Revirando o passado do avesso

Avessa manhã. Capa. Reprodução

 

Avessa manhã [2017], o novo disco de Tutuca Viana, é uma espécie de bootleg. A maior parte do conjunto de nove canções remonta aos anos 1980 e foi encontrada em uma velha fita k7. O cantor e compositor acercou-se de talentosos instrumentistas para trabalhar.

Comparecem Israel Dantas (violões, guitarras, direção musical e arranjos), Marcelo Carvalho (piano), Ricardo Cordeiro (contrabaixo) e Wallace Cardozo (bateria), além das participações especiais de Zé Renato (voz em Que prazer), Nicolas Krassik (violino em Meu grande amor e Índio guri), Zé Américo (acordeom na faixa-título) e Gabriel Grossi (gaita em Que prazer).

Atualmente mais conhecido como o bem sucedido produtor dos festivais de jazz e blues dos Lençóis e de São José de Ribamar, Avessa manhã marca também o reencontro de Tutuca Viana com estúdios e palcos.

O disco tem ecos do Clube da Esquina e da música popular que se produzia no Maranhão entre as décadas de 1980 e 90, no rastro do sucesso do LP Bandeira de Aço, lançado por Papete em 1978. Para termos ideia do peso do passado, é um disco “com gosto de guaraná e bolo”, para citarmos um verso de Broto (João Marques), gíria em desuso, que há décadas designava mulheres jovens e bonitas.

“Eu mostrei a música para [o compositor Jards] Macalé e ele me disse que era a cara do Zé Renato. Mostrei para Zé Renato, ele adorou, e topou participar”, revela Tutuca, sobre a participação de um dos convidados especiais do disco – que estará no palco no show de lançamento, amanhã (1º/3), às 21h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro). Os ingressos, à venda na bilheteria do Teatro, custam R$ 30,00 (com direito ao cd). A outra convidada do artista para o show é a cantora Tássia Campos.

Sozinho ou em parceria, Tutuca assina sete das nove faixas do disco. A faixa-título é uma parceria sua com Reinaldo Barros (in memorian), a quem Avessa manhã é dedicado. Reflexo de sua atuação como produtor – certamente Tutuca Viana será descoberto como cantor e compositor agora para a geração mais nova –, o disco traz elementos de rock, jazz, blues e balada.

Merecem destaque ainda Segredo, parceria com Sérgio Habibe, artista de uma geração anterior à de Tutuca Viana, e Índio guri (Zezé Alves e Ricardo Valente), que fecha o disco.

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Veja o clipe de Que prazer (Tutuca Viana), com participações especiais de Zé Renato e Gabriel Grossi:

Hilário e comovente

Foto: Zema Ribeiro

 

Goste-se ou não do ABBA, o grupo sueco está nos escaninhos da memória coletiva mundial: basta tocar um de seus hits no rádio para fazermos uma viagem particular no tempo, lembrando da infância, dos discos que nossos pais ouviam, ou de versões como Fernando, sucesso no Brasil com a paraguaia Perla.

É a este universo que nos conduz Mamma Mia!, “o musical baseado nos hits do ABBA”, como anuncia o programa. A peça tem direção musical de Paulo Cardoso, direção geral de Josué da Luz e coreografia de Rebeca Carneiro.

Com grande elenco – são 26 atores no palco – a Vertu Casa de Artes, após êxitos de público com A bela e a fera (três sessões esgotadas no Teatro Arthur Azevedo em 2015) e A família Adams (duas em 2016), encenou ontem (3), também para um TAA lotado, o musical com composições de Benny Andersson e Björn Ulvaeus – a metade masculina do ABBA, autores dos hits do roteiro. O grupo que se completava com Anni-Frid Lyngstad e Agnetha Fältskog, sendo o nome do grupo um acrônimo com as iniciais dos nomes de seus integrantes –, e versão brasileira de Claudio Botelho para o libreto de Catherine Johnson, já adaptado ao cinema em 2008, com direção de Phyllida Lloyd e Meryl Streep no papel de Donna Sheridan.

São duas horas de espetáculo, em dois atos, com a memória afetiva passeando por versões em português (são raros os números cantados na língua original) de sucessos radiofônicos como I have a dream, Honey, honey, Money, money, money, Chiquitita, Dancing queen, S.O.S., The winner takes it all e Waterloo, além da música que dá nome ao espetáculo, entre muitas outras.

Entre os números musicais costura-se a trama da comédia, de não poucos momentos de gargalhadas gerais: Sophie (Lara Sabbag), de 20 anos, mora com a mãe, Donna Sheridan (Jéssica Monteiro), dona de um pequeno hotel nas ilhas gregas, onde se passa toda a história. Lendo o diário da mãe, descobre que esta teve relacionamentos com três homens – Sam Carmichael (Leonardo Fernandes), Bill Austin (João Carvalho) e Harry Bright (Nestor Fonseca) – e, por conta própria, convida os três para seu casamento, a fim de descobrir qual deles é seu pai e ser levada até o altar.

Também merecem destaque as atuações hilariantes de Kerlys e Bricia Queiroz, que interpretam Tanya e Rosie, amigas de Donna, com quem tiveram uma banda na juventude, além dos Pedros Monteles (Sky, noivo de Sophie) e Danilo (Pepper, empregado do hotel de Donna).

Entre as angústias em torno da descoberta da paternidade de Sophie, muitas lembranças do passado vêm à tona, nesta comédia romântica que emociona e faz sorrir – nunca em doses pequenas.

Serviço

A Vertu Casa de Artes apresenta hoje (4), às 19h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), a última sessão de Mamma Mia! Os ingressos, à venda na bilheteria do teatro, custam entre R$ 25 e 40.

Chorodança

O choro – ou chorinho, como também é conhecido – comporá a programação da 10ª. Semana Maranhense de Dança, que este ano homenageará a bailarina Ana Duarte, assassinada em São Luís em março passado.

Grupos que se dedicam ao gênero serão uma espécie de anfitriões para a programação no Teatro Arthur Azevedo, de cuja diretoria partiu o convite ao Clube do Choro do Maranhão.

A programação de choro dentro da Semana Maranhense de Dança tem início amanhã (6), quando às 17h, em palco na lateral da bilheteria do TAA (próximo ao bar), se apresenta o Regional Tira-Teima, mais antigo grupamento de choro em atividade na capital maranhense, na ativa desde a década de 1970.

Em vias de lançar seu primeiro disco, Gente do choro, prometido para este ano, o grupo é formado por Paulo Trabulsi (cavaquinho solo), Francisco Solano (violão sete cordas), Luiz Jr. (violão sete cordas), Serra de Almeida (flauta) e Zé Carlos (percussão). O primeiro é o atual presidente do Clube do Choro do Maranhão. Ele comemorou a parceria com o TAA e afirmou que a ideia é oferecer o choro enquanto música genuinamente brasileira a bailarinos e coreógrafos, para que estes se inspirem no gênero para pensar suas coreografias e performances. “Nossa proposta [do Clube do Choro do Maranhão] é, além deste espaço, levar saraus musicais a outros lugares da cidade para formação de plateia e difusão do gênero”, afirmou.

