Baile do Parangolé será palco do lançamento de “Bloco Bonito”, de Joãozinho Ribeiro

Acima: Neto Peperi, Alysson Ribeiro, Andréa Frazão, Luiz Cláudio e Dan Nobre; abaixo: Paulinho Akomabu, Chico Saldanha, Joãozinho Ribeiro, Rosa Reis, Fátima Passarinho e Anna Cláudia, as vozes de "Bloco Bonito" - foto: divulgação
Acima: Neto Peperi, Alysson Ribeiro, Andréa Frazão, Luiz Cláudio e Dan Nobre; abaixo: Paulinho Akomabu, Chico Saldanha, Joãozinho Ribeiro, Rosa Reis, Fátima Passarinho e Anna Cláudia, as vozes de “Bloco Bonito” – foto: divulgação

O Baile do Parangolé chega à sua 14ª edição em 2025, celebrando os 46 anos de fundação da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH). O nome do baile toma emprestado o título de um conhecido coco do jornalista e compositor Cesar Teixeira, sócio da SMDH. O evento acontecerá na próxima quarta-feira (12), a partir das 19h, no Bar e Restaurante Pedra de Sal (esquina das ruas da Estrela e de Nazaré, Praia Grande). Os ingressos individuais custam R$ 40,00 e incluem abadá.

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, sócio da SMDH, lançará, na ocasião, o EP Bloco Bonito (faça aqui a pré-save), com quatro faixas em clima de folia e a participação especial de grandes nomes da música popular brasileira: Allysson Ribeiro, Andréa Frazão, Chico Saldanha, Neto Peperi, Paulinho Akomabu, Rosa Reis e Zeca Baleiro. As gravações aconteceram no Zabumba Records, sob a batuta do percussionista, compositor e produtor Luiz Cláudio.

Uma das faixas de destaque é “Algazarra no quartel”, interpretada por Alysson Ribeiro e Neto Peperi, uma crítica ácida e bem-humorada aos desmandos de um certo capitão que muito aprontou fora da caserna.

"Bloco Bonito" - capa/ reprodução
“Bloco Bonito” – capa/ reprodução

Segundo Joãozinho Ribeiro, o EP é uma homenagem ao cantor e compositor Tadeu de Obatalá (1964-2024), falecido ano passado, um dos fundadores do Bloco Afro Akomabu. A capa de Bloco Bonito, presente do amigo e parceiro Betto Pereira, cantor, compositor e artista visual, faz alusão à estética deste símbolo do carnaval maranhense surgido nas fileiras do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN).

Joãozinho Ribeiro, seus convidados especiais e os músicos que participaram da gravação de Bloco Bonito são as atrações do 14º. Baile do Parangolé, valorizando a música, a ancestralidade e os direitos humanos.

divulgação
divulgação

Com patrocínio do Instituto Cultural Vale, Oficina “Trilhas e Tons” volta a percorrer municípios maranhenses

[release]

Certificação em Codó, após oficina realizada no município em edição anterior do projeto - foto: divulgação
Certificação em Codó, após oficina realizada no município em edição anterior do projeto – foto: divulgação

A Oficina “Trilhas e Tons”, de teoria musical aplicada à música popular, após três anos, volta a percorrer municípios maranhenses levando formação prática a músicos e curiosos em geral.

Com patrocínio do Instituto Cultural Vale (ICV), através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e realização do Ministério da Cultura (MinC), a oficina é ministrada pelo cantor e compositor Nosly, com coordenação do músico Wilson Zara e assistência de Mauro Izzy, todos eles artistas reconhecidos na cena cultural maranhense.

Com carga horária de 20 horas-aula, distribuídas em cinco encontros ao longo de uma semana, a oficina percorrerá os municípios de Grajaú, Arari, Itapecuru-Mirim, Anajatuba e Pindaré-Mirim, oferecendo 30 vagas em cada um deles.

O projeto retoma uma estrada comprida, que vem sendo pavimentada por experiências de trocas, entre sua equipe e cada um/a que se inscreve para uma nova etapa. Já foram mais de 50 oficinas realizadas, com mais de 1.000 cursistas certificados.

“Estamos muito contentes em poder retomar este trabalho, de voltar a levar uma formação rápida, que estimula o fazer artístico e aprimora o trabalho de quem já tem algum envolvimento com este meio. São números que nos dão orgulho, porque a gente sabe das dificuldades para torná-los realidade. A gente não quer lamentar o tempo em que ficamos parados por motivos de força maior, mas somar mais empenho por mais alunos concluindo esta formação, porque a gente já percorreu uma estrada grande e bonita, mas ainda há muito por fazer”, projeta Nosly.

A cada município, encerrando as oficinas, Nosly, Wilson Zara e Mauro Izzy apresentarão um show, gratuito e aberto ao público em geral, com a participação de artistas locais e de cursistas que concluíram as atividades, num momento de comunhão e demonstração prática dos conhecimentos adquiridos.

A primeira oficina desta nova etapa acontecerá em Grajaú/MA, entre os dias 17 e 21 de março – o local de inscrições e realização da oficina serão divulgados em breve. As inscrições, oficinas e material didático são gratuitos.

divulgação
divulgação

Todos os lados de Emanuele Paz

Emanuele Paz em dois momentos de "Marco Zero" - fotos: Alan Rodrigues/ divulgação
Emanuele Paz em dois momentos de “Marco Zero” – fotos: Alan Rodrigues/ divulgação

Quem foi ontem (30) ao Teatro Sesc Napoleão Ewerton assistir ao show Marco Zero, de lançamento do EP homônimo de Emanuele Paz, presenciou, na verdade, dois espetáculos. Na primeira parte da noite, o lado A, o reggae side, trajando uma esvoaçante saia vermelha, a cantora e compositora apresentou o repertório do EP, cantando sobre bases da DJ Selekta Groove; na segunda parte, com um vestido branco curto (“eu estou vestida, tem um short aqui por baixo”, gracejou a certa altura), levou ao palco o Projeto Lado B, o lado forrozeiro, acompanhada por Memel Nogueira (sanfona), Hugo César (baixo) e Dudef Peixe (zabumba), além de tocar triângulo.

Sua energia no palco impressiona. Quando as cortinas se abrem, ela surge, levantando-se do chão, metáfora possível do desabrochar. Dança o show inteiro, sem desafinar. É uma artista jovem, mas já com pleno domínio do palco, consciente de seu lugar e papel: olha para frente sem esquecer as origens, o que demonstra desde a capa do EP, para a qual foi fotografada no bairro em que nasceu e vive. Simbólica também a presença da avó na plateia, saudada pela artista no palco. Gigante.

A ideia do Lado B surgiu quando Emanuele Paz percorria o circuito dos barzinhos, onde o público médio quer ouvir os hits de rádios mais populares, as músicas que estão nas trilhas das novelas e os artistas consagrados e já identificados com o ambiente da noite, os clássicos que quem canta da noite sabe de cor e salteado.

Assim, ela, cantando e tocando triângulo, apresentou releituras de nomes como Lucimar (“Como a moda”), Juliana Linhares (“Balanceiro”, dela com Khrystal Saraiva, Moyseis Marques e Sami Tarik), Fagner (“Lembrança de um beijo”, de Accioly Neto) e Mariana Aydar (“Onde está você”, de Zezum), entre outros.

