Bob and Bob: obra de Marley e Dylan celebrada em mix de show e recital

[release. Da assessoria]

O poeta Fernando Abreu e o guitarrista Lucas Ferreira em apresentação no Teatro Cazumbá, ano passado - foto: divulgação
O poeta Fernando Abreu e o guitarrista Lucas Ferreira em apresentação no Teatro Cazumbá, ano passado – foto: divulgação

Fã incondicional de Robert Nesta Marley e Robert Allen Zimermann, os dois “Bobs” mais influentes da música mundial, o poeta maranhense Fernando Abreu acalentou durante anos a ideia de fazer um recital com canções dos dois artistas entremeados com poemas de sua autoria que de alguma forma dialogassem com as canções. Na cabeça tinha o título e o repertório, faltavam apenas a hora e o lugar certos.

Há três anos, a convite da jornalista, produtora e DJ Vanessa Serra, o poeta levou da cabeça para o palco o recital “Bob & Bob – I and I”, na retomada do projeto Vinil e Poesia, voltado para as conexões possíveis entre o texto poético e a canção popular. O resultado foi animador o suficiente para garantir ímpeto para insistir na proposta.

A segunda apresentação se deu ainda em 2023, no Teatro Cazumbá, onde, tal como na estreia, Fernando Abreu subiu ao palco munido de seu próprio violão, acompanhado pelo jovem guitarrista Lucas Ferreira, sobrinho do poeta, compositor, factotum e vocalista da banda roqueira Babycarpets, ex-garotos de vinte e poucos anos ligados em psicodelia, experimentação, Stooges e – Bob Dylan.

Nesta quarta-feira, ainda no clima das comemorações pelos 80 anos de nascimento de Bob Marley (1945-1981), o showrecital está de volta, dessa vez como atração do projeto Quarta no Solar. Mas o que era uma dupla dessa vez ganha ares de banda folk, com a adição de contrabaixo, cozinha rítmica e um inusitado violino, fazendo referência ao clássico  “Desire”, álbum lançado por Dylan em 1976 onde o instrumento pontifica em todas as nove faixas, pelas mãos da enigmática Scarlet Rivera. O “sarau” conta ainda com a participação especial de Aziz Jr., tocando “Negro Amor”, versão de Péricles Cavalcanti e Caetano Veloso para “It’s All Over Now, Baby Blue”, imortalizada por Gal Costa em “Caras e Bocas” (1977).

Durante cerca de uma hora, a trupe passeia por várias fases da extensa obra de Dylan e Marley, costurando canções e poemas pinçados dos livros do poeta, à exceção de dois inéditos que estarão em um novo livro, a ser publicado ainda neste ano. Além de “Negro Amor”, o repertório ganha também “Señor”, em versão despojada mais próxima da leitura de um Willie Nelson. Na “faixa-bônus” de encerramento permanece a cáustica “Babylon System”, de Marley: “We refuse to be/ what you wanted us to be/ we are what we are/ that’s the way it’s going to be”. (“Nós nos recusamos a ser/ o que vocês querem que a gente seja/ nós somos o que somos/ e é assim que vai ser”).

De um total de 11 canções, oito são cantadas no inglês original. As exceções são “Small Axe”, canção guerreira dos primórdios dos Wailers que virou “Machado Afiado”, na versão livre de Abreu em parceria com o poeta Celso Borges (1959-2023). O célebre refrão do hino imortalizado pela banda The Gladiators ganha sabor marcadamente regional, mas não menos ameaçador: “você me dá pão e circo/ querendo se dar bem/ mas o pau que dá em Chico/ dá em Francisco também”.

Da fase cristã de Dylan, “Um dia você vai servir a alguém” é a segunda canção entoada na língua pátria, versão de outro convicto dylanófilo, Vitor Ramil, para “Gotta serve somebody”.

A trinca se completa com a longa “Simple Twist of Fate”, onde a dupla de poetas se permitiu um nível tal de liberdade a ponto de homenagear o cantor Chico Maranhão, que aparece citado na música. Libertinagens à parte, os poetas acreditam ter se mantido fiel ao espírito da canção gravada por Dylan em “Blood on the tracks”, de 1975.

