Infelizmente esse título não anuncia um show homônimo. É o do texto abaixo, que deveria ter sido publicado no Tribuna do Nordeste de ontem. Como mandei o texto após o prazo limite, acabou não rolando. Penduro aqui. Domingo que vem a gente volta ao jornal.
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Tribuna Cultural presta merecida homenagem ao compositor capixaba Sérgio Sampaio, falecido há 15 anos.
Erroneamente tido como compositor de uma música só, a mais que clássica Eu quero é botar meu bloco na rua (faixa título de seu disco de 1973), Sérgio Sampaio é um dos mais importantes e interessantes compositores brasileiros em todos os tempos. Capixaba da mesma Cachoeiro do Itapemirim que deu ao Brasil Roberto Carlos, o autor de Tem que acontecer (faixa título do disco de 1976, anos depois regravada por Zeca Baleiro) deixou vasta obra que ainda hoje influencia outros artistas da MPB.
Nascido em 13 de abril de 1947, sua carreira se inicia meio que por acaso: radialista prático em sua cidade natal, Sampaio desce à “cidade maravilhosa cheia de encantos mil” para acompanhar Odibar (parceiro de Paulo Diniz no clássico Quero voltar prá Bahia) em um teste para cantor em uma gravadora que tinha Raul Seixas como diretor artístico. O “maluco beleza” acabou se interessando pela obra do “maldito” e, com ele, Edy Star e Miriam Batucada, gravaria o antológico Sociedade da Grã Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez (1971), um verdadeiro escracho fonográfico.
Dois anos depois era a vez de Sérgio Sampaio lançar Eu quero é botar meu bloco na rua (1973), seu maior sucesso radiofônico, que viria a batizar também sua hoje esgotada biografia, de Rodrigo Moreira (Edições Muiraquitã, 2001). Sérgio Sampaio lançou ainda Tem que acontecer (1976), disco de forte acento chorístico, com nomes como Abel Ferreira (clarinete), Altamiro Carrilho (flauta) e Joel Nascimento (bandolim) entre os instrumentistas, e Sinceramente (1982), onde ficava clara sua repulsa aos padrões mercadológicos a que nunca cedeu.
Morreu praticamente esquecido em 15 de maio de 1994. Em 1998, artistas admiradores de sua obra realizaram o belo tributo póstumo Balaio do Sampaio, que reuniu nomes como Chico César, Zeca Baleiro, Lenine, João Bosco, João Nogueira, Zizi Possi, Jards Macalé, Luiz Melodia e Elba Ramalho, entre outros.
Em 2005, Zeca Baleiro, fã confesso, lançou pela Saravá Discos, Cruel, belíssimo disco póstumo, onde a banda do maranhense acrescentou instrumentos em gravações de voz e violão deixadas pelo cantor capixaba que tem sido objeto de culto de bandas como Cérebro Eletrônico (que cita Sérgio Sampaio em Pareço moderno, faixa título de seu mais recente trabalho, e tem uma música cujo título é o nome do compositor) e Tangos e Outras Delícias (boa cover conterrânea, vide YouTube). Sinceramente, único título que ainda não teve re-lançamento em formato digital, está pronto e deve ser (re-)lançado em breve também pela Saravá.
A obra de Sérgio Sampaio permanece viva, atualíssima e mais que nunca merecedora de audição e culto. Como ele mesmo cantava: “um livro de poesia na gaveta/ não adianta nada/ lugar de poesia é na calçada/ lugar de quadro é na exposição/ lugar de música é no rádio” (Cada lugar na sua coisa).


Sérgio Sampaio é fodasticamente um dos poucos loucos totalmente saudáveis compondo música. Só jóia. Vou twittar teu post ;D
valeu, elen. abração!
o texto deste post foi publicado na edição de hoje (19) do jornal tribuna do nordeste.