Joãozinho Ribeiro celebra a vida e a arte em dois shows no Teatro Arthur Azevedo

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Apresentações acontecem dias 3 e 4 no Teatro Arthur Azevedo, com participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro - foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro – foto: divulgação

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro completou, em 2025, 70 anos de idade e 60 de uma vitoriosa batalha contra um câncer. Uma de suas frases de cabeceira, do pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), diz que “o dever do artista é salvar o sonho”. O artista entende que a celebração da vida passa pela celebração da arte.

Estes são os motes do show “Canções da Vida e da Arte”, que Joãozinho Ribeiro apresenta nos próximos dias 3 e 4 de outubro, às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), com as participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe.

Com produção e coordenação geral de Lena Santos, o show de Joãozinho Ribeiro tem direção geral do artista, que será acompanhado pelos músicos Rui Mário (sanfona, teclados e direção musical), Arlindo Pipiu (violão e guitarra), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Robertinho Chinês (cavaquinho), Carlos Raqueth (baixo), Ronald Nascimento (bateria), Marquinhos Carcará (percussão), Kátia Espíndola (vocal), Raquel Espíndola (vocal) e Renato Serra (teclados).

As celebrações de Joãozinho Ribeiro têm caráter solidário: os ingressos para os shows serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino. A troca pode ser feita no Convento das Mercês (sede da Fundação da Memória Republicana Brasileira, Rua da Palma, Desterro) ou no Teatro Arthur Azevedo (nos dias do espetáculo).

Joãozinho Ribeiro é um dos artistas maranhenses mais gravados, tendo músicas suas em registros de nomes como Betto Pereira, Célia Maria, Chico César, Elba Ramalho, Flávia Bittencourt, Josias Sobrinho, Lena Machado, Olodum, Rita Benneditto, Rosa Reis e Zeca Baleiro, entre outros.

Parte deste repertório autoral será lembrada nas duas apresentações do show “Canções da Vida e da Arte”, que tem patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Serviço

O quê: show “Canções da Vida e da Arte”
Quem: Joãozinho Ribeiro e convidados
Quando: dias 3 (sexta) e 4 de outubro (sábado), às 20h
Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro)
Quanto: os ingressos solidários serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino (a partir do dia 1º. de outubro no Convento das Mercês e nos dias das apresentações também na bilheteria do TAA)
Informações: no instagram @joaozinhoribeiromilhoesdeuns

O pampa (ainda) é pop

foto: Dani Kline
foto: Dani Kline

Um engarrafamento se formou a caminho do Espaço Palazzo. Comentei com ela, meio a sério, meio fazendo graça: será que é tudo por causa do show? A sirene de uma ambulância obrigou o motorista a procurar fazer brecha e adiante encontramos a obra que causava o congestionamento. Mas a casa estava cheia, percebemos logo pela quantidade de carros nos estacionamentos dos arredores.

Qualquer um já deve ter ouvido a balela de que “no tempo da ditadura é que era bom” como introdução ao elogio da música produzida na época, mas o certo é que cada época tem alguma produção de valor, num futuro breve alçada ao status de clássico.

O bom público presente ao show “Acústicos Engenheiros do Hawaii”, apresentado ontem (19) por Humberto Gessinger em São Luís, era diverso: casais, pais e filhos, gente que era adolescente à época do auge do sucesso do grupo gaúcho, adolescentes que descobrem o grande museu de novidades de outrora nas plataformas digitais e saudosistas dos anos 1980 e 90 em geral.

O loiro cabeludo subiu ao palco pontualmente às 22h para um show de quase duas horas, como o título promete, um desfile de sucessos dos dois álbuns acústicos lançados pela banda – que teve várias formações ao longo da carreira, sempre centrada na figura de seu líder: como não há Guns’n Roses sem Axl Rose não existe Engenheiros do Hawaii sem Humberto Gessinger.

Conversando com o público ou colocando a cidade nas letras de suas músicas, citou São Luís como pode, retribuindo o coro da plateia, que cantou seus clássicos a plenos pulmões. A apresentação começou por “O papa é pop”, título do disco que os Engenheiros do Hawaii lançaram em 1990 – a estreia, com “Longe demais das capitais”, completa 40 anos em 2026.