Entre um e outro set, a participação especial do cantor e rapper Biodz, “o primeiro cara que me convidou para fazer uma love song”, disse. “Primeiro e único”, completou, para deleite da plateia. Juntos cantaram “I Need Ya Luv”, composição de ambos gravada em dueto idem.

Emanuele Paz estava em casa, super à vontade. Fez graça até quando pediu a alguma assistente ajustar um nó no cropped, que estava caindo. A plateia se divertia, prestava atenção nas mensagens de suas letras, aplaudia. Uns dançavam nos assentos, outros levantaram-se e se arriscaram no forró nos corredores laterais do teatro.

Emanuele Paz volta a se apresentar dia 15 de fevereiro (sábado), às 18h, no Pólo Nega Glícia (1976-2024) – homenageada pela artista no show de ontem –, que fica na Praça do Reggae (esquina das ruas da Estrela e de Nazaré, na Praia Grande), na programação de pré-carnaval do Governo do Maranhão. Na mesma data e palco, a partir das 14h, também se apresentam Negra Jane, Dread Sandro, Dennis Brown e Silvia, Regiane Araújo, DJ Chirley Roots, Rose Bombom, Sandra Marley e a banda Barba Branca.

“Sereia”, single de Bia Sabino em dueto com Marina do Mar, chega às plataformas 2 de fevereiro, dia de Iemanjá

[release]

Bia Sabino e Marina do Mar - foto: Maíra Kellermann/ divulgação
Bia Sabino e Marina do Mar – foto: Maíra Kellermann/ divulgação

Depois do independente “Ecos”, álbum de estreia lançado em 2018, a cantora e compositora carioca Bia Sabino lançou cinco singles, uma experiência comum a artistas da música, em tempos de plataformas digitais.

Artista plural, Bia Sabino vai além da música: dança, desenha e faz acrobacias para além das metáforas. Tem vivido e amado, e estas experimentações incrementam o cotidiano, ao qual se soma agora outra experiência transcendental: 2025 marcará também sua estreia na maternidade.

"Sereia", single - capa/ reprodução
“Sereia”, single – capa: Bia Sabino/ reprodução

No próximo dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, aterrissa nas plataformas de streaming mais um rebento musical, seu novo single, Sereia, de sua autoria, cantado em dueto com a potiguar Marina do Mar, gravado em home studio. Bia Sabino (voz, violão, asalato, percussão, instrumentos digitais, gravação, produção e arranjo) está acompanhada por Marina do Mar (voz) e Lucas Nelli (djembe).

Sereia foi soprada no meu ouvido. A praia sempre foi um lugar de reconexão com o meu coração, limpeza e renovação de energia. Para mim, o som do mar sempre foi percussivo e sua brisa sempre soprou melodias. Já ouvi muitas músicas do mar e em mais um dia ordinário de conexão mágica, Sereia surgiu inteira. Era de dia mas eu já estava vendo a lua nascendo no horizonte, sentindo uma energia forte ecoar no meu peito. O mar estava agitado no Leme, ondas fortes, bem como a minha vida também estava. Ao mesmo tempo, o calor fazia com que suas águas agitadas se tornassem acolhedoras. A areia brilhava como um grande espelho do céu e senti as águas me chamando. Pensei, será? O mar está forte e tem correnteza, tenho que ficar esperta. Nisso, minha mão começou a bater palmas e uma melodia simplesmente saiu da minha boca. “Se entrega pras ondas do mar, sereia,/ se entrega que o mar quer te encontrar””, cantarola trecho da letra. E continua: “A areia brilhante formava uma passarela, um caminho encantado para sentir a força das águas. Meu corpo balançou involuntariamente até a beira. Volta a cantarolar: “a vizinha do mar, a areia/ dá forma pra esse teu balançar/ o mistério das águas anseia/ e convida a sereia para nadar”. Eu senti um chamado, mas estava com medo das ondas grandes. Imediatamente com os pés nas águas senti uma proteção amorosa muito forte, como quem dizia “pode entrar, pode lavar tudo o que precisar, eu estou aqui com você”. O sol forte também me pediu pra mergulhar, “e num compasso de sol/ sereia mergulha no mar/ e dá as mãos pra Iemanjá”. Eu fui dançando e sendo envolvida por uma energia de força, celebração e maravilhamento. O mar, berço da vida, também estava sendo fonte do meu renascimento”.

Bia Sabino nos fala sobre o processo intuitivo de composição de Sereia, uma espécie de parto com um toque de magia. Mas quem a conhece sabe que, mais que sobre uma música, ela fala sobre seu modus operandi criativo. Ela morou um tempo em Fernando de Noronha/PE e relembra os passos seguintes, o tempo de maturação desde que baixou a Sereia, um exercício de aprendizado e autoconhecimento.

“Sempre quis gravar essa música e, no tempo em que vivi em Noronha, me conectei muito com o arquétipo da sereia. A sereia te leva para o fundo do mar e te ensina a dissolver o seu ego. No fundo do mar existe outro universo. O canto da sereia encanta e te leva para o mistério. É preciso ter coragem para encarar o desconhecido, as ondas grandes, e mergulhar fundo, rumo a um novo eu. Foi nessa época que conheci Marina, outra sereia cantante, e logo começamos a entoar essa músicas juntas”, conta.

Tudo tem seu tempo e Bia Sabino confia nos processos, no destino. “Mesmo assim ainda não havia chegado a hora de gravar Sereia. Anos depois, fui abençoada com uma gestação. As águas da minha vida se agitaram novamente e Sereia começou a ecoar na minha cabeça. O mar é o berço da vida e Iemanjá é conhecida como a Mãe das águas. A grande mãe sereia, rainha do mar, presente em tantas tradições e com tantos nomes diferentes. Iemanjá é símbolo de vida, amor, proteção,  fertilidade, força. Ela protege quem entra e vive no mar. Como grande mãe ela protege seus filhos, protege as gestações. Sereia é uma celebração à liberdade feminina, a essa conexão ancestral com o mar e a profundidade das emoções. A sereia abraça sua essência, suas águas internas e sua força transformadora. Gestar é mergulhar nas águas misteriosas e poderosas do feminino, sem amarras, sem limites. A sereia é aquela que canta e dança ao som das águas, vivendo sua verdade sem medo e abraçando o mistério das profundezas. Hoje, mais sereia do que nunca, senti que era o momento de gravar e convidei Marina para mergulhar comigo no lançamento dessa música, que é uma homenagem ao poder feminino, à beleza da ancestralidade e ao rito de celebração da vida e da liberdade”, afirma.

A escolha não poderia ter sido mais apropriada. A cantora e compositora Marina do Mar, paulista radicada em Fernando de Noronha, é outra artista plural, que busca, entre a música, a dança, a fotografia e os mergulhos, aproximar as pessoas do oceano, fazendo-as perder o medo das ondas e do profundo. Somente alguém assim poderia mergulhar sem temer na nova criação de Bia Sabino. Atleta de bodysurf e apneia, suas músicas trazem estes temas à tona. Seu nome significa “aquela que vem do mar”, não à toa título do álbum cujos singles ela vem disponibilizando nas plataformas, onde estará completo até abril.

