Temporada Paulo Leminski 8

A SAIDEIRA

Conforme prometido por este blogue, a Temporada Paulo Leminski se encerraria com a chegada de meu exemplar de Toda Poesia, mote da mesma.

Hoje não tem prosa, poema, vídeo, música, entrevista de nosso homenageado nem alguém dizendo algo sobre ele.

Hoje troco minha barba por seu bigode, esse vale a pena, enquanto o leio/devoro sentindo o cheiro de sua poesia.

Viva Leminski!

O blogueiro no Club Cult

Num lançamento da Pitomba há algum tempo na UFMA disse umas coisinhas sobre a revista. A matéria do Club Cult já foi ao ar na TV Guará e está disponível (como outras) no canal do programa no youtube.

No Vias de Fato de fevereiro a entrevista que eu e Igor de Sousa, os autointitulados Los Perros Borrachos, fizemos com o trio de editores. Em breve a gente pendura por aqui.

Nosso colunismo social ridículo

O vídeo abaixo me chegou via facebook. Mostra o apresentador Zé Cirilo cometendo gafes e pagando micos. Morreu Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr., e ele misturou alhos e bugalhos e falou em Benito di Paula, autor de Charlie Brown, que, composta bem antes de a banda existir, obviamente não tem nada a ver com a mesma, e carnaval baiano. Terá o folclórico apresentador maranhense confundido Chorão com Carlinhos Brown, por conta do nome do grupo do primeiro?

Os pouco mais de dois minutos mostram o ridículo de nosso colunismo social, televisado ou impresso, em que aberrações como a abaixo são, infelizmente, mais comuns do que imaginamos.

Hoje tem o grande Magah no Chico Discos

Tenho um tio motorista de ambulância do SAMU. Em nosso encontro mais recente, embora eu não tenha dito isso a ele ou cantarolado com a boca (só com o pensamento), a música de Marcos Magah ficou me martelando o juízo: “mas quando eu cheguei no chão/ ninguém chamou o SAMU”.

Magah vai direto ao ponto. Acho que sua música tem tudo para acontecer fora do Maranhão embora o lance, ao menos para mim, é que, qual a literatura de Bruno Azevêdo, você se ouve dentro da música do cara. Você é parte da paisagem sonora. Não por acaso Z de Vingança, o disco, saiu pela Pitomba.

Aí ontem eu tava bebendo com DP e uma turma (era aniversário de mamãe), quando alguém falou em “centro da cidade”, no que eu emendei, sem muito pensar: “lá onde ela vende bugigangas”.

Se você não entendeu nada, só tem um jeito: ir lá no Chico hoje.

Temporada Paulo Leminski 7

UM KAMIQUASE NA IDADE MÍDIA

Seu primeiro livro, Catatau, já chegou provocando, dinamitando os limites. Não é conto, não é romance, não é poesia. Nele, o personagem central é ninguém menos que Descartes. E ele tem uma luneta em uma mão e um cachimbo de maconha na outra. São dois símbolos?

É, são dois símbolos elementares. Um de distanciamento crítico e outro de integração. A luneta é o distanciamento, e o cachimbo de maconha é a integração. A maconha gera uma integração. Numa roda de gente queimando fumo gera-se um tipo de comunicação diferente daquele gerado num simpósio, por exemplo, sobre a metafísica e a psicologia de Jung. É uma comunicação via substância, não via palavra.

Esse tipo de experiência, de alguma forma, tem a ver com a experiência poética?

É até um lugar-comum a tradição de que os poetas criam de madrugada, de que são alcoólatras. Baudelaire, por exemplo, escreveu muitos poemas numa mesa de bar, sob efeito do absinto. A ideia de que o discurso poético se produz em estados anômalos é uma coisa normal, que rima com a própria natureza anômala da linguagem poética. O normal da linguagem é a função referencial. E ela se voltar sobre si mesma, como no caso da poesia, é uma espécie de hipertrofia. Escrever um livro inteiro em que prevaleça a função poética é um exagero, um excesso. Essa linguagem ocorre com os exagerados e os excessivos. A ideia de que os poetas são loucos é até absolutamente correta. Isso se tornou quase mitológico do romantismo em diante.

Voltando um pouco à ideia do “inutensílio”. Você pode explicar melhor isso?

