Só me tornei editor porque não arrumei um!

Obra publicada em edição da revista Pitomba

Ficaria feliz em ter alguém que cuidasse de toda a parte chata do trabalho. Sobraria mais tempo pra escrever e terceirizaria o custo do material todo, que lucro mesmo eu nunca esperei. Grifes também fariam bem ao espírito, se calhasse.

Mas não calhou.

Tenho aqui tantas cartas de recusa de originais, que dava pra escrever um romance nas costas delas. Um dia uso pra alguma coisa, existe estilo, humor e sarcasmos deliciosos nelas.

A ideia da editora foi a de criar uma falácia. E se eu não fosse eu? Se me institucionalizasse? Criasse um nome de fantasia? O de batismo tinha falhado de todas as maneiras.

Meses depois, transformei o incômodo num pequeno texto chamado Manifesto Pitomba, no qual tentava enumerar problemas e soluções, mas que acabou brutalmente censurado pelo Reuben [da Cunha Rocha] e pelo Celso [Borges] — que têm mais senso do ridículo que eu — mas que insisto em colar, pequenininho, nos meus próprios livros. É no ridículo que opero.

Mas vamos lá. Ao problema.

Nossas possibilidades de edição se resumem a duas secretarias de cultura que valem menos que a merda do pombo da cumeeira do Oscar Frota. Os editais são escritos por um paquiderme, executados por um protozoário e resultam em livros tão feios que, ao longo dos anos, recusei-me a ler vários por não suportar o contato com o objeto.

Os caras não se importam com algo com o qual eu me importo muitíssimo, e isso me emputecia! Me inscrevi nesses editais por anos e anos, ganhei algumas vezes, mas nunca saía nada! É preciso que vocês entendam que um dia eu levei esse povo muito a sério. Eu até lia os poemas, porra!

Com o tempo, passou a me incomodar mais a atitude dos autores, que se sujeitam ao [Concurso Literário e Artístico] Cidade de São Luís todos os anos, sabendo do embuste, como se sujeitam aos editais da Secma (quando esta os faz). O trabalho deles ficava, ao logo dos anos, tão medíocre quanto o esquema todo. Parecia que os editais, antes de promover o tal fomento à produção, a viciava. Há de se tirar o chapéu ao funcionismo, conseguir travar gerações inteiras com uma estratégia de edição tosca e migalhenta como esta é um lance de gênio. Gente que, anos antes, tava amolando as pontas das facas aos murros.

A Pitomba é uma forma positiva de recusa à calhordice geral, ao amadorismo da oficialidade, devolvendo a ofensa na forma de livros ofensivos, porque ousamos achar que o livro é um troço importante, bonito, tesudo e tal. Também é uma maneira de existir, e qualquer existência fora das paredes das repartições, no Maranhão, é transgressora.

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Texto de Bruno Azevêdo, dono da Pitomba Livros e Discos, que publica as coisas dele [Breganejo Blues e O Monstro Souza, entre outros] e publicou, com o Vias de Fato, o Guerrilhas, do Flávio Reis. O reclame foi publicado no Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, do Jornal Pequeno, sábado passado (30/6).

A Pitomba edita também a Pitomba. Digo, o selo/editora publica a revista, editada por Bruno com os citados Celso e Reuben, que também publicaram textos sobre a Pitomba, a revista, no Guesa. O do último tá no blogue dele (donde roubei a ilustração do post). O do remanescente da Guarnicê, se ele me mandar, que ver mesmo o Jornal Pequeno de sábado, eu não vi, eu penduro cá no blogue.

Carlos Latuff contra a tortura

Nem lembro quando e como conheci o trabalho de Carlos Latuff. Provavelmente a primeira lembrança que tenho de um cartum seu é a famosa imagem abaixo, em que o jornalista Vladimir Herzog aparece enforcado vestindo uma florida camisa de turista tomando um coquetel (ou caipirinha ou “refresco”) com aquela fruta espetada na beirada do copo, enforcado por um cinto, o suicídio inventado, paródia da talvez mais conhecida foto do ex-diretor de jornalismo da TV Cultura. Aludia ele ao episódio em que a Folha de S. Paulo afirmara que a ditadura brasileira não passara de ditabranda.

Latuff é um gênio! Menos conhecido no Brasil que fora dele, nem sei dizer se infelizmente. Lá fora tem cumprido utilíssimo papel ao fazer críticas bem humoradas com seus traços e cores a diversos acontecimentos políticos. De sua arte também não escaparam episódios nacionais como o massacre de Pinheirinho, em São Paulo, e a ocupação do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, apenas para citar alguns dos mais recentes. Quem quiser saber e ver mais do trabalho do rapaz, basta acessar seu blogue, o dele, digo.

Em março passado, mais precisamente dia 22, quando se completaram cinco anos do assassinato do artista popular Jeremias Pereira da Silva, o Gerô, espancado até a morte por policiais militares em 2007, Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Maranhão (OAB/MA), Ouvidoria de Segurança Pública e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) lançaram Campanha de Combate à Tortura.

Dias antes, fiz contato com Latuff, cujo compromisso com causas e ideais nobres eu já conhecia. Um e-mail e alguns telefonemas depois, ele me encaminhou a bela arte do cartaz da Campanha, que abre este post e eu já havia publicado em alguns lugares.

Hoje é Dia Mundial de Apoio às Vítimas de Tortura. Roubo do perfil do jornal Vias de Fato no facebook a imagem abaixo, que o carioca desenhou há dois anos. A imagem permanece atual: infelizmente a tortura ainda é prática recorrente em nosso país. É preciso mudar este quadro, urgentemente!

Outro viés da notícia no contexto da imprensa maranhense

“Atualmente, o governo do Estado está sob a direção de Roseana Sarney Murad, filha de José Sarney, que assumiu a gestão em abril de 2009, após a cassação do mandato do então governador Jackson Lago (2007-2009) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Roseana concluiu o mandato de Jackson e foi reeleita governadora em 2010. O processo eleitoral que a reelegeu tem sua legitimidade e lisura questionados enfrentando três processos de cassação impetrados por seus opositores. As análises feitas pelos grupos de oposição, pelos cientistas políticos, pesquisadores e movimentos sociais e legitimadas pelos dados oficiais revelam um estado cada vez mais empobrecido, em relação assimétrica e inversa com os discursos do “progresso e do desenvolvimento” alardeado nas propagandas oficiais e no impresso oficial da família, O Estado do Maranhão”.