O Instrumental Pixinguinha nos jardins da EMEM. Foto: divulgação
O Instrumental Pixinguinha nos jardins da EMEM. Foto: divulgação

Na quarta-feira (7), no mesmo horário, é a vez do Instrumental Pixinguinha, formado no final da década de 1980 por professores da Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo (EMEM). O grupo é pioneiro: foi o primeiro maranhense a lançar um disco inteiramente dedicado ao choro, Choros maranhenses, de 2005. João Neto (flauta), Juca do Cavaco, Domingos Santos (violão sete cordas), Raimundo Luiz (bandolim) e Nonatinho (percussão) são os integrantes de sua formação atual.

A programação continua na sexta-feira (9), após o aniversário da capital maranhense. Também às 17h será a vez da mais recente formação chorística da ilha: o Quinteto Samba Choro, formado por Zeca do Cavaco (cavaquinho centro e voz), Gabriela Flor (percussão) e Francisco Neis (violão seis cordas). A formação se completa com Paulo Trabulsi (cavaquinho solo) e Francisco Solano (violão sete cordas), ambos também membros do Tira-Teima, que já teve Zeca do Cavaco entre seus integrantes.

Sábado (10) o horário muda, mas a participação de grupos de choro continua: às 15h, no mesmo local, se apresentará o Núcleo de Choro da EMEM, formado em dezembro de 2014 por estudantes da instituição, sob a coordenação dos professores Nonatinho (percussão), Raimundo Luiz (bandolim) e Zezé Alves (flauta).

“Temos muitos talentos e percebemos isso no dia a dia da Escola de Música. Eles são o futuro, sendo fundamental a criação de espaços para as apresentações desse gênero musical, para que o choro possa ganhar mais espaço na cidade”, afirmou o professor Nonatinho no material de divulgação da programação.

Celso Brandão, diretor do TAA, comentou a parceria. “A proposta da programação dentro da Semana Maranhense de Dança é difundir o gênero musical mais brasileiro e divulgar o trabalho que vem sendo realizado pelo Clube do Choro do Maranhão, com ações de difusão cultural na realização de saraus musicais em espaços públicos da cidade”, afirmou.

As apresentações dos grupos de choro, bem como toda a programação da Semana Maranhense de Dança, têm entrada franca.

Mais Choro – Outros projetos que têm contribuído para a difusão do gênero musical, a formação de plateia e a ocupação de espaços públicos da capital e do interior, são o RicoChoro ComVida na Praça e o Samba e Choro na Praça, produzidos pela RicoMar Produções Artísticas e Máquina de Descascar’Alho, respectivamente. Com espetáculos gratuitos, os projetos são patrocinados através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão: o primeiro pela TVN; o segundo pela Companhia Energética do Maranhão (Cemar).

O baile da Banda Mirim

Cena de Sapecado. Foto: Georgia Branco

 

Oito anos depois de sua montagem original, o espetáculo Sapecado, da Banda Mirim, chega à São Luís nesta quarta-feira (15), graças ao apoio da Petrobras – a montagem original foi possível graças ao apoio do Programa de Ação Cultural, da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.

Em 2008, ano da primeira montagem, Sapecado levou diversos prêmios: Associação Paulista de Críticos de Arte de melhor texto e melhor espetáculo, Femsa de Teatro Infantil e Jovem de melhor trilha sonora original e melhor espetáculo infantil, Cooperativa Paulista de Teatro de melhor espetáculo juvenil e melhor trilha original, Júri Guia da Folha de melhor espetáculo infantil e Revista Veja de melhor espetáculo infantil.

A trilha sonora e direção musical, um espetáculo à parte, são assinadas por Kléber Albuquerque e Tata Fernandes. A trupe é formada por elenco estelar, que mescla atores e músicos, entre os quais nomes que figuram em fichas técnicas de discos e shows de artistas como Ceumar, Chico César, Itamar Assumpção e Zeca Baleiro, todos figuras de destaque na música brasileira, parceiros dos autores da trilha.

Marcelo Romagnoli assina texto e direção do espetáculo. Baseada em São Paulo, a selva de aço e concreto, a Banda Mirim, 12 anos de estrada, cai na estrada com um espetáculo que tem uma estrada por cenário: Assunta Felizarda de Jesus (Claudia Missura) vive sozinha na roça, acompanhada apenas por seu cachorro Rex (Edu Mantovani). Um dia recebe um convite, trazido pelo carteiro Adauto (o excelente cantor Rubi), para ser madrinha do casamento da comadre Dete Mandioca. Juntos, os três cruzam a estrada do Bromongó até a Vila do Sapecado para participar do baile.

Parte dos 70 minutos do musical infantil se passa na viagem até a festa. As lembranças de uma infância vivida no interior forneceram elementos para Romagnoli construir o texto. “Lá a música rodeava tudo. Era dupla que cantava, era baile na igreja, sanfoneiro pelo caminho, rádio AM. Tinha história de mata cerrada, rio, bicho, noite escura, estrada de terra, que nem a estrada do Bromongó, onde a alma é grande e a gente é pouca”, conta o diretor em release distribuído aos meios de comunicação.

Cena de Sapecado. Foto: Andrea Pedro
Cena de Sapecado. Foto: Andrea Pedro

Amizade, fraternidade e respeito são valores que permeiam o espetáculo, no fundo pensado para crianças de qualquer idade. “São temas que para nós, da Banda Mirim, são legados importantes, para dizer às crianças o que nós acreditamos como adultos: que o amor, a amizade e o sublime ainda são possíveis”, continua.

A ida de Assunta, Adauto e Rex ao baile é ilustrada musicalmente por parcerias de Kléber e Tata, entre um fox de trilha sonora para o namoro de vacas e sapos no brejo ou o desafio-repente entre a Benzedeira e o Coisa-Ruim na mata fechada. “Uma das coisas mais prazerosas deste trabalho foi podermos mergulhar musicalmente nesse universo da música caipira, na poesia, no humor, nas danças, nos ritmos deste Brasil profundo, desse lugar que é um outro tempo”, revela Albuquerque.

Com elenco formado por 11 artistas, a apresentação da Banda Mirim acontece nesta quarta-feira (15), às 15h e às 19h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), ambas com entrada franca – ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência na bilheteria do teatro.

A primeira sessão é voltada a alunos de escolas públicas e instituições de defesa dos direitos da criança e do adolescente; a segunda, aberta ao público em geral. A trupe realizará ainda em São Luís dois encontros artísticos: um com grupos de teatro, músicos, estudantes de artes cênicas e agentes locais dedicados às artes para crianças e jovens, no espaço Re(o)cupa (Rua Afonso Pena, 20, Centro); outro com crianças, mestres e brincantes do tradicional Bumba Meu Boi de Maracanã, na sede da agremiação, na comunidade homônima.

