FLÁVIO VENTURINI VOLTA À SÃO LUÍS

Cantor mineiro lembrará seus grandes sucessos durante o lançamento do dvd Não se apague esta noite.

POR ZEMA RIBEIRO
DA REDAÇÃO


[Foto: divulgação]

Com bem sucedidas edições anteriores, o projeto Conexões Musicais, da Musikália Produções, realiza mais uma edição nesta sexta-feira (17), na sede da AABB. Desta vez a atração é o cantor Flávio Venturini, um dos ícones do Clube da Esquina, movimento musical mineiro que agregava ainda nomes como Milton Nascimento, Lô Borges e Beto Guedes, entre outros.

O mineiro vem à São Luís para lançar o novo dvd, intitulado Não se apague esta noite. O maranhense Nosly faz o show de abertura. A apresentação tem início marcado para as 22h e os ingressos estão à venda nas lojas Taco (São Luís Shopping) e Óticas Veja (Praça Deodoro e shoppings Tropical, São Luís e Rio Anil), e custam R$ 150,00 (mesa para quatro), R$ 40,00 (cadeiras individuais) e R$ 20,00 (meia para estudantes com carteira).

“Continuamos com a intenção de promover a interação entre artistas nacionais e artistas locais. A química rolou bem nos encontros de Vander Lee e Mano Borges e, mais recentemente, Ceumar e Tássia Campos. A gente fica feliz que o público venha correspondendo e espera que isso ocorra mais uma vez”, afirma Gilberto Mineiro, produtor à frente da Musikália Produções.

Não se apague esta noite, o dvd, mescla momentos de Flávio Venturini no palco da Casa da Pampulha, uma das principais casas de show de Minas Gerais, e na sala de sua casa. Em ambos os locais, o artista aparece desenvolto, entre jovens músicos: Kadu Vianna (guitarra, voz), Aloísio Horta (baixo), Ricardo Fiúza (teclados) e Arthur Rezende (bateria), além das participações especiais do irmão Cláudio Venturini, na guitarra, e das vozes de Mart’nália em Pierrot (parceria com Murilo Antunes), Luiza Possi em Beija Flor e Marina Machado na recriação de Noites com sol, estas últimas em parceria com Ronaldo Bastos.

Venturini – Mineiro de nascimento, Flávio Venturini começou na música com 15 anos, tocando acordeom. Em 1974, aos 25 anos, passou a integrar a banda O Terço, ícone seminal do rock nacional. Cinco anos depois formou o 14 Bis, com quem obteve sucesso e gravou oito discos: são dessa época clássicos como Espanhola (Flávio Venturini/ Guarabyra), Linda juventude (Flávio Venturini/ Márcio Borges) e Planeta sonho (Flávio Venturini/ Vermelho/ Márcio Borges), entre outras.

Em 1988 passou a dedicar-se à carreira solo, iniciada em 1982 com a gravação de Nascente. Durante o show em São Luís, Flávio Venturini passeará por estas diversas fases de sua carreira, cantando também músicas que não constam do repertório do dvd.

Nosly – Maranhense de Caxias, Nosly tem estrada na música, sendo parceiro de grandes nomes, como Zeca Baleiro – que está produzindo seu próximo disco, a ser lançado ainda este ano –, Nonato Buzar, Chico Anísio, Celso Borges e Fausto Nilo, entre outros.

Entre suas canções de sucesso destacam-se Noves fora (Nosly/ Zeca Baleiro), June (Nosly/ Celso Borges), Versos perdidos (Nosly/ Zeca Baleiro/ Fausto Nilo) e Coração na voz (Nosly/ Nonato Buzar/ Gerude).

[Desde anteontem, entre edição, redação e revisão, estoy trampando no jornal O Debate, onde este texto, aqui reproduzido com pequeníssimos acréscimos, foi publicado hoje (16)]

O MELHOR E-MAIL DO ANO

Com o singelo título de “Pra vc”, a cantora e queridamiga Lena Machado me enviou, ontem, por e-mail, a mais que ótima notícia abaixo, que tomo a liberdade de republicar neste modesto blogue (grifos nossos):

INÉDITOS, NA DISCOGRAFIA COMPLETA DE ITAMAR ASSUMPÇÃO

Genial e genioso, Itamar tinha fama de maldito na mídia e de difícil no meio musical.

