Apresentações acontecem dias 3 e 4 no Teatro Arthur Azevedo, com participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro – foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro completou, em 2025, 70 anos de idade e 60 de uma vitoriosa batalha contra um câncer. Uma de suas frases de cabeceira, do pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), diz que “o dever do artista é salvar o sonho”. O artista entende que a celebração da vida passa pela celebração da arte.
Estes são os motes do show “Canções da Vida e da Arte”, que Joãozinho Ribeiro apresenta nos próximos dias 3 e 4 de outubro, às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), com as participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe.
Com produção e coordenação geral de Lena Santos, o show de Joãozinho Ribeiro tem direção geral do artista, que será acompanhado pelos músicos Rui Mário (sanfona, teclados e direção musical), Arlindo Pipiu (violão e guitarra), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Robertinho Chinês (cavaquinho), Carlos Raqueth (baixo), Ronald Nascimento (bateria), Marquinhos Carcará (percussão), Kátia Espíndola (vocal), Raquel Espíndola (vocal) e Renato Serra (teclados).
As celebrações de Joãozinho Ribeiro têm caráter solidário: os ingressos para os shows serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino. A troca pode ser feita no Convento das Mercês (sede da Fundação da Memória Republicana Brasileira, Rua da Palma, Desterro) ou no Teatro Arthur Azevedo (nos dias do espetáculo).
Joãozinho Ribeiro é um dos artistas maranhenses mais gravados, tendo músicas suas em registros de nomes como Betto Pereira, Célia Maria, Chico César, Elba Ramalho, Flávia Bittencourt, Josias Sobrinho, Lena Machado, Olodum, Rita Benneditto, Rosa Reis e Zeca Baleiro, entre outros.
Parte deste repertório autoral será lembrada nas duas apresentações do show “Canções da Vida e da Arte”, que tem patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.
Serviço
O quê: show “Canções da Vida e da Arte” Quem: Joãozinho Ribeiro e convidados Quando: dias 3 (sexta) e 4 de outubro (sábado), às 20h Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro) Quanto: os ingressos solidários serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino (a partir do dia 1º. de outubro no Convento das Mercês e nos dias das apresentações também na bilheteria do TAA) Informações: no instagram @joaozinhoribeiromilhoesdeuns
Acima: Neto Peperi, Alysson Ribeiro, Andréa Frazão, Luiz Cláudio e Dan Nobre; abaixo: Paulinho Akomabu, Chico Saldanha, Joãozinho Ribeiro, Rosa Reis, Fátima Passarinho e Anna Cláudia, as vozes de “Bloco Bonito” – foto: divulgação
O Baile do Parangolé chega à sua 14ª edição em 2025, celebrando os 46 anos de fundação da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH). O nome do baile toma emprestado o título de um conhecido coco do jornalista e compositor Cesar Teixeira, sócio da SMDH. O evento acontecerá na próxima quarta-feira (12), a partir das 19h, no Bar e Restaurante Pedra de Sal (esquina das ruas da Estrela e de Nazaré, Praia Grande). Os ingressos individuais custam R$ 40,00 e incluem abadá.
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, sócio da SMDH, lançará, na ocasião, o EP Bloco Bonito (faça aqui a pré-save), com quatro faixas em clima de folia e a participação especial de grandes nomes da música popular brasileira: Allysson Ribeiro, Andréa Frazão, Chico Saldanha, Neto Peperi, Paulinho Akomabu, Rosa Reis e Zeca Baleiro. As gravações aconteceram no Zabumba Records, sob a batuta do percussionista, compositor e produtor Luiz Cláudio.
Uma das faixas de destaque é “Algazarra no quartel”, interpretada por Alysson Ribeiro e Neto Peperi, uma crítica ácida e bem-humorada aos desmandos de um certo capitão que muito aprontou fora da caserna.
“Bloco Bonito” – capa/ reprodução
Segundo Joãozinho Ribeiro, o EP é uma homenagem ao cantor e compositor Tadeu de Obatalá (1964-2024), falecido ano passado, um dos fundadores do Bloco Afro Akomabu. A capa de Bloco Bonito, presente do amigo e parceiro Betto Pereira, cantor, compositor e artista visual, faz alusão à estética deste símbolo do carnaval maranhense surgido nas fileiras do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN).
Joãozinho Ribeiro, seus convidados especiais e os músicos que participaram da gravação de Bloco Bonito são as atrações do 14º. Baile do Parangolé, valorizando a música, a ancestralidade e os direitos humanos.
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação
Espetáculo poético-musical acontece nesta sexta-feira (22), no Teatro Arthur Azevedo
Diariamente somos bombardeados pelo noticiário e pelas redes sociais com notícias desagradáveis. São fartos os casos de desastres (supostamente) naturais, violências de toda ordem e assassinatos, não raro os três se relacionando.
Na contramão disso, temos as artes, para servirem não como alienação, alheamento ou fuga da realidade, mas também para nos ajudar a refletir sobre a quadra histórica que atravessamos.
“O dever do artista é salvar o sonho”, sentenciou o artista plástico italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), frase que se tornou um mantra para o poeta e compositor maranhense Joãozinho Ribeiro.
Nesta cruzada quase quixotesca em busca de salvar o sonho, Joãozinho Ribeiro apresenta nesta sexta-feira (22), às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), o espetáculo “Canções de Amor e Paz”, reunindo um grande elenco da música e poesia cometidas por estas plagas.
Desfilando um repertório autoral, Joãozinho Ribeiro agrega como convidados/as o Coral Infantil Batucando Esperança, Elisa Lago, Emmanuel Ferraro, Adriana Bosaipo, Anna Cláudia, Fátima Passarinho, Zeca Baleiro – que fará uma participação especial virtual, apresentando uma parceria inédita deles em vídeo –, Ivandro Coelho, Gisele Vasconcelos, Marconi Rezende, Rosa Reis, Leda Nascimento, Elizandra Rocha, Gilson César, Rosa Ewerton, Uimar Junior, Moizes Nobre e Tatiane Soares.
O anfitrião e a constelação que o acompanha terão seus feitos musicais e poéticos emoldurados pelos talentos de Rui Mário (sanfona e direção musical), Arlindo Pipiu (baixo), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Robertinho Chinês (cavaquinho e bandolim), Tiago Fernandes (violão sete cordas) e Marquinhos Carcará (percussão). A produção é de Lena Santos e a direção geral de Joãozinho Ribeiro.
Os ingressos custam R$ 50,00 (R$ 25,00, a meia-entrada para estudantes com carteira e demais casos previstos em lei) e estão à venda na Bilheteria Digital e na bilheteria do Teatro Arthur Azevedo.
Serviço
O quê: show “Canções de Amor e Paz” Quem: Joãozinho Ribeiro e convidados Quando: sexta-feira (22), às 20h Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro) Quanto: R$ 50,00 e 25,00
Apresentação acontece sexta-feira (16) no Convento das Mercês, com entrada franca – com sugestão de doação de um quilo de alimento não-perecível para as comunidades carentes do entorno
O compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: Murilo Santos. Divulgação
O compositor Joãozinho Ribeiro volta a reunir os amigos no show “Com o afeto das canções II”. Beneficente, o evento – cuja primeira edição aconteceu ano passado – ocupa o pátio do Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro), na próxima sexta-feira, 16, às 20h. A entrada é gratuita, com a sugestão da doação de um quilo de alimento não-perecível; a arrecadação será destinada a comunidades carentes do entorno da Fundação da Memória Republicana Brasileira (FMRB), instituição sediada no prédio secular do Centro Histórico da capital maranhense, que completou recentemente 25 anos de inclusão na lista de cidades patrimônio mundial da Unesco.
Joãozinho Ribeiro terá como convidados especiais o Bloco Afro Akomabu, George Gomes, Rosa Reis, Célia Maria, Josias Sobrinho, Rita Benneditto – que gravou em dueto com Zeca Baleiro (que participa virtualmente do show, através de uma mensagem em vídeo), a música que dá título ao espetáculo, cuja produção é assinada por Lena Santos. O espetáculo é uma realização da Dupla Criação e Fundação da Memória Republicana, com patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma) e Potiguar, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.
Rui Mário (sanfona, piano e direção musical), Marquinhos Carcará (percussão), Danilo Santos (saxofone e flauta), Hugo Carafunim (trompete), Robertinho Chinês (cavaquinho e bandolim), Arlindo Pipiu (contrabaixo), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Ronald Nascimento (bateria), Katia Espíndola (vocal) e Mariana Rosa (vocal) formam a superbanda que acompanhará Joãozinho Ribeiro e convidados em “Com o afeto das canções II”.
O repertório do show alinhava clássicos da lavra de Joãozinho Ribeiro a músicas inéditas. A pandemia de covid-19 e o isolamento social por ela imposto renderam ao artista dezenas de novas composições, sozinho ou em parceria. Entre os gêneros abordados no roteiro figuram baião, balada, bolero, bumba meu boi, carimbó, divino, ijexá, maxixe, merengue, reggae, salsa, samba e tambor de crioula.
“Esse show é uma espécie de exorcismo. Após quatro anos de massacres diariamente desferidos contra a cultura brasileira, para citar apenas uma área, voltamos a respirar ares democráticos e plurais, voltamos a ser um país, feito de nossa diversidade e riqueza culturais, é o que nos propomos a celebrar, com todo afeto das canções”, anuncia o compositor anfitrião.
Serviço
O quê: show “Com o afeto das canções II” Quem: o compositor Joãozinho Ribeiro e convidados Quando: dia 16 de dezembro (sexta-feira), às 20h Onde: Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro, Centro Histórico) Quanto: grátis. Sugere-se a doação de um quilo de alimento não-perecível, destinada às comunidades carentes do Centro Histórico Realização: Dupla Criação e Fundação da Memória Republicana Patrocínio: Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma) e Potiguar, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.