Quando cantou “Toda forma de poder”, do álbum de estreia, atualizou os versos “o fascismo é fascinante/ deixa a gente ignorante fascinada”: àquela altura o Brasil mal havia saído de uma ditadura militar que durou 21 anos e é triste constatar que boa parte da população ainda clama por anistia por aqueles que tramaram um golpe de Estado que poderia ter mergulhado o país nas sombras novamente.

A inusitada parceria com Chico César em “Paraibah”, cuja letra cruza referências gaúchas e nordestinas, lançada no mais recente álbum solo de Humberto Gessinger, “Revendo o que nunca foi visto” (2025), foi precedida por um agradecimento por tudo o que o Nordeste fez pelo Brasil.

Humberto Gessinger não deixou a peteca cair: fez um show honesto que certamente agradou a cada um/a que estava ali, com ou sem saudosismo. Uma bela maneira de celebrar antecipadamente o dia do gaúcho, comemorado hoje (20).

A reportagem assistiu ao show a convite da Dux Produções.

Burocracia e amor

foto: Zema Ribeiro

Ontem fui ao cartório com minha companheira resolver burocracias da vida adulta. “Tudo contigo é bom, até a burocracia”, sempre dizemos um para o outro, com a intenção de amenizar os aborrecimentos que adultos têm que enfrentar. Amar é fácil, é simples, ou ela me fez perceber isso, já que amá-la é fácil, é simples, é leve. E o mais importante: é recíproco.

No cartório, o de sempre: a espera vagarosa em cadeiras desconfortáveis, as senhas projetadas e eletronicamente cantadas num painel sempre mais devagar do que gostaríamos. Quando chegou a nossa vez de sermos atendidos, diante do papelzinho com o número 335, a moça do guichê sorriu, misto de simpatia, cansaço e enfado, e disse: os últimos.

Acredito muito em sinais e lembrei do dito bíblico: os últimos serão os primeiros. Nossa solicitação foi atendida, resta esperar o prazo dado e voltar lá para retirar o documento solicitado.

Mas não aborreço meus poucos mas fiéis leitores para que percam seu tempo lendo sobre uma ida ao cartório, nenhum deles me diria que tudo em meus textos é bom, ainda mais em se tratando de uma visita ao cartório: ir a um já é chato, quanto mais ler sobre a ida a um — era mais fácil fazer um story e postar nas redes sociais.

Acontece que entre a chegada e a retirada de senha até o atendimento em si, uma moça chegou na gente e nos vendo abraçadinhos, nem parecia que estávamos em um cartório, resolveu interromper o nosso estágio de não tem nada acontecendo ao redor pois estamos juntos. Capacete na mão, trajando um vestido, sorridente, nos cumprimentou: e aí, casal?

Respondemos ao cumprimento e aceitamos o convite: vocês não querem ser testemunhas do nosso casamento? Perguntei-lhe se era de sua livre e espontânea vontade, sim. Levantamos, fomos ao guichê onde já estava o noivo, outro capacete sobre a cadeira, ele em pé, de bermuda e com uma dessas camisetas de proteção solar por sob a que trajava, provavelmente de um time de futebol. Entregamos nossos documentos pessoais, recitamos endereço, telefones e profissões para que a funcionária do cartório procedesse a entrada nos proclamas.

Conversamos um pouco, seis anos juntos, um tempo morando os dois com a mãe dele, há dois já só o casal, quem casa quer casa. Filhos? Ainda não. Trocar o sobrenome nos documentos? Melhor não, dá muito trabalho. Assinamos. Eles agradeceram. Desejamos felicidades. O casamento vai ser no dia de Santa Luzia, protetora dos olhos, e era bonito o jeito com que eles se olhavam, cúmplices, ternos, apaixonados.

Voltamos a nossos lugares e enquanto esperávamos o chamado de nossa senha, fiquei pensando no que já disse nesse texto, que acredito em sinais, e para matar o tempo, voltei a fazer uma das coisas que faço de melhor na vida: usar meus olhos para contemplar a beleza de meu amor.

A casa de Mônica Salmaso (e a gente de visita)

fotos: Zema Ribeiro

Mônica Salmaso é uma das maiores cantoras do Brasil em atividade. Seu show “Minha casa”, título do recém-lançado álbum homônimo (Biscoito Fino, 2025), apresentado ontem (6), no Teatro Arthur Azevedo, é uma síntese de beleza de um Brasil possível.

Com o show, ela circula o país em turnê desde 2023; o álbum foi gravado ao vivo, ano passado, em Belo Horizonte/MG. Isto é, ela inverteu a lógica de gravar um álbum em estúdio para só então partir para o palco. O resultado é um espetáculo maduro, irretocável, não há uma falha sequer, do figurino à iluminação, durante as quase duas horas de apresentação.

