A tristeza alegre de Itaercio Rocha

Foto: Guta Amabile
Foto: Guta Amabile

Ao ouvir a expressão “Ralando o cotovelo no asfalto” penso imediatamente em Lupicínio Rodrigues (1914-1974). Mas não há nenhuma música do gaúcho no coeso repertório do show que o cantor e compositor Itaercio Rocha voltou a apresentar, ontem (5, ocasião em que assisti) e anteontem (4), no Auditório Ulisses Manaças do Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis (Rua Rio Branco, 420, Centro).

Chamar-lhe cantor e compositor é pouco: o multi-artista é autor do lindo cenário, ornado por corações bordados. Acompanhado por Chico Neis (violões, arranjos e direção musical) e Gabriela Flor (percussão), Itaercio Rocha inverte a equação: em um show intimista (por isso no auditório em vez de na área aberta da casa), faz o público vibrar ao percorrer canções que falam de amor, solidão, traições, abandonos e desencontros, aliando seu canto potente à sua veia de ator.

Itaercio sobe ao palco sozinho e manda “Cão sem dono”, de Sueli Costa (1943-2023) e Paulo César Pinheiro, à capela: é a senha para mergulharmos num universo misto de dor de cotovelo (o repertório) e alegria (poder testemunhar um artista de sua envergadura no palco, ao vivo).

A costura do medley que une “Pra dizer adeus” (Edu Lobo e Torquato Neto [1944-1972]) e “Serra da Boa Esperança” (Lamartine Babo [1904-1963]) é coisa de gênio. Tom Jobim (1927-1994) dizia que difícil era fazer o simples e imediatamente, ao ouvi-las juntas, me peguei pensando: como é que ninguém havia pensado nisso antes?

Entre momentos em trio ou sozinho no palco, Itaercio Rocha, sempre fugindo do óbvio, desfilou ainda temas de Caetano Veloso (“Do cóccix até o pescoço”, lançada por Elza Soares [1930-2022]), Luiz Gonzaga (1912-1989) (“Juazeiro”, parceria com Humberto Teixeira [1915-1979]), João do Vale (1934-1996) (“Bom vaqueiro”, parceria com Luiz Guimarães) e o megahit “Alvejante” (Céu Maia), um dos momentos em que o público cantou junto. No bis mandou a autoral “Ele me ama”, talvez seu maior hit.

Não era a estreia do show, já apresentado em outras ocasiões e palcos e é curioso pensar que um espetáculo dessa magnitude não consiga ficar em cartaz por mais tempo em São Luís, mesmo tendo sido feito às próprias custas s. a., como diria Itamar Assumpção (1949-2003).

O pequeno auditório estava lotado e espero sinceramente que surjam novas oportunidades a quem, por um motivo ou outro, não tenha conseguido assisti-lo desta vez. Antes mesmo de os cotovelos se recuperarem das cicatrizes e de se desfazerem os sorrisos extasiados com que a gente costuma sair de um show irretocável.

Show de encerramento da oficina Trilhas e Tons em Grajaú tem sabor de memória e reencontro

[release]

A primeira vez que Wilson Zara participou de um festival foi no município; “Zaratustra”, música que defendeu e ganhou prêmio de melhor letra, acabou por lhe dar sobrenome artístico

Até a próxima sexta-feira (21) o Centro Educa + Integral, em Grajaú, recebe a primeira edição da sétima etapa da oficina itinerante Trilhas e Tons, de teoria musical aplicada à música popular. Ministrada por Nosly, com coordenação de Wilson Zara e assistência de Mauro Izzy, a formação tem 20 horas aula.

Trilhas e Tons VII tem patrocínio do Instituto Cultural Vale (ICV), com realização do Ministério da Cultura (MinC) e Zarpa Produções Artísticas, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e conta ainda com apoio da Prefeitura Municipal de Grajaú, através da Secretaria Municipal de Cultura.

Como já é tradição nos municípios por onde passa, o encerramento da oficina, com certificação dos cursistas, será marcado por um show com Nosly, Wilson Zara e Mauro Izzy, além das participações de Luis Carlos Pinheiro e Jessé Zanara, entre outros artistas locais, inclusive cursistas que participaram da formação. A apresentação acontece na Praça Raimundo Simas, às 20h, aberta ao público.

Em Grajaú a apresentação terá um sabor especial: foi lá que Wilson Zara participou pela primeira vez de um festival. No final da década de 1980, sua “Zaratustra” (parceria com Gilvandro Martins e Bebé), inspirada em “Assim Falou Zaratustra”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, ficou em terceiro lugar e venceu melhor letra. “Foi a primeira vez que eu participei de um festival, a primeira vez que eu ganhei um prêmio. Eu fiquei feliz”, lembra Zara, que então era bancário e estudante de Letras e, a partir da música, adotou o sobrenome artístico.

Após Grajaú, a oficina passará ainda pelos municípios de Arari, Itapecuru-Mirim, Anajatuba e Pindaré-Mirim, em datas e locais a serem definidos.

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Os embaixadores da Baixada Maranhense

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No Convento das Mercês Mostra Cultural Embaixadeiros reúne nove artistas e um grupo oriundos de municípios da Baixada Maranhense radicados em São Luís

Os cantores e compositores Aziz Jr., Josias Sobrinho e Elizeu Cardoso, idealizadores da Mostra Cultural Embaixadeiros - foto: Leo Amorim/ divulgação
Os cantores e compositores Aziz Jr., Josias Sobrinho e Elizeu Cardoso, idealizadores da Mostra Cultural Embaixadeiros – foto: Leo Amorim/ divulgação

A área geográfica do Maranhão é maior que a de muitos países europeus. É quase impossível falar em Maranhão no singular: cada região com suas complexidades e diversidades. A Baixada Maranhense, bastante conhecida por suas belezas naturais, com destaque para os campos alagados, ganha uma mostra artística que reunirá talentos oriundos de seus municípios.

