“Rede Mandioca do Maranhão: perfil socioeconômico, práticas produtivas e de comercialização” foi lançado sexta-feira passada (14), na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UEMA
TEXTO: ZEMA RIBEIRO FOTOS: BIG
O professor Marcelo Carneiro (ao centro) e parte da equipe de pesquisadores
A secretária executiva da Cáritas Brasileira Regional Maranhão Lucineth Machado
A compreensão da agricultura familiar como um modo de vida, mais que um modo de produção, e a reivindicação de políticas públicas que reafirmem sua importância e relevância para o conjunto da sociedade deram o tom dos discursos durante a cerimônia de lançamento do livro “Rede Mandioca do Maranhão: perfil socioeconômico, práticas produtivas e de comercialização”, realizada na última sexta-feira (14), no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
A obra é fruto de pesquisa interinstitucional que reuniu professores e estudantes da instituição e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), que revela diversos aspectos de grupos produtivos filiados à Rede Mandioca, articulação fundada em 2008, com apoio e assessoria da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, como uma estratégia de combate ao trabalho escravo contemporâneo.
Estiveram presentes representantes das citadas instituições de ensino superior, da Cáritas Brasileira (Secretariado Nacional, Regional Maranhão e Cáritas Diocesanas), o Bispo Referencial da Cáritas no Maranhão, representantes da Secretaria de Estado da Agricultura Familiar e de grupos produtivos filiados à Rede Mandioca.
“É inaceitável e repugnante que em pleno século XXI ainda tenhamos trabalhadores escravizados após a vergonhosa experiência do Brasil colônia”, pontuou Lucineth Machado, secretária executiva da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, referindo-se às origens da Rede Mandioca, que desde sua fundação têm se expandido, atuando em cerca de 50 municípios nas diversas regiões do estado, congregando grupos produtivos para muito além de seu nome, entre agricultores familiares, piscicultores, criadores de pequenos animais, extrativistas, artesãos, pescadores e catadores de materiais recicláveis, todos pautados, como preconiza a carta de princípios da articulação, por princípios da agroecologia e da economia popular solidária.
“Estamos vivenciando algo muito grande, mas ainda pouco conhecido. É um pouco dessa história o que se colocou nesse livro”, continuou Lucineth. “Nós precisamos dar visibilidade à nossa riqueza, aos nossos saberes. A juventude nas universidades colocou seu saber a serviço de quem mais precisa”, disse.
O livro traça um vasto panorama sobre a Rede Mandioca e sua produção sustentável, em contraposição ao agronegócio e aos agrotóxicos. Fruto de mais de 400 questionários aplicados em 23 municípios, a obra aborda aspectos como o perfil dos filiados à rede, características das famílias, situação fundiária e dos sistemas produtivos, comercialização de produtos, participação em diferentes tipos de mercados, práticas produtivas, utilização de insumos agropecuários, características do processamento de derivados de mandioca e perspectivas de investimentos futuros.
“O livro cumpre o propósito de dar visibilidade para a sociedade em geral, mas também entre os próprios integrantes da articulação, de se verem e reconhecerem a importância de seu fazer. É importante fazer o livro circular nas escolas, entre os jovens”, afirmou o professor Evaristo José de Lima Neto, um dos coordenadores da pesquisa. “Rede Mandioca do Maranhão: perfil socioeconômico, práticas produtivas e de comercialização” teve tiragem de 1.000 exemplares impressos e terá versão e-book.
O professor Marcelo Sampaio Carneiro, outro dos coordenadores da pesquisa, lembrou o que o motivou a realizar o trabalho. “Eu percebi estar diante de experiências sofisticadas e diversificadas que deveriam ser conhecidas pelo conjunto da sociedade”, afirmou. E continuou: “a pesquisa sobre a Rede Mandioca deve continuar”.
[texto originalmente publicado na edição impressa do jornal O Imparcial de hoje (20/2/2025)]
Os dados da pesquisa começaram a ser apresentados durante a VII Plenária Estadual da Rede Mandioca realizada em Vargem Grande em 2023 – foto: Zema Ribeiro/ divulgação
VII Plenária Estadual da Rede Mandioca – fotos: divulgação
A Rede Mandioca surgiu em 2008, nas comunidades Riacho do Mel e Vila Ribeiro, na zona rural de Vargem Grande/MA, como uma estratégia de enfrentamento ao trabalho escravo contemporâneo, chaga social que ainda assola o Brasil e o Maranhão.
Com apoio e assessoria da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, a Rede Mandioca passou a congregar grupos produtivos, associações, sindicatos e comunidades, pequenos produtores rurais, extrativistas e artesãos, pautados por princípios da agroecologia e da economia popular solidária.
A articulação vem fazendo um trabalho significativo, dinamizando processos produtivos e inserindo pequenos produtores em redes e estratégias de comercialização antes inimagináveis, contribuindo para mudanças de perspectivas quanto à agricultura familiar.
A Rede Mandioca mereceu a atenção da academia, e uma pesquisa interinstitucional, reunindo pesquisadores das Universidades Federal (UFMA) e Estadual do Maranhão (UEMA), buscou conhecer melhor suas dinâmicas. A pesquisa de campo foi interrompida pelas restrições impostas pela pandemia de covid-19 e retomadas tão logo possível.
Mais de 400 questionários foram aplicados em 23 municípios de atuação da Rede Mandioca, entre outubro de 2022 e agosto de 2023, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema).
O resultado da pesquisa poderá ser conhecido no livro “Rede Mandioca do Maranhão: perfil socioeconômico, práticas produtivas e de comercialização”, organizado pelos professores Marcelo Sampaio Carneiro, Evaristo José de Lima Neto e José Sampaio de Mattos Junior, coordenadores da pesquisa.
