Acontece hoje, às 19h, na Casa de Nhozinho (Galeria do Cofo, Rua de Nazaré, 185, Praia Grande, serviço completo no texto abaixo), a exposição Nhozinho – imensas miudezas, que além das peças do artista contará com o lançamento do livro homônimo, sobre a vida e a obra deste artista ímpar, e exibição de documentário idem.
O jornal Tribuna do Nordeste publicou em sua edição de hoje o texto abaixo (que está também no Overmundo). Na edição perdeu-se o último parágrafo (que reproduzo aqui e também está no Overmundo) e a nota final (ambos, aqui, em itálico).
A ilustração do texto no jornal é o boi do convite. Reproduzo aqui as imagens utilizadas no Overmundo, com as legendas idem.
Garanto que ir até a exposição é bem melhor que (só) ler este texto aqui.
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TODA TERNURA DE NHOZINHO*
São Luís será palco da exposição Nhozinho – imensas miudezas, quando também será lançado o livro homônimo bilíngue, sobre a vida e a obra deste imenso artista maranhense que de miúdo tinha apenas o apelido.
por Zema Ribeiro

[O artista em seu ateliê. Arquivo Casa de Nhozinho. Reprodução do livro]
Depois do sucesso no Rio de Janeiro, onde recebeu mais de cinco mil visitantes, na Galeria Mestre Vitalino do Museu do Folclore Edison Carneiro, a exposição Nhozinho – imensas miudezas chega à São Luís e terá como palco a Galeria do Cofo na casa que leva o nome do artista, localizada na Rua Portugal, 185, Praia Grande (com acesso também pela Rua de Nazaré 2-A, no mesmo bairro).
Antonio Bruno Pinto Nogueira, o Nhozinho (1904-1974), é um dos maiores expoentes da cultura popular maranhense, essa sua principal fonte de inspiração, tão belo, delicado e detalhista o trabalho que o artista, natural de Bacuripanã, Cururupu/MA, criou.
Além da abertura da exposição, que fica em cartaz até o dia 14 de abril (das 9h às 18h), acontecerá hoje (13) o lançamento do livro Nhozinho – imensas miudezas (2007), edição bilíngue sobre a vida e obra do artista, com artigos de Lélia Coelho Frota (escritora e historiadora da arte), Luciana Carvalho (antropóloga), Maria Michol (pesquisadora e, à época, Superintendente de Cultura Popular da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão), Paulo Herkenhoff (crítico e curador de arte) e Zeca Baleiro (cantor e compositor) e prefácio do poeta e crítico Ferreira Gullar (um artigo sobre Nhozinho publicado na revista Manchete em 1956).

[Nhozinho – imensas miudezas, o livro. Capa. Reprodução]
Pertencentes a diversos acervos espalhados pelo Brasil, em museus e coleções particulares, algumas peças da exposição ilustram as páginas do livro, ambos patrocinados pela indústria química e farmacêutica Merck S.A. (a exposição e o lançamento do livro marcarão a despedida da empresa do Maranhão, após 40 anos de atuação), através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. A realização é da Sábios Projetos, Arco Arquitetura e Produções e Superintendência de Cultura Popular da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão. A Comissão Maranhense de Folclore, a Prefeitura Municipal de Cururupu, o SESC maranhense e a Pousada Portas da Amazônia apóiam a iniciativa.
NHOZINHO – A itinerância da exposição Nhozinho – imensas miudezas pretende ser também um incentivo a pessoas com deficiência, além de uma ação de inclusão social. Hoje notável por suas esculturas, o artista maranhense teve que vencer, desde os 12 anos de idade, limitações e deformações causadas por uma doença congênita. Chegou, ele mesmo, a fabricar um carro de madeira para facilitar a sua locomoção.
Como nos conta o maranhense Ferreira Gullar no citado prefácio: “Aos doze anos, quando a doença chegou, já ele sabia fazer seus barcos de buriti, seus papagaios de papel. Num serviço paciente e sinistro, com inchações doloridas que lhe foram tomando os braços, as pernas, as mãos, os olhos – a doença feriu e torceu-lhe o corpo durante vinte e dois anos. Quando ela acabou o seu serviço, Nhozinho começou a serrar madeira e a fazer o carro que o levaria a passear e brincar (já com trinta e quatro anos) pelo Ribeirão e pela Praia do Caju. Nhozinho pagava garotos que lhe empurravam o carro e, nas tardes de domingo, se era tempo de papagaios-de-papel, comparecia com o seu à Beira-Mar. Quando o primeiro carro quebrou (10 anos de uso), Nhozinho começou a fazer um que não necessitasse de gente empurrar: ele mesmo faria andar: “Mas estava ficando tão grande que desisti; não ia caber dentro de casa”. Fez o segundo no estilo do primeiro, com algumas inovações”.