O cantor e compositor Cesar Teixeira. Foto: divulgação
Show no Ceprama será uma grande festa devotada ao samba, na Madre Deus, um dos bairros mais identificados com o gênero
O cantor e compositor Cesar Teixeira tem encontro marcado com seu público: ele apresenta o show Samba de Botequim, na próxima sexta-feira (23), às 19h, no Ceprama (Madre Deus).
Como o título entrega, a apresentação será dedicada ao samba, um dos gêneros musicais de predileção do artista, nascido e criado na Madre Deus, bairro boêmio encravado no coração da ilha, onde passou também parte da idade adulta.
Pelos botequins da Madre Deus – Cesar Teixeira foi frequentador de rodas de samba espontâneas em botequins lendários, como a quitanda de Seu Alfredo, onde pescadores, magarefes, operários e outros personagens se reuniam entre sacas de arroz, farinha e camarão seco, munidos de seus instrumentos. Foi amigo de lendas do bairro, como o compositor Cristóvão Alô Brasil (12/10/1922-19/8/1998), que completaria 100 anos no próximo dia 12 de outubro e de quem se tornaria parceiro, entre outros, e integrou a ala de compositores da Escola de Samba Turma do Quinto, também sediada na Madre Deus. Em 2010 Cesar Teixeira foi homenageado pela rival Favela do Samba.
Para o artista, o show é também uma homenagem às mulheres, “especialmente às mulheres negras, tão sacrificadas pelo atual governo”, afirma. A abertura fica por conta da dj Vanessa Serra, e ele terá como convidadas Rosa Reis, Célia Maria, Flávia Bittencourt, Lena Machado, Fátima Passarinho, Gabriela Flor – todas elas intérpretes de sua obra de longa data, em discos e shows – e o bloco carnavalesco Fuzileiros da Fuzarca, com 86 carnavais no currículo.
Cesar Teixeira será acompanhado por um regional formado por Rui Mário (sanfona e direção musical), Marquinhos Carcará (percussão), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Chico Neis (violão), Gabriela Flor (pandeiro), Ronald Nascimento (bateria), Gustavo Belan (cavaquinho), Hugo Braga Reis (trombone), Ricardo Mendes (saxofone, clarinete e flauta), Daniel Cavalcante (trompete), Regina Oliveira (vocais) e Duda Saraiva (vocais). Entre os instrumentistas haverá ainda a participação especial de Victor Oliveira (saxofone). No repertório, clássicos e sambas inéditos da lavra do compositor, além de homenagens à velha guarda madredivina, entre nomes como Cristóvão Alô Brasil, Caboclinho e Patativa.
Trajetória – Com uma carreira iniciada ainda na década de 1960, em festivais estudantis de música, Cesar Teixeira foi um dos fundadores do Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte), em 1972, e um dos quatro compositores gravados por Papete no elepê “Bandeira de aço” (1978), lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira e considerado um divisor de águas na música popular brasileira produzida no Maranhão. É também jornalista e artista plástico. Lançou dois discos solo: “Shopping Brazil” (2004) e “Camapu” (2018). O show “Samba de Botequim” será gravado e o material audiovisual deve ser disponibilizado em breve.
“Samba de Botequim” é uma realização da Pitan Produções e Coletivo Apoena, com patrocínio do Governo do Estado do Maranhão e Grupo Mateus, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Entre os objetivos da iniciativa está a formação de plateia. Os ingressos serão trocados por um quilo de alimento não-perecível e a arrecadação será destinada ao Natal Solidário das Mercês e para a Associação das Profissionais do Sexo no Maranhão (Aprosma), com atuação na área do centro histórico da capital maranhense.
Serviço
O quê: show Samba de Botequim Quem: Cesar Teixeira e convidados Quando: dia 23 (sexta-feira), às 19h Onde: Ceprama (Madre Deus) Quanto: um quilo de alimento não-perecível Realização: Pitan Produções e Coletivo Apoena Patrocínio: Governo do Estado do Maranhão e Grupo Mateus, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura Informações: no instagram @showsambadebotequim
Saraus online do projeto RicoChoro ComVida estreiam dias 29 e 30, às 18h, com os grupos Deu Branco e Tangará, e os cantores Totti Moreira, Rosa Reis, Nivaldo Santos e Zeca do Cavaco
O encontro de gêneros e gerações de Totti Moreira, Rosa Reis e Regional Deu Branco. Foto: Zeqroz Neto. DivulgaçãoChoro, samba e Maranhão: diálogo e reverência no encontro de Zeca do Cavaco, Nivaldo Santos e Grupo Tangará. Foto: Zeqroz Neto. Divulgação
Enquanto aguarda o fim do período chuvoso na ilha capital, a produção dos saraus RicoChoro ComVida segue trabalhando. Ano passado realizou três concorridas edições presenciais do sarau, na bela paisagem que é o jardim do Museu Histórico e Artístico do Maranhão (Rua do Sol, 302, Centro). Ainda ano passado também realizou a gravação de dois saraus online, com patrocínio da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, através da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma). Os saraus foram gravados no estúdio ProAudio, sem plateia – eventuais aplausos ouvidos na gravação são da própria equipe técnica dos espetáculos –, e a captação de imagens foi feita pelo cineasta Paulo do Vale e equipe.
Estes dois saraus vão ao ar dias 29 e 30 de abril, respectivamente, sempre às 18h, no canal do youtube da RicoChoro Produções Culturais, que realiza o evento. “É um evento online, gravado ainda num momento de instabilidade da pandemia, que chegou a permitir que realizássemos saraus presenciais, com todos os cuidados, mas que voltou à carga, depois, fazendo com que tornássemos a nos recolher. No entanto, preserva o autêntico clima de uma roda de choro. A gente optou inclusive por não retocar o áudio das gravações, mantendo certo clima um clima de autenticidade, apesar de eventuais imperfeições”, anuncia o produtor Ricarte Almeida Santos.
No primeiro sarau, as atrações são o Regional Deu Branco, que tem como convidados o cantor e compositor Totti Moreira e a cantora Rosa Reis. O Deu Branco é formado por Paulo Araújo (violão sete cordas), Jamil Cartágenes (cavaquinho), Valdico Monteiro (pandeiro), Erivan Nélio (flauta) e Cleiton Groove (trombone).
O repertório do grupo passeou por clássicos do choro, de autores como Tom Jobim (“Só danço samba”), Joaquim Callado (“Flor amorosa”) e Raul de Barros (“Na Glória”), além dos maranhenses Catulo da Paixão Cearense (“Ontem ao luar”), Antonio Vieira (“Tem quem queira”), Osmar do Trombone (“Saudades de Tororoma”), Nuna Gomes (“Um sorriso”), além de Didã (“Banca de honestidade”).
Seu primeiro convidado, o cantor e compositor Totti Moreira, um dos destaques da nova geração da música popular brasileira produzida no Maranhão, revelou a “alegria em estar no projeto e poder colocar sua música em diálogo com o choro, uma escola que só somou em sua produção autoral”.
De sua autoria, em seu repertório, destaques para a autobiográfica “Passe gol”, que lembra as peladas de rua disputadas na infância, “Golpe na tristeza”, com clara influência da bossa nova, e “Minha viola”.
Rosa Reis afirmou que “o samba já vem enraizado desde quando eu fazia o show “Fuzarca” [com Fátima Passarinho, Inácio Pinheiro, Cláudio Pinheiro e Roberto Brandão], onde eu tive a oportunidade de conhecer vários compositores do samba tradicional, como Cristóvão [Alô Brasil] e Patativa”. Para citar outro exemplo de sua intimidade com o samba, a cantora foi a primeira a gravar “Nós” (Tião Carvalho), antes do sucesso nacional de Cássia Eller.
Seu repertório privilegiou o samba e o choro maranhenses, em interpretações de “Meu samba choro” (Chico Maranhão), “Cachaça apanhou” (Antonio Vieira/ Lopes Bogéa) e “Santo guerreiro” (Patativa), com participação especial de Totti. A exceção foi “Fadas” (Luiz Melodia)
Segundo sarau – Com seu nome de pássaro, o Grupo Tangará sobrevoou com elegância um repertório impecável, formado por clássicos como “Receita de samba” (Jacob do Bandolim), “Sonoroso” (K-Ximbinho/ Del Loro), “Doce de coco” (Jacob do Bandolim) e “Carioquinha” (Waldir Azevedo), coisa para chorão nenhum botar defeito.
O Tangará é formado por Vitor Santana (bandolim), Suellen Almeida (flauta), Valdico Monteiro (pandeiro), Gustavo Belan (cavaquinho) e Tiago Fernandes (violão sete cordas). O grupo teve como convidados dois nomes de destaque no universo do samba e do choro do Maranhão: o sambista Nivaldo Santos e o cantor Zeca do Cavaco, cuja habilidade no instrumento lhe empresta o sobrenome artístico, embora ele tenha apenas cantado em sua apresentação.
“Já nascemos musicais, nascer nesse estado tão rico de cultura, eu vim de uma família festeira, meu pai, vivo até hoje, graças a Deus, nos ensinou o gosto pela boa música e sempre influenciou a gente. A gente começou a participar de encontros, rodas de samba, festas de família, a gente foi se identificando e gostando e aí surgiu o sambista Nivaldo Santos”, comentou o primeiro convidado sobre seu fazer do samba uma profissão de fé.
Seu repertório foi de Chico Maranhão (“Ponto de fuga”) a Ismael Silva (“Se você jurar”), passando por Sérgio Habibe (“Ponteira”) a Pixinguinha (“Yaô”) e Joãozinho Ribeiro (“Asas da paixão”). Nivaldo cantou ainda “Banca de honestidade” (Didã), executada em versão instrumental no primeiro sarau – em comum, os grupos têm também o pandeirista.
Depois era a vez de Zeca do Cavaco, não raramente apontado como uma das mais belas vozes da música popular produzida no Maranhão, com atenção especial ao choro e ao samba, filiado às escolas de Paulinho da Viola, Geraldo Pereira e Cesar Teixeira, para citar apenas uma trinca de sua predileção.
