O choro de Rui Mário na emocionante primeira noite de Lençóis Jazz e Blues Festival 2025

Rui Mário e seu Quarteto, na abertura do Lençóis Jazz e Blues Festival 2025, ontem (21), no Teatro Sesc Napoleão Ewerton - foto: Zema Ribeiro
Rui Mário e seu Quarteto, na abertura do Lençóis Jazz e Blues Festival 2025, ontem (21), no Teatro Sesc Napoleão Ewerton – foto: Zema Ribeiro

Rui Mário chorou no palco. Pura emoção. Como a que fez sentir o público presente. Era a primeira vez dele ali, em um show solo, ele geralmente visto como músico acompanhante e diretor musical de um monte de artistas, como ele mesmo lembrou.

Ao lado de sua sanfona, seu nome figura em fichas técnicas de álbuns como “Shopping Brazil” (2004), de Cesar Teixeira, “Dente de ouro” (2005), de Josias Sobrinho, e “Olho de boi” (2009), de Gildomar Marinho, para citar poucos.

Acompanhado do irmão Tião Lima (zabumba) e do sobrinho Vinícius Lima (triângulo e pandeiro), o núcleo pé de serra de seu quarteto, mais o groove dos ensandecidos Dedé Valença (baixo) e Marcones Pinto (guitarra), Rui Mário (sanfona) fez um show vibrante, dançante (pena estarmos sentados nas poltronas de um teatro em vez de “numa sala de reboco” ou numa praça da cidade), num passeio entre os guarda-chuvas que se convencionaram chamar forró e jazz.

A base do repertório desfilado pelo quinteto foi o álbum “Baião de doido”, que Rui Mário lançou este ano. Começaram pela faixa-título e desafilaram um rosário de referências e reverências que passou por Seu Raimundinho (pai do sanfoneiro e patriarca de uma família de músicos, sei lá quantos trios de forró pé de serra é possível formar ao longo dos galhos de sua árvore genealógica) — “Frevo pro Seu Raimundinho” —, pela filha Maria Eduarda (muitos familiares do músico na plateia) — “Xote desencabulado” — e pelo colega de instrumento Eliézio — “Meu nobre Eliésio” —, outra figura fácil em fichas técnicas de discos da música popular brasileira produzida no Maranhão, ídolo e amigo “que vivia lá em casa, chegava às cinco da manhã, aí está meu pai que não me deixa mentir; aprendi muita coisa com ele”, lembrou Rui Mário.

A emoção de Rui Mário não era jogo de cena para conquistar plateia. Suas lágrimas, no entanto, não se confundiam com timidez: no papel de frontman, o artista estava à vontade, evocando um Jimi Hendrix (1942-1970) na desenvoltura: certamente o americano tocaria daquele jeito se tivesse nascido no Nordeste brasileiro e fosse sanfoneiro em vez de guitarrista. O maranhense só não usou os dentes para fazer soar seu fole.

No bloco dedicado a Hermeto Pascoal (1936-2025), homenageado da edição 2025 do Lençóis Jazz e Blues Festival, Rui Mário equilibrou-se entre a conhecidíssima “Bebê”, em inspirado arranjo, e uma menos óbvia, e tão interessante quanto, “Suíte Norte Sul Leste Oeste”.

“Eu sempre quis dizer isso”, Rui Mário agora ria, enquanto agradecia à produção do festival e anunciava sua saideira, incitando o público a pedir mais uma. “E agora, que não tem no repertório?”. Acompanhado apenas dos parentes, formando um dos trios de forró pé de serra possíveis na árvore genealógica de Seu Raimundinho, antes da foto de costas para o público, atacaram o “Toque de pife”, de Dominguinhos (1941-2013), outra referência fundamental para qualquer sanfoneiro. E a apresentação de ontem foi mais um atestado de que Rui Mário não é um sanfoneiro qualquer.

A noite de abertura da edição 2025 do Lençóis Jazz e Blues Festival aconteceu ontem (21) no Teatro Sesc Napoleão Ewerton. O primeiro show da noite foi do Tiago Fernandes Trio — ele ao violão sete cordas, mais Valdico Monteiro (percussão) e Victtor Sant’anna (bandolim) —, que se apresentou no hall do Condomínio Fecomércio, recepcionando o público. Um show sóbrio e elegante, que incluiu temas como “Canto de Ossanha” (Baden Powell e Vinícius de Moraes), “Samba do avião” (Tom Jobim) e “Boi de Catirina” (Ronaldo Mota).

A noite foi encerrada pelo Mark Lambert Trio, num passeio por rock, jazz e blues, entre temas de nomes como Al Green e Ray Charles (1930-2004), entre outros. O líder, cantor e guitarrista radicado há oito anos em São Paulo, conquistou a plateia de cara, quando se apresentou, brincando: “eu sou norte-americano, ninguém é perfeito”.

Ladeado por Glécio Nascimento (baixo) e Max Sallum (bateria), o uso de pedais de efeitos pelo guitarrista e pelo baixista — a quem Lambert se referiu muitas vezes ao longo da apresentação — faziam o power trio soar por vezes como a eletrônica dos alemães do Kraftwerk. Dançamos sentados.

A programação — inteiramente gratuita — do Lençóis Jazz e Blues Festival 2025 continua sexta-feira (24), às 20h, na Concha Acústica Reinaldo Faray (Lagoa da Jansen). As atrações são o bandolinista Wendell de La Salles, o Jayr Torres Quarteto e o mineiro Beto Guedes.

A etapa Barreirinhas acontece na Avenida Beira-Rio, dias 31 de outubro e 1º. de novembro, também a partir das 20h; na primeira noite por lá as atrações são Luciana Pinheiro, Vanessa Moreno e Arismar do Espírito Santo e Morgana Moreno; na noite de encerramento se apresentam o Jota P Quarteto, Alice Caymmi e os americanos JJ Thames & Prado Brothers Band.

Célia Maria apresenta seu Bolero no Miolo, nesta sexta (29)

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A cantora Célia Maria - foto: Zeqroz Neto/ divulgação
A cantora Célia Maria – foto: Zeqroz Neto/ divulgação

A cantora Célia Maria adotou seu nome artístico para fugir da vigilância dos pais e conseguir cantar (escondida) em programas de auditório em rádios maranhenses. Nos anos 1960 circulou pelo eixo Rio-São Paulo e conviveu com figuras como Cartola (1908-1980), Nelson Cavaquinho (1911-1986), Zé Keti (1921-1999) e o conterrâneo João do Vale (1934-1996).

Considerada a voz de ouro da música do Maranhão, Célia Maria só viria a gravar um álbum, o homônimo Célia Maria, em 2001, com arranjos de Ubiratan Sousa, incluindo o choro “Milhões de Uns”, de Joãozinho Ribeiro, que angariou troféu no Prêmio Universidade FM daquele ano. Nada disso, no entanto, foi capaz de dar a ela o merecido reconhecimento: trata-se de uma das maiores cantoras brasileiras em qualquer tempo.

Só voltaria a gravar em 2022, por iniciativa de admiradores: lançou o EP Canções e Paixões (ouça acima), cujo repertório traz, entre outras, o “Bolero de Célia”, que Zeca Baleiro compôs especialmente para sua interpretação. É a música do conterrâneo que dá título ao show que a artista apresenta nesta sexta-feira (29), às 21h, no Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau).

Na apresentação, Célia Maria será acompanhada do Regional Seis Por Meia Dúzia (nome tomado emprestado de um choro de Luis Barcelos), que está longe de ser qualquer coisa ou mais ou menos, formado especialmente para a ocasião: Rui Mário (sanfona e direção musical), Wendell de La Salles (bandolim), Gustavo Belan (cavaquinho), Gabriela Flor (pandeiro), Chico Neis (violão) e Mano Lopes (violão sete cordas).

A noite contará ainda com as luxuosas participações especiais de Claudio Lima e Dicy. Os ingressos já estão esgotados. No repertório, além de canções de Célia Maria e Canções e Paixões, a que comparecem nomes como Antonio Maria (1921-1964), Antonio Vieira (1920-2009), Cesar Teixeira, Chico Buarque, Edu Lobo, Chico Maranhão e Luiz Bonfá (1922-2001), entre outros, além de um passeio por clássicos da música popular brasileira, com destaque para boleros, choros e sambas-canções.