Lauro Lisboa Garcia
O Estado de S. Paulo

A fina flor da cena paulistana independente celebrou na quarta-feira, no Sesc Pompeia, o pré-lançamento da Caixa Preta, projeto grandioso realizado pelo Selo Sesc, reunindo todos os álbuns do compositor paulista Itamar Assumpção (1949-2003), entre eles dois inéditos, Pretobrás II – Maldito Vírgula, produzido por Beto Villares, e Pretobrás III – Devia Ser Proibido, com produção, arranjos e direção musical de Paulo Lepetit, baixista, arranjador e fiel parceiro de Itamar. É ali mesmo nessa unidade do Sesc que cada um desses 12 discos serão recriados na íntegra em shows durante todo o mês de outubro, com participação de todo o elenco que abrilhantou os CDs inéditos.


[‘Caixa Preta’ traz obra de Itamar Assumpção]

“A gente não inventou nada. Foi tudo ideia do meu pai”, disse Anelis Assumpção, que divide com a irmã Serena e Villares a direção artística de um dos CDs. Anelis referia-se tanto à Caixa Preta quanto aos sucessores de Pretobrás – Por Que Que Eu Não Pensei Nisso Antes?, que Itamar realizou em 1998.

Genial e genioso, Itamar tinha fama de “maldito” na mídia e de “difícil” no meio musical. A produção de seu último trabalho em vida, Isso Vai Dar Repercussão, com Naná Vasconcelos, foi conturbada. Agora, trabalhar para ele em sua ausência proporcionou a músicos como Lepetit, o guitarrista Luiz Chagas e a cantora Suzana Salles – que fizeram escola com Itamar na antológica banda Isca de Polícia – momentos de maior liberdade. “Pude fazer meus solos à vontade”, brinca Chagas. “Ele punha fogo pra gente tocar. Depois, claro, cortava.” Para ele, o trabalho fluiu com naturalidade porque a banda não parou, mesmo com a morte do líder. “Nunca paramos para questionar a ausência dele.”

Chagas, como Suzana, reconhece o amadurecimento do compositor. “Ele passou o período de ser complicado para outro em que ficou sofisticado e depois simples demais. O barato dele era entrar no estúdio, fazer um loop de dois acordes e compor a letra em cima. Aí a gente complicava. Depois voltou a fazer música com mais acordes”, diz o guitarrista. Mas o que é aparentemente simples em Itamar não é fácil para os intérpretes, como se constata, por exemplo, em Grude, interpretada por Ney Matogrosso, e em Elza Soares, com a própria. “Ele vivia em constante renovação. Era aquela água brotando que todo mundo ia lá beber”, afirma Suzana.

Linguagem – É reconhecível no Pretobrás III a inconfundível linguagem sonora de Itamar, que para Lepetit foi “uma faculdade”, mas a sonoridade é outra. Está mais limpa. “Ele gostava de meter a mão em tudo, inclusive na mixagem, que ele não entendia”, diz Suzana. O som dos discos do Itamar nunca conseguiu corresponder ao dos shows. É notório. Itamar ao vivo era outra coisa. Quem não o viu e só ouve os CDs não tem a dimensão do que era o som dele de verdade. Desta vez vai ter não só a dimensão captada adequadamente em estúdio, como também essa história nova do Beto Villares.”

Villares e as irmãs Assumpção reuniram expoentes da nova geração da cena independente, como Curumin, Pupillo, Marcelo Jeneci, BNegão, Rodrigo Campos, Bruno Buarque, Antonio Pinto, Thalma de Freitas, Iara Rennó, Céu, o eterno moderno Arnaldo Antunes, Antonio Pinto, e o próprio Villares, fazendo com inteligência a ligação da modernidade do passado com a atual.

Há diferenças evidentes nos dois discos. O de Villares é o que Chagas chamou de “disco de produtor, que Itamar certamente abraçaria” e Anelis avalia o resultado como o ideal pop que seu pai queria para sua música. Não que a produção de Lepetit não seja pop, mas ali é um trabalho de uma banda que evoluiu com o compositor. Não havia sugestões de arranjos nem nada. “A gente trabalhou tanto tempo juntos que as linguagens se confundem, tanto a minha de arranjador como a da banda. É uma coisa que tem uma identidade”, diz Lepetit. “Então, foi razoavelmente fácil chegar a esse resultado. É muito natural pra gente.”