No próximo dia 21 de março (sexta-feira), a partir das 19h, o Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro, Centro Histórico de São Luís) será palco da Mostra Cultural Embaixadeiros, com o desfile dos talentos de Aziz Jr., Célia Leite, Elizeu Cardoso, Josias Sobrinho, Osmar do Trombone, Ronald Pinheiro, Serrinha do Maranhão, Zé Olhinho, Zeca Melo e o Tambor de Crioula do Mestre Felipe, que abre a noite. A entrada é gratuita.

Os nove artistas solo e o grupo dão conta de amplo arco musical, do bumba meu boi e tambor de crioula passando por pop, rock, samba e choro, entre outras vertentes abrigadas no generoso guarda-chuva que se convencionou chamar de música popular brasileira.

Os artistas serão acompanhados por uma banda formada por Sued Richarllys (guitarra, direção e regência), Samir Aranha (baixo), Cassiano Sobrinho (bateria), Luiz Cláudio (percussão), Rui Mário (sanfona e teclado) e Ricardo Mendes (sopros). O evento terá como mestre de cerimônias o poeta, cordelista e pesquisador Moizes Nobre.

“Há bastante tempo pensava em um projeto que reunisse os compositores e grupos da Baixada, porque mesmo radicados aqui, as nossas obras refletem muito o território de onde viemos. Paisagens, ritmos, palavras, festas, etc. Então, inicialmente comentei com Josias Sobrinho, que gostou muito da ideia. Depois, convidei Aziz, que também se entusiasmou. Assim que foi lançado o edital da Lei Paulo Gustavo, nos reunimos e começamos a escrever o projeto. Em seguidas reuniões, fomos amadurecendo a configuração. Esta primeira edição será bem experimental, porque o nosso intuito é que seja futuramente um projeto itinerante pelos municípios da Baixada, incorporando outras linguagens artísticas e segmentos, como poesia, artesanato, gastronomia e artes plásticas, entre outros, dos artistas locais”, comenta Elizeu Cardoso, sobre as origens e futuras possibilidades da Mostra Cultural Embaixadeiros.

A Mostra Cultural Embaixadeiros é uma iniciativa de Elizeu Cardoso, Aziz Jr. e Josias Sobrinho, com apoio institucional do Instituto de Estudos Sociais e Terapias Integrativas (Iesti), realizada através da Lei Paulo Gustavo e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma).

Conheça um pouco mais os embaixadeiros

Aziz Jr. – Iniciou a vida artística no convívio com nomes como o capoeirista Mestre Patinho e Mestre Felipe do Tambor de Crioula, agregados ao redor do Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte). Participou ativamente do happening A Vida é uma Festa, em suas origens, capitaneado pelo poeta e músico ZéMaria Medeiros, primeiro no Bar de Seu Adalberto, depois na Companhia Circense de Teatro de Bonecos, na Praia Grande. Em 2022 lançou o álbum “DiAziz”.

Célia Leite – A cantora e compositora penalvense tem formação em Turismo. Iniciou sua carreira na década de 1980. Tem três cds lançados e está gravando o quarto, com lançamento previsto para ainda este ano.

Elizeu Cardoso – Cantor, compositor e professor, o pinheirense mudou-se para a capital para estudar Geografia na Universidade Federal do Maranhão. Em sua terra natal, a veia artística já falava e ele iniciou sua trajetória no então prestigiado Festival de Música Popular de Pinheiro, o Fesmap. Em 2008, “Redemoinhos”, de sua autoria, venceu o Festival João do Vale de Música Popular e em 2020 sua “Bela princesa” foi aclamada pelo júri popular no XI Festival de Imperatriz. Tem lançados os álbuns “Todos os cantos” (2005) e “Alma negra” (2010).

Josias Sobrinho – Com a carreira iniciada em 1972, nas fileiras do Laborarte, em 1978 teve quatro composições gravadas por Papete no antológico “Bandeira de aço” (Discos Marcus Pereira), considerado um divisor de águas na produção fonográfica do Maranhão. Tem 15 álbuns gravados, disponíveis nas plataformas de streaming e é autor de músicas gravadas por nomes como Alcione, Ceumar, Diana Pequeno, Leci Brandão, Márcia Castro, Rita Benneditto e Xuxa, entre outros.

Osmar do Trombone – Nascido em berço musical, Osmar do Trombone rebatizou uma de suas composições mais conhecidas, o choro “Quatro gerações” virou “Cinco gerações”, após ele descobrir, em sua árvore genealógica, mais um avô que tocava. É um dos 54 bambas do choro entrevistados para o livro “Chorografia do Maranhão” (Pitomba!/ Edufma, 2018), de Ricarte Almeida Santos, Rivânio Almeida Santos e Zema Ribeiro.

Ronald Pinheiro – Tocou bandolim no antológico “Lances de agora” (Discos Marcos Pereira, 1978), de Chico Maranhão, parcialmente gravado na sacristia da Igreja do Desterro. “Mimoso”, uma de suas canções mais conhecidas, foi gravada por Alcione e Papete, entre outros.