Quarta irmã Cajazeiras, o presidente do Senado sempre soube utilizar a mídia

“Para além da meteórica atividade jornalística, antes de ingressar na Academia Maranhense de Letras e de iniciar sua carreira política, Sarney desde o começo da vida pública, relaciona-se e utiliza-se estrategicamente dos meios de comunicação. A aproximação com a linguagem do cinema, à época um importante instrumento de transmissão da informação em se tratando da realidade maranhense onde a televisão ainda estava se afirmando e muitas cidades interioranas dispunham de salas de projeção, a utilização de jingles de campanha com direito a produção de disco com artistas de renome no rádio brasileiro, a utilização da Rádio Timbira, estatal onde eram veiculados spots e informações do governo, foram passos iniciais na direção do que viria a se constituir mais tarde”.

“Com tal histórico de concentração dos meios de comunicação nas mãos de um grupo político dominante e/ou de grupos políticos e empresariais (que estão ou já foram) vinculados ao primeiro, onde a maioria das concessões, no caso das mídias eletrônicas, e as estruturas, no caso da mídia impressa, foram implementadas a partir de práticas patrimonialistas, o discurso que prevalece nos noticiários é um discurso hegemônico e bipolar, ora com o predomínio de fatos que se banalizam com o passar do tempo: os buracos no período chuvoso, os engarrafamentos, os assassinatos, os assaltos a bancos; notícias em torno de pautas sazonais/comemorativas, ora a exaltar as “singularidades” da cultura e da natureza do Maranhão. São raríssimas as inserções de temas considerados importantes e estratégicos para a sociedade maranhense em trabalhos jornalísticos que possam revelar investigação e análise, motivando assim um debate público e que possibilite aos leitores capacidade de interpretação, de discernimento, de criação de sentidos para a compreensão da realidade do estado. E quando temas mais complexos aparecem, são externados como fatos contados de forma recortada, incompleta, a esconder a sua verdadeira natureza, implicações, causas e personagens.

Nessa perspectiva, o campo da comunicação que deveria ser instrumento de fortalecimento da pluralidade de vozes, do contraditório, da liberdade de expressão, o espaço democrático das diversas versões e olhares, torna-se, majoritariamente, apenas um campo das repetições dos padrões de manipulação dos discursos, das verdades parcialmente construídas ou ocultadas no processo de reconstrução da realidade através das narrativas”.

“José Sarney funda O Estado do Maranhão enquanto um “instrumento político”: o instrumento é um objeto inanimado, algo a ser manipulado. Emílio Azevedo, refere-se ao Vias de Fato como uma “iniciativa política”: iniciativa refere-se a ação, movimento, e sendo político, a algo que está intrínseco ao elemento humano que constrói um espaço e debate públicos. A análise, que não é simplesmente uma questão semântica, repercute nas formas de operacionalização das experiências. No primeiro caso, o jornal é instrumento político, objeto empresarial de obtenção de lucro e também de manutenção do poder político. No segundo caso, abre espaço para setores e tema sociais obscurecidos, negados, e favorece a democratização não tão somente do acesso à informação, mas também às formas de construção dessa informação.

A apresentação da notícia no Vias de Fato, além do predomínio do gênero opinativo, adquire características do formato de revista dado que a experiência não tem compromisso com o “furo de reportagem”, mas com o aprofundamento e a investigação dos temas que lhes são caros e complexos”.

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Trechos da monografia Vias de Fato: outro viés da notícia no contexto da imprensa maranhense, que a cantoramiga Lena Machado apresentou ontem ao curso de Comunicação Social, habilitação em jornalismo, da Faculdade São Luís, sob orientação de meu orientador Francisco Colombo. O trabalho foi aprovado pela banca examinadora com nota 10.

Ao publicar os trechos acima, do trabalho que teve revisão deste blogueiro, repetimos os parabéns já transmitidos à autora por telefone, ontem, logo após sua defesa. Íntima do palco, Lena Machado preferiu não ter amigos assistindo-a perante a banca e preferimos respeitar a vontade de sua timidez. Com o título, o jornalismo soma-se à música para fazer ecoar sua voz na defesa dos direitos humanos e justiça social no Maranhão e em qualquer lugar por onde ande, cante e escreva.

Nossa miséria cultural (ou: acorda, serpente!)

[Do Vias de Fato de maio]

Pode haver luz no fim do túnel, será um trem vindo na direção oposta?, Nossa Senhora da Vitória, rogai por nós!

POR ZEMA RIBEIRO

Um texto revoltado da cantora Nathália Ferro, publicado primeiro em sua conta no Facebook e depois repercutido por alguns periódicos locais, ganhou certa repercussão, apontando diversos problemas por que passa nossa produção cultural, digo, da Ilha de São Luís do Maranhão e do estado como um todo.

Criticava o marasmo a que está relegada a cena artística na capital maranhense, cujo aniversário de 400 anos se avizinha e sobre o que nada foi feito – aquele relógio ridículo na cabeceira da ponte do São Francisco, não conta.

A cantora criticava a tudo e a todos – e suas críticas, claro, eram merecidas, tendo sido repercutidas e comentadas também pelo poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, ex-secretário de cultura do Estado do Maranhão, em sua coluna semanal no Jornal Pequeno.

Keyla Santana, atriz, também colocou a boca no trombone. Ela buscou o financiamento de uma peça em que atuava pela internet, num sistema de crowdfunding, financiamento coletivo já bastante utilizado no centro-sul do país, que aqui sequer engatinha, com razão: a iniciativa estatal aposta em mais do mesmo, a privada faz jus ao trocadilho. Como incentivar pessoas comuns, como este que escreve, o caro leitor, a cara leitora, a enfiar a mão no bolso e bancar o que quer que seja?

Diversos agentes culturais envolvidos com a feitura do projeto BR-135, capitaneado pelo casal Criolina, Alê Muniz e Luciana Simões, têm discutido propostas e possibilidades para que se avance no rumo da implementação de efetivas políticas públicas de cultura por estas plagas. Além de reuniões e debates, a galera está fazendo, se movimentando, mostrando nomes e coisas interessantes, misturando, experimentando. É daí e assim que pode surgir o novo.

