o vice-governador do Estado, Washington Oliveira, hoje candidato à Prefeitura de São Luís. (Da coluna de Ricardo Boechat, na IstoÉ)
Tudo entre aspas, não necessariamente nessa ordem.
“Vice-presidente municipal do PSDB defende campanha sem baixarias”, anuncia manchete na página 3 [Política] do Jornal Pequeno de hoje (14).
A manchete por si só já me daria motivos para rir, pois reúne em si o PSDB e baixarias, como se esta(s) fosse(m) o significado da última letra da sigla.
Lendo o texto penso no desserviço prestado pelo Jornal Pequeno, espécie de Diário Tucano ludovicense, a bater palmas para tudo o que fazem o prefeito João Castelo, candidato à reeleição, e seu partido.
O vice-presidente citado na manchete é o jornalista José Linhares Jr., não à toa, blogueiro abrigado no Jornal Pequeno, onde vive a desfilar baixarias. Ou vocês vão dizer que é elegante a montagem em que o Coringa (do Batman) entrevista o candidato Edivaldo Holanda Jr? Ou a Coligação “Queima Tadeu”, montagem em que o ex-prefeito-candidato aparece ladeado por seus opositores Flávio Dino, Edivaldo Holanda Jr. e Washington Oliveira? De tão “baixarias”, este blogue prefere nem reproduzi-las.
“Eleição não é brincadeira de quem passa o dia inteiro no Facebook plantando mentiras e tentando confundir o eleitor por desespero”, afirma o jornalista-vice-presidente, segundo o texto, quiçá de sua própria lavra. “Nossa coligação não vai entrar nesse jogo”, continua. A coligação talvez não (embora eu não acredite): ele já entrou, embora não no Facebook, mas em seu blogue pequeno-tucano.
É hilariante também a contradição: Linhares critica a postura do também jornalista Márcio Jerry, presidente municipal do PCdoB, de supostamente aparecer mais que Roberto Rocha, candidato a vice-prefeito na campanha que coordena. Ora, a veiculação deste texto não tira os holofotes de Neto Evangelista e joga-os em Linhares Jr.?
José Linhares Jr. é uma espécie de Washington Oliveira jovem: o expoente maior do sarnopetismo maranhense cansou da esquerda, após uma vida inteira nela; o primeiro, agora aos 30 e poucos, cedo deixou a UJS pcdobista para tornar-se um dos principais nomes da ultradireita conservadora maranhense.
Este é um dos coordenadores da campanha de João Castelo à reeleição. No desespero por mais quatro anos em um cargo de confiança, ele certamente recorrerá a quaisquer expedientes. Inclusive baixarias. Está apenas cumprindo seu papel.
Gravei ontem minha declaração de apoio à candidatura de Haroldo Sabóia (PSol) à prefeitura de São Luís:
Outros depoimentos (Joãozinho Ribeiro, Lena Machado, Luis Antonio Câmara Pedrosa, Ricarte Almeida Santos, Wagner Cabral etc.) podem ser assistidos na página da coligação São Luís, o caminho é pela esquerda no Youtube.
*O título do post é lembrança de um jingle do passado, que permaneceu inédito.
“A disputa política no Maranhão veio perdendo, ainda na segunda metade do século XIX, a característica de simples lutas entre famílias. Um setor político passou a controlar as instâncias de decisões, porém cada vez mais dependente do centro político nacional e submetido a suas pressões na regulagem das disputas. Apesar de atrelado socialmente aos grandes proprietários rurais, o seu locus de atuação, as relações com o aparelho do Estado e com o governo central, favoreceu a configuração de valores de identificação de grupo, sintetizados no interesse em manter o monopólio das funções de mando. Assim, é no espaço da mediação entre instâncias do sistema de poder e entre interesses privados e o Estado, que os grupos políticos se movimentam, sedimentam interesses próprios e comandam o processo de oligarquização da política”.
Flávio Reis, professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA, na quarta capa de seu Grupos políticos e estrutura oligárquica no Maranhão (2007), esgotado. Este blogue orgulhosamente disponibiliza a raridade, leitura obrigatória, para download.
