Música em Ação capacita mais de 150 crianças e jovens em Cedral e Guimarães

[JP Turismo, Jornal Pequeno, hoje]

Idealizado e coordenado pelo professor Raimundo Luiz, ex-diretor da Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo, o projeto teve patrocínio da Wilson Sons através da Lei Federal de Incentivo à Cultura

O idealizador e coordenador Raimundo Luiz (o segundo a partir da direita) e professores das oficinas do projeto Música em Ação. Foto: divulgação
O idealizador e coordenador Raimundo Luiz (o segundo a partir da direita) e professores das oficinas do projeto Música em Ação. Foto: divulgação
Oficina do núcleo de cordas do projeto Música em Ação. Foto: divulgação
Oficina do núcleo de cordas do projeto Música em Ação. Foto: divulgação
Após sua palestra, o professor Daniel Lemos brindou os alunos com uma apresentação. Foto: divulgação
Após sua palestra, o professor Daniel Lemos brindou os alunos com uma apresentação. Foto: divulgação

“Eu tinha chegado na sessão na época e fiquei loucamente curioso pra saber que monte de coisa pretinha era aquela. “Ah, isso aqui é música, é partitura!”. Ela me levou à Escola de Música, em 1980, já fora do período de inscrição, me apresentou para a então diretora Olga Mohana. Ela já tinha esse sonho que nós temos até hoje, de ter uma Orquestra Sinfônica no estado. Ela já me viu tocando violino, já me ofereceu o violino pra estudar. Eu não tinha instrumento e queria isso mesmo”.

A fala é de um entusiasmado Raimundo Luiz, multi-instrumentista, professor aposentado e ex-diretor-geral da Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo, em seu depoimento à Chorografia do Maranhão, série de entrevistas publicadas por este repórter com os irmãos Ricarte e Rivânio Almeida Santos, posteriormente reunidas no livro homônimo, publicado em 2018 em parceria pelas editoras Pitomba! e Edufma.

O mesmo entusiasmo segue motivando o integrante do Instrumental Pixinguinha, formado por professores, nos corredores da Emem: Raimundo Luiz poderia estar se dedicando tão somente a curtir a aposentadoria ou as rodas boemias de choro da ilha que adotou o garoto vindo de Jacarequara, povoado de Cedral (Guimarães antes da emancipação), mas o amor pela música e pela educação musical seguem motivando-o a inventar ações como o projeto Música em Ação – Meio Norte Maranhão, que leva oficinas de educação musical, instrumentos e ações de contrapartidas sociais aos municípios de Guimarães e Cedral.

O projeto Música em Ação tem patrocínio da Wilson Sons, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e é uma realização da Sol Maior Produção Musical, que já conta mais de 10 anos de atividades de produção na capital e sobretudo no interior do estado do Maranhão, em projetos artísticos e educativo nos quais tomaram parte integrantes dos corpos docentes das Universidades Estadual e Federal do Maranhão, além da Emem, entre outros. As atividades são desenvolvidas em escolas e sindicatos, através de parcerias com estes e as secretarias municipais de educação, além das próprias prefeituras municipais, que apoiam a iniciativa.

O projeto foi encerrado em fevereiro, tendo atendido mais de 150 alunos com oficinas de musicalização (flauta doce), cordas e sopros. “Estamos muito felizes em trabalhar na formação cultural de crianças e jovens destas cidades”, afirmou Raimundo Luiz, idealizador e coordenador do Música em Ação.

“Nós só temos a agradecer ao professor Raimundo Luiz por proporcionar esse projeto. Guimarães só tem a agradecer por este trabalho, a cidade só tem a ganhar, Guimarães é um grande celeiro musical”, afirmou Osvaldo Gomes, prefeito do município, reconhecido como berço do bumba meu boi sotaque de zabumba.

“Este projeto é algo que nós devemos incentivar e abraçar cada dia mais, para que ele seja fortalecido e possa acontecer. Sou muito feliz por poder ter a minha filha participando desse projeto”, declarou Fernanda Cardoso, mãe de aluna.

Maria Vitória, aluna do núcleo de cordas, também revela, emocionada: “eu tinha muita vontade de um dia pegar num violão, nunca tinha pegado; aí apareceu essa oportunidade e eu aproveitei, estou me sentindo muito bem”. Kahyo Martins, do mesmo núcleo, afirma: “eu gostei muito, a comunidade toda está envolvida, eu espero muito que continue no próximo ano”. Também do núcleo de cordas, Skarlleth Santos, realça o caráter social do ensino da música: “essa oportunidade que abriram para a gente foi muito importante, foi abrindo novas portas, e em vez de o jovem estar em outros lugares, está aqui, curtindo e aprendendo coisas novas. Em Guimarães, além da sede, o projeto chegou também à comunidade de Damásio, graças a uma parceria com o polo 20 do projeto Bombeiro-Mirim.

“A música, além de uma oportunidade de formação, de futuro para quem pratica, mas traz muitos valores juntos, é uma oportunidade de trabalhar educação, respeito, pertencimento, identidade, e é muito bom ver essa equipe trabalhando. Que venham mais projetos como esse, pois as crianças e jovens estão precisando de oportunidades”, afirmou Wagner Ramos, do departamento de responsabilidade social da Wilson Sons, que patrocina o projeto.

O pianista e professor Daniel Lemos, sintetiza: “Para mim foi uma honra tomar parte no projeto, com uma palestra intitulada “A música no currículo escolar”, seguida de uma intervenção musical. Projetos belíssimos como esse, que tem trazido a música para as crianças, mostrando a questão da formação cidadã, do qual a música é um tipo de conhecimento específico e muito importante para o desenvolvimento social de nosso país, o nosso futuro, e também importante destacar a questão da geração de renda, de você trazer os bolsistas, os trabalhadores, jogar esse recurso para regiões do interior, descentralizando o capital. É uma iniciativa muito importante e a gente espera que outras venham a acontecer no futuro. Estão de parabéns todos os membros da equipe, o professor Raimundo Luiz, e será sempre um prazer colaborar com iniciativas tão valiosas como essa”.

A “Divina Dádiva-Dívida” de Celsim (e João Camarero)

(OU: JORNALISTAS TAMBÉM SE EMOCIONAM)

Celsim (voz) e João Camarero (violão sete cordas). Foto: Pablo Saborido/Divulgação
Celsim (voz) e João Camarero (violão sete cordas). Foto: Pablo Saborido/Divulgação

Para quem perdeu ou quer verouvir de novo o Chorinhos e Chorões de domingo passado (18)

“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, nos ensina Caetano Veloso. E entre as dores e as delícias de trabalhar com jornalismo, e particularmente jornalismo cultural, certas coisas me comovem – nem vou me desculpar caso soe piegas, seria o mesmo que pedir desculpas pela sinceridade.

Uma dessas emoções recentes foi ter entrevistado o ator, cantor e  compositor Celsim (que está mudando de nome artístico após 30 anos assinando como Celso Sim), no Chorinhos e Chorões, da Rádio Universidade FM de domingo passado (18), com operação de Marcos Martins – problemas técnicos tiraram a Rádio Timbira do ar naquela manhã, onde o programa atualmente também é transmitido, em cadeia; na ocasião, substituí, a pedido dele mesmo, que teve uma viagem a trabalho, Ricarte Almeida Santos, titular absoluto do programa, há mais de 30 anos, a quem agradeço a preferência e confiança de sempre.

Admiro e acompanho como posso a trajetória de Celsim desde o final da década de 1990, quando comprei um exemplar usado de “Pedra Bruta” (que tenho até hoje), disco de Jorge Mautner gravado na Áustria entre 1991 e 1992, ano em que foi lançado, que marcava a estreia de Celsim. De lá para cá, foram vários discos, cada qual com sua particularidade, sempre aliando sua voz, uma das mais belas que já ouvimos no Brasil, a repertórios impecáveis.

O mais recente, mote da presença de Celsim no dominical Chorinhos e Chorões, é “Divina Dádiva-Dívida” (Selo Circus, 2022), que ele divide com João Camarero (violão sete cordas), inspirado tributo a Elizeth Cardoso (1920-1990), álbum que começou a ser gestado durante a pandemia de covid-19.