A ideia da arte como um inutensílio é muito recente. Ela aparece no século XIX, com os simbolistas, com Mallarmé, Baudelaire. No Renascimento, não passaria pela cabeça de ninguém, de Rafael, de Leonardo da Vinci, de Caravaggio, que a sua arte não servia pra nada. Um mural pintado numa igreja no período renascentista não é apenas um jogo de cores, como seria um quadro impressionista, de um Manet, de um Matisse. Só pode aparecer a ideia da arte pela arte no momento em que ela se transforma em mercadoria.

O inutensílio é a negação da arte como mercadoria?

É muito complexo. O negócio é o seguinte: a arte ou é tutelada pelo Estado ou é tutelada pelo mercado. Um dos dois mandará na arte – essas são as leis que o real quer pregar. No Ocidente, é o mercado que determina a obra de arte. O mesmo escritor que acha indecente que em Cuba o Estado financie a arte não acha indecente que seu trabalho seja tratado como mercadoria. A ideia do inutensílio é uma negação de ambos. Ela afirma que a arte não serve pra nada justamente porque só serve para o engrandecimento da experiência humana. Apenas isso.

Até mesmo os poetas engajados acabam se transformando em mercadoria, não é?

Claro. Thiago de Mello, Ferreira Gullar, Moacyr Félix, Affonso Romano de Sant’Anna vendem muito mais do que Augusto de Campos.

Você acredita que a arte pode causar revoluções?

Pode, claro. Mas revoluções não acontecem toda segunda-feira. As vanguardas do início do século surgiram quando a burguesia desabou, com a Primeira Guerra. A Europa passou para segundo plano como potência mundial, e a hegemonia foi assumida pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Na Segunda Guerra isso se consagrou. O que é a Europa hoje? É um imenso museu. Então, as vanguardas europeias, surrealismo, cubismo, futurismo, dadá, surgiram num momento histórico irrepetível. Hoje nós estamos vivendo numa época retrô: neoexpressionismo, neodadá, neocubismo. Não está acontecendo nenhuma revolução. High-tech não é revolução. As revoluções Francesa e Russa, sim. A chamada Revolução Americana não é revolução nenhuma. George Washington era um dos homens mais ricos dos Estados Unidos quando liderou a chamada Revolução Americana. Ele não alterou as relações de poder nem de propriedade. Não redistribuiu nada. A Francesa e a Russa, sim, alteraram profundamente as relações entre as pessoas. High-tech não revoluciona nada. Pode ser apenas uma re-carga dentro do poderio de uma classe dominante. É uma revolução entre aspas.

&

Trechos da entrevista que o polaco-loco-paca concedeu a Ademir Assunção, em 1986, publicada no mesmo ano no jornal O Estado de S. Paulo e, em 1999, numa versão ampliada, na revista Medusa. Extraí os trechos acima de Faróis no Caos (p. 32-34), que Ademir publicou ano passado pela Edições SESC/SP.

“Antes mesmo que o gravador fosse ligado, disparou a falar e não parou depois que a fita chegou ao fim”, revela o jornalista em um texto introdutório à entrevista, complementar à cabeça original, publicada na imprensa. “Aqui está a versão mais próxima da integral. Foi o que consegui salvar da fita, que naufragou em um copo de vodca”.

O livro dá uma panoramizada na cultura brasileira dos últimos 30 anos em entrevistas de Ademir com, além de Leminski, Alice Ruiz, Antonio Risério, Arnaldo Antunes, Arrigo Barnabé, Augusto de Campos, Caetano Veloso, Chacal, Claudio Daniel, Geraldo Carneiro, Glauco Mattoso, Grande Otelo, Haroldo de Campos, Heriberto Yépez, Hermeto Pascoal, Itamar Assumpção, Jorge Mautner, Kaká Werá Jecupé, Lenine, Luis Fernando Veríssimo, Luiz Melodia, Marcatti, Márcia Denser, Mário Bortolotto, Monge Daiju, Nelson de Oliveira, Néstor Perlongher, Roberto Piva e Sebastião Nunes.

“Feminino Plural” será aberta hoje (8)

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Será aberta hoje, às 19h, na Galeria Trapiche Santo Ângelo (em frente ao Circo da Cidade), a exposição Feminino Plural, cujo título entrega: diversos artistas pensam e retratam o universo feminino. O time é composto de mulheres e homens e a exposição surgiu de uma reação à violência contra a mulher.