Serrinha do Maranhão – À frente do grupo Serrinha e Companhia, Serrinha do Maranhão foi um dos maiores fenômenos do samba e pagode no estado. O grupo lançou o álbum “Na palma da mão”, com a participação especial de Jorge Aragão – o título do álbum é verso de “Uns e alguns”, faixa que abre o trabalho, de autoria do carioca. Com Chico Chinês atualmente lidera o Samba de Iaiá, que costuma reunir multidões onde se apresenta.

Zé Olhinho – José de Jesus Figueiredo é amo do bumba meu boi Unidos de Santa Fé. “Guerreiro Valente”, uma das mais conhecidas toadas do batalhão, é cantada a plenos pulmões pelo público, que vibra com o refrão: “é tchun, é tchan/ eu vou até de manhã”.

Zeca Melo – Nascido em Penalva, mudou-se para São Luís, onde descobriu sua veia artística, com pendores poéticos e musicais que evidenciam a valorização da cultura popular maranhense e das raízes ancestrais africanas.

Tambor de Crioula do Mestre Felipe – Felipe Neres Figueiredo (1924-2008), popularmente conhecido como Mestre Felipe é praticamente sinônimo de tambor de crioula. Toadas como “Maranhão sou eu”, “Vila de São Vicente”, “Mangueira” e “Galo boiou”, de sua autoria, são algumas das mais conhecidas do segmento.

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Serviço: Mostra Cultural Embaixadeiros, com Aziz Jr., Célia Leite, Elizeu Cardoso, Josias Sobrinho, Osmar do Trombone, Ronald Pinheiro, Serrinha do Maranhão, Zé Olhinho, Zeca Melo e o Tambor de Crioula do Mestre Felipe. Dia 21 de março (sexta-feira), às 19h, no Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro, Centro Histórico de São Luís). Entrada franca.

Bob and Bob: obra de Marley e Dylan celebrada em mix de show e recital

[release. Da assessoria]

O poeta Fernando Abreu e o guitarrista Lucas Ferreira em apresentação no Teatro Cazumbá, ano passado - foto: divulgação
O poeta Fernando Abreu e o guitarrista Lucas Ferreira em apresentação no Teatro Cazumbá, ano passado – foto: divulgação

Fã incondicional de Robert Nesta Marley e Robert Allen Zimermann, os dois “Bobs” mais influentes da música mundial, o poeta maranhense Fernando Abreu acalentou durante anos a ideia de fazer um recital com canções dos dois artistas entremeados com poemas de sua autoria que de alguma forma dialogassem com as canções. Na cabeça tinha o título e o repertório, faltavam apenas a hora e o lugar certos.

Há três anos, a convite da jornalista, produtora e DJ Vanessa Serra, o poeta levou da cabeça para o palco o recital “Bob & Bob – I and I”, na retomada do projeto Vinil e Poesia, voltado para as conexões possíveis entre o texto poético e a canção popular. O resultado foi animador o suficiente para garantir ímpeto para insistir na proposta.

A segunda apresentação se deu ainda em 2023, no Teatro Cazumbá, onde, tal como na estreia, Fernando Abreu subiu ao palco munido de seu próprio violão, acompanhado pelo jovem guitarrista Lucas Ferreira, sobrinho do poeta, compositor, factotum e vocalista da banda roqueira Babycarpets, ex-garotos de vinte e poucos anos ligados em psicodelia, experimentação, Stooges e – Bob Dylan.

Nesta quarta-feira, ainda no clima das comemorações pelos 80 anos de nascimento de Bob Marley (1945-1981), o showrecital está de volta, dessa vez como atração do projeto Quarta no Solar. Mas o que era uma dupla dessa vez ganha ares de banda folk, com a adição de contrabaixo, cozinha rítmica e um inusitado violino, fazendo referência ao clássico  “Desire”, álbum lançado por Dylan em 1976 onde o instrumento pontifica em todas as nove faixas, pelas mãos da enigmática Scarlet Rivera. O “sarau” conta ainda com a participação especial de Aziz Jr., tocando “Negro Amor”, versão de Péricles Cavalcanti e Caetano Veloso para “It’s All Over Now, Baby Blue”, imortalizada por Gal Costa em “Caras e Bocas” (1977).

Durante cerca de uma hora, a trupe passeia por várias fases da extensa obra de Dylan e Marley, costurando canções e poemas pinçados dos livros do poeta, à exceção de dois inéditos que estarão em um novo livro, a ser publicado ainda neste ano. Além de “Negro Amor”, o repertório ganha também “Señor”, em versão despojada mais próxima da leitura de um Willie Nelson. Na “faixa-bônus” de encerramento permanece a cáustica “Babylon System”, de Marley: “We refuse to be/ what you wanted us to be/ we are what we are/ that’s the way it’s going to be”. (“Nós nos recusamos a ser/ o que vocês querem que a gente seja/ nós somos o que somos/ e é assim que vai ser”).

De um total de 11 canções, oito são cantadas no inglês original. As exceções são “Small Axe”, canção guerreira dos primórdios dos Wailers que virou “Machado Afiado”, na versão livre de Abreu em parceria com o poeta Celso Borges (1959-2023). O célebre refrão do hino imortalizado pela banda The Gladiators ganha sabor marcadamente regional, mas não menos ameaçador: “você me dá pão e circo/ querendo se dar bem/ mas o pau que dá em Chico/ dá em Francisco também”.

Da fase cristã de Dylan, “Um dia você vai servir a alguém” é a segunda canção entoada na língua pátria, versão de outro convicto dylanófilo, Vitor Ramil, para “Gotta serve somebody”.