Foi justamente o mote para o texto de Nathália Ferro: o pouco público presente às edições do BR-135, realizadas no Circo Cultural da Cidade, fruto inclusive, segundo ela, da desunião da classe artística local – alguns certamente mais preocupados com “meus projetos” e a procura por financiamentos (quase sempre estatais) para “meu próximo disco”, “meu próximo livro”, “minha próxima peça de teatro” ou mesmo para a inclusão de “meu show” no circuito junino.

O BR-135 tem a ideia de mostrar o que de novo a cena ilhéu tem produzido, numa demonstração de altruísmo digna de louvor: com o reconhecimento nacional que têm hoje, Alê Muniz e Luciana Simões sequer precisariam morar em São Luís. No entanto, preferem ficar, tentar fazer algo diferente e mostrar que é possível conquistar o país a partir da Ilha (sem qualquer daqueles adjetivos cuja maioria perdeu completamente o sentido).

Keyla Santana, pela internet, conseguiu algo próximo da metade dos três mil reais de que necessitava para botar seu bloco na rua, isto é, sua peça no palco de um teatro da capital, uma pequena temporada de dois dias. Para não perder o que alguns haviam investido, seu marido completou, do próprio bolso, a outra metade do valor restante.

Experiência bem sucedida de crowdfunding, fora da rede mundial de computadores, foi a realização do I Festival de Poesia do Papoético – Prêmio Maranhão Sobrinho, organizado pelo poeta e jornalista Paulo Melo Sousa. O Papoético, tertúlia semanal realizada no Bar Chico Discos, no centro da capital maranhense, é um espaço privilegiado para a discussão de assuntos relativos à arte e cultura, tendo aberto uma trincheira para os insatisfeitos com o status quo.

Paulão, como é mais conhecido seu mentor, levantou os fundos necessários à realização do festival principalmente entre os frequentadores habituais do debate-papo semanal, além de entre amigos, professores universitários e artistas em geral. O festival, cuja final será realizada dia 31 de maio no Teatro Alcione Nazaré, no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, na Praia Grande, premiará em dinheiro os primeiros lugares em poema e interpretação e os segundos e terceiros lugares em cada categoria com livros, discos, revistas e outros produtos culturais, tudo arrecadado entre aqueles citados doadores e com a realização de rifas.

A organização solicitou ao Comitê Gestor dos 400 anos de São Luís, integrado por secretarias e órgãos públicos municipais e estaduais, apoio para a realização do festival, de orçamento modestíssimo. Sequer recebeu resposta, mostrando o desinteresse generalizado dos poderes públicos para qualquer iniciativa criativa que não parta de sua burocracia interna. O problema é que nada criativo parece vir dali. O festival recebeu mais de 100 inscrições de diversas cidades do Brasil e custou menos de 3 mil reais, com cortes em gorduras como material de divulgação (folders e cartazes), importantes em qualquer empreitada cultural.

Teimosos, os organizadores do Papoético já anunciam sua próxima invenção: um concurso de fotografia terá regulamento anunciado já em junho, com base no mesmo esquema. Dia 7, Chico Saldanha e Josias Sobrinho apresentam, no Chico Discos, o show DoBrado ResSonante, que estreou em Brasília/DF. Os ingressos custam R$ 20,00 e podem ser adquiridos antecipadamente no local. Toda a renda será revertida para a realização do concurso de fotografia.

O Estado – tanto faz ler prefeitura e/ou governo – é tímido e continua apostando apenas em grandes festas populares, quais sejam, os períodos carnavalesco e junino, salvo raríssimas exceções. É o que dá mídia, é, em tese, o que dá voto – sobretudo, embora pareça óbvio, em ano eleitoral.

Faltam cerca de 100 dias para o aniversário da cidade. Não se ouve falar ainda em programação ou, antes, em planejamento de quaisquer ações comemorativas. Mas não é por isso, ou não só por isso, que clamam os artistas revoltados, aqueles que não se satisfazem com o tilintar de umas poucas moedas nos pires, um tapinha nas costas, a logomarca de um órgão público em seu disco, livro ou programa, e, no fundo, um grande “cala a boca” em qualquer vírgula que se oponha às péssimas gestões que hoje têm o Maranhão e sua capital São Luís. E aqui o comentário não se restringe ao aspecto cultural.

O que estes artistas requerem, com propriedade, é a pulsação constante da Capital Americana da Cultura, é que ela faça jus ao título. Mais que um troféu, um papel, um certificado, um evento, São Luís e o Maranhão precisam deixar o passado e a teoria de lado. É preciso viver o presente e vivê-lo na prática: já não somos Athenas Brasileira – se é que um dia fomos – e mais que bumba meu boi e/ou tambor de crioula para turista ver, é preciso que nossos logradouros sejam ocupados por arte permanentemente. É capital da cultura ou não é?

São Luís e o Maranhão não estão as maravilhas anunciadas na televisão pelas gestões municipal e estadual. Na propaganda, tudo parece correr às mil maravilhas, de propaganda nossos gestores são bons – pudera, é preciso descarregar toneladas de maquiagem para ludibriar o povo e garantir a perpetuação dos grupos no poder. A realidade é outra e é esta que precisa ser enfrentada para que algo mude. Que não emudeçam os artistas que estão corajosamente tocando as feridas para curá-las. E que ao coro dos descontentes somem-se cada vez mais artistas. Ou não, que cultura é coisa de todos nós.

A nossa miséria cultural está exposta, fratura que carece de urgente cura. Só não sente nem vê quem não quer. Já é mais que hora dessa serpente acordar!

Maranhão: violência e barbárie

O presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos, Pe. Jean Marie Van-Damme, publicou Nota sobre a violência no Maranhão, em que comenta os recentes acontecimentos/homicídios no estado. A nota pode ser lida no site da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, no blogue do Tribunal Popular do Judiciário ou ainda no blogue Outros Olhares, do advogado Igor Almeida.

Nove entidades da sociedade civil maranhense, entre as quais a SMDH e a Cáritas Brasileira Regional Maranhão, ambas com assessoria de comunicação deste blogueiro, publicaram nota convidando a Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ) a conhecer o Maranhão e seu ambiente de barbárie.