Estão escaladas/os Adriana Karlem, Alain Moreira Lima, Ana Borges, Beto Lima, Binho Dushinka, Clara Vidotti, Cláudia Matos, Cláudio Costa, Cláudio Vasconcelos, Cyro Falcão, Diego Uchôa, Edgar Rocha, Edi Bruzaca, Fábio Vidotti, Fernando Sah,  Fonseca Maranhão, Fransoufer, Giselle Viana, Hiago, Lícia Garcia, Luís Carlos, Lurdimar Castro, Marcelo Cunha, Márcio Vasconcelos (autor da foto do convite que ilustra este post), Marília de Laroche, Marlene Barros, Murilo Santos, Ribaxé, Romana Maria, Silva Quadash e Wilka Barros, entre pintura, fotografia, vídeo-arte, instalação e performances.

Feminino Plural fica em cartaz até 10 de abril, com entrada franca.

Temporada Paulo Leminski 6

TODA POESIA NO METRÓPOLIS

O programa Metrópolis, da TV Cultura, dedicou uns bons minutos anteontem (5) ao lançamento de Toda Poesia (Companhia das Letras), que reúne a obra poética de nosso homenageado.

O destaque é o papo com Ademir Assunção e Rodrigo Garcia Lopes, que qual Leminski militam em várias frentes/linguagens: poesia, prosa, música, jornalismo etc. Ao final (no segundo vídeo abaixo), o segundo canta Adeus, poema do samurai malandro que ele musicou.

A música no traço de Máci

cartaz chico tairo

Logo mais às 20h, no Chico Discos, acontece a exposição Musicaricultura, do desenhista Tiago Máci, composta de 20 trabalhos retratando figuras da música, entre compositores e intérpretes. O autor dos desenhos também é músico e se somará a um grupo de amigos em pequenas apresentações durante a exposição.

Sobre Musicaricultura, Máci conversou com o blogue por e-mail.

Musicaricultura, o título de tua exposição, é bastante ousado e original, e dá uma ideia do que será a noite de hoje, soma e desfile de talentos. Como chegou a ele? O motivo do nome é que foi escolhido um tema pros caricaturados. Serão somente artistas, compositores, intérpretes, enfim, de música, além de existir musica de fundo tocada e cantada por jovens compositores daqui da ilha. São 20 caricaturas, dentre elas figuras de São Luís, nacionais e internacionais expostas de uma forma diferente, tentando agregar todo o espaço possível do Chico Discos como no isopor da cerveja, ímãs de geladeira, teto, janelas, banheiro.

O compositor Cesar Teixeira no traço de Máci

Você também é músico? Sim, também sou músico. A música chegou bem mais depois do desenho. Comecei a compor em rodas de amigos que também escrevem e aprendi bastante com eles. Posso dizer que foram muito importantes para o meu “amadurecimento” musical. Sou vocalista da banda Saga dos Salientes, em que fazemos rock, blues, country e funk. Mas além disso tenho alguns sambas de minha autoria, baladas e outras linguagens, outras ideias. Um outro lado que vou apresentar hoje, na noite da exposição.