O palhaço Tiririca, hoje deputado federal…… e o reitor da UFMA, Natalino Salgado
Quem lembrou do primeiro ao ver a pose do segundo foi Edivar Cavalcante, no Facebook, por conta da matéria Chuva de dinheiro na UFMA!, publicada na edição 34 (julho/2012) do Vias de Fato, já nas melhores bancas da Ilha.
“Atualmente, o governo do Estado está sob a direção de Roseana Sarney Murad, filha de José Sarney, que assumiu a gestão em abril de 2009, após a cassação do mandato do então governador Jackson Lago (2007-2009) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Roseana concluiu o mandato de Jackson e foi reeleita governadora em 2010. O processo eleitoral que a reelegeu tem sua legitimidade e lisura questionados enfrentando três processos de cassação impetrados por seus opositores. As análises feitas pelos grupos de oposição, pelos cientistas políticos, pesquisadores e movimentos sociais e legitimadas pelos dados oficiais revelam um estado cada vez mais empobrecido, em relação assimétrica e inversa com os discursos do “progresso e do desenvolvimento” alardeado nas propagandas oficiais e no impresso oficial da família, O Estado do Maranhão”.
Quarta irmã Cajazeiras, o presidente do Senado sempre soube utilizar a mídia
“Para além da meteórica atividade jornalística, antes de ingressar na Academia Maranhense de Letras e de iniciar sua carreira política, Sarney desde o começo da vida pública, relaciona-se e utiliza-se estrategicamente dos meios de comunicação. A aproximação com a linguagem do cinema, à época um importante instrumento de transmissão da informação em se tratando da realidade maranhense onde a televisão ainda estava se afirmando e muitas cidades interioranas dispunham de salas de projeção, a utilização de jingles de campanha com direito a produção de disco com artistas de renome no rádio brasileiro, a utilização da Rádio Timbira, estatal onde eram veiculados spots e informações do governo, foram passos iniciais na direção do que viria a se constituir mais tarde”.
“Com tal histórico de concentração dos meios de comunicação nas mãos de um grupo político dominante e/ou de grupos políticos e empresariais (que estão ou já foram) vinculados ao primeiro, onde a maioria das concessões, no caso das mídias eletrônicas, e as estruturas, no caso da mídia impressa, foram implementadas a partir de práticas patrimonialistas, o discurso que prevalece nos noticiários é um discurso hegemônico e bipolar, ora com o predomínio de fatos que se banalizam com o passar do tempo: os buracos no período chuvoso, os engarrafamentos, os assassinatos, os assaltos a bancos; notícias em torno de pautas sazonais/comemorativas, ora a exaltar as “singularidades” da cultura e da natureza do Maranhão. São raríssimas as inserções de temas considerados importantes e estratégicos para a sociedade maranhense em trabalhos jornalísticos que possam revelar investigação e análise, motivando assim um debate público e que possibilite aos leitores capacidade de interpretação, de discernimento, de criação de sentidos para a compreensão da realidade do estado. E quando temas mais complexos aparecem, são externados como fatos contados de forma recortada, incompleta, a esconder a sua verdadeira natureza, implicações, causas e personagens.
Nessa perspectiva, o campo da comunicação que deveria ser instrumento de fortalecimento da pluralidade de vozes, do contraditório, da liberdade de expressão, o espaço democrático das diversas versões e olhares, torna-se, majoritariamente, apenas um campo das repetições dos padrões de manipulação dos discursos, das verdades parcialmente construídas ou ocultadas no processo de reconstrução da realidade através das narrativas”.
“José Sarney funda O Estado do Maranhão enquanto um “instrumento político”: o instrumento é um objeto inanimado, algo a ser manipulado. Emílio Azevedo, refere-se ao Vias de Fato como uma “iniciativa política”: iniciativa refere-se a ação, movimento, e sendo político, a algo que está intrínseco ao elemento humano que constrói um espaço e debate públicos. A análise, que não é simplesmente uma questão semântica, repercute nas formas de operacionalização das experiências. No primeiro caso, o jornal é instrumento político, objeto empresarial de obtenção de lucro e também de manutenção do poder político. No segundo caso, abre espaço para setores e tema sociais obscurecidos, negados, e favorece a democratização não tão somente do acesso à informação, mas também às formas de construção dessa informação.
A apresentação da notícia no Vias de Fato, além do predomínio do gênero opinativo, adquire características do formato de revista dado que a experiência não tem compromisso com o “furo de reportagem”, mas com o aprofundamento e a investigação dos temas que lhes são caros e complexos”.