“Esse momento é importante, porque vamos compartilhar com o conjunto da sociedade os resultados do trabalho dos pesquisadores sobre a ação desenvolvida pela Cáritas com a Rede Mandioca. Dar visibilidade para essa atividade que ao longo de décadas vem padecendo de invisibilidade no Maranhão. Fala-se muito em desenvolvimento, em grandes projetos, mas muito pouco no trabalho que é desenvolvido pelo povo maranhense através da agricultura familiar e suas diversas cadeias produtivas. Mais do que atividades produtivas, estes são modos de vida do povo maranhense. Padecem também da falta de apoio, da falta de políticas públicas concretas, de investimentos, de assistência técnica. Compartilhar essas informações com a sociedade é chamar a atenção para esse horizonte da agricultura familiar como uma perspectiva de vida, de trabalho, de geração de renda, de alimentos saudáveis. Neste momento em que o mundo está discutindo mudanças climáticas, a gente sabe que a agricultura familiar é a atividade que tem garantido alimento na mesa associada à sustentabilidade do planeta. Esses dados também apontam desafios para nós enquanto organização, e para os gestores públicos para que olhem com maior atenção e priorizem esses segmentos no estado do Maranhão”, pontua Aurilene Machado, da coordenação colegiada da Cáritas Brasileira Regional Maranhão.
“O lançamento do livro representa um momento importante da restituição dos dados coletados pela pesquisa. A primeira etapa foi a apresentação dos resultados no encontro dos 15 anos da Rede Mandioca. Agora, com o livro, oferecemos à sociedade uma visão sobre o perfil dos participantes da Rede, bem como de suas atividades de produção e comercialização. Ao apresentarmos essas informações, oferecemos também uma visão da grande diversidade que caracteriza a agricultura familiar no estado do Maranhão, uma vez que a Rede está presente em quase todas as regiões do estado”, avalia o professor Marcelo Carneiro, um dos coordenadores da pesquisa.
A obra será lançada na próxima sexta-feira, 14 de fevereiro, às 15h, no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UEMA (Rua da Estrela, 472, Praia Grande). O evento contará com as presenças dos coordenadores da pesquisa, pesquisadores, representantes das universidades participantes, representantes de grupos produtivos da Rede Mandioca e representação institucional da Cáritas do Maranhão e Cáritas Nacional. A entrada é franca.
Idealizado e coordenado pelo professor Raimundo Luiz, ex-diretor da Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo, o projeto teve patrocínio da Wilson Sons através da Lei Federal de Incentivo à Cultura
O idealizador e coordenador Raimundo Luiz (o segundo a partir da direita) e professores das oficinas do projeto Música em Ação. Foto: divulgaçãoOficina do núcleo de cordas do projeto Música em Ação. Foto: divulgaçãoApós sua palestra, o professor Daniel Lemos brindou os alunos com uma apresentação. Foto: divulgação
“Eu tinha chegado na sessão na época e fiquei loucamente curioso pra saber que monte de coisa pretinha era aquela. “Ah, isso aqui é música, é partitura!”. Ela me levou à Escola de Música, em 1980, já fora do período de inscrição, me apresentou para a então diretora Olga Mohana. Ela já tinha esse sonho que nós temos até hoje, de ter uma Orquestra Sinfônica no estado. Ela já me viu tocando violino, já me ofereceu o violino pra estudar. Eu não tinha instrumento e queria isso mesmo”.
A fala é de um entusiasmado Raimundo Luiz, multi-instrumentista, professor aposentado e ex-diretor-geral da Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo, em seu depoimento à Chorografia do Maranhão, série de entrevistas publicadas por este repórter com os irmãos Ricarte e Rivânio Almeida Santos, posteriormente reunidas no livro homônimo, publicado em 2018 em parceria pelas editoras Pitomba! e Edufma.
O mesmo entusiasmo segue motivando o integrante do Instrumental Pixinguinha, formado por professores, nos corredores da Emem: Raimundo Luiz poderia estar se dedicando tão somente a curtir a aposentadoria ou as rodas boemias de choro da ilha que adotou o garoto vindo de Jacarequara, povoado de Cedral (Guimarães antes da emancipação), mas o amor pela música e pela educação musical seguem motivando-o a inventar ações como o projeto Música em Ação – Meio Norte Maranhão, que leva oficinas de educação musical, instrumentos e ações de contrapartidas sociais aos municípios de Guimarães e Cedral.
O projeto Música em Ação tem patrocínio da Wilson Sons, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e é uma realização da Sol Maior Produção Musical, que já conta mais de 10 anos de atividades de produção na capital e sobretudo no interior do estado do Maranhão, em projetos artísticos e educativo nos quais tomaram parte integrantes dos corpos docentes das Universidades Estadual e Federal do Maranhão, além da Emem, entre outros. As atividades são desenvolvidas em escolas e sindicatos, através de parcerias com estes e as secretarias municipais de educação, além das próprias prefeituras municipais, que apoiam a iniciativa.
O projeto foi encerrado em fevereiro, tendo atendido mais de 150 alunos com oficinas de musicalização (flauta doce), cordas e sopros. “Estamos muito felizes em trabalhar na formação cultural de crianças e jovens destas cidades”, afirmou Raimundo Luiz, idealizador e coordenador do Música em Ação.