“Bolero de Célia”, o show, tem produção de RicoChoro Produções e apoio cultural de Maxx, Potiguar, Gênesis Educacional, Bira do Pindaré, Pró Áudio e Turê.

divulgação
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Serviço

O quê: show “Bolero de Célia”
Quem: Célia Maria e Regional Seis Por Meia Dúzia. Participações especiais de Claudio Lima e Dicy
Onde: Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau)
Quando: dia 29 (sexta-feira), às 21h
Quanto: ingressos esgotados
Produção: RicoChoro Produções
Apoio cultural: Maxx, Potiguar, Gênesis Educacional, Bira do Pindaré, Pró Áudio e Turê

Chorinhos e Chorões passa a ser veiculado em cadeia pelas rádios Universidade e Timbira a partir deste domingo (30)

O sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos produz e apresenta o dominical Chorinhos e Chorões. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
Da esquerda para a direita: Tiago Fernandes, Wendell de la Salles, Rui Mário e Marquinhos Carcará, o Quarteto Crivador. Foto: divulgação
Da esquerda para a direita: Tiago Fernandes, Wendell de la Salles, Rui Mário e Marquinhos Carcará, o Quarteto Crivador. Foto: divulgação
O cantor e compositor Claudio Lima. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
O cantor e compositor Claudio Lima. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
No palco ou na plateia, o poeta Celso Borges participou de diversas edições de RicoChoro ComVida na Praça e será homenageado no Chorinhos e Chorões deste domingo (30). Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
No palco ou na plateia, o poeta Celso Borges participou de diversas edições de RicoChoro ComVida na Praça e será homenageado no Chorinhos e Chorões deste domingo (30). Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação

Na última quinta-feira (27) a Rádio Timbira estreou uma nova programação, com vistas à migração para FM, que acontecerá este ano. Programas como o “Fala, Mermã”, sobre o universo feminino, apresentado por Letycia Oliveira (de segunda a sexta, às 17h), e o “Radiola Timbira”, por este que vos escreve (aos domingos, ao meio-dia), passam a compor o novo quadro. O Balaio Cultural, que produzo e apresento com Gisa Franco (sábados, das 13h às 15h), está mantido.

Outras novidades dominicais são o “Alvorada” (das 7h às 9h), com Vanessa Serra, e o Chorinhos e Chorões (das 9h às 10h), com Ricarte Almeida Santos, que permanece na Universidade FM, sua casa original, há 36 anos no ar, e passa a ser veiculado em cadeia com a Timbira.

Para a edição de estreia, Ricarte receberá o Quarteto Crivador, em uma roda de choro ao vivo. O grupo é formado por Tiago Fernandes (violão sete cordas), Wendell de la Salles (bandolim), Rui Mário (sanfona) e Marquinhos Carcará (percussão).

A roda de choro será transmitida ao vivo, a partir do estúdio Lauro Leite, da Rádio Timbira, na Rua da Montanha Russa, 75, Centro. “A ideia é de festa mesmo, de marcar este novo momento, tanto da Timbira, quanto do Chorinhos e Chorões. A veiculação em cadeia com a Universidade vem somar, estamos muito felizes com a oportunidade, em um domingo recheado de boas companhias, começando cedo com Vanessa Serra, passando pelo decano Frank Matos, com o Timbira Espetacular, até chegar ao Radiola Timbira, contigo, a Timbira terá a trilha ideal para todo tipo de ouvinte: o que vai à praia, o que aproveita para fazer uma faxina ou lavar o carro, o que prepara o almoço, e é motivo de grande honra fazer parte desta trilha, deste cardápio”, declarou Ricarte Almeida Santos a Homem de Vícios Antigos.

Além do Quarteto Crivador, o Chorinhos e Chorões deste domingo (30), quando estreia na Rádio Timbira, receberá também o cantor Cláudio Lima, para uma homenagem ao poeta e jornalista Celso Borges (1959-2023), falecido no último domingo (23), Dia Nacional do Choro. Não por acaso, Cláudio Lima foi convidado do sarau RicoChoro ComVida na Praça, realizado no Largo da Igreja do Desterro, Centro Histórico da capital maranhense, por ocasião do lançamento de “Lembranças, Lenços, Lances de Agora: Memórias e Sons da Cidade na Voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022), de Celso Borges, obra em que ele se debruçou sobre os bastidores da gravação do antológico elepê “Lances de Agora” (1978), de Chico Maranhão, produzido por Marcus Pereira, gravado na sacristia da secular Igreja do Desterro.

Timbira e Universidade, que já possuíam uma “parceria campeã” – como reza o slogan das transmissões em cadeia – no esporte e eventualmente na transmissão de grandes eventos, como as festas juninas, ampliam a tabelinha. Pelo visto, o Chorinhos e Chorões aprofunda essa parceria já fazendo história desde o início.

Lances eternos

O ótimo público presente ao Largo da Igreja do Desterro, sábado passado (27). Foto: Rivânio Almeida Santos

Certas coisas, de tão mágicas, não têm explicação. “As retas mais curvas que o mundo tem” parecem convergir em uma só direção. O sarau de encerramento da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça, idealizado e coordenado por Ricarte Almeida Santos, é um destes acontecimentos. A coincidência geográfica e temporal, para celebrar um disco atemporal: a comunidade do Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, celebrava Nossa Senhora do Desterro e a procissão chegou em meio aos paralelepípedos quando o dj Jorge Choairy já preparava o terreno – modo de dizer, que a agricultura de seu set list já colhia os frutos plantados desde algum tempo –, numa convergência saudável e respeitosa entre o sacro e o profano. Exatamente como aconteceu há 44 anos, quando Chico Maranhão e o Regional Tira-Teima, a convite da gravadora Discos Marcus Pereira, ocuparam a sacristia da Igreja do Desterro para registrar o antológico elepê “Lances de agora”, de cuja “Ponto de fuga” pinço as aspas com que quase abro este texto.

O lance de agora era a homenagem que o cantor Cláudio Lima prestaria a Chico Maranhão, compositor que chegou aos 80 anos neste agosto, cantando quase a íntegra do citado disco e duas pérolas de outros momentos da carreira de Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho, nome de pia do homenageado: “Rapaziada, o tempo mudou” e “Diverdade”. “Eu sei que você fica preso no ar quando eu canto”, diz a letra desta última, metáfora possível para a apresentação do cantor.

Acompanhado do Quarteto Crivador, Cláudio Lima era pura entrega no palco. Brincava, mas trabalhando sério, como é de seu feitio, com a própria voz e com a obra de Chico Maranhão. Prendia a atenção do público presente, devotos da boa música tal qual os admiradores das obras de Chico Maranhão, de Cláudio Lima e de choro em geral.

Cantar como quem reza: o sublime encontro de Cláudio Lima e Dicy, reverenciando Chico Maranhão. Foto: Rivânio Almeida Santos

O nome do grupo anfitrião, tomado emprestado de um dos três tambores da parelha de tambor de crioula, parecia também remeter a outra fase da carreira de Chico Maranhão, quando ele comandou a Turma do Chiquinho, registrado em sua “Ópera Boi – O sonho de Catirina”, de meados da década de 1990. Rui Mário (sanfona e direção musical), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Marquinhos Carcará (percussão) e Wendell de la Salles (bandolim) – que se lamentou quando em meio à apresentação inicial do grupo, arrebentou uma corda de seu instrumento, o que nem de longe tirou o brilho do espetáculo – trajaram de personalidade tanto o repertório instrumental do primeiro bloco de sua apresentação, quanto o acompanhamento luxuoso que prestaram a Cláudio Lima e sua convidada especial, a cantora Dicy – que cantou sozinha “Ponta d’areia” e dividiu com ele os vocais em “Vassourinha meaçaba”.

Em respeito às tradições e à religiosidade do local, a passagem de som atrasou. Mas até isso parecia contribuir para o brilho da noite: quem chegou no horário, acabou ouvindo Cláudio Lima cantar “Meu samba choro”, entrada de um delicioso cardápio musical. O público aplaudiu, antes mesmo de o show começar. Era o coroamento de uma ideia que começou há algum tempo: Cláudio Lima, o mesmo cantor e compositor que estava ali, no palco, é designer de formação e assina a capa e o tratamento de imagens do livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022), que o poeta e jornalista Celso Borges autografou na mesma ocasião. Foi a partir da pesquisa que o multi-artista mergulhou de cabeça no universo do filho de dona Camélia. O resto é história que ficará na memória dos presentes.

Em meio a tudo isso, ainda teve o poeta Fernando Abreu, brindando a plateia com um poema (“Ladainha”, que cita Allen Ginsberg e Chico Maranhão e suas lágrimas com novos poemas e canções) de seu novo livro, “Esses são os dias” (7Letras, 2022), que terá lançamento muito em breve.

Para não dizerem que não aponto defeitos: a temporada foi curta e só retorna às praças da ilha ano que vem.

RicoChoro ComVida na Praça homenageia Chico Maranhão

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Repertório do disco “Lances de agora” (1978) será lembrado em frente à igreja onde foi gravado; compositor completou 80 anos neste agosto

Uma viagem no tempo. É o que promete o último sarau da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça, que acontece este sábado (27), às 19h, no Largo da Igreja do Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, em meio aos festejos de São José do Desterro.

A sacristia da secular igreja foi palco, em junho de 1978, das gravações do antológico elepê “Lances de agora”, do compositor Chico Maranhão, com o acompanhamento do Regional Tira-Teima. O disco foi lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira, do incansável pesquisador do cancioneiro de um Brasil desconhecido pela maioria dos brasileiros.

Show de Cláudio Lima será uma homenagem a Chico Maranhão. Foto: divulgação
A cantora Dicy fará uma participação especial durante a homenagem. Foto: divulgação

Chico Maranhão completou 80 anos neste agosto, de modo discreto, como é de seu feitio, ao contrário de outros oitentões ilustres da música popular brasileira. Ele receberá homenagem do cantor Cláudio Lima, convidado desta edição do sarau, que apresentará show com o repertório de “Lances de agora”, com a participação especial da cantora Dicy.