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Trechos da monografia Vias de Fato: outro viés da notícia no contexto da imprensa maranhense, que a cantoramiga Lena Machado apresentou ontem ao curso de Comunicação Social, habilitação em jornalismo, da Faculdade São Luís, sob orientação de meu orientador Francisco Colombo. O trabalho foi aprovado pela banca examinadora com nota 10.
Ao publicar os trechos acima, do trabalho que teve revisão deste blogueiro, repetimos os parabéns já transmitidos à autora por telefone, ontem, logo após sua defesa. Íntima do palco, Lena Machado preferiu não ter amigos assistindo-a perante a banca e preferimos respeitar a vontade de sua timidez. Com o título, o jornalismo soma-se à música para fazer ecoar sua voz na defesa dos direitos humanos e justiça social no Maranhão e em qualquer lugar por onde ande, cante e escreva.
O Maranhão tem jeito? Nesse momento de saúde frágil (dele), que pensamentos dedica ao ex-presidente José Sarney?
Anseio muito por uma virada política do Maranhão. É um estado soterrado por corrupção, miséria e usura. Mas é também lindo, rico e culturalmente abençoado. Não posso desejar a morte do Sarney, porque isso contraria meus princípios, afinal fui criado em família católica, não fui ensinado a torcer pela morte de ninguém, nem mesmo do inimigo. Mas a única perspectiva de mudança que vislumbro pro Maranhão depende da morte política de seu legado tirano.
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Zeca Baleiro a Pedro Só na Billboard Brasil nº. 30 [maio/2012, capa: Keith Richards e Mick Jagger]. Sobre seu O disco do ano, um dos temas da entrevista de que catei o trecho acima, escrevo em breve por aqui.
Impossível não lembrar imediatamente da queridamiga Micaela, filha do velho Neiva, uma das flores que brotou de seus galhos. A ela o abraço carinhoso com aquelas palavras, sinceras e surradas, sempre ditas em ocasiões como esta.
Ainda pela manhã, ao saber do falecimento de Neiva Moreira, lembrei também de mamãe, sempre sua eleitora. À procura de algo para publicar aqui à guisa de obituário, folheei, na biblioteca da Cáritas, uns exemplares dos Cadernos do Terceiro Mundo, publicação editada por ele há muito tempo. Nada achei que me servisse, apesar de muito conteúdo bom ali, nada era exatamente o que eu procurava.
Quando o meu amigo Neiva saiu para o exílio, fui ao aeroporto para despedi-lo, mas apenas o vi embarcando, cercado de agentes. Voltei muito triste e indignado. Fiquei com aquilo na cabeça e escrevi o “Meu samba é a voz do povo”, dedicado ao amigo e companheiro exilado. Escrevi a Neiva uma carta, já não me lembro em que país ele andava, enviando-lhe a letra do samba. Nela eu digo assim:
Eu sou a flor que o vento jogou no chão Mas ficou um galho que outra flor brotou As minhas folhas o vento pode levar Mas o meu perfume fica boiando no ar.
Era uma linguagem figurada. Mas eu sei o que queria dizer. E muita gente, comigo, também sabia.
Marco Aurélio D’Eça é, digamos assim, o que era Décio Sá quando vivo, o que talvez lhe soe como elogio. Espécie de boneco de ventríloquo, extremamente alinhado aos patrões, marionete a dizer ou repetir o que àqueles interessa, subserviente dos pés até o último fio de cabelo. A diferença, mínima, entre um e outro era que o recém-assassinado ao menos sabia escrever, tinha um mínimo de talento. Na verdade, dominava a técnica e tinha objetividade, não era dono de um texto grandioso, rebuscado.
O advogado Luis Antonio Câmara Pedrosa, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Seccional Maranhão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MA) escreveu este texto sobre o assassinato de Décio Sá e o contexto em que o mesmo está inserido. Pedrosa, respeitadíssimo, é uma das maiores referências quando se trata de Direitos Humanos, não só no Maranhão, mas no Brasil.