Ela relembra o encontro com Bia Sabino: “Conheci a Bia em Noronha, há cinco anos, quando iniciava minha vida aqui na ilha. De imediato a gente se conectou, com conversas cheias de profundezas, insights e irmandade. Nossa conexão com a natureza nos uniu e a harmonia das nossas vozes fez com que tudo fluísse com ainda mais potência. Nossa amizade é um lugar de acolhimento, respeito e muita admiração mútua. Sou extremamente grata à vida por ter trazido uma irmã-espelho com quem eu compartilho os pedacinhos mais verdadeiros da minha essência. Fiquei muito honrada com o convite para gravar Sereia, porque é uma música que resume muito do que a gente acredita: um retrato do poder feminino das mulheres conectadas ao mar”, revela.

Conexão e amizade ganharam um atestado de autenticidade com a gravação. O single Sereia (Bia Sabino), com Bia Sabino e Marina do Mar, chega às plataformas digitais no próximo dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá – faça aqui a pré-save. No próximo dia 12 de fevereiro será lançado o videoclipe da música, registrando o encontro das artistas em Fernando de Noronha. Ouça no volume máximo, dance e mergulhe fundo!

Ceumar e seus companheiros em comunhão com a plateia

Webster Santos, Luiz Cláudio, Josias Sobrinho e Ceumar, ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo - foto: Zema Ribeiro
Webster Santos, Luiz Cláudio, Josias Sobrinho e Ceumar, ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo – foto: Zema Ribeiro

O primeiro dos dois shows que Ceumar traz à São Luís na circulação com que celebra seus 35 anos de música, realizado ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo (o segundo é hoje, 26, às 18h) foi uma demonstração de que a música é uma profissão de fé, capaz de promover uma verdadeira comunhão entre os artistas no palco e a plateia.

Nesta havia de fãs de carteirinha a gente que ouvia Ceumar ou ia ao Arthur Azevedo pela primeira vez – caso da própria artista, que visita São Luís desde 2000, quando realizou por aqui show no saudoso Canto do Tonico, do álbum Dindinha, sua estreia, lançado no ano anterior. Já havia passado pelo Teatro João do Vale, pelo antigo Armazém, pela Ponta do Bonfim, entre outros.

Não à toa ela falou, no bate-papo com os interessados, após a apresentação, sobre os espíritos da arte, aludindo às muitas histórias que comporta um teatro secular como o Arthur Azevedo, merecidamente tido como um templo sagrado das artes. Ladeada por Webster Santos, que se revezou entre violões, bandolim e vocais, ao longo do show, ela lembrou também da importância de políticas públicas de cultura, como a bolsa Pixinguinha de Música, da Funarte, que permite momentos como este, com entrada franca.

Ceumar sobe ao palco descalça, “para se conectar melhor com a terra”, e começa pelas origens, com “Canção de Itanhandu” (Henrique Beltrão) e “Mãe” (Ceumar), para não esquecer e nos lembrar de onde vem. Vai ilustrando o show com memórias de acontecimentos marcantes de sua trajetória, alguns deles aprofundados durante a conversa posterior.

Os 35 anos ela conta não da estreia fonográfica, mas de quando se muda para Belo Horizonte e começa a ralar na noite. É nessa altura que conhece Zeca Baleiro, produtor de seu álbum de estreia, que lhe apresentou Webster Santos, o percussionista Luiz Cláudio (cujo pandeirão com vassourinhas é uma marca da sonoridade de Dindinha) e o cantor e compositor Josias Sobrinho, os convidados dos shows em São Luís.

Vai chamando um a um. Quando Webster entra, ouve-se ao longe o batuque de um bloco carnavalesco. Ele brinca: “eu sou baiano, combinei isso com eles”. O bom humor é uma das marcas da apresentação e da conversa.

Com os três no palco, um momento para celebrar Dindinha, desde à faixa-título, passando às composições de Josias gravadas por ela em sua estreia: o lelê “Rosa Maria”, com direito a dança dela e do autor, e a toada “As ‘perigosa’”, transformada numa balada em sua gravação.

Tal qual sua própria discografia, ao longo do show é difícil falar em ponto alto: Ceumar embevece a plateia sozinha, acompanhada e mesmo quando se projeta até a beira do palco e canta (e se faz acompanhar pelo público: “vocês lembram?”) à capela (e a gente canta junto o “Samba da utopia”, de Jonathan Silva).

Ceumar passeia pelo repertório de seus álbuns sempre ilustrando as canções com histórias. Por exemplo, “Achou!”, que deu título a seu álbum dividido com o violonista e compositor Dante Ozzetti. Ela ganhou a música dele e Luiz Tatit para participar de um festival da TV Cultura em que ficou com o segundo lugar.

Não faltaram “O seu olhar” (Arnaldo Antunes e Paulo Tatit), “Lá” (Péri), “Alguém total” (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), “Cantiga” (Zeca Baleiro), “Boi de haxixe” (Zeca Baleiro), “Galope rasante” (Zé Ramalho), “Encantos de sereia” (Osvaldo Borgez) e “Silencia” (Ceumar), entre outras. E ela ainda leu alguns poemas de Ainda (Mórula, 2024), primeiro livro póstumo do poeta Celso Borges (1959-2023). Quando deixou o palco, após cerca de duas horas de show, e anunciou a conversa com o público, este pediu bis. Ela voltou acompanhada dos convidados e caíram no canto e dança em “Engenho de flores” (Josias Sobrinho).

Hoje tem mais. Não sei se é o mesmo show (nunca é!) na íntegra ou se há modificações no repertório e agora me pego em dúvida se o “mais um” gritado pela plateia era a saideira cantada ontem ou o bis de hoje, um show inteiro. “Olha pro céu”, como o Luiz Gonzaga (parceria com José Fernandes) que ela gravou na estreia (mas não cantou ontem), que até São Pedro colaborou ontem e não é por qualquer coisa que se perde show de Ceumar. Ainda mais de graça. Obrigado por mais uma chance! Depois não digam que eu não avisei.

O reencontro de Ceumar com os maranhenses

A cantora e compositora Ceumar - foto: Isabelle Novaes/ divulgação
A cantora e compositora Ceumar – foto: Isabelle Novaes/ divulgação

Os caminhos da cantora e compositora Ceumar se cruzam com os de Webster Santos, Luiz Cláudio e Josias Sobrinho desde Dindinha (Atração, 1999), disco de estreia da mineira – o primeiro tocou cavaquinho, violão e bandolim em faixas do álbum; o segundo, percussão; e do terceiro ela gravou “As ‘perigosa’” e “Rosa Maria”.

Produzido pelo maranhense Zeca Baleiro – autor de “Cantiga”, “Boi de haxixe” e “Pecadinhos”, além da faixa-título –, foi seu nome e o de Josias, entre os autores, na contracapa, o que primeiro me chamou a atenção (depois da própria capa, é lógico) naquele álbum.