O poeta Celso Borges lerá trechos de “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” . Foto: Layla Razzo. Divulgação

Ainda na ocasião, o poeta e jornalista Celso Borges fará novo lançamento do livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022, 265 p.), misto de bastidores da gravação do disco e biografia de Chico Maranhão, com uma boa dose de imaginação poética – ao aproximar Maranhão e Bob Dylan, por exemplo.

Quarteto Crivador. Montagem. Divulgação

Cláudio Lima e Dicy serão acompanhados pelo Quarteto Crivador, formado por Marquinho Carcará (percussão), Rui Mário (acordeom e direção musical), Tiago Fernandes (violão sete cordas) e Wendell de la Salles (bandolim). O nome do grupo é tomado emprestado de um dos tambores da parelha do tambor de crioula, ritmo genuinamente maranhense que também é alvo do interesse do compositor homenageado, seja em músicas que compôs, seja na Turma do Chiquinho, grupo de tambor de crioula que comandou durante a década de 1990.

As atrações se completam com o dj Jorge Choairy, o mais tropicalista de nossos disc-jóqueis, antropofagicamente falando: seu set list é fruto de uma alimentação sonora que não conhece preconceitos, abarcando diversos gêneros, épocas e geografias, numa salada sonora sempre suculenta.

RicoChoro ComVida na Praça é uma realização da Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt, com produção de Girassol Produções e RicoChoro Produções Culturais, que agradecem ao deputado federal Bira do Pindaré, que tornou possível a realização desta edição do evento, ao destinar emenda parlamentar à Prefeitura Municipal de São Luís, através da Secretaria Municipal de Cultura (Secult).

Acessibilidade cultural – Os saraus RicoChoro ComVida na Praça garantem acessibilidade cultural, com banheiros químicos adaptados, assentos preferenciais, audiodescrição e tradução simultânea em Libras, a língua brasileira de sinais.

Arte na luta contra a fome – O projeto RicoChoro ComVida na Praça é parceiro do “Pacto pelos 15% com fome”, da ONG Ação da Cidadania. Atualmente mais de 33 milhões de brasileiros não têm o que comer. O objetivo da campanha é “promover uma grande aliança entre entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores, para atuarem na linha de frente no combate à fome e às desigualdades sociais”. O evento é gratuito e aberto ao público, mas recomenda-se a doação de um quilo de alimento não-perecível, como gesto concreto de engajamento na campanha. O volume arrecadado será destinado a comunidades em situação de vulnerabilidade social.

Divulgação

Serviço

O quê: sarau RicoChoro ComVida na Praça
Quem: dj Jorge Choairy, Quarteto Crivador, o cantor Cláudio Lima, com participação especial de Dicy Rocha, e o poeta e jornalista Celso Borges
Quando: dia 27 (sábado), às 19h
Onde: Largo da Igreja do Desterro, Centro Histórico de São Luís
Quanto: grátis
Informações: @ricochoro (instagram e facebook)

Do Cohatrac ao Desterro: temporada 2022 de RicoChoro ComVida na Praça termina sábado que vem

O encontro de Bia Mar e Carlos Cuíca no palco do RicoChoro ComVida na Praça. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação

O segundo sarau da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça ocupou a de Nossa Senhora de Nazaré, no Cohatrac, sábado passado (20) no diálogo saudável e estimulante entre músicos e plateia, com a participação da comunidade, entre os que fruíam a roda de choro e os que aproveitavam a passagem do dj Marcos Vinícius, do Instrumental Tangará e dos cantores e compositores Bia Mar e Carlos Cuíca pelo bairro para fazer um extra, entre vendedores ambulantes e os bares, restaurantes e churrasquinhos do entorno.

Nos 10 anos da lei de cotas e o atual momento de revisão da referida legislação, Marcos Vinícius mandou o recado pela música de Macau interpretada por Sandra de Sá, que canta “todo brasileiro tem sangue crioulo”, em “Olhos coloridos”, hit absoluto desde o lançamento, um dos pontos altos de sua sempre caprichada sequência.

Acompanhados por um Tangará que caprichou na homenagem a Jacob do Bandolim (1918-1969) – o “herdeiro” Hamilton de Holanda estava na cidade para um show na véspera – falecido há 53 anos, num 13 de agosto. Dele tocaram “Noites cariocas” – “hoje vai virar “Noites ludovicenses”, brincou o acordeonista Andrezinho –, “Assanhado” e “Doce de coco”. O grupo se completa com Valdico Monteiro (pandeiro), Gustavo Belan (cavaquinho) e Tiago Fernandes (violão sete cordas).

Bia Mar e Carlos Cuíca fugiram do óbvio em seus repertórios, cujos pontos altos (a escolha não é fácil e essa é uma opinião pessoal) foram, respectivamente “Reconvexo” (Caetano Veloso) e “Mestre Antonio Vieira” (Carlos Cuíca), revelando referências e inspirações.

Sábado que vem (27), às 19h, no Largo da Igreja do Desterro, no Centro Histórico da capital, acontece o último sarau da temporada. As atrações são o dj Jorge Choairy, o Quarteto Crivador – formado por Marquinhos Carcará (percussão), Rui Mário (acordeom e direção musical), Wendell de la Salles (bandolim) e Tiago Fernandes (violão sete cordas) – e o cantor Cláudio Lima, com a participação especial de Dicy, que farão uma homenagem ao repertório do antológico elepê “Lances de agora” (1978), de Chico Maranhão. Na ocasião, o poeta e jornalista Celso Borges fará novo lançamento de seu livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão”, com leitura de trechos da obra.

Das praças às telas: RicoChoro ComVida terá três edições virtuais em 2020

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Apresentações musicais ocorrerão em formato talk show; diálogo de grupos de choro com artistas de vertentes distintas da música popular está mantido nas lives do projeto

O Quarteto Crivador. Da esquerda para a direita: Marquinho Carcará, Rui Mário, Wendell de la Salles e Luiz Jr. Maranhão. Foto: divulgação

Num ano atípico como 2020, o público de São Luís foi privado ao que já estava acostumado no segundo semestre: os tradicionais saraus do projeto RicoChoro ComVida na Praça, que percorrem diversos logradouros públicos da capital maranhense.

Mas os chorões e choronas apreciadores da iniciativa, além de curiosos em geral, não ficarão órfãos: RicoChoro ComVida na Praça terá edições em formato online, uma espécie de live talk show, com apresentação de Ricarte Almeida Santos e produção de Girassol Produções Artísticas, realizadas com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, administrados pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma).

RicoChoro ComVida, portanto, este ano não será na praça, mas online: três saraus manterão a proposta do projeto, de estimular o diálogo entre o choro e outras vertentes da música popular brasileira, através do encontro de um grupo de choro e cantores e cantoras, de gêneros e gerações distintas.

As lives serão gravadas nos estúdios da TV Guará e ainda não têm data para ir ao ar. No formato de talk show, Ricarte Almeida Santos conversará com os grupos e artistas convidados, numa espécie de entrevista musicada, bastante dinâmica.

Na primeira live, o Quarteto Crivador – formado por Marquinho Carcará (percuteria), Luiz Jr. Maranhão (violão sete cordas), Rui Mário (sanfona) e Wendell de la Salles (bandolim) – recebe como convidados Dicy e Josias Sobrinho; na segunda, é a vez do Regional Caçoeira – Tiago Fernandes (violão sete cordas), Wendell Cosme (cavaquinho e bandolim), Lee Fan (flauta e saxofone), e Wanderson Silva (percussão) – dialogar musicalmente com Elizeu Cardoso e Regiane Araújo; e por último, Anastácia Lia e Neto Peperi serão recebidos pelo Choro da Tralha, formado por João Eudes (violão sete cordas), João Neto (flauta), Gabriela Flor (pandeiro) e Gustavo Belan (cavaquinho).

Os grupos – O Quarteto Crivador, que leva o nome de um dos tambores da parelha do tambor de crioula, e o Caçoeira, nome de um instrumento de pesca, têm em seu DNA musical a mescla do choro com gêneros da cultura popular do Maranhão. O Choro da Tralha formou-se para tocar no sebo e botequim homônimo, recentemente fechado, temporariamente, em razão da pandemia. Apresentava-se aos domingos, mas acabou conquistando outros palcos. Sua sonoridade e formação remetem aos primeiros regionais surgidos no Brasil.

Os convidados – Homens e mulheres de gerações distintas e enorme talento, conheça um pouco do perfil dos artistas convidados das lives de RicoChoro ComVida em 2020.

Dicy iniciou sua trajetória musical cantando na igreja, na infância. Integrou o trio vocal Flor de Cactus, que acompanhou Wilson Zara na noite imperatrizense. Artista engajada, tem um disco solo gravado, “Rosa semba”.

Josias Sobrinho é um dos grandes mestres da música popular brasileira produzida no Maranhão. Figurou no repertório do antológico “Bandeira de aço” (Discos Marcus Pereira, 1978), lançado por Papete, considerado um divisor de águas da música produzida por aqui.

