Por mais que as evidências já tenham consagrado a Literatura como a forma de arte que projetou e projeta o Maranhão, tornando-o um Estado reconhecido nacional e internacionalmente em função de seus notáveis poetas, jornalistas, romancistas, ensaístas, críticos e cientistas, os poderes públicos, através de suas instituições culturais, insistem em ignorar essa tradição, negligenciando os compromissos e obrigações para com essa tradição cultural mais expressiva da maranhensidade. E mais uma vez, neste ano de 2009, a Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão deixa, inexplicável e injustificavelmente, de dar curso ao Plano Editorial Gonçalvesa Dias que, no ano passado, através de concurso literário, classificou, premiou e editou mais de vinte escritores, tendo ficado, inclusive, os livros prontos para serem lançados. Enquanto isso, descaracterizando-se o folclore maranhense, em sua tradição de cultura popular mais reconhecida, cria-se o Bumba-Ilha, tipo de Boi de trio elétrico, inclusive, sob o pretexto de divulgar o Turismo do Estado do Maranhão. Ora, me comprem um bode! , exclamaria o escritor mais inocente deste país, que insistem em manter como terra papagalorum, como se o povo maranhense quisesse ser alimentado por regurgitação, como pelicano. Pode-se, então, derramar uma dinheirama para diversão, distraindo o povo, quando se negligencia consuetudinariamente a Literatura. E o pior é que tal procedimento não é um vício de hoje. Basta prestar atenção e se constatará que os escritores, neste Estado, porque, com justa razão, sempre foram idologicamente aqueles modelos de cidadãos que os dirigentes das instituições culturais não têm como padrão, politicamente são de oposição a tudo que visa usar e premiar a ignorância ou a ingenuidade popular como massa de manobra. Sim, escritores e professores pensam e contribuem para que o povo pense, logo são indigestos ao controle e poder.
Nada contra o folclore, que é coisa nossa, mas tudo contra a descaracterização e os fins para que, suspeita-se, é usado. Por isso, na aurora dos 400 anos de Fundação de São Luís, é bom alertar a classe de escritores com aquela convocação irrecusável de Unamo-nos contra essa política cultural fascista do populismo e do protecionismo que já vai para três décadas de caveira de burro. Chega de usar o Folclore como trampolim eleitoreiro. Não é bom, é imperativo que o povo seja respeitado em suas tradições e não se deixe usar e desrespeitar.
E lembrem-se, os escritores que ora são lançados pelo Plano Editorial Gonçalves Dias não são safra deste ano de 2009. Muito pelo contrário, são o resultado de Projeto criado e executado pelo Núcleo de Literatura da SECMA/2008, constituído por Alberico Carneiro, Nauro Machado, José Maria Nascimento,Wilson Martins, Antonio Aílton e Zema Ribeiro. E o Guesa Errante tem o subido prazer de divulgar uma das melhores safras literárias dos últimos tempos, resgatada, nesta edição, pelos escritores Antonio Aílton e Ivan Pessoa. Deve-se conferir e dar os créditos a quem de direito. Pelo menos em Literatura o povo sabe e saberá quem é quem. Literatura não se faz com demagogia, mas com talento e invendível sacrifício.
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Lerei os 20 títulos publicados (eram 25 e alguns autores desistiram de publicar, dada a demora da burocracia do Estado) pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma). Já tenho a metade, que recebi da própria Secretaria, na condição de jornalista e crítico de literatura (e música) do jornal Tribuna do Nordeste. Confesso que doeu ver ali os nomes de Roseana Sarney, Bulcão e outros, quando sabemos tudo ter sido feito na gestão Jackson Lago/ Joãozinho Ribeiro: a única coisa que o desgoverno de volta ao trabalho fez foi trocar a folha de rosto das obras.
Não li (ainda) a edição de ontem do Guesa Errante (JP, 10/12/2009), que traz além do editorial esclarecedor acima, resenhas de algumas das obras contempladas no Plano Editorial Secma 2007 (aqui uma correção ao Suplemento: apesar dos vencedores terem recebido suas premiações em dinheiro em 2008 e terem suas obras lançadas quase no apagar das luzes de 2009, o Prêmio Gonçalves Dias de Literatura data de 2007, primeiro ano da gestão Jackson/ Joãozinho), em exercício que deve continuar pelas próximas edições, se bem conheço Alberico Carneiro e sua equipe. Os textos da edição de ontem, de nº. 213 (vida longa ao Guesa!), são assinados por Antonio Aílton e Ivan Pessoa.
Cheguei ao Editorial pelo serviço de alertas do Google, via Maranharte.