Na passagem pela Ilha a Banda Mirim fará ainda doações de CDs, livros e revistas a escolas públicas, instituições, associações comunitárias, grupos de teatro e cultura popular participantes dos encontros, artistas, músicos e entidades envolvidas nas atividades realizadas nas cidades da turnê, que passa também por Belo Horizonte, Brasília e Goiania.

Assista clipe do musical:

Ficha Técnica

Texto e direção: Marcelo Romagnoli
Trilha sonora e direção musical: Kléber Albuquerque e Tata Fernandes
Elenco: Claudia Missura, Rubi, Tata Fernandes, Simone Julian, Nina Blauth, Nô Stopa, Foquinha, Olívio Filho, Lelena Anhaia, Edu Mantovani e Alexandre Faria
Figurinos: Verônica Julian
Assistente de figurinos: Maria Cristina Marconi
Cenário e desenho de luz: Marisa Bentivegna
Cenotécnicos e contrarregras: Luiz Cláudio Fumaça, Jean Marcel e Rodrigo Oliveira
Engenheiro de som: Ernani Napolitano
Danças brasileiras: Silvia Lopes
Consciência corporal: Gisele Calazans
Direção de movimento: Cláudia Missura
Produção executiva: Andrea Pedro
Assistente de produção: Bianca Muniz
Apoio: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura, Programa de Ação Cultural (PAC) de 2008
Patrocínio Circulação 2016: Petrobras

Serviço

O quê: Musical Infantil Sapecado
Quando: quarta-feira (15), 15h (sessão especial para alunos de escolas públicas e crianças e adolescentes atendidos por instituições de defesa dos direitos da criança e do adolescente) e 19h (sessão aberta ao público). Apresentações com intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras)
Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro)
Quanto: entrada franca. Retirada de ingressos na bilheteria uma hora antes do início da apresentação.
Classificação indicativa: livre. Recomendado a partir de cinco anos.
Duração: 70 minutos

Nome comum, artista raro

Divulgação
Divulgação

 

Não houve lista de melhores discos lançados ano passado a que Silva não comparecesse com seu Vista pro mar (2014). Com este show o músico aporta hoje (2) pela primeira vez em São Luís: a apresentação acontece às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), sob a chancela da Musikália Produções, do radialista Gilberto Mineiro. Os ingressos, à venda no local, custam R$ 30,00.

Coalhado de timbres e texturas sonoras particulares, o som de Silva evoca os anos 1980: é como se ele traduzisse a musicalidade daquela década com a tecnologia disponível hoje. Mas engana-se quem pensa em passadismo ou saudosismo pura e simplesmente. O cantor e compositor capixaba ataca de sintetizadores e toca outros instrumentos (é graduado em violino por uma faculdade capixaba) – no disco e no palco – em repertório completamente autoral – as 11 faixas de Vista pro mar são assinadas por Silva (Lúcio Silva de Souza) com o irmão Lucas Silva. Fernanda Takai participa de Okinawa.

Algumas letras falam em mar, tema evocado na capa de seu segundo álbum de carreira – sucessor de Claridão (2012) –, em que seu rosto aparece “desfigurado” por uma “onda”. “Eu não nasci do mar/ Mas sou daqui/ Já mergulhei pra não sair/ Quem é de preamar/ Se encontra aqui/ Não há mais maré-baixa/ Em mim/ Eu sou de remar/ Sou de insistir/ Mesmo que sozinho/ Só vai se afogar/ Quem não reagir/ Mesmo que sozinho”, diz a letra da faixa-título. Será que o poluído mar da Ilha lhe inspiraria?

Parte do disco foi gravada além-mar, em Lisboa, Portugal, por onde o músico passou em turnê e acabou na trilha sonora de uma novela portuguesa – Imergir, de um EP inaugural, lançado em 2011, embalou o enredo da global Além do horizonte.

No show de logo mais, o repertório passeia por músicas dos dois discos mais o EP. O show de abertura fica por conta do pré-lançamento de Alice ainda, de Nathália Ferro.

Vejam o clipe de Volta, gravado em Angola.

Folia divina no Teatro

Divulgação
Divulgação

 

Com roteiro musical baseado nos diversos momentos da festa do Divino Espírito Santo, que tradicionalmente acontece em diversas cidades maranhenses, o show Divinas Folioas será apresentado na próxima sexta-feira (22), às 21h, no Teatro Arthur Azevedo.

As folioas – o dicionário registra o termo “folionas” – que comandarão o espetáculo são Jacy Gomes, Luzia Assunção, Maria Rosa, Rosa Barbosa e Roxa. As direções geral e artística são assinadas por Rosa Reis, que ao lado de Tayse, fará participação especial.

O quinteto de caixeiras será acompanhado por Hugo (violão), Zezé Alves (flauta e direção musical) e Danilo Santos (clarinete). A produção é do Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão, o Laborarte, de acordo com o material de divulgação recebido por este blogue.

O repertório contempla a abertura da tribuna, buscamento, batizado e levantamento do mastro, dança das caixeiras, alvorada, alvoradinha, Santana, salvas do Divino e outros cânticos tradicionais e o carimbo das caixeiras. Da ficha técnica constam ainda os nomes de Márcio Vasconcelos (fotos e arte), Maurício Vasconcelos (fotos e arte), Tamara Marques (figurino e maquiagem), Cláudio Vasconcelos (cenário) e Oscar Castro (iluminação).

Os ingressos podem ser adquiridos antecipadamente na sede do Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro) ou na bilheteria do teatro, no dia do espetáculo. Custam R$ 30,00 (preço único).

Diretora de Divinas Folioas, a cantora Rosa Reis, respondeu as seguintes perguntas ao blogue.

Desde sua fundação o Laborarte tem tido um papel importante na pesquisa e difusão de manifestações da cultura popular do Maranhão, fazendo jus a seu nome. Divinas Folioas se insere nesta trajetória. Qual o espaço destas manifestações, hoje, em tempos de apelo a uma música de mais fácil consumo pelo mercado, em geral desvinculada de quaisquer tradições? Sim, o Laborarte tem oferecido à população oficinas de toques e cânticos de caixas, contribuindo com a formação de novas caixeiras, e com o conhecimento dos vários momentos da festa do Divino, desde a abertura da tribuna, quando o Espirito Santo desce, até o momento de fechamento e logo a seguir o carimbó das caixeiras. O espaço ainda é a população dos terreiros, dos barracões, dos pesquisadores e estudiosos, do povo que tem fé na terceira pessoa da santíssima trindade. A música ainda está no contexto da religiosidade, mas pode ser trabalhada em vários aspectos. Eu mesmo, no meu trabalho, já gravei músicas do divino com arranjos de guitarra e outros instrumentos.