Elizeu Cardoso é um artista plural: professor de geografia, escritor, locutor e programador de uma webrádio, o cantor e compositor é dos artistas que melhor faz a ponte entre a música popular produzida no Maranhão e as raízes ancestrais africanas.

Regiane Araújo tem formação em Ciências Sociais e é uma artista que dá voz a denúncias sociais. Participou do Festival BR-135 e recentemente foi selecionada pelo Conecta Música para a produção de um videoclipe. O videoclipe de sua música “Tirem as cercas” é sucesso de público e crítica.

Anastácia Lia é um dos grandes talentos de sua geração, transitando com desenvoltura por diversas vertentes musicais. Nasceu em berço musical, sendo descendente de fundadores da Turma do Quinto. Atualmente é intérprete da Favela do Samba e uma das organizadoras do anual Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba. Artista engajada, tem na música um instrumento de combate ao racismo e outras formas de discriminação.

Neto Peperi é ex-vocalista e cavaquinhista do grupo Espinha de Bacalhau, lendário nas noites de São Luís. Cantor e compositor inspirado é um dos mais talentosos representantes do gênero que por aqui consagrou nomes como Cristóvão Alô Brasil, Cesar Teixeira e Zé Pivó, entre outros que costuma incluir em seu repertório.

Live solidária celebra Dia Nacional dos Bancários em São Luís

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Com transmissão pelo youtube e TV Guará, a data comemorativa terá apresentações do Quarteto Crivador, Chico Chinês e Serrinha do Maranhão (do Samba de Iaiá) e Tom Cléber

Entre o final de 2018 e início de 2019 o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Maranhão (Seeb/MA), popularmente conhecido como Sindicato dos Bancários, aprofundou a incorporação da dimensão cultural às lutas travadas cotidianamente pela categoria. Nascia assim, à época, o projeto RicoChoroComVida Pra Luta, que levou ao palco de sua sede social (Av. Gal. Arthur Carvalho, 3.000, Turu), diversos nomes da música instrumental e da música popular produzida no Maranhão, que por motivos de força maior, estacionou em apenas uma temporada.

Revivendo aquele momento, importante para a categoria, para a classe artística e para a sociedade em geral, é nesse clima que será comemorado o Dia Nacional dos Bancários no Maranhão. O estúdio da TV Guará (canal 23 na tevê aberta) receberá, no próximo dia 29 de agosto (sábado), às 20h, um sarau musical em formato de live, como recomendam o bom senso e os cuidados com a saúde e segurança de todos em tempos de pandemia – cantores, instrumentistas, profissionais envolvidos, a categoria homenageada e o público em geral.

O sarau musical seguirá o modelo estabelecido pelos projetos RicoChoroComVida na Praça e Pra Luta, com uma formação instrumental abrindo a noite e depois acompanhando importantes nomes de nossa música popular. A transmissão será ao vivo – a partir do estúdio da TV Guará, sem a presença de público – pelo canal do sindicato no youtube e pela TV Guará, simultaneamente e com tradução em Libras, garantindo a acessibilidade cultural. A produção é de RicoChoro Produções Culturais. A live terá apresentação de Ricarte Almeida Santos.

O anfitrião da noite festiva será o Quarteto Crivador, formado por Rui Mário (sanfona), Marquinho Carcará (percuteria), Luiz Jr. Maranhão (violão sete cordas) e Robertinho Chinês (bandolim e cavaquinho). O grupo ganha o reforço dos percussionistas Marcos Paulo e Vinicius Filho, para abrilhantar ainda mais a festa.

Os convidados do Crivador serão os cantores Serrinha e Chico Chinês (do Samba de Iaiá) e Tom Cléber (foto), numa noite que promete, no cardápio musical, o melhor do choro, do samba e da música popular brasileira.

O Quarteto Crivador. Foto: divulgação
O Quarteto Crivador. Foto: divulgação

Atrações – Crivador é o nome de um dos três tambores da parelha do tambor de crioula. O nome foi escolhido pela característica do grupo, de mesclar o choro e outras vertentes da música instrumental brasileira a ritmos da cultura popular do Maranhão. Originalmente o quarteto tem o bandolinista Wendell de la Salles em sua formação.

O cantor Tom Cleber. Foto: divulgação
O cantor Tom Cleber. Foto: divulgação

Tom Cléber – Nascido em São João dos Patos, no interior do Maranhão, o ídolo romântico Tom Cléber está acostumado a grandes plateias, vendagens consideráveis de discos e hits de rádio, no Maranhão e fora dele, entre releituras de clássicos populares e composições autorais.

O cantor Serrinha do Maranhão. Foto: divulgação
O cantor Serrinha do Maranhão. Foto: divulgação

Serrinha – Serrinha do Maranhão fez fama na década de 1990, a partir da Madre Deus, à frente do grupo Serrinha e Companhia, muito requisitado nas rodas de samba e pagode da ilha. Gravou o disco “Na palma da mão”, contando com a participação especial do sambista Jorge Aragão, autor de “Uns e alguns”, faixa de abertura do disco, cujo refrão acabou intitulando o trabalho, que conta com as participações especiais do Regional Tira-Teima e Zeca do Cavaco, que empresta sua voz ao clássico “Das cinzas à paixão”, de Cesar Teixeira.

O cantor e percussionista Chico Chinês. Foto: divulgação
O cantor e percussionista Chico Chinês. Foto: divulgação

Chico Chinês – Os olhos puxados deram a ele o apelido de Chinês, com que ficou conhecido nas rodas de samba da capital maranhense, principalmente como integrante do grupo Espinha de Bacalhau. O percussionista é pai do bandolinista e cavaquinhista Robertinho Chinês.

Festa solidária – “Sem dúvida, será um show de atrações e de solidariedade. Em razão da pandemia, pela primeira vez a festa será online, mas a animação e qualidade de sempre estarão presentes, ainda mais com esse objetivo de ajudar o próximo e preservar vidas. Bancários, bancárias e a sociedade em geral, prestigiem!”, convidou o Presidente do Seeb/MA Eloy Natan. A live tem caráter solidário e a arrecadação será destinada ao Instituto Antonio Brunno, de apoio a pacientes com câncer. Haverá sorteio de brindes para bancários em dia com suas obrigações sindicais.

Dia dos Bancários – O Dia Nacional dos Bancários é celebrado em 28 de agosto desde 1951. A data foi escolhida após uma grande assembleia da categoria, que reivindicava aumento salarial após 69 dias de paralisação – uma das mais longas e vitoriosas da história.

Serviço

O quê: live/sarau musical em comemoração ao Dia Nacional dos Bancários
Quem: Quarteto Crivador, Chico Chinês e Serrinha do Maranhão (do Samba de Iaiá) e Tom Cléber
Quando: dia 29 de agosto (sábado), às 20h
Onde: transmissão pelo canal do Seeb/MA no youtube e pela TV Guará (canal 23 da tevê aberta)
Quanto: evento gratuito e online. As doações arrecadadas serão destinadas ao Instituto Antonio Brunno.

França, Lapa, Ilha e adiante

Francês radicado no Brasil há 15 anos, Nicolas Krassik está em São Luís. Amanhã (26) ele participa de uma roda de conversa, cujo tema é “Um violino francês na música brasileira”. O bate-papo acontece às 16h, no Auditório José Ribamar Martins, na Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo (Emem, Rua da Estrela, 365, Praia Grande).

Sábado (27) é a vez do franco-brasileiro desfilar seu talento na última edição desta temporada do projeto RicoChoro ComVida na Praça, a partir das 19h. Ele será acompanhado pelo Trio Crivador, grupo de virtuoses formado especialmente para a ocasião: Luiz Jr. (violão sete cordas), Rui Mário (sanfona) e Wendell de la Salles (bandolim). O grupo terá ainda o reforço do percussionista Marquinho Carcará. A noite contará ainda com discotecagem de Jorge Choairy e participação especial da cantora Flávia Bittencourt. Tanto o bate-papo quanto o sarau musical têm entrada franca. O projeto é patrocinado pela TVN, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Nicolas Krassik já é brasileiríssimo. Seu primeiro disco, intitulado Na Lapa [2004], bairro que ajudou a recolocar no mapa boêmio e musical brasileiro, abre com Krassik de Ramos, de Eduardo Neves, trocadilho com outro famoso bairro carioca, o Cacique de Ramos dos pagodes de Beth Carvalho, de cujo convite para gravar em disco, ele lembra com carinho em entrevista exclusiva a Homem de vícios antigos.

A Na Lapa seguiram-se Caçuá [2006], Nicolas Krassik e Cordestinos [2008], Odilê Odilá [2009], inteiramente dedicado a releituras instrumentais da obra de João Bosco, Nordeste de Paris [2013], também assinado com os Cordestinos, e Mestrinho e Nicolas Krassik [2016], dividido com o sanfoneiro. Ano passado ele lançou Antologia Nicolas Krassik – 15 anos de Brasil. Isso para falar apenas em carreira (mais ou menos) solo, fora as inúmeras participações em discos de artistas como Argemiro do Pandeiro, Chico Buarque, Chico Chagas, Edu Krieger, Gilberto Gil, Marcos Sacramento, Maria Gadu, Marisa Monte, Mu Carvalho, Pedro Luís, Pedro Miranda, Silvério Pontes, Yamandu Costa, Zé Paulo Becker e Zélia Duncan, entre outros.