“Estou muito feliz em estar participando desse evento, desse movimento, e o prazer é maior ainda em ser acompanhado por este grupo Tangará, que eu já tive o prazer de conhecer, mas ainda não havia tido o prazer de cantar junto”, afirmou. “Eu tive a honra de conviver com alguns baluartes do samba e do choro, como Zé Hemetério, Gordo Elinaldo, toquei muito tempo e cantei também no Regional Tira-Teima, e depois me descobri intérprete, e comecei a caminhar por essa via da música”, revelou a sua filiação ao samba e ao choro.
Prestigiou repertório genuinamente maranhense e atacou de “Saiba, rapaz” (Joãozinho Ribeiro), “Mestre Orfila” (Cristóvão Alô Brasil), “Coração na voz” (Nosly/ Gerude/ Nonato Buzar), “Terra de Noel” (Josias Sobrinho), “Velho negro destemido” (Ricarte Almeida Santos/ Joãozinho Ribeiro) – homenagem a Nelson Sargento (1924-2021), sambista falecido aos 96 anos, por complicações da covid-19 – e “Cajueiro velho” (João Carlos Nazaré). Para fechar com chave de ouro, duetou com Nivaldo Santos na inédita “Sapo já foi na lua” (Cesar Teixeira).
O par de saraus que será disponibilizado nesta sexta (29) e sábado (30) se configura em um importante documento sonoro, ao realizar em sua feitura alguns dos propósitos do projeto RicoChoro ComVida, seja em formato presencial, seja em formato virtual: o encontro de gêneros e gerações, o diálogo do choro com outros ritmos da rica e diversa música popular brasileira, com especial destaque à produção maranhense, além da formação de plateia.
Ative os lembretes e não perca as estreias.
Serviço: saraus online RicoChoro ComVida. Dias 29 e 30 de abril, às 18h, no canal do youtube RicoChoro Produções Culturais (cliquem nos vídeos acima para ativar lembretes). Com Regional Deu Branco, Totti Moreira, Rosa Reis, Grupo Tangará, Nivaldo Santos e Zeca do Cavaco.
Cesar Teixeira, no bis, com seu batalhão pesado. Foto: Zema Ribeiro
Cesar Teixeira é um artista incomum e necessário. Na lida desde fins da década de 1960, quando suas primeiras composições foram ouvidas em festivais estudantis de música, o compositor (e cantor e jornalista e artista plástico e alguns etc.) lançou ontem (18), em show no Teatro Arthur Azevedo, o segundo disco de sua carreira, o já festejado Camapu.
O cenário adornado de palmeiras evocava os climas e ares nordestinos e rurais do disco, cujo título é nome de fruto agridoce outrora muito comum por cercas e quintais e atualmente vendido a peso de ouro em supermercados.
O show começou por Aves de rapina, toada nordestina que remete à Guerrilha do Araguaia – todo o repertório de Camapu foi composto nas décadas de 1970 e 80 – e demonstrava, de cara, a atualidade e o vigor da obra poética e musical de Cesar Teixeira, além da necessidade de que falamos abrindo este comentário.
Por falar em guerrilha, não faltaram, ao longo da apresentação, citações ao saudoso poeta Nauro Machado, através da repetição de um bordão seu, com que saudava os conterrâneos: “meu poeta, meu cabo de guerra”, dizia Cesar Teixeira aqui e acolá.
Baiãozinho, na sequência, a demonstrar que apesar das tragédias e dos sucessivos golpes, é preciso festejar. A sanfona de Rui Mário, que também toca piano e assina a direção musical do disco e do show, será sempre destaque, em banda que se completou, ontem, no palco, com João Neto (flauta), “só está aqui por que é sobrinho de Josias [Sobrinho, produtor executivo do disco e do show]”, troçou o anfitrião, Wanderson Silva (percussão), Marquinhos Carcará (percussão), “que herdei do finado Papete“, Mano Lopes (violão sete cordas), Regina Oliveira, Raquel Ávila e Mairla Oliveira (vocais), além das intervenções de Jorlielson Lima (violoncelo) e da participação de Thaynara (violino).
A primeira convidada da noite foi Lena Machado, que cantou, com um arranjo mais amaxixado ainda Flanelinha de avião. “Eu gravei essa música no meu primeiro disco [Canção de vida, 2006], mas não fiquei satisfeita com o resultado. Agora eu gravei de novo no meu terceiro disco [referindo-se a Batalhão de rosas, que será lançado este semestre]. Tem Cesar Teixeira de novo!”, afirmou, comemorando a presença constante do compositor no repertório de seus discos. “Agora você não vai mais presa por que gravou música minha”, afirmou o dono da noite, lembrando as ditaduras de 1964 e 2016, que enfrentou e enfrenta, fazendo uso de uma das palavras-chave daquele momento histórico: liberdade. “Algo de que tanto precisamos, neste país escroto”, disparou.
“Este teatro foi erguido por mãos possivelmente ainda escravizadas. Aqui tem o suor de negros que trabalharam em sua construção. É um teatro popular, não é um teatro das elites”, mandou, sem disfarçar algum desconforto e nervosismo em estar naquele palco, longe de mise-en-scène. “Eu sou da zona, do botequim”, afirmou, citando lugares em que se sentia mais à vontade. Cantou a modinha Lua do mangue, cujo cenário é uma zona portuária, acompanhado apenas do piano de Rui Mário, do sete cordas de Mano Lopes e do violoncelo de Jorlielson.
O xote Juçara voltou à seara política, com sua letra que cita etnias indígenas (Guajajara e Guajá, na véspera do “dia do índio”) e heróis e heroínas da esquerda (Dandara, Victor Jara, Violeta Parra). Aqui e acolá ouviam-se gritos isolados de “Lula livre!” e “Fora Temer!”. “Eu agora vou chamar uma morena juçara”, fez trocadilho ao convidar ao palco Flávia Bittencourt, que interpretou a bela e dolorosa Dolores, gravada pela cantora em Sentido [2005], seu disco de estreia. No meio da interpretação, acompanhada apenas pelo mesmo trio de Lua do mangue, sentou-se no banco em que o compositor estava apoiando seu copo. Quase chorando, confessou: “é impossível cantar essa música sem se emocionar. Aliás, Cesar só tem música linda, não tem uma que se possa dizer mais ou menos. Lembro quando eu ia gravar meu primeiro disco, ele me passou uma fita k7, olha eu entregando minha idade [risos], e eu ouvia uma atrás da outra e foi difícil escolher. Eu gravei apenas duas, ficou um monte por gravar”.
Durante as entradas e saídas das participações especiais – que não duetavam com o autor do repertório da noite – Cesar Teixeira por vezes se atrapalhou com os microfones. Recebia de quem deixava o palco e usava-o, em vez do do pedestal, gerando reclamações de um ou outro, na plateia. A princípio, levou na esportiva, lembrando João Gilberto: “tem muito bêbado aqui”, fazendo rir a grande maioria do público presente. Diante da insistência, calou os que não entendiam a grandeza do momento: “tem gente que não entende que as palavras precisam ser usadas nos momentos certos”.
“Meu pai não me criou, mas era uma espécie de ídolo”, afirmou Cesar Teixeira referindo-se ao também compositor Bibi Silva. “Nos finais de semana ele me levava a programas de auditório em rádios. A gente andava ali pelos Apicuns [na região central de São Luís] e nessas ocasiões eu conheci uma grande figura”, revelou, chamando ao palco Célia Maria, que teve a enorme honra e responsabilidade de interpretar duas pérolas da porção sambista do compositor (a que ele deve dedicar o próximo disco, conforme anunciou na única entrevista de divulgação do show, que concedeu ao Chorinhos e Chorões de Ricarte Almeida Santos na Rádio Universidade FM): Lápis de cor, gravada por ela em Célia Maria [2001], seu único disco até aqui, e Das cinzas à paixão.
“Vou cantar aqui algo que fiz com meu pai. Esse refrão é dele”, anunciou antes de entoar a bela Toada de passarinho, um bumba meu boi sotaque de matraca. Depois era a vez do transe do boi de zabumba, com seu ritmo frenético: Cesar Teixeira cantou Boi de Medonho e em seguida chamou Rosa Reis para rodar a saia colorida e interpretar Mutuca, gravada por ela em Balaio de rosas.
Mairla Oliveira, filha de Regina Oliveira, ex-esposa de Cesar, afirmou ser inegável ter seguido a carreira musical. Abraçou-o, ao contar: “este homem foi meu pai por seis anos”. Depois tirou onda: “ele adorava um forró, minha mãe ia atrás, no Corta-Jaca, não era, Cesar?”. “Já fui bom disso”, respondeu gracejando e deixando o palco, onde ela cantou e dançou o Forró do Corta-Jaca. Na sequência o grupo Lamparina prestou-lhe homenagem, entregando um ramalhete. Ao abraço coletivo reagiu com um faceiro “isso é malandragem!”, para mais risos da plateia.
A interpretação do coco Camapu contou com a participação especial do mímico Gilson César, num diálogo com Cesar Teixeira sobre os vários nomes da fruta, citados na letra da música, que dá título ao disco. “Quando eu era criança eu chamava era canapum”, confessou, para gargalhadas da plateia, que em grande parte certamente se identificou com o “equívoco”. Aos versos iniciais “ê moço,/ que tu leva nesse cofo?”, com a banda reforçada pelo violoncelo de Jorlielson, Gilson desceu a plateia, com o cofo pendurado no ombro, distribuindo camapus imaginários aos presentes.
Cesar Teixeira interpretou a íntegra do repertório de Camapu. Única música interpretada por ele de seu disco anterior [Shopping Brazil, 2004], Namorada do cangaço foi cantada a plenos pulmões pela plateia, evocando as memórias de Waldick Soriano (1933-2008), ídolo citado na letra, e Dércio Marques (1947-2012), não citado, o primeiro a gravá-la [emFulejo, de 1983]. “Viva o cangaço!”, finalizou, de punho erguido.