A nota é fruto de uma polêmica gerada por declarações do jornalista Emílio Azevedo à Rede Brasil Atual, no calor dos recentes acontecimentos/homicídios nas últimas semanas no Maranhão, sobretudo a execução do jornalista Décio Sá. Um dos coordenadores do jornal mensal Vias de Fato, Azevedo se viu alvo de uma campanha covarde e raivosa, por parte de jornalistas que não se veem na barbárie citada por ele, a exemplo do que já havia acontecido com o advogado Luis Antonio Câmara Pedrosa, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA.

Ambos foram atacados diuturnamente por jornalistas ligados à Mirante/Sarney, que preferem se enxergar no mundinho cor-de-rosa, cor-de-roseana que nem o bárbaro, cruel e covarde assassinato de Décio Sá serviu para provar que não existe.

Notícias do “fim do mundo”

A imprensa noticia que, no Tribunal de Justiça do Maranhão, importantes assessores vendem sentenças, sem cerimônia, a qualquer um que queira e possa pagar o alto preço da tabela. Diante do problema, o desmoralizado governo de Roseana se apressa em dizer, sem convencer muita gente, que “não tem nenhum desembargador envolvido” neste propagado mercado…

Junto ao escândalo, prenderam alguns bois de piranha e o assunto circulou a todo vapor na opinião pública. Mas, na Assembleia Legislativa do Estado – o parlamento maranhense – ninguém teve muito tempo para parlar sobre o caso, afinal, os “nobres” deputados, estavam muito ocupados, em reuniões secretas, decidindo se iriam receber 13, 15, 18 ou 50 salários ao longo de um ano.

Assim tem sido o Maranhão. O estado brasileiro conhecido por muitos como “o fim do mundo”, que vive há quase meio século sob o comando e a influência do atual presidente do Senado brasileiro. Um lugar onde, até hoje, existe todo um ambiente para a encomenda de assassinatos de quilombolas, sem terra, assentados, índios, professores, jornalistas… Em alguns casos, as vítimas são executadas com armas de uso exclusivo da própria polícia.

No mês de abril de 2012, dois desses assassinatos, executados por pistoleiros profissionais, nos chamaram a atenção.  O primeiro, no dia 14, em Buriticupu, quando mataram Raimundo Alves Borges, o Cabeça, um trabalhador rural. Já no dia 23, a vítima foi Décio Sá, conhecido jornalista de São Luís, funcionário do Sistema Mirante (ligado à Rede Globo).

E é exatamente neste oprimido e roubado Maranhão – violento e com os piores índices de Desenvolvimento Humano do país – que a Alumar, a maior produtora de Alumínio da América Latina, neste mesmo mês de abril, sentiu-se à vontade para fazer um grande jogo de cena, para justificar o pedido de mais e mais isenção fiscal. Enfim, combinado com as autoridades locais, querem continuar tirando vantagens desta sofrida população, onde muitos morrem de bala e outros tantos sucumbem à fome.

Trata-se do mesmíssimo Maranhão, onde as casas dos índios Awá Guajá são literalmente queimadas por madeireiros, com indícios de que uma criança teria sido queimada viva! E os madeireiros em questão, em alguns casos, ocupam cargos de prefeito, deputado ou secretário de Estado. E quando a imprensa alternativa trata dessa violência, como foi o caso da pessoa carbonizada, as autoridades, ligadas ao banditismo reinante, se apressam em querer desqualificar a denúncia e fazer o jogo dos madeireiros chapa branca.

Neste mês de abril, houve uma boa notícia, comemorada por todos que são solidários a causa dos índios. O Tribunal Regional Federal (TRF) confirmou a sentença do juiz federal José Carlos Madeira, em favor dos Awá-Guajá. De acordo com a decisão judicial, ficam demarcadas as terras indígenas nos municípios maranhenses de Carutapera, Bom Jardim e Zé Doca. Pela lei, a terra é dos índios.

O problema é que, nesta mesma região, existe o interesse da empresa Agropecuária Alto Turiaçu (Grupo Schahin): cerca de 90% da área que ela ocupa encontra-se nas terras dos Awá. Esta empresa, entre outras coisas, tem ligações antigas com o atual secretário estadual de agricultura, Claudio Azevedo Donizete, da Associação dos Criadores de Gado do Maranhão (por “coincidência”, é a mesma associação a qual é ligado um dos envolvidos no escândalo do TJ-MA).

Está determinado, pela Justiça Federal, que a UNIÃO e a FUNAI promovam o registro da área demarcada, num prazo de um ano, com a remoção das pessoas não-índias e desfeitas as construções edificadas. O que preocupa é, exatamente, o fato do Maranhão ser essa terra sem lei e, em torno do direito dos indígenas, existir este consórcio que envolve figuras da FUNAI, do Grupo Schahin, madeireiros, prefeitos da região e representantes do governo do Estado, enfim, vários tentáculos das organizações Sarney. E, com um time desses jogando junto, tem restado aos Awá a violência e a morte.

Nesta nossa edição, gostaríamos de falar de tudo isso separadamente e não apenas num editorial. Cada um desses assuntos precisa de muita visibilidade, debate e participação da opinião pública. Por isso, cada um deles merecia uma matéria especial, publicada em pelo menos duas páginas. Mas, hoje, no atual estágio em que nosso projeto se encontra, não temos ainda pernas para acompanhar toda a barbárie vivenciada pela sociedade maranhense. Este editorial, então, foi a parte que nos coube, o que nos foi possível neste momento encharcado de sangue e notícias ruins.

Gostaríamos muito, por exemplo, de ter acompanhado de perto e poder participar das manifestações de protesto, ocorridas em Buriticupu, durante o enterro de Raimundo Alves Borges, o Cabeça. O assassinato dele é extremante simbólico, pois está ligado a um dos problemas mais sérios do Maranhão: o velho e dramático conflito pela posse da terra.

Trata-se de um trabalhador rural, que morava num assentamento e esteve, há mais de 20 anos, na grande luta pela terra que deu origem ao município de Buriticupu, numa guerra onde morreram 54 pessoas. Duas décadas depois, ele é assassinado por que estava denunciando a grilagem de sempre e um esquema de compra e venda de lotes para reforma agrária. Foi mais uma vítima de pistoleiros. Os executores chegaram numa moto e deram vários tiros na cabeça dele.

Raimundo era um militante social, fundou um sindicato ligado a agricultura familiar, era das Comunidades Eclesiais de Base e do Fórum de Políticas Públicas de Buriticupu. Sobre o seu caixão, foi colocada uma bandeira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Tinha 53 anos e deixou mais de 15 filhos. O crime se deu bem próximo da sua casa.