A madredivina Patativa, por Máci

Quando começou a se interessar por desenho e artes em geral? Teus pais incentivaram? Quais as tuas influências? Comecei a me interessar com uns oito anos. Meu tio, Tatto Costa, cantor e compositor também da ilha) ainda tocava em barzinho e chegava em casa pra comer alguma coisa, não lembro direito, e eu e meus irmãos éramos muito atentados. Ele também desenhava muito e ocupava a gente com os desenhos. Um dia a professora pediu que fizesse um trabalho sobre meios de transporte e meu grupo ficou com o avião. Pedi então que meu tio desenhasse um avião lindão e assim fez. Levei pra sala de aula, mas falando que eu tinha feito [risos], ninguém acreditou e eu fiquei muito chateado. Não entendia por que achavam que eu não era capaz de fazer. E me convenci que poderia fazer. Daí comecei a copiar os desenhos que meu tio fazia, guardava, rasgava, colava, até que me vi ampliando desenhos tipo Pokémon, Digimon, mangá etc. A caricatura mesmo apareceu bem depois, por volta dos 15 anos. Meu professor de física me deu três pontos numa prova que eu tinha certeza que ia tirar quatro. Eu também fiquei muito chateado e por raiva desenhei o professor sacaneando muito! Nesse momento não tinha nenhuma ideia que um dia pudesse estar fazendo uma exposição com caricaturas de minha autoria. Entao eu passei o desenho pra sala toda. O professor viu. Todos os professores viram e curtiram. Então comecei a fazer todos os professores, desenhar a galera e trocar os desenhos por vale transporte, lanche. No começo acho que meus pais olhavam aquilo como uma coisa que ia passar, eu que dizia que ia ser advogado, mas com o tempo perceberam que dali poderia sair alguma coisa se existisse estudo, empenho e seriedade. Comecei a estudar, a ler mais sobre o assunto e a conhecer outros caricaturistas nacionais e internacionais, como o mineiro Gilmar Fraga, que conheci virtualmente e de quem tenho bastante influência no traço. Foi com ele que percebi que não era necessário eu fazer realmente toda a figura humana na caricatura. Poderia fazer só um olho, uma perna, não colocar um nariz. O importante é a expressão, o sentimento do desenho.

O que significa juntar os amigos músicos para canjas no ato da exposição? É lindo! Curto e respeito o trabalho de todos. Desde o intimismo de Sergio Muniz à graça poética de Paulo Linhares. É um prazer mesmo estar somando e fazendo música com eles.

Lauande Aires se aquece para turnê

O talentoso Lauande Aires reapresenta o aclamado O miolo da estória, em curta temporada no Teatro Alcione Nazaré (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande). Os ingressos podem ser trocados por um quilo de alimento não perecível, na bilheteria do teatro, uma hora antes do espetáculo. Os alimentos arrecadados serão destinados ao programa Mesa Brasil, do SESC.

Esta curta temporada em São Luís será uma espécie de aquecimento. Depois dela, o artista circulará por 32 cidades brasileiras com o espetáculo, começando por Fortaleza/CE, dia 13 de abril, integrando o projeto Palco Giratório, também do SESC.

Há algum tempo entrevistei o dramaturgo para o Vias de Fato, justo sobre O miolo da estória. Releia o papo.

Lideranças da ‘Teologia da Libertação’ escrevem aos cardeais; Casaldáliga envia poema

O manifesto assinado por 2 mil teólogos da libertação, entre eles d. Pedro Casaldáliga, Leonardo Boff e Jon Sobrino, pede ao futuro Papa, quem quer que venha a ser, que considere como prioritária a expectativa dos católicos por uma Igreja aberta para as mudanças exigidas pelo mundo contemporâneo. Casaldáliga ainda enviou um poema ao papa emérito Bento XVI.

POR DERMI AZEVEDO
DA CARTA MAIOR

Pela primeira vez na história da Igreja Católica, os cardeais eleitores do Papa recebem, de um bispo, um poema. O autor da poesia é o bispo emérito de São Félix do Araguaia/MT, o religioso catalão d. Pedro Casaldáliga, um dos representantes mais expressivos da Teologia da Libertação.

O texto foi também enviado ao papa emérito Bento XVI. Paralelamente, d. Pedro assinou na semana passada um manifesto de 2 mil teólogos da libertação, entre os quais o brasileiro Leonardo Boff e o espanhol Jon Sobrino, com ampla atuação em todo mundo e que foi punido pelo então cardeal Joseph Ratzinger, quando era prefeito (ministro-chefe) Congregação da Doutrina da Fé (antigo Santo Ofício).

O manifesto pede ao futuro Papa, quem quer que venha a ser, que considere como prioritária a expectativa dos católicos por uma Igreja aberta para as mudanças exigidas pelo mundo contemporâneo.