Além de reafirmar conexões entre poesia e música popular, o recital presta um despretensioso tributo a dois heróis culturais do século XX. Dylan, um dos construtores do rock como obra de arte, ganhador do Nobel, e Marley, o único superstar mundial egresso de um país na periferia do capitalismo, autor de “Exodus”, disco considerado o mais importante do século XX pela revista Time. “Não tenho conhecimento de nenhuma iniciativa que una a obra desses dois bardos pop, que tem muito mais a ver entre si do que seus primeiros nomes: uma obra capaz de despertar identificação com pessoas do mundo inteiro em gerações diferentes. É isso que celebramos sempre que subimos ao palco com essas canções”, pontua Fernando Abreu.

Roots, rock, reggae! – Quando o rasta diz “I and I”, está dizendo: eu, meu espírito em unidade com o sagrado e com todas as coisas. Quando Bob Dylan gravou  “Infidels”, em 1983, levou dois rastamen da gema para o estúdio: os lendários Sly Dunbar e Robbie Shakespeare (1953-2021). A presença da dupla garantiu que o reggae se insinuasse por todas as oito faixas, a partir do baixo e da bateria, incluindo a clássica “Jokerman”. Quem tiver ouvidos que ouça. Mas não é tudo: o disco, que pode ser chamado (com algum exagero, claro), de o disco “rasta” de Bob Dylan, traz ainda uma canção de complexo misticismo, chamada justamente “I and I”, uma canção que ameaça se transformar em reggae a cada virada de bateria.

Dylan deve ter sacado que a expressão rasta traduz o mesmo sentimento de comunhão universal a partir da experiência individual experimentado, por exemplo, por Walt Whitman (1819-1892), e que resultou em “Folhas de Relva”, especialmente no poema “A Canção de Mim Mesmo”. O mesmo que termina dizendo “sou amplo, contenho multidões”. Pois não custa lembrar que o último disco do agora octogenário bardo, “Rough and Rowdy Ways”, lançado em 2022, traz uma canção calcada na obra de Whitman, chamada “I Contain Multitudes” (Eu Contenho Multidões). I and I. O Ciclo se fecha.

“O comentário é quase geral”

O compositor Chico Saldanha - foto: Ribamar Nascimento/ divulgação
O compositor Chico Saldanha – foto: Ribamar Nascimento/ divulgação

O compositor Chico Saldanha (acompanhado por Marcão ao violão) é o convidado desta quarta-feira (25) no projeto Quarta no Solar. Capitaneado por Aziz Jr. e Chico Nô e aberto pela discotecagem de Pedro Dreadlock, o evento semanal, em pouco tempo, consolidou-se no calendário cultural da capital maranhense, sendo realizado sempre a partir das 19h no Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis (Rua Rio Branco, 420, Centro). O couvert artístico individual custa apenas R$ 15,00.

Chico Saldanha é um dos mais versáteis compositores maranhenses, passeando com igual desenvoltura pelos ritmos da cultura popular de seu estado natal e gêneros como o blues, o choro e o brega, num caldeirão sonoro de referências as mais variadas, entre a música, a literatura e o cinema, além, é claro, de sua própria memória prodigiosa, ao evocar e trazer para suas criações personagens como Babalu (na canção homônima), famoso dublador dos primórdios da TV Difusora, e Mário Mentira (em “É Tudo Verdade”), um vizinho seu na São Pantaleão que fez jus ao apelido que lhe deu sobrenome, entre outros.

Natural de Rosário, Saldanha mudou-se cedo para São Luís, vindo morar numa São Pantaleão habitada por gênios da estirpe de Cesar Teixeira (que chegou a ver engatinhando), João Pedro Borges e Ubiratan Sousa – no encarte de Emaranhado (2007), estes três nomes comparecem aos agradecimentos àqueles que os levaram ao caminho da música.

Entre os covers de Beatles da juventude aos grandes festivais – sua “Absolutamente” venceu a etapa maranhense do Canta Nordeste, festival outrora promovido pela Rede Globo de Televisão –, Chico Saldanha é um nome consolidado na história da música popular brasileira produzida no Maranhão, como compositor, autor de quatro álbuns até aqui – além do citado, Chico Saldanha (1988), Celebração (1998) e Plano B (2017) –, incluindo pérolas como “Itamirim”, “Linha Puída” e “Choro de Memórias”, e como memória viva, enciclopédia deste fazer musical.

Arrisco-me a soar imodesto, mas entre os poucos mas fiéis leitores não preciso esconder o orgulho em ser seu parceiro em “Dolores”, letra que escrevi em homenagem a Dolores O’Riordan (1971-2018), vocalista de The Cranberries, que ele musicou e gravou com a participação especial de Regiane Araújo.