No caso do assassinato de Décio Sá, encaramos o assunto como mais um caso trágico, nesta lista de barbaridades que ocorrem no Maranhão. O que causa perplexidade na opinião pública, é que se trata de uma pessoa bastante conhecida, um profissional liberal, que, além de tudo, trabalhava exatamente para a poderosíssima estrutura de José Sarney. Em nossa opinião, o jornalista foi mais uma vítima deste ambiente de impunidade (e de imenso atraso!) que os ex-patrões dele, fazem questão de manter e aprofundar.

Então, caros leitores, neste momento em que o Maranhão vive agitado por tantas notícias ruins (umas mais divulgadas, outras quase omitidas) estamos publicando uma entrevista que consideramos histórica, com o engenheiro e ex-deputado federal Domingos Freitas Diniz. Ele é, sem sombra de dúvidas, uma das figuras mais importantes da política maranhense dos últimos cinquenta anos. Consideramos sua importância, não pelos cargos e funções de poder, mas, tendo como referência, o interesse público.

Os assuntos que nós tratamos com Freitas, nesta nossa 31ª edição, têm relação, direta ou indireta, com todos estes tristes acontecimentos citados por nós e ocorridos neste abril de 2012. É a questão da máfia, da estrutura oligárquica, do latifúndio, dos enclaves, da violência, da intolerância, enfim, do atraso profundo, deste pedaço de chão que alguns insistem em tratar como o lugar onde o diabo perdeu as botas…

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Acima, editorial e capa da 31ª. edição do jornal Vias de Fato, já nas bancas.

No ringue do pensamento

Ao escrever sobre Guerrilhas (2012), de Flávio Reis, quando o classificou acertadamente como “figura de exceção entre nossos pensadores e professores”, Reuben da Cunha Rocha abriu um leque que pode e deve ser ampliado quando somamos ao “homem magro de fala digressiva”, dois outros professores do naipe: Flávio Soares e Wagner Cabral.

Pugilistas do pensamento, o trio se encontra numa mesa-ringue tendo por mote o lançamento (detalhes na imagem que abre o post), na UFMA, do citado livro, “coletânea de artigos publicados por Flávio Reis na imprensa maranhense ao longo da última década”, o sucessor de Grupos políticos e estrutura oligárquica (2007) e Cenas marginais (2005).

Bancado pelo bolso do autor, como os anteriores, Guerrilhas foi publicado no início deste ano, com os selos da editora Pitomba! e do jornal Vias de Fato, sem trazer qualquer referência à universidade onde seu autor dá aula – a contribuição radical aos debates em torno dos assuntos que aborda e sua visão aguçada, por si só já justificariam a publicação pela própria UFMA, mas Flávio é um dissidente ácido e prefere a liberdade de outros caminhos.

REIS, SOARES e CABRAL, como são chamados em citações acadêmicas, vão certamente distribuir socos no status quo, seus modos de ver/rever o Maranhão porradas certeiras, diretas, no estômago, sobretudo dos acostumados a velhas famas, por vezes injustificadas e ufanistas.

O mito francês e a dança dos historiadores, O Maranhão bárbaro e sua miséria historiográfica, Oligarquia e medo, O nó-cego da política maranhense, A política do engodo e o engodo da política, para citar títulos de alguns artigos de Guerrilhas, violência urbana, jornalismo, poesia, cinema, música, literatura e psicanálise serão munição para este debate “peso”, expressão quase sempre usada por Flávio Reis para definir algo muito bom, extraordinário, seja um disco, um livro, um filme ou um aluno acima da média.

A pauta certamente se ampliará e os três professores darão conta do recado, imperdível, eu diria. Roubando mais um par de aspas de Reuben – tirando o “peso” aí de cima, são dele as outras ao longo do texto –, que qual este blogueiro, tem no autor de Guerrilhas um de seus heróis, cabe repetir: “É chegado o tempo do arsenal contra o repertório”.

Mais Cesar Teixeira

A HORA DOS ANGELUS

CESAR TEIXEIRA

Ouçam! Ouçam a voz do tempo!

Sinistros navios piratas invadiram a ilha de Tupã com seus brasões, arcabuzes e espadas para o vernissage de uma nova França. Porém a arma mais desumana foi a cruz erguida em nome de Jesus sobre o sangue Tupinambá. Oh, desgraça! Oh, infâmia! Ainda hoje os filhos de Maria continuam sendo assassinados na Terra Prometida que lhes servirá de túmulo…Do pó para o pó! Desde então, todos os dias o cadáver de Cristo é arrastado para o Calvário do Itaqui tendo cravos de ferros nas mãos e nos pés. Embarcando, atravessa o Aqueronte para ser vendido nos sujos mercados colonialistas.

Misericórdia! Misericórdia!

Há 400 anos os galos cantam Misericórdia, mas as feridas continuam abertas. Úlceras da fome e do abandono se alastram pela madrugada Como um grito de tambor execrado pelos ouvidos surdos de políticos e autoridades. Autoridades de latrina! Urubus! Por que festejar o patrimônio desumano da miséria e do luto na Hora do Angelus, quando os sinos da anunciação pedem liberdade? Cidadãos de São Luís! Os fariseus vestidos de cordeiros são os mesmos ladrões que assaltam palafitados e jantam suas vísceras no Congresso Nacional. Não vos deixeis cair na tentação do bolo confeitado da infâmia, com suas velas de sangue e de breu. A faca está nas mãos de Lúcifer e as fatias serão negociadas entre os porcos da corte. Quem de vós irá comer desse bolo de aniversário?

Cristo Ressuscitará? Cristo Ressuscitará?

Siiiiiim! Cidadãos de São Luís…É chegada a hora! A hora de libertar Anjos e Lázaros Massacrados por políticas públicas de mentira! Fortalecei a trincheira contra a corrupção e o tráfico de almas! Basta! São 400 anos de miséria, de injustiça, de mãos implorando: Esmola pelo amor de Deus! Mas Deus também está sendo vendido no mercado negro das multinacionais que fabricam miséria e cobram dízimos dos crucificados pela fome. Cidadãos de São Luís, é chegada a hora do Anjo Rebelde! A mensagem revolucionária do filho de Deus já está em nossos corações. Ora pro nobis; Sancta Dei Genetrix…

Hoje o Verbo da Liberdade se fará carne!

