fonte nova

É surpreendente o nível de inércia no surgimento de valores novos no campo da música popular brasileira, novos no sentido íntegro da palavra. Em 1967, Maranhão fez o Teatro Record dançar seu frevo “Gabriela”, no Festival de Música Popular. Depois de uma curta carreira como arquiteto – Maranhão é da turma que Chico Buarque abandonou e juntos começaram a compor – voltou para sua terra. Lá está. Lá envolveu-se com as manifestações populares mais legítimas, lá lidera e alimenta um movimento cultural que, consideradas as limitações do Estado pobre do Maranhão e da paupérrima cidade de São Luís, é incrível e heróico. Este é o seu quarto disco – o segundo de distribuição comercial (antes gravei com ele discos que distribui como brinde). O primeiro foi “Lances de Agora”, o mais surpreendente e belo disco jamais ouvido pelos que a ele tiveram acesso, nesta selva do mercado brasileiro onde, em 95% das lojas, encontram-se apenas 100 títulos de 20.000 possíveis. Esses 100 discos privilegiados todo mundo sabe quais são. Este “Fonte Nova” é um passo além de “Lances de Agora”. Quem duvidar, que ouça os dois. Mas seus quatro discos são de um nível poético e musical que, no meu entender, não encontra paralelo na música brasileira.

Marcus Pereira

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Marcus Pereira sabia das coisas. O texto acima está na contracapa do vinil “Fonte Nova” (1980), de Chico Maranhão, que eu, após muita “luta”, consegui comprar ontem no Chico Discos. Infelizmente quase toda a obra do compositor está fora de catálogo, sem sequer ter merecido – ao menos até aqui – reedição em cd. Alô, Gavin!

Atenção para os grifos (meus) no texto do produtor: pouca coisa mudou, infelizmente.

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Nota ligeira: Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho (Chico Maranhão) lançou recentemente em São Paulo, o livro “Urbanidade do Sobrado: um estudo sobre a arquitetura do sobrado de São Luís“. O(s) lançamento(s) na capital maranhense e em outras capitais brasileiras, acontece(m) ao longo de 2007.

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Ilustrações do post: capa de “Fonte Nova” , foto de Rômulo Fialdini (re)fotografada por este blogueiro e reprodução da capa do recém lançado “Urbanidade do Sobrado“.

Trilha sonora do post: gravação de Cristina Buarque para “Ponto de Fuga” (Chico Maranhão) em seu disco “Arrebém” (1979).

7 respostas para “fonte nova”

  1. makely, chico mora em são luís do maranhão, onde continua compondo e, raramente, se apresentando em shows. é professor do curso de arquitetura do uniceuma (faculdade particular daqui) e está preparando disco (de inéditas) e songbook (resgatando algo em torno de 50 composições suas). abraço!

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