Trecho de uma entrevista com o poeta Ademir Assunção, por ocasião do lançamento de seu livro “Zona Branca”, em 2001. Para ler a entrevista completa, vá no link ao lado.
Como você explica no livro, “zona branca” é um tipo de presídio de segurança máxima, localizado fora do espaço-tempo para abrigar rebeldes e dissidentes. Isso seria uma metáfora para a poesia? Na sua opinião, qual o espaço ocupado pela poesia hoje, num ambiente cultural bárbaro e caótico?
É uma metáfora não só para a poesia mas para a arte em geral. Não devemos nos iludir: as esferas de poder político e social não gostam dos artistas. Artistas causam problemas. Questionam, criticam, ironizam, desequilibram os jogos de poder. Como poeta, tenho nas mãos uma instrumento capaz de causar alterações perceptivas. Primeiro, em mim mesmo. Então, batalho para que a poesia contamine mais pessoas. O espaço que a poesia ocupa é exatamente aquele que os poetas conseguem fazer com que ela ocupe. Tenho muitos amigos e amigas mais jovens, que desconheciam poesia. Quanto leram Rimbaud, Ginsberg, Cruz e Souza, Leminski, Augusto dos Anjos, Fernando Pessoa, enlouqueceram, se apaixonaram por poesia. Qualquer pessoa que tenha sangue quente correndo nas veias cai de quatro ao ler um poema como “O Assinalado”, de Cruz e Souza. Penso que os poetas devem abandonar os guetos acadêmicos, a “zona branca”, e invadir as cidades, difundir a poesia. Ou ficaremos nos cantos, chorando como viúvas, lamentando eternamente a falta de leitores.