[Por ocasião da Via Sacra. Roubei do Vias de Fato]

José Sarney e sua síndrome biográfica

José Sarney continua obcecado com a ideia de fraudar a história e reinventar sua biografia. A ladainha do mitômano já é conhecida. O livro de Regina Echeverria, por exemplo, lançado há um ano, foi uma evidente compilação de patranhas.

O último ato decorrente desta síndrome, veio à tona no último dia 27 de março. Nesta data, foi anunciado na TV Guará (repetidora da Record News, no Maranhão), a estreia do programa Avesso, trazendo “uma entrevista com José Sarney”, cuidadosamente divulgada (e depois repercutida) no sempre governista O Imparcial. O entrevistador, propagado com relativo estardalhaço, foi o escritor, cronista e teatrólogo Américo Azevedo Neto, confrade do entrevistado na Academia Maranhense de Letras (AML).

No discurso de Sarney, no lugar do ex-presidente da ARENA, aparece de súbito “um democrata”; em vez do afilhado e ex-correligionário de Vitorino Freire, surge um “oposicionista firme e corajoso”; o notório corrupto torna-se o intelectual de “prestígio internacional”; um inescrupuloso e burlesco Odorico Paraguaçu posa de “estadista”; o aliciador odiento e vingativo se disfarça numa figura “generosa” e “sem ressentimentos”; o aliado visceral de torturadores é “quase um comunista” e o protetor de latifundiários assassinos, quer se passar por um “cristão radical”, a “nossa” Madre Teresa de Curupu…

Quanto à tertúlia na TV Guará, a emissora do opulento Roberto Albuquerque (agora, bem cevado pelo governo Roseana e por “generosas” empresas), ninguém falou da famosa “universidade da fraude”, nas urnas de “Zé meu filho”, nas diabruras do desembargador Sarney Costa, nas velhas chicanas jurídicas, no golpe de 64, no AI-5, na construtora Mendes Junior, nos ilícitos junto ao Diário Oficial, no processo contra Ribamar Bogéa e Freitas Diniz, na Lei de Terras, nas baixarias do Jornal de Bolso, na brutal grilagem ocorrida no Maranhão, nos inúmeros assassinatos no campo, na Fazenda Maguari, na tortura, no atentado contra Manoel da Conceição, na inflação de quase 100% ao mês, no desastre da Nova República, na CPI da Corrupção, na distribuição de concessões de TV, no Caso Reis Pacheco, do Convento das Mercês, etc. etc. etc. etc. etc. etc. etc. etc. etc. etc. etc. etc.

A entrevista foi apenas uma sequência das velhas e surradas mentiras do entrevistado, que a TV Guará “esqueceu” ser hoje uma das figuras mais desmoralizadas do Brasil (uma chacota, de cabo a rabo do país). Ao final, não podia ser diferente, ficou tudo muito ruim… Num programa batizado como Avesso (o oposto, o outro lado), o que se viu nesta edição de estreia foi mais do mesmo: a velha propaganda sarneyista que não convence rigorosamente a ninguém.  Como disse o ex-senador Artur da Távola, sobre o discurso de Sarney no “Caso Lunus”: “A montanha pariu um rato…” E acreditem!: hoje, é bem possível que até Dona Marly tenha vergonha deste tipo de presepada do filho do desembargador…

E roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão…

[Editorial publicado no site do Vias de Fato. Detalhe curioso pra quem não tiver se ligado: Américo Azevedo Neto é pai de Emílio Azevedo, um dos editores do jornal, cuja edição de março já está nas melhores bancas da Ilha. Honra em colaborar com um jornal em que o departamento comercial não se sobrepõe à redação, em que laços políticos e/ou familiares não interferem na informação e na verdade; a charge de Nani eu já havia publicado aqui]

Chico Discos: um bar

Ao contrário do que muita gente é induzida a pensar o Chico Discos é um bar. Explico: quem diz isso é o próprio Francisco de Assis Leitão Barbosa, o Chiquinho, seu proprietário, em entrevista ao jornal Vias de Fato, em sua edição de março, que saiu da gráfica quinta-feira passada (22).

Uma entrevista hilária concedida ao colega de redação, copo & alma Emílio Azevedo, nosso redator-chefe, editor, gerente e quantas outras funções “a dor e a delícia” de parir este jornal às ruas mês após mês exigirem.

Chico, desde antes de eu conhecê-lo, e já se vão mais de 12 anos, ele uma dessas amizades qual uísque, que melhoram com o passar dos tempos, sempre foi, como este blogueiro, “um homem de vícios antigos”, sempre comprando muitos discos, livros e dvds. Não raro nos encontrávamos no saudoso Bar de Seu Adalberto, um dos “bares pequenos” que ele cita na entrevista e onde costumávamos beber (e onde A vida é uma festa começou), cada qual com uma sacola debaixo do braço num doce e saudável exercício de fazer inveja um ao outro, exibindo mutuamente nossas mais recentes aquisições literárias, musicais, cinematográficas, afetivas, enfim.

Chico diz que seu bar, localizado no segundo andar de um casarão na esquina das ruas Treze de Maio e Afogados, no centro de São Luís, não passa disso: um bar. Nega as charmosas denominações de “centro cultural”, “casa de eventos” e outras pomposas honrarias. O fato é que ele começou vendendo livros e discos usados e locando dvds, atividade que abandonou em sequência. Hoje em dia vende cervejas, cachaças e outros alcoóis, petiscos, tira-gostos e o que mais nós, chegados a um grogue, tanto gostamos.

Quinta-feira passada (22) estive lá. Participando do Papoético, que acontece semanalmente, sob organização de Paulo Melo Sousa, o primeiro à esquerda, na foto acima, feita a meu pedido por Andréa Oliveira, esposa de Celso Borges, o terceiro. O segundo sou este que vos tecla e o quarto o músico André Lucap, que na semana anterior iniciou uma temporada de shows no bar.

Preciso deixar a cretinice e a preguiça de lado e aparecer mais no Chico Discos, bar em que, ao lado do Bar do Léo, sinto-me bastante à vontade, em casa mesmo. No Papoético em que a foto que ilustra este post foi feita acontecia o lançamento da Campanha Estadual de Combate à Tortura, da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) e outras entidades do Comitê Estadual de Combate à Tortura.