A trinca se completa com a longa “Simple Twist of Fate”, onde a dupla de poetas se permitiu um nível tal de liberdade a ponto de homenagear o cantor Chico Maranhão, que aparece citado na música. Libertinagens à parte, os poetas acreditam ter se mantido fiel ao espírito da canção gravada por Dylan em “Blood on the tracks”, de 1975.

Além de reafirmar conexões entre poesia e música popular, o recital presta um despretensioso tributo a dois heróis culturais do século XX. Dylan, um dos construtores do rock como obra de arte, ganhador do Nobel, e Marley, o único superstar mundial egresso de um país na periferia do capitalismo, autor de “Exodus”, disco considerado o mais importante do século XX pela revista Time. “Não tenho conhecimento de nenhuma iniciativa que una a obra desses dois bardos pop, que tem muito mais a ver entre si do que seus primeiros nomes: uma obra capaz de despertar identificação com pessoas do mundo inteiro em gerações diferentes. É isso que celebramos sempre que subimos ao palco com essas canções”, pontua Fernando Abreu.

Roots, rock, reggae! – Quando o rasta diz “I and I”, está dizendo: eu, meu espírito em unidade com o sagrado e com todas as coisas. Quando Bob Dylan gravou  “Infidels”, em 1983, levou dois rastamen da gema para o estúdio: os lendários Sly Dunbar e Robbie Shakespeare (1953-2021). A presença da dupla garantiu que o reggae se insinuasse por todas as oito faixas, a partir do baixo e da bateria, incluindo a clássica “Jokerman”. Quem tiver ouvidos que ouça. Mas não é tudo: o disco, que pode ser chamado (com algum exagero, claro), de o disco “rasta” de Bob Dylan, traz ainda uma canção de complexo misticismo, chamada justamente “I and I”, uma canção que ameaça se transformar em reggae a cada virada de bateria.

Dylan deve ter sacado que a expressão rasta traduz o mesmo sentimento de comunhão universal a partir da experiência individual experimentado, por exemplo, por Walt Whitman (1819-1892), e que resultou em “Folhas de Relva”, especialmente no poema “A Canção de Mim Mesmo”. O mesmo que termina dizendo “sou amplo, contenho multidões”. Pois não custa lembrar que o último disco do agora octogenário bardo, “Rough and Rowdy Ways”, lançado em 2022, traz uma canção calcada na obra de Whitman, chamada “I Contain Multitudes” (Eu Contenho Multidões). I and I. O Ciclo se fecha.

Bloco dos Alvoradeiros congrega equipe e ouvintes do programa “Alvorada – Memórias e Paisagens Sonoras”

[release]

A jornalista e DJ Vanessa Serra comandará o Bloco dos Alvoradeiros no próximo dia 15 - foto: divulgação
A jornalista e DJ Vanessa Serra comandará o Bloco dos Alvoradeiros no próximo dia 15 – foto: divulgação

Como na letra de “Ponto de fuga”, clássico de Chico Maranhão, a jornalista e DJ Vanessa Serra trilhou “as retas mais curvas que o mundo tem” até consolidar o programa Alvorada – Memórias e Paisagens Sonoras no coração dos maranhenses. O programa é um sucesso, veiculado todos os domingos, às sete da manhã, na Rádio Timbira FM (95,5).

A ideia surgiu quando, em meio à pandemia de covid-19, ela teve que interromper o sarau Vinil e Poesia – que logo migrou, como quase tudo, à época, para o formato online. Não demoraria para Vanessa Serra inventar de acordar cedo aos domingos e botar seu público fiel para também fazê-lo, celebrando a cultura do vinil.

“O salão tá bonito, tá florido” é um bordão com que a DJ já é saudada por onde passa e é como ela cumprimenta a audiência, mandando alôs a quem ouve e assiste suas sequências tocadas em um set 100% vinil.

Com produção, pesquisa, seleção musical, roteiro e apresentação de Vanessa Serra e sonorização de Maurício Capella, o Alvorada teve início no canal da jornalista e DJ na plataforma Twitch.TV e simultaneamente pelo instagram. A live semanal estreou no primeiro domingo de maio de 2020, tendo recebido o convite para integrar a programação da Rádio Timbira quando a jornalista Maria Spíndola assumiu a direção da emissora, à época operando ainda em amplitude modulada. A estreia no dial aconteceu exatos quatro anos depois da primeira live, em 2023, também no primeiro domingo de maio. Com a migração para frequência modulada, o sucesso continua.

“Tudo que é bom dura pouco”, diz a famosa marchinha de carnaval. Vanessa Serra ousa contradizê-la em pleno pré-carnaval. Tudo que é bom merece continuar e merece celebração.

No próximo dia 15 de fevereiro (sábado), a partir das 15h, a Monalisa Cervejaria (R. V 13, 17, Parque Shalon) será o palco do Bloco dos Alvoradeiros. As atrações são a DJ Vanessa Serra e o grupo Os Timbiras – formado por músicos que são servidores da emissora: Maria Spíndola (voz), Luiz Barreto (voz), Leônidas Costa (violão) e Mariano Rosa (percussão), além de canjas especialíssimas e o lançamento da “Marchinha da Alvorada”, de Tutuca Viana, outro alvoradeiro sempre de plantão.

O Bloco dos Alvoradeiros, que congrega a audiência cativa do programa, terá Rose Carrenho como porta-estandarte e Paulinho Durans como mestre-sala.

O vesperal tem apoio cultural da Rádio Timbira FM, Metalúrgica Kiola e Capella Sonorizações. O couvert artístico individual custa apenas 15 reais. Vista sua fantasia, leve sua alegria e não perca o Bloco dos Alvoradeiros!