O jornalista Marco Aurélio D’Eça, na tentativa de desvirtuar o debate, cata uma frase, uma expressão solta, circula-a com uma série de bobagens e impropérios e acusa Pedrosa e a OAB/MA de se eximirem de responsabilidades no caso Décio. Em jornalismo chamaríamos de edição o que fez o blogueiro miranteano, embora seu blogue não mais esteja nos domínios do portal das organizações Sarney.
Edição é algo importantíssimo em jornalismo. É nela que você corta, apara, reescreve, corrige erros, enfim, deixa um texto com cara de publicável. Mas há quem use suas ferramentas para outra coisa. Exatamente como faz D’Eça, com toda desfaçatez, pensando que alguém acredita N’Eça.
A expressão usada por Pedrosa, “gorilas diplomados”, não é, nem quer ser racista, nem se refere a jornalistas em geral, nem sequer à maioria dos profissionais da área. Refere-se a membros de um pequeno grupo de bacharéis em comunicação truculentos, intolerantes, agressivos, gratuitamente violentos e que agem por instinto animal, às vezes tão somente o da sobrevivência. Tampouco faz alusão à cor da pele de Décio Sá, como D’Eça quer fazer crer: há gorilas diplomados de toda cor no grande zoológico da política e do jornalismo cometidos no Maranhão da cachaça, pão e circo.
Por aí há, além de gorilas diplomados, gorilas fardados (disparando contra adolescentes e indefesos de toda faixa etária), gestores gorilas e gorilas virtuais desfilando a máxima ultrapassada de que “direitos humanos só defendem bandidos”.
Criticar a OAB/MA, o presidente de sua Comissão de Direitos Humanos ou qualquer outra entidade ou seus membros por não emitirem nota(s) de repúdio sobre o caso Décio é apenas tentar induzir seus leitores ao erro: jornalistas devem (ou ao menos deveriam) escrever em seus textos o que as pessoas dizem, nunca o que supostamente teriam pensado.
As investigações do caso Décio estão acontecendo em uma velocidade satisfatória, acima da média de inúmeros outros casos envolvendo cidadãos comuns, anônimos que morrem sem às vezes ganhar uma linha sequer em página policial de jornal, quanto mais toda essa discussão sobre o contexto, a violência, a segurança pública e tudo o mais que se tem debatido (ou se tem tentado debater) nos últimos dias. Afinal de contas, o jornalista era amigo pessoal da governadora Roseana Sarney, como já apregoou um ou outro blogueiro em meio à grande repercussão que o crime ganhou.
Com uma amizade dessas, que diferença faz uma nota de repúdio da OAB/MA ou de outra organização?
Ao escrever sobre Guerrilhas (2012), de Flávio Reis, quando o classificou acertadamente como “figura de exceção entre nossos pensadores e professores”, Reuben da Cunha Rocha abriu um leque que pode e deve ser ampliado quando somamos ao “homem magro de fala digressiva”, dois outros professores do naipe: Flávio Soares e Wagner Cabral.
Pugilistas do pensamento, o trio se encontra numa mesa-ringue tendo por mote o lançamento (detalhes na imagem que abre o post), na UFMA, do citado livro, “coletânea de artigos publicados por Flávio Reis na imprensa maranhense ao longo da última década”, o sucessor de Grupos políticos e estrutura oligárquica (2007) e Cenas marginais (2005).
Bancado pelo bolso do autor, como os anteriores, Guerrilhas foi publicado no início deste ano, com os selos da editora Pitomba! e do jornal Vias de Fato, sem trazer qualquer referência à universidade onde seu autor dá aula – a contribuição radical aos debates em torno dos assuntos que aborda e sua visão aguçada, por si só já justificariam a publicação pela própria UFMA, mas Flávio é um dissidente ácido e prefere a liberdade de outros caminhos.
REIS, SOARES e CABRAL, como são chamados em citações acadêmicas, vão certamente distribuir socos no status quo, seus modos de ver/rever o Maranhão porradas certeiras, diretas, no estômago, sobretudo dos acostumados a velhas famas, por vezes injustificadas e ufanistas.
O mito francês e a dança dos historiadores, O Maranhão bárbaro e sua miséria historiográfica, Oligarquia e medo, O nó-cego da política maranhense, A política do engodo e o engodo da política, para citar títulos de alguns artigos de Guerrilhas, violência urbana, jornalismo, poesia, cinema, música, literatura e psicanálise serão munição para este debate “peso”, expressão quase sempre usada por Flávio Reis para definir algo muito bom, extraordinário, seja um disco, um livro, um filme ou um aluno acima da média.