Qual a importância de um espetáculo como este, no sentido de colaborar para a divulgação e perpetuação das tradições em torno da festa do Divino Espírito Santo? Queremos dar visibilidade ao trabalho das caixeiras com um espetáculo onde o público possa apreciar a individualidade de cada uma, o canto com seus timbres e melodias, os sons percussivos dos tambores, no caso as caixas, com suas variações nos toques e andamentos, e ao mesmo tempo passar informação e conhecimentos sobre o ritual da festa, em que momentos se faz essa cantiga ou aquele toque; e dessa forma contribuir para a divulgação deste rico espetáculo.

Em agosto passado, as caixeiras dialogaram respeitosamente com o jazz da cubana Yillian Canizares, durante seu show em São Luís, na programação do Lençóis Jazz & Blues Festival. O que significou para você ter presenciado e participado daquele momento sublime? Foi uma forma de mostrar a população que a música do Divino é universal, que pode ser tocada com outros instrumentos sem perder a sua essência, a sua sonoridade. Foi um momento mágico e de muita sabedoria da cubana em ter convidado o grupo. Sem preconceitos.

Música com Z. Com dois ZZ

Foto: Joelma Santos
Foto: Joelma Santos

 

Para alguns a fórmula voz e violão pode estar desgastada. Para outros pode ser um momento de maior intimidade entre artista e público, sobretudo por que permite mostrar as canções mais próximas de sua feitura, além do risco maior ao erro – não há “cozinha” para encobrir qualquer vacilo. O formato enxuto permite ainda maior atenção às letras – o que deve sempre ser valorizado em se tratando do encontro de dois grandes compositores brasileiros.

É quase certo que todas as almas que lotaram completamente o Teatro Arthur Azevedo ontem (18) concordam que o formato “apartamento” do show intimista de Zélia Duncan e Zeca Baleiro enquadra-se na segunda categoria. O espetáculo será reapresentado hoje (19), às 21h, mas parece que os ingressos também já estão esgotados.

Duncan e Baleiro relembraram grandes sucessos seus e músicas importantes para sua formação, contaram causos – principalmente ele –, entre muitos gracejos mútuos, com um quê de teatral, mas bastante espontâneos.

O show que tem circulado por várias cidades brasileiras nasceu de um projeto abortado. Seria no mítico Teatro Castro Alves, em Salvador/BA, e reuniria várias duplas mais ou menos inusitadas. O projeto não aconteceu, mas a turnê do par de Zês, sim.

Como tudo começou na Bahia – como alguns advogam ao falar de samba e de Brasil – logo eles tinham na mão uma letra do lendário Galvão, letrista dos Novos Baianos. Parceria a três, Zélia e Zeca assinaram a melodia de Fox baiano, um dos pontos altos do show, em que Baleiro toca ukulele – a música já é hit em rádios e no youtube.

Por falar em Bahia, ela ataca de Eu queria ela (Amor proibido), de outra lenda viva do samba baiano, Clementino Rodrigues, vulgo Riachão, que ela apresentou dizendo tratar-se de um daqueles compositores populares na verdadeira acepção da palavra, daqueles que fazem músicas que dá vontade de sair cantando junto à primeira audição. Muitos dos presentes certamente não conheciam a música, mas quando Zélia repetiu a primeira estrofe, já cantaram junto com ela: “eu queria ela/ eu queria ela/ mas ela não me quis/ ela não me quer/ é problema dela”. Uma delícia!

“Vou cantar uma de um grande poeta aqui do Maranhão, Fernando Abreu”, Zeca anunciou Alma nova, parceria deles. “Deixa eu ser, por uns instantes, parceira de vocês. Posso, Fernando?”, pediu Zélia humildemente antes de dividirem os vocais.

“Quando começamos a montar o show, cada um trouxe coisas de seu baú afetivo. E eu adorei quando a Zélia trouxe essa aqui, do Roberto e do Erasmo, acho que mais do Erasmo, um lado b, o que em se tratando de Erasmo é quase um lado c”, contou Zeca antes de começarem a cantar Grilos.

Outra história contada por Zeca para gargalhada geral do público foi a seguinte, resumidamente: “uma vez uma colunista social foi entrevistar a Maria Creuza [cantora] e mandou: “como é ser casada com Antonio Carlos e Jocafi”?”. Ele ilustrava a mania quase geral – na qual ele mesmo se incluiu ao anunciar que iria cantar uma música “do Antonio Carlos e Jocafi” – de tratar a dupla como se fossem uma pessoa só. E mandou Você abusou.

Ela também contou um causo: “quando Catedral [versão dela e Christiaan Oyens para Cathedral song, de Tanita Tikaran] estourou eu comecei a rodar o Brasil. E eu sempre tive uma mania de visitar um lugar que muita gente aqui não conheceu, chamado loja de discos. E eu estava em uma loja de discos em Curitiba, sozinha, lá no fundo, quando um rapaz entrou e pediu: “eu quero uma música que tá tocando na novela”. E o vendedor perguntou: “é lenta ou é rápida?”. E ele: “é lenta”. “Quem canta é homem ou mulher?”. E o rapaz: “não sei”. Eu levantei o dedo e falei: “sou eu””.

Um vídeo exibido antes do espetáculo e uma fala idem, apresentando sua ficha técnica, traziam advertências sobre o uso de celulares para fotografá-lo e filmá-lo, devidamente desrespeitadas pela plateia. Com a elegância e o bom humor peculiares, tiraram onda e cantaram o samba inédito Ah, Eugênio (parceria deles com outro novo-baiano, Paulinho Boca de Cantor), sobre facebooks, iphones, selfies e a dependência nossa de cada dia de tecnologias e remédios controlados.

Não faltaram a parceria inaugural da dupla, Se um dia me quiseres, gravada por ela em Pelo sabor do gesto. Daquele disco, pescaram ainda Tudo sobre você (parceria dela com John Ulhoa). Nos momentos em que ficaram sozinhos no palco, primeiro ela, depois ele, ela cantou Tevê, parceria dele com Kléber Albuquerque, e Quase nada, parceria dele com Alice Ruiz, e ele cantou Nos lençóis desse reggae, parceria dela com Christiaan Oyens.

Aplaudidos de pé, voltaram para o bis em que cantaram assim, ampliando a comunhão com a plateia. Ajudados um pelo outro, e em uníssono pelo público, novamente de pé, cantaram Catedral, sucesso dela, e Telegrama, dele, em meio ao qual couberam, incidentais, Engenho de flores (Josias Sobrinho) e Vassourinha meaçaba (Chico Maranhão), fora a incidental natural Estrada do sol (Dolores Duran e Tom Jobim), cujos versos “me dê a mão/ vamos sair pra ver o sol” pareciam iluminar a noite ludovicense com o sol de Leminski: aqueles dois ZZ juntos não significam nem dão sono.