“Nós só temos a agradecer ao professor Raimundo Luiz por proporcionar esse projeto. Guimarães só tem a agradecer por este trabalho, a cidade só tem a ganhar, Guimarães é um grande celeiro musical”, afirmou Osvaldo Gomes, prefeito do município, reconhecido como berço do bumba meu boi sotaque de zabumba.
“Este projeto é algo que nós devemos incentivar e abraçar cada dia mais, para que ele seja fortalecido e possa acontecer. Sou muito feliz por poder ter a minha filha participando desse projeto”, declarou Fernanda Cardoso, mãe de aluna.
Maria Vitória, aluna do núcleo de cordas, também revela, emocionada: “eu tinha muita vontade de um dia pegar num violão, nunca tinha pegado; aí apareceu essa oportunidade e eu aproveitei, estou me sentindo muito bem”. Kahyo Martins, do mesmo núcleo, afirma: “eu gostei muito, a comunidade toda está envolvida, eu espero muito que continue no próximo ano”. Também do núcleo de cordas, Skarlleth Santos, realça o caráter social do ensino da música: “essa oportunidade que abriram para a gente foi muito importante, foi abrindo novas portas, e em vez de o jovem estar em outros lugares, está aqui, curtindo e aprendendo coisas novas. Em Guimarães, além da sede, o projeto chegou também à comunidade de Damásio, graças a uma parceria com o polo 20 do projeto Bombeiro-Mirim.
“A música, além de uma oportunidade de formação, de futuro para quem pratica, mas traz muitos valores juntos, é uma oportunidade de trabalhar educação, respeito, pertencimento, identidade, e é muito bom ver essa equipe trabalhando. Que venham mais projetos como esse, pois as crianças e jovens estão precisando de oportunidades”, afirmou Wagner Ramos, do departamento de responsabilidade social da Wilson Sons, que patrocina o projeto.
O pianista e professor Daniel Lemos, sintetiza: “Para mim foi uma honra tomar parte no projeto, com uma palestra intitulada “A música no currículo escolar”, seguida de uma intervenção musical. Projetos belíssimos como esse, que tem trazido a música para as crianças, mostrando a questão da formação cidadã, do qual a música é um tipo de conhecimento específico e muito importante para o desenvolvimento social de nosso país, o nosso futuro, e também importante destacar a questão da geração de renda, de você trazer os bolsistas, os trabalhadores, jogar esse recurso para regiões do interior, descentralizando o capital. É uma iniciativa muito importante e a gente espera que outras venham a acontecer no futuro. Estão de parabéns todos os membros da equipe, o professor Raimundo Luiz, e será sempre um prazer colaborar com iniciativas tão valiosas como essa”.
Grupo pernambucano chega à São Luís este mês, com oficina e espetáculo musical em duas sessões
O grupo pernambucano SaGrama, um dos mais importantes da música instrumental brasileira em atividade, chega à São Luís nos próximos dias 26 e 27 de maio, em circulação originalmente programada para 2020 – quando completou 25 anos de atividade –, interrompida pela pandemia de covid-19.
A circulação inclui espetáculos musicais e atividade formativa, e é patrocinada pelo Instituto Cultural Vale, com incentivo do Ministério da Cultura (MinC), através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e apoio do Sesc Maranhão, Rádio Universidade e Rádio Timbira. A realização é da Atos Produções, Ministério da Cultura e Governo Federal – União e Reconstrução.
História – O SaGrama surgiu em 1995, por iniciativa do flautista e professor Sérgio Campelo, no Conservatório Pernambucano de Música. O grupo se equilibra na linha tênue entre a música erudita e a música popular, valorizando as tradições culturais nordestinas.
Em 1998 o grupo gravou a trilha sonora original da série/filme “O Auto da Compadecida”, de Guel Arraes, baseada na obra de Ariano Suassuna (1927-2014), veiculada pela Rede Globo. O SaGrama realizou diversas outras trilhas sonoras, dividiu palcos no Brasil e no exterior, com artistas como Alceu Valença, Antonio Nóbrega, Maestro Spok, Silvério Pessoa, Quinteto Violado e Elba Ramalho – cujo cd/dvd “Cordas, Gonzaga e Afins” (produzido por Sérgio Campelo e Tostão Queiroga), de 2015, venceu o 27º. Prêmio da Música Brasileira nas categorias melhor álbum e melhor cantora no ano seguinte e foi indicado ao Grammy latino na categoria Música de raízes em 2017.
Formação – O grupo tem 10 cds lançados, sendo o mais recente “Na Trilha de Uma Missão” (2022), com o cantor Gonzaga Leal, com canções baseadas na pesquisas das Missões Folclóricas (1938) do escritor e musicólogo Mário de Andrade (1893-1945). Atualmente o grupo é formado por Sérgio Campelo (flautas, arranjos e direção artística), Ingrid Guerra (flautas), Crisóstomo Santos (clarinete e clarone), Cláudio Moura (viola nordestina, violão, arranjos e codireção), Aristide Rosa (violão), João Pimenta (contrabaixo acústico), Antônio Barreto (marimba, vibrafone e percussão), Tarcísio Resende (percussão), Dannielly Yohanna (percussão) e Isaac Souza (percussão).
Programação em São Luís – Dia 26 de maio (sexta-feira), das 15h às 18h, o percussionista Tarcísio Resende ministra a oficina “O mundo da percussão reciclável”, no novo prédio do Curso de Música da Universidade Estadual do Maranhão (Uema, Rua da Palma, 316, Praia Grande).