Além do Papoético (às quintas, 19h30min, grátis) e da temporada de Lucap (uma sexta-feira por mês, R$ 10,00 o ingresso; este blogue avisará da próxima edição e seu autor estará na plateia), também o cineasta Beto Matuck tem organizado aos sábados (19h, grátis) a sessão Encontro com Cinema, seguida de música, com pesquisa de Eduardo Júlio (eles não estão na foto, mas também encontrei ambos, quinta passada).

Finalizo recomendando a leitura da entrevista, hilária, repito, de Chiquinho, no Vias de Fato, já nas bancas, que traz ainda dois textos meus, já publicados aqui e aqui.

“Problemas causados pela Vale têm a conivência dos governos”

Entrevista que o sindicalista Novarck Oliveira concedeu a este blogueiro e a Emílio Azevedo para o Vias de Fato de fevereiro, a história vocês já conhecem: a edição do mês passado saiu apenas este mês etc., etc. etc., motivos de força maior que o “conselho” está buscando resolver.

A versão da cabeça abaixo é ligeiramente diferente da versão impressa do jornal. Lá alguma coisa se perdeu pelas idas e vindas de e-mails entre redação, edição e revisão. Nada, no entanto, que comprometa o resultado final.

No início deste ano de 2012, a Vale – antiga companhia Vale do Rio Doce – ganhou o prêmio de pior empresa do mundo. Esta anti-homenagem ocorre todos os anos, desde 2000 e é conhecida como o “Nobel da Vergonha”. A indicação foi feita por um grupo de ambientalistas e organizações sociais, formado pela Rede Justiça nos Trilhos, a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale, o International Rivers e a Amazon Watch. O prêmio, anunciado durante o Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), é entregue por duas ONGs: Greenpeace e Declaração de Bernia. É a primeira vez que uma empresa brasileira passa por este desgosto.

Segundo as entidades as razões para a premiação da Vale foram “as repetidas violações dos direitos humanos, condições desumanas de trabalho, pilhagem do patrimônio público e pela exploração cruel da natureza”. A eleição é feita pelo voto direto e qualquer cidadão do mundo pode votar. Do Maranhão, muita gente votou e fez campanha. Ao todo foram mais de 25 mil votos para a Vale. A empresa japonesa Tepco, responsável pelo desastre nuclear de Fukushima, ficou em segundo lugar.

Diante deste fato importante e simbólico, o Vias de Fato resolveu ouvir Novarck Silva de Oliveira, diretor de Comunicação e Política Sindical do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias dos Estados do Maranhão, Pará e Tocantins (STEFEM), uma das instituições que apóia a Rede Justiça nos Trilhos. Novarck é funcionário da Vale há 28 anos e atualmente é também diretor de Formação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no Maranhão.

Leitor e ouvinte voraz, Novarck frequenta regularmente as reuniões do Narcóticos Anônimos (NA) – “limpo” há 12 anos, hoje, aos 47, fuma cerca de 40 cigarros por dia, “de filtro amarelo (são mais fortes)” – e já teve um bar, assuntos que ele também aborda na entrevista concedida aos jornalistas Emílio Azevedo e Zema Ribeiro, do Vias de Fato. O paraibano de Campina Grande, torcedor do Treze daquela cidade, destaca, entre seus autores prediletos, releituras e leituras atuais nomes como Aldous Huxley, Mia Couto, Victor Hugo e Máximo Górki. Na música, entre coisas novas e outras nem tanto, tem sempre no som nomes como Ceumar, Vander Lee, Chico Buarque, Pink Floyd, Smiths, Mônica Salmaso, Scorpions, Gênesis e Guns’n Roses, entre outros. Leia a seguir a entrevista. Continue Lendo ““Problemas causados pela Vale têm a conivência dos governos””

Musa Rara

Há tempos o poeta Edson Cruz me falou dum projeto que estava desenvolvendo e convidou-me a colaborar, do Maranhão. Topei. Há  tempos o Musa Rara foi ao ar e eu ali, sem saber o que escrever no meio de tanta gente e tanta coisa boa. Pra não mais esperar, joguei, na estreia, o mesmo texto que havia escrito pro Vias de Fato de fevereiro, que, motivos de força maior, só foi às bancas agora no comecinho de março.

Estreio pois no Musa Rara com um texto que escrevi sobre Ho-ba-la-lá, livro em que me viciei após a recomendação certeira do professoramigo Flávio Reis. Impossível escapar ileso, imune, impune à leitura. Eu, que sempre tive “problemas” com a Bossa Nova, passei ao menos a ouvir seu papa, João Gilberto, com outros ouvidos. Continue Lendo “Musa Rara”

Impossível Morrer, Ludovicenses!

“Os aeroportos funcionando pelo menos no padrão baixo nível das rodoviárias”, o escriba Xico Sá rogou recentemente a São Judas Tadeu, o das causas impossíveis, em O Oscar e outras 9 causas impossíveis, em seu blogue.

“Em São Luís, nem o aeroporto é a saída”, arrematei em Antiode à Ilha capital, no Vias de Fato de abril do ano passado.

Aos ludovicenses, sem saídas decentes por terra ou ar, Itevaldo Jr. mand’avisar: IML? A justiça mandou interditar.

Pra não dizer que não falei de big brother

[Textinho nosso pro Vias de Fato de janeiro, já nas bancas]

CIRCO DOS HORRORES

POR ZEMA RIBEIRO

São Luís, capital do Maranhão. Local e data a escolha dos leitores e leitoras. Engarrafamento. Um motorista joga uma embalagem plástica pela janela. Em outro horário e local, outro motorista para no meio da pista, mesmo havendo acostamento. Pouco se importa com a fila de carros que se forma atrás de seu veículo. Em frente a uma escola, um grupo de crianças deseja atravessar a avenida. Parecem contentes com o fim de mais um dia de aulas, o sol a pino, a fome ao voltarem para casa. Uma delas resolve por o pé na faixa, como a sinalizar aos motoristas o desejo de chegar ao outro lado da via. Quase tem o pé esmagado por vários carros.

Chove e os condutores não reduzem a velocidade. Pedestres, espremem-se sob a proteção insuficiente do que deveria ser um abrigo no ponto de ônibus. A água suja lhes molha as roupas. Ouvem-se alguns gritos, palavrões, mas xingar, dá em nada, os motoristas estão “protegidos” por seus vidros fumês e ares-condicionados.