De Pedro do Araguaia para o Pedro de Roma:

“Deixa a Cúria, Pedro”
Deixa a Cúria, Pedro,
Desmonta o sinedrio e as muralhas,
Ordene que todos os pergaminhos impecáveis sejam alterados
pelas palavras de vida, temor.
Vamos ao jardim das plantações de banana,
revestidos e de noite, a qualquer risco,
que ali o Mestre sua o sangue dos pobres.
A túnica/roupa é essa humilde carne desfigurada,
tantos gritos de crianças sem resposta,
e memória bordada dos mortos anônimos.
Legião de mercenários assediam a fronteira da aurora nascente
e César os abençoa a partir da sua arrogância.
Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde.
O povo é apenas um “resto”,
um resto de esperança
Não O deixe só entre os guardas e príncipes.
É hora de suar com a Sua agonia,
É hora de beber o cálice dos pobres
e erguer a Cruz, nua de certezas,
e quebrar a construção – lei e selo – do túmulo romano,
e amanhecer
a Páscoa.
Diga-lhes, diga-nos a todos
que segue em vigor inabalável,
a gruta de Belém,
as bem-aventuranças
e o julgamento do amor em alimento.
Não te conturbes mais!
Como você O ama,
ame a nós,
simplesmente,
de igual a igual, irmão.
Dá-nos, com seus sorrisos, suas novas lágrimas,
o peixe da alegria,
o pão da palavra,
as rosas das brasas…
… a clareza do horizonte livre,
o mar da Galileia, ecumenicamente, aberto para o mundo.

Não por acaso Angeli é anagrama de genial

Ele, na Folha de S. Paulo de ontem (3), resumindo bem o futuro (ao menos por um ano) que parece descortinar-se para a atuação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Sobre a questão, meu amigo Rogério Tomaz Jr. escreveu tópicos fundamentais e esclarecedores aqui.

“Chorografia do Maranhão” estreia amanhã (3) em O Imparcial

Ideia acalentada há um tempinho, a série Chorografia do Maranhão chega amanhã ao papel. Mais precisamente às páginas do jornal O Imparcial, onde será publicada quinzenalmente aos domingos.

Este blogueiro e Ricarte Almeida Santos entrevistam chorões maranhenses, fotografados por Rivânio Almeida Santos. O objetivo principal é registrar as histórias e memórias destes grandes mestres. Depois de publicadas no jornal, Chorografia deve virar um livro, talvez algo mais.

A jornalistamiga Patrícia Cunha fez uma bela matéria nO Imparcial de hoje (2), divulgando a iniciativa. Continue Lendo ““Chorografia do Maranhão” estreia amanhã (3) em O Imparcial”

Temporada Paulo Leminski 5

UM INÉDITO DA BESTA DOS PINHEIRAIS

O “auge” de Leminski, publicado em 14 de setembro de 1986 (clique para ampliar)

Via Cassiano Elek Machado.

Temporada Paulo Leminski 4

Mudei o nome de Semana para Temporada, por razões óbvias.

Hoje, um artigo de Leminski, de seu Ensaios e anseios crípticos, recentemente relançado pela Unicamp, numa edição bonita. Infelizmente o livro não identifica quando o texto foi escrito, certamente após a ditadura militar brasileira. Notem, meus caros, que ainda não havia facebook, ou antes orkut, e seus “miguxês”. É outra coisa…

A VOLTA DO REPRIMIDO

Este é mesmo o país de Ruy Barbosa.

É inacreditável a estupidez que vem cercando a discussão atual sobre os perigos que corre a língua portuguesa no Brasil e seus possíveis corretivos pedagógico-educacionais.

Em primeiro lugar, mal consigo acreditar em meus olhos quando vejo professores universitários, supostamente formados em linguística, atacando o português “errado” falado (ou escrito) pelos jovens, defendendo um português “certo”, como se existisse um português errado ou certo. Certo e errado, queridos, não é critério linguístico. E moral ou jurídico. Só uma lei determina o que é certo. Como disse para sempre o apóstolo Paulo, “a lei criou o pecado”. São as regras das gramáticas que criam o erro, não os usuários da língua.

Quem estabelece o certo e o errado é toda a comunidade de falantes, não meia dúzia de faraós encastelados em seus filológicos sarcófagos universitários ou acadêmicos.

Não foi aqui no Brasil que se bagunçou a colocação dos pronomes de Portugal? Nós brasileiros, começamos frase com variação pronominal, e achamos mais gostoso assim (“me dá um dinheiro aí”, “te digo uma coisa”, “lhe dou uma lição”), coisa que discrepa do uso lusitano. E daí? Boa parte do esforço do modernismo (mários e oswaldes) foi no sentido de obtermos dignidade de escrever como falamos, nós, do lado de cá do Atlântico.