“Depois de Lamparina, eu vou chamar um casal que rima, Criolina”, convidou Alê Muniz (único homem em meio às “mulheres de Cesar”) e Luciana Simões, responsáveis, há cinco anos, pela organização de um show que uniu artistas da jovem e velha guardas em tributo ao antológico Bandeira de aço [1978], em que Papete, graças aos esforços do publicitário e pesquisador Marcus Pereira, registrou em disco as primeiras composições de Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Ronaldo Mota e Sérgio Habibe. “O pai desse aqui tocava flauta comigo”, disse apontando para Alê, referindo-se ao flautista Célio Muniz, cujo sopro está registrado no choro Ray-ban, em Shopping Brazil.
“Vocês olhando daí pensam que é fácil, eu mesmo, pareço estar tranquilo, mas aqui por dentro está uma reviravolta”, comentou Alê Muniz sobre a emoção de participar daquela noite histórica. “Eu conheci Cesar Teixeira através do meu pai, que foi através de quem eu conheci Josias Sobrinho, Joãozinho Ribeiro e tantos outros, e foi o meu primeiro contato com essa música, essa cultura popular do Maranhão. Pra mim é uma imensa honra estar aqui, ainda mais por que essa música é um hino”, prestou as devidas reverências antes de cantarem – e dançarem – Bandeira de aço, com Luciana Simões hasteando um leque feito bandeira.
Em feitio de oração, a Ladainha de Alcântara ganhou os reforços do violino de Thaynara Oliveira e do violoncelo de Jorlielson Lima, com os percussionistas fazendo as caixas e as backing vocals empunhando bandeiras (vermelhas) do Divino.
“Muita gente lembra de um samba que eu compus há algum tempo”, comentou Cesar Teixeira ao cantar, à capela, os versos “salve as mulheres da zona/ e as que choram na Praça de Maio”, de Poema sujo, o samba-enredo da Turma do Quinto em 1985, no que foi imediatamente acompanhado por parte do público.
O compositor agradeceu aos presentes pelas doações (os ingressos para o show foram trocados por um quilo de alimento não perecível), que serão destinadas a famílias carentes do Desterro, bairro do Centro Histórico da capital maranhense. “Lá, mulheres fundaram a Associação das Prostitutas do Maranhão, que realizou em setembro do ano passado um seminário nacional da categoria. São, em sua maioria, mulheres que criam os filhos sozinhas”, lembrou, antes de cantar a toada de bumba meu boi de orquestra que mais tem acalentado crianças no Maranhão desde sua primeira gravação, em 1978: foi acompanhado em uníssono pelo público em Boi da lua.
Ao se retirar do palco e ouvir os pedidos de “mais um”, voltou acompanhado de seu batalhão pesado. Entre músicos da banda, convidados especiais, equipe de produção e o parceiro de Sindicato do Samba Joãozinho Ribeiro, entoaram juntos outro clássico (este ainda não registrado em disco pelo autor): a tristemente atualíssima Oração latina, momento-síntese da comunhão entre palco e plateia numa noite que se tornaria histórica acontecesse o que acontecesse.
Faixa-bônus – Engana-se quem pensa que a festa acabou: sábado (21), a partir de meio-dia, no Bar do Léo (Hortomercado do Vinhais), Cesar Teixeira autografa Camapu, a quem interessar possa.
Há mais de 10 anos entrevistei a saudosa Moema de Castro Alvim, então proprietária do sebo Papiros do Egito, para um trabalho de faculdade – o resultado viria a ser publicado depois, no Overmundo.
Naquela conversa – uma das muitas que tivemos ao longo de mais de 20 anos de amizade – ela alertou para uma equação que não fechava: enquanto faculdades particulares eram abertas, livrarias e sebos se fechavam.
A pulga atrás da orelha me acompanha até hoje.
São Luís é uma cidade que convive com vários títulos – ou apelidos, como queiram. Uns se justificam por si só. Outros acabam ganhando status de verdade de tanto se repetirem, na perspectiva de Goebells, ministro da propaganda nazista.
Um bom exemplo é a rixa entre os atenienses e jamaicanos locais. A meu ver a questão se encerra facilmente: enquanto quase ninguém lê, os clubes de reggae estão lotados – e não, a meu ver, uma coisa não inviabiliza a outra.
Acompanho há algum tempo o trabalho do professor Natan Máximo, que já teve sebo fixo no Centro da cidade (na Rua das Flores), mas que ultimamente tem literalmente montado a barraca em eventos culturais como o projeto RicoChoro ComVida na Praça, de que acompanhou boa parte das edições: enquanto o público prestigiava a boa música no palco, podia também adquirir livros, cds e vinis usados.
A barraca de Natan, com seu caráter agregador e a presença do sócio Riba (outro, não o do Poeme-se), acabou por ganhar o nome de Feira da Tralha, exibido na faixa na fachada do sebo – fixo – que ele e Riba (ambos na foto que abre este post) inauguram hoje, às 18h, no térreo do Edifício Colonial (sala 8, esquina das ruas Godofredo Viana com Sol, Centro).
A inauguração terá apresentação do Regional Deu Branco, formado por Cleiton Canhoto (violão sete cordas), Erivan Neri (flauta), Jamil Cartágenes (cavaquinho), Kleiton Groove (trombone) e Valdico Monteiro (pandeiro). O grupo terá as participações especiais de Joãozinho Ribeiro e Rosa Reis. Na ocasião serão vendidos caldo de sururu e cerveja.
É outra coisa de que há tempos me ressinto: não há um bar nas proximidades do Teatro Arthur Azevedo, para o caso de uma resenha regada a chope e bom papo, após este ou aquele espetáculo. A Feira da Tralha é um sebo, não um bar, mas poderá em parte preencher essa lacuna. Tomara!
De um modo ou de outro, é sempre motivo de comemoração a inauguração de um sebo, uma livraria, uma loja de discos, uma banca de revistas e estes estabelecimentos em extinção – ou melhor, na contramão.
O carnaval vem aí e o Criolina solta novo videoclipe na rede. A menina do salão (Alê Muniz/ Luciana Simões) ainda nem esfriou e eles já saem com Bota pra moer (Celso Borges/ Alê Muniz/ Luciana Simões), música que batiza o bloco (ou vice-versa?) que o casal Alê Muniz e Luciana Simões comandará na segunda-feira de momo (12).
O nome do bloco homenageia Bota pra moer, um dos “doidos antológicos” de São Luís, catalogado pelo saudoso e múltiplo Lopes Bogéa no igualmente antológico Pedras da rua [Sioge, 1988]. Antonio Lima, seu nome de pia, pernambucano de Caruaru, viveu na capital maranhense, onde protagonizou histórias hilárias. Era hábil em matemática, conseguindo dizer, de cabeça, em poucos segundos, quantos dias, meses e anos a pessoa tinha vivido até ali, a partir de sua data de nascimento. Outra habilidade sua era ler naturalmente um jornal. De cabeça pra baixo.
Mas folclórica mesmo ficou a história de quando se tornou porta-bandeira da famosa Greve de 51. São Luís ficou paralisada pela revolta popular contra a posse do governador Eugênio Barros. Bota pra moer puxava o bloco dos descontentes até o Palácio dos Leões, quando viu o aglomerado de policiais montados a cavalo e passou a bandeira a quem estava a seu lado, dizendo: “até aqui eu trouxe. Daqui pra frente, vocês arranjem um mais doido do que eu”.
O novo clipe do Criolina antecipa o clima do que o bloco promete para este carnaval. Bota pra moer, o bloco de Alê Muniz e Luciana Simões não é oportunista: o casal tem balançado o coreto desde que optou por viver em São Luís e produzir a partir daqui, dando uma contribuição fundamental para a organização e a profissionalização da cena musical, com o advento do Festival BR 135, produzido anualmente por eles. Homenageia uma figura folclórica da cidade. Garante o diálogo multicultural durante a folia, algo já destacado no carnaval recifense e inaugurado cá por estas plagas ano passado com o Bloco do Baleiro, sucesso absoluto de público e destaque incontestável do reinado de Momo de ano passado. E realizaram dois ensaios abertos e gratuitos do bloco, na Avenida Beira-Mar, no Centro da cidade.
“Queremos circo, queremos pão/ queremos a libertação”, começa a letra, que traz também a epígrafe da Akademia dos Párias: “loucos somos todos em suma/ uns por pouca coisa/ outros por coisa alguma”. E para não esquecer que o carnaval é também um momento político: “vai querer, vai querer/ bota pra moer/ vai querer, vai querer/ pra gente poder/ sem temer sem temer sem temer”, segue a letra, entre explícita e sutil.
Para o corredor da folia, o Criolina terá como convidados a Bateria da Favela do Samba, o bloco Fuzileiros da Fuzarca, a cantora Rosa Reis e o DJ Pedro Sobrinho, além da participação especial a cantora Elza Soares, entre o estrondoso sucesso de A mulher do fim do mundo [2015] – uma das faixas é intitulada Pra fuder (de Kiko Dinucci, de algum modo antecipando o diálogo com Bota pra moer) – e as gravações de Deus é mulher, novo disco que lançará este ano.
Para o videoclipe, o Criolina contou com as participações especiais de Rosa Reis, Lucas Santtana (que participaram do BR 135 ano passado), Chico César e Zeca Baleiro (que animaram o Bloco do Baleiro ano passado), acompanhados de João Simas (guitarra), Sandoval Filho (teclado) e Thierry Castelo (bateria). A direção do clipe é de Arthur Rosa França, com imagens (em São Luís) de Laila Razzo e direção de estúdio de Rovilson Pascoal (em São Paulo) e Alê Muniz (em São Luís).