Isca, Naná e Alice – O músico, que também trabalhou em esquema parecido em Isso Vai Dar Repercussão (2004), com voz, violão e percussão, chamou Naná a princípio para tocar em cinco faixas, mas ele quis mais e deixou sua marca profunda em oito. A maioria deles, a propósito, foi composta no período do trabalho com Naná. “Ele estava muito criativo, a cada dia chegava com duas, três músicas novas”, lembra Lepetit.

Ele, porém, queria fazer um disco, “a partir da banda”, evitando, no entanto, reunir muitos convidados. “Muita gente passou pela Isca de Polícia, não dava pra chamar todo mundo.” Mas, como ele mesmo confirma, a banda está bem representada por Chagas, Suzana, Bocato, Vange Milliet e Marco Costa.

A única letra dos dois álbuns não assinada por Itamar é Devia Ser Proibido. Aqui ele é o personagem que inspirou a poeta Alice Ruiz, grande parceira dele em outras canções antológicas. Personagem não é bem o termo para se referir a Itamar no ponto da evolução musical. Suzana lembra que Luiz Tatit já tinha dado o toque num texto no songbook de Itamar a respeito de sua evolução como compositor, quando deixou de representar o “personagem” Nego Dito. O resultado está aí “pra provar pra quem quiser ver e comprovar”.

Programação de shows em outubro

Lançamento da Caixa Preta no Sesc Pompeia

dia 15:

Isca de Polícia – Beleléu, Leléu, Eu (convidado: Lenine)

Porcas BorboletasÀs Próprias Custas S/A (convidados: BNegão e Anelis Assumpção)

dia 16:

Anelis Assumpção – Sampa Midnight – Isso Não Vai Ficar Assim (convidados: Arrigo Barnabé e Serena Assumpção)

Karina Buhr/Nhocuné SoulIntercontinental! Quem Diria! Era Só o Que Faltava !!! (convidadas: Elke Maravilha e Tetê Espíndola)

dia 23:

Orquídeas do BrasilBicho de Sete Cabeças I (convidados: Alzira Espíndola e Tom Zé)

Mariela SantiagoBicho de Sete Cabeças II (convidado: Chico César)

dia 24:

Orquídeas do Brasil – Bicho de Sete Cabeças III e Ataulfo Alves – Pra Sempre Agora (convidados: Jards Macalé e Zezé Motta)

dia 29:

Andreia Dias e banda – Pretobrás I – Por Que Que Eu Não Pensei Nisso Antes? (convidado: Arnaldo Antunes)

Kiko Dinucci, Beto Villares e banda – Pretobrás II – Maldito Vírgula (convidados: Seu Jorge e Elza Soares)

dia 30:

Isca de Polícia e Naná Vasconcelos – Pretobrás III – Devia Ser Proibido e Vasconcelos e Assumpção – Isso Vai Dar Repercussão (convidados: Zélia Duncan e Ney Matogrosso)

PARABÉNS, VIAS DE FATO!

O sempre admirado por este blogue(iro) Flávio Reis faz um interessante balanço do primeiro ano do Vias de Fato, de longe a melhor experiência jornalística destas plagas em muito tempo, com a qual (também) já tive a honra de colaborar (e continuarei). Já postei o texto do professor no blogue do Tribunal Popular do Judiciário, mas não podia deixar de reproduzi-lo aqui também. O autor de Cenas Marginais é contundente e traduz bem o que significa o surgimento do Vias de Fato para o cenário da imprensa (?) maranhense.

O editorial do número 12 do jornal pode ser lido em sua página na internet. O Vias de Fato está à venda nas melhores bancas e assinaturas podem ser feitas pelo site, pelo e-mail jornalviasdefato@gmail.com e/ou pelos telefones (98) 8824-8147 e (98) 8123-5184.


[Capa da 12ª. edição do Vias de Fato. Reprodução]

VIAS DE FATO: UM ANO MEMORÁVEL*

POR FLÁVIO REIS**

O aparecimento do jornal Vias de Fato em outubro do ano passado foi uma grata surpresa que tomou de assalto nosso ridículo meio jornalístico. Na primeira edição, a chamada da entrevista com o juiz Jorge Moreno estampava logo uma daquelas afirmações certeiras que seria uma marca do jornal: “O Poder Judiciário Não Tem Legitimidade”. A entrevista era um retrato excelente do controle oligárquico inescrupuloso do poder judiciário no Maranhão, da conivência com todo tipo de corrupção, distanciado da sociedade e sempre veloz para se voltar contra os movimentos sociais.

Mas outros textos não ficavam atrás, uma ótima reflexão de Wagner Cabral sobre a “cultura da libertação”, contraponto oposicionista de um jogo político que se desenrola nos marcos da estrutura oligárquica, Eduardo Júlio escrevendo sobre os primeiros tempos do Cine Praia Grande, Ricarte Almeida falando da experiência “Clube do Choro Recebe”. Destacava-se ainda uma matéria forte sobre violência no campo e uma sátira irada de Cesar Teixeira, intitulada O Banquete Execrável, onde os convivas “devoram com avidez as costelas indigentes da ética e do decoro” e “o mais reles papel cabe ao presidente Lula, espécie de czar naturalista especializado em mimar camaleões de bigode”. Na verdade um texto livre que tornava o conjunto mais surpreendente, antecipando de forma precisa como “durante o banquete que atravessará as eleições de 2010 tudo será permitido”.

Nos números seguintes logo se verificou que a estrutura da publicação já surgiu bastante nítida. Temas: direitos humanos, conflitos agrários, defesa do meio ambiente, movimentos sociais, cultura popular, luta contra a corrupção e o poder oligárquico. Destaques: uma seção de entrevista, realizada sempre com muita competência; artigos de colaboradores variados, em geral pesquisadores e pessoas ligadas às lutas sociais; uma matéria realizada pelos editores, encontro direto com nossa realidade de miséria e desmandos.

Em onze edições, pequenas amostras da crise social e política em que se encontra mergulhado o Maranhão. Lucidez e contundência nas entrevistas de Palmério Dória, afirmando que “a desmoralização da nossa democracia não tem limites”; de Dom Xavier Gilles, categórico sobre o que o nosso poder judiciário finge desconhecer, “latifundiário é ladrão”; de Manoel da Conceição, um histórico olhando com decepção o rumo tomado por Lula, em acordo com as oligarquias; de João Pedro Stédile, “o Maranhão tem a maior concentração fundiária do mundo”; de Vila Nova, dando o nome certo de máfia para as redes de poder, explicando tudo numa verdadeira aula; de Wellington Resende, auditor da CGU, escancarando nosso segredo de polichinelo, “elite maranhense vive da corrupção no setor público”; da constatação de Maristela Andrade, “a elite do Maranhão não gosta de seu povo, eles querem a cultura apenas para servir a seus interesses”; ou da velha verdade dita com força pelo padre Victor Asselin, “discutir a questão da terra é fundamental para o futuro do Maranhão”.

Os artigos trataram de temas variados, mas sempre urgentes, como o colapso do abastecimento de água em São Luís, o impacto ambiental dos projetos anunciados pelo governo federal, o trabalho escravo nas fazendas, os escândalos do judiciário maranhense, o cerco do capital sobre o direito das quebradeiras de coco babaçu à terra livre, o plebiscito pelo limite de propriedade da terra, entre outros.

As matérias de responsabilidade da editoria, por sua vez, foram ao encontro do “Maranhão profundo”, aquele invisível, mantido cuidadosamente distante pela imprensa oligárquica. Aí temos, em cores vivas, os quadros da nossa barbárie cotidiana, a violência dos madeireiros na região de Buriticupú, em conluio com as autoridades locais e os responsáveis pela fiscalização, a luta dos Awa-Guajá pela delimitação de suas terras, num conflito que já comportou de tudo, desmatamento, extração ilegal de madeira, construção de carvoarias e estradas clandestinas, milícias armadas e o progressivo extermínio de um povo nômade, cuja existência chegou mesmo a ser negada pelo prefeito de Zé Doca, ou as arbitrariedades ocorridas depois dos acontecimentos de 1º de janeiro de 2009 em Santa Luzia do Tide, quando uma multidão estava acampada para protestar contra a diplomação do candidato derrotado e um incêndio mal explicado tomou os prédios da Prefeitura, Câmara e Fórum. A repercussão foi grande, nacional, mas nada soubemos sobre os desdobramentos posteriores, exemplo típico do que ainda continua sendo a lei no Maranhão, fonte de arbítrio, perseguição e vingança.

