Lembro, com uma saudável dose de saudade, das inúmeras vezes em que almocei ou apenas bebi nO Bacana, como apelidamos o Recanto das Flores, tradicional quitanda, hoje finada, na esquina da Cândido Ribeiro com outra rua que não sei o nome. Bacana era o apelido do bonachão Antonio Carlos Alves Rocha, proprietário do local, ao que parece, a ele alugado à época.
Lembro de nos sentarmos a uma mesa, na calçada – e de fazer malabarismos quando o carro do lixo passava: a rua estreita, carros estacionados, os pneus do lado direito do caminhão não raro subiam o calçamento, todo irregular, mesa geralmente em falso, um dos pés apoiado em um ou outro objeto, geralmente a tampinha da primeira garrafa aberta ou algo que o valha.
Lembro de Vinicius – salvo engano é esse o nome do então moleque –, filho do artista Édson Mondego, à época vizinho dO Bacana. Lembro de minhas primeiras incursões num arremedo informal de jornalismo, quando um e-mail no dia seguinte – passado aos que comigo bebiam ali, quase diariamente, a cerveja que nos aliviava o stress após mais um dia de trabalho puxado – contava as peripécias daquela turma. Lembro do recorde quebrado quando as torres gêmeas foram derrubadas: em 11 de setembro de 2001, em meio a comentários sobre o dia em que a ficção se tornou realidade – digo, houve quem pensasse que os aviões entrando no World Trade Center eram um filme fora de hora, invadindo a programação matinal, em geral voltada ao público infantil –, bebemos a grade de cerveja mais ligeira da história daquela humanidade.
Tantas lembranças e eu me deparava, todos os dias úteis em que por ali passo a pé, com as placas de venda, dois números de telefone para contato, penduradas nas fachadas do antigo Bacana e da casa vizinha, outrora de Mondego. De primeira, uma idéia correu-me ligeira: alguém comprar aquilo e reeditar O Bacana. Quem se atreveria? Segui meu caminho e sequer tive a curiosidade de ligar para saber os preços. O espaço careceria de grande reforma, sem dúvidas.
Algum tempo depois, as placas de venda já não mais estavam penduradas. Vi janelas serem lacradas, telhado derrubado e por uma porta aberta, via homens trabalhando no interior das duas casas, tornadas uma apenas.
Sem perguntar – eu não queria perguntar, por já ter certeza da resposta –, descobri: o antigo Bacana virará estacionamento. Como outro, a poucos metros, em frente à Pousada Cristo Rei, onde ainda hoje, vez em quando almoço.
Sem a devida atenção, “acompanhei” – entre aspas mesmo – algumas broncas sobre esses crimes contra o patrimônio (ver, por exemplo, O Estado do Maranhão de hoje). Penso que devem ser punidos com todo o rigor. Ora, derrubar é mais fácil que construir. Estacionamento é negócio altamente rentável: você não constrói nada – ao contrário! –, e ganha por hora (ou por dia). E o Centro Histórico de São Luís, Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, transforma-se num deserto sem beleza, ocupado por máquinas barulhentas (seja pelos próprios motores, seja pelos porta-malas abertos), como na ficção em que pensei em escrever, já desnecessária.

São luis, seus casarões… se continuar assim, em breve será patrimônio “imaterial” da humanidade, como suas belas lembranças Zema!>Abs>lena
essa turma tá despertando a ira da serpente… abraço!