Assista o videoclipe de Bota pra moer (Celso Borges/ Alê Muniz/ Luciana Simões):
João Madson em raro registro sem cavanhaque. Foto: Arquivo O Estado do Maranhão
Conheci João Madson há quase década e meia, ali pelas imediações do Bar de Seu Adalberto (Praia Grande), onde, à época, acontecia o evento semanal A Vida é uma Festa!, capitaneado pelo poeta-músico ZéMaria Medeiros, há tempos transferido para a Companhia Circense de Teatro de Bonecos. Já era uma lenda do underground local, sempre acompanhado de um copo, um cigarro e um sorriso.
“Se melhorar, estraga”, sua voz talhada pelos vícios respondia sempre ao invariável “como vão as coisas?” que eu disparava toda vez que o reencontrava, sempre impecável cavanhaque (a antiga foto em p&b que ilustra este post é exceção), amarelado de fumo, ele, há décadas, radicado em São Paulo.
Chegamos a trabalhar juntos, na Faculdade São Luís, onde ele prestava consultoria ou coisa que o valha em marketing; tinha formação em jornalismo e publicidade e equilibrava-se entre as áreas e a música, sua paixão.
Compositor menos conhecido do que deveria, é autor de um punhado de clássicos, ao menos para mim. Um exemplo é Sinhá Madona, sucesso de Rogéryo du Maranhão, lembrada pela jornalista Andréa Oliveira, ao lamentar em uma rede social o falecimento do artista, vítima de enfisema pulmonar, na madrugada de ontem (16), aos 62 anos. O compositor registrou a música com adesão de Gabriel Melônio em São João Madson Com Vida, último disco gravado por ele, em 2003.
“Dorme em sono perfeito/ minha antiga cidade/ sinhá, vou buscar o dia/ antes da claridade// Corre, Sinhá Madona/ bem de frente da janela/ vem ver como é bela a lua/ que se esconde no coqueiro/ vem ver como é bonito/ meu boi dançar no terreiro”, diz a letra. O cd é recheado de participações especiais: Didã, Rosa Reis, Alê Muniz, Erivaldo Gomes, Eliésio, entre outros.
Em shows recentes a cantora Alexandra Nicolas anunciou que gravará O segredo do coco. “Essa, quem me ensinou a cantar foi Didã” – intérprete da música em São João Madson Com Vida –, geralmente anuncia, antes de começar: “Tira o coco do coqueiro/ bota pra quebrar/ tira o leite desse coco/ que eu quero tomar/ rala o coco, soca o coco/ pra cunhã coar/ que o segredo do coco é peneirar// O segredo do coco é o leite/ o azeite na hora de apurar/ é o cheiro cheiroso na cozinha/ cunhãzinha preparando o jantar// Traz tucupi/ traz tacacá/ taca o coco na cuia/ pra cunhã coar”, diz a letra.
Uma vez irrompeu Bagdad Café adentro, em plena Praia Grande, cantando Stalone Strauss, cujos vocais divide com o sobrinho Alê Muniz no disco derradeiro: “Me dê um tom e um tema/ que eu vou cantar um poema/ um roteiro pra cinema/ enredo de carnaval// Me dê um tipo e um trato/ que eu faço mesmo é no ato/ só me assine um bom contrato/ que eu quero é virar o tal// E vou gravar um cd/ do bom da eme pê bê/ para estourar no Japão// Você só vai me ver/ em clipes da eme tê vê/ no Domingão do Faustão// E vou trocar o meu nome/ por outro que se consome/ um nome comercial/ um nome bem estrangeiro/ só pra ganhar mais dinheiro/ vou ser Stalone Strauss”, transbordava irreverência.
Em 2005 venceu o Festival Maranhense de Música Carnavalesca, promovido pelo Sistema Mirante de Comunicação, com seu Frevo na chuva: “E foi aí que eu te achei na chuva/ foi um barato muito legal/ você toda molhadinha/ só entrou na minha/ por que era carnaval// E era frevo na chuva/ quero ver, quero ver, quero ver/ você no meu guarda-chuva/ quero ver, quero ver, quero ver/ Venha, vamos botar pra moer/ eu e você fazendo o frevo ferver”.
É dele também um dos mais astutos jingles de propaganda político-partidária que já ouvi: quando candidata a prefeita em 2004, Helena Heluy (PT) tinha como adversários Ricardo Murad, João Castelo e Tadeu Palácio. Madinho, como era carinhosamente chamado pelos amigos, mandou bem: “Não quero Murad Castelo/ nem mesmo erguer Palácio/ amo demais São Luís/ eu quero é ser feliz/ é 13 de cima abaixo// Helena, o Lula lá já falou/ eu voto em quem vale a pena/ por isso eu voto em Helena/ pra nossa ilha do amor” – cito de memória, a exemplo das outras letras lembradas neste post.
Este obituário traz alguns poucos exemplos da genialidade de João Madson. Sua perda é, em si, uma tragédia. E revela outra: nossa falta de cuidados com a memória, em tempos virtuais. Experimentem “dar um google” com o nome dele (o que fiz, à cata de foto para ilustrar esta singela homenagem póstuma): as ocorrências são insignificantes (inclusive demorei a publicar este texto em busca de foto decente para ilustrá-lo).
Trupe do Laborarte em foto de data e autoria não identificadas. Da esquerda para a direita: Claudio Ribeiro, Zeca Baleiro, Joãozinho Ribeiro e Jorge “Cara de Borracha”; abaixo: Jorge do Rosário, Rosa Reis, Paulinho Oliveira e Saci Teleleu
Diversos movimentos convergiram para o nascente Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão, o Laborarte, fundado em 11 de outubro de 1972. Música, teatro, artes plásticas, fotografia, cultura popular: para tudo havia espaço em seus departamentos, ocupados por nomes que fariam história neste estado, como Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Sérgio Habibe, Murilo Santos, Wilson Martins, Regina Telles, Tácito Borralho, Rosa Reis, Nelson Brito, Mestre Patinho, Dona Teté e Joãozinho Ribeiro, entre outros, em diferentes épocas.
O Labô, como é comumente chamado pelos mais íntimos, completa 43 anos domingo (11) e preparou vasta programação, inteiramente gratuita, para comemorar. Ano que vem, o casarão 42 da Rua Jansen Müller (Centro) será enredo da Escola de Samba Flor do Samba no carnaval.
Ao longo da programação (veja completa ao final do post), uma videoinstalação apresentará documentários, espetáculos e outros acervos históricos do Laborarte, acumulados ao longo de mais de quatro décadas de atividades ininterruptas.
Entre as montagens iniciais merecem destaque Espectrofúria [1972], recentemente reencenada, sobre texto de Eduardo Lucena, que recebeu o prêmio de Melhor Plasticidade no Festival Nacional de Teatro Jovem em Niterói/RJ, Os Sete Encontros do Aventureiro Corre-Terra ou O Cavaleiro do Destino, de Josias Sobrinho e Tácito Borralho [prêmio Mambembe de 1978], Agonia do Homem [1972], poemas de Nauro Machado adaptados por Otto Prado, Mártir do Calvário [1973], em que Ubiratan Teixeira interpretou Pilatos, e Marémemória [1974], baseado no livro-poema homônimo de José Chagas, cuja foto de Josias Sobrinho e Cesar Teixeira fazendo um par de violeiros encabeça este blogue.
De 30 anos de Laborarte, reportagem do último, aliás, cato informações para este texto. O do compositor-fundador foi publicado em 19 de outubro de 2002 no Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, do Jornal Pequeno, e está também na coletânea Maranhão Reportagem [Clara Editora, 2002], organizada por Félix Alberto Lima.
Entre os destaques da programação de aniversário, acontece hoje (9) a noite de autógrafos dos livros Cantigas Divinas, em que Camila Reis, com transcrições de Gustavo S. Correia e ilustrações de Layo Bulhão, transpõe para partituras, cantos entoados nos festejos do Divino e na dança do Cacuriá, e Vem cá curiar o cacuriá, de Inara Rodrigues, sobre a dança em que ambas as autoras dão – ou já deram – passos. O primeiro tem patrocínio da Fundação Cultural Palmares e Ministério da Cultura; o segundo foi premiado no Concurso Literário Cidade de São Luís.
Moda, dança e poesia dão o tom da noite de amanhã (10). A partir das 20h Tieta Macau, Deuzima Serra, Moisés Nobre e Raimunda Frazão – uma das homenageadas da 9ª. Feira do Livro de São Luís – apresentam performances nas áreas.
Na sequência, Joãozinho Ribeiro atrela à programação de aniversário do Laborarte o show que tem apresentado ao longo deste ano, lançando seu disco de estreia, Milhões de uns – vol. 1. Nesta ocasião, a apresentação terá as participações especiais de Josias Sobrinho e Rosa Reis.
“Para mim é uma honra e um prazer fazer valer o dito popular, “o bom filho à casa torna”. Minhas relações com o Labô têm tempo e história”, declarou o compositor, autor da maioria das músicas do espetáculo carnavalesco-teatral Te gruda no meu fofão. “Alegria maior ainda é poder dividir o palco com Josias Sobrinho e Rosa Reis, nomes de importância fundamental, em diferentes épocas, para o surgimento e a continuação do Laborarte nas trincheiras em prol de nossa cultura popular”, continuou. “Darei um presente ao Laborarte, o público pode esperar uma surpresa”, prometeu, deixando o mistério no ar.
A noite de sábado guarda espaço ainda para show das Afrôs e a programação se encerra no domingo de aniversário (11), com um cortejo do Cacuriá de Dona Teté na Feira do Livro (Praia Grande), às 17h30, cujo encerramento também acontece na data.
Como afirmou Cesar Teixeira em seu texto de há 13 anos, “nomes de pessoas e considerações sobre o trabalho do Laborarte não caberiam nesta página – dariam um livro”. Faça parte dessa história!