Por outro lado, temos as cenas do dia 15 de abril em algumas cidades do interior, data limite para os gestores públicos disponibilizarem a prestação de contas para apreciação da sociedade. Os relatos sobre as mobilizações em Lago do Junco, Cantanhede, Codó, Santa Luzia do Tide e Miranda do Norte, com a população exigindo saber como foi gasto o dinheiro, apontam para algo realmente interessante, que, se estimulado, será uma fonte de pressão importante na luta contra a corrupção. Escândalos com o dinheiro público não faltam e o jornal lembra o velho sorvedouro do “Projeto da EMSA”, com vistas à irrigação no Baixo Parnaíba, criado ainda no período de Sarney na presidência e que vem atravessando os governos como saco sem fundo, no conhecido estilo para e recomeça, estando agora previsto um investimento de mais de 180 milhões através do PAC.

A crueza e a qualidade que aparecem nas poucas páginas do Vias de Fato são evidentes e o contraste com o tipo de jornalismo mais freqüente por estas bandas, total. Perdido entre o noticiário distorcido que é a tônica do Sistema Mirante e a submissão do antigo Jornal Pequeno às conveniências dos grupos de oposição oligárquica, o que já era ruim parece ter ficado pior. Uma autêntica briga de comadres, movida a muito disse-me-disse, temperada por um colunismo medíocre, sem exceções, incapaz de ir além do chavão e da propaganda política.

São jornais que se lê em poucos minutos e ainda fica a sensação de perda de tempo. Um jornalismo que se alimenta de si próprio, de suas futricas e vaidades, centrado em São Luís, ou melhor, em alguns poucos bairros da cidade (agora também em alguns blogs…), distanciado da sociedade e no fundo parecendo cumprir a função de esconder o Maranhão dos maranhenses. Ataques e acusações, mas quase nunca crítica política digna desse nome, aliada à exaltação repetitiva da natureza, da cultura popular e da mitificação histórica, eis a fórmula comum aos nossos jornais. Podem até falar uma coisa ou outra dos problemas da cidade, comportar alguma denúncia, reclamar da insegurança, mas séries de reportagens, exploração mais circunstanciada de temas, cruzando informação e reflexão, o link necessário entre pesquisa e jornalismo, capaz de motivar o debate público, nada disso existe. O resto são as doses diárias de uma violência exposta sem nenhuma discussão, carne pendurada em açougue para consumo de massa.

Vivemos num estado marcado pela carapaça mítica engendrada ainda no século XIX em torno de sua capital, cujo signo maior era o sempre repetido bordão da Atenas Brasileira, sem esquecer a fundação francesa de araque, inventada posteriormente, e que agora ganhou novos contornos com o título a ela concedido de patrimônio da humanidade, aliado à imagem recente dos Lençóis como maravilha da natureza. Por trás disso, o Maranhão é na realidade uma espécie de eterno campeão de estatísticas negativas. Terra de violência e miséria, permeada por desmandos de uma estrutura de poder que se mantém há décadas, é a imagem acabada do atraso no mosaico brasileiro. Isto é, a imagem que os outros fazem de nós, porque a visão que continuamos a cultivar permanece embaralhada por um sentimento de grandeza, na verdade mais ludovicense do que propriamente maranhense, mas de qualquer forma largamente predominante, seja no jornalismo, na publicidade, nas academias ou universidades. É um sentimento de exaltação incutido pelas nossas elites, avesso a qualquer crítica.

O Vias de Fato não aceitou esse jogo, colocando-se numa linha crítica visceral, sem a canga costumeira dos grupos políticos, vale dizer, das máfias, apostando numa articulação mais ampla e descentralizada, envolvendo movimentos sociais e criando um espaço de disseminação de informações, aberto a contribuições de viés acadêmico, mas com teor combativo, como exige o momento e ficou bem explícito desde o primeiro editorial. O que apareceu foi um Maranhão diferente do que é vendido cotidianamente nas páginas dos jornais e nos noticiários. Coerente com as idéias professadas de um jornalismo comprometido com as causas populares, encampou decididamente a movimentação do Tribunal Popular do Judiciário, experiência única de denúncia de juízes e promotores a partir de depoimentos colhidos livremente, participa da Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra e esteve na caravana que foi acompanhar o julgamento do último e principal acusado do crime da missionária Doroty Stang.