Em pouco mais de uma hora de programa – sorry, Paulo Pellegrini –, Celsim falou sobre a mudança de nome artístico, as parcerias com Camarero e Arthur Nestrovski, as importâncias de Elizeth Cardoso e João Gilberto em sua formação, a paixão por Batatinha (a cujo repertório dedicou “O Amor Entrou Como Um Raio”, de 2017), entre outros, destacando a síntese por trás do conceito traduzido no título de seu mais novo álbum: divina é Elizeth e o Brasil é a dádiva-dívida, tudo isso cerzido por um amor ao Brasil, que, afinal de contas, nos une, força-motriz de seu fazer artístico e de meu fazer jornalístico.

Para quem perdeu (ou quer verouvir de novo) o programa, assista a seguir.

De bônus, uma playlist com o repertório que eu planejava tocar (algumas acabaram ficando de fora, dado o limite de tempo).

Outro bônus é o Radiola Timbira do mesmo domingo, que também abro lembrando a entrevista de mais cedo, tocando faixas de “O Herói das Estrelas e A Anja Astronauta” (Selo Sesc, 2022), que Celsim dedica ao repertório de Jorge Mautner.

Perdeu ou quer ouvir de novo?

Domingo passado (7), a convite de Ricarte Almeida Santos, tornei a apresentar o Chorinhos e Chorões, agora transmitido simultaneamente pelas rádios Universidade FM, casa original do programa, há 36 anos no ar, e Timbira. Na ocasião, prestamos uma singela homenagem ao multi-instrumentista, maestro, compositor e arranjador Paulo Moura (1932-2013).

Na sequência, apresentei o Radiola Timbira, recém-estreado na emissora homônima, onde já faço, há mais de seis anos, o Balaio Cultural, com Gisa Franco. Em destaque no programa, a vinda do caboverdiano Mario Lucio ao Brasil (toca em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), além de uma singela homenagem ao radialista Rui Dourado (1939-2023), cuja trilha de seu inesquecível Futebol de Meia Tigela era de Poly e Seu Conjunto.

O que você achou? Sugestões, críticas, reclamações e pedidos na caixa de comentários, e-mail, whatsapp e redes sociais. Valendo!

Chorinhos e Chorões passa a ser veiculado em cadeia pelas rádios Universidade e Timbira a partir deste domingo (30)

O sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos produz e apresenta o dominical Chorinhos e Chorões. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
Da esquerda para a direita: Tiago Fernandes, Wendell de la Salles, Rui Mário e Marquinhos Carcará, o Quarteto Crivador. Foto: divulgação
Da esquerda para a direita: Tiago Fernandes, Wendell de la Salles, Rui Mário e Marquinhos Carcará, o Quarteto Crivador. Foto: divulgação
O cantor e compositor Claudio Lima. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
O cantor e compositor Claudio Lima. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
No palco ou na plateia, o poeta Celso Borges participou de diversas edições de RicoChoro ComVida na Praça e será homenageado no Chorinhos e Chorões deste domingo (30). Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
No palco ou na plateia, o poeta Celso Borges participou de diversas edições de RicoChoro ComVida na Praça e será homenageado no Chorinhos e Chorões deste domingo (30). Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação

Na última quinta-feira (27) a Rádio Timbira estreou uma nova programação, com vistas à migração para FM, que acontecerá este ano. Programas como o “Fala, Mermã”, sobre o universo feminino, apresentado por Letycia Oliveira (de segunda a sexta, às 17h), e o “Radiola Timbira”, por este que vos escreve (aos domingos, ao meio-dia), passam a compor o novo quadro. O Balaio Cultural, que produzo e apresento com Gisa Franco (sábados, das 13h às 15h), está mantido.

Outras novidades dominicais são o “Alvorada” (das 7h às 9h), com Vanessa Serra, e o Chorinhos e Chorões (das 9h às 10h), com Ricarte Almeida Santos, que permanece na Universidade FM, sua casa original, há 36 anos no ar, e passa a ser veiculado em cadeia com a Timbira.

Para a edição de estreia, Ricarte receberá o Quarteto Crivador, em uma roda de choro ao vivo. O grupo é formado por Tiago Fernandes (violão sete cordas), Wendell de la Salles (bandolim), Rui Mário (sanfona) e Marquinhos Carcará (percussão).

A roda de choro será transmitida ao vivo, a partir do estúdio Lauro Leite, da Rádio Timbira, na Rua da Montanha Russa, 75, Centro. “A ideia é de festa mesmo, de marcar este novo momento, tanto da Timbira, quanto do Chorinhos e Chorões. A veiculação em cadeia com a Universidade vem somar, estamos muito felizes com a oportunidade, em um domingo recheado de boas companhias, começando cedo com Vanessa Serra, passando pelo decano Frank Matos, com o Timbira Espetacular, até chegar ao Radiola Timbira, contigo, a Timbira terá a trilha ideal para todo tipo de ouvinte: o que vai à praia, o que aproveita para fazer uma faxina ou lavar o carro, o que prepara o almoço, e é motivo de grande honra fazer parte desta trilha, deste cardápio”, declarou Ricarte Almeida Santos a Homem de Vícios Antigos.

Além do Quarteto Crivador, o Chorinhos e Chorões deste domingo (30), quando estreia na Rádio Timbira, receberá também o cantor Cláudio Lima, para uma homenagem ao poeta e jornalista Celso Borges (1959-2023), falecido no último domingo (23), Dia Nacional do Choro. Não por acaso, Cláudio Lima foi convidado do sarau RicoChoro ComVida na Praça, realizado no Largo da Igreja do Desterro, Centro Histórico da capital maranhense, por ocasião do lançamento de “Lembranças, Lenços, Lances de Agora: Memórias e Sons da Cidade na Voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022), de Celso Borges, obra em que ele se debruçou sobre os bastidores da gravação do antológico elepê “Lances de Agora” (1978), de Chico Maranhão, produzido por Marcus Pereira, gravado na sacristia da secular Igreja do Desterro.

Timbira e Universidade, que já possuíam uma “parceria campeã” – como reza o slogan das transmissões em cadeia – no esporte e eventualmente na transmissão de grandes eventos, como as festas juninas, ampliam a tabelinha. Pelo visto, o Chorinhos e Chorões aprofunda essa parceria já fazendo história desde o início.

Lances eternos

O ótimo público presente ao Largo da Igreja do Desterro, sábado passado (27). Foto: Rivânio Almeida Santos

Certas coisas, de tão mágicas, não têm explicação. “As retas mais curvas que o mundo tem” parecem convergir em uma só direção. O sarau de encerramento da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça, idealizado e coordenado por Ricarte Almeida Santos, é um destes acontecimentos. A coincidência geográfica e temporal, para celebrar um disco atemporal: a comunidade do Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, celebrava Nossa Senhora do Desterro e a procissão chegou em meio aos paralelepípedos quando o dj Jorge Choairy já preparava o terreno – modo de dizer, que a agricultura de seu set list já colhia os frutos plantados desde algum tempo –, numa convergência saudável e respeitosa entre o sacro e o profano. Exatamente como aconteceu há 44 anos, quando Chico Maranhão e o Regional Tira-Teima, a convite da gravadora Discos Marcus Pereira, ocuparam a sacristia da Igreja do Desterro para registrar o antológico elepê “Lances de agora”, de cuja “Ponto de fuga” pinço as aspas com que quase abro este texto.

O lance de agora era a homenagem que o cantor Cláudio Lima prestaria a Chico Maranhão, compositor que chegou aos 80 anos neste agosto, cantando quase a íntegra do citado disco e duas pérolas de outros momentos da carreira de Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho, nome de pia do homenageado: “Rapaziada, o tempo mudou” e “Diverdade”. “Eu sei que você fica preso no ar quando eu canto”, diz a letra desta última, metáfora possível para a apresentação do cantor.