A pauta certamente se ampliará e os três professores darão conta do recado, imperdível, eu diria. Roubando mais um par de aspas de Reuben – tirando o “peso” aí de cima, são dele as outras ao longo do texto –, que qual este blogueiro, tem no autor de Guerrilhas um de seus heróis, cabe repetir: “É chegado o tempo do arsenal contra o repertório”.
Sinistros navios piratas invadiram a ilha de Tupã com seus brasões, arcabuzes e espadas para o vernissage de uma nova França. Porém a arma mais desumana foi a cruz erguida em nome de Jesus sobre o sangue Tupinambá. Oh, desgraça! Oh, infâmia! Ainda hoje os filhos de Maria continuam sendo assassinados na Terra Prometida que lhes servirá de túmulo…Do pó para o pó! Desde então, todos os dias o cadáver de Cristo é arrastado para o Calvário do Itaqui tendo cravos de ferros nas mãos e nos pés. Embarcando, atravessa o Aqueronte para ser vendido nos sujos mercados colonialistas.
Misericórdia! Misericórdia!
Há 400 anos os galos cantam Misericórdia, mas as feridas continuam abertas. Úlceras da fome e do abandono se alastram pela madrugada Como um grito de tambor execrado pelos ouvidos surdos de políticos e autoridades. Autoridades de latrina! Urubus! Por que festejar o patrimônio desumano da miséria e do luto na Hora do Angelus, quando os sinos da anunciação pedem liberdade? Cidadãos de São Luís! Os fariseus vestidos de cordeiros são os mesmos ladrões que assaltam palafitados e jantam suas vísceras no Congresso Nacional. Não vos deixeis cair na tentação do bolo confeitado da infâmia, com suas velas de sangue e de breu. A faca está nas mãos de Lúcifer e as fatias serão negociadas entre os porcos da corte. Quem de vós irá comer desse bolo de aniversário?
Cristo Ressuscitará? Cristo Ressuscitará?
Siiiiiim! Cidadãos de São Luís…É chegada a hora! A hora de libertar Anjos e Lázaros Massacrados por políticas públicas de mentira! Fortalecei a trincheira contra a corrupção e o tráfico de almas! Basta! São 400 anos de miséria, de injustiça, de mãos implorando: Esmola pelo amor de Deus! Mas Deus também está sendo vendido no mercado negro das multinacionais que fabricam miséria e cobram dízimos dos crucificados pela fome. Cidadãos de São Luís, é chegada a hora do Anjo Rebelde! A mensagem revolucionária do filho de Deus já está em nossos corações. Ora pro nobis; Sancta Dei Genetrix…
Hoje o Verbo da Liberdade se fará carne!
[Por ocasião da Via Sacra. Roubei do Vias de Fato]
A (des)governadora Roseana Sarney, fazendo o que mais entende...... e a bruxa Maga Patalógica, cujo maior sonho é roubar a moeda número 1 do Tio Patinhas
Com todo respeito deste blogue à personagem de Walt Disney.
Como você poderia descrever essa obra? É uma junção de textos de combate, fruto de debates em que me meti na última década, principalmente crítica de autores nossos ou da realidade local, mas como é uma reunião ampla comporta também cinema marginal e até psicanálise. Gosto de pensar nesse livro como pequena caixa de bombons venenosos.
E o que o leitor poderá encontrar em seu livro? Raiva, indignação, avacalhação, mas também beleza e uma pitada de humor. Penso que só misturando esses elementos conseguiremos olhar para além dos lugares comuns da história do Maranhão. Aqui, acima de tudo, as pessoas se levam muito a sério, mesmo os mais bobos e ignorantes pensam sempre que estão dizendo a coisa mais importante do mundo, uma mostra do faz de conta em que vivemos mergulhados.