A história é por demais conhecida e eu mesmo já contei noutras ocasiões: lá pelo começo dos anos 2000, quando ainda existiam lojas de discos, eu saí do trabalho rumo à parada de ônibus e encostei em uma das que havia na Rua de Santana, no Centro de São Luís. Não conhecia Ceumar, mas não titubeei: saí dali com o cd em mãos e ao chegar em casa, botei para ouvir e não parei mais.

Paixão à primeira vista, paixão à primeira audição – reafirmada a cada álbum seu: Sempre Viva (Elo Music, 2003), Achou! (2006, com Dante Ozzetti), Meu Nome (Circus, 2009), Live In Amsterdam (2010), Silencia (Circus, 2014), Viola Perfumosa (Circus, 2018, com Lui Coimbra e Paulo Freire) e Espiral (Circus, 2019).

São Luís será testemunha de seu reencontro com os citados no início deste texto. Ceumar se apresenta hoje (25, às 19h) e amanhã (26, às 18h), no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), com entrada franca. As apresentações integram circulação com que a artista celebra seus 35 anos de música – contados não de sua estreia fonográfica, mas de quando começou a atuar na noite, vinda de sua Itanhandu natal para a capital mineira.

A circulação foi contemplada pelo edital Pixinguinha da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e, com ela, Ceumar chega ainda a Belém/PA e Belo Horizonte/MG. Quando do início das celebrações, este repórter conversou com Ceumar para o FAROFAFÁ. Releia a entrevista aqui.

divulgação
divulgação

Serviço: show “Ceumar – 35 Anos de Música”. Hoje (25), às 19h, e amanhã (26), às 18h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro). Ingressos gratuitos – devem ser retirados na bilheteria do teatro, a partir de três horas antes do início do espetáculo.

Obituário: Dona Teté (1931-2024)

Dom Xavier Gilles e Dona Teté, em junho de 2012, por ocasião das celebrações de 50 anos de ordenação sacerdotal do bispo emérito de Viana/MA – foto: Zema Ribeiro

Na família e entre amigos mais próximos, a coisa ganhou ares de piada: sua admiração e profundo respeito por padres a fazia estender tapetes vermelhos imaginários e tratá-los com honras de chefes de Estado, com todas as regalias possíveis.

Brincadeiras à parte, esta era mais uma forma com que Etelvina do Rosário Martins (5/10/1931-31/12/2024) demonstrava sua devoção às coisas sagradas.

“Conheci Dona Teté no ano de 2004 durante a preparação para a minha ordenação presbiteral. De imediato percebi o quanto ela gostava dos padres, pois falava com uma empolgação e um brilho nos olhos, com muita leveza e carinho”, como anota o Padre Orlando Ramos na orelha de “Teté: Uma história de fé e vida” (2021, 108 p.), livro organizado e publicado pela família, por ocasião de seus 90 anos, mais que a simples biografia da homenageada, um trabalho que passa pela formação da Vila Passos, incluindo a construção da Igreja de Nossa Senhora das Graças, que integra a Paróquia São José e São Pantaleão.

Fui casado com sua neta Graziela e a primeira vez que ouvi seu nome achei estranho e até hoje me pego rindo de minha ignorância: achei que sua avó fosse a Dona Teté do Cacuriá (1924-2011). Desfeito o equívoco, foi o período de que mais estive próximo da Igreja Católica, uma demonstração da força de seu exemplo, freireano na prática. Dona Teté foi, aliás, a primeira professora de ensino religioso do município de São Luís.

“O Regional NE 5 da CNBB [a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil] não pode falar de sua catequese da metade do século XX para cá sem citar Etelvina do Rosário”, afirma o Padre João Pedro de J. R. Fonseca na outra orelha do citado livro, destacando a importância de sua atuação.

Liderança religiosa e comunitária, Dona Teté também foi fundadora (e presidente por alguns mandatos) do Centro Comunitário, Cultural e Eclesial da Vila Passos (CCEVP), idealizado como um espaço para avançar nas atividades pastorais e sociais junto aos moradores do bairro, tendo se inserido na Rede Amiga da Criança, articulação de mais de 30 entidades de defesa dos direitos de crianças a adolescentes em São Luís.

Viúva aos 33, após 10 anos de casada, na leitura da Bíblia encontrou sua própria ressurreição: dali tirou forças para criar as duas filhas – Clara de Fátima e Joana Darc. Superado o momento difícil, Teté, que possuía apenas o ensino fundamental incompleto, encontra na educação o seu caminho. Mãe, estudante, trabalhadora, leiga e catequista: acumulando todas essas funções, conclui sua formação, incluindo uma licenciatura aos quase 50 de idade, dando mais um exemplo de força e determinação.

As filhas seguiram os passos e são também professoras, a educação muito além da sala de aula, pelo exemplo. A família cresceu, com a chegada de netas e bisnetos (entre os quais meu filho José Antonio). Cercada de amor e admiração, Dona Teté faleceu nesta madrugada (31), aos 93 anos, em decorrência de complicações de uma pneumonia. Que seu exemplo de força e fé ilumine familiares e amigos neste momento de perda e dor. E que seu legado continue a ser luz no caminho de todos os que tivemos a oportunidade enriquecedora de seu convívio.

Dias de Simcom e Sibita

Com Yara Medeiros, Alexandre Maciel e Helena Dias
Com Yara Medeiros, Alexandre Maciel e Helena Dias
Durante a roda de conversa
Durante a roda de conversa
Com Inácio França, na mesa de abertura
Com Inácio França, na mesa de abertura
Trocando ideias com Seu Francisco e Radassa
Trocando ideias com Seu Francisco e Radassa

TEXTO: ZEMA RIBEIRO
FOTOS: ROSANA BARROS

A não ser diante de uma impossibilidade real e incontornável, nunca me nego a conversar com estudantes de jornalismo. Por isso disse sim ao convite recebido do Simpósio de Comunicação da Região Tocantina, que este ano chegou à maioridade.

Com as credenciais da Rádio Timbira FM e Farofafá, dividi a mesa de abertura do evento, “Desafios da produção de conteúdo no jornalismo cultural e independente”, na noite do último dia 11 de dezembro, com os colegas Inácio França (Marco Zero Conteúdo) e Helena Dias (Brasil de Fato Pernambuco).

Falamos para um auditório com bom público, formado por estudantes, professores, profissionais e curiosos em geral. O clima era o melhor possível. Todos saímos impressionados com o evento: grande, organizado, simpático e acolhedor. E se atribuo tais adjetivos ao Simcom, este os deve a todas as pessoas envolvidas com sua produção e organização, a quem saúdo através do casal Alexandre Maciel e Yara Medeiros, professores do curso, sul-mato-grossenses que adotaram o Maranhão como casa e logo se tornaram amigos de infância (não foram os únicos).

Marcus Túlio, Duda, Gustavo, cada professor/a ou aluno/a que travou contato comigo desde o convite, foi sempre super gentil, educado/a, atencioso/a, simpático/a, o que não deve ser tarefa fácil, dada a magnitude do evento. Senti-me em casa, o tempo inteiro, da efígie grafitada (não consegui identificar a autoria, mas terei o maior prazer em editar este texto dando o devido crédito) do professor Sérgio Ferretti (1937-2018), logo na entrada do campus às indicações e companhias para almoços e jantares.