Acompanhado do Quarteto Crivador, Cláudio Lima era pura entrega no palco. Brincava, mas trabalhando sério, como é de seu feitio, com a própria voz e com a obra de Chico Maranhão. Prendia a atenção do público presente, devotos da boa música tal qual os admiradores das obras de Chico Maranhão, de Cláudio Lima e de choro em geral.

Cantar como quem reza: o sublime encontro de Cláudio Lima e Dicy, reverenciando Chico Maranhão. Foto: Rivânio Almeida Santos

O nome do grupo anfitrião, tomado emprestado de um dos três tambores da parelha de tambor de crioula, parecia também remeter a outra fase da carreira de Chico Maranhão, quando ele comandou a Turma do Chiquinho, registrado em sua “Ópera Boi – O sonho de Catirina”, de meados da década de 1990. Rui Mário (sanfona e direção musical), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Marquinhos Carcará (percussão) e Wendell de la Salles (bandolim) – que se lamentou quando em meio à apresentação inicial do grupo, arrebentou uma corda de seu instrumento, o que nem de longe tirou o brilho do espetáculo – trajaram de personalidade tanto o repertório instrumental do primeiro bloco de sua apresentação, quanto o acompanhamento luxuoso que prestaram a Cláudio Lima e sua convidada especial, a cantora Dicy – que cantou sozinha “Ponta d’areia” e dividiu com ele os vocais em “Vassourinha meaçaba”.

Em respeito às tradições e à religiosidade do local, a passagem de som atrasou. Mas até isso parecia contribuir para o brilho da noite: quem chegou no horário, acabou ouvindo Cláudio Lima cantar “Meu samba choro”, entrada de um delicioso cardápio musical. O público aplaudiu, antes mesmo de o show começar. Era o coroamento de uma ideia que começou há algum tempo: Cláudio Lima, o mesmo cantor e compositor que estava ali, no palco, é designer de formação e assina a capa e o tratamento de imagens do livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022), que o poeta e jornalista Celso Borges autografou na mesma ocasião. Foi a partir da pesquisa que o multi-artista mergulhou de cabeça no universo do filho de dona Camélia. O resto é história que ficará na memória dos presentes.

Em meio a tudo isso, ainda teve o poeta Fernando Abreu, brindando a plateia com um poema (“Ladainha”, que cita Allen Ginsberg e Chico Maranhão e suas lágrimas com novos poemas e canções) de seu novo livro, “Esses são os dias” (7Letras, 2022), que terá lançamento muito em breve.

Para não dizerem que não aponto defeitos: a temporada foi curta e só retorna às praças da ilha ano que vem.

“Comida, diversão e arte”

[release]

RicoChoro ComVida na Praça terá três edições presenciais em agosto; projeto estabeleceu parceria com a Ação da Cidadania na campanha “Pacto pelos 15% com fome”

Chorinho (1942). Candido Portinari. Reprodução

15% da população brasileira não têm o que comer atualmente, no maior retrocesso da história do país. É pensando nestes mais de 33 milhões de brasileiros que a Ação da Cidadania lançou, no último dia 15 de julho, a campanha “Pacto pelos 15% com fome”, que visa “promover uma grande aliança entre entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores, para atuarem na linha de frente no combate à fome e às desigualdades sociais”. O objetivo é “viabilizar doações diretamente para as instituições do Pacto e cadastrar voluntários na luta contra a insegurança alimentar”.

No Maranhão, a primeira iniciativa a abraçar a causa é o projeto RicoChoro ComVida na Praça, que terá três edições presenciais em agosto: dias 6, 20 e 27, nas praças do Letrado (Vinhais), Nossa Senhora de Nazaré (Cohatrac) e Largo da Igreja do Desterro, respectivamente, sempre às 19h. Os eventos são gratuitos e abertos ao público.

“Este evento sempre prezou pelo diálogo e pela diversidade, além do afeto. Palco e plateia em comunhão no exercício de fazer e fruir boa música, alimento para a alma. Agora, diante da tragédia social brasileira, irmanamo-nos a esta importante iniciativa da Ação da Cidadania, sempre lembrando o início de tudo, com os ideais do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. É colocar em prática a máxima dos Titãs: “a gente quer comida, diversão e arte”, aproveitando ainda para agradecer à sensibilidade do deputado Bira do Pindaré, pelo apoio ao projeto, e à Prefeitura de São Luís, através da Secretaria Municipal de Cultura, fundamental para viabilizá-lo”, comenta o sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos, idealizador e coordenador de RicoChoro ComVida na Praça.

No primeiro sarau, as atrações são a dj Josy Dominici, o Regional Caçoeira e os cantores Vinaa e Djalma Chaves; depois é a vez do dj Marcos Vinícius, Instrumental Tangará, a cantora Bia Mar e o cantor Carlinhos da Cuíca; e na última edição desta temporada, o sarau terá como atrações o dj Jorge Choairy, o Quarteto Crivador e o cantor Cláudio Lima, com a participação especial da cantora Dicy.

RicoChoro ComVida na Praça é uma produção de RicoChoro Produções Culturais e Girassol Produções Artísticas. O evento garante acessibilidade cultural para pessoas com deficiência, com assentos prioritários, banheiros acessíveis, audiodescrição e tradução simultânea em libras, a língua brasileira de sinais.

Choro em dose dupla, nesta sexta e sábado

[release]

Saraus online do projeto RicoChoro ComVida estreiam dias 29 e 30, às 18h, com os grupos Deu Branco e Tangará, e os cantores Totti Moreira, Rosa Reis, Nivaldo Santos e Zeca do Cavaco

O encontro de gêneros e gerações de Totti Moreira, Rosa Reis e Regional Deu Branco. Foto: Zeqroz Neto. Divulgação
Choro, samba e Maranhão: diálogo e reverência no encontro de Zeca do Cavaco, Nivaldo Santos e Grupo Tangará. Foto: Zeqroz Neto. Divulgação

Enquanto aguarda o fim do período chuvoso na ilha capital, a produção dos saraus RicoChoro ComVida segue trabalhando. Ano passado realizou três concorridas edições presenciais do sarau, na bela paisagem que é o jardim do Museu Histórico e Artístico do Maranhão (Rua do Sol, 302, Centro). Ainda ano passado também realizou a gravação de dois saraus online, com patrocínio da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, através da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma). Os saraus foram gravados no estúdio ProAudio, sem plateia – eventuais aplausos ouvidos na gravação são da própria equipe técnica dos espetáculos –, e a captação de imagens foi feita pelo cineasta Paulo do Vale e equipe.

Estes dois saraus vão ao ar dias 29 e 30 de abril, respectivamente, sempre às 18h, no canal do youtube da RicoChoro Produções Culturais, que realiza o evento. “É um evento online, gravado ainda num momento de instabilidade da pandemia, que chegou a permitir que realizássemos saraus presenciais, com todos os cuidados, mas que voltou à carga, depois, fazendo com que tornássemos a nos recolher. No entanto, preserva o autêntico clima de uma roda de choro. A gente optou inclusive por não retocar o áudio das gravações, mantendo certo clima um clima de autenticidade, apesar de eventuais imperfeições”, anuncia o produtor Ricarte Almeida Santos.

No primeiro sarau, as atrações são o Regional Deu Branco, que tem como convidados o cantor e compositor Totti Moreira e a cantora Rosa Reis. O Deu Branco é formado por Paulo Araújo (violão sete cordas), Jamil Cartágenes (cavaquinho), Valdico Monteiro (pandeiro), Erivan Nélio (flauta) e Cleiton Groove (trombone).

O repertório do grupo passeou por clássicos do choro, de autores como Tom Jobim (“Só danço samba”), Joaquim Callado (“Flor amorosa”) e Raul de Barros (“Na Glória”), além dos maranhenses Catulo da Paixão Cearense (“Ontem ao luar”), Antonio Vieira (“Tem quem queira”), Osmar do Trombone (“Saudades de Tororoma”), Nuna Gomes (“Um sorriso”), além de Didã (“Banca de honestidade”).

Seu primeiro convidado, o cantor e compositor Totti Moreira, um dos destaques da nova geração da música popular brasileira produzida no Maranhão, revelou a “alegria em estar no projeto e poder colocar sua música em diálogo com o choro, uma escola que só somou em sua produção autoral”.