Dia 27 (sábado), é a vez de o SaGrama fazer duas apresentações musicais, no Teatro Sesc Napoleão Ewerton (Condomínio Fecomércio, Av. dos Holandeses, qd. 24, s/nº, Jardim Renascença II): às 16h e às 20h. A primeira sessão é exclusiva para escolas públicas e instituições que trabalhem a inclusão social através da cultura; a segunda, aberta ao público, com o ingresso sendo trocado por um livro (para doação a bibliotecas comunitárias), a partir de duas horas antes do início do espetáculo.
Após a primeira sessão, integrantes do grupo conversam sobre ritmos nordestinos com a plateia (professores e alunos de escolas públicas e instituições que trabalhem com inclusão social através da música), permitindo um maior mergulho do público na obra do SaGrama e nos diversos ritmos tocados pelo grupo. Serão abordados ainda a trajetória, as fontes de referência e a diversidade e riqueza dos ritmos musicais do Nordeste brasileiro. A conversa é, obviamente, ilustrada musicalmente, para identificação e assimilação dos referidos ritmos – o encontro foi pensado como contrapartida social do projeto.
Serviço – SaGrama em São Luís
O quê: Oficina “O mundo da percussão reciclável” Quem: Tarcísio Resende, percussionista do SaGrama Quando: 26 de maio (sexta), das 15h às 18h Onde: novo prédio do Curso de Música da Universidade Estadual do Maranhão (Uema, Rua da Palma, 316, Praia Grande). Quanto: grátis
O quê: apresentações musicais Quem: SaGrama Quando: 27 de maio (sábado), às 16h e 20h Onde: Teatro Sesc Napoleão Ewerton (Av. dos Holandeses, qd. 24, s/nº, Jardim Renascença II) Quanto: primeira sessão gratuita (para escolas públicas e instituições que trabalhem a inclusão social através da cultura); segunda sessão, troca de ingresso por um livro (para doação a bibliotecas comunitárias) a partir de duas horas antes do início do espetáculo.
Patrocínio: Instituto Cultural Vale, com incentivo do Ministério da Cultura (MinC), através da Lei Federal de Incentivo à Cultura Apoio: Sesc Maranhão, Rádio Universidade e Rádio Timbira Realização: Atos Produções, Ministério da Cultura e Governo Federal – União e Reconstrução.
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Ouça “Na Trilha de Uma Missão”, de SaGrama e Gonzaga Leal:
A oficina Trilhas e Tons, coordenada por Wilson Zara e ministrada por Nosly, com assistência de Mauro Izzy, os três, músicos bastante reconhecidos no estado, já percorreu, desde 2013, mais de 30 municípios em todas as regiões maranhenses, sempre com apoio da Companhia Energética do Maranhão (Cemar), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.
Alguns dos aprovados no vestibular participaram da oficina e elogiaram a formação como um fator decisivo para o resultado positivo que alcançaram na seleção.
Caso de Emílio de Jesus Moraes, de Viana. “A oficina itinerante trouxe aos participantes uma forma prática e diferenciada de associar a música, no seu contexto teórico, com as características da música popular. Particularmente serviu de grande apoio e estímulo, pois a forma como o conhecimento musical foi repassado nos possibilita também desenvolver nossos próprios métodos de ensino. Cabe a nós, agora, com o decorrer da formação universitária e possivelmente quando estivermos lecionando a disciplina Música, utilizar também as técnicas demonstradas durante este curso, visando assim o melhor aproveitamento por parte de nossos futuros educandos”, declarou em perspectiva.
“Com certeza foi de grande importância a oficina Trilhas e Tons no meu processo de aprovação no vestibular. Essa oficina veio agregar conhecimentos que eu não tinha. Eu estudo música há um bom tempo, toco sax alto e violão e a oficina me fez ter um conhecimento ainda maior e me ajudou bastante na aprovação no vestibular”, destacou Rodrigo Batista Freitas, também aprovado no polo de Viana.
Natural de São Luís, Syldenilson Santos mora em Arari, polo para o qual foi aprovado no vestibular. Ele também apontou a importância da formação. “Ano passado eu participei da oficina itinerante Trilhas e Tons em Arari. As teorias abordadas no contexto educacional pelo professor Nosly foram de extrema importância e enriquecimento cultural-musical para mim. Mesmo não direcionadas especificamente para a prova, as aulas ministradas pelo professor Nosly abriram em minha vida um entusiasmo esplendoroso, com o sonho de ser aprovado e estudar mais esmiuçadamente a mais bela das artes”, declarou.
“O projeto Trilhas e Tons, além de aprimorar mais meus conhecimentos, veio na hora certa. Faltando dois dias para terminar a oficina veio alguém para falar sobre o seletivo da UemaNet, com vagas para licenciatura em música. O Nosly disse: “façam, pessoal, que vocês passam!”. Ele estava certo. Estou muito grato pelo projeto”, reconheceu José Manoel Lindoso Mendes, o Zeca, vianense que mora em Penalva onde tem uma pequena escola de música, aprovado para o polo Viana.
“Estamos no caminho certo ao educar com música, tendo o despertar para a cidadania como objetivo. Se a semente for bem plantada, o fruto será colhido”, finalizou Nosly, que se declarou contente com o bom desempenho dos cursistas no vestibular.