MPB Petrobras trouxe a voz e o violão de João Bosco à São Luís

[Sobre João Bosco, no MPB Petrobras, ontem (3), no Teatro Arthur Azevedo]

 

Foto: MPB Petrobras/Divulgação
Foto: MPB Petrobras/Divulgação

 

O mineiro João Bosco foi o convidado da edição do projeto MPB Petrobras realizada ontem (terça-feira, 3), no Teatro Arthur Azevedo, completamente lotado para assistir a um dos mais importantes violonistas, compositores e cantores brasileiros em atividade.

Dono de obra vasta e diversificada, ele desfilou um repertório de elaborada tessitura, passeando por grandes sucessos, evocando mentores da bossa nova, seus mestres e amigos, de quem contou causos, para diversão da plateia. Sozinho, acompanhando-se ao violão, provava que se basta, como já o fez em diversos discos ao longo da carreira.

Camisa de mangas compridas por fora da calça, boné e tênis davam-lhe um ar jovial e despojado, reforçado pela boa conversa e pelos constantes “obrigado, gente!” com que agradecia a cada aplauso do público.

Foi precedido pela cantora Lena Machado, acompanhada pelo violão sete cordas de João Eudes. Ela confessou o misto de alegria e nervosismo com que recebeu o convite da produção. Nunca é demais lembrar, por exemplo, que quem lançou João Bosco para o Brasil foi o hebdomadário O Pasquim, num disco que trazia o mineiro no lado b, com Agnus Sei (parceria dele com Aldir Blanc). O lado a tinha nada mais nada menos que Águas de março (Tom Jobim). “Era O Tom de Antonio Carlos Jobim e o Tal de João Bosco”, lembrou-se do título lançado em 1972, num dos não poucos momentos em que fez a plateia gargalhar. O resto da história é conhecido: Elis Regina o gravaria e logo João Bosco deixaria de ser apenas um tal para ser reconhecido como um dos grandes da MPB.

Lena e João saíram-se bem em pouco mais de meia hora de apresentação. Ela vinha de um bem sucedido Divino Espírito Samba, cuja banda ele integrou. Prepararam com esmero um repertório que valorizou a produção local, misturando-a a nomes nacionais, conhecidos ou não. O entrosamento era na medida: João mostrou-se um grande instrumentista, sem precisar recorrer a firulas desnecessárias; Lena, grande cantora, também não lhe legou apenas o papel de mero acompanhante. Passearam por Duas ilhas (Swami Jr. e Zeca Baleiro), a óbvia Samba e amor (Chico Buarque), Gracejo (Gildomar Marinho), gravada por ela em Samba de minha aldeia (2009), Curare (Bororó), Namorada do cangaço (Cesar Teixeira), Melhor assim (Daniel Altman e Diego Casas, do grupo paulista Pitanga em pé de amora), Aldeia (Nosly e Celso Borges), que ganhou incidental com trechos de O futuro tem o coração antigo, de Celso Borges, fechando com Dente de ouro (Josias Sobrinho). Não era um show de abertura apenas para cumprir tabela ou exigências contratuais, mas para, como deveria ser sempre, estabelecer alguma ponte, alguma liga com o show principal.

João Bosco atacou, de cara, De frente pro crime (João Bosco e Aldir Blanc). Agradeceu a oportunidade de voltar ao belo palco do Teatro Arthur Azevedo, lembrando-se da última vez em que estivera ali, num show em homenagem a Tom Jobim.

O repertório autoral passou por outros diversos clássicos de sua lavra: Bala com bala (João Bosco e Aldir Blanc), O mestre-sala dos mares (João Bosco e Aldir Blanc), Jade (João Bosco), Memória da pele (João Bosco e Waly Salomão), Agnus sei, Incompatibilidade de gênios (João Bosco e Aldir Blanc), Corsário (João Bosco e Aldir Blanc), O bêbado e a equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc), além da recente parceria com Chico Buarque, Sinhá (gravada por Chico em Chico, de 2011).

Ao interpretar Nação (João Bosco, Paulo Emílio e Aldir Blanc) lembrou-se da amizade com Dorival Caymmi e João Ubaldo Ribeiro. Este último “vivia me dizendo que tinha uma parceria com Caymmi. Eu ficava meio sem acreditar. Um dia ele insistiu e eu perguntei como era. Ele começou, com aquela voz dele [cantarolou, imitando a voz do falecido escritor]: “o telegrama chegou/ o telegrama chegou/ foi tua mãe quem mandou””. Após as gargalhadas gerais da plateia, ele continuou, para provocar uma nova gargalhada: “um dia eu estava com Dorival e perguntei: “ô, Dorival, o João Ubaldo vive dizendo que tem uma parceria contigo. Tem? Como é? E ele começou””. João Bosco cantou os mesmos versos, desta vez imitando a voz do falecido compositor.

Sua porção intérprete lembrou Água de beber (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Águas de março, Lígia (Tom Jobim) e A paz (Leila IV) (Gilberto Gil e João Donato). Antes de cantar Água de beber, celebrou Vinicius de Moraes e sua singular contribuição para a cultura brasileira, “seja na poesia, na literatura ou na moderna música popular. Ele entendia do assunto. Era o único que bebia em serviço e trabalhava melhor que qualquer um. Mas a água de beber não era essa aqui, não”, riu, apontando para duas taças dispostas em um banco a seu lado. “A gente brincava dizendo que Água de beber era acqua vita, é como chamam na Europa diversas aguardentes. Quer ver, vocês que estão aí com seus iphones, procurem aí”, divertiu-se, mesmo chamando sutilmente a atenção para os muitos celulares que insistiam em disparar flashes barulhentos, tocar e receber mensagens no whatsapp.

Completando cerca de hora e meia de espetáculo, o bis ficou por conta de Papel machê (João Bosco e Capinam), que ele, a exemplo do que ocorreu em O bêbado e a equilibrista, praticamente não precisou cantar: apenas acompanhou a plateia ao violão. Ao instrumento, repito, ele se basta. E à plateia.

Temporada celebra 60 anos de Joãozinho Ribeiro

[release]

Compositor realizará shows mensais até o final do ano. Turnê alcançará São Luís e municípios do interior. Nas ocasiões será lançado o disco Milhões de Uns – Vol. 1. Estreia acontece nesta sexta (6), no Bar do Léo

Milhões de Uns - Vol. 1. Capa. Reprodução
Milhões de Uns – Vol. 1. Capa. Reprodução

 

Milhões de Uns – Vol. 1 apresenta uma significativa, embora pequena, parte da obra musical do poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, que completa 60 anos de idade no próximo abril. É o primeiro registro lançado com o autor interpretando sua obra, coalhado de participações especiais, gravado ao vivo em duas memoráveis noites no Teatro Arthur Azevedo, em novembro de 2012 – a exceção é a gravação em estúdio de Elba Ramalho para Asas da paixão (Joãozinho Ribeiro).