Programação
Hoje (9), a partir das 20h
Receba! – Dança, Negritude, Pertencimento, com Luana Reis
Noite de autógrafos dos livros Cantigas Divinas, de Camila Reis, e Vem Cá Curiar o Cacuriá, de Inara Rodrigues
Instalação fotográfica Chuseto, de Jesús Pérez
Videoinstalação – documentários, espetáculos e outros acervos históricos do Laborarte
Roda de Capoeira Angola com os mestres Nelsinho, Patinho e convidados
Shows de Rosa Reis e Camila Reis
Palco livre
Amanhã (10), a partir das 20h
Exibição de vídeo de Moda e intervenção Beltranesca, com Tieta Macau
Solo de dança popular com Deuzima Serra
Performance Poéticas, com Moisés Nobre, Raimunda Frazão e convidados
Show de Joãozinho Ribeiro – Lançamento do cd Milhões de uns, com participação especial de Josias Sobrinho e Rosa Reis
Cânticos aos 43 anos de Laborarte
Show das Afrôs
Domingo (11), às 17h30
Cortejo do Cacuriá de Dona Teté na 9ª. Feira do Livro de São Luís (Praia Grande)
Até a abertura dos cursos de música das universidades Estadual e Federal do Maranhão a Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo, fundada em 1974, foi, durante muito tempo, responsável pela formação da quase totalidade de nossos músicos em atividade. Durante um bom período foi também questionada com base em uma equação simples: se a maioria dos músicos ali formados iria atuar com cultura popular, em carreiras solo ou em grupos, por que a base do currículo era erudita?
As coisas vêm mudando pouco a pouco, mas partindo dessa premissa, a musicista Camila Reis Brito lança hoje (17), às 19h, no Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro), com entrada franca, o livro Cantigas Divinas [Laborarte, 2015, 41 p., distribuição gratuita, disponível para download no site do projeto], conjunto de partituras de músicas executadas por caixeiras, na Festa do Divino Espírito Santo e no Cacuriá – dança tipicamente maranhense originada na festa e coreografada em seu encerramento. O livro será distribuído gratuitamente a escolas, bibliotecas e instituições de ensino de música.
Filha de dois expoentes da cultura popular do Maranhão, o ator e diretor Nelson Brito e a cantora Rosa Reis, Camila, qual os pais, membro do Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte) e brincante do Cacuriá de Dona Teté, pioneiro e mais famoso grupo da dança, indagava-se o porquê de nunca ter visto, no currículo de sua formação musical, peças – do Divino e do cacuriá – que faziam parte de seu círculo de convivência na cultura popular.
Daí surgiu a ideia de Cantigas Divinas, realizado pelo Laborarte com patrocínio da Fundação Cultural Palmares e Ministério da Cultura, em que ela e o cantor, compositor e professor Gustavo S. Correia transcrevem 20 partituras de músicas bastante conhecidas de foliões e “folioas” do Divino (e do cacuriá). A obra é ilustrada por Layo Bulhão, coordenador do Festival de Arte Contemporânea do Maranhão e da revista Insight Photo.
As cantigas são apresentadas “em linguagem infantil e didática com o objetivo de possibilitar que estas músicas façam parte de trabalhos de iniciação musical e de fazer um registro destas em formato de partitura”, afirma a autora na apresentação do livro. O livro de Camila deve interessar não só a maranhenses, já que a Festa do Divino Espírito Santo é uma manifestação de catolicismo popular presente em todo o território nacional.
Nas páginas de Cantigas Divinas estão contemplados um breve histórico acerca da festa, de quem a faz, do cacuriá, além de um glossário. Nas partituras estão cantigas de todas as fases dos festejos. O leitor ou músico, como se em procissão, passeia por versos que emocionam, como “meu Divino Espírito Santo/ a vossa capela cheira/ cheira cravo, cheira rosa/ cheira flor de laranjeira” (de Cheira flor de laranjeira), a músicas tornadas hits pela saudosa voz de Almeirice da Silva Santos, mais conhecida pela alcunha de Dona Teté. Quem não já cantou (e/ou dançou) o Choro de Lera, Passarinho verde, Mariquinha, Jacaré e Jabuti? Todas as músicas do livro são de domínio público.
Cantigas Divinas reúne em sua feitura as doses certas de necessidade, ineditismo, devoção e paixão. Um livro importante não só para os que fazem a cena da cultura popular do Maranhão, mas também para eruditos e mesmo àqueles que só cantam no chuveiro ou ninando as crianças.
O percussionista, que já integrou grupos como o Regional Tira-Teima, Instrumental Pixinguinha e Espinha de Bacalhau, é o 42º. entrevistado da série Chorografia do Maranhão
Mais conhecido como Carbrasa, o percussionista João José Pinto Silva não sabe a origem do apelido. Um vizinho começou a chamá-lo e pegou.
Nascido em Cururupu, em 17 de abril de 1954, Carbrasa aportou na Ilha capital aos 13 anos de idade, motivado pela vontade de estudar. Aos 18, como carteiro, começou nos Correios, de onde ainda é funcionário.
Carbrasa é filho de João Pedro Silva, proprietário de embarcação, “tinha o Iate São João e transportava mercadorias”, e Maria Ferreira Pinto Silva, doméstica.
O percussionista participou de alguns dos grupos mais importantes do samba e choro no Maranhão, tendo integrado o Instrumental Pixinguinha – primeiro regional maranhense a gravar um cd, já sem ele na formação –, Regional Tira-Teima – o mais longevo em atividade, prestes a lançar disco de estreia – e o Espinha de Bacalhau.
Hoje Carbrasa integra o Três no Choro, formado por três Joões: ele, João Neto [flautista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 2 de fevereiro de 2014] e João Eudes [violonista sete cordas, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 16 de fevereiro de 2014].
Fazia uma tarde nublada em São Luís quando Carbrasa concedeu seu depoimento à Chorografia do Maranhão, o 42º. da série, na Fonte do Ribeirão.
Foto: Rivanio Almeida Santos
De onde vem o apelido Carbrasa? Meu nome é João José Pinto Silva e eu venho de uma cidade do interior chamada Cururupu. Lá, se você verificar, tem bastante pessoas que são músicos, compositores. Um exemplo disso é Tião Carvalho. Vim pra São Luís, aqui estou há mais de 50 anos. Na minha adolescência eu vim morar num bairro chamado Boa Vista, entre o Monte Castelo e Camboa. Depois fui morar num bairro chamado Vila Bessa. Nesse bairro, na Rua Nova, precisamente, defronte à minha casa tinha uma pessoa que nós fizemos uma grande amizade. Ele toca violão, e nós estudantes de segundo grau, depois vestibular, ele foi ser bioquímico e farmacêutico. Mas ele era daqueles camaradas que gozava de todo mundo. Não sei por que cargas d’água ele me colocou esse apelido de Carbrasa. Aí ficou no bairro: Carbrasa, Carbrasa, Carbrasa… Lá perto, no bairro, tinha um restaurante, naquela época, aqui chamavam restaurante de base: Base do Germano, Base do Rabelo… essa era a Base do Edilson, um senhor que tomava de conta, era o dono da base, ele e a esposa dele. Eu tinha começado a trabalhar, hoje ainda sou funcionário dos Correios, e nos finais de semana, principalmente aos sábados, nós íamos para a Base do Edilson tomar cerveja e fazer uma brincadeira lá, de violão e percussão. Lá nós, eu e mais três amigos, Joacilo [Frota, cavaquinista, hoje perito criminal em Imperatriz], Luiz Carlos, começamos a fazer uma roda, violão e percussão, um ganzá, um tamborinzinho, e as pessoas gostavam, tanto é que a conta nós não pagávamos. As pessoas que estavam nas mesas e gostavam de nossa apresentação musical pagavam. Daí essa coisa foi evoluindo. Depois esse meu amigo aprendeu a tocar cavaquinho, já fazia umas coisas de choro, aqueles choros de Waldir Azevedo, próprios para cavaco, ele já fazia aquilo ali.
Como era o ambiente musical de tua infância? O que você ouvia quando era criança? Lá no interior era música popular brasileira da época. Nelson Gonçalves, Jamelão, Orlando Silva. No interior acontecia o festejo, Nossa Senhora das Graças, e o Carnaval. Quando viemos para São Luís eu já comecei a separar, já fui ouvir Chico Buarque, principalmente, Caetano, Gil, a nata da música popular brasileira. Mas também não deixando de lado o que se chamou na época de Jovem Guarda, Roberto Carlos nem tanto, mas o resto da Jovem Guarda.
Você ainda lembra muito da infância em Cururupu? Recordo. Na verdade eu vim embora para São Luís com 13 anos. Lembro de colégio, das brincadeiras de roda. Meu lugar, eu nasci num povoado, Valha-me Deus, numa das ilhas do arquipélago de Maiau, nas reentrâncias maranhenses, são várias ilhas, cada uma um povoado. Era uma ilha que eu considero um paraíso, guardadas as devidas proporções. Eu volto lá até hoje, meu irmão tem casa lá, eu até convido vocês para irem um dia visitar o lugar. Tem um festejo lá, o Festejo de Nossa Senhora das Graças, em maio, é uma festa grande. Vai muita gente de São Luís, tanto conterrâneo como pessoas do entorno, de outros povoados, Ajerutiua. A atividade de sustento das famílias era a pesca, somente pesca. Como é uma ilha, não permitia você ter plantios, a força mesmo era a pesca. Na minha família são cinco irmãos, quatro homens e uma mulher.
Não tinha muita musicalidade envolvida? Não tinha. Lá só tinha um serviço de alto-falante. Não lembro se nesse serviço de alto-falante tocava choro, por exemplo. No rádio, meu pai comprou um rádio, a gente ouvia principalmente a rádio Educadora e a Difusora, que tinham uma potência maior na transmissão, aqueles programas que rodavam música popular brasileira. Quando eu vim embora para São Luís, lá onde eu morava tinha Seu João, acho que ele já até morreu, esse senhor, e nos finais de semana ele botava os discos dele de choro, Jacob [do Bandolim], Carlos Poyares.
Aquilo já te chamava a atenção? Que idade você tinha? Já. De 13 pra 14 anos. Me chamava a atenção, pô, que música é essa?
Com 13 anos de idade o que te trouxe à São Luís? A vontade de querer estudar.