Na recente campanha eleitoral afirmou que não tomaria partido entre os candidatos da oposição, mantendo firme a posição de que a luta contra a dominação oligárquica passa necessariamente pela luta contra o sarneysismo. Claro e direto, sem deixar de ser plural. Homenagens também ocorreram, sempre em textos de qualidade, sobre João do Vale, Maria Aragão, Dona Lili, Escrete, e, no último número, Magno Cruz, uma pilastra fundamental das lutas sociais contra a discriminação racial e a defesa dos direitos humanos que ruiu numa dessas surpresas silenciosas da vida, evocado por Cesar Teixeira em página carregada de emoção.

Recentemente o jornal passou a contar também com página na internet, contendo arquivos dos artigos publicados, algumas reportagens e postagem de notícias, comentários, denúncias, além de links para os sites do MST, CPT, Fórum Carajás, Tribunal do Judiciário, Sindicato dos Bancários. Na situação que hoje se desenha, espaços de crítica como este terão um papel cada vez mais importante.

Lula manteve a tradição e comanda a locomotiva da oligarquia em vários estados, mas preparando-se para usufruir de uma herança política perversa, construída com a desmobilização e a cooptação de movimentos sociais e o desmantelamento do frágil sistema partidário, sem falar na destruição do próprio PT enquanto força democrática, cada vez mais submetido às conveniências do “lulismo” (a sua mitificação como novo pai dos pobres), encapsulado em redes obscuras, pronto a se unir a antigos beneficiários do atraso e apresentar vários “honoráveis bandidos” na televisão como verdadeiros baluartes do espírito público e promotores do desenvolvimento em suas regiões, reproduzindo cinicamente a velha aliança com a fisiologia, que continua a ser colocada como a “única forma possível de governar o Brasil”, exercendo, enfim, o realismo dos aproveitadores e saltando sobre o Estado com a gula dos que tem fome de poder e mando. Neste contexto, República pode virar apenas uma palavra, ainda mais vazia do que já é. Uma triste reafirmação da nossa longa tradição patrimonialista, na qual sobretudo o poder político deve ser utilizado como espólio do vencedor.

Resta uma saudação calorosa aos editores Cesar Teixeira e Emílio Azevedo, que vem levando esta experiência urgente de informação engajada com extrema dificuldade, mas, acima de tudo, muita garra e competência. Além da expectativa positiva de que o jornal consiga se afirmar como espaço de discussão diversificada, capaz de exercer de maneira criativa a função dinamizadora da informação na luta contra a espoliação e o arbítrio.

*Artigo publicado na 12º edição do jornal Vias de Fato.

**Flávio Reis é professor da UFMA. Publicou Grupos Políticos e Estrutura Oligárquica no Maranhão.

DOIS POEMAS

MERDA E OURO

Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam padres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada.

Paulo Leminski (Distraídos Venceremos)

&

O HOMEM NA CIDADE GRANDE

Lixe-se o lixo!
Louvores ao luxo!
Eu não sou bicho.
Chega de bucho!

O quarto apertado
não dá pra viver:
um calor danado,
só falto morrer!

É sina de berço?
Eu não a mereço!
Fui criança mimada.

Oh, meu bom Santo,
dá-me o encanto
da sena acumulada!

José Maria Nascimento (Os portais da noite)

LIVROS: DE CHICO, AGOSTINHO E MAIS

Dou mais detalhes em breve, mas os poucos mas fieis leitores deste blogue já ficam sabendo:

Clica que amplia.

MINC DEBATE APOIO À CULTURA HOJE EM/NA SÃO LUÍS

Henilton Menezes, Secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura (MinC), estará em São Luís hoje (10). Às 18h ele se encontra com produtores culturais do Maranhão no auditório da Faculdade São Luís (Rua Oswaldo Cruz, 1455, Canto da Fabril, Centro).

Na ocasião serão debatidos o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), acessibilidade, novas ferramentas de acompanhamento e prestação de contas dos projetos financiados, flexibilidade dos orçamentos, forma de atendimento aos proponentes, qualidade e critérios dos pareceres e atuação da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (Cnic), além de outras questões porventura levantadas pelos presentes.

Produtores culturais interessados em participar devem se inscrever pelo e-mail ascom_func@yahoo.com.br. O encontro é iniciativa da Representação Regional Nordeste do MinC (RRNE) em parceria com a Fundação Municipal de Cultura (Func), de cujo release este blogue catou informações. Maiores, podem ser obtidas pelo e-mail acima e/ou pelo telefone (98) 3212-8296.