É que Milhões de Uns não é apenas título de uma das mais conhecidas músicas do artista, vencedora do Prêmio Universidade FM há mais de 10 anos, na magistral interpretação de Célia Maria. A música que batiza o disco de estreia é a mais perfeita tradução do que são a vida e obra do bacharel em Direito, funcionário público e professor universitário nascido João Batista Ribeiro Filho.

A constelação presente ao disco reflete sua importância para a música produzida no Maranhão ao longo dos últimos mais de 30 anos. Ali estão nomes como o Coral São João, Milla Camões, Célia Maria, Zeca Baleiro, Chico César, Alê Muniz, Lena Machado, Chico Saldanha e Elba Ramalho, a interpretar sambas, choros, blues, reggaes, forrós e marchinhas, o que demonstra a versatilidade de Joãozinho Ribeiro.

Variedade refletida também no leque de parceiros: Betto Pereira (Coisa de Deus), Alê Muniz (Planos urbanos), Chico César (Anonimato), Marco Cruz (Tá chegando a hora) e Zezé Alves (Rua Grande).

O autor e seus convidados são escudados pela banda Milhões de Uns, outra constelação de craques à parte: Arlindo Carvalho (percussão), Danilo Costa (saxofone tenor e flauta), Firmino Campos (vocal), George Gomes (bateria), Hugo Carafunim (trompete), Klayjane (vocal), Luiz Jr. (violão sete cordas, guitarra semiacústica e viola caipira), Paulo Trabulsi (cavaquinho), Rui Mário (sanfona e teclado), Serginho Carvalho (contrabaixo) e Wanderson Silva (percussão).

Se médicos chegaram a desenganar o moleque João aos nove anos de idade, apostando-lhe cinco anos de sobrevida, o menino cresceu, tornou-se Joãozinho Ribeiro e teima em viver e fazer arte, desde um Festival Universitário de Música na UFMA, em 1979. Com seu otimismo quase insuportável, como gracejou Zeca Baleiro durante a gravação do disco, um de seus bordões é “eu não morro nem que me matem”, frase de quem teima em lutar pelas coisas que acredita, como diz outra conhecida canção sua.

Para festejar os seis ponto zero, Joãozinho Ribeiro, sempre acompanhado de convidados especiais, inicia nesta sexta-feira (6), às 20h, no Bar do Léo, uma temporada que circulará por alguns bares e outros espaços ludovicenses e deve descer também a alguns municípios do interior. A ideia é realizar, a partir deste início de março, shows mensais até o fim do ano.

Para a estreia estão escalados Célia Maria e Chico Saldanha. Os shows terão um formato intimista. As apresentações têm entrada franca. Milhões de Uns – Vol. 1 pode ser adquirido na ocasião, no local, e ainda nos seguintes pontos de venda espalhados pela Ilha: Banca do Dácio (Praia Grande), Livraria Poeme-se (Praia Grande), Rodrigo Cds Maranhenses (Praia Grande), Banca do Valdir (Renascença I), Papos & Sapatos (Lagoa da Jansen), Quitanda Rede Mandioca (Rua do Alecrim), Banca do Mundo de Coisas (Renascença II) e Play Som (Tropical Shopping).

Danilo Caymmi encerra ano de homenagens a Dorival Caymmi com show em São Luís

[JP Turismo, Jornal Pequeno, ontem]

Apresentação acontece no Teatro Arthur Azevedo, amanhã (20). O repertório é composto por clássicos de autoria do compositor baiano, que completaria 100 anos em 2014

POR ZEMA RIBEIRO

Danilo Caymmi com o violonista André Siqueira durante apresentação na Ponta do Bonfim em agosto passado. Foto: Doriana Camello
Danilo Caymmi com o violonista André Siqueira durante apresentação na Ponta do Bonfim em agosto passado. Foto: Doriana Camello

 

“Quem não gosta de samba bom sujeito não é”, cravou Dorival Caymmi no antológico Samba da minha terra, recriado por tantos ao longo dos tempos, em especial Os Novos Baianos, uma de suas tiradas imortalizadas para além de palcos e rodas de samba mundo afora.

“O que é que a baiana tem?”, perguntou, para responder em seguida, seu primeiro sucesso a extrapolar os limites do país, imortalizado e para sempre lembrado na voz de Carmen Miranda, a pequena notável.

“Quem quiser vatapá, que procure fazer: primeiro o fubá, depois o dendê”. Como bom baiano Dorival Caymmi era chegado a boa comida, mesa farta. E ensinou receitas de bem viver e boa música. O longevo compositor baiano faleceu em 2008 aos 94 anos.

“Doralice, eu bem que te disse, amar é tolice, é bobagem, ilusão”, advertia a voz de João Gilberto em disco com Stan Getz que acabou por tornar a bossa nova – e consequentemente a música brasileira – objeto de culto em terras estrangeiras. A música é dele, Dorival Caymmi.

Autor de inúmeros clássicos, como demonstram os parágrafos iniciais, o autor de Oração da Mãe Menininha, nos legou também uma prole musical importante para a MPB: é pai de Dori, Nana e Danilo Caymmi.

O terceiro volta à São Luís amanhã (20) para encerrar a temporada de homenagens ao pai, pelo centenário que teria completado neste 2014. Acompanhado dos músicos André Siqueira (violão) e Davi Mello (guitarra), Danilo Caymmi (voz e flauta) apresenta o show Dorival 100 Anos no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), às 20h.

O repertório é inteiramente dedicado à obra de Dorival, mas Danilo deve lembrar também alguns clássicos seus, indispensáveis, caso de Andança (parceria com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós) e O bem e o mal (parceria com Dudu Falcão), tema da minissérie global Riacho Doce.

Com mais de 40 anos de carreira, tendo integrado as míticas Som Imaginário e Banda Nova – que acompanhou Tom Jobim em diversas turnês internacionais – é a segunda vez que Danilo Caymmi visita a Ilha. A primeira foi em agosto passado, quando ele se apresentou para um público restrito no projeto Ponta do Bonfim – Música e Por do Sol, equilibrando no repertório temas autorais e de autoria de seu pai.

2014 foi um ano marcado por diversas atividades alusivas ao centenário de Dorival Caymmi. Foram lançados diversos discos e realizados diversos shows e exposições, em várias partes do Brasil.

Os ingressos para Dorival 100 Anos, à venda na bilheteria do Teatro, custam R$ 40,00 (balcão e galeria), R$ 50,00 (frisa e camarote) e R$ 60,00 (plateia). O show tem produção de 4P Produções, patrocínio de Potiguar Casa OK, Marcos Peixoto Arquitetura, UVA/IDEM, Calado e Correa Advogados Associados e Premier Hotel, e apoio do jornal O Imparcial e Opus Estúdio.