De sua autoria, em seu repertório, destaques para a autobiográfica “Passe gol”, que lembra as peladas de rua disputadas na infância, “Golpe na tristeza”, com clara influência da bossa nova, e “Minha viola”.

Rosa Reis afirmou que “o samba já vem enraizado desde quando eu fazia o show “Fuzarca” [com Fátima Passarinho, Inácio Pinheiro, Cláudio Pinheiro e Roberto Brandão], onde eu tive a oportunidade de conhecer vários compositores do samba tradicional, como Cristóvão [Alô Brasil] e Patativa”. Para citar outro exemplo de sua intimidade com o samba, a cantora foi a primeira a gravar “Nós” (Tião Carvalho), antes do sucesso nacional de Cássia Eller.

Seu repertório privilegiou o samba e o choro maranhenses, em interpretações de “Meu samba choro” (Chico Maranhão), “Cachaça apanhou” (Antonio Vieira/ Lopes Bogéa) e “Santo guerreiro” (Patativa), com participação especial de Totti. A exceção foi “Fadas” (Luiz Melodia)

Segundo sarau – Com seu nome de pássaro, o Grupo Tangará sobrevoou com elegância um repertório impecável, formado por clássicos como “Receita de samba” (Jacob do Bandolim), “Sonoroso” (K-Ximbinho/ Del Loro), “Doce de coco” (Jacob do Bandolim) e “Carioquinha” (Waldir Azevedo), coisa para chorão nenhum botar defeito.

O Tangará é formado por Vitor Santana (bandolim), Suellen Almeida (flauta), Valdico Monteiro (pandeiro), Gustavo Belan (cavaquinho) e Tiago Fernandes (violão sete cordas). O grupo teve como convidados dois nomes de destaque no universo do samba e do choro do Maranhão: o sambista Nivaldo Santos e o cantor Zeca do Cavaco, cuja habilidade no instrumento lhe empresta o sobrenome artístico, embora ele tenha apenas cantado em sua apresentação.

“Já nascemos musicais, nascer nesse estado tão rico de cultura, eu vim de uma família festeira, meu pai, vivo até hoje, graças a Deus, nos ensinou o gosto pela boa música e sempre influenciou a gente. A gente começou a participar de encontros, rodas de samba, festas de família, a gente foi se identificando e gostando e aí surgiu o sambista Nivaldo Santos”, comentou o primeiro convidado sobre seu fazer do samba uma profissão de fé.

Seu repertório foi de Chico Maranhão (“Ponto de fuga”) a Ismael Silva (“Se você jurar”), passando por Sérgio Habibe (“Ponteira”) a Pixinguinha (“Yaô”) e Joãozinho Ribeiro (“Asas da paixão”). Nivaldo cantou ainda “Banca de honestidade” (Didã), executada em versão instrumental no primeiro sarau – em comum, os grupos têm também o pandeirista.

Depois era a vez de Zeca do Cavaco, não raramente apontado como uma das mais belas vozes da música popular produzida no Maranhão, com atenção especial ao choro e ao samba, filiado às escolas de Paulinho da Viola, Geraldo Pereira e Cesar Teixeira, para citar apenas uma trinca de sua predileção.

“Estou muito feliz em estar participando desse evento, desse movimento, e o prazer é maior ainda em ser acompanhado por este grupo Tangará, que eu já tive o prazer de conhecer, mas ainda não havia tido o prazer de cantar junto”, afirmou. “Eu tive a honra de conviver com alguns baluartes do samba e do choro, como Zé Hemetério, Gordo Elinaldo, toquei muito tempo e cantei também no Regional Tira-Teima, e depois me descobri intérprete, e comecei a caminhar por essa via da música”, revelou a sua filiação ao samba e ao choro.

Prestigiou repertório genuinamente maranhense e atacou de “Saiba, rapaz” (Joãozinho Ribeiro), “Mestre Orfila” (Cristóvão Alô Brasil), “Coração na voz” (Nosly/ Gerude/ Nonato Buzar), “Terra de Noel” (Josias Sobrinho), “Velho negro destemido” (Ricarte Almeida Santos/ Joãozinho Ribeiro) – homenagem a Nelson Sargento (1924-2021), sambista falecido aos 96 anos, por complicações da covid-19 – e “Cajueiro velho” (João Carlos Nazaré). Para fechar com chave de ouro, duetou com Nivaldo Santos na inédita “Sapo já foi na lua” (Cesar Teixeira).

O par de saraus que será disponibilizado nesta sexta (29) e sábado (30) se configura em um importante documento sonoro, ao realizar em sua feitura alguns dos propósitos do projeto RicoChoro ComVida, seja em formato presencial, seja em formato virtual: o encontro de gêneros e gerações, o diálogo do choro com outros ritmos da rica e diversa música popular brasileira, com especial destaque à produção maranhense, além da formação de plateia.

Ative os lembretes e não perca as estreias.

Serviço: saraus online RicoChoro ComVida. Dias 29 e 30 de abril, às 18h, no canal do youtube RicoChoro Produções Culturais (cliquem nos vídeos acima para ativar lembretes). Com Regional Deu Branco, Totti Moreira, Rosa Reis, Grupo Tangará, Nivaldo Santos e Zeca do Cavaco.

Divulgação
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Espetáculo online relembra grandeza da era de ouro do rádio

[release]

O cantor Almeida Marcus. Foto: Almir Praseres. Divulgação

O espetáculo online “A era do rádio”, do cantor Almeida Marcus, é um primor. Tudo foi pensado de modo a garantir aos amantes de um repertório consolidado no inconsciente coletivo uma espécie de viagem no tempo – mas engana-se quem pensa que o show virtual vai agradar apenas a saudosistas. É também uma tentativa de aprofundar o interesse das novas gerações por gêneros como bolero, samba-canção, valsa, choro, fox etc.

Já na abertura a voz do produtor e mestre de cerimônias Ricarte Almeida Santos soa com um efeito para parecer envelhecida, como se gravada há décadas num acetato. Figurino e cenário (de Rivânio Almeida Santos) também colaboram para que o espectador se sinta em casa – como em casa se sentiam os frequentadores de bares e boates onde esse repertório era incansavelmente praticado ali pelos arredores do surgimento da bossa nova.

São duas horas de espetáculo, conduzido com maestria por Almeida Marcus, cuja intimidade com o repertório vem de berço: com sua avó Bibi, que o criou, o cantor aprendeu a gostar da sonoridade do período que empresta o título ao show, as décadas de 1940 a 60.

A dj Vanessa Serra abre “A era do rádio” criando a ambiência necessária para Almeida Marcus adentrar o estúdio ProAudio, onde o show foi gravado (direção e fotografia de Paulo do Vale). Ela desfila seu repertório a partir de sua coleção de vinis, com a habitual desenvoltura e gingado, um convite à dança, entre números instrumentais e pérolas do repertório de Nelson Gonçalves e Altemar Dutra.

O Conjunto Era de Ouro faz jus ao nome. Almeida Marcus escalou um timaço de feras para acompanhá-lo: Rui Mário (sanfona, teclados e direção musical), Daniel Cavalcanti (trompete), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Cleuton Silva (contrabaixo), Fleming (bateria) e Marquinho Carcará (percussão).

Almeida Marcus não se prende ao óbvio: vai de Besame mucho (Consuelo Velasquez) e Quizás, quizás, quizás (Oswaldo Farrés) a Entre espumas (Roberto Müller), A volta do boêmio (Adelino Moreira) e Caminhemos (Herivelto Martins), as duas últimas hits do repertório de Nelson Gonçalves.

A cantora Célia Maria. Foto: Almir Praseres. Divulgação

Reconhecida como uma das mais belas vozes da música popular brasileira produzida no Maranhão, Célia Maria fez praticamente um show dentro do show. Uma participação digna do adjetivo especial, um desfile de pérolas: Hino ao amor (Edith Piaf/ Marguerite Monnot. Versão: Odair Marsano), Atiraste uma pedra (David Nasser/ Herivelto Martins), Alguém me disse (Jair Amorim/ Evaldo Gouveia), Manhã de carnaval (Luiz Bonfá/ Antonio Maria) e Carinhoso (Pixinguinha/ João de Barro), cantada em dueto com o anfitrião.