Seu violino está na regravação de Namorada do cangaço (Cesar Teixeira), faixa de Batalhão de rosas, terceiro disco da carreira de Lena Machado, que a cantora maranhense lança ainda este semestre.

Foto: Elena Moccagatta

Homem de vícios antigos – Antes de sua apresentação, você participa da roda de conversa “Um violino francês na música brasileira”. O que será abordado durante a conversa?
Nicolas Krassik – A minha ideia é falar da minha trajetória, partindo da separação entre a música erudita e o popular, através do jazz, quais foram os desafios e as dificuldades, se livrar das partituras, desenvolver o ouvido, aprender a improvisar e procurar um swing diferente. Depois veio a descoberta da música brasileira, lá na França, aprendendo com os brasileiros de lá. Chegando ao Brasil, foram novos desafios, novas dificuldades, a descoberta mais profunda dessa cultura muito rica e muito diversa. Tive que aprender uma nova comunicação e espirito musical. Para tocar música brasileira, tem que se tornar um pouco brasileiro. Um violino é quase um detalhe, a pessoa é quem tem que se transformar e se adaptar.

Você está radicado no Brasil há década e meia. Como foi à época tomar a decisão de ficar?
Decidir ficar no Brasil foi fácil, quase óbvio. O difícil foi decidir viajar pro Brasil, nunca tinha viajado sozinho fora da França, somente a trabalho, foi um pouco assustador. Depois, quando vi tudo que estava acontecendo de bom comigo, no plano humano e profissional, tudo ficou bem claro.

Você já conhece São Luís? Se sim, quais as lembranças? E para esta sua vinda, quais as expectativas?
Acho que toquei em São Luís umas três vezes, a convite do meu amigo Mário Moraes, produtor apaixonado pelo samba do Rio de Janeiro. Eu lembro de um público muito caloroso e receptivo. Foi muito bom. Lugar lindo também. Só nunca deu tempo de conhecer os Lençóis. Imagino que essa nova oportunidade de ir para São Luís seja muito boa também, fico feliz dessa vez, de poder tocar com músicos da cidade, que sei que estão preparando esse encontro com muito carinho.

Qual será a base do repertório de sua apresentação?
Vamos tocar choro e forró, eu sou apaixonado por esses gêneros. Músicas minhas, do Sivuca, Dominguinhos e Jacob do Bandolim, entre outras.

Você já gravou com uma infinidade de grandes nomes da música brasileira. É possível destacar alguns momentos marcantes de sua trajetória?
Essa parte é delicada, foram mesmo muitos artistas. O primeiro convite veio da Beth Carvalho, pra gravar no cd Nome sagrado [2001, inteiramente dedicado ao repertório de Nelson Cavaquinho], depois gravei no dvd A madrinha do Samba. Essas duas participações foram essenciais para eu ganhar o meu “passaporte” pro mundo do samba. Outro grande encontro, um dos mais importantes pra minha trajetória, foi com Yamandu Costa. Gravei dois cds com ele e viajei o mundo inteiro. Devo muito a ele, aprendi muito, musicalmente e pessoalmente também. Não posso esquecer do Gilberto Gil. 10 anos depois de eu ter descoberto o cd Eu tu eles [2000, trilha sonora do filme homônimo, de Andrucha Wadington], ele me convidou para fazer parte do projeto Fé na festa [2010], onde o repertório era muito parecido. Esse disco tinha feito eu me apaixonar pela música nordestina. Tocar e viajar pelo mundo com esse artista incrível, foi uma aula de música e de vida, inesquecível.

No palco, você e o Trio Crivador terão a participação especial de outra maranhense, Flávia Bittencourt. Você já a conhece? O que pode dizer de seu trabalho?
Conheço e gosto muito da Flávia. A gente se conheceu no Rio e tive a alegria de gravar em dois cds dela. O primeiro foi um cd em homenagem ao Dominguinhos [Todo Domingos, de 2009], meu ídolo absoluto. O segundo, gostei muito também, gravei um xote com leitura mais moderna, elementos eletrônicos de muito bom gosto. Vai ser muito legal a gente poder se encontrar novamente e se apresentar juntos.

Quais os seus projetos para 2018?
Muitos projetos para esse ano, continuar o projeto Cordestinos, com novas composições e gravações, começar um projeto de duo com o violonista Gian Correa e tentar viajar mais pra Europa em busca de novas parcerias.

Correndo o chapéu

[release]

Campanha de financiamento coletivo lançada no último dia 1º. pretende garantir parte do orçamento para viabilizar a publicação; a outra parte do recurso está garantida através de edital da Fapema

Os chororrepórteres Ricarte, Rivanio e este que vos perturba, no Bar do Léo, um dos cenários da Chorografia do Maranhão. Foto: Murilo Santos
Os chororrepórteres Ricarte, Rivanio e este que vos perturba, no Bar do Léo, um dos cenários da Chorografia do Maranhão. Foto: Murilo Santos

O sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos, o jornalista Zema Ribeiro e o fotógrafo Rivanio Almeida Santos aprovaram, em edital da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico do Maranhão (Fapema), projeto que pretende publicar em livro as 52 entrevistas da Chorografia do Maranhão, realizadas pelo trio com instrumentistas de choro naturais de/e/ou radicados no Maranhão.

Porém, o recurso aprovado pela Fundação é insuficiente para as pretensões dos “chororrepórteres”, como eles se autodenominaram. “Foram mais de dois anos de trabalho árduo, publicando quinzenalmente as entrevistas em parceria com um jornal de São Luís, e o registro destas entrevistas em livro, além de uma vontade nossa, é também um desejo de pesquisadores, estudantes de música e interessados em música em geral, e em choro em particular, além dos próprios personagens da série”, revela Ricarte.

Para conseguir o que falta dos recursos para realizar seu intento, o grupo lançou uma campanha virtual de financiamento coletivo. “O crowdfunding é uma tendência mundial para a realização de projetos nas mais diversas áreas, hoje. É claro que estamos abertos a patrocinadores, a empresários eventualmente sensíveis à cultura, alguns dos quais têm colaborado para a realização dos projetos realizados por Ricarte nos últimos anos; mas se eles não se aliarem ao projeto, já estamos, literalmente, com o bloco na rua e o chapéu na mão”, comenta Zema.

A campanha, que pretende arrecadar 30 mil reais e tem dois meses de duração, foi lançada no último dia 1º. de fevereiro. “Realizamos um trabalho que buscou primar pela excelência na apuração dos depoimentos, revelando além das próprias histórias pessoais dos chorões, um pouco da própria história do choro e da música em geral produzidos no Maranhão, as dificuldades e avanços vividos pelo gênero no estado, além de a Chorografia ser também um mapeamento afetivo e sentimental de lugares que, de algum modo, têm relação com a música imortalizada por gênios como Pixinguinha e Ernesto Nazareth, entre outros. Pode parecer que estamos querendo dinheiro demais, mas queremos um livro com um padrão de qualidade, como a memória deste pedaço da história e da cultura do Maranhão merece”, defende Rivanio.

Lançamentos além da Ilha – Outra pretensão do trio – e para isso, outro projeto já está em fase de elaboração, para captação de recursos através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura – é lançar o livro em praças de choro pelo país. “O Clube do Choro do Maranhão sempre buscou proporcionar o diálogo entre músicos do cenário local e do cenário nacional, e os projetos que produzimos ultimamente, movimentando a cena chorística da capital maranhense, não fizeram diferente. Nossa ideia é levar este livro à Brasília, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, garantindo a ida de um grupo de choro maranhense até cada uma destas cidades, para as noites de autógrafos”, antecipa Ricarte.

Capricho editorialChorografia do Maranhão, o livro, tem prefácio de Luciana Rabello e produção editorial da Pitomba! Livros e Discos, que tem investido na produção de obras sobre a cena musical do Maranhão. A editora de Bruno Azevêdo já publicou Onde o reggae é a lei, de Karla Freire, Em ritmo de seresta – Música brega e choperias no Maranhão, de seu proprietário, e O reggae no Caribe brasileiro, de Ramusyo Brasil, os dois primeiros em parceria com a Edufma.