VIOLÊNCIA

Eu já estou cansado de viver assim, esperando sempre o que não pode vir. Desejando a todo instante que haja paz na terra, sonho impossível. Que o mundo reaja a essa metamorfose que se chama violência.

No silêncio eu busco a razão, e na razão eu não encontro a minha consciência livre da violência.

É tão difícil viver assim, assim atormentado por essa psicose social.

&

Nilsoaldo Castro Silva, o rosariense Capu, autor da prosa poética acima, completa hoje 50 anos. Reproduzir aqui seu texto, pouquíssimo conhecido, é nossa forma de homenageá-lo pela passagem de meio século de vida. O poeta permanece inédito em livro, digo em livro próprio: Violência, atualíssimo ainda hoje, foi publicado em 1985, em Sonho livre de esperança, estreia de outro poeta de Rosário/MA, Silvio Fernando, tio deste blogueiro.

MILÍCIA ARMADA DE EX-DEPUTADO FEDERAL ASSASSINA MILITANTE DO MST NO PARÁ

NOTA

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem por meio deste denunciar:

1. A ação de milícia armada do fazendeiro e ex-Deputado Federal Josué Bengstson (PTB) que renunciou ao mandato para fugir da cassação por envolvimento na Máfia das Sanguessugas resultaram na morte do trabalhador rural e militante do MST José Valmeristo Soares conhecido como Caribé. Por volta de 9h da manhã dois trabalhadores rurais, João Batista Galdino de Souza e José Valmeristo, o Caribé, se dirigiam à cidade de Santa Luzia do Pará quando foram abordados por um grupo de três pistoleiros armados no ramal do Pitoró que os obrigaram a entrar em um carro onde foram espancados e torturados. Após sessão de torturas foram obrigados a descer no Ramal do Cacual, próximo à cidade de Bragança, com a promessa de que iriam acertar as contas. João Batista Galdino conseguiu escapar para a mata e ouviu sete disparos.

2. Chegando à cidade de Santa Luzia João Batista denunciou à polícia, que afirmou não poder ir por ser noite e dificilmente achariam o corpo. A Direção do MST denunciou à Secretaria de Segurança Pública do Pará, através de Eduardo Ciso, que afirmou mandar um grupo de policiais ao local e que conversaria com o Delegado do Interior para tomar providências. Nada foi feito e por volta de 10h da manhã de hoje (4) os trabalhadores rurais encontraram o corpo de José Valmeristo Soares.

3. Os trabalhadores rurais sem terra estão acampados às proximidades da Fazenda Cambará e a reivindicam para criar um assentamento de reforma agrária. A Fazenda Cambará faz parte de uma gleba federal chamada Pau de Remo e possui 6.886ha de terras públicas. O fazendeiro e ex-deputado federal Josué Bengstson possui somente 1.800ha com títulos e a Promotora de Justiça Ana Maria Magalhães já denunciou varias vezes que se trata de terras públicas. Os trabalhadores já haviam denunciado na Ouvidoria Agrária do Incra, Ouvidoria Agrária Nacional do MDA, Delegacia Regional do MDA, Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará e Secretaria de Segurança Pública do Pará as várias ameaças de morte sofridas de jagunços e da própria polícia de Santa Luzia e Capitão Poço sem que nenhuma providência tenha sido tomada.

4. Denunciamos ao conjunto da sociedade brasileira mais esse vergonhoso ato de omissão e conluio da polícia do Pará com os fazendeiros do Estado, bem como a incompetência da Secretaria de Segurança Pública do Pará e do Governo do Estado em resolver as graves violações dos direitos humanos no campo que fazem o Estado do Pará atingir o triste posto de campeão nacional de violência no campo. Denunciamos também a inoperância do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), bem como o Programa Terra Legal, do Governo Federal, que não têm resolvido os problemas fundiários, mesmo aqueles que chegam ao conhecimento público.

5. Exigimos a prisão imediata dos pistoleiros que assassinaram o trabalhador José Valmeristo Soares, bem como dos mandantes Josué Bengstson e seu filho Marcos Bengstson.

6. Exigimos também a desapropriação imediata da fazenda Cambará para o assentamento imediato das famílias acampadas no acampamento Quintino Lira.

Belém, 4 de setembro de 2010

Direção Estadual do MST/Pará
Reforma Agrária. Por justiça social e soberania popular!