As táticas Black Bloc são uma demonstração do poder que já existe nas mãos da população, e esse poder é normalmente desconsiderado pela simples existência das chamadas “vias institucionais”. Quando atuamos com ação direta, queremos também chamar atenção a isso, a essa multiplicidade de caminhos para atender as reivindicações sociais e à ineficiência de se utilizar apenas um, especialmente um que é viciado pelo próprio sistema onde está inserido. Queremos demonstrar que política também se faz com as próprias mãos. (Roberto, 26 anos, manifestante anarquista Black Bloc em entrevisa por e-mail à CartaCapital )
Manifestação com tática Black Bloc
Ondas de manifestações varreram o país de cabo a rabo, dando visibilidade ao que nenhum profeta da insatisfação seria capaz de prever. Manifestações a céu aberto que reuniram um contingente inegável de pessoas; o Planalto Central sitiado por manifestantes, câmaras de vereadores ocupadas pelo país, colocando na pauta do dia a inoperância e mediocridade desse setor, governadores andando com o cu na mão por medo de a qualquer momento estar apenas não dormindo, mas perdendo completamente o controle político. Jovens, adultos, trabalhadores, universitários e secundaristas resolveram ir às ruas e mostrar toda uma gama de insatisfações referentes a questões de cunho político, econômico e social. Nesse sentido, vieram à tona insatisfações referentes ao modelo socioeconômico, às formas de representação política e jogo eleitoral pactuado no cenário contemporâneo, o velho dilema da corrupção e a ausência de mecanismos eficazes de controle, bem como desvios de recursos públicos, entre outras.
Na multiplicidade de atos e estratégias, vem ganhando destaque e ataques furiosos na mídia corporativa, sob acusações de uso de táticas violentas que desviam o caráter ordeiro de manifestações pacíficas; destruição de patrimônio público e privado e desacato a autoridades; grupos políticos de viés anarquista que usam uma estratégia denominada Black Bloc, que consiste basicamente em criar um cordão de contenção frente a polícia e sua habitual brutalidade e o enfrentamento e destruição de símbolos do capitalismo e ufanismo através da quebra de agências bancárias, concessionárias e símbolos nacionais como estátuas e placas de sinalização. Coloquemos os pingos nos is e falemos do que realmente interessa.
Quando se deseja falar em violência ou mesmo de ações de caráter violento esquece-se de referir-se a quem ou que pessoa física se expõe a essa situação ou corre-se o risco de repetir-se um discurso que tende, a priori, a desqualificar ações de caráter direto, uma vez que uma instituição por si só é muito mais um símbolo, uma dada forma de expressão, de consecução, forma de raciocinar e produzir, instituição social, sendo os danos realizados por esses grupos, se realmente mensurados, irrisórios, não afetando de maneira significativa a capacidade econômica dessas instituições, mas abalando simbolicamente a força de representação das mesmas ao evidenciar a situação de insatisfação com o sistema econômico e mesmo a crise política que vivenciamos dia a dia. Essa crise se manifesta pela não aceitação da insanidade cotidiana, da felicidade expressa pelo puro consumo, da naturalização da pobreza, da aceitação do modelo falido de mobilidade que temos e escravidão frente ao tempo de produzir, tão habituais no sistema capitalista, onde a performance de destruição de cashs de bancos, vidraças de lojas e relógios públicos muito mais tendem a colocar no debate da vez o valor real das instituições que esses símbolos representam e o jogo a que estamos submetidos.
Outra acusação, fazendo uso de comparações grosseiras e mesmo estereótipos banais, são as de perigo ao sistema democrático ou coisa que o valha. Os anarquistas são apresentados como grupo homogêneo, geralmente irracional, sem qualquer organização, tendentes à violência gratuita e pouco afeitos ao diálogo. Faz-se necessário perguntar: o que representa, dentro do atual padrão de democracia adotada, mais perigo do que as práticas oligárquicas e mesmo descabidas dos políticos profissionais que temos?
Não faltam escândalos para povoarem a memória recente com o mal uso de dinheiro público, obras públicas sem finalidade alguma, escândalos envolvendo corrupção; financiamentos execráveis para campanhas eleitorais, pactos de mediocridade; colocando sob suspeita qualquer nível de controle de órgãos e instituições fiscalizadoras (Ministério Público, Juizados, Controladoria Geral da União, Supremo Tribunal Federal etc.); sem falar no já banalizado descaso com a educação, saúde, pautas fundiárias, transporte público e moradia.
Ganha força nesse cenário de descrença com as formas habituais de fazer política, outra forma de tratar a política, força essa que com radicalidade tem ido para cima e peitado figurões da política nacional como Sérgio Cabral no Rio de Janeiro e Geraldo Alckmin em São Paulo, esfacelando a estabilidade política de outrora e criando contraespetáculos, talvez por isso a ira da mídia conservadora, através de postagens de fotos, gravações de vídeos, contrainformações na rede que visam subverter e sabotar o espetáculo midiático que toda política democrática se tornou. Essa outra forma é caracterizada por um fazer política fluído, instável, criador de zonas de autonomia e ação, como no pensador Hakim Bey no livro TAZ (Zona Autônoma Temporária), se propondo a fazer com ações, no anonimato e rejeitando o conceito de liderança e mesmo de vanguarda, das receitas prontas e da representação política asfixiante preponderantes, atualizando a luta anarquista em busca de formas de democracia direta.
Nessa luta dos que dormem contra os que quase não comem, fica demonstrada a força que temos nas mãos, somos nós os agentes capazes de atos que impulsionam o futuro, não mais um líder iluminado ou uma fórmula pensada a luz de escritos de gabinete, todavia, o canal de diálogo deve ser usado quando necessário, não sendo a estratégia Black Bloc, enquanto tática, sua substituição, mas a canalização de força e energia combativa para outro viés de fazer política. Combatamos nossos verdadeiros inimigos com bombas, atentados, poesias ou mesmo votos, fiquemos firmes, não deixando alguns fingirem que não existimos com tanta tranquilidade.