Antes e depois da diva, Vanessa ainda pilotou suas pick-ups, transpondo o limite da era de ouro, ao lembrar clássicos como Fitipaldiando (Oberdan Oliveira), sucesso de Nonato e Seu Conjunto, e A raposa e as uvas (Reginaldo Rossi).

Almeida Marcus está ansioso por retornar aos palcos. Enquanto isto não é possível, caprichou: não há nada fora do lugar em “A era do rádio”. Antes de encerrar o cantor desfilou ainda sucessos como Nada além (Custódio Mesquita/ Mário Lago), Anos dourados (Tom Jobim/ Chico Buarque), Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues) e Perfídia (Alberto Dominguez. Versão: Lamartine Babo), clássico absoluto em qualquer seresta que se preze.

“A era do rádio” tem patrocínio da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, cujos recursos no Maranhão são administrados pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma). O vídeo será disponibilizado hoje (15), às 18h, no canal RicoChoro ComVida no youtube.

Saraus online de RicoChoro ComVida já têm data

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Ano passado o público não pode fazer o que estava acostumado ao longo do segundo semestre: ir para as praças de São Luís prestigiar o projeto RicoChoro ComVida na Praça, já consolidado no calendário cultural ludovicense, que há quatro temporadas estimula o diálogo entre o Choro e a riqueza da música popular brasileira, passando, obviamente, pela diversidade da cultura popular do Maranhão.

A RicoChoro Produções Culturais, no entanto, gravou três saraus em formato online. As gravações aconteceram nos estúdios da TV Guará, em formato talk show, com edições apresentadas por Ricarte Almeida Santos.

Passaram pelo palco os grupos Quarteto Crivador, Regional Caçoeira e Choro da Tralha, e os cantores Anastácia Lia, Dicy, Elizeu Cardoso, Josias Sobrinho, Neto Peperi e Regiane Araújo.

Serviço – A transmissão dos saraus pela TV Guará (canal 23.1 na tevê aberta; 21 na TVN; 323 na Sky HD; e 23 na Net) acontecerá dias 5 (às 22h30), 6 (às 18h) e 7 de fevereiro (também às 18h).

Veja a seguir uma pequena amostra do que vem por aí: Regiane Araújo, acompanhada do Regional Caçoeira, interpreta o clássico “Naquela mesa”, que Sérgio Bittencourt compôs em homenagem a seu pai, o revolucionário Jacob do Bandolim (aproveite e se inscreva no canal RicoChoro Produções Culturais no youtube para não perder as novidades):

Das praças às telas: RicoChoro ComVida terá três edições virtuais em 2020

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Apresentações musicais ocorrerão em formato talk show; diálogo de grupos de choro com artistas de vertentes distintas da música popular está mantido nas lives do projeto

O Quarteto Crivador. Da esquerda para a direita: Marquinho Carcará, Rui Mário, Wendell de la Salles e Luiz Jr. Maranhão. Foto: divulgação

Num ano atípico como 2020, o público de São Luís foi privado ao que já estava acostumado no segundo semestre: os tradicionais saraus do projeto RicoChoro ComVida na Praça, que percorrem diversos logradouros públicos da capital maranhense.

Mas os chorões e choronas apreciadores da iniciativa, além de curiosos em geral, não ficarão órfãos: RicoChoro ComVida na Praça terá edições em formato online, uma espécie de live talk show, com apresentação de Ricarte Almeida Santos e produção de Girassol Produções Artísticas, realizadas com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, administrados pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma).

RicoChoro ComVida, portanto, este ano não será na praça, mas online: três saraus manterão a proposta do projeto, de estimular o diálogo entre o choro e outras vertentes da música popular brasileira, através do encontro de um grupo de choro e cantores e cantoras, de gêneros e gerações distintas.

As lives serão gravadas nos estúdios da TV Guará e ainda não têm data para ir ao ar. No formato de talk show, Ricarte Almeida Santos conversará com os grupos e artistas convidados, numa espécie de entrevista musicada, bastante dinâmica.

Na primeira live, o Quarteto Crivador – formado por Marquinho Carcará (percuteria), Luiz Jr. Maranhão (violão sete cordas), Rui Mário (sanfona) e Wendell de la Salles (bandolim) – recebe como convidados Dicy e Josias Sobrinho; na segunda, é a vez do Regional Caçoeira – Tiago Fernandes (violão sete cordas), Wendell Cosme (cavaquinho e bandolim), Lee Fan (flauta e saxofone), e Wanderson Silva (percussão) – dialogar musicalmente com Elizeu Cardoso e Regiane Araújo; e por último, Anastácia Lia e Neto Peperi serão recebidos pelo Choro da Tralha, formado por João Eudes (violão sete cordas), João Neto (flauta), Gabriela Flor (pandeiro) e Gustavo Belan (cavaquinho).

Os grupos – O Quarteto Crivador, que leva o nome de um dos tambores da parelha do tambor de crioula, e o Caçoeira, nome de um instrumento de pesca, têm em seu DNA musical a mescla do choro com gêneros da cultura popular do Maranhão. O Choro da Tralha formou-se para tocar no sebo e botequim homônimo, recentemente fechado, temporariamente, em razão da pandemia. Apresentava-se aos domingos, mas acabou conquistando outros palcos. Sua sonoridade e formação remetem aos primeiros regionais surgidos no Brasil.

Os convidados – Homens e mulheres de gerações distintas e enorme talento, conheça um pouco do perfil dos artistas convidados das lives de RicoChoro ComVida em 2020.

Dicy iniciou sua trajetória musical cantando na igreja, na infância. Integrou o trio vocal Flor de Cactus, que acompanhou Wilson Zara na noite imperatrizense. Artista engajada, tem um disco solo gravado, “Rosa semba”.

Josias Sobrinho é um dos grandes mestres da música popular brasileira produzida no Maranhão. Figurou no repertório do antológico “Bandeira de aço” (Discos Marcus Pereira, 1978), lançado por Papete, considerado um divisor de águas da música produzida por aqui.

Elizeu Cardoso é um artista plural: professor de geografia, escritor, locutor e programador de uma webrádio, o cantor e compositor é dos artistas que melhor faz a ponte entre a música popular produzida no Maranhão e as raízes ancestrais africanas.

Regiane Araújo tem formação em Ciências Sociais e é uma artista que dá voz a denúncias sociais. Participou do Festival BR-135 e recentemente foi selecionada pelo Conecta Música para a produção de um videoclipe. O videoclipe de sua música “Tirem as cercas” é sucesso de público e crítica.

Anastácia Lia é um dos grandes talentos de sua geração, transitando com desenvoltura por diversas vertentes musicais. Nasceu em berço musical, sendo descendente de fundadores da Turma do Quinto. Atualmente é intérprete da Favela do Samba e uma das organizadoras do anual Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba. Artista engajada, tem na música um instrumento de combate ao racismo e outras formas de discriminação.

Neto Peperi é ex-vocalista e cavaquinhista do grupo Espinha de Bacalhau, lendário nas noites de São Luís. Cantor e compositor inspirado é um dos mais talentosos representantes do gênero que por aqui consagrou nomes como Cristóvão Alô Brasil, Cesar Teixeira e Zé Pivó, entre outros que costuma incluir em seu repertório.

Dissecando Joãozinho

Ricarte Almeida Santos, Joãozinho Ribeiro e o blogueiro, em alguma edição do Clube do Choro Recebe. Autor desconhecido.

Daqui a pouco, às 16h, participo do “Café com Direitos Humanos – Lives em tempos de pandemia”, atividade semanal que a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) inventou para não deixar cair a peteca dos debates acerca do tema, diante da impossibilidade dos encontros presenciais, em razão do isolamento imposto pela crise sanitária causada pela covid-19.