Foram dois dias de muitas trocas e aprendizados. De gaiato, assisti à oficina ministrada por Inácio França, sobre produção de conteúdo para a internet, em que ele trouxe sua experiência de fundador da Marco Zero, reforçando a importância de um jornalismo independente, que pode ser feito em qualquer lugar, com o barateamento dos custos proporcionado pelas novas tecnologias – não há mais as despesas com distribuição, por exemplo, como à época dos jornais impressos, quando começamos.

Na turma, num exercício prático de troca de histórias, que seriam ouvidas e contadas por seu interlocutor, conheci a surpreendente e bonita história de seu Francisco, vítima de paralisia infantil que hoje cursa o quarto período de Jornalismo, e Radassa, que se divide entre a família e os cuidados com o amigo que conheceu no ensino médio – enquanto ela, mais jovem, não se decide pelo curso que irá fazer, já assiste algumas disciplinas de Comunicação como ouvinte, acompanhando o amigo.

A mesa de abertura, mediada por Alexandre, foi bastante participativa. O bloco final de perguntas juntou não sei quantas delas e havia disposição dos que ali estavam para mais, o que demonstra a relevância dos temas propostos. Um desafio comum apontado por nós três é a questão do dinheiro: fontes de financiamento, o custo de se fazer um jornalismo sério, responsável, comprometido com a informação de qualidade e correta. Outros foram servidos pela plateia, entre o desafio e a oportunidade: inteligência artificial, redes sociais, a pauta cultural e sua relação com outras editorias, entre outros.

Otimista incorrigível, banquei o pessimista, ainda que este não supere àquele, em mim. Além da grana, ou melhor, da falta dela, a algoritmização da vida é um desafio, porque sabemos que os algoritmos servem a uma monocultura e o papel do jornalismo como um todo, e particularmente o cultural, é justamente promover a diversidade. Nesse sentido, o jornalismo cultural tem, hoje, um papel curatorial.

Além de fazer amigos, foi também a oportunidade de conhecer pessoalmente gente que eu só conhecia das redes sociais (Dhara Inácio e Rosiane Stefane) e de revê-los: casos dos fotógrafos Daniel Sena e Rosana Barros, dos professores Letícia Cardoso (com quem me encontrei já no aeroporto, para pegar o voo de ida), Ricardo Alvarenga e Marcos Fábio (que ministrou disciplinas de redação em minha graduação), da poeta Lília Diniz, que aqueceu o público com sua apresentação de poesia e coco antecedendo a mesa, e do cantor e compositor Erasmo Dibell, que se apresentou (com o também talentoso Washington Brasil) na tarde do Publisimcom, o evento (dentro do evento) de publicações de livros. Trouxe na bagagem o “Curacanga”, de João Marcos – na graduação, ele me entrevistou para um trabalho acadêmico; hoje aluno do Mestrado, ele pesquisa livros-reportagens, com foco nos trabalhos da jornalista Andréa Oliveira sobre João do Vale (1934-1996) e o bumba meu boi. Instiguei-o a lançar o novo livro em São Luís, ano que vem.

E mesmo as amigas que não revi, era possível sentir sua presença. De certo modo e à distância, acompanhei as graduações de Mariana Castro e Lanna Luiza. Da primeira, ao mencionar seu nome, ouvi um elogioso “ela é babado!” de uma estudante; da segunda, a quem devo o contato e o convite recebido, lembrei-me imediatamente de suas aventuras com o Zine Sibita, que, sagitariano como eu (se não fosse, tornou-se), neste dezembro completou 10 anos, com direito a uma sala, bolo e parabéns, e, ao mesmo tempo que voltava a ser editado em corte-e-cola, já era também site e tv no youtube (para onde cheguei a ser entrevistado por ocasião desta passagem que aqui relato brevemente). Na bagagem trouxe uma ecobag (e ganhei o avatar da Idayane Ferreira, quem me segue nas redes sociais verá) desta importante iniciativa que este ano ganhou o prêmio de melhor Design de Imprensa na Expocom Nordeste, em Natal/RN.

Uma das perguntas desta entrevista eram as três principais razões pelas quais fazer ou continuar fazendo jornalismo: paixão/tesão (gostar do e viver o que se faz é importante), compromisso (com a informação de qualidade e com quem lê/ou/vê) e teimosia (fazer jornalismo apesar de tudo).

Foi animador ver o envolvimento de professores/as e alunos/as, empenhados para que tudo desse certo. Mesmo não ficando o evento inteiro, por força de compromissos outros, foi gratificante constatar que tal grau de engajamento atingiu seus objetivos: deu tudo certo. Fiquei feliz de vi/ver tudo o que vi/vi e espero voltar em breve. Vida longa ao Simcom!

De assados, pudins e fama

A generosa fatia de pudim servida na Pousada Cristo Rei - foto: Zema Ribeiro
A generosa fatia de pudim servida na Pousada Cristo Rei – foto: Zema Ribeiro

Certa vez perguntei ao compositor e jornalista Cesar Teixeira sobre fama. “Fama é o feirante te chamar pelo nome”, respondeu com a sinceridade e modéstia que lhe são peculiares.

Por dever de ofício lido com famosos, com o constante exercício de não me deixar isso subir à cabeça (eles são famosos, eu não). Mas hoje tive meu dia de VIP.

Entrei para almoçar, já tarde, num restaurante que frequento há mais de 20 anos. Meu prato predileto já havia acabado. Pedi uma bisteca frita, ditei os devidos acompanhamentos e sentei-me a esperar, enquanto esposa e enteada, após também fazerem seus pedidos, aproveitaram o mormaço ludovicense para visitar uma loja de variedades quase vizinha.

A comida chegou, avisei-as por mensagem, enquanto a garçonete servia. Já estava traçando a bisteca quando Dos Anjos – o sobrenome uma redundância: ela é o próprio anjo, com mãos de fada – adentra o salão com mais uma cumbuca, deposita sobre minha mesa e diz: “come este assado, que eu sei que tu veio procurar por ele”.

A porção de assado com molho não serviria uma refeição, mas ela não só sabe e lembrou de minha predileção como me garantiu o prazer gastronômico. Pança cheia, já me dava por satisfeito, levanto para ir ao banheiro e ouço a pergunta dela: “vai querer pudim?”. “Ouvi dizer que não tem”, respondi e fui desmentido. E haja pudim de sobremesa.

Dona Ana está viajando, ela me informou quando perguntei pela proprietária da Pousada Cristo Rei, que segue em boas mãos durante o passeio e descanso da chefa. Seu assado de panela e pudim de leite estão entre os melhores do mundo.

Como já disse Xico Sá: uma das maiores alegrias de um homem é chegar a um bar ou restaurante e ser saudado pelo garçom com um “o de sempre, doutor?”.

Os compromissos da tarde me chamavam, se não era capaz de eu ter ido sentar no sofá para ver o telejornal e talvez ainda estar lá, cochilando até agora, essa crônica esperando por ser escrita.

A quem interessar possa: a Pousada Cristo Rei fica na Rua das Crioulas, Centro (entre Santana e Domingos Barbosa).