*Igor de Sousa é estudante de Ciências Sociais na UEMA, um dos Perros Borrachos e integrante da ala jovem do jornal Vias de Fato
Até agosto de 2013 todos os estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal, receberão a segunda edição da mostra Cinema pela Verdade, realização do Instituto Cultura em Movimento (ICEM) em parceria com o Ministério da Justiça (MJ), através de projeto contemplado em edital da Comissão da Anistia.
Em São Luís as sessões acontecerão entre os dias 13 e 28 de junho, na UFMA (Campus Universitário do Bacanga) e UEMA (Cidade Universitária Paulo VI, São Cristóvão, e Faculdade de Arquitetura, Praia Grande)
O propósito da mostra é a exibição de filmes sobre as ditaduras militares na América Latina. Após cada sessão há uma mesa de debates sobre o filme exibido, com a participação de professores, jornalistas, cineastas, historiadores e estudiosos do tema.
Quatro filmes integram a edição 2013 da mostra, que tem como agente mobilizadora em São Luís Dinalva dos Anjos, estudante de Educação Artística (UFMA), recentemente selecionada para a exposição coletiva Pinhole al redor del mundo, tendo fotografias realizadas com a técnica exposts nas cidades de Guayaquil e Manta, no Equador. Maiores informações pelo telefone (98) 8801-3681 e/ou e-mail dinalvadosanjos@hotmail.com
Dividindo a mesa com os professores Murilo Santos (UMA) e Paulo Rios (Faculdade São Luís), este blogueiro comentará No após sua exibição na UEMA (Paulo VI), dia 14 de junho, às 8h30min.
Confira a seguir as sinopses (com informações do release da mostra) e a programação da mostra Cinema pela Verdade em São Luís (abaixo apenas as sessões já confirmadas, o blogue voltará ao assunto, informando de novas).
Eu me lembro, de Luiz Fernando Lobo. Exibido no Festival Internacional do Rio de Janeiro, o documentário acompanhou cinco anos das caravanas da Anistia e reconstrói a luta dos perseguidos por reparação, memória, verdade e justiça por meio de imagens de arquivo e de entrevistas. Sessões: 13 de junho, 8h30min, UEMA (Paulo VI) e 19, 14h30min, UFMA.
Infância Clandestina, de Benjamín Ávila. Representante argentino ao Oscar 2013, categoria melhor filme estrangeiro. Argentina, 1979. Juan, assim como seus pais e seu tio leva uma vida clandestina. Fora do berço familiar ele precisa manter as aparências pelo bem da família, que luta contra a ditadura militar que governa o país. Sessões: 20, 14h30min, UFMA, e 28, 18h30min, UEMA (Arquitetura, Praia Grande).
Marighella, de Isa Grinspum Ferraz. Ganhador do Prêmio de melhor longa-metragem da Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul em 2012. Carlos Marighella foi o maior inimigo da ditadura militar no Brasil. Este líder comunista e parlamentar foi preso e torturado, e tornou-se famoso por ter redigido o Manual do Guerrilheiro Urbano. Sessão: 27, 18h30min, UEMA (Arquitetura, Praia Grande).
No, de Pablo Larraín. Concorreu ao Oscar 2013 na categoria melhor filme estrangeiro. Pressionado pela comunidade internacional, o ditador Augusto Pinochet aceita realizar um plebiscito nacional para definir sua continuidade ou não no poder. Os líderes do governo contratam René Saavedra para coordenar a campanha contra a manutenção de Pinochet. Sessões: 14, 8h30min, UEMA (Paulo VI), e 18, 14h30min, UFMA.
Dois meses após as chuvas terem varrido, ou melhor, lavado, ou pior, levado tudo o que tinham os moradores da Vila Apaco, por detrás da UEMA, nas imediações da Cidade Operária, estudantes universitários resolvem unir-se em um evento artístico solidário.
Sob o inspirado nome de Bota o teu, gíria local, artistas plásticos, músicos e humoristas ocuparão o palco do Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy) para arrecadar alimentos às vítimas das chuvas em nossa cidade.
O espetáculo multicultural acontecerá graças aos esforços próprios dos artistas e da produção envolvida. Os ingressos custam um quilo de alimentos não-perecíveis (quem quiser pode doar mais, exceto sal).
Entre as atrações estão confirmados os nomes dos artistas plásticos Felipe Figna, Rodrigo Hemilianenko e Kenny Oliveira; os músicos Zanto e Tiago Máci (da banda Saga dos Salientes); e o ator e humorista Jonatas Barbosa. Outros nomes devem se somar à empreitada até lá.
Localizada na Cidade Operária, por detrás da UEMA, a Vila Apaco I vem sofrendo os impactos das chuvas do último dia 12 de fevereiro. 135 famílias perderam todos os seus pertences.
O Éguas Coletivo Audiovisual visitou o local e registrou o drama destas pessoas. No próprio vídeo há contatos e informações sobre como ajudar.
Não sei se chamo Igor de Sousa de amigo-irmão ou de filho. Ambos os parentescos caem bem: já o tinha visto umas poucas vezes, em geral por conta de nossa atuação em organizações de direitos humanos no Maranhão, e em meados do ano passado DP, como o chamo carinhosamente, veio estagiar na Cáritas Brasileira Regional Maranhão, onde além de trabalharmos, conversávamos muito sobre música, literatura, cinema e artes em geral, sempre um aprendendo com o outro.
Deixei a Cáritas semana passada e ele permanece por lá, onde espero que tenha vida longa, pois reconheço neste estudante de Ciências Sociais um belo quadro para as lutas, não só naquela entidade.