O tema de hoje é “Cultura e resistência: obra e arte de Joãozinho Ribeiro” e além daquele cujo engenho criativo será dissecado na cerca de hora e meia de programação, estará comigo o sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos; ou seja, estou em casa, em vários aspectos: numa live realizada por uma entidade que assessorei e presidi, ao lado de dois amigos de copo e de cruz.

Vida, obra e militância em Joãozinho Ribeiro são praticamente uma coisa só: poeta, compositor, gestor cultural e funcionário público aposentado, seu livro (Paisagem feita de tempo, de 2006, há tempos merecendo uma reedição), seu disco (Milhões de uns – vol. 1, de 2013, há tempos merecendo um segundo volume) e seus poemas e canções (registradas por inúmeras vozes ao longo destes mais de 40 anos de carreira) não raro trazem preocupações e questionamentos políticos e sociais, embora, obviamente, não se limite a estes temas.

A foto que abre-ilustra este post, cuja autoria me foge à memória, é de alguma edição do saudoso Clube do Choro Recebe, que Ricarte Almeida Santos produziu entre 2007 e 2010 no Restaurante Chico Canhoto, de saudosa memória, projeto que assessorei, continuando trajetória iniciada justamente com Joãozinho Ribeiro: meu primeiro trabalho remunerado, como assessor de comunicação, foi justamente seu projeto Samba da Minha Terra (2002-3), que levou o samba e o choro – talvez os “departamentos” mais inspirados de sua música – a diversas comunidades da ilha, com vários convidados especiais a cada edição. Merecidamente vencedor de diversas categorias do também saudoso Prêmio Universidade FM.

Por falar em convidados especiais, arremato com um deles: certo dia, ao fim do expediente, encontrei-o na banca de revistas de Dácio, no estacionamento da Praia Grande. Paisagem feita de tempo, então recém-lançado e ainda encontrável nas melhores casas do ramo, figurava nas prateleiras. O compositor Antonio Vieira, referendando a qualidade da obra poética de Joãozinho, abriu o livro numa página, recitou uma quadra – “Debaixo da ponte há um mundo/ feito de gente esquecida/ crianças sonhando infâncias/ infâncias queixando a vida” – e arrematou: “é poeta!”.

A transmissão da live acontece pela página da SMDH no facebook. Até lá!

Serviço:

Divulgação

RicoChoro ComVida na Praça estreia nova temporada com choro e guitarrada

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Mestre Solano é o convidado da primeira edição do projeto este ano; apresentações acontecem até novembro em diversas praças de São Luís

A estreia da quarta temporada de RicoChoro ComVida na Praça acontecerá dia 20 de julho (sábado), às 19h, na Praça da Fé (Casa do Maranhão, Praia Grande). O projeto, idealizado e produzido por Ricarte Almeida Santos, segue firme no propósito de estimular o encontro entre diversas linguagens musicais brasileiras, entre o instrumental e o cantado. Este ano abre espaço também para a poesia.

O projeto é uma realização de Eurica Produções, Girassol Produções Artísticas e RicoChoro Produções Culturais, com patrocínio de TVN, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão. Em 2019 RicoChoro ComVida na Praça terá cinco edições e acontece até novembro. Toda a programação (veja completa ao fim do post) é gratuita.

Outra novidade nesta temporada de RicoChoro ComVida na Praça é a parceria com a Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo. Às vésperas das apresentações de convidados nacionais, haverá rodas de conversa com os artistas, que serão realizadas nas dependências da Emem. “Para nós é uma alegria estabelecer essa parceria. A Emem é um símbolo de qualidade na formação sólida de diversos talentos nossos. Por exemplo, os integrantes do Caçoeira, todos foram alunos da Escola de Música”, celebra Ricarte.

Em caricatura de Nuna Neto, o homenageado da temporada, o compositor Joãozinho Ribeiro
Em caricatura de Nuna Neto, o homenageado da temporada, o compositor Joãozinho Ribeiro

Ano Joãozinho – A partir deste ano, RicoChoro ComVida na Praça passa também a homenagear uma personalidade do Choro no Maranhão. Em 2019 o escolhido é o poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, que celebra 40 anos de carreira. Samba e choro são dois gêneros de destaque no repertório do artista, que, nos moldes do projeto, percorreu diversas comunidades da ilha de São Luís entre os anos de 2002 e 2003 com o projeto “Samba da Minha Terra”.

O requisitado e talentoso DJ Franklin. Foto: divulgação
O requisitado e talentoso DJ Franklin. Foto: divulgação

O mímico Gilson César inaugurará as performances poéticas na temporada. Foto: divulgação
O mímico Gilson César inaugurará as performances poéticas na temporada. Foto: divulgação

A primeira edição terá como convidados o DJ Franklin, desde sempre um dos mais requisitados da Ilha, e performance poética com o mímico Gilson César. “Eles ajudam a criar uma ambiência, um clima, mas são parte do espetáculo. Queremos que as pessoas curtam música, poesia, num exercício de vivência comum, ocupando espaços públicos, dando nossa modesta contribuição para os esforços de revitalização da cidade que têm sido anunciados”, comenta Ricarte.

O Regional Caçoeira: rede de pescar ritmos. Foto: divulgação
O Regional Caçoeira: rede de pescar ritmos. Foto: divulgação

O grupo anfitrião da noite será o Regional Caçoeira, formado por João Eudes (violão sete cordas), Lee Fan (flauta e saxofone), Wanderson Silva (percussão) e Wendell Cosme (bandolim e cavaquinho), jovens virtuoses que há algum tempo ganharam notoriedade na cena musical da cidade, figuras fáceis em fichas técnicas de shows e discos de diversos artistas maranhenses.

A rede de pesca que empresta nome ao grupo alude ao passeio por diversos gêneros que o quarteto faz a cada apresentação, sobretudo mesclando o Choro a ritmos da cultura popular do Maranhão. Um balanço – para novamente lembrar do mar, do Maranhão – inigualável.

Mestre Solano, o rei da guitarrada, com mais de 60 anos de carreira. Foto: divulgação
Mestre Solano, o rei da guitarrada, com mais de 60 anos de carreira. Foto: divulgação

Choro e guitarrada – O grande convidado do sarau de estreia é Mestre Solano, o rei da guitarrada, direto do Pará. Ele lançou em setembro passado o cd “As guitarradas de um mestre”, em que, além do gênero que lhe dá título, passeia por cumbia, merengue, calipso, carimbó e bolero, entre outros. Aos 63 anos de carreira, com 17 álbuns lançados, o artista promete uma noite dançante.

“Americana” (Frank Carlos), também já gravada por nomes como Alípio Martins e Arnaldo Antunes, é seu maior hit, gravado por ele na década de 1980, na formação Solano e Seu Conjunto, e regravado no novo disco.

Mestre Solano nasceu em Abaetetuba – “terra morena de garotas de valor”, como canta o conterrâneo Pinduca –, onde ainda na infância começou a “arranhar” um banjo. Depois mudou-se para a capital Belém, onde ingressou no Corpo de Bombeiros, tendo sido músico da corporação militar.

Acessibilidade — Todas as edições de RicoChoro ComVida na Praça garantem a presença confortável de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. O projeto garante banheiros acessíveis, assentos preferenciais com sinalização, audiodescrição e tradução simultânea em libras.