Um(a) motorista aciona rápido o botão do vidro elétrico de seu veículo (novo), que acabou de parar em um semáforo. Prefere isolar-se do contato com a criança ou o adolescente – um ser humano, enfim – que lhe pede para limpar os vidros em troca de uma moeda. Apesar do barulho infernal proporcionado pelo ronco dos motores – embreagens cerradas mesmo em terrenos planos –, o trânsito, enfim, àquela hora, mesmo com o vidro fechado, é possível ouvir o comentário de condutor e carona acerca de “comprar droga”. “Tou com fome, é para eu comer”, tenta argumentar o “de menor” – como os do interior do veículo e os dos interiores dos veículos de comunicação tratam os filhos de “gente pobre” –, embora a música (ruim) e o barulhinho (bom) do ar-condicionado lhes impeçam de ouvi-lo.

Uma “autoridade” (branca) destrata um vigilante (negro) na entrada de uma repartição. Ele engole em seco, nada diz. Mesmo tendo razão na advertência que fizera à primeira.

Uma música de qualidade duvidosa é emitida por caixas de som em um estabelecimento comercial. É uma loja de confecções. Além da péssima música, em volume ensurdecedor, vendedores batem palmas rente aos ouvidos dos passantes. Adiante, outra loja toca música tão ruim quanto. Na verdade, um restaurante. Um homem na porta anuncia pratos baratíssimos. Aos gritos. A depender do estabelecimento, podem estar vestidos de palhaços ou ter bundas postiças – desprovidos de qualquer graça. A música ruim é ubíqua, tanto faz venderem roupas, comidas, eletrodomésticos, utilidades do lar ou qualquer outra coisa. Se a loja vende aparelhos de som, várias músicas ruins saem de vários equipamentos (escapamentos?). De unanimidade só a “qualidade” da “obra” (sinônimo de excremento) veiculada.

A mesma música exalada por porta-malas a céu aberto, ensurdecendo antes a vizinhança e os “malas” que depois sairão cantando pneus anunciando seus dirigires embriagados. Mesmo que leis proíbam coisa e outra. Adiante, na base do “sabe com quem está falando” e algum trocado, o herdeiro, ainda que de terceiro grau (de parentesco, não de formação) de alguma autoridade (política, policial, jurisdicional ou outra) é liberado pela blitz, obviamente sem ter sido submetido ao teste do bafômetro.

Mais adiante, próximo a outro bar, outro motorista, sem qualquer gota de álcool no sangue, atropela um gato. É noite e o felino morre imediatamente. O condutor ouve algum barulho, mas não se importa. Talvez não se importasse mesmo em se tratando de um ser humano.

Um homem que bebe nesse bar, munido de um saco plástico, segura pelo rabo o gato morto e deposita-o no canteiro central. Lava as mãos e torna a entornar seus goles, despreocupado. Noutra mesa, um grupo comenta a rebelião no presídio, o que a tevê do recinto havia acabado de exibir. “Bandido tem mais é que morrer. Um bando de come-e-dorme, vivendo confortavelmente à custa do Estado”, bradou um mais eufórico, batendo o copo recém-esvaziado na mesa de plástico. Sua risada cínica e sádica fez mais barulho.

A maior obra da prefeitura é uma árvore de natal, metáfora perfeita para a dilapidação dos recursos públicos: passado o período, a árvore foi ao chão. A grande marca do governo é a propaganda: anuncia mesmo o que sua gestão não fará e/ou continuará adiando indefinidamente.

Num dia, dois jornais diferentes trazem o mesmo texto sobre o mesmo assunto. Noutro, estes mesmos jornais contam duas versões completamente diferentes acerca do mesmo acontecimento.

No trabalho, colegas comentam mais um capítulo da novela, do reality show, da minissérie. Reclamam da corrupção, do trânsito, dos preços, da vida, do trabalho. Comentam qualquer coisa acerca das eleições que se aproximam. Terminam o cafezinho e voltam a seus afazeres.

Vocês, leitores, leitoras, certamente já presenciaram e/ou ouviram falar de uma ou mais das situações descritas ao longo deste texto, cujo título tomo emprestado da música homônima de Josias Sobrinho. Quem carece da realidade fabricada e ensaiada de um Big Brother Brasil quando já se vive na realidade dura, nua e crua deste circo de horrores?

Criança indígena assassinada: mais um crime que ficará impune?

O blogue volta ao retrato, sinal de que nada mudou...
Em agosto do ano passado publiquei a foto acima em um post intitulado De como Roseana Sarney gosta de preto e de índio.

Lembrei da foto por ocasião da vinda à tona do caso da morte de uma criança indígena, sobre o que tem-se poucas informações dado o isolamento do povo Awa-Guajá, etnia do assassinado – consta que tinha oito anos e foi queimada viva por madeireiros na terra indígena Araribóia, em Arame/MA.

O caso não teve a devida repercussão à época do ocorrido por uma série de fatores, inclusive as mui prováveis ligações de madeireiros com as autoridades “competentes”.

O jornal Vias de Fato publicou algo a respeito no apagar das luzes de 2011. E recentemente o jornalista Rogério Tomaz Jr. reacendeu as discussões sobre o caso com este post, seguido do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que se manifestou em texto devidamente reproduzido pelo blogueiro. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) também publicou este texto. E enquanto eu finalizava este post, o site do Vias de Fato voltou ao ar, trazendo novas informações sobre o caso.

Independentemente de há quanto tempo aconteceu o caso, o mesmo deve ser investigado, com as devidas punições aos responsáveis.

Uns, numa caixa de comentários do blogue de Rogério Tomaz Jr., cobram-lhe fontes, provas, o escambau. Ora, o jornalista bloga de Brasília/DF, onde vive, e ainda que vivesse aqui teria dificuldades em apurar o caso, principalmente por conta do isolamento em que vivem os Awá (ainda assim, à distância, supera enorme parte dos colegas e veículos sediados acá). Mais um motivo para cobrarmos das autoridades que cumpram seu papel: têm poder e recursos para fazê-lo, basta querer. O que não pode é a impunidade continuar reinante por estas plagas.

O jornal O Estado do Maranhão publicou hoje (6) matéria sobre o assunto [Polícia, p. 8]. O acesso é exclusivo para assinantes com senha. A quem interessar possa.

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