Com nossas meninas temos também bebido um bocado, descobrindo e redescobrindo botecos, bares, calçadas, shows, churrasquinhos e nossa cozinha, onde ele sempre pede para ouvir Celso Borges, Itamar Assumpção, Jards Macalé, Miles Davis e Ferreira Gullar, entre outros. Pedidos raros e atendidos na medida do possível, a depender do clima da farra e do resto da galera que porventura nos acompanhe.
O apelido “depê” vem de um endereço de e-mail que ele ainda hoje usa, embora já disponha de um e-mail “sério”, “adulto”, feito, aquele, quando ele tinha mais ou menos a metade da idade que tem hoje, 22 bem vividos e estudados: desajustado underline punk arroba hotmail ponto com.
Mas comecei a falar dele e quase me perco por conta de um texto seu que recebi hoje. Queria minha ajuda na edição e para fazer repercutir o assunto. Já saiu no site da Cáritas/MA, mas roubo-o ao “blogue cachorro”, como ele carinhosamente chama este espaço, especialistas que estamos em reeditar velhas gírias, este blogue que divide a honra de sua leituratenta apenas com o Socialista Morena. “Quando encontrar a Cynara [Menezes] novamente, diga-lhe que só leio dois blogues: o teu e o dela”, pediu-me certa vez. Quando encontrá-la novamente ela já saberá.
Sobre o texto abaixo, DP demonstra uma sincera indignação: “como é que um cara desse pode ser ofensivo? Ele é menor que eu”, revela. “O cara tá com mais de 30 boletins de ocorrências nas mãos e não acontece nada! É por isso que eu estudo, para ver se consigo ajudar esse povo”. Qual professor Raimundo para Ptolomeu, penso: “eu queria ter um filho assim”.
“A GENTE NÃO SABE O QUE TÁ ACONTECENDO”
Vítima de prisão irregular e ameaçado de despejo, José da Cruz Monteiro, liderança quilombola, concedeu entrevista coletiva na manhã de hoje (4), na sede da CPT-MA
TEXTO E FOTO: IGOR DE SOUSA*
Em uma coletiva de imprensa realizada na manhã de hoje (4), na sede regional da Comissão Pastoral da Terra (CPT-MA),foi exposto que dois policiais militares encarceraram de forma ilegal o líder quilombola José da Cruz Monteiro (51), da comunidade de Salgado, área que se encontra em processo de titulação via Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no município de Pirapemas/MA. A prisão ocorreu devido à morte de um caprino que invadiu a sua roça. José da Cruz já havia feito vários boletins de ocorrência na delegacia local para providenciar soluções sobre a invasão dos animais à sua propriedade, não obtendo qualquer resultado por parte da polícia.
Em 31 de janeiro, após abater o animal que estava em sua pequena plantação, foi à delegacia comunicar o feito e solicitar a retirada do mesmo. Porém, após relatar o fato, foi preso pelos policiais que ali estavam de serviço. A prisão foi feita sem qualquer flagrante, sem qualquer mandado de prisão. Ao ser preso, o líder quilombola recusou-se a receber algemas, sendo jogado à força em uma cela, havendo incitação por parte dos policiais para que os presos espancassem o referido senhor. Após horas sem comer nada, passando o dia apenas com o gole de café que havia tomado em casa, foi transferido para a delegacia de Itapecuru-Mirim. Lá foi comunicado ao advogado Diogo Cabral, assessor jurídico da CPT-MA, que a situação de José da Cruz Monteiro era de depoente, configurando completa arbitrariedade aos fatos ocorridos em Pirapemas. Durante o período em que esteve preso, José da Cruz teve sua casa invadida e vasculhada por policiais. Ele relatou ainda que sua casa e a de seu cunhado estão ameaçadas de demolição por Ivanilson Pontes Araújo, proprietário da área.
O que se percebe pela recorrência dos fatos, seja no que tange à quantidade de boletins de ocorrência registrados pelo senhor José da Cruz Monteiro, sem qualquer providência por parte da polícia, seja pelo envenenamento de animais e água potável na comunidade Salgado, ocorrido em 2011 e sem resposta até o presente momento, é uma total complacência do governo do estado do Maranhão quanto à situação de violência e conflito no campo referente às comunidades quilombolas e camponesas. Há violência cotidiana contra essas comunidades, havendo inclusive a existência de grupos armados no interior do estado. Quanto aos órgãos responsáveis pela titulação, há lentidão e descaso. Hoje o Incra conta com mais de 300 processos aguardando titulação, contando com um quadro ínfimo de funcionários para os referidos trabalhos. A própria comunidade de Salgado é um exemplo notável dessa morosidade: já titulada certificada pela Fundação Cultural Palmares (FCP), a área aguarda titulação pelo Incra. O processo está parado desde 2000.
Outro dado alarmante é tratamento dado pelas autoridades estaduais. No ano passado, a delegada geral agrária foi categórica ao afirmar que no Maranhão não há conflitos no campo, havendo apenas conflitos entre vizinhos. Será?
Somente no último semestre do ano passado foram vitimadas quatro pessoas: duas lideranças sindicais e dois indígenas.
E assim segue a vida real de trabalhadores rurais na terra do faz de conta do governo Roseana Sarney.
Ameaçado de despejo, José da Cruz Monteiro (C), entre outro morador de Salgado e o advogado Diogo Cabral (D)
ENTREVISTA: JOSÉ DA CRUZ MONTEIRO
Qual a situação da sua comunidade? Lá, a nossa situação nós não aguenta, é muita escravidão. Muita injustiça. Ele [Ivanilson Pontes] coloca os vizinho [a reportagem optou por manter a transcrição da entrevista o mais próximo possível da fala de Monteiro] da gente contra a gente para matar o que é nosso. Ele coloca a própria polícia de Pirapemas contra a gente.