Serviço

Sarau

O quê: estreia da temporada 2019 de RicoChoro ComVida na Praça
Quando: dia 20 de julho (sábado), às 19h
Onde: Praça da Fé (Casa do Maranhão, Praia Grande)
Quem: Gilson César, DJ Franklin, Regional Caçoeira e Mestre Solano (Pará)
Quanto: grátis
Patrocínio: TVN, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão
Realização: Eurica Produções, Girassol Produções Artísticas e RicoChoro Produções Culturais

Roda de conversa

O quê: Roda de conversa
Quando: dia 19 de julho (sexta-feira), às 16h
Onde: Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo (Rua da Estrela, 363, Praia Grande)
Quem: Mestre Solano e Ricarte Almeida Santos
Quanto: grátis
Patrocínio: TVN, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão
Realização: Eurica Produções, Girassol Produções Artísticas e RicoChoro Produções Culturais

Programação completa (sempre às 19h)

20 de julho

Local: Praça da Fé (Casa do Maranhão, Praia Grande)
Grupo anfitrião: Regional Caçoeira
Artista convidado: Mestre Solano (Pará)
Dj: Franklin
Poesia: Gilson César

24 de agosto

Local: Praça do Letrado (Vinhais)
Grupo anfitrião: Mano’s Trio
Artista convidado: Chiquinho França
Dj: Pedro Dread Lock
Poesia: Mano Magrão

21 de setembro

Local: Praça Carlos de Lima (Lagoa da Jansen)
Grupo anfitrião: Quarteto Buriti
Artistas convidados: Paulão e Mila Camões
Dj: Victor Hugo
Poesia: Áurea Maria

19 de outubro

Local: Largo da Igreja do Desterro
Grupo anfitrião: Trítono Trio
Artistas convidados: Cláudio Lima e Célia Maria
Dj: Vanessa Serra
Poesia: Rosa Ewerton

9 de novembro

Local: Praça Gonçalves Dias (Centro)
Grupo anfitrião: Quarteto Crivador
Artista convidado: Messias Britto (Bahia)
Participação especial: Joãozinho Ribeiro (homenageado da temporada)
Dj: Joaquim Zion
Poesia: Celso Borges

Gildomar Marinho faz duas apresentações em São Luís

Cantor e compositor se apresenta hoje (9) no Talkin’ Blues (Cohajap) e sexta (11) no Buriteco Café (Praia Grande)

 

Gildomar Marinho e Luiz Cláudio durante ensaio. Foto: Otávio Costa/ A discoteca do veterinário

 

Maranhense radicado em Fortaleza/CE, Gildomar Marinho aproveita uma passagem pela ilha para fazer duas apresentações, reencontrando-se com o público conterrâneo. Com três discos lançados – Olho de boi (2009), Pedra de cantaria (2010) e Tocantes (2013) – o artista tem outros dois gravados, desde 2015, e ainda não lançados: Porta sentidos e Mar do Gil. “Vendi um carro para fazê-los”, revelou-me, bem humorado, numa conversa ainda àquele ano.

Gildomar Marinho (voz e violão) será acompanhado pelo percussionista Luiz Cláudio. O repertório passeará pela obra autoral de Gildomar Marinho, de temas assinados solitariamente a parcerias com nomes como os poetas Ely Cruz e Samara Volpony (dela ele musicou Contramaré, que dá título ao livro de estreia da arariense), o radialista Ricarte Almeida Santos e o jornalista Zema Ribeiro (que tem parcerias gravadas nos cinco discos de Gildomar). Ele também deve revisitar nomes como Erasmo Dibell (de quem gravou Navegante em Tocantes) e figuras da mpb como Belchior, Carlinhos Brown, Gilberto Gil e Noel Rosa.

“Serão apresentações descontraídas, em clima de confraternização”, promete. Hoje (9), às 21h, no Talkin’ Blues (Rua Auxiliar II, quadra 9, nº. 16, Cohajap), ele sobe ao palco às 21h, e terá como convidados Tutuca e Elizeu Cardoso; na sexta-feira (11), às 20h, no Buriteco Café (Rua Portugal, 188, Praia Grande), Gildomar terá como convidados, além de Tutuca e Elizeu Cardoso, Marconi Rezende, Chico Neis e Gabriela Flor. Em ambas as apresentações o couvert artístico individual custa R$ 10,00.

Uma rara oportunidade de prestigiar o talento de Gildomar por estas bandas. Após as apresentações em São Luís ele volta à Fortaleza, onde tem comandado a temporada pré-carnavalesca do bloco Hospício Cultural, no bairro do Benfica – o equivalente à nossa Madre Deus –, que tem reunido cerca de 10 mil foliões a cada ensaio, aos domingos. A música que puxa o bloco é dele e versa de maneira bem humorada sobre os desmandos da vida política nacional.

Das escritas do Choro

Chorografia do Maranhão. Capa. Reprodução

 

Quando José Antonio deixou a maternidade, aos 18 dias, a primeira música que ele ouviu foi a Suíte Retratos, na execução da Camerata Carioca em Tributo a Jacob do Bandolim, de 1979. Não a ouviu completa, pois o percurso da maternidade até em casa, de carro, era menor que o tempo de duração dos quatro movimentos (os “retratos”), que homenageiam Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e Chiquinha Gonzaga.

Não foi por acaso: a homenagem é uma espécie de síntese do Choro, ou pelo menos de suas origens e entre os bambas que tocam no disco está o maranhense João Pedro Borges, o que me enche de orgulho. O disco foi escolhido intencionalmente, redundo.

Sábado que vem (15), às 19h, na Praça Gonçalves Dias, durante o último sarau de RicoChoro ComVida na Praça em 2018, Ricarte Almeida Santos, Rivânio Almeida Santos e este que vos perturba lançaremos – finalmente! – o livro Chorografia do Maranhão, que reúne as 52 entrevistas com 54 instrumentistas de Choro nascidos ou radicados no Maranhão que publicamos como uma série no jornal O Imparcial, entre março de 2013 e maio de 2015.

O lançamento acontecerá em noite especial, não apenas por se tratar da despedida do projeto este ano de seus fiéis seguidores e frequentadores eventuais, mas por que teremos o fino do Choro, a começar pelo DJ Franklin, mais o encontro do Regional Tira-Teima com a cavaquinhista carioca Luciana Rabello – e a participação especial da cantora Alexandra Nicolas.

“Um lance de dados jamais abolirá o acaso”, nos ensina Mallarmé. Sorte ou acaso, esta celebração é também fruto de bastante trabalho: do trio de autores e do editor Bruno Azevêdo – o livro sai pela Pitomba!, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), com a chancela do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (PGCult) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Mas voltemos a alguns acasos, chamemos assim. Domingo passado, em conversa no Chorinhos e Chorões, patrimônio do Maranhão e programa bastante citado pelos entrevistados – que os chororrepórteres chamamos chorografados –, o último antes do lançamento, Ricarte Almeida Santos levou dois discos de Luciana Rabello para tocar enquanto conversávamos sobre a Chorografia do Maranhão. Um deles era o lendário Os Carioquinhas no Choro [1977], do grupo homônimo que tinha entre os integrantes a cavaquinhista e seu saudoso irmão Raphael Rabello, ambos então adolescentes. O grupo era uma espécie de embrião do que viria a ser a Camerata Carioca, sob o comando do gaúcho Radamés Gnattali. Quando Serra de Almeida (flautista do Tira-Teima) concedeu a primeira entrevista da série (publicada em março de 2013, mas realizada bem antes, o que dá ainda mais tempo de trabalho, melhor deixar essa conta pra lá), no extinto Kumidinha de Buteko, a capa do elepê decorava a parede e apareceu em uma das fotografias publicadas no jornal.

As pontas se ligam: Luciana Rabello assina a produção musical de Festejos [Acari Records, 2013], estreia de Alexandra Nicolas no mercado fonográfico, ela que fará uma participação especial durante a apresentação da amiga, um reencontro que promete arrepiar quem conhece o disco e se arrepender quem porventura ainda não (ou correr atrás do tempo perdido, nunca é tarde!).

As pontas se ligam: se, de meu lado, dedico o livro a José Antonio, afinal de contas para quem escrevo tudo o que escrevo, por outro, os irmãos Almeida Santos o dedicam a Raimundo Juruca, seu pai, que lhes ensinou a mais que gostar, a amar o Choro – o que tento fazer com José Antonio, que frequentou sua primeira roda aos nove meses de idade, com as presenças de ninguém menos que Zé da Velha e Silvério Pontes, na edição inaugural de RicoChoro ComVida na Praça, em agosto de 2016, na mesma Gonçalves Dias em que agora o Chorografia do Maranhão será lançado.

Ligam-se as pontas deste emaranhado, com texto de Chico Saldanha nas orelhas, apresentação de Luciana Rabello e posfácio de Cesar Teixeira. São muitas histórias, inclusive as nossas, já que o editor Bruno Azevêdo e o poeta Celso Borges, “testemunha de muito do que o livro diz”, nos entrevistaram para o volume.

