DE EDIÇÕES

Ainda em janeiro, a convite de Tairone Carneiro, escrevi uma matéria sobre o Clube do Choro Recebe para a Revista Brasil Centro Norte.

Trocamos alguns e-mails por conta de meu texto estar “poético demais, crônica demais” para a revista. Depois de um tempo, resolvi que não editaria uma linha e passei-lhe o contato de uma amiga radialista, que poderia escrever em meu lugar. Meu texto não entraria. Acabou entrando, após uma super-edição.

Hoje, recebi o link da versão online da revista. Aqui você pode ver o texto editado, onde eles aproveitaram algumas fotos. O original, com todas as fotos que enviei para a revista, segue abaixo e também pode ser lido no Overmundo (lá, com a mudança do site, pendurei só uma imagem).

Outro dia, sobre edições, Ronaldo Bressane também escreveu.

O texto é defasado, afinal de contas é de janeiro: Mestre Vieira já subiu, o Clube do Choro Recebe, sábado (23) chega a 81 edições (um ano e oito meses) etc., etc., etc. É mais ou menos isso.

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CLUBE DO CHORO: BOA MÚSICA EM SÃO LUÍS

Com um ano e meio de existência e cerca de 70 saraus realizados, Clube do Choro Recebe reacendeu o movimento chorístico em São Luís do Maranhão.

texto e fotos: Zema Ribeiro*

Ricarte Almeida Santos, há 18 anos à frente do dominical Chorinhos e Chorões (Rádio Universidade FM, 106,9MHz), recebeu o epíteto de “embaixador do choro no Maranhão” em 2006, quando o Instrumental Pixinguinha recebeu no Prêmio Universidade, o troféu de melhor disco instrumental naquele ano, por sua estreia, Choros maranhenses. Trata(va)-se de feito inédito: um disco de choros gravado no Maranhão e todo composto por maranhenses: os próprios integrantes do grupo e alguns amigos, já subidos. Nos agradecimentos pela premiação, Juca do Cavaco – ou teria sido Raimundo Luiz (bandolim)? – saiu-se com essa.

A graça acabou pegando e amigos saudavam Ricarte como “o embaixador”. O sociólogo e radialista é quem assina o texto de apresentação do disco: “Tenho certeza que Pixinguinha está orgulhoso por emprestar seu nome ao grupo”, diz, a certa altura. O missivista é um dos fundadores do Clube do Choro do Maranhão e um dos maiores responsáveis pela onda que se formou após atirar uma pedra nas águas estagnadas da cena instrumental em São Luís.

À frente do projeto Clube do Choro Recebe, já definitivamente consolidado no cenário e no calendário cultural da capital maranhense, Ricarte simplesmente fez acontecer. “Tudo conspirava a favor. Havia uma casa agradável, músicos e cantores ávidos por um espaço digno e o público está sempre esperando por uma coisa boa”, explica. Dessa conjunção nasceu a ideia dos saraus semanais no Restaurante Chico Canhoto, no Residencial São Domingos (Cohama), a casa a que o produtor se refere.

“Um dia o Paulinho Pedra Azul veio à São Luís e ele gosta de se reunir com músicos, trocar ideias, informações. Levamos ele ao Canhoto e convidamos um bocado de chorões, divulgamos isso no boca a boca e lotamos o restaurante. No sábado seguinte, o público voltou, queria música de qualidade. O Regional Tira-Teima, que já se reunia no restaurante para tocar, sem maiores pretensões, recebeu o cantor Léo Spirro e esse foi o estalo”, conta Ricarte. Era 1º. de setembro de 2007. De lá para cá, sábado após sábado, com raríssimas exceções, o Clube do Choro Recebe tem promovido uma riquíssima experiência: um grupo anfitrião recebe um convidado – um(a) cantor(a), um(a) instrumentista ou, mais raramente, um outro grupo – e em seguida abrem-se espaço para as canjas, onde músicos se encontram e tocam na base do improviso, onde surgem as coisas mais inusitadas e belas dos saraus. Ricarte resume: “Nenhum sábado é igual a outro”.

UMA VASSOURADA NA MESMICE – Como disse o músico Guinga sobre o grupo carioca Tira-Poeira, quando do surgimento deste, o Clube do Choro Recebe é, em São Luís, uma vassourada na mesmice. Em quase um ano e meio de atividades, o projeto tem, para os padrões da Ilha do Amor, vida longa para um acontecimento periódico que não se ampara no colo de verbas públicas. “Já tentamos, várias vezes, apoio da Secretaria de Estado da Cultura, sem sucesso. Por um lado, penso até que isso é bom, pois garante a independência do projeto, de seus produtores, enfim, de todos os envolvidos. Por outro lado, temos apoios que, embora modestos, são de pessoas e empresas que acreditam na iniciativa e desejam sua continuidade. A gente nem chama de patrocinadores, chama de parceiros, de simpatizantes”, comenta Ricarte sobre a sustentabilidade do projeto.

