[de hoje]
O pancadão madredivino
Outrora berço do samba, a Madre Deus transforma-se numa cópia pífia de bailes funks cariocas: o tradicional bairro “tá ficando atoladinho” em “pancadões” ao estilo “pedala, Robinho!”
É notável, de longa data, a decadência do carnaval maranhense. Limitarei-me aqui a falar apenas do ludovicense, por acompanhá-lo mais de perto, e mais especificamente do da Madre Deus, bairro onde “quase” moro. Outrora berço do samba e, o que é – talvez – mais importante, de samba produzido aqui, por gente daqui, o bairro hoje se transformou numa verdadeira babel escatológica – musicalmente falando – a céus e porta-malas abertos.
A intenção do presente texto não é ofender ninguém, longe disso. Mas o que se nota, ao longo de todo o ano – para além de carnaval e São João, únicas festas existentes aos olhos do poder público, ao que parece – é a repetição de músicas de péssimo gosto bares afora. Apesar do recorte que aqui se faz para o bairro da Madre Deus, isso é perceptível por toda a “Ilha do Amor”.
A partir da explosão do pseudoforró cearense, do tchan – e seus similares – baiano e, mais recentemente, do calipso paraense, São Luís – e o Maranhão como um todo – tem sido invadida por uma onda de mau-gosto, alimentada pelos meios de comunicação, sem compromisso nenhum com o crescimento intelectual da população. Só é possível ouvir, na maioria das vezes, teclados repetindo as mesmas “melodias” e vozes semelhantes – leia-se desafinadas – cantando as mesmas letras – quase sempre ofensivas contra a mulher (muitas gostam!). Só agora eu entendo por que é necessário que certos grupos digam o nome durante a música: é tudo igual! (Nem tecerei aqui, comentários ao Marafolia; de fora de época já basta o que estamos vendo e tratando aqui).
Madre Deus: franca decadência
A Madre Deus, berço de compositores e músicos do quilate de Cristóvão Alô Brasil, Bibi Silva, Mascote, Sapo, Zé Bedeu, Cesar Teixeira, Chico Saldanha e João Pedro Borges, apenas para citar alguns, faz – tenho certeza – vergonha aos mesmos, com o que hoje se vê por lá. A Turma do Quinto, que deveria se constituir num foco de resistência, hoje atende apenas aos apelos de chaves, senhas e segredos de cofres de (potenciais) homenageados.
De um lado, bares tocam os pancadões do funk carioca; do mesmo lado, carros, com os porta-malas inutilizados – ao menos para o fim original – por parafernálias sonoras capazes de fazer inveja a qualquer radiola de reggae, tocam, do forró, os aviões, gaviões, calcinhas pretas e o que há de pior nessas fétidas ondas sonoras. Do outro lado, mais do mesmo. E vice-versa. Não nos resta opção. A não ser tomar a decisão que tomei, julgo a mais acertada: ir embora. O mais depressa possível.
Observando o que está acontecendo durante o pré-carnaval madredivino, é possível fazer duas acertadas previsões para a festa de momo que vem por aí: no carnaval deste ano, muita chuva. E muito pancadão. Que ao menos este se limite ao sonoro e consigamos índices menores de violência. Amém!
[de domingo, 8/1]
Fórum Regional de Cultura: novo espaço para discussões
O I Fórum Regional de Cultura acontece em Bacabal, dias 27 e 28 de janeiro; Diário Cultural noticia o acontecimento, inédito, em primeira mão. E dá outras notícias. Confira!
Ao longo de todo o ano passado foram realizadas, no país inteiro, diversas conferências municipais, intermunicipais e estaduais de cultura. Em dezembro, entre os dias 13 e 16, em Brasília/DF, aconteceu a I Conferência Nacional de Cultura, onde foram apontados, pelos delegados eleitos naquelas conferências, os anseios, idéias, enfim, os resultados das mesmas, com vistas à implantação do Sistema Nacional de Cultura. Durante o acontecimento foram “eleitos” trinta pontos prioritários para a cultura – podem ser lidos no site do Ministério da Cultura (http://www.cultura.gov.br) e/ou solicitados por e-mail a esta coluna.
Nos próximos dias 27 e 28 de janeiro, acontece no Maranhão, com sede na cidade de Bacabal, o I Fórum Regional de Cultura. Na última sexta-feira, aconteceu uma reunião preparatória para o mesmo, no Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro), com a presença de Joãozinho Ribeiro (poeta, compositor, professor universitário, Fórum Municipal de Cultura), Elizandra Rocha (atriz, FMC), Nélson Brito (ator, Laborarte) e deste colunista, entre outros, além de representantes das prefeituras de Bacabal e Santa Rita/MA.
Entre os pontos de pauta para o I FRC, estão os repasses das informações trazidas da I CNC e a discussão para a criação de uma Rede Estadual de Cultura, sendo este o ponto principal. Um dos debates programados para o I FRC abordará a Lei Estadual de Incentivo a Cultura. Como não poderia deixar de ser, em se tratando de um acontecimento para discutir cultura (e políticas culturais), haverá diversas manifestações artísticas, valorizando-se principalmente os talentos bacabalenses, anfitriões deste primeiro encontro. Maiores detalhes (inscrições, local etc.) esta coluna dará em breve.
Prêmio BNB de jornalismo
Acabou na última sexta-feira, 6/1, o prazo para inscrições no prêmio BNB de Jornalismo, promovido pelo Banco do Nordeste do Brasil. Com o tema “Crédito como indutor do desenvolvimento no Nordeste do Brasil”, foram inscritos trabalhos jornalísticos veiculados durante todo o ano de 2005, inclusive aqueles publicados em jornais e revistas-laboratório de cursos de Comunicação Social de faculdades públicas e privadas.
Ao todo, serão concedidos R$ 100.000,00 (cem mil reais) em prêmios. O resultado está previsto para abril, e Diário Cultural divulgará, na ocasião, a lista dos vencedores.
Chico Buarque: a grande diferença de preços na rua Grande
Digno de nota o documentário realizado sobre a vida e obra de Chico Buarque. Dividido em seis dvds (duas caixas com três cada), o mesmo mostra várias facetas da obra de um dos mais importantes compositores brasileiros de todos os tempos. Este colunista-perrengue tem assistido aos mesmos, de forma aleatória, soltos, alugados no Chico Discos (Rua do Ribeirão, Fonte do Ribeirão, Centro).
Na rua Grande, num pequeno trecho, é possível notar o grande disparate: nas Lojas Americanas, cada caixa é vendida a R$ 109,00; na Music Play, por R$ 129,00; e na Tok Discos (Colonial Shopping), por R$ 179,00. (Os “piratas” ainda não perceberam esse mercado promissor).