O irrepreensível “Bolero de Célia” faz jus a bis

Célia Maria e o Regional Seis Por Meia Dúzia, ontem (29), no Miolo - foto: Guta Amabile
Célia Maria e o Regional Seis Por Meia Dúzia, ontem (29), no Miolo – foto: Guta Amabile

Não é possível chamar de outra coisa diferente de testemunhas privilegiadas a plateia do show “Bolero de Célia”, apresentado ontem (29), no Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, 100, Calhau). A cantora Célia Maria e o Regional Seis Por Meia Dúzia (que toma o nome emprestado de um choro de Luís Barcelos) proporcionaram ao ótimo público presente – todos os ingressos foram vendidos antecipadamente – uma noite de êxtase.

Tudo estava em seu devido lugar: Célia Maria em plena forma vocal, com seu bom humor característico, o grupo que a acompanhou, formado especialmente para a ocasião – Rui Mário (sanfona, arranjos e direção musical), Mano Lopes (violão sete cordas), Wendell de La Salles (bandolim), Gustavo Belan (cavaquinho), Gabriela Flor (percussão) e Chico Neis (violão sete cordas) –, a serviço do canto da estrela da noite, os convidados especiais Claudio Lima e Dicy, a escolha do repertório, o cenário (de Rivânio Almeida Santos), a impecável produção da RicoChoro Produções (leia-se os incansáveis Ricarte Almeida Santos e Danielle Assunção). Como disse e ouvi de alguns, ao fim da apresentação: nem uma microfoniazinha de nada para a gente ter alguma coisa do que reclamar.

“Sete ladrões que a polícia não prende”, me sopraram os amigos Targino e Neto – a eles e Maysa Pestana ofereço este texto –, ambos se valendo do jargão muito usado no meio musical: ladrão aqui é elogio, aquele que é muito bom, aquele que sabe tudo.

Célia Maria desfilou um repertório de sua intimidade – começou por “Ciúme”, de Antonio Vieira (1920-2009) –, passeando por seu álbum (o homônimo Célia Maria, de 2001) e seu EP (Canções e Paixões, de 2022), até aqui seus únicos registros fonográficos – pouco, para uma cantora de sua envergadura –, e clássicos da música brasileira, mas fez bonito também ao aventurar-se por novidades, como para ela era o caso de “Chorinho de Herança”, parceria de Chico Nô e Ricarte Almeida Santos que ela cantava pela primeira vez – a letra estava à sua frente, na estante, mas ela só consultou-a aqui e acolá, não cantou lendo.

O sexteto formado para acompanhá-la mescla maranhenses e adotados – Chico e Gabi são catarinenses, Belan é mineiro, Wendell potiguar – e friso suas origens tão somente para dizer do afeto recíproco deles pela terra que escolheram para viver e fazer música e esta não se aprende apenas no colégio, como já ensinava Noel Rosa (1910-1937): não é raro vê-los bebendo na fonte, em noites de São João ou qualquer experiência que vá tornar-lhes íntimos das polirritmias do bumba meu boi ou do tambor de crioula e da obra de Cesar Teixeira (para citar outro maranhense presente ao repertório de ontem) e outros mestres da música popular brasileira produzida aqui.

Ainda sobre o grupo, todos músicos extraordinários e referências em seus respectivos instrumentos, tocando sem exageros ou firulas, a serviço de emoldurar o canto de Célia Maria, não à toa alcunhada a voz de ouro do Maranhão – no que torna a martelar o juízo a pergunta retórica sobre o porquê de, a despeito de tanto talento, ser ainda menos conhecida e reconhecida do que merece e, apesar de ter circulado pelo eixo Rio-São Paulo em início de carreira e convivido com grandes nomes, nunca ter sido alçada ao sucesso nacional.

Mas a noite não era de lamentos e logo no começo do show ela contou orgulhosa que tinha ganhado de presente de Zeca Baleiro a música que dá nome ao show. Após o clássico “Manhã de Carnaval” (Luiz Bonfá e Antonio Maria), chamou Claudio Lima, primeiro convidado, ao palco. Juntos, cantaram “Lápis de Cor” (Cesar Teixeira); depois, ela perguntou se ele não gostaria de sentar-se para fazer “Loucura”, referindo-se ao clássico de Lupicínio Rodrigues (1914-1974), que ele cantaria sozinho na sequência. “Não, obrigado, eu gosto de fazer “Loucura” em pé”, respondeu, num alívio cômico que fez toda a plateia gargalhar.

Com minha esposa Guta Amabile, sentado à mesa do amigo Paulo Gilmar, também acompanhado de sua Marta, troquei com ele várias das impressões que trago para o presente texto. A meu lado, em outra mesa, um turista, deduzo, filmava, aplaudia, perguntava o título ou a autoria de determinada música, o que ia respondendo dentro das possibilidades de minha memória.

Em plena forma vocal, Célia Maria precisava de ajuda para levantar-se, mas ainda arriscou-se a uns passos de dança, já uma marca de suas apresentações, por exemplo em “A Pedra Rolou” (Antonio Vieira). “Eu estou com um problema no joelho”, desculpou-se com a plateia – mas dançou e inspirou alguns a também se jogar na pista.

Quando chegou a vez de Dicy também não faltou bom humor. Juntas cantaram – e botaram a plateia para cantar junto, pelo menos o refrão, “Só Pra Chatear” (Príncipe Pretinho), sucesso de Roberto Ribeiro (1940-1996).  Quando Dicy foi defender sozinha “Obrigado” (Eduardo Gudin), pediu uma cadeira, no que Célia mandou: “tu também tá com problema no joelho, minha filha?”, para gargalhada geral do público. “Não, é só para eu cantar mais perto dessa diva”. A admiração era mútua e Célia Maria agradeceu a oportunidade de conhecer Dicy.

Após clássicos como “Modinha” (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), “Azulão” (Jayme Ovalle e Manuel Bandeira), “O Morro Não Tem Vez” (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e “Chuvas de Verão” (Fernando Lobo), entre outras, Célia Maria ainda voltou a dançar em “Balança Pema” (Jorge Benjor), outra marca de suas apresentações.

Anunciado o fim do show, aos gritos de “mais um” da plateia, ela mandou ver “O Samba é Bom” (Antonio Vieira) e talvez aí finalmente a gente tenha achado algo para criticar no show. Mas no fundo sabemos que não seria justo reclamar de sua duração, também na medida. Então iniciamos ali mesmo o coro por um bis de “Bolero de Célia”, o show. Ou que a produção, nos moldes do saudoso Clube do Choro Recebe, com outros artistas e grupos, inscreva o acontecimento como um evento regular no calendário cultural da capital maranhense. A conferir. Expectativas foram criadas.

Célia Maria apresenta seu Bolero no Miolo, nesta sexta (29)

[release]

A cantora Célia Maria - foto: Zeqroz Neto/ divulgação
A cantora Célia Maria – foto: Zeqroz Neto/ divulgação

A cantora Célia Maria adotou seu nome artístico para fugir da vigilância dos pais e conseguir cantar (escondida) em programas de auditório em rádios maranhenses. Nos anos 1960 circulou pelo eixo Rio-São Paulo e conviveu com figuras como Cartola (1908-1980), Nelson Cavaquinho (1911-1986), Zé Keti (1921-1999) e o conterrâneo João do Vale (1934-1996).