São artigos incisivos, questionadores e, acima de tudo, críticos. Na sua percepção está em falta essa visão questionadora dos fatos? A crítica está devendo em todo lugar, o pensamento há muito vem a reboque dos acontecimentos, mas aqui no Maranhão acho ainda mais grave, pois no fundo atravessamos o século XX como que anestesiados, cultuando um passado fantasmagórico. Hoje, apesar da manutenção deste padrão repetitivo e vazio, comandado principalmente pelos principais veículos de comunicação, é possível ver alguma disposição e condição de crítica numa outra geração que não reza pela cartilha dos velhos atenienses da Academia de Letras, nem se submete aos cânones estéreis do pensamento universitário. É fugindo desses dois horrores que tento respirar, atacando a linguagem publicitária que hoje dá a forma e o tom de todos os discursos.
Os seus textos falam de música, literatura, cidades, política. O que mais fervilha nessa sua mente criativa? Odeio a especialização e o pensamento “de especialista”, que é uma coisa catalogada. Aprendi cedo que o impulso criativo e a provocação mais interessante são fruto da mistura e da transgressão, nunca do respeito a cânones. Para fugir da camisa de força entrei numa aventura de implosão das certezas, que foi a implosão do campo de conhecimento. O blábláblá mais comum da universidade não me interessa mais há muito tempo.
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Flávio Reis em entrevista a Patrícia Cunha nO Imparcial de hoje [Impar, p. 1], quando, às 19h30min, ele lança Guerrilhas no Papoético (Chico Discos, também conhecido como Sebo do Chiquinho, Rua Treze de Maio, 389-A, esquina com Afogados, sobre o Banco Bonsucesso). Entrada franca, o livro custa apenas R$ 20,00.
Livro reúne 20 textos que o cientista político e professor da UFMA publicou em jornais de São Luís nos últimos dez anos
(A arte do convite e o texto são da assessoria do evento)
Guerrilhas [Pitomba!/ Vias de Fato, 2012] aborda de forma contundente assuntos da área de política, história, música, cinema e psicanálise, entre outros. O livro abre com a polêmica sobre a fundação de São Luís, tema de cinco artigos de Flávio Reis, que é cientista político e professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão. O autor escreveu também Cenas Marginais (2005) e Grupos Políticos e Estrutura Oligárquica no Maranhão (2007).
“Guerrilhas é um pequeno livro que nos ajuda a pensar o Maranhão, a entender por que chegamos até aqui do jeito que chegamos. No cerne de cada questão abordada está a luta contra o modo de pensar da classe dominante, que impõe a sua história, ora idealizada, ora subjugando o pensamento discordante”, afirma o poeta Celso Borges no prefácio do trabalho.
Na área de política, Guerrilhas ressuscita assuntos fadados ao silêncio, como o momento obscuro da política maranhense, nos anos 20 do século passado. Com base no livro Neurose do Medo (Nascimento de Moraes, 1923), resgata uma história com direito a governador neurótico, juiz arruaceiro, assassinato e suicídio. Quase 100 anos depois, mais um capítulo da política maranhense também é comentado pelo cientista, no artigo O Nó-Cego da Política Maranhense, que fala sobre a troca de governadores do estado, decidida pelo TSE em 2009.
O livro traz três artigos sobre cinema, abordando o radicalismo da estética marginal, dos anos 70; a obra do cineasta Frederico Machado, com destaque para o filme, Litania da Velha; e um olhar sobre Nietzsche em Turim, do diretor Júlio Bressane, um texto que vê o nascimento da loucura de um dos pensadores mais radicais do ocidente.
Na área de literatura, Guerrilhas se debruça sobre A Saga do Monstro Souza, de Bruno Azevêdo e Gabriel Girnos. Flávio Reis acompanha a trajetória do personagem principal, um cachorro-quente serial killer, inserindo colagens e notícias de jornais retiradas do próprio livro de Bruno e Gabriel. O artigo é uma busca obsessiva pela São Luís real e não aquela idealizada em campanhas publicitárias para atrair turistas.
A música está presente em Guerrilhas no texto Antes da MPM. O assunto trazido à tona é o debate sobre o que vem a ser realmente música popular maranhense, o termo MPM, ou a invenção dele. O autor sabe que esta “é uma questão complicada, que não comporta respostas fáceis”.
Serviço
Guerrilhas > Livro de Flávio Reis > Lançamento dia 16 de fevereiro (quinta-feira), às 19h30min > Local: Papoético – Chico Discos (Sebo do Chiquinho, Rua São João, 389, esquina com Afogados, sobre o Banco Bonsucesso) > Entrada franca > O livro custa apenas R$ 20,00.