Já fazia 17 anos que a cantora não se apresentava em São Luís. Esteve aqui em 2008, acompanhada do grupo Pau Brasil, no mesmo TAA, em “Noites de gala, samba na rua”, seu álbum dedicado ao repertório de Chico Buarque. Do Pau Brasil seguem com ela, no palco e no estúdio, Ricardo Mosca (bateria) e o marido Teco Cardoso (flautas e saxofone); o sexteto se completa com Tiago Costa (piano), Neymar Dias (viola e contrabaixo, único craque brasileiro com esse nome), Ari Colares (percussão) e Lulinha Alencar (acordeom).

Comparando ao espetáculo passado, ao qual este se soma entre os melhores shows que já vi na vida, Mônica Salmaso está muito mais à vontade, com uma presença de palco absurda. O título do álbum (e do show) faz todo sentido: sua casa é o palco e a plateia é a visita que sai em êxtase diante de tanta beleza. É literalmente de arrepiar.

A base do repertório é o que está registrado no álbum, com exceção de “Violada” (que não consta do cd, disponível apenas em streaming e no DVD vindouro) e “Canto sedutor”, que, do álbum homônimo, em duo com Dori Caymmi, foi parar na trilha sonora do remake da novela “Renascer”, da Rede Globo

“A gente soube dessa música vendo a novela. Aí colocavam a música quando Jacutinga estava triste. Quando Jacutinga foi embora a gente achou que a música não ia mais tocar. Aí qualquer personagem que aparecia triste, eles colocavam a música. E eu não cantava nos shows. Aí depois o artista reclama que não tem oportunidade”, contou Mônica entre os vários dedos de prosa que teve ao longo do roteiro, não raro levando à plateia aos risos.

Quando a cortina se abre, Mônica Salmaso aparece com um tamborim nas mãos e entoa “Saudações” (Egberto Gismonti e Paulo César Pinheiro), senha para um repertório que alia temas já consagrados em sua trajetória a músicas nunca antes gravadas por ela, caso de “Xote” (Gilberto Gil e Rodolfo Stroeter), a que ela se referiu como “uma música que conta uma história, algo que só é possível no Brasil”.

“99% das músicas que as pessoas me mostram, sugerindo que eu grave, são tristes. Eu até sou chegada numa tristezinha, não vou mentir, mas eu quero ver quando é que alguém vai fazer o coco da Mônica Salmaso”, contou para mais risos do público, antes de cantar “Gírias do Norte” (Jacinto Silva e Onildo Almeida), num medley com “Coco sincopado”.

“Minha casa”, como o “Canto sedutor”, surgiu de exercícios durante a pandemia: lives, vídeos e duetos, o possível para o momento tenebroso atravessado pelo planeta e, particularmente, pelo Brasil, com o agravante político da época. Ao lembrar disso, alguém na plateia gritou “sem anistia!”. “Óbvio, sem anistia!”, respondeu a cantora, que nunca deixou de manifestar sua posição e preferência política.

Quando cantou “A violeira” (Tom Jobim e Chico Buarque), lembrou de como conheceu a música e tornou a fazer rir o público presente. “Eu era adolescente e achei a trilha do filme e uma parte dela foi composta por Tom e Chico. E eu canto desde adolescente. Vocês viram que a letra é quilométrica, mas eu nunca errei, embora eu só diga isso depois de cantar. Eu sei até que rola um bolão aí [entre os músicos] para saber quando eu vou errar, mas até aqui eu sigo invicta”, disse.

“Menina amanhã de manhã” (Tom Zé e Perna) foi o segundo bis com que deixou o palco (o primeiro foi a citada “Canto sedutor”). A felicidade desabou sobre os homens (e mulheres) antes mesmo que estes deixassem o teatro. Uns, tal qual este repórter, com a companheira e a mãe, sem um bloco de notas e tendo sacado o celular apenas para fazer as fotos que ilustram este texto, ainda enfrentaram a fila para colher autógrafo, fotos e abraços, com a vontade de fazer, de tão agradável, o cantor (sedutor) de Mônica Salmaso de “Minha casa”, nossa casa.

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Reveja a entrevista de Mônica Salmaso ao Balaio Cultural de ontem (6), na Rádio Timbira FM (95,5), com este repórter: