doses de choro e riso. na medida.

um apressado e/ou desavisado leitor poderá torcer o bico e dizer: mais um release. calma!

na verdade, trata-se de mais uma participação deste blogueiro no boteco do tulípio (com este são três textos e você pode ler todos no site do bebum mais querido do brasil).

o lance é o seguinte: os convidados podem escrever sobre o que quiserem, mas eu prefiro sempre falar de algo relacionado a bares, farras, álcoois vários (e muitos) e coisas do tipo. tudo a ver, né?

enfim, já em 2008 ouvi uma história muito engraçada que se passou no chico canhoto e, ainda sob o efeito do citado suíte gargalhadas, fiz graça em cima (sem aumentar, nem inventar). de leve, uma propagandinha do nosso querido chico canhoto, agora conhecido, além de na frança, também no boteco do tulípio. para ler o texto , clique aqui.

Mesa 2
Zema Ribeiro

DOSES DE CHORO E RISO. NA MEDIDA.

Antes de passar à história propriamente dita, devo dizer umas duas coisas. Primeiro, que esta é mais uma história que conto de ouvido aqui no Boteco do Tulípio, pois não estava lá quando a mesma se deu – no entanto a coisa não descamba para o tão propagado jornalismo de ficção praticado no Maranhão, pois isto não é jornalismo (e fica aqui um aviso). Segundo, que ela tem influência fortíssima do “Suíte Gargalhadas”, cuja leitura terminei recentemente, clássico-engraçado do Henrique Cazes que junta mais de cem histórias de músicas e músicos (e boemia) brasileiros. Terceiro, pedir aval e bênção a Ricarte Almeida Santos, embaixador do choro no Maranhão, que ficou de escrever sobre o fato – e pode fazê-lo, com maior riqueza de detalhes e, portanto, alguma graça mais, como aconteceu quando ele me contou no Bar do Léo, depois.

O fato é que o projeto Clube do Choro Recebe já tinha certa tradição no Bar e Restaurante Chico Canhoto, na Cohama, acontecendo todos os sábados, de forma quase sagrada. Por tratar-se de área residencial, no entanto, a música ao vivo rola somente até as onze da noite. Boêmios que querem esticar a noitada, por ali mesmo, podem fazê-lo, de forma civilizada, sem música e sem alteração – na voz, que o “beber com moderação” dos comerciais de cerveja, às vezes, não é o forte da rapaziada. Foi o que aconteceu já na madrugada de um domingo desses.

Era próximo de duas da manhã. Uma viatura da polícia militar estacionou e policiais desceram para orientar a esposa de Chico Canhoto: “Minha senhora, são quase duas da manhã. É bom fechar o bar, pois a senhora está correndo riscos”. “Mas aí são todos cidadãos de bem”, contra-argumentou a proprietária do estabelecimento. “Justamente por serem todos de bem, eles devem não possuir porte de arma. Logo, se aparece algum elemento mal-intencionado eles não poderão defendê-la”, justificou o policial, que ouviu um “o quê que tu quer, me’rmão?!” de um dos boêmios que havia esticado o expediente etílico naquela noite-madrugada.

Não gostando da pergunta-resposta atravessada do músico, o policial se aproximou. “Vão trabalhar em outro lugar, aqui só tem gente de paz”, o músico continuou. Percebendo que o homem da lei trazia a mão junto ao revolver, o boêmio deu um chega-pra-lá no policial: empurrou-o para trás. Algemado, pelo desacato, o músico foi jogado dentro da viatura, onde recebeu ainda uns sopapos – para ficarmos na leveza que este papo de boteco requer e merece.

Ao perceber a “arrumação”, Chico Canhoto resolveu interpelar os policiais: “Não prendam meu amigo. Soltem-no. Prendam-me se for preciso, mas deixem-no em paz”. “Se você quer ir preso, me desacate”, ordenou um policial, que ouviu – e daqui a cena começava a ganhar ares hilários – um “você é um insensível!”. “Me desacate, homem!”. “Você é um imprudente, um insensível!”. “Ah, tu não quer ser preso não… ‘tu tá é me elogiando”, o policial passava a régua e conduzia o músico ao plantão central.

Uma delegada, namorada de um outro músico, também havia resolvido esticar a noite. Mas, terminada a roda de choro no Canhoto, procurou outro canto. Botando o carro na garagem, já quase amanhecendo, recebe um telefonema: “Doutora, venha aqui pra delegacia, prenderam Fulano!” (preservamos aqui os nomes de nossos personagens, à exceção do dono do bar e do produtor do projeto, à guisa de propaganda).

Meia-volta no carro, destino: delegacia. O delegado de plantão tentou dar bom dia: “Fulana, você por aqui…”. Foi interrompido: “Respeite! Pra você é Doutora Fulana! E solte o rapaz”. O músico foi liberado e no sábado seguinte era platéia do Projeto Clube do Choro Recebe. Como se nada tivesse acontecido.

O Projeto Clube do Choro Recebe acontece todo sábado, às 19h, no Bar e Restaurante Chico Canhoto (Residencial São Domingos, Cohama, São Luís/MA).

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