Você veio sozinho, então? Vim sozinho, morar com uma tia. Fui estudante de colégio público, Universidade. Sou bacharel e licenciado em Geografia.
Você chegou a exercer a profissão? Não. Eu fui trabalhar nos Correios e eu não fui para o lado de professor.
A partir de quando e de que estímulo você passou a se envolver com música? A partir da minha adolescência, quando eu fui morar na Vila Bessa e eu conheci esse amigo. Antes, já tinha um grupo de pessoas no Caminho da Boiada, apesar de eu não morar lá, mas conheci as pessoas, no carnaval nós saíamos nos blocos de rua. Depois, no Caminho da Boiada, existia um bloco chamado Turma do Lamê, um dos primeiros blocos organizados, eu participei desse bloco, durante vários anos. Era aquela coisa do samba enredo, nós fazíamos aquela coisa do samba. A música, o que me despertou maior interesse, foi exatamente o samba. Daí, consequentemente, veio o choro, junto.
Você sempre foi percussionista? Que instrumentos você toca? Sempre fui percussionista. Toco pandeiro, na verdade, meu primeiro instrumento percussivo profissional foi um instrumento chamado timba. É um atabaque atravessado na horizontal tocado com uma vassourinha de aço, a mão direita na vassourinha, a mão esquerda no couro. Esse instrumento, eu tive contato com ele quando Roberto Rafa [cantor e compositor], que morava também lá na Vila Bessa, essa coisa de ele me conhecer tocando lá na Base do Edilson, com Joacilo, a gente fez amizade, ele sempre participava de festivais de música popular maranhense, e ele me chamava, às vezes, para fazer um zabumba, e eu ia com ele. Depois ele começou a tocar na noite, num barzinho chamado Duas Nações. Do lado da Prefeitura [o prédio sede da Prefeitura Municipal de São Luís, na Praça Pedro II, Centro] tem um local agora que é uma coisa de tambor de crioula [o Centro Cultural Mestre Amaral], era a Base da Lenoca, e antes era o Bar Duas Nações. Lá tinha uma música ao vivo e Roberto Rafa foi pra lá. Como ele precisava de uma percussão, ele me chamou.
Isso era mais ou menos quando? Década de 1980. Ele viu uma pessoa chamada Biriba, que tocava essa percussão, dessa forma. Biriba viu alguém no [Hotel] Quatro Rodas tocando isso [timba], um cidadão chamado Paulo Tripa, era paulista, veio com o irmão, Joran Coelho, tocar no Quatro Rodas. Lá em São Paulo essa coisa era muito difundida, essa timba. Ele aprendeu, aí, “Carbrasa, Biriba aprendeu a tocar uma percussão, tu não quer aprender com ele?”. Eu disse que precisava do instrumento, a vassourinha, para saber como era a levada. Biriba foi lá em casa, me passou a informação, em meia hora eu já estava tocando, modéstia à parte. Isso foi numa quinta, quando foi na sexta, a gente já foi para o bar, lá pro Duas Nações. Aí começamos a fazer MPB.
Você começou fazendo MPB com Roberto Rafa. E tua inserção nos grupos de choro, deu-se a partir de quando? Com essa coisa de tocar com Joacilo, fui conhecendo outras pessoas, aí já me apresentaram um pandeiro. Só que o pandeiro, na época, não existia pandeiro em São Luís. Existiam uns pandeiros com uma platinela diferente, não era pandeiro como é hoje. As platinelas eram diferentes do que são essas platinelas, hoje côncavas. Fui apresentado a uma pessoa, não lembro o nome, ele me passou a forma de como se toca o pandeiro hoje. A minha namorada, que hoje é minha esposa, foi para o Rio e de lá ela trouxe um pandeiro da Ao Bandolim de Ouro [famosa loja carioca de instrumentos musicais, reduto de chorões]. Mas antes, para eu tocar, eu comprei um pandeiro que tinha as platinelas diferentes, e tinha uma pessoa, Joquinha, do 310 [o Regional 310, famoso grupo de samba e pagode do circuito ludovicense], ele fazia, não sei de que forma, as platinelas côncavas, e a gente ouvia esse som que se ouve hoje. Também não me passou a forma de como ele fazia, a gente entregava o pandeiro para ele, ele arrumava, e ia. O pandeiro melhor que eu tive, eu ganhei de presente, da Ao Bandolim de Ouro. Aí já comecei a tocar pandeiro, aí chegou Paulo Trabulsi [cavaquinista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 22 de dezembro de 2013], começando a tocar cavaquinho, eu já comecei a conhecer as pessoas, tipo Biné [do Cavaco], Zequinha [do Sax], os Irmãos Gomes [o trio se completa com o violonista Bastico, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 22 de junho de 2014], conheci Agnaldo [Sete Cordas, violonista sete cordas, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 17 de março de 2013], conheci mestre Sampaio [violonista sete cordas], mestre Serra da Flauta [Serra de Almeida, flautista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 3 de março de 2013], e outros que tocavam, que já morreram, que tocavam choro. Dos que estão vivos aí, mestre Pitoco, tocava sax, com esses todos eu toquei choro, participei de rodas. Grupos mesmo foi quando fui convidado para compor o Regional Tira-Teima.
Então você chegou a compor o Tira-Teima durante uma época? Sim. Lembro muito bem que era bandolim, Adelino Valente [bandolinista e pianista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 20 de julho de 2014], violão era mestre, o mestre dos mestres, que eu considero, Ubiratan Sousa [multi-instrumentista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 12 de maio de 2013], Fernando Cafeteira [violonista], Vieira [Antonio Vieira, compositor e percussionista], na percussão, Hamilton Rayol [cantor], que fazia voz, o cavaquinho base era Paulo Trabulsi. Aí depois eu saí. Até hoje o Tira-Teima se mantém, com outra formação. Depois disso eu já conheci Jansen [o bandolinista César Jansen, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 21 de setembro de 2014] e outros mais novos do choro, Juca do Cavaco [Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 13 de abril de 2014], a gente tinha um grupo, a gente sempre saía. Aqui na Rua do Ribeirão existia um barzinho, onde é a secretaria [pensativo, tenta lembrar], como é o nome dessa secretaria aqui? [os repórteres respondem: Fundação Municipal de Cultura]. Embaixo dessa secretaria tinha um bar chamado Cafofo, lá nós nos reuníamos, eu, Juca, Vadeco [percussionista], Natan, todas essas pessoas tocavam choro. Tocam choro! Nós com nossas namoradas, éramos um grupo grande, mais de 10 pessoas. Todo fim de semana ou estávamos no aniversário de alguém, ou no Cabeça Branca, um bar que tinha na Ponta d’Areia. Depois veio o grupo Alma Brasileira, que teve vida curta, muito curta mesmo, depois fui para o Regional Pixinguinha [o grupo Instrumental Pixinguinha]. Na época que a Escola de Música [do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo] era na Rua Antonio Lobo, esse grupo ensaiou a Suíte Retratos [do maestro gaúcho Radamés Gnattali], era a peça principal, e outros choros, para compor o repertório do espetáculo, que apresentamos no teatro [Arthur Azevedo]. Acho que foi o show de choro, em São Luís, que eu participei, e o melhor que eu já vi, acabamento, arranjos, detalhes. Tanto é que ensaiamos quase oito meses.
Então você é um dos fundadores do Pixinguinha? Sim, fundador do Pixinguinha. Eu, Jansen, Biné, Paulinho [Santos, flautista], Solano [o violonista sete cordas Francisco Solano, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 26 de maio de 2013], Domingos [Santos, violonista sete cordas, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 16 de março de 2014] e Marcelo [Moreira, violonista]. Esse era o Regional Pixinguinha.
Quando você aprendeu a tocar já estava praticamente adulto. Ainda estava morando com teus pais? Eles não criaram nenhum problema nessa tua opção pelo batuque? É, eu tinha por volta de 17 anos. Não criaram, até me incentivaram.
Você conciliou os estudos? Estudos, trabalho. Eu já trabalhava na época, era carteiro. Fiz o concurso dos Correios com 18 anos, foi logo meu emprego.
Se você tivesse que definir quem foi o seu principal mestre, quem você apontaria? Percussão? [pensativo] Deixa eu pensar. Que me ensinou percussão, assim, eu não tive um professor específico. Eu ia pela coisa da intuição e do interesse de aprender, de ouvir, colocar o ouvido naquilo ali e depois fazer e executar. Logicamente que eu rendo graças a essa pessoa chamada de Biriba, que me ensinou e daí eu fui desenvolvendo. Com essa percussão eu toquei durante muito tempo, com [os cantores] Lula Bossa, com J. Nogueira. Nos bares da vida, na noite de São Luís, praticamente com todo mundo, com Betto Pereira [cantor, compositor e artista plástico], principalmente com ele. O primeiro local em que tocamos foi um bar chamado Cabeça de Peixe, na Camboa, começamos lá, eu e Betto, violão e timba. Depois fomos incorporando outras pessoas ao grupo, Zezé da Flauta [Zezé Alves, flautista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 9 de junho de 2013], Jeca de percussão e Mauro Travincas de contrabaixo. Eu lembro muito bem que a gente fez até uma bandinha chamada Amor de Canela. Nós ensaiávamos essa banda lá na casa de Betto, a gente passava o repertório para tocar no Cabeça de Peixe. Depois fomos tocar no Bar Ruínas, na avenida Beira Mar, subindo a Rua do Egito. Era Ruínas por que lá eram só pedras, sem reboco. Tocamos em outros locais. A noite de São Luís acontecia ali na [avenida] Castelo Branco. Eu, Betto Pereira e Zezé fomos tocar na inauguração de um bar, chegou um cidadão e ele simplesmente pegou o extintor de incêndio, bêbado, abriu, aquele pó químico e sujou todo mundo. Era o bar Trem das Onze. Depois esse barzinho acabou, mas não em função deste episódio, mas aconteceu isso [Carbrasa batuca o pandeiro posando para fotos].
