ainda lembro o dia (ou melhor, a noite) em que gutemberg bogéa, em alguma festa no bagdad café (praia grande) me deu um exemplar do primeiro número do almanaque jp turismo. na contracapa da publicação, manuscrita, a pergunta (manuscrita a pergunta, não a publicação): “zema, você gostaria de escrever na revista?”; de pronto, aceitei. faria uma coluna de meia página. começamos a pensar o nome. lembro de sugerir “etilírica paisagem”, entre outros. reza a lenda (ao menos é o que conta gutemberg) que houve uma eleição e “quintal poético” foi o nome vencedor. um nome interessante, já que meu texto sai, sempre, numa das páginas finais da publicação. a edição de maio já está nas bancas; ainda não vi/li, mas meu texto é o que segue abaixo.sobre ele, guto já comentou: “ô, broxada linda!”
Fênix
por Zema Ribeiro
Uma broxada. Como poderia ter acontecido? Logo ele? Amava a mulher até demais; não, não era esse o problema. Idade não era, era até jovem. Ao menos para broxar, pensava. Não fumava. Seria o álcool? Decidiu reduzir o consumo, drástica e imediatamente. Melhor não arriscar. Mais uma experiência para contar. Na mesa do bar. Quem é que nunca broxou?, perguntava-se. Tinha certeza de que a maioria dos amigos mentia. “Pois eu já”, diria, com um sorriso que deixaria os colegas de copo na dúvida. Mas isso não poderia virar um hábito. Não para ele. Pensou bastante no assunto e dispôs-se a começar a fazer exercícios físicos. Mas tudo isso era muito chato. E começar agora, quando toda hora é chuva? Saco! Pensou. E desistiu dos exercícios físicos, antes mesmo de começá-los. Vai ver estava mesmo era estressado, com alguns problemas no trabalho, pouco dinheiro no bolso e muitas – e altas – contas para pagar.
A esposa andava zangada. Mal falava com ele. Ao menos não jogava piadinhas, ele se consolava. E o que fazer? Já estava há alguns dias sem sexo, merecido castigo dado pela senhora. Filmes pornôs nunca o excitaram, nem quando era adolescente. “Oh!, amor, não faz isso comigo…”, choramingava pelos cantos. E ela provocava: vestia-se de forma excitante e não desistia da “greve”. Não tinham filhos. Pensou, e pensou. Manuais do tipo “‘n’ maneiras de enlouquecer uma mulher na cama” também não o apeteciam. “Pura bobagem, tipo auto-ajuda”, pensava.
O que fazer? “Benzinho, pensei que…” “Não!”, ela cortava logo, antes mesmo de saber qual seria a proposta. Isso o deixava ainda mais nervoso. E triste. Quando estava sozinho, no apartamento, que se tornava tão grande quando ela saía para trabalhar, acariciava sua fotografia, sobre a estante da sala, ainda dos tempos em que namoravam. Passava assim, muito tempo, estava de férias. Livros, discos, filmes, nada o consolava.
Traído, tinha certeza que não era. “Tu pensas mesmo nisso?”, ela perguntou, feição zangada. “Sinceramente, não… vem cá!”. Envolveu-a num longo beijo, de início a contragosto, transaram e dormiram ali mesmo, no sofá da sala. Sonhou e riu. Mesmo com todos os muitos e grandes problemas, já não havia, para ele, problema nenhum.

Grande Zema, vc mudou de endereço, mas os textos continuam excelentes!!! Parabéns!!!
obrigado, tarcísio. vou dar um pulo no super t e linká-lo, coisa que já devia ter feito. abração!