Céu para deleite e delírio

Céu: talento e entrega. Fotosca: Zema Ribeiro
Céu e banda: talento e entrega. Fotosca: Zema Ribeiro

 

O público lotou as dependências do Teatro Arthur Azevedo para a noite de abertura do Festival BR-135, ontem (18). Os ingressos foram trocados por um quilo de alimento não perecível.

Áurea Maranhão é a Tatá Werneck local: todo mundo acha graça, menos eu. A mestra de cerimônias carregou nas tintas ao encarnar uma “aborrecente”, forçando por demais a barra para parecer descolada.

Secretária de Estado da Cultura, Olga Simão era dispensável no púlpito. É tipo “jabuti trepado”, alguém sem nenhuma organicidade. Apesar de o órgão ser um dos patrocinadores do evento – ao lado de Cemar e Vivo –, ela não combinou com o resto da noite.

Acsa Serafim e Otília são talentosas. A primeira cantou uma música autoral e, juntando-se à segunda e ao guitarrista Márcio Glam, emendaram um repertório de covers de Beatles, Janis Joplin – Otília evocou-a nas vestes – e Queen. O Maratuque Upaon Açu acompanhou-os nos dois últimos números e foi interessante vê-los evocar a ciência do pernambucano Chico, mesmo sem citar seu nome ou tocar seu repertório.

O show de abertura era uma espécie de micropanorama da diversidade proposta pelo BR-135, projeto idealizado pelo casal Criolina – os músicos Alê Muniz e Luciana Simões –, que desde 2012 vem movimentando a cena autoral de São Luís.

A noite de ontem (18) era um cartão de visitas do Festival que eles realizam até amanhã (20), no Centro Histórico da capital maranhense. Além de shows estão previstas atividades formativas, através de debates, seminários, palestras, rodas de conversas e negócios, oficinas etc.

O BR-135 pode orgulhar-se de mais um feito, entre tantos mostrados em vídeo, ontem, na abertura do Festival: trouxe à São Luís, pela primeira vez, a cantora Céu, contando 10 anos de carreira, com cd e dvd Ao vivo [2014] recentemente lançados.

Calçando havaianas, o brilho de seu vestido curto reforçou seu brilho: é das mais talentosas cantoras em atividade neste país de cantoras. E é autora de quase todo o seu repertório. O do show de ontem tinha por base Caravana sereia bloom [2012], mais recente álbum de estúdio.

Mas não faltaram músicas de Céu [2006], Vagarosa [2009] e mesmo do Ao vivo. Deste último pinçou suas recriações para Piel Canela, bolero cinquentista de Bobby Capó, do repertório de Eydie Gormé com o trio Los Panchos, e Mil e uma noites de amor, sucesso oitentista de Pepeu Gomes, parceria dele com Baby Consuelo e Fausto Nilo.

Céu (voz, teclado e percussão) estava acompanhada de DJ Marco (scratches e MPC), Dustan Gallas (guitarra, teclado e vocais), Lucas Martins (contrabaixo e vocais) e Bruno Buarque (bateria e vocais), a mesma banda de Ao vivo. Ao cantar o bolero ela os apresentou como “quarteto Los Panchos”.

Ela ainda encarou outros covers: Mora na filosofia, de Monsueto de Menezes e Arnaldo Passos, aparece como incidental em Malemolência [Alec Haiat/ Céu] e Visgo de Jaca, de Rildo Hora e Sérgio Cabral, lançada por Martinho da Vila, ganhou uma interpretação característica desde que a gravou em Vagarosa.

O público delirou com a sequência de reggaes Concrete jungle, Slave driver e Kinky reggae, do antológico Catch a fire, de Bob Marley, disco que completou 40 anos em 2013 e que ela vem tributando em shows há algum tempo. De repente formou-se uma clareira na plateia e os corredores laterais viraram um clube de reggae, com muita gente dançando em pé.

À cantora não faltou simpatia. Elogiou a beleza do teatro e da cidade e revelou que espera voltar o quanto antes. “É muito bom tocar lá fora [no exterior], mas chegar aqui [no Brasil], é outra coisa. Nossa cultura é muito forte”, disse.

Para não deixar de citar, de sua lavra, ela foi de Falta de ar [Gui Amabis], Retrovisor [Céu], Sereia [Céu], Grains de beauté [Céu/ Beto Villares], Cangote [Céu], 10 contados [Alec Haiat/ Céu] e Lenda [Alec Haiat/ Céu/ Graziella Moretto], entre outras.

O bis, magro, trouxe Chegar em mim [Jorge du Peixe]. “Não dá para fazer outro, não há tempo”, justificou-se. Não sei se se referia a algum limite de horário do teatro ou a seu voo de volta ao Rio, onde ela tem show hoje (19), fazendo ao vivo justamente o repertório de Catch a fire.

A depender do público não haveria limite. Céu é o limite.

Danilo Caymmi volta à São Luís para encerrar temporada de homenagens ao pai

[release]

Filho de Dorival Caymmi, músico se apresentou na capital em agosto passado. Show acontece sábado (20), no TAA

Divulgação

Entre tantos eventos e efemérides, 2014 marcou o centenário do compositor baiano Dorival Caymmi, dono de monumental obra talhada ao longo de quase oito décadas de carreira, ele responsável por um sem número de sucessos e por uma das proles mais musicais do Brasil.

Caymmi projetou a musical Bahia que hoje todos conhecemos tendo sido hit na voz de Carmem Miranda. A O que é que a baiana tem?, imortalizada pela brazilian bombshell, seguiu-se obra lapidar que todo mundo, vez em quando assobia, mesmo às vezes desconhecendo seu autor. “Quem não gosta de samba bom sujeito não é”, cravou certeiro numa delas.

O ano foi de muitas homenagens e não faltaram exposições, debates e, principalmente, shows. Juntos ou em espetáculos solo, os irmãos Nana, Dori e Danilo, herdeiros diretos de Dorival, percorreram bons pedaços de Brasil, mostrando o que é que os Caymmi têm.

Danilo Caymmi volta à São Luís para um show inteiramente dedicado à obra do pai. Dorival 100 Anos, o espetáculo, será apresentado no próximo sábado (20), às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro). Os ingressos custam entre R$ 40,00 e 60,00 e estão à venda na Bilheteria Digital (Rio Poty Hotel, até o dia 18) e bilheteria do TAA (na véspera e no dia do show).

Cantor, compositor, flautista e arranjador, Danilo Caymmi esteve em São Luís em agosto passado, quando se apresentou no projeto Ponta do Bonfim – Música e Por do Sol. Com cerca de 40 anos de carreira, era a primeira visita do artista à Ilha, que o encantou.

Danilo Caymmi integrou as míticas Som Imaginário, com Wagner Tiso e outros, e a Banda Nova, do maestro soberano Tom Jobim, tendo feito diversas excursões internacionais, integrando-a. É autor da trilha sonora da minissérie Riacho Doce, baseada na obra de José Lins do Rego, que foi ao ar em 1990 pela Rede Globo, além do clássico Andança, parceria com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, gravada, entre outras, por Beth Carvalho e Maria Bethânia.