Você já viveu de música? Ou a música sempre foi uma atividade complementar? A música para mim sempre foi uma atividade complementar, nunca sobrevivi de música. Já recebi cachês, que complementam a minha renda familiar. Eu continuo tocando, não com a mesma intensidade que era na época. Hoje eu participo de um grupo de choro chamado Três no Choro, eu, João Eudes e Neto, a gente toca todo sábado na Caves du Vin. São três Joões. Como Neto viajou, acho que foi defender a dissertação dele lá em Minas, aí nesse mês agora, quem vai tocar lá é Robertinho Chinês [bandolinista e cavaquinista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 28 de abril de 2013].
Além de grupos como o Tira-Teima, Instrumental Pixinguinha, Alma Brasileira e Três no Choro você também já participou de grupos de samba. Quais foram? De grupo profissional eu participei do Arco Samba. Por que Arco Samba? Arco era nossa associação dos Correios, uma associação recreativa. A associação na época comprou os instrumentos pra gente, éramos eu, Jansen, Raimundo Luiz [bandolinista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 15 de setembro de 2013], Josebel, que saiu dos Correios, Bento, que era funcionário dos Correios, mas morreu, Djalma, que tocava ganzá. Foi feito pra gente fazer uma coisa informal na associação, a gente se reunia para tomar cerveja, as pessoas foram conhecendo e chamando a gente para tocar, nas casas de São Luís. E teve também o Espinha de Bacalhau, eu, Vadeco, Chico Chinês [percussionista], Benivaldo [percussionista], o violão sempre quem tocava era Costa Neto, era considerado no violão. Às vezes ele não ia, chamavam João Eudes, Luiz Jr. [violonista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 4 de agosto de 2013] Se bem que Luiz Jr. quando foi, eu já tinha saído. Dos novos eu já tive contatos, amizades com todo mundo, Robertinho, Wendell [Cosme, bandolinista e cavaquinista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 24 de novembro de 2013], mais recentemente Rafael Guterres [cavaquinista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 18 de maio de 2014], ele organiza grupos para tocar em eventos, me chama para tocar.
Hoje você está só no Três no Choro? O Espinha de Bacalhau acabou? É. Do Espinha de Bacalhau eu saí. Atualmente eu só integro o Três no Choro.
Além de percussionista você desenvolve outras habilidades na música? Não. Só toco percussão. Qualquer dos instrumentos populares brasileiros, os instrumentos de samba todos.
Você já participou de gravações de discos? Lembra alguns? Já. [pensativo]. Não sei se esse disco já está pronto, mas do grupo Café com Leite e Pão, um grupo de samba que é Neto, Quirino [percussionista]. Gravei no primeiro disco de Rosa Reis, com o Pixinguinha, ela gravou Estrela, de Joãozinho Ribeiro, o grupo participou. Disco de carnaval, eu fiz um ano toda a parte de percussão.
E shows? Que artistas você acompanhou além de Roberto Rafa? Betto, Lula Bossa, passei seis anos tocando com ele. Desses que hoje são famosos praticamente todos. Com Lula Bossa foi aí que me apurou mais o ouvido para a questão da bossa nova. Nós fomos também colegas de colégio. De figuras nacionais participei de shows de Dona Ivone Lara e Diogo Nogueira. Fiz participação tocando também com J. Nogueira, hoje ele mora em Londrina, grande voz. Eu participei também de um grupo que não tinha nome, era eu, Paulo Trabulsi, Serra e Sadi [Ericeira, violonista], irmão de Paulo.
Para você o que significa o choro, qual a importância dessa música para você? Em termos de música brasileira, instrumental, é a principal música para mim. É a música que eu mais gosto de tocar. Ela exige muito.
Você se considera um chorão? Eu me considero. Pela experiência que eu tenho, pelo tempo vivido tocando choro, a coisa formal, a informalidade, as rodas de choro. Só por isso aí eu já me considero um chorão.
Com roteiro musical baseado nos diversos momentos da festa do Divino Espírito Santo, que tradicionalmente acontece em diversas cidades maranhenses, o show Divinas Folioas será apresentado na próxima sexta-feira (22), às 21h, no Teatro Arthur Azevedo.
As folioas – o dicionário registra o termo “folionas” – que comandarão o espetáculo são Jacy Gomes, Luzia Assunção, Maria Rosa, Rosa Barbosa e Roxa. As direções geral e artística são assinadas por Rosa Reis, que ao lado de Tayse, fará participação especial.
O quinteto de caixeiras será acompanhado por Hugo (violão), Zezé Alves (flauta e direção musical) e Danilo Santos (clarinete). A produção é do Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão, o Laborarte, de acordo com o material de divulgação recebido por este blogue.
O repertório contempla a abertura da tribuna, buscamento, batizado e levantamento do mastro, dança das caixeiras, alvorada, alvoradinha, Santana, salvas do Divino e outros cânticos tradicionais e o carimbo das caixeiras. Da ficha técnica constam ainda os nomes de Márcio Vasconcelos (fotos e arte), Maurício Vasconcelos (fotos e arte), Tamara Marques (figurino e maquiagem), Cláudio Vasconcelos (cenário) e Oscar Castro (iluminação).
Os ingressos podem ser adquiridos antecipadamente na sede do Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro) ou na bilheteria do teatro, no dia do espetáculo. Custam R$ 30,00 (preço único).
Diretora de Divinas Folioas, a cantora Rosa Reis, respondeu as seguintes perguntas ao blogue.
Desde sua fundação o Laborarte tem tido um papel importante na pesquisa e difusão de manifestações da cultura popular do Maranhão, fazendo jus a seu nome. Divinas Folioas se insere nesta trajetória. Qual o espaço destas manifestações, hoje, em tempos de apelo a uma música de mais fácil consumo pelo mercado, em geral desvinculada de quaisquer tradições? Sim, o Laborarte tem oferecido à população oficinas de toques e cânticos de caixas, contribuindo com a formação de novas caixeiras, e com o conhecimento dos vários momentos da festa do Divino, desde a abertura da tribuna, quando o Espirito Santo desce, até o momento de fechamento e logo a seguir o carimbó das caixeiras. O espaço ainda é a população dos terreiros, dos barracões, dos pesquisadores e estudiosos, do povo que tem fé na terceira pessoa da santíssima trindade. A música ainda está no contexto da religiosidade, mas pode ser trabalhada em vários aspectos. Eu mesmo, no meu trabalho, já gravei músicas do divino com arranjos de guitarra e outros instrumentos.
Qual a importância de um espetáculo como este, no sentido de colaborar para a divulgação e perpetuação das tradições em torno da festa do Divino Espírito Santo? Queremos dar visibilidade ao trabalho das caixeiras com um espetáculo onde o público possa apreciar a individualidade de cada uma, o canto com seus timbres e melodias, os sons percussivos dos tambores, no caso as caixas, com suas variações nos toques e andamentos, e ao mesmo tempo passar informação e conhecimentos sobre o ritual da festa, em que momentos se faz essa cantiga ou aquele toque; e dessa forma contribuir para a divulgação deste rico espetáculo.
Em agosto passado, as caixeiras dialogaram respeitosamente com o jazz da cubana Yillian Canizares, durante seu show em São Luís, na programação do Lençóis Jazz & Blues Festival. O que significou para você ter presenciado e participado daquele momento sublime? Foi uma forma de mostrar a população que a música do Divino é universal, que pode ser tocada com outros instrumentos sem perder a sua essência, a sua sonoridade. Foi um momento mágico e de muita sabedoria da cubana em ter convidado o grupo. Sem preconceitos.
Em edição anterior da Tribo do Pixixita, a cantora Flávia Bittencourt, acompanhada pelo Instrumental Pixinguinha, com Chico Nô ao pandeiro. Foto: Taciano Brito
Não conheci José Carlos Martins (1/4/1952-12/4/2002), o Pixixita, pessoalmente. Sua fama, no entanto, está impregnada de tal modo na cidade que é impossível não se sentir, de algum modo, próximo dele.
Alguns músicos citaram-no como professor, amigo ou influência, ao longo da série Chorografia do Maranhão. A um deles, Ricarte Almeida Santos, um dos parceiros da empreitada, respondeu: “eu não tive a honra de conhecê-lo, mas conheci Nelsinho, um cara bacana, gente fina”.
É por aí.
Nelsinho é filho de Pixixita. Também é, já, uma espécie de lenda urbana, professor de capoeira, o sorriso sempre a iluminar a ensolarada São Luís, que vez em quando a gente encontra flanando por aí, por aqui, por ali.
Pixixita era professor da Escola de Música. Feições indígenas, entre a inocência de um curumim e a sabedoria de um pajé. Mais que a música, sua grande paixão, o professor foi um cultivador de amizades.
Maranhense de Imperatriz, o cantor e compositor Chico Nô é um dos que não escondem a amizade, admiração, carinho, respeito e saudades de Pixixita, falecido em 2002, em um acidente automobilístico.
Em 2004, no evento semanal A vida é uma festa, Chico Nô homenageou o mestre amigo. Da tertúlia capitaneada pelo poetamúsico ZéMaria Medeiros, a Tribo do Pixixita – como passou a ser chamada a homenagem – ganhou vida própria e não existe abril sem ela, no calendário cultural da cidade que Pixixita tanto amou.
Produzida por Luiza Maria, Chico Nô e Nelsinho, a Tribo do Pixixita chega em 2015 à sua 12ª. edição, agregando uma constelação de craques da música produzida por estas plagas (sem contar os que aparecem sem ser anunciados), mais “pixixitesco” impossível: Angela Gullar, Beto Ehongue, Chico Nô, Chico Saldanha, Criolina, Erivaldo e Didã, Flávia Bittencourt, Gerude, Instrumental Pixinguinha, Josias Sobrinho, Marcos Magah, Ronald Pinheiro, Rosa Reis e Sérgio Habibe.
A festa acontece no Malagueta (Renascença II), neste sábado (11), às 20h30. Os ingressos custam R$ 20,00, à venda no local.