Outro dia um amigo mandou-me um e-mail. Pediu que não o compartilhássemos, nós que recebemos o e-mail, com mais ninguém. Que se havíamos recebido, era por termos algum significado especial para ele. Confesso que me senti lisonjeado, eu, que por vezes sou tão negligente com os amigos. Que poderia ser/estar mais presente, mas acabo absorvido pelo excesso de trabalho. Que apesar da dedicação, não consigo dar cabo.
Enfim. Esse amigo mandou o e-mail e teceu um rosário de lamentações sinceras. Confesso que me toquei. Na verdade, os sentimentos do amigo são meus também. Ou ao menos parte deles. Uma sensação de dever inconcluso, de missão por cumprir, de um pesado fardo por carregar. Uma sensação de inércia, com tanta coisa acontecendo por aí, e mais e mais nos exigindo. Sentimentos que só podem ser sentidos – às favas a redundância – por quem ainda acredita em alguma coisa. Por quem ainda consegue se encantar. Por quem ainda acredita que é possível mudar o mundo. Por pessoas “do bem”.
Respondi o e-mail. Eu, que guardo em mim tristeza e alegria e outros sentimentos tão contraditórios entre si, fui sincero. Dei-lhe umas poucas palavras de compreensão e força. Elogiei-lhe a coragem de compartilhar tudo aquilo conosco. Fiquei contente que ao final da missiva, o amigo já não usasse um tom amargo (uma auto-amargura, é verdade), mas desse voz à esperança, ele, um grande homem, admirável. Um dos meus grandes incentivadores nas tortuosas trilhas do jornalismo, caminho que ainda nem comecei. Figuraça a quem só tenho a agradecer.
Ao amigo deixo meu abraço: figuras como você são cada vez mais raras. Se é que eu tenho algo que me credencie a dizer isso: você está no caminho certo. Eu ‘tou contigo.

É preciso reservar-se sempre para os amigos, braços abertos e colo. Em tempos em que o tempo nos transpõe e ultrapassa, é preciso mandar as demandas particulares à merda e ir ao encontro das pessoas, pra continuar sendo gente, humano, não reles mamíferos obstinados.
verdade. verdade. abração!