
[Tanga de Sereia. Capa. Reprodução]
Não consigo ouvir 200% da música (?) que os imbecis (isto é, os malas) ouvem em porta-malas (sim, inutiliza-se o porta-malas do carro do mala, entupindo-o de alto-falantes e o escambau): sempre a mesma música, variando as letras, mas nem tanto, todas de péssimo gosto. É como ouvir a mesma piada zilhões de vezes: para me fazer rir, quem conta tem que ter algum atrativo, diferencial, mexer em alguma coisa, trejeitos, enfim, enfeites que me façam gargalhar da mesma história (contada de um jeito diferente, repita-se).
Não que eu não goste de brega. Quem não gosta? Mas daí a sentir vontade de ficar surdo, ouvindo uma música horrível, só para que os outros saibam que eu tenho um som possante (eu chamaria de boçal mesmo!) no carro, são outros quinhentos. O lance do status: comprar o que você não precisa, com dinheiro que você não tem, para mostrar aos outros aquilo que você não é. Vá lá, ficar filosofando em casa, analisando as composições, algumas do quilate do créu e “outras” porcarias, também não dá. Melhor ir encher a cara no boteco da esquina, apoiando os cotovelos no áspero e gasto balcão. Sim, é daí que nasce a expressão que batiza o repertório de Lupicínio Rodrigues e outros bambas, agulha vira navalha, te corta!
Utilizando-se de elementos que eu detestaria em outras bandas que tocam ad infinitum onde quer que você esteja (no bar, no ônibus, no sistema de som da loja de eletrodomésticos ou roupas, e até mesmo em casa etc., etc., etc.), a Tanga de Sereia me soa original. É brega, engraçadinha, e me conquistou à primeira audição. Ecos de Waldick Soriano e Reginaldo Rossi aqui, do calipso paraense ali, das serestas de teclado em pontas de rua acolá, alinhavadas pela voz de Danielly, pouco diferente do que ouvimos por aí, mas se equilibrando na medida entre a dor (fingida ou sincera), a safadeza das letras (“primo com prima pode/ era o que ele sempre dizia/ o cara que me desvirginou/ aquele filho da minha tia”, em Primo com prima), o prazer e a diversão, garantida.
Não sei quantos dias dura, mas lá em casa, atualmente, é number one no hit parade. Valeu, Rojão!

Engraçado que tu começas o texto escarnecendo as, hoje, populares músicas (se é que assim são chamadas) que ainda insistem em tocar. (“chega de rir da mesma piada”) e lá, em meio a esculachos, tu resgatas a idéia do texto mostrando como o álbum ‘tanga de sereia’, mesmo tratando de situações já cansadas de tão musicadas, consegue ainda assim, ser original, sem agredir o ouvido , sendo assim, contada a piada pela primeira vez. Vou checar a dica.
o tanga reprocessa velhas informações e faz um brega originalíssimo. abração!
complicadíssimo.só acho que o portishead no som de qualquer carro que não seja o meu também é chato.
acho que mesmo que o cara ouça cesar teixeira (que eu a-d-o-r-o, nem preciso dizer, né?) com o porta-malas aberto e o volume nas alturas, será chatíssimo. abraço!