Personagens e cenários – Para se ter uma ideia da diversidade dos entrevistados, citamos os personagens da galeria da Chorografia do Maranhão: Os Irmãos Gomes – filhos do capitão Nuna Gomes, compositor e multi-instrumentista rosariense, o violonista Bastico, Zequinha do Sax e Biné do Cavaco –; os bandolinistas César Jansen, Chiquinho França, Raimundo Luiz, Ronaldo Rodrigues, Wendell Cosme e Wendell de La Salles; o banjoísta Biné do Banjo; os cavaquinhistas Ignez Perdigão, Juca do Cavaco, Márcio Guimarães, Paulo Trabulsi, Rafael Guterres, Robertinho Chinês e Zeca do Cavaco; os flautistas Danuzio Lima, João Neto, Lee Fan, Paulinho Oliveira, Serra de Almeida, Zezé Alves; os percussionistas Arlindo Carvalho, Carbrasa, Léo Capiba [in memoriam], Luiz Cláudio, Nonatinho, Vandico, Wanderson e Zé Carlos; o pianista Adelino Valente; o sanfoneiro Rui Mário; os saxofonistas José Luís Santos e Osmarzinho; o trombonista Osmar do Trombone; o tecladista Maestro Nonato; os violonistas Agnaldo Sete Cordas [in memoriam], Celson Mendes, Domingos Santos, Francisco Solano, Giovani Cavalcanti, Gordo Elinaldo, Henrique Cardoso, Hermelino Souza, João Eudes, João Pedro Borges, João Soeiro, Joaquim Santos, Luiz Jr., Marcelo Moreira, Monteiro Jr., Turíbio Santos e Ubiratan Sousa – alguns dos listados assumem mais de um instrumento.

As entrevistas também revelam uma paisagem diversa, afetiva do choro em São Luís. A Chorografia do Maranhão visitou as residências de Adelino Valente, Arlindo Carvalho, César Jansen, dona Zelinda Lima (para entrevistar seu filho Danuzio), Gordo Elinaldo e João Pedro Borges (para entrevistar seu amigo e parceiro Turíbio Santos, que ensaiava lá, para uma apresentação em São Luís), além de Bar do Léo, Barraca Paradise, Barulhinho Bom, Brisamar Hotel, Chico Discos, ECI Museum, Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo, Estúdio de Júlio (Camboa), Feira da Praia Grande, Fonte do Ribeirão, Hotel Pestana, Kumidinha di Buteko, La Pizzeria, Praça da Saudade, Praça de Alimentação do São Luís Shopping, Quitanda de Seu João (esquina das ruas do Ribeirão e do Machado, Centro), Quitanda do Jósimo (esquina das ruas do Alecrim e Pespontão, Centro), Quitanda Rede Mandioca, Restaurante Chico Canhoto, Salomé Bar, Samba Sem Telhado e Sonora Studio.

Participações especiais – A série Chorografia do Maranhão contou ainda com chororrepórteres honorários: num encontro inusitado, em plena Feira da Praia Grande, o jornalista e compositor Cesar Teixeira – fundador do Regional Tira-Teima – ajudou a entrevistar Zeca do Cavaco, atualmente membro do grupamento de choro mais longevo do Maranhão; e Murilo Santos substituiu Rivanio, que não pode comparecer à entrevista com Os Irmãos Gomes no Bar do Léo.

Segunda etapa – Ricarte, Rivanio e Zema priorizam, agora, a publicação do trabalho em livro. Mas revelam uma vontade, para a qual já estão se preparando: revelar os chorões do interior do Maranhão. “Ao longo das entrevistas, diversas cidades maranhenses foram citadas como polos musicais importantes, embora praticamente desconhecidos. A Chorografia do Maranhão, por conta de todas as limitações, sobretudo pelo recurso zero que teve, ou melhor, não teve [risos], acabou se concentrando na capital e, quando entrevistou chorões radicados fora do Maranhão, foi aproveitando visitas suas à capital, por um ou outro motivo. Vamos trabalhar um projeto para garantir as viagens aos municípios do interior, as condições de trabalho, e continuar este mapeamento, do qual este livro encerra uma primeira etapa”, finaliza Ricarte.

Faça sua doação!

Chorografia do Maranhão: Wendell de la Salles

Abre parêntese: ao tempo em que reproduzo cá no blogue a 49ª (de 52) entrevistas da série Chorografia do Maranhão, tenho a imensa alegria de compartilhar com os poucos mas fiéis leitores deste Homem de vícios antigos: o edital de apoio à publicação de livros 21/2015 da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) aprovou o projeto Chorografia do Maranhão (clique aqui para baixar o resultado). Muito em breve, caros e caras, as entrevistas realizadas por este que vos perturba, Ricarte Almeida Santos e Rivanio Almeida Santos (fotografias), publicadas entre março de 2013 e maio de 2015 no jornal O Imparcial, reunidas em livro, aguardem! Fecha parêntese.

Bandolinista potiguar radicado há cerca de 10 anos em São Luís, membro honorário do Regional Tira-Teima é o 49º. entrevistado da série Chorografia do Maranhão

Foto: Rivanio Almeida Santos
Foto: Rivanio Almeida Santos

 

TEXTO: RICARTE ALMEIDA SANTOS E ZEMA RIBEIRO
FOTOS: RIVANIO ALMEIDA SANTOS

Doutor em engenharia química e bandolinista, o potiguar Wendell Ferreira de la Salles ganhou este sobrenome de uma promessa da avó: com complicações na gravidez, ela batizaria o filho com o nome do santo do dia. Seu pai, o funcionário público João Batista de la Salles, iniciava ali um outro ramo onomástico na árvore genealógica da família.

Grande comprador de discos – “ele comprava mais do que ouvia” – foi seu pai uma das primeiras influências musicais do menino Wendell. Em meio a tão vasto acervo, logo os discos de choro chamaram-lhe a atenção.

Wendell nasceu em 22 de agosto de 1974, filho da professora do ensino fundamental Telúsia Ferreira de la Salles. É casado com Kátia Simone, também engenheira química natalense, com quem tem uma filha de oito anos – que lhe inspirou a música Anjo meu, gravada no disco de estreia do Regional Tira-Teima, que deve ser lançado em breve.

O 49º. entrevistado da série Chorografia do Maranhão conversou com os chororrepórteres no novo Barulhinho Bom (Praia Grande) e contou, entre outras histórias, como começou a tocar ainda criança, a ida para o doutorado na França, o retorno ao Brasil – hoje é professor da Universidade Federal do Maranhão – e a acolhida entre os bambas do Tira-Teima.

Foto: Rivanio Almeida Santos
Foto: Rivanio Almeida Santos

 

De onde vem teu sobrenome? É uma situação estranha. A família de meu pai efetivamente é Melo, exceto meu pai que tem esse sobrenome, de la Salles. Ele nasceu no dia de um santo, São João Batista de la Salles, e minha vó, que parece que teve problemas na gravidez, fez uma promessa, só que na hora do registro ela não botou João Batista de la Salles de Melo, ficou João Batista de la Salles. Aí vem dele.

Seus pais tinham algum envolvimento com música? Não. Meu pai sempre gostou de ouvir música, era um grande comprador de discos, mais comprava do que ouvia. A gente sempre teve uma variedade muito grande, eu sempre ouvi muita música por que meu pai comprava muitos discos, eu ouvia até mais que ele, ele comprava e eu ouvia. Até hoje continua mais ou menos assim. Ele tinha uma tendência a querer agradar os convidados. Se ele tinha amigos que gostavam de rock, ele ia e comprava rock, gostava de samba ele comprava discos de samba, de choro, discos de choro.

Mas sempre com um padrão de qualidade. É, sempre com um padrão de qualidade, sempre com bom gosto, em geral. O rock para ele era aquele rock tradicional, de Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley. Mas isso foi mais na infância mesmo, depois ele deu uma parada, hoje é que está voltando [a comprar discos].

Ele tocava alguma coisa? Não. Na família, quem tocava era meu avô, pai da minha mãe. Ele nasceu no interior do Rio Grande do Norte, tocava cavaquinho, mas tocava forró.

E a música nordestina, tinha espaço na tua casa? Tinha. Sempre teve. Forró, eu gosto bastante, daquele tradicional, meus pais também.

No meio de toda essa coleção de discos de teu pai, você lembra o que chamou a atenção? Algo que você queria ouvir sempre, que repetia muito. Aquele disco que você ouviu até furar. É engraçado, realmente a variedade era grande, mas quando eu paro para pensar no que eu queria ouvir, ainda criança, eram discos de choro mesmo. Eu não lembro de botar outras coisas. Lembro das capas dos discos de Jacob [do Bandolim] que ele tinha, o disco de Assanhado, Vibrações, são as que mais vêm à cabeça ainda na época do vinil. Eu não tinha muito tempo para escolher, papai não dava tempo para escolhermos, ele estava o tempo todo botando algum disco, e a gente no clima, ali, sempre tinha festa lá em casa.

Além de músico, você tem outra profissão? Atualmente sou professor da UFMA, formado em engenharia química. Minha profissão efetiva, mesmo, deixou de ser a música há bastante tempo.

Houve algum momento de tua vida em que você atuou como músico profissional? A música permitiu até que eu concluísse uma graduação, que eu fizesse um mestrado em Natal, a situação financeira de meus pais não era muito fácil. Eu nunca tive problemas para fazer o que eu queria devido à música. Comecei a tocar muito cedo, meus pais não tinham muitas despesas comigo. A música serviu como profissão um bocado de tempo na minha vida, tocava na noite, sexta, sábado, domingo, desde oito, nove anos de idade. O primeiro regional que eu toquei foi um que meu pai criou. Ele se empolgou tanto quando me viu brincando com o cavaquinho que era de meu avô, que criou um grupo para eu tocar. Ele pagava os músicos para tocar comigo. Eu não tocava nada, sabia duas ou três músicas, ele pagava os músicos, tinha um cantor, eu entrava, toca minhas duas ou três músicas e eles continuavam, a noite toda.