Considerada a voz de ouro da música do Maranhão, Célia Maria só viria a gravar um álbum, o homônimo Célia Maria, em 2001, com arranjos de Ubiratan Sousa, incluindo o choro “Milhões de Uns”, de Joãozinho Ribeiro, que angariou troféu no Prêmio Universidade FM daquele ano. Nada disso, no entanto, foi capaz de dar a ela o merecido reconhecimento: trata-se de uma das maiores cantoras brasileiras em qualquer tempo.

Só voltaria a gravar em 2022, por iniciativa de admiradores: lançou o EP Canções e Paixões (ouça acima), cujo repertório traz, entre outras, o “Bolero de Célia”, que Zeca Baleiro compôs especialmente para sua interpretação. É a música do conterrâneo que dá título ao show que a artista apresenta nesta sexta-feira (29), às 21h, no Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau).

Na apresentação, Célia Maria será acompanhada do Regional Seis Por Meia Dúzia (nome tomado emprestado de um choro de Luis Barcelos), que está longe de ser qualquer coisa ou mais ou menos, formado especialmente para a ocasião: Rui Mário (sanfona e direção musical), Wendell de La Salles (bandolim), Gustavo Belan (cavaquinho), Gabriela Flor (pandeiro), Chico Neis (violão) e Mano Lopes (violão sete cordas).

A noite contará ainda com as luxuosas participações especiais de Claudio Lima e Dicy. Os ingressos já estão esgotados. No repertório, além de canções de Célia Maria e Canções e Paixões, a que comparecem nomes como Antonio Maria (1921-1964), Antonio Vieira (1920-2009), Cesar Teixeira, Chico Buarque, Edu Lobo, Chico Maranhão e Luiz Bonfá (1922-2001), entre outros, além de um passeio por clássicos da música popular brasileira, com destaque para boleros, choros e sambas-canções.

“Bolero de Célia”, o show, tem produção de RicoChoro Produções e apoio cultural de Maxx, Potiguar, Gênesis Educacional, Bira do Pindaré, Pró Áudio e Turê.

divulgação
divulgação

Serviço

O quê: show “Bolero de Célia”
Quem: Célia Maria e Regional Seis Por Meia Dúzia. Participações especiais de Claudio Lima e Dicy
Onde: Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau)
Quando: dia 29 (sexta-feira), às 21h
Quanto: ingressos esgotados
Produção: RicoChoro Produções
Apoio cultural: Maxx, Potiguar, Gênesis Educacional, Bira do Pindaré, Pró Áudio e Turê

“Você me abre seus braços/ E a gente faz um país”: as lições de Antonio Cicero (1945-2024)

O filósofo e poeta Antonio Cicero - foto: ABL/ divulgação
O filósofo e poeta Antonio Cicero – foto: ABL/ divulgação

A profusão de homenagens ao poeta, letrista e filósofo Antonio Cicero (1945-2024) é mais que merecida: qualquer brasileiro/a cantarola várias de suas letras, não raro sem saber que ele é o autor.

Antonio Cicero saiu de cena por vontade própria: recorreu ao suicídio assistido (eutanásia), ontem (23), na Suíça, onde a prática é legalizada. Para além de debates no campo religioso (reafirmou seu ateísmo na carta de despedida), optou por uma morte digna quando acreditou que o mal de Alzheimer já não lhe garantia uma vida idem.

Consciente até o fim, talvez seu gesto tenha tido uma intenção política. Mesmo que não, a discussão que se poderia/deveria abrir é justamente essa: o direito a uma morte digna quando a vida já não o é – ou quando assim for considerada.

Demoro a processar certas mortes. Antonio Cicero era imortal – da Academia Brasileira de Letras (ABL) – e parecia mesmo eterno, o que se comprovará ao continuarmos assobiando seu legado vivo.

A finitude também foi tema de suas criações, como por exemplo em “O Meu Sim” (parceria com a irmã Marina Lima, que a gravou): “quem sabe o fim não seja nada/ e a estrada seja tudo”.

Não faltaram, nas citadas homenagens, a escolha de letras de música e poemas prediletos, um exercício difícil, dado o volume e a qualidade da obra de um de nossos grandes criadores.

“Inverno” (parceria com Adriana Calcanhotto), “Holofotes” (com João Bosco e Waly Salomão), “O Circo” (com Orlando Moraes), “Maresia” (com Paulo Machado), “Dono do Pedaço” (com Gilberto Gil e Waly Salomão), “Os Ilhéus” (com José Miguel Wisnik), “O Último Romântico” (com Lulu Santos e Sérgio Souza), “À Francesa” (com Cláudio Zoli), “Acende o Crepúsculo”, “Fogo e Risco”, “Bobagens, Meu Filho, Bobagens”, “Pra Começar”, “Fullgás”  “Virgem” (com Marina Lima), nas vozes, respectivamente, de Adriana Calcanhotto, João Bosco, Maria Bethânia, Zeca Baleiro, Gilberto Gil, José Miguel Wisnik, Lulu Santos, Gal Costa, Ney Matogrosso e Caetano Veloso, além da própria Marina Lima, parceira primeira e maior, são alguns (poucos e) ótimos exemplos, entre tantos possíveis.

Não “guardei” o motivo pelo qual desperdicei a única chance que tive de conhecer Antonio Cicero pessoalmente: ele era uma das atrações da IX Feira do Livro de São Luís (2015), mesma edição que trouxe Marcelo Yuka (1965-2019) – que também não conheci –, sob curadoria do poeta Fernando Abreu, seu admirador confesso.

Festa beneficente, Guará Vibes acontece hoje, no Laborarte, com grande elenco

divulgação
divulgação

Há cerca de 10 anos, pais e mães fundaram a Associação Educacional e Sociocultural Guará Mirim, mantenedora do jardim de infância homônimo (que este ano inaugurou sua primeira turma do ensino fundamental), que promove a educação baseada na pedagogia Waldorf, baseada na filosofia da educação do austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), fundador da antroposofia.

O objetivo da citada pedagogia é formar seres livres e conscientes em um mundo tão complexo, o que começa na garantia do direito da criança brincar, ser feliz e experimentar o mundo com respeito.

A associação busca atualmente sua regularização junto aos órgãos e autoridades competentes da Educação brasileira (ministério, secretarias, conselhos etc.), um processo que não é rápido, nem barato.

Pais e mães têm se doado na busca de uma educação adequada para seus filhos. A busca de recursos para o citado objetivo envolve outras ações permanentes. Para quem não compreende: não se trata de botar o carro na frente dos bois. Instituições de ensino são fundadas e depois regularizadas (como estudante e, à época funcionário, acompanhei, por exemplo, o processo de regularização da então Faculdade São Luís – hoje Estácio – junto ao MEC).

Mas nem só de trabalho, burocracia e criar/educar os filhos, vivem os homens e as mulheres: hoje (19), a partir das 17h, acontece a festa beneficente Guará Vibes, no Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão, o Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro). As atrações são os djs Joaquim Zion e Otávio Rodrigues, o Doctor Reggae, a cantora Dicy e o grupo Forró do Mel. Os ingressos custam R$ 30,00 e o valor arrecadado será inteiramente dedicado ao citado processo.