[Nota recebida por e-mail via Carta O BERRO. Reproduzo aqui com pequena revisão]

SEXTA-FEIRA COM LEMINSKI

Depois da dica do grande Ademir Assunção (de onde roubei a imagem que abre este post) passei a sexta-feira com o grande Paulo Leminski. Ainda nem concluí a audição (o arquivo tem mais de quatro horas) feita entre plays, pauses e o trabalho pré-feriado (nem tão ão assim). Vale muito a pena ouvir a velocidade do pensamento de Leminski, seu bom humor, sua afi(n)ação, sua cultura, enfim, cabe repetir(-me): gênio!

Ouçam!

UM POSTZINHO CABOTINO

Não direi que já disse muito e sei que muito ainda vou dizer sobre Pedra de Cantaria, segundo disco de meu parceiro Gildomar Marinho (a faixa-título é parceria nossa).

Em Olho de Boi, além de assinarmos juntos o reggae Lembra?, fiz um “texto de apresentação” para o encarte e dividi o projeto gráfico com Beto Nicácio (Dupla Criação).

Já em Pedra de Cantaria, com Gildomar novamente morando em Fortaleza/CE, acabei ficando um pouco afastado, embora sempre acompanhando os mp3 que me eram enviados, ouvindo, sugerindo, fazendo a ponte, por exemplo, com o poetamigo Celso Borges, que participou declamando em uma faixa (coisa fina!), enfim.

Gildomar já fez um show de lançamento por lá, sábado passado. Repete a dose na próxima quarta-feira, também por lá. E já estamos começando a pensar em shows aqui no Maranhão: novamente um em São Luís, outro em Imperatriz, onde ele se “formou” musicalmente (antes de se licenciar em Música pela UECE), como Carlinhos Veloz, Erasmo Dibell e a poeta Lília Diniz, apenas para citar nomes que também participam do disco (e deverão participar dos lançamentos cá no estado).

Musicalmente, já o ouvi inteiro, tanto em casa, quanto no Bar do Léo (onde Gildomar já fez sessão de audição), mas ainda não vi o disco pronto, o projeto gráfico, o objeto…

Já sabia que o disco viria envolvido em azulejo, papel reciclado (a partir da casca do babaçu, feita por trabalhadoras resgatadas do trabalho escravo na região de Açailândia/MA) e madeira.

E-mail enviado por Gildomar na manhã de hoje, enquanto cuida do envio de umas unidades cá para o Maranhão, aumenta a curiosidade:

ISSO VAI DAR REPERCUSSÃO*

Acontece hoje, logo mais a partir das 13h (inscrições), o Grande Encontro Maranhense de Blogueiros e Tuiteiros Progressistas (programação completa aqui). Por progressistas entenda-se: os que têm compromissos com a defesa dos direitos humanos, da democratização das comunicações e com a renovação política, social e econômica na última capitania hereditária do Brasil.

Muita gente tem perguntado se é um encontro pró este ou aquele candidato. Ou anti este ou aquele candidato, dá no mesmo. Não necessariamente, eu diria. Mas relendo o parágrafo acima, lembro do dito popular: “a carapuça assenta na cabeça de quem usa”.

Acompanhe abaixo a repercussão do encontro:

Luiz Carlos Azenha: O encontro de blogueiros do Maranhão.

Rogério Tomaz Jr.: Maranhão realiza Encontro de Blogueiros e Twitteiros Progressistas.

Itevaldo Jr.: Encontro de Blogueiros e Twitteiros é hoje.

Ricarte Almeida Santos: Grande encontro de blogueiros e tuiteiros progressistas do Maranhão.

Ponte Aérea São Luís: Grande Encontro de blogueiros e tuiteiros progressistas em São Luís.

O Imparcial Online: Evento em SL reúne blogueiros e twitteiros do MA.

Ed Wilson Araújo: Blogueiros e twitteiros: encontro amanhã (hoje, 2).

Franklin Douglas: Blogueiros progressistas reúnem em São Luís.

Pedro Sobrinho: Blogueiros e twitteiros.

Elen Mateus: Encontro de blogueiros e twitteiros progressistas do MA.

Há mais links, web afora.

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*Disco hoje raro (eu mesmo, só tenho uma cópia) que reúne os gênios Itamar Assumpção e Naná Vasconcelos.