Leio, agora, que em Portugal o problema também é grave. Às avessas. A invasão da simpática republiqueta ibérica pelas novelas da Globo está levando o pânico às hostes dos conservadores do idioma de Camões. Leio até propostas de alguns, dignos descendentes de Salazar, recomendando a criação de comissões estatais de censura para fiscalizar a colocação de pronomes na TV portuguesa, invadida pela barbárie ipanemense da Globo. É de morrer de rir.

A “contribuição milionária de todos os erros”, de que falava Oswald, erros negros, erros índios, erros mestiços, erros mulatos, hoje, está por cima. É como dizem, geralmente, os baianos, esses primeiros brasileiros, “Deus é mais”.

E se os jovens, hoje, não sabem “se expressar” (como os velhos querem, evidentemente), isso se deve a vinte anos de uma estúpida ditadura, a um ensino aviltado e degradado, a um mercantilismo generalizado, que nada tem a ver com “domínio do português”, “conhecimento da língua” e outras bobagens, que servem, apenas, para justificar o emprego de milhares de pedagogos reacionários e repressivos.

As múmias nem percebem que os tempos mudaram. Mais que a língua, fala, hoje, a linguagem, o idioma integral do corpo, da roupa, da atitude.

Jà estamos num videoclipe. E as múmias continuam se comportando, e legislando, como se estivéssemos em plena sessão da Academia Brasileira de Letras, onde para um Antônio Houaiss tem oito Ramsés III.

É óbvio, para quem quer que não tenha o QI do português das nossas anedotas, que historicamente, o futuro da língua, um dia, lusitana, está aqui neste Brasil de 130 milhões de falantes, e não no Portugal de parcos 10 milhões, um país sem nenhuma expressão internacional, destituído de qualquer importância científica, industrial ou tecnológica, um mero eco de uma história que já houve.

Através da fala brasileira, veiculada pelas novelas da Globo, executa-se uma justiça histórica, que já tardava séculos, esses séculos em que nós estávamos errados, porque Portugal estava sempre certo.

Graças a Portugal que nos colonizou e explorou durante quatro séculos, falamos nós, a sexta potência econômica do planeta, uma língua que, em nível mundial, é apenas um “patois” do espanhol, um dialeto obscuro que ninguém, no mundo, lê nem entende. É a última sacanagem de Portugal. Estamos enclausurados numa língua insignificante. Se um dia ela tiver que ser alguma coisa, nós, brasileiros, é que temos que fazê-lo.

Só preconceitos arqueológicos-necrófilos ainda nos fazem chamar essa língua de “portuguesa”.

Está na hora de Portugal começar a falar brasileiro.

E assim será, queiram os professores ou não queiram.

(Paulo Leminski, Ensaios e anseios cripticos, p. 167-169. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2011)

Crime ambiental na área ecológica do Jaguarema

Invasores profissionais estão devastando uma área verde de influência das nascentes do Rio Jaguarema, declarada pela Prefeitura Municipal de São Luís como Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), conforme Lei nº. 4.770, de 22 de março de 2007. Na última quarta-feira (27/2), chegaram a atear fogo na mata, o que só não resultou em catástrofe devido à ação de policiais e bombeiros.

A área, localizada ao lado do Condomínio Parque das Mangueiras – Av. Santos Dumont, vem sendo ocupada desde o carnaval por invasores que chegaram à reserva portando facões e cordas plásticas, alguns de motocicletas e até de automóveis. Eles possuem casas e outras propriedades nas proximidades, mas já estão dividindo os lotes da área verde para especulação, visando lucros pessoais.

Segundo os moradores do condomínio, o caso já foi denunciado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMAM), à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA) e ao Batalhão de Polícia Ambiental do Estado, mas ainda não foram tomadas as medidas necessárias para afastar definitivamente os invasores, que desdenham da própria ação policial, que é tímida, ocasional, e não os assusta.

A área verde é densa, com mangueiras, cajueiros, babaçuais, barrigudeiras, entre outras árvores, sendo partilhada por várias espécies de aves, como siricoras, jacutingas, sabiás etc., além de animais de pequeno porte. Mas corre o risco de ser completamente derrubada ou queimada, levando à extinção da fauna e da flora ali existente. “Trata-se de um crime ambiental”, denunciam os moradores. (Cesar Teixeira)