Não preciso lembrar também que foi através de Chico Saldanha que as músicas hoje tão de conhecidas do repertório do elepê Bandeira de Aço (1978) chegaram a Marcus Pereira (1930-1981) e a Papete (1947-2016) – seu parceiro em “Pindaré”, para citar mais um clássico. O resto é história e é sempre um enorme prazer ouvi-lo contar. E cantar.

Chico Saldanha completou 79 anos em junho passado e segue ativo e criativo. Uma de suas mais recentes criações já têm duas gravações: além do próprio autor, antes Elizeu Cardoso gravou o presente que ganhou e fez de “Arco-íris” clássico instantâneo, do verso que intitula este texto, que eu não canso de pedir em rodas de violão ou qualquer outra oportunidade que me surja diante dos olhos, ouvidos e coração.

O plural Claudio Lima é o convidado desta Quarta no Solar

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O multifacetado Claudio Lima - foto: divulgação
O multifacetado Claudio Lima – foto: Cláudia Marreiros/ divulgação

Desde seu álbum de estreia, lançado em 2001, o cantor e compositor Claudio Lima constrói pontes interessantes entre a cultura popular do Maranhão e a obra de grandes nomes do jazz, da bossa nova e da música popular brasileira.

Multifacetado, além de artista da música, Cláudio Lima é também designer (ele mesmo é o autor dos projetos gráficos de seus álbuns), escritor (autor de Esplêndido – o guará que não conseguia ficar vermelho) e artista visual (atualmente com duas exposições em cartaz na Sala Sesc (Condomínio Fecomércio, Av. dos Holandeses, Jardim Renascença): “Pássaras de Upaon-Açu” e “Bicharada Nativa de Upaon-Açu”. Seu quarto álbum está em processo de produção e deve ser lançado muito em breve.

Atualmente considerado uma das grandes vozes da música brasileira em atividade, Cláudio Lima é o convidado desta quarta-feira (28) do projeto Quarta no Solar, evento já integrado ao calendário cultural da capital maranhense, que acontece semanalmente no Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis (Rua Rio Branco, 420, Centro). O sarau musical é capitaneado pelos cantores e compositores Aziz Jr. e Chico Nô, além do DJ Pedro Dreadlock.

Em sua apresentação, Cláudio Lima passeará por temas de nomes como Catoni (1930-1999), Cesar Teixeira, Dori Caymmi, Lupicínio Rodrigues (1914-1974) e Mercedes Sosa (1935-2009), entre outros.

O Quarta no Solar começa às 19h e o couvert artístico é colaborativo.

Joãozinho Ribeiro celebra 69 anos de idade e 45 de música no Quarta no Solar, terça que vem (30)

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O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro no traço de Nuna Gomes
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro no traço de Nuna Gomes

“Tem uma sexta na minha terça”, dirão os brasileiros comuns na véspera do feriado de 1º. de maio, dia do trabalhador e da trabalhadora. Já os brasileiros que frequentam o Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis (Rua Rio Branco, 420, Centro) dirão que “tem uma quarta na minha terça”. Para que ninguém fique confuso, abrevio a prosa e explico: em razão do citado feriado, a próxima edição do projeto Quarta no Solar acontece nesta terça (30).

Realizado há cerca de dois meses, o projeto vem conquistando um público fiel, sob o comando de Aziz Jr. (voz e violão) e Chico Nô (voz e violão) – acompanhados por Totó Sampaio (percussão) e Athos Lima (guitarra) –, que a cada quarta-feira recebem um/a convidado/a especial e a presença de artistas na plateia transforma o fim da festa em uma animada jam session.

Nesta terça-feira, o convidado é o poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, que completa 69 anos na segunda-feira (29) e celebra também o marco dos 45 anos de trajetória musical, iniciada em um festival universitário de música na UFMA, em 1979.

Joãozinho Ribeiro estará acompanhado por um Regional – formado por Arlindo Pipiu (violões de seis e sete cordas), Jovan Lopes (trombone), Madson Peixoto (percussão) e João Eudes (cavaquinho) – e passeará por clássicos de sua lavra, a exemplo da premiada “Milhões de Uns” – sucesso de Célia Maria – “Choro na Tralha” e “Ternura e Pão”, parcerias com Ivandro Coelho. A noite contará ainda com a participação especial da cantora Fátima Passarinho.

O show começa às 19h e o couvert artístico individual custa R$ 10,00.