Baile do Parangolé será palco do lançamento de “Bloco Bonito”, de Joãozinho Ribeiro

Acima: Neto Peperi, Alysson Ribeiro, Andréa Frazão, Luiz Cláudio e Dan Nobre; abaixo: Paulinho Akomabu, Chico Saldanha, Joãozinho Ribeiro, Rosa Reis, Fátima Passarinho e Anna Cláudia, as vozes de "Bloco Bonito" - foto: divulgação
Acima: Neto Peperi, Alysson Ribeiro, Andréa Frazão, Luiz Cláudio e Dan Nobre; abaixo: Paulinho Akomabu, Chico Saldanha, Joãozinho Ribeiro, Rosa Reis, Fátima Passarinho e Anna Cláudia, as vozes de “Bloco Bonito” – foto: divulgação

O Baile do Parangolé chega à sua 14ª edição em 2025, celebrando os 46 anos de fundação da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH). O nome do baile toma emprestado o título de um conhecido coco do jornalista e compositor Cesar Teixeira, sócio da SMDH. O evento acontecerá na próxima quarta-feira (12), a partir das 19h, no Bar e Restaurante Pedra de Sal (esquina das ruas da Estrela e de Nazaré, Praia Grande). Os ingressos individuais custam R$ 40,00 e incluem abadá.

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, sócio da SMDH, lançará, na ocasião, o EP Bloco Bonito (faça aqui a pré-save), com quatro faixas em clima de folia e a participação especial de grandes nomes da música popular brasileira: Allysson Ribeiro, Andréa Frazão, Chico Saldanha, Neto Peperi, Paulinho Akomabu, Rosa Reis e Zeca Baleiro. As gravações aconteceram no Zabumba Records, sob a batuta do percussionista, compositor e produtor Luiz Cláudio.

Uma das faixas de destaque é “Algazarra no quartel”, interpretada por Alysson Ribeiro e Neto Peperi, uma crítica ácida e bem-humorada aos desmandos de um certo capitão que muito aprontou fora da caserna.

"Bloco Bonito" - capa/ reprodução
“Bloco Bonito” – capa/ reprodução

Segundo Joãozinho Ribeiro, o EP é uma homenagem ao cantor e compositor Tadeu de Obatalá (1964-2024), falecido ano passado, um dos fundadores do Bloco Afro Akomabu. A capa de Bloco Bonito, presente do amigo e parceiro Betto Pereira, cantor, compositor e artista visual, faz alusão à estética deste símbolo do carnaval maranhense surgido nas fileiras do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN).

Joãozinho Ribeiro, seus convidados especiais e os músicos que participaram da gravação de Bloco Bonito são as atrações do 14º. Baile do Parangolé, valorizando a música, a ancestralidade e os direitos humanos.

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Com patrocínio do Instituto Cultural Vale, Oficina “Trilhas e Tons” volta a percorrer municípios maranhenses

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Certificação em Codó, após oficina realizada no município em edição anterior do projeto - foto: divulgação
Certificação em Codó, após oficina realizada no município em edição anterior do projeto – foto: divulgação

A Oficina “Trilhas e Tons”, de teoria musical aplicada à música popular, após três anos, volta a percorrer municípios maranhenses levando formação prática a músicos e curiosos em geral.

Com patrocínio do Instituto Cultural Vale (ICV), através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e realização do Ministério da Cultura (MinC), a oficina é ministrada pelo cantor e compositor Nosly, com coordenação do músico Wilson Zara e assistência de Mauro Izzy, todos eles artistas reconhecidos na cena cultural maranhense.

Com carga horária de 20 horas-aula, distribuídas em cinco encontros ao longo de uma semana, a oficina percorrerá os municípios de Grajaú, Arari, Itapecuru-Mirim, Anajatuba e Pindaré-Mirim, oferecendo 30 vagas em cada um deles.

O projeto retoma uma estrada comprida, que vem sendo pavimentada por experiências de trocas, entre sua equipe e cada um/a que se inscreve para uma nova etapa. Já foram mais de 50 oficinas realizadas, com mais de 1.000 cursistas certificados.

“Estamos muito contentes em poder retomar este trabalho, de voltar a levar uma formação rápida, que estimula o fazer artístico e aprimora o trabalho de quem já tem algum envolvimento com este meio. São números que nos dão orgulho, porque a gente sabe das dificuldades para torná-los realidade. A gente não quer lamentar o tempo em que ficamos parados por motivos de força maior, mas somar mais empenho por mais alunos concluindo esta formação, porque a gente já percorreu uma estrada grande e bonita, mas ainda há muito por fazer”, projeta Nosly.

A cada município, encerrando as oficinas, Nosly, Wilson Zara e Mauro Izzy apresentarão um show, gratuito e aberto ao público em geral, com a participação de artistas locais e de cursistas que concluíram as atividades, num momento de comunhão e demonstração prática dos conhecimentos adquiridos.

A primeira oficina desta nova etapa acontecerá em Grajaú/MA, entre os dias 17 e 21 de março – o local de inscrições e realização da oficina serão divulgados em breve. As inscrições, oficinas e material didático são gratuitos.