O sarau musical semanal já influenciou também a formação de novos grupamentos de choro em São Luís. Caso do Choro Pungado, um dos mais inventivos grupos de choro, quiçá do país, cuja proposta inicial era mesclar o chorinho aos ritmos da cultura popular do Maranhão. Choro com bumba-meu-boi, tambor de crioula, cacuriá, lelê, tambor de mina, tribo de índio, baralho e o que mais pintar.

O grupo surgiu quando o cantor Bruno Batista foi se apresentar no projeto e vários músicos se reuniram para acompanhá-lo: o encontro de Luiz Jr. (violões de seis e sete cordas e viola caipira), Luiz Cláudio (percussão), João Neto (flauta) e Rui Mário (sanfona) recebeu o nome de Quartetaço, por conta da música Aço, de Batista. Ao grupo, depois, juntou-se Robertinho Chinês (bandolim e cavaquinho), prodígio, então com 14 anos, e o nome mudou, por conta da proposta inovadora.

TODOS OS CHORÕES – O fato é que, do mais novo – o Choro Pungado – ao mais antigo grupamento de choro de São Luís – o Regional Tira-Teima, que, com outra formação executou, por exemplo, o antológico Lances de agora, de Chico Maranhão, gravado na sacristia da Igreja do Desterro em 1978 – todos os grupos de choro em atividade na ilha do bumba-meu-boi – agora ilha do Choro, por que não? – já se apresentaram no palco do Clube do Choro Recebe: Instrumental Pixinguinha, Um a Zero, Os Cinco Companheiros, Chorando Calado, Toque Brasileiro, Choro Elétrico, Urubu Malandro, Os Madrilenos, SL Tubones…

Pelo palco já passaram diversos artistas – o projeto conseguiu, com pequenos apoios, trazer também artistas de outros estados e do interior do Maranhão: Léo Capiba, Chico Maranhão, Cesar Teixeira, Flávia Bittencourt (maranhense radicada no Rio), Lena Machado, Fátima Passarinho, Roberto Brandão, Tutuca, Daffé, Djalma Chaves, Josias Sobrinho, Naeno (Piauí), Pedro Molusco (Brasília), Eduardo Jr. (Brasília), Antonio Vieira, Joãozinho Ribeiro, Espinha de Bacalhau, João Pedro Borges, Eudes Américo, Patativa, Fhátima Santos (Ceará), Paulo Piratta, Célia Maria, Marconi Rezende, Adão Camilo, Chiquinho França, Criolina (duo maranhense radicado em São Paulo), Augusto Pellegrini, Chico Nô, Milla Camões, enfim, os nomes são muitos.

Para o compositor Chico Saldanha, outro que já se apresentou por lá – pré-lançou Emaranhado (2007), seu mais recente trabalho, no Clube do Choro Recebe – “criou-se aqui um clima favorável. Eu gosto muito de cantar aqui, as pessoas vem, prestam atenção, vem para ouvir boa música e sabem que vão encontrar isso aqui”, afirma.

Se é música boa, Ricarte anuncia. O inteligente slogan de seu programa de rádio, “pra gente de qualidade”, bem poderia ser usado também no projeto. Ele, que tem recebido propostas de músicos de todo o Brasil, dá a dica aos que desejarem se apresentar naquele palco: “Há artistas com uma carreira consolidada, cujo trabalho já é conhecido. Há outros bons nomes surgindo. A dica é virem prestigiar o projeto, dar uma canja”.

Juca do Cavaco, um dos mais prosaicos músicos que desfilam por ali, integra o Instrumental Pixinguinha, o Urubu Malandro e o Regional Os Madrilenos, é também o mais, digamos, pedagógico. Sempre que toca, conta histórias sobre a origem dos choros ou de seus nomes, quem compôs o quê, além de causos engraçados. Como a que presenciamos, de um habitué das canjas: “perguntamos a ele: ‘Qual é o tom?’. E ele: ‘qualquer um, só não pode ser muito acelerado’”. Em São Luís do Maranhão, o Clube do Choro é também o clube do riso.

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[O Instrumental Pixinguinha foi o primeiro grupo maranhense de choro a gravar um cd]


[Na platéia do Clube do Choro Recebe o encontro dos geniais João Pedro Borges e Benjamin Taubkin]


[O jovem compositor Bruno Batista também já passou pelo palco do Clube do Choro Recebe]


[Léo Capiba: talento no pandeiro, na voz e no sorriso]


[Encontro de bambas na plateia: o flautista Zezé Alves, entre os compositores Cesar Teixeira (E) e Chico Saldanha]


[Ex-integrante da Camerata Carioca, o maranhense João Pedro Borges se apresenta no Clube do Choro Recebe]


[O Urubu Malandro tem a presença ilustre de Mestre Antonio Vieira em sua formação]


[Mestre Vieira canta e conta causos no Clube do Choro Recebe]


[O produtor Ricarte Almeida Santos anuncia mais uma edição do Clube do Choro Recebe]


[Lena Machado, grata revelação da música brasileira, canta e encanta no Clube do Choro Recebe]


[O improviso das canjas permite encontros como o de Fátima Passarinho e Chico Maranhão]

*Zema Ribeiro é assessor de imprensa do Clube do Choro do Maranhão

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