[Reprodução do ambiente de trabalho, exposta em vitrine na Casa de Nhozinho. Bancada original doada pela família. Reprodução do livro]
Em Nhozinho? por que Nhozinho?, um dos textos introdutórios ao volume, Alice Cavalcante (da Sábios Projetos) e Heloisa Alves (da Arco Arquitetura e Produções) apresentam-nos vários motivos para a escolha deste artista singular: “Nhozinho, pelo artista que foi, porque sua obra merece ser conhecida pelos brasileiros ou, quem sabe melhor dizer: os brasileiros merecem conhecer sua obra. Nhozinho, pela importância do precioso e preciso registro que fez do bumba-meu-boi, manifestação popular proibida e perseguida durante décadas, que hoje é sinônimo da identidade maranhense. Nhozinho, pela excepcional figura humana que superou adversidades, limitações físicas, dor e preconceito, sem perder a capacidade de criar, a alegria de viver”.
A EXPOSIÇÃO – Toda composta por peças originais do artista, a exposição tem aproximadamente cem obras, dos acervos da Casa de Nhozinho e das famílias Alcântara, Dino e Zelinda Lima. As diversas fases de sua produção estão contempladas e Nhozinho – imensas miudezas traz também antigas fotografias de apresentações do bumba-meu-boi e da região de Cururupu – para onde as produtoras ainda sonham em levar a exposição um dia –, objetos originais do bumba-meu-boi (como indumentárias diversas e instrumentos musicais, além do próprio boi, é claro) e um documentário com depoimentos de familiares e amigos de Nhozinho, brincantes e organizadores de grupos de bumba-meu-boi – sobretudo o de sotaque costa-de-mão, característico da região onde o artista nasceu –, artesãos, estudiosos e especialistas.

[Roda de bumba-meu-boi, uma das peças do livro/exposição. Reprodução do livro]
O LIVRO – Luxuosa edição bilíngüe (português/inglês), Nhozinho – imensas miudezas traz, ilustrando os artigos que o compõem, diversas fotografias de peças criadas pelo artista-artesão – com toda a redundância que possa residir aqui – além de fotografias dele em várias fases da vida. Repetem-se na obra, os acervos da exposição, clicados pelos fotógrafos Marcelo Rangel, Paulo Rodrigues e Wilton Montenegro.
Uma foto, na página 22, foi colocada por engano: durante o processo de pesquisa, chegou às mãos dos realizadores como sendo da família de Nhozinho. A legenda da imagem anterior (a produção tratou de adesivar todos os livros, sobrepondo uma foto de “Nhozinho cercado por crianças” conforme a legenda, do mesmo acervo), pertencente à Casa de Nhozinho, dizia: “O artista, sentado (3º da esquerda para direita) com a família”. Trechos do artigo de Luciana Carvalho, na página da fotografia e seguinte, falavam de suas origens – “a mãe (…) “descendente de índio, português e africano”, fato ao qual uma sobrinha atribui o nascimento de filhos tão diferentes” e “sua infância transcorreu normal, apesar das perdas materiais vivenciadas depois que o pai vendeu a maior parte dos bens e a família se mudou de Bacuripanã para uma casinha na cidade de Cururupu” – não caracterizando danos à imagem da família do Sr. Antonio Augusto Brandão, que chegou a procurar a produção exigindo “satisfação pública em jornal de grande circulação”. Espero que este convite à beleza de Nhozinho – imensas miudezas, a exposição, que ora faço a todos os leitores deste jornal, lhe sirva.
*O título do texto faz referência à música Nhozinho, de Henrique Guimarães, gravada por Zeca Tocantins, com participações especiais de Fátima Passarinho e do Instrumental Pixinguinha, no disco Terreiro de Todo Canto. Leia mais sobre a exposição e o livro Nhozinho – imensas miudezas no site http://www.nhozinho.art.br/