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Todos os lados de Emanuele Paz

Emanuele Paz em dois momentos de "Marco Zero" - fotos: Alan Rodrigues/ divulgação
Emanuele Paz em dois momentos de “Marco Zero” – fotos: Alan Rodrigues/ divulgação

Quem foi ontem (30) ao Teatro Sesc Napoleão Ewerton assistir ao show Marco Zero, de lançamento do EP homônimo de Emanuele Paz, presenciou, na verdade, dois espetáculos. Na primeira parte da noite, o lado A, o reggae side, trajando uma esvoaçante saia vermelha, a cantora e compositora apresentou o repertório do EP, cantando sobre bases da DJ Selekta Groove; na segunda parte, com um vestido branco curto (“eu estou vestida, tem um short aqui por baixo”, gracejou a certa altura), levou ao palco o Projeto Lado B, o lado forrozeiro, acompanhada por Memel Nogueira (sanfona), Hugo César (baixo) e Dudef Peixe (zabumba), além de tocar triângulo.

Sua energia no palco impressiona. Quando as cortinas se abrem, ela surge, levantando-se do chão, metáfora possível do desabrochar. Dança o show inteiro, sem desafinar. É uma artista jovem, mas já com pleno domínio do palco, consciente de seu lugar e papel: olha para frente sem esquecer as origens, o que demonstra desde a capa do EP, para a qual foi fotografada no bairro em que nasceu e vive. Simbólica também a presença da avó na plateia, saudada pela artista no palco. Gigante.

A ideia do Lado B surgiu quando Emanuele Paz percorria o circuito dos barzinhos, onde o público médio quer ouvir os hits de rádios mais populares, as músicas que estão nas trilhas das novelas e os artistas consagrados e já identificados com o ambiente da noite, os clássicos que quem canta da noite sabe de cor e salteado.

Assim, ela, cantando e tocando triângulo, apresentou releituras de nomes como Lucimar (“Como a moda”), Juliana Linhares (“Balanceiro”, dela com Khrystal Saraiva, Moyseis Marques e Sami Tarik), Fagner (“Lembrança de um beijo”, de Accioly Neto) e Mariana Aydar (“Onde está você”, de Zezum), entre outros.

Entre um e outro set, a participação especial do cantor e rapper Biodz, “o primeiro cara que me convidou para fazer uma love song”, disse. “Primeiro e único”, completou, para deleite da plateia. Juntos cantaram “I Need Ya Luv”, composição de ambos gravada em dueto idem.

Emanuele Paz estava em casa, super à vontade. Fez graça até quando pediu a alguma assistente ajustar um nó no cropped, que estava caindo. A plateia se divertia, prestava atenção nas mensagens de suas letras, aplaudia. Uns dançavam nos assentos, outros levantaram-se e se arriscaram no forró nos corredores laterais do teatro.

Emanuele Paz volta a se apresentar dia 15 de fevereiro (sábado), às 18h, no Pólo Nega Glícia (1976-2024) – homenageada pela artista no show de ontem –, que fica na Praça do Reggae (esquina das ruas da Estrela e de Nazaré, na Praia Grande), na programação de pré-carnaval do Governo do Maranhão. Na mesma data e palco, a partir das 14h, também se apresentam Negra Jane, Dread Sandro, Dennis Brown e Silvia, Regiane Araújo, DJ Chirley Roots, Rose Bombom, Sandra Marley e a banda Barba Branca.

“Sereia”, single de Bia Sabino em dueto com Marina do Mar, chega às plataformas 2 de fevereiro, dia de Iemanjá

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Bia Sabino e Marina do Mar - foto: Maíra Kellermann/ divulgação
Bia Sabino e Marina do Mar – foto: Maíra Kellermann/ divulgação

Depois do independente “Ecos”, álbum de estreia lançado em 2018, a cantora e compositora carioca Bia Sabino lançou cinco singles, uma experiência comum a artistas da música, em tempos de plataformas digitais.

Artista plural, Bia Sabino vai além da música: dança, desenha e faz acrobacias para além das metáforas. Tem vivido e amado, e estas experimentações incrementam o cotidiano, ao qual se soma agora outra experiência transcendental: 2025 marcará também sua estreia na maternidade.

"Sereia", single - capa/ reprodução
“Sereia”, single – capa: Bia Sabino/ reprodução

No próximo dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, aterrissa nas plataformas de streaming mais um rebento musical, seu novo single, Sereia, de sua autoria, cantado em dueto com a potiguar Marina do Mar, gravado em home studio. Bia Sabino (voz, violão, asalato, percussão, instrumentos digitais, gravação, produção e arranjo) está acompanhada por Marina do Mar (voz) e Lucas Nelli (djembe).

Sereia foi soprada no meu ouvido. A praia sempre foi um lugar de reconexão com o meu coração, limpeza e renovação de energia. Para mim, o som do mar sempre foi percussivo e sua brisa sempre soprou melodias. Já ouvi muitas músicas do mar e em mais um dia ordinário de conexão mágica, Sereia surgiu inteira. Era de dia mas eu já estava vendo a lua nascendo no horizonte, sentindo uma energia forte ecoar no meu peito. O mar estava agitado no Leme, ondas fortes, bem como a minha vida também estava. Ao mesmo tempo, o calor fazia com que suas águas agitadas se tornassem acolhedoras. A areia brilhava como um grande espelho do céu e senti as águas me chamando. Pensei, será? O mar está forte e tem correnteza, tenho que ficar esperta. Nisso, minha mão começou a bater palmas e uma melodia simplesmente saiu da minha boca. “Se entrega pras ondas do mar, sereia,/ se entrega que o mar quer te encontrar””, cantarola trecho da letra. E continua: “A areia brilhante formava uma passarela, um caminho encantado para sentir a força das águas. Meu corpo balançou involuntariamente até a beira. Volta a cantarolar: “a vizinha do mar, a areia/ dá forma pra esse teu balançar/ o mistério das águas anseia/ e convida a sereia para nadar”. Eu senti um chamado, mas estava com medo das ondas grandes. Imediatamente com os pés nas águas senti uma proteção amorosa muito forte, como quem dizia “pode entrar, pode lavar tudo o que precisar, eu estou aqui com você”. O sol forte também me pediu pra mergulhar, “e num compasso de sol/ sereia mergulha no mar/ e dá as mãos pra Iemanjá”. Eu fui dançando e sendo envolvida por uma energia de força, celebração e maravilhamento. O mar, berço da vida, também estava sendo fonte do meu renascimento”.