Chorografia do Maranhão cumpre uma importante tarefa de mapear e contar as histórias dos personagens que desfilam por suas páginas, mas não só: também de toda uma geografia e afetividade que permeiam o Choro no estado.

Seu lançamento é, ao mesmo tempo, sinônimo de alegria e emoção, de um lado, e, de outro, a sensação de tirar um enorme peso das costas. Foram mais de cinco anos de trabalho entre a entrevista inicial e o livro. Que, convenhamos, com o constante interesse de jovens músicos e a consequente renovação da cena Choro, o que não é privilégio apenas do Maranhão, ainda bem, já nasce defasado: diante do surgimento de novos talentos, um volume dois já se insinua necessário, embora os chororrepórteres não prometam nada, ao menos por enquanto.

Grande parte das entrevistas do livro foi realizada em bares, redutos chorísticos por excelência. É hora de passar a régua, mas insistimos em pedir mais uma e mais um choro, por favor!

Saraus de choro em praças públicas de São Luís vão virar programas na TV UFMA

Em entrevista a Homem de vícios antigos o professor Silvano Bezerra, diretor da emissora universitária, comenta a parceria firmada com a produção do projeto RicoChoro ComVida na Praça

Desde a inauguração da TV UFMA, em outubro passado, o canal vem sendo conduzido pelo professor doutor Silvano Bezerra. Um enorme desafio, sobretudo em virtude do atual momento político por que passa o Brasil.

Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2005), Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba (1998), professor do Curso de Comunicação Social e do Programa de Pós-graduação em Cultura e Sociedade (Mestrado – PGCULT) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o diretor da TV UFMA é otimista em relação ao futuro da emissora universitária.

Em entrevista a Homem de vícios antigos, Silvano Bezerra destaca a qualidade tecnológica da emissora recém inaugurada, que pode ser assistida no canal 54 (TV aberta) ou 16 (TVN). O professor comenta ainda a programação da emissora e a parceria firmada com o projeto RicoChoro ComVida na Praça, que transformará em programas de televisão os nove saraus produzidos por Ricarte Almeida Santos, que têm início no próximo sábado (20 de agosto).

O professor Silvano Bezerra, diretor da TV UFMA. Foto: Rosana Barros
O professor Silvano Bezerra, diretor da TV UFMA. Foto: Rosana Barros

A TV UFMA tem demonstrado preocupação em valorizar a cultura do Maranhão. Você acredita que é este o caminho a ser perseguido por uma emissora universitária?
As TVs universitárias federais têm, mais que qualquer outra emissora, a preocupação de fazer com que as manifestações culturais e os valores artísticos locais estejam em suas grades de programação. As TVs das instituições federais de ensino têm muito clara a responsabilidade de se traçar um caminho diferente daquele que a TV aberta no Brasil faz, que tem sido o de ressaltar e valorizar a vida e as práticas da região Sudeste, fechando os olhos para a riqueza cultural e artística presente não só no Maranhão, mas nas demais regiões deste imenso país. Desde que surgiu a ideia de criar a TV UFMA, uma convicção se impôs: a de firmar-se como emissora diferente das demais, porque, mais que qualquer outra, ela carrega o DNA da UFMA, e por isso está comprometida, na raiz, com o saber, com a consciência crítica e com a cidadania. Razão pela qual mantemo-nos vigilantes em relação à qualidade daquilo que somos capazes de gerar em nosso espaço de produção televisiva. E qualidade significa, também e acima de tudo, que é nossa obrigação, manter vivos os vínculos com as coisas de nossa terra e de nossa gente. Gosto sempre de dizer que a TV UFMA acabou de vir ao mundo, e dentro de um espaço muito complicado para a produção televisiva como é a realidade das instituições federais. Mas sabemos também que, mesmo com as dificuldades do atual momento político e econômico do país, podemos estabelecer programação de excelente nível educativo e cultural.

No que a TV UFMA está pensando em relação aos nove saraus do Projeto RicoChoro ComVida na Praça?
Cada um dos saraus da programação do Projeto RicoChoro ComVida na Praça será transformado em programa de TV, com a finalidade de ser exibido no primeiro semestre de 2017. No total, serão nove programas. Gostaríamos de exibi-los antes, mas ainda temos algumas limitações de profissionais dentro da TV, por motivos óbvios de contenção orçamentária decorrente da crise que o país enfrenta. Além disso, vamos enviar esses programas para outras emissoras universitárias, que integram a ABTU (Associação Brasileira de Televisões Universitárias) e as TVs vinculadas à Associação da ANDIFES [Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior], e também disponibilizá-los em rede, em formato HD cheio, para a Televisión America Latina (TAL), nossa parceira na troca de conteúdos para a América Latina. Vamos, também, fazer a cobertura dos saraus, que será exibida em nossas páginas nas redes sociais.

Como foi estabelecer essa parceria, que afinal de contas, acaba sendo interna, tendo em vista que Ricarte Almeida Santos, produtor de RicoChoro ComVida na Praça, apresenta um dos mais longevos programas da Rádio Universidade FM, o Chorinhos e chorões?
Porque habitamos o mesmo espaço institucional, é bem mais fácil reconhecer as competências, as qualidades e o tipo de compromisso que os colegas que militam na área têm com a vida mediática. Conheço o trabalho de Ricarte Almeida Santos há algum tempo, e sempre destaquei, onde fui chamado a fazê-lo, o excelente trabalho que realiza na FM Universidade. Ao bom trabalho de apresentador, Ricarte ajunta o de pesquisador qualificado, o que empresta maior qualidade ao que faz como homem de comunicação. Assim que fui procurado por ele e equipe para que nos integrássemos ao Projeto RicoChoro ComVida na Praça, vi a grandeza e a qualidade da iniciativa, e, de pronto, aderimos à ideia de levar excelentes músicos e grande repertório às praças públicas de nossa cidade. Esta é uma iniciativa pioneira que merece não só o nosso apoio, como nossos aplausos.

Qual a estrutura atual da TV UFMA?
A TV UFMA foi pensada para ser uma emissora de porte médio, e isso foge ao comum das TVs universitárias, que em geral são pequenas e bem modestas em termos de recursos técnicos. Montamos uma TV digital como poucas no universo tanto das universitárias quanto das particulares. A TV UFMA tem um parque tecnológico muito bem montado, e com recursos que lhe dão excelente autonomia. Somos a única TV universitária brasileira que conta com Media Asset Manegement, recurso que só se encontra em cabeças de rede. Contamos com dois grandes estúdios, um dos quais hospeda o jornalismo da emissora, que está em fase de organização e testes; temos duas salas de corte; 18 salas de trabalho, 10 ilhas de edição, recursos para gravação de áudio profissional, grua, travelling entre outros mais. Na parte de transmissão, contamos com dois transmissores, um gerador de energia, no-break de alta capacidade e uma torre de 110 metros. E estamos nos preparando pra enfrentar o desafio da TV UFMA em Imperatriz. Inclusive já temos o canal para a localidade. Falta-nos, porém, contratar mais profissionais para atender às necessidades de produção, o que ainda é um obstáculo, por razões já referidas.

Comente um pouco da programação da TV UFMA.
A TV UFMA, como disse, acabou de nascer, mas vem produzindo programas em ritmo crescente. Hoje, conseguimos exibir cerca de cinco a seis reportagens diárias, e acham-se em exibição alguns outros, e outros encontram-se em fase de produção, como: Perfil, programa de entrevistas; Tempo Rei (interprograma); o EntreLetras, que fala de livros e produção bibliográfica; Portugal sem fronteiras, que expõe reportagens produzidas em Portugal; Bem na foto, programa que dá dicas do fazer fotográfico; 100 anos do samba (programa documental); 50 anos da UFMA; Duplo sentido (programa sobre semelhanças da língua hispânica com o português); Orquestras do Nordeste  e mais outros que estão em curso. Iniciamos, também, as transmissões do sinal da TV Cultura, a nossa cabeça de rede.