DOMINGO PASSADO, 27,

o texto abaixo foi publicado nos jornais Pequeno e Tribuna do Nordeste. Voltando aos poucos, após uma semana de viagem, quase sem tv e internet, não sei em que pé está a situação hoje.

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PARA CONFERIR O QUÊ?

Talvez para a família Sarney, “conferência de comunicação” signifique apenas conferir quantos veículos integram seu sistema.

POR ZEMA RIBEIRO*

Por diversas razões não tenho participado como gostaria das discussões, mobilização, organização, reuniões preparatórias e o escambau no que tange a organização das conferências municipal e estadual de comunicação, em São Luís e no Maranhão, respectivamente.

Ainda em 16 de abril passado foi assinado decreto pelo presidente Lula convocando a 1ª. Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que acontecerá em Brasília dias 1º., 2 e 3 de dezembro, cujo tema é Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital.

Acompanho, de longe, o que se discute nos e-groups e sinto-me contemplado/representado com/pelo grupo que está à frente dos processos citados no parágrafo inicial. Gente que sabe o que faz e o que diz. E tenho acompanhado principalmente suas dificuldades.

Sempre vi com muita desconfiança a realização, ao menos a contento, como deveria ser, de uma Conferência Nacional de Comunicação – será a primeira do país, repita-se – com um Sarney na presidência do Senado. Ora, qual o interesse de um – não o único, sabemos – latifundiário das ondas de rádio e TV de que aconteça um evento de tal magnitude que, entre inúmeros outros pontos de pauta, discutiria (discutirá?) também oligopólios, concessões, coronelismo eletrônico etc.?

Cabe lembrar que quando presidente da República, posto que assumiu com a morte do Tancredo Neves eleito, Sarney foi um grande distribuidor de concessões de rádio e televisão a seus aliados políticos, com seu então ministro das comunicações Antonio Carlos Magalhães.

A fratura-resultado disso está exposta para quem quiser ver, somado agora ao pas-de-deux dançado pelos presidentes, da República e do Senado: enquanto tevês comerciais funcionam com concessões vencidas, rádios comunitárias são perseguidas, fechadas e criminalizadas. Na mesma ponta – da conta – o Maranhão é o estado brasileiro com pior índice de acesso à internet e seu atual (des)governo não tem nenhuma política pública a respeito desenhada, sequer rabiscada. Esta é apenas mais uma demonstração da falta de compromisso da gestão roseanista com o povo maranhense. Assim, para quê ou por quê convocar um instrumento de participação popular na deliberação de políticas públicas?: todos os temas aqui já listados, além de produção regional e independente e um novo marco regulatório para a comunicação no país.

Certamente uns me julgarão mero tolo ou “balaio”, quando não as duas coisas – há espíritos de porcos que julgam até tratar-se de sinônimos –, por querer, por “tudo”, “jogar a culpa” no “ilibado” public life man, ele, o pai da governadora, aquele que lhe devolveu o trono e o Estado.

Se é turbulento o processo no plano nacional, no Maranhão a situação não é muito diferente – quiçá seja pior: o estado governado pela filha de Sarney é um dos apenas nove que ainda não convocaram a conferência. Com o prazo para a convocação da etapa estadual tendo vencido em 15 de setembro, há a possibilidade de que isso seja feito com a publicação da convocação com data retroativa no Diário Oficial – o que se crê muito difícil. Outra possibilidade é a convocação ser feita pela Assembleia Legislativa.

Em reunião com membros da Comissão Organizadora da Conferência Estadual de Comunicação, semana passada, o secretário de estado de Comunicação Sérgio Macedo limitou-se a responsabilizar o governo anterior: a gestão Roseana Sarney não teria dinheiro para convocar e injetar recursos em uma conferência de comunicação por que “um bando de irresponsáveis”, segundo ele, teria sangrado os cofres públicos.

Soa conversa para (bumba-meu-)boi (apadrinhado) dormir: como o governo não tem dinheiro para algo importante como seria (será?) a I Conferência Estadual de Comunicação, mas pode investir em propaganda enganosa, anunciando obras e metas que dificilmente cumprirá? A não ser que a publicidade do governo do Maranhão não tenha custos, já que tanto o executivo quanto a maioria dos meios de comunicação do estado “pertencem” à família Sarney: assim, é possível que jornais, rádios e tevês publiquem/veiculem sua publicidade “gratuitamente” numa confusão patrimonial típica de velhas oligarquias. Aliás, para a família Sarney, talvez conferência de comunicação signifique apenas conferir quantos veículos integram seu sistema.

*ZEMA RIBEIRO escreve no blogue http://www.zemaribeiro.blogspot.com

2 respostas para “DOMINGO PASSADO, 27,”

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