*

No Timbira Cult de ontem (18), na Rádio Timbira FM (95,5), Gisa Franco conversou com as produtoras culturais Raquel Gonçalves e Soraia Sales Dornelles, e a cantora Dicy, mães de estudantes e ex-estudantes do Jardim Guará Mirim. Assista:

Coreiras dançando tango

Hamilton de Holanda e Mestrinho no palco do Festival Ilha Sinfônica, ontem (29) - foto: divulgação
Hamilton de Holanda e Mestrinho no palco do Festival Ilha Sinfônica, ontem (29) – foto: divulgação

Os telões que ladeavam o palco do Ilha Sinfônica mostraram: coreiras do Tambor de Crioula de Mestre Felipe dançando tango, enquanto Hamilton de Holanda (bandolim) e Mestrinho (sanfona) tocavam “Libertango” (Astor Piazzolla). A imagem sintetiza a proposta do festival, que juntou música clássica e música popular, com um elenco que uniu a Orquestra Ilha Sinfônica (formada por músicos ludovicenses para o evento) aos dois citados, expoentes em seus instrumentos, além de nomes já bastante conhecidos da cena local, incluindo o homenageado da noite, o cantor e compositor César Nascimento.

A apresentação de Hamilton de Holanda e Mestrinho, que pela primeira vez tocaram juntos em São Luís, começou com “Canto de Xangô” (Baden Powell e Vinícius de Moraes) e baseou-se no repertório de Canto da Praya (Deck, 2020), álbum que lançaram juntos. Em aproximadamente uma hora de apresentação, desfilaram temas como “Escadaria” (Pedro Raimundo), “Te Devoro” (Djavan) – juntos cantaram o refrão, para delírio da plateia –, “Drão” (Gilberto Gil) – cantada por Mestrinho –, “Afrochoro” (Hamilton de Holanda), “Evidências” (José Augusto e Paulo Sérgio Valle), que o público cantou a plenos pulmões, “Isn’t She Lovely” (Stevie Wonder) e “Palco” (Gilberto Gil). No bis, “Te Faço Um Cafuné” (José Abdon).

Antes da dupla, o Quarteto de Cordas da Orquestra Ouro Preto preparou o terreno. Hamilton de Holanda e Mestrinho ainda voltariam ao palco com a Orquestra Ilha Sinfônica, regida por Jairo Moraes e pelo regente convidado Rodrigo Toffolo (maestro da Orquestra Ouro Preto); o primeiro solou “Bela Mocidade” (Donato Alves) e o segundo, “Engenho de Flores” (Josias Sobrinho). A apresentação da orquestra marcou também o lançamento de “Valsa Ludovicense” (César Nascimento), disponível nas plataformas digitais desde 8 de setembro, aniversário de São Luís.

A Orquestra Ilha Sinfônica acompanhou artistas como Nosly (que cantou e tocou violão em “June”, parceria sua com Celso Borges), o idealizador e produtor do evento Emanuel Jesus (“Filhos da Precisão”, de Erasmo Dibell), Adriana Bosaipo (cantora (e compositora) talentosa que errou a letra de “Eulália”, de Sérgio Habibe) e César Nascimento, que se emocionou ao relembrar “Ilha Magnética”, já um clássico de sua autoria, e “Corêro” (Josias Sobrinho), que encerrou a noite da orquestra com todos os participantes cantando junto, no palco. O Bumba Meu Boi Unidos de Santa Fé, sob o comando de Zé Olhinho ainda se apresentaria.

O cerimonial anunciou que ano que vem tem mais, encerrando o mês de aniversário da capital brasileira do reggae, do bumba meu boi e do tambor de crioula. Tenho certeza que todos os presentes à praça lotada ontem (29) já aguardam ansiosos.

“O comentário é quase geral”

O compositor Chico Saldanha - foto: Ribamar Nascimento/ divulgação
O compositor Chico Saldanha – foto: Ribamar Nascimento/ divulgação

O compositor Chico Saldanha (acompanhado por Marcão ao violão) é o convidado desta quarta-feira (25) no projeto Quarta no Solar. Capitaneado por Aziz Jr. e Chico Nô e aberto pela discotecagem de Pedro Dreadlock, o evento semanal, em pouco tempo, consolidou-se no calendário cultural da capital maranhense, sendo realizado sempre a partir das 19h no Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis (Rua Rio Branco, 420, Centro). O couvert artístico individual custa apenas R$ 15,00.

Chico Saldanha é um dos mais versáteis compositores maranhenses, passeando com igual desenvoltura pelos ritmos da cultura popular de seu estado natal e gêneros como o blues, o choro e o brega, num caldeirão sonoro de referências as mais variadas, entre a música, a literatura e o cinema, além, é claro, de sua própria memória prodigiosa, ao evocar e trazer para suas criações personagens como Babalu (na canção homônima), famoso dublador dos primórdios da TV Difusora, e Mário Mentira (em “É Tudo Verdade”), um vizinho seu na São Pantaleão que fez jus ao apelido que lhe deu sobrenome, entre outros.

Natural de Rosário, Saldanha mudou-se cedo para São Luís, vindo morar numa São Pantaleão habitada por gênios da estirpe de Cesar Teixeira (que chegou a ver engatinhando), João Pedro Borges e Ubiratan Sousa – no encarte de Emaranhado (2007), estes três nomes comparecem aos agradecimentos àqueles que os levaram ao caminho da música.

Entre os covers de Beatles da juventude aos grandes festivais – sua “Absolutamente” venceu a etapa maranhense do Canta Nordeste, festival outrora promovido pela Rede Globo de Televisão –, Chico Saldanha é um nome consolidado na história da música popular brasileira produzida no Maranhão, como compositor, autor de quatro álbuns até aqui – além do citado, Chico Saldanha (1988), Celebração (1998) e Plano B (2017) –, incluindo pérolas como “Itamirim”, “Linha Puída” e “Choro de Memórias”, e como memória viva, enciclopédia deste fazer musical.

Arrisco-me a soar imodesto, mas entre os poucos mas fiéis leitores não preciso esconder o orgulho em ser seu parceiro em “Dolores”, letra que escrevi em homenagem a Dolores O’Riordan (1971-2018), vocalista de The Cranberries, que ele musicou e gravou com a participação especial de Regiane Araújo.

Não preciso lembrar também que foi através de Chico Saldanha que as músicas hoje tão de conhecidas do repertório do elepê Bandeira de Aço (1978) chegaram a Marcus Pereira (1930-1981) e a Papete (1947-2016) – seu parceiro em “Pindaré”, para citar mais um clássico. O resto é história e é sempre um enorme prazer ouvi-lo contar. E cantar.

Chico Saldanha completou 79 anos em junho passado e segue ativo e criativo. Uma de suas mais recentes criações já têm duas gravações: além do próprio autor, antes Elizeu Cardoso gravou o presente que ganhou e fez de “Arco-íris” clássico instantâneo, do verso que intitula este texto, que eu não canso de pedir em rodas de violão ou qualquer outra oportunidade que me surja diante dos olhos, ouvidos e coração.