Bia Sabino nos fala sobre o processo intuitivo de composição de Sereia, uma espécie de parto com um toque de magia. Mas quem a conhece sabe que, mais que sobre uma música, ela fala sobre seu modus operandi criativo. Ela morou um tempo em Fernando de Noronha/PE e relembra os passos seguintes, o tempo de maturação desde que baixou a Sereia, um exercício de aprendizado e autoconhecimento.

“Sempre quis gravar essa música e, no tempo em que vivi em Noronha, me conectei muito com o arquétipo da sereia. A sereia te leva para o fundo do mar e te ensina a dissolver o seu ego. No fundo do mar existe outro universo. O canto da sereia encanta e te leva para o mistério. É preciso ter coragem para encarar o desconhecido, as ondas grandes, e mergulhar fundo, rumo a um novo eu. Foi nessa época que conheci Marina, outra sereia cantante, e logo começamos a entoar essa músicas juntas”, conta.

Tudo tem seu tempo e Bia Sabino confia nos processos, no destino. “Mesmo assim ainda não havia chegado a hora de gravar Sereia. Anos depois, fui abençoada com uma gestação. As águas da minha vida se agitaram novamente e Sereia começou a ecoar na minha cabeça. O mar é o berço da vida e Iemanjá é conhecida como a Mãe das águas. A grande mãe sereia, rainha do mar, presente em tantas tradições e com tantos nomes diferentes. Iemanjá é símbolo de vida, amor, proteção,  fertilidade, força. Ela protege quem entra e vive no mar. Como grande mãe ela protege seus filhos, protege as gestações. Sereia é uma celebração à liberdade feminina, a essa conexão ancestral com o mar e a profundidade das emoções. A sereia abraça sua essência, suas águas internas e sua força transformadora. Gestar é mergulhar nas águas misteriosas e poderosas do feminino, sem amarras, sem limites. A sereia é aquela que canta e dança ao som das águas, vivendo sua verdade sem medo e abraçando o mistério das profundezas. Hoje, mais sereia do que nunca, senti que era o momento de gravar e convidei Marina para mergulhar comigo no lançamento dessa música, que é uma homenagem ao poder feminino, à beleza da ancestralidade e ao rito de celebração da vida e da liberdade”, afirma.

A escolha não poderia ter sido mais apropriada. A cantora e compositora Marina do Mar, paulista radicada em Fernando de Noronha, é outra artista plural, que busca, entre a música, a dança, a fotografia e os mergulhos, aproximar as pessoas do oceano, fazendo-as perder o medo das ondas e do profundo. Somente alguém assim poderia mergulhar sem temer na nova criação de Bia Sabino. Atleta de bodysurf e apneia, suas músicas trazem estes temas à tona. Seu nome significa “aquela que vem do mar”, não à toa título do álbum cujos singles ela vem disponibilizando nas plataformas, onde estará completo até abril.

Ela relembra o encontro com Bia Sabino: “Conheci a Bia em Noronha, há cinco anos, quando iniciava minha vida aqui na ilha. De imediato a gente se conectou, com conversas cheias de profundezas, insights e irmandade. Nossa conexão com a natureza nos uniu e a harmonia das nossas vozes fez com que tudo fluísse com ainda mais potência. Nossa amizade é um lugar de acolhimento, respeito e muita admiração mútua. Sou extremamente grata à vida por ter trazido uma irmã-espelho com quem eu compartilho os pedacinhos mais verdadeiros da minha essência. Fiquei muito honrada com o convite para gravar Sereia, porque é uma música que resume muito do que a gente acredita: um retrato do poder feminino das mulheres conectadas ao mar”, revela.

Conexão e amizade ganharam um atestado de autenticidade com a gravação. O single Sereia (Bia Sabino), com Bia Sabino e Marina do Mar, chega às plataformas digitais no próximo dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá – faça aqui a pré-save. No próximo dia 12 de fevereiro será lançado o videoclipe da música, registrando o encontro das artistas em Fernando de Noronha. Ouça no volume máximo, dance e mergulhe fundo!

Ceumar e seus companheiros em comunhão com a plateia

Webster Santos, Luiz Cláudio, Josias Sobrinho e Ceumar, ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo - foto: Zema Ribeiro
Webster Santos, Luiz Cláudio, Josias Sobrinho e Ceumar, ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo – foto: Zema Ribeiro

O primeiro dos dois shows que Ceumar traz à São Luís na circulação com que celebra seus 35 anos de música, realizado ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo (o segundo é hoje, 26, às 18h) foi uma demonstração de que a música é uma profissão de fé, capaz de promover uma verdadeira comunhão entre os artistas no palco e a plateia.

Nesta havia de fãs de carteirinha a gente que ouvia Ceumar ou ia ao Arthur Azevedo pela primeira vez – caso da própria artista, que visita São Luís desde 2000, quando realizou por aqui show no saudoso Canto do Tonico, do álbum Dindinha, sua estreia, lançado no ano anterior. Já havia passado pelo Teatro João do Vale, pelo antigo Armazém, pela Ponta do Bonfim, entre outros.