De quem o senhor fala? Quem persegue vocês? São três irmãos que vivem nos perseguindo. Eles são filhos de Moisés Sotero Araújo. Ele se diz proprietário das terras lá em Pirapemas. Quem afronta a gente lá é o Ivanilson Pontes Araújo.
Há situação de conflito na sua comunidade? Existem ameaças de morte? Ameaças às pessoas da comunidade? Como ocorrem? As ameaças que acontecem lá são com nossas criações e com a gente. Ele ameaça nós de morte e mata nossas criações para não ter o que comer. Ele mata e manda os outros matar, manda os capangas.
E a polícia? O que faz? A polícia sempre protege ele [o proprietário]. A gente se queixa e a polícia só protege o proprietário. Ela [a polícia] é bandida, só protege o proprietário. Diz que não pode fazer nada porque tem outras autoridades no conflito.
Como aconteceu a sua prisão? Eu fui preso pelo delegado de Pirapemas, pelo doutor Ricardo porque eu queria terminar de assinar o boletim de ocorrência. Nessa hora ele disse que eu estava preso, que eu era um bandido. Me pegaram, me jogaram para um bandido numa cela. Nesse dia eu passei o dia com um gole de café. Eu vinha registrando boletim de ocorrência, era a quarta vez que os bode entrava na minha roça. Na quarta vez eu matei. O dono não tira, eu tive que matar. Eu fui preso em Pirapemas e fui levado para Itapecuru para ser preso lá. Eu matei o bode para pesar a carne e vender para esperar o Ivanilson para ele pagar o meu prejuízo. Mas ele já tinha dado a carne do bode para a polícia. Eu saí jurado de lá, prometeram derrubar minha casa e a do meu cunhado hoje. Disseram que vão derrubar a do meu cunhado e depois a minha. A gente não sabe o que tá acontecendo, tá marcado pras 10 horas. Disseram que em dois dias vão me tirar de lá, de um jeito ou de outro.
*IGOR DE SOUSA é estudante de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), estagiário da Cáritas Brasileira Regional Maranhão e membro do jornal Vias de Fato.
Maria de Lourdes Lauande Lacroix lança amanhã (30) São Luís do Maranhão: Corpo e Alma
De tão importante, a obra – em especial A fundação francesa de São Luís e seus mitos (2001) – de Maria de Lourdes Lauande Lacroix , professora aposentada dos Departamentos de História das Universidades Federal (UFMA) e Estadual do Maranhão (UEMA), mereceu destaque em Guerrilhas, festejado terceiro livro que Flávio Reis lançou este ano (tendo disponibilizado-o para download desde o final de 2011).
Aquele título dela (e suas reedições) merece(m) nada menos que cinco dos 20 artigos da coletânea dele, que já a havia reverenciado como uma “marca de formação”, ao dedicar a ela, a Luciano Martins e ao saudoso José de Ribamar Chaves Caldeira seu Grupos políticos e estrutura oligárquica no Maranhão (2007).
A dedicação de Flávio Reis – que foi seu aluno e assina as orelhas daquela obra da ludovicense Lourdinha, como a tratam os íntimos – é justa e merecida. A fundação francesa de São Luís e seus mitos problematiza o que parecemos ter de mais caro, o epíteto de “única capital brasileira fundada pelos franceses”, como apregoava um apresentador de tevê local.
Às vésperas das festividades – quiçá justaposição de “festival de vaidades” – oficiais, Maria de Lourdes Lauande Lacroix presenteia-nos, a nós ludovicenses e/ou seus habitantes e a esta capital, com um mergulho em São Luís do Maranhão: Corpo e Alma, passeio, como entrega o título, na cidade em que ninguém nasce e vive impunemente, como cravou certeiro o publicitário Marcus Pereira, na contracapa de um antológico disco de Chico Maranhão.
A nova obra da professora, realizada com patrocínio da Alumar, contou com projeto gráfico de Flávio Reis (que também assina a coordenação editorial) e Nazareno Almeida (que também assina a diagramação e o tratamento de imagens), além de fotografias de Edgar Rocha, de arquivo, reproduções de obras de acervos particulares, além de atuais, feitas especialmente para o livro. São 578 páginas, 170 ilustradas.
Mais não posso dizer, pois o belo volume chegou-me às mãos apenas ontem, com uma emocionante e inusitada dedicatória. O blogue voltará ao assunto em breve, mas não podia se furtar de convidar seus poucos mas fieis leitores para o lançamento: amanhã (30), às 19h30min, no Quality Grand São Luís Hotel (Praça Pedro II, ao lado da Igreja da Sé).
Começa amanhã (19) em São Luís a mostra Cinema Pela Verdade, que debaterá a ditadura militar brasileira após a exibição de documentários sobre o período. Suas sessões ocuparão auditórios na UEMA, UFMA e Campus Centro Histórico do IFMA. Programação completa na página da SMDH na internet (no link, sinopses e horários das sessões, seguidas de debates e gratuitas). Abaixo, trailers de Cidadão Boilese, Condor e Hércules 56, documentários que compõem a mostra.
Amanhã (19), às 8h30min, estarei na UEMA para, após sua exibição, debater o filme Condor. Entre os debatedores da mostra, em outras sessões, estão o advogado Luis Antônio Câmara Pedrosa e o jornalista Emílio Azevedo. A curadoria local da Cinema Pela Verdade é de Andressa Brito Vieira, estudante de Ciências Sociais da UFMA.