TULÍPIO NO ALTERNATIVO

O bebum mais querido do Brasil estreou hoje nO Estado do Maranhão: Tulípio estará todos os domingos no caderno Alternativo. Na estreia, o blogueiro joga conversa fora com o figura, em texto escrito ainda em 2008 para o Boteco do Tulípio e até então inédito. Edu Rodrigues e Paulo Stocker, os pais da criança, são sérios candidatos ao HQ Mix 2009.

UMA RECEITA SURPREENDENTE

POR ZEMA RIBEIRO*
ESPECIAL PARA O ALTERNATIVO

Em viagem que fiz à Teresina, Piauí, terminada a reunião de trabalho, ficaria vagando por coisa de quatro horas até que saísse o ônibus que me traria de volta à São Luís. Anfitrião de primeira, socorreu-me Chagas Vale, artista plural que me conduziu pela beleza do Encontro das Águas e mostrou-me uma capital piauiense já perdida na memória – há tempos não visitava o estado vizinho.

Acabamos fazendo juntos o que eu faria sozinho, na rodoviária, esperando o ônibus: bebemos. E foi Chagas Vale quem me contou a história que lhes re-conto, certamente com menos graça.

Ele era proprietário de um bar em Teresina, há tempos. O local tinha algumas características interessantes: alta madrugada, garçom nenhum era autorizado a arrastar uma mesa, sequer tirar uma toalha, para não dar a impressão aos fregueses – ou em geral, ao último chato resistente – de que estavam sendo expulsos. Outra: tudo o que havia no cardápio deveria ser servido. É chato ou não é, chegar num lugar qualquer e pedir macaxeira e ouvir um “só tem batata frita”?

Para além dessas qualidades, havia um garçom, “passado na casca do alho” – para citar um amigo de Chagas Vale, o Assis Bezerra, outro piauiense de quem me tornaria amigo, mas em outra viagem, a Salvador –, bom malandro. Seu apelido era Carioca e era o tipo de figura que, se sabia que você fumava, descobria a marca predileta e já punha o cigarro em sua boca e acendia. Cortesia. Se um dia você não tinha dinheiro, não ficava devendo ao bar: o garçom pagava sua conta e você ficava devendo a ele, por quem todos os habitués queriam ser atendidos.

Um dia – uma noite, melhor dizendo – um casal chamou um garçom de outra naturalidade e pediu, apontando no cardápio: “uma carne de sol, por favor!”. “Seu Chagas, não temos carne de sol na casa”, o proprietário ouviu, já dando a solução: “Diga que estará pronta em quarenta minutos”. E Chagas Vale destabacou-se para um Pão de Açúcar 24h, à época em funcionamento em Teresina. Voltou e, providenciado o preparo do prato, o casal foi servido.

“Garçom!”, chamaram. Reclamaram: “Essa carne ‘tá com gosto de pasta de dente”. “Impossível!”, o bom funcionário tentou argumentar. “Prove!”, foi provocado. Enfiou um palito de dentes num dos pedaços trinchados, experimentou e comprovou o que o casal dizia: “Chamem o proprietário!”.

Chagas Vale se aproximou e, como o garçom, não sabia o que dizer. O bar estava mais ou menos lotado e um escândalo se anunciava. Ao que surgiu, inesperadamente a figura de Carioca, que acompanhava tudo a meia distância: “Permitam-me, senhores. Houve um engano. Essa carne de sol refogada na folha de hortelã deveria ter sido servida em uma mesa que estou atendendo”. “Carne de sol na folha de hortelã?”, espantou-se o casal. Carioca continuou: “Sim. É um prato em fase de experimento, por isso ainda nem consta do cardápio”. A moça espetou um pedaço, mastigou com atenção, mandou um gole de cerveja, imitada nos gestos pelo rapaz que lhe acompanhava. “É, até que ‘tá gostoso”, “Tem diferença no preço?”. “Não!”, disse o Carioca-salvador. “Então deixe aqui”, uníssono o casal, satisfeito com a nova receita.

*Zema Ribeiro escreve no blogue http://zemaribeiro.blogspot.com e é freqüentador assíduo do Boteco do Tulípio.

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