Olha, moço, eu vim parabenizar Josias Sobrinho

O compositor Josias Sobrinho, circa 1970. Foto: acervo pessoal
O compositor Josias Sobrinho em show em Teresina/PI, circa 1978. Foto: Assaí/ Acervo pessoal/ Josias Sobrinho

 

Certa feita brinquei com Josias Sobrinho: seu estúdio deveria se chamar Tramaúba, não Opus. Tramaúba, o nome do povoado que ele nasceu, à época Penalva, hoje Cajari. De Cajari pra capital, de pra lá da Ponta d’Areia para o mundo. Falo de um de nossos maiores compositores, gravado por nomes como Betto Pereira, Cláudio Pinheiro, Ceumar, Chico Maranhão, Diana Pequeno, Flávia Bittencourt, Leci Brandão, Lena Machado, Papete, Rita Benneditto e Xuxa, entre muitos outros.

Conheci Josias Sobrinho antes mesmo de conhecê-lo, embalado por suas toadas que conheço, aprecio e canto desde a infância, com que fui ninado e com que ninei meu filho. Cara de pau que sou, há muito tempo entreguei-lhe em mãos um poema que escrevi, quando ele dava expediente em sua extinta livraria Espaço Aberto, na Rua do Sol. Levou mais de 10 anos, mas ele musicou o poema – que virou uma toada de boi de zabumba. Depois eu colocaria a letra na melodia de um tango seu e até aqui este é o tamanho de nossa parceria musical.

No início do mês, entrevistei-o numa edição do TimbirAlive; quem perdeu (ou quer ver de novo) pode conferir no IGTV da Rádio Timbira AM (@radiotimbira, no instagram). Um bate-papo descontraído, em que ele brindou a audiência e o repórter com duas de suas antológicas criações: Engenho de flores e Bacurau pragueiro. Só então me toquei que nunca o havia entrevistado, não formalmente, não diante de câmera ou com um gravador ligado – apesar dos muitos anos de amizade, parceria, alguns espaços comuns de trabalho e a admiração que nutro desde sempre por este cidadão do mundo que não tira o chapéu pra qualquer vagabundo.

Se uma entrevista formal, digamos, era algo inédito, não faltam ao currículo generosas doses de boa conversa regada a laudas e laudas de cachaça temperada, sobretudo no balcão do Batista, a lendária cachaçaria na Travessa da Lapa, no Desterro, onde é proibido fotografar e, por conta de uma selfie, uma vez fizemos um juramento ao proprietário de nunca mais por os pés ali – quebrado quase imediatamente após a cura da ressaca, potencializada pela mistura decorrente de querermos sempre experimentar ou relembrar vários sabores, o máximo de sabores, numa mesma rodada.

Se as regras de isolamento social têm nos impedido de atualizar o papo pessoalmente e de dar um abraço idem no dia de seu aniversário, vulgo hoje, significa apenas uma coisa: no capitalismo afetivo, tudo o que atrasa também deve ser pago com juros e correção etilírica.

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