Então o teu instrumento de origem é o cavaco? É o cavaquinho. Um cavaquinho que tinha na casa de meu avô, que eu achei velho, dentro de um armário, a primeira vez que eu peguei ele se assustou, já veio para tomar da minha mão. Ele já faleceu, uma das filhas guarda até hoje. Era um tonante, preto, nem sei se existe essa marca atualmente. Foi meu primeiro instrumento. Eu comecei a pegar, mesmo forçando a barra, ele não gostava que ninguém pegasse, eu pegava só para fazer barulho. Um dia ele pegou para me ensinar uma música, “quer aprender uma música?”, eu “quero”. Ele tocava poucas músicas, uma das que ele tocava, que ele solava no cavaquinho, era Naquela mesa [de Sérgio Bittencourt, feita em homenagem a seu pai, Jacob do Bandolim], foi a primeira música que ele me passou. Quando eu cheguei em casa mostrando pra meu pai, meu pai já se empolgou, aí pronto.

Você considera seu avô seu primeiro professor? Eu acho que sim. Foi ele quem primeiro me passou alguma coisa.

Como é que foi esse processo de transição do cavaquinho para o bandolim? Eu comecei exatamente nesse grupo que meu pai montou, a ir para o Clube do Choro em Natal. Eu comecei mais ou menos com oito anos. É sempre difícil eu saber a data que eu comecei por que meu pai tem uma tendência a diminuir. Se vocês forem falar com meu pai é capaz de ele dizer que eu comecei com quatro [risos dos chororrepórteres]. Então de tanto eu ouvir meu pai reduzindo, a idade com que eu comecei, eu fico em dúvida. Mas eu acho que eu tinha uns 10 anos mais ou menos, quando ele decidiu me levar para o Clube do Choro. Eles se reuniam acho que quarta-feira à noite. Quando cheguei lá foi um choque de realidade. Eu até ali não estava preocupado com o que eu fazia. Esse grupo que meu pai montou, a gente fazia qualquer coisa e eu estava agradando pela idade. Quando eu cheguei no Clube do Choro, não, o pessoal já comigo completamente diferente, eu comecei a revisar, a estudar, a escutar, montar repertório. Começa a tocar, as pessoas começam a falar, “instrumento para solista não é cavaquinho, é bandolim, tem muito mais possibilidades, uma maior escala, se você começar a tocar bandolim você vai largar o cavaquinho no outro dia”. No Clube do Choro não tinha solista de cavaquinho, mas tinha um solista de bandolim. Na época foi uma de minhas primeiras referências: João Juvanklin. Toca até hoje, tem vários cds lançados lá em Natal, eu toco várias músicas dele, é um excelente compositor. Para mim foi uma inspiração para eu migrar para o bandolim. Não lembro exatamente quando, me deram um bandolim de presente lá no Clube do Choro. E realmente, quando eu comecei a tocar bandolim eu deixei o cavaquinho de lado.

Você desperta para o choro em meados da década de 1980, quando o rock brasileiro estava no auge. Eu nunca fui muito de rock, essa geração do rock brasileiro, a minha esposa, por exemplo, conhece muita coisa dessa época, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, mas essa geração passou meio de lado para mim. Eu acho que eu já estava muito focado nisso aí [no choro], realmente foi muito intenso, eu acho que eu toquei tanto nesse período aí, dos 12 aos 20 anos, que quando eu tive uma situação que me permitiu largar o bandolim eu não senti saudade.

No bandolim você se considera meio autodidata? De início, sim. Mas as coisas foram acontecendo muito rápido. No momento em que eu estive no Clube do Choro eu comecei a aparecer mais e tinha um instituto de Música lá em Natal, o Instituto Valdemar de Almeida, e tinha vários cursos de música, curso de teoria, bandolim, cavaquinho, violão, e na época, o diretor do instituto fez uma apresentação no Clube do Choro e me ofereceu bolsas para eu estudar gratuitamente no instituto. Aí eu perguntei: “bolsa de quê?”, e ele “do que você quiser”. Aí eu disse que ia fazer cavaquinho, bandolim, teoria musical, vou fazer tudo. Ainda nessa época eu estudei cavaquinho, bandolim, com o professor Alexandre Moreira, que é sobrinho do João Juvanklin, que também é bandolinista, é uma família com vários bandolinistas, a esposa do Alexandre também é bandolinista, uma bandolinista canhota, muito boa, eu comecei a estudar no Instituto, bandolim, cavaquinho e teoria musical. Até então, aí, era basicamente de ouvido. Na época, mesmo você estudando, a gente não tinha facilidade de encontrar material como se tem hoje em dia. “Ah, gostei dessa música”, se você for esperar a partitura para aprender aquela música você não aprende. Não ia achar, não tinha internet para procurar, então eu acabei desenvolvendo uma capacidade muito grande de aprender música de ouvido. E eu não precisava estar com o instrumento para aprender, bastava ouvir. Isso acontece até hoje. Eu não perdi o bandolim, deixei de tocar, fiquei praticamente 10 anos sem tocar, mas eu não deixei de ouvir.

Quando você foi para a França você largou o bandolim? Não, na França, até 2004, eu fiquei lá de 2000 até 2004, lá eu cheguei até a fazer algumas gravações, não de choro. Eu participei de um projeto com um cantor que queria gravar a música de Jorge Brassan, era uma música em ritmo de bossa nova, ele queria dar uma mudada. Eu cheguei em Toulouse, eles estavam inaugurando uma linha de metrô e queriam criar uma música para tocar no lançamento desse metrô, e quando eu estava lá eu conheci um grupo chamado Le Famouse T, me disseram que tinha uma brasileira, eu fui me informar quem era, era a irmã do Armandinho Macedo [bandolinista] que fazia parte desse grupo. Ela tinha a intenção de fazer uma música voltada para o frevo, para tocar no lançamento desse metrô. O Armandinho de vez em quando aparecia na França. Ela soube que eu tocava bandolim e acabou me convidando para participar desse cd, que eles lançaram com o patrocínio da empresa de transportes. A gente gravou uma música, eu fui na França o ano passado, estava tocando essa música lá, era uma composição deles e eu gravei uma participação. Eu toquei, mas sempre tinha uma brincadeira lá e eu não abandonei o bandolim, a gente está fora, sente mais saudade da terra, era uma forma de eu me ligar ao Brasil. Mas quando eu voltei ao Brasil, praticamente fiquei sem pegar no bandolim, de 2004 até o ano passado. Pegava em casa, ocasionalmente. Foi um período conturbado, eu era de Natal, fui para a França, voltei para Maceió, fiquei dois anos em Maceió, depois vim para cá, quando eu estava em Maceió minha esposa engravidou, eu vim para cá com uma criança de 20 dias, entrei na UFMA, comecei a focar naquilo ali e a música foi ficando de lado, ficando de lado…

Além de teu avô quem você considera seus principais mestres? Meu avô foi importante no início. Eu diria o João Juvanklin, lá de Natal, nunca foi meu professor de bandolim, mas o fato de eu estar tocando frequentemente ali com ele, no Clube do Choro, aprendi bastante coisa com ele. O João Juvanklin tinha uma coisa que eu admirava bastante nele, era o som que ele tirava do bandolim. A gente encontra muitos bandolinistas bons, mas são poucos os que conseguem tirar do bandolim o som que o bandolim é capaz de fornecer.

Isso tem a ver com técnica? Ou com a qualidade do instrumento? Isso tem a ver com técnica, principalmente. Mas também com a qualidade do instrumento, se você pegar um instrumento ruim é difícil, mas um cara que tem o domínio da técnica consegue até tirar um som bonito num instrumento ruim. Agora tem muita gente com bons instrumentos que não consegue tirar esse tipo de som. E ele tirava. Um dos elogios que me fizeram a vida toda é exatamente em cima disso aí, que eu consigo tirar um som bonito do bandolim, provavelmente inspirado no que eu ouvia dele para produzir esse tipo de som.

Além de técnica e da qualidade do instrumento, onde você localiza o sentimento? O sentimento é importante. Quando a gente fala em técnica a gente só pensa em agilidade. Quando eu falo em técnica eu incorporo a questão do sentimento aí também. Você pega uma música como Vibrações, se você não colocar sentimento ali ela não rende, não flui, é uma música qualquer. Quando você escuta a gravação de Jacob do Bandolim [autor da música] você sente alguma coisa diferente, você sente as emoções que ele estava tentando imprimir quando estava tocando aquela música. Isso é outra coisa difícil também, você sentir que o cara que tá tocando aquela música está sentindo alguma coisa e não tocando mecanicamente. Se for mecanicamente a música não sai com qualidade.

