feliz dois mil e oito!

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tarso [de castro] – você não precisa se preocupar com esse negócio de se identificar ou não que todo mundo sabe que você é bicha, rogério.

rogério [sganzerla] – a única coisa que não me chamaram até hoje foi de bicha porque o resto tudo já me chamaram. mau-caráter, pichador.

tarso – eu digo por experiência própria, rogério, que você chega lá. porque eu entrei nessa firme.

jaguar – rogério, e esta cabeleira parecida com a do tarso, como é que é?

rogério – essa cabeleira é o lado da concessão voluntária. é o lado sórdido da recauchutagem. eu fui uma pessoa recauchutada pela helena. eu acho uma falta de personalidade total e ao mesmo tempo de uma grande grandeza.

jaguar – quer dizer que quando ela te conheceu você tinha um cabelo príncipe danilo e tal.

helena [ignez] – tinha um cabelo maracanã, se vestia muito mal. então nós fomos a nova york, compramos roupas fantásticas no greenwich village. penteei rogério. eu acho fantástico. um homem inteiramente sem personalidade na vida familiar e aquela pessoa ótima jogada pra fora. acho genial.

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tarso – você não tem certo domínio sobre o rogério?

helena – domínio nessas coisas que eu acho maravilhosas. a roupa, o cabelo, a paginação total. isso é uma graça enorme pra mim e pra ele. acho maravilhoso o rogério perguntar no restaurante: “o que é que eu vou comer?” isso é maravilhoso, porque é ele que está dizendo isso. é um cara que rompeu com todos os esquemas que eu conheço e me pergunta o que vai comer. pergunta à mulher amada o que vai comer. eu acho fantástico ele perguntar: “helena, que camisa eu vou botar?” “eu quero comer carne ou peixe?” essa dependência total que rogério tem de mim é absolutamente maravilhosa. porque é radical e total.

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acima, capa do volume de “encontros” dedicado ao cineasta rogério sganzerla (1946-2004), de “o bandido da luz vermelha” e “a mulher de todos”, entre outros. um pouco abaixo, mas ainda acima, trecho da entrevista que ele e a atriz helena ignez (sua esposa) deram ao pasquim (um timaço: sérgio cabral, millôr fernandes, jaguar, fortuna, paulo francis e tarso de castro) em 5 de fevereiro de 1970 (informações do volume).

encontros – rogério sganzerla” [205 páginas, r$ 19,90, no site da editora] tem organização de roberta canuto e foi publicado pela azougue editorial.

duas coisas me motivaram a escolher este trecho da entrevista: primeiro, a “agressiva” intimidade entre entrevistadores e entrevistados; segundo, parece comigo, tanto do lado dos primeiros (é, por exemplo, o tipo de entrevista que eu gostaria de fazer, mas que, fora do blogue, não tem espaço) como do dos segundos.

há muito mais no simpático volume, cujo retrato que ilustra este post foi feito por mim, com um marca-página da athenas dentro, embora eu tenha comprado o livro pelo site da editora.

confesso: apesar do “cenas marginais“, do flávio reis, nunca tinha lido (nem visto) nada do sganzerla. depois da volta do marcelo montenegro à blogosfera (para mim, no caso, uma estréia), foi que li algum comentário dele sobre o cineasta, o volume de entrevistas etc., e comprei. e pelo trato que a azougue dá aos trabalhos que publica, já desejo outros, entre lançados (além de sganzerla, já estão disponíveis os volumes de darcy ribeiro, jorge mautner, milton santos e vinicius de moraes) e por lançar (antonio risério, florestan fernandes, gilberto gil, roberto piva, ruy guerra e zé celso martinez corrêa, entre outros).

l(v)endo a metralhadora verbal de sganzerla apontando para tudo e todos, com vinte, 20 e poucos anos, impossível não lembrar também de reuben, que em breve parte para a terra do autor de “por um cinema sem limite“, publicado pela mesma editora em 2001.

2008 começou agora, portanto há muito pela frente. um feliz ano novo pra todos!

4 respostas para “feliz dois mil e oito!”

  1. Salve Zema!Adorei saber que o livro reverberou na belíssima São Luís, que nao conheço, mas onde em breve pretendo passear!Aqui quem fala é a Roberta, organizadora do livro do Sganzerla.Trabalho que me deu muito prazer, tudo que faço inspirado no Rogerio me ilumina! E me faz felizum grande beijo e obrigada pelas palavras sobre o livro!beijos!

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