O repertório de Dorival 100 Anos concentra-se na produção musical de Dorival Caymmi, mas Danilo não deixará de lembrar sucessos seus, inclusive músicas como Vamos falar de Tereza (tema de Teresa Batista Cansada de Guerra, minissérie baseada na obra de Jorge Amado), parceria dele com o pai.

Dorival 100 Anos tem patrocínio de Potiguar Casa OK, Terra Zoo, Marcos Peixoto Arquitetura, UVA/IDEM, Calado e Correa Advogados Associados e apoio do jornal O Imparcial e Opus Estúdio.

Serviço

O quê: show Dorival 100 Anos
Quem: Danilo Caymmi
Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro)
Quando: dia 20 de dezembro (sábado), às 20h
Quanto: R$ 60,00 (plateia), R$ 50,00 (frisa e camarote) e R$ 40,00 (balcão e galeria)
Maiores informações: (98) 991170970, 996036525 e 991168736

Festival BR 135 será lançado quinta-feira (20) no MHAM

Divulgação

 

Nesta quinta-feira (20), às 19h, no Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM, Rua do Sol, 302, Centro), o duo Criolina, em evento para convidados, lança o Festival BR 135 e o Conecta Música, que ocorrerão em paralelo, em dezembro, na capital maranhense, e prometem sacudir a Ilha.

Já estão anunciados nomes como Céu, Dona Onete, Felipe Cordeiro e Mombojó, além dos selecionados pelo festival (lista completa na imagem acima).

Idealizador do Festival ao lado de Luciana Simões, Alê Muniz afirma que a intenção é mapear os vários Brasis existentes unindo-os através da música. Para ela é preciso “repensar o Centro Histórico, reconhecido patrimônio cultural da humanidade pela Unesco, mas abandonado pelo poder público”. “Nosso maior patrimônio não é o conjunto arquitetônico, mas sua relação com as pessoas da cidade”, provoca Luciana.

Shows – Céu abre o Festival BR 135 dia 18 de dezembro, no Teatro Arthur Azevedo. Os demais shows acontecem na Praça Nauro Machado (Praia Grande), dias 19 e 20. A programação do Conecta Música inclui palestras, oficinas e workshops. O blogue voltará ao assunto.

Confiram Céu em Retrovisor:

Um show para ninguém botar defeito

[Sobre De graça, de Marcelo Jeneci, 17/10, Teatro Arthur Azevedo]

Fotosca: Zema Ribeiro
Fotosca: Zema Ribeiro

 

Marcelo Jeneci já está definitivamente consagrado entre os grandes da chamada nova geração da música popular brasileira. Instrumentista bastante requisitado, nome presente em fichas técnicas de discos e shows de Arnaldo Antunes, Chico César, Vanessa da Mata, Zélia Duncan, Luiz Tatit, José Miguel Wisnik, Mariana Aydar, Vanessa Bumagny, Péricles Cavalcanti e Swami Jr., entre outros, parceiro de alguns, ele provou, em De graça, show apresentado no Teatro Arthur Azevedo, sexta-feira passada (17), que poucas vezes a palavra central da surrada sigla fez tanto sentido.

Se Luiz Gonzaga definiu uma estética musical usando sua sanfona, sobretudo (re)inventando o baião, Jeneci (re)coloca definitivamente o instrumento na música pop, superando qualquer preconceito. Embora sua música, ora vibrante, ora pura dor de cotovelo, esteja mais para Roberto Carlos – mas enquadrá-lo em rótulos e/ou comparações não basta para entender e apreciar a grandeza de sua obra.

O teatro estava absolutamente lotado e o espetáculo foi uma demonstração de cumplicidade entre artista e público como raras vezes se vê. Bastavam poucas notas a cada música para o público vibrar, aplaudir, fazer pedidos, cantar junto e mandar gritos de “lindo” e “linda”, para ele e Laura Lavieri, cantora com que divide os vocais desde Feito pra acabar (2010), seu disco de estreia.

Jeneci pilotou teclados e sanfona, cantou, dançou e acariciou as projeções que serviam de cenário, em momentos de pura beleza. Esbanjando simpatia, desceu do palco empunhando um microfone sem fio, rodou a plateia, “flertou” com uma fã, “tomou” o celular de outra, filmou tudo o que estava acontecendo e terminou o momento fazendo um selfie e devolvendo o celular. Em meio a tudo isso a plateia foi ao delírio, evocando gritos histéricos, apertos de mão e abraços de homens e mulheres.

O cantor e compositor revelou-se emocionado com a oportunidade de estar ali. “É tão raro sermos convidados para tocar por estas bandas”. Confessou-se admirado com a beleza dos Lençóis Maranhenses, que, turista, visitara no dia anterior. “Aquilo é único no mundo. Que bom que vocês têm os Lençóis em sua terra”, derreteu-se em elogios.

O par de vocalistas passeou pelos repertórios de Feito pra acabar e De graça (2013) e Jeneci cantou ainda Vamos passear de bicicleta (Hyldon). “Foi uma música que me apareceu durante a feitura desse disco novo. Diz tudo o que a gente queria dizer, com outras palavras”.

Jeneci (voz, teclado e sanfona) e Lavieri (voz e teclado) foram acompanhados por Regis Damasceno (contrabaixo, violão, teclado), Ricardo Prado (guitarra e teclado), João Erbetta (guitarra), Richard Ribeiro (bateria) e Estevan Sinkovitz (guitarra e teclado).

Não faltaram hits como Alento (Jeneci/ Isabel Lenza/ Arnaldo Antunes), Temporal (Jeneci/ Isabel Lenza), Nada a ver (Jeneci), A vida é bélica (Jeneci/ Isabel Lenza), Julieta (Jeneci/ Isabel Lenza), Dar-te-ei (Helder Lopes/ José Miguel Wisnik/ Jeneci/ Verônica Pessoa), Pra sonhar (Jeneci), Sorriso madeira (Jeneci), Jardim do Éden (Arnaldo Antunes/ Betão Aguiar/ Jeneci), Felicidade (Jeneci/ Chico César) e Pense duas vezes antes de esquecer (Arnaldo Antunes/ Jeneci/ Ortinho), entre outras. Completando quase duas horas de apresentação, o bis, um show à parte, incluiu a faixa-título do disco (Jeneci/ Isabel Lenza), que também batiza o show, e Quarto de dormir (Jeneci/ Arnaldo Antunes). “Essa não estava no repertório, mas depois que eu cheguei dos Lençóis, fui para uma situação de imprensa na Cultura Inglesa [principal patrocinadora do show] e alguns me pediram. Eu resolvi atender”, contou.

De graça é um show (e um disco) para ninguém botar defeito.