Além de cavaquinho e bandolim você toca algum outro instrumento? Eu toco um pouco de violão sete cordas, um pouco de violão seis cordas, eu nunca tive um violão em casa. Quem toca em grupo de choro sempre vê os outros tocando e acaba aprendendo um pouquinho. Eu gosto de brincar um pouco com o violão, de sete, de seis, cavaquinho. Já toquei um pouco de violino, é a mesma afinação de bandolim, tive um pouco de dificuldade com o arco, mas se adapta, se eu quisesse insistir eu me adaptaria, a escala é a mesma coisa. Basicamente isso aí.

Já que você também toca cavaquinho, que lugar tem Waldir Azevedo em teu repertório? Hoje praticamente eu não toco Waldir Azevedo devido a eu ter focado muito no bandolim. Mas eu tenho um repertório muito grande de Waldir Azevedo, na época que eu tocava cavaquinho era essencialmente Waldir Azevedo. Meu pai tinha a coleção dele praticamente completa em vinil, eu gosto bastante.

E Jacob? Jacob tem um lugar bem especial. Eu tenho um repertório muito bom de Jacob do Bandolim. Na época em que eu comecei a tocar não era fácil encontrar. Eu aprendi muita coisa de Jacob pelo João Juvanklin, não pelos discos, eu olhava-o tocando. Da minha geração é uma das principais referências.

Além de instrumentista você desenvolve alguma outra habilidade na música? Compõe, arranja? Eu nunca fui muito de compor, acho que não tinha nem tempo para parar para compor, sempre fazia várias coisas paralelamente, além da música, várias outras atividades. Mas cheguei a fazer algumas composições, lá atrás. Quando eu cheguei à São Luís, depois que eu conheci o Regional Tira-Teima eles me falaram que estavam fazendo um disco de composições originais e perguntaram se eu não tinha alguma composição. Eu gravei duas no cd deles, minhas, uma que eu tinha feito lá atrás, e uma que eu compus especialmente para estar neste cd. Uma é Aguenta seu Florêncio, que eu fiz em homenagem a meu avô, seu João Florêncio [Ferreira]. Meu avô era daqueles que gostava de música a 150 quilômetros por hora, coisa que exigisse técnica. Eu fiz uma música para ele, faleceu há cerca de três anos. A outra é uma música que eu fiz para minha filha, recentemente, intitulada Anjo meu. Infelizmente não deu tempo de participar mais, o disco já estava praticamente pronto. Eles tinham intenção que eu incluísse o bandolim em outras músicas, mas isso ia terminar atrasando o lançamento do cd.

Você gosta de tocar com o Tira-Teima? Gosto! Foi engraçado, eu tava há quase 10 anos sem tocar, conheci-os meio por acaso, estava na casa de um professor da UFMA, toca piano, Adelino Valente [pianista e bandolinista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 20 de julho de 2014]. Desde que eu cheguei na UFMA a gente se encontrava pelos corredores e o pessoal dizia para ele: “ah, ele toca bandolim”, e me dizia: “ah, ele toca piano”, e ninguém botava muita fé: um professor de matemática que dizem que é muito bom e toca piano e um professor de engenharia química que toca bandolim [risos]. Foi passando um ano, dois, três anos, um dia ele me chamou para ir à casa dele, fomos tocar um pouquinho. Quando eu comecei a tocar ele começou a ligar. Ligou pra Solano [Francisco Solano, violonista sete cordas, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 26 de maio de 2013], pra Paulo [Trabulsi, cavaquinista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 22 de dezembro de 2013], o pessoal do Tira-Teima: “venha cá, venha cá”. Eles estavam na época do Tira-Teima Convida [temporada de apresentações em que o Regional recebia convidados, no Terraço do Hotel Brisamar] e eu participei com eles uma sexta-feira. Me convidaram para tocar, mas eu estou tocando sem compromisso. O fato de eles tocarem em uma data fixa, na sexta-feira, pra mim é um pouco complicado. Pode acontecer de um semestre eu ter aulas na sexta-feira à noite, os horários variam. Às vezes eu saio muito tarde. Se eu assumisse o compromisso eu teria que ir, então eu preferi ficar um pouco mais livre.

O que trouxe você à São Luís foi a UFMA? Foi a UFMA. Inclusive foi meio inusitado. Eu não queria vir para os lados de cá. Eu sou de Natal e tinha a intenção de ficar ali perto. Só que quando eu voltei do doutorado eu estava atrás de edital para professor, e dos editais que lançaram na época, normalmente esses editais exigem que você revalide o diploma. Todos os editais exigiam o diploma revalidado, menos o da UFMA. A UFMA não exigia a revalidação para a inscrição, só para a posse. Aí eu vim fazer, vim parar aqui.

Você, como engenheiro químico, com doutorado na área, consegue fazer alguma relação, se é que é possível, entre a música e a engenharia química e em que sentido uma coisa e outra se atrapalham e se ajudam? Eu acho que não atrapalha, mas também não ajuda. Quem trabalha na área da engenharia, se pudesse ter um lazer como a música, seria fantástico. É uma profissão estressante, um pouco pesada, principalmente em nível universitário, pega turmas enormes, conteúdo que envolve muito cálculo. Então você ter a opção de quando estiver estressado pegar um instrumento e dar uma relaxada, é fantástico. Eu me distraio facilmente com outras atividades, não só com música, mas com leitura, com tevê. Agora, relação direta, existem teses que falam da relação da matemática com a música; da engenharia, especificamente, eu não conseguiria fazer.

E os grupos de que você fez parte lá em Natal? Eu fiz parte desse que meu pai criou, eram Os Originais do Choro, deve ter durado uns três anos, aí eu fiz parte do Clube do Choro, enquanto ele existiu, devo ter ficado uns seis, sete anos. É aquele negócio, o pessoal se reunia para tocar, muita gente que tocava no Clube do Choro era músico profissional, depois começou a querer se expandir. Enquanto tocávamos às quartas-feiras, tudo bem, depois começaram a querer fazer sexta e sábado, aí começa a tirar opção de quem vive de música, então o Clube do Choro acabou, se dividiu em dois grupos, eu fiquei tocando em um e o outro foi para outro lado. Quando eu entrei na faculdade eu larguei tudo, sabia que era um curso pesado. Mas a música ainda estava muito perto e o pessoal, “não, vamos montar um grupo”, aí montamos um grupo de samba, Os Engenheiros do Samba. Eu tocava cavaquinho, era uma brincadeira de estudantes. No meio desse curso as bandas de samba sérias de Natal começaram a me ver tocando e eu comecei a receber convites, do Divina Chama, Verdadeira Chama, era outro nível, um negócio maior, multidões, palco grande, algo que eu nunca tinha tido com o choro. Começou a me dar uma renda e não exigia muito de mim.

E discos? Você chegou a gravar? Na época em que eu saí foi que o pessoal começou a gravar. O João Juvanklin gravou um disco patrocinado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, hoje ele tem uns seis ou sete, mas tudo gravado depois que eu saí de lá. Inclusive ele fala, sempre que a gente se encontra, que ele ainda queria que eu participasse de um cd dele. Eu esqueci de falar de um grupo: quando eu estava no Mestrado eu participei de um grupo de choro chamado Choro & Companhia. Foi o último grupo em que eu toquei, até ir embora para a França, de 1998 a 2000, estávamos com um projeto de gravar um cd na época. Não tinha mais nenhum grupo de choro e a gente de algum modo fez ressurgir. Foi interessante por que a gente foi chamado até para participar de festivais internacionais. Antes de eu ir estudar na França eu fui lá com esse grupo tocar, num Festival de Verão. Quando a gente voltou, o flautista desse grupo, é bem conhecido, o Carlos Heinze, estava gravando o cd dele e eu participei de duas músicas, correndo, antes de viajar, uma gravação feita às pressas.

Pra você, o que é o choro? Qual a importância dessa música? O choro foi que me fez praticamente gostar de música. O choro, por incrível que pareça, é uma música interessante para você começar a caminhar pela música brasileira. O choro é meio resultado de vários gêneros que acabaram culminando nesse estilo. Quem pensa em começar a tocar, um bom ponto de partida é o choro. Ele tende a ser um cara bem eclético, tende a ter uma preparação que permita ele transitar entre várias áreas da música brasileira. O músico de choro tem facilidade de se integrar com vários estilos musicais.

Você concorda que quem toca choro toca qualquer coisa? Qualquer coisa eu não diria, mas toca muita coisa. Tem alguns estilos musicais que são diferentes. Um solista de choro tem dificuldades de improvisar no rock, é uma linguagem totalmente diferente. Nessas músicas mais brasileiras ele tem mais facilidade de transitar entre elas.

Você se considera um chorão? Sim. É o gênero em que eu me sinto à vontade. A linguagem é muito comum quando a gente está há muito tempo naquele meio. Você ouve, já começa a improvisar, conhece aquela linguagem. Me considero um chorão, embora goste muito de samba também, devido a essa experiência que eu tive na graduação quando toquei em grupos de samba.

Quem você considera o maior nome do bandolim do Brasil? Em todos os tempos? Jacob!

Por que? Pelas composições dele. ele deu uma cara ao bandolim, se pedir para alguém citar, “diga 10 composições que você gosta ao bandolim”, nove vão ser de Jacob, se não forem as 10.

[O Imparcial, 15 de março de 2015]