Não à toa ela falou, no bate-papo com os interessados, após a apresentação, sobre os espíritos da arte, aludindo às muitas histórias que comporta um teatro secular como o Arthur Azevedo, merecidamente tido como um templo sagrado das artes. Ladeada por Webster Santos, que se revezou entre violões, bandolim e vocais, ao longo do show, ela lembrou também da importância de políticas públicas de cultura, como a bolsa Pixinguinha de Música, da Funarte, que permite momentos como este, com entrada franca.

Ceumar sobe ao palco descalça, “para se conectar melhor com a terra”, e começa pelas origens, com “Canção de Itanhandu” (Henrique Beltrão) e “Mãe” (Ceumar), para não esquecer e nos lembrar de onde vem. Vai ilustrando o show com memórias de acontecimentos marcantes de sua trajetória, alguns deles aprofundados durante a conversa posterior.

Os 35 anos ela conta não da estreia fonográfica, mas de quando se muda para Belo Horizonte e começa a ralar na noite. É nessa altura que conhece Zeca Baleiro, produtor de seu álbum de estreia, que lhe apresentou Webster Santos, o percussionista Luiz Cláudio (cujo pandeirão com vassourinhas é uma marca da sonoridade de Dindinha) e o cantor e compositor Josias Sobrinho, os convidados dos shows em São Luís.

Vai chamando um a um. Quando Webster entra, ouve-se ao longe o batuque de um bloco carnavalesco. Ele brinca: “eu sou baiano, combinei isso com eles”. O bom humor é uma das marcas da apresentação e da conversa.

Com os três no palco, um momento para celebrar Dindinha, desde à faixa-título, passando às composições de Josias gravadas por ela em sua estreia: o lelê “Rosa Maria”, com direito a dança dela e do autor, e a toada “As ‘perigosa’”, transformada numa balada em sua gravação.

Tal qual sua própria discografia, ao longo do show é difícil falar em ponto alto: Ceumar embevece a plateia sozinha, acompanhada e mesmo quando se projeta até a beira do palco e canta (e se faz acompanhar pelo público: “vocês lembram?”) à capela (e a gente canta junto o “Samba da utopia”, de Jonathan Silva).

Ceumar passeia pelo repertório de seus álbuns sempre ilustrando as canções com histórias. Por exemplo, “Achou!”, que deu título a seu álbum dividido com o violonista e compositor Dante Ozzetti. Ela ganhou a música dele e Luiz Tatit para participar de um festival da TV Cultura em que ficou com o segundo lugar.

Não faltaram “O seu olhar” (Arnaldo Antunes e Paulo Tatit), “Lá” (Péri), “Alguém total” (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), “Cantiga” (Zeca Baleiro), “Boi de haxixe” (Zeca Baleiro), “Galope rasante” (Zé Ramalho), “Encantos de sereia” (Osvaldo Borgez) e “Silencia” (Ceumar), entre outras. E ela ainda leu alguns poemas de Ainda (Mórula, 2024), primeiro livro póstumo do poeta Celso Borges (1959-2023). Quando deixou o palco, após cerca de duas horas de show, e anunciou a conversa com o público, este pediu bis. Ela voltou acompanhada dos convidados e caíram no canto e dança em “Engenho de flores” (Josias Sobrinho).

Hoje tem mais. Não sei se é o mesmo show (nunca é!) na íntegra ou se há modificações no repertório e agora me pego em dúvida se o “mais um” gritado pela plateia era a saideira cantada ontem ou o bis de hoje, um show inteiro. “Olha pro céu”, como o Luiz Gonzaga (parceria com José Fernandes) que ela gravou na estreia (mas não cantou ontem), que até São Pedro colaborou ontem e não é por qualquer coisa que se perde show de Ceumar. Ainda mais de graça. Obrigado por mais uma chance! Depois não digam que eu não avisei.

O reencontro de Ceumar com os maranhenses

A cantora e compositora Ceumar - foto: Isabelle Novaes/ divulgação
A cantora e compositora Ceumar – foto: Isabelle Novaes/ divulgação

Os caminhos da cantora e compositora Ceumar se cruzam com os de Webster Santos, Luiz Cláudio e Josias Sobrinho desde Dindinha (Atração, 1999), disco de estreia da mineira – o primeiro tocou cavaquinho, violão e bandolim em faixas do álbum; o segundo, percussão; e do terceiro ela gravou “As ‘perigosa’” e “Rosa Maria”.

Produzido pelo maranhense Zeca Baleiro – autor de “Cantiga”, “Boi de haxixe” e “Pecadinhos”, além da faixa-título –, foi seu nome e o de Josias, entre os autores, na contracapa, o que primeiro me chamou a atenção (depois da própria capa, é lógico) naquele álbum.

A história é por demais conhecida e eu mesmo já contei noutras ocasiões: lá pelo começo dos anos 2000, quando ainda existiam lojas de discos, eu saí do trabalho rumo à parada de ônibus e encostei em uma das que havia na Rua de Santana, no Centro de São Luís. Não conhecia Ceumar, mas não titubeei: saí dali com o cd em mãos e ao chegar em casa, botei para ouvir e não parei mais.

Paixão à primeira vista, paixão à primeira audição – reafirmada a cada álbum seu: Sempre Viva (Elo Music, 2003), Achou! (2006, com Dante Ozzetti), Meu Nome (Circus, 2009), Live In Amsterdam (2010), Silencia (Circus, 2014), Viola Perfumosa (Circus, 2018, com Lui Coimbra e Paulo Freire) e Espiral (Circus, 2019).

São Luís será testemunha de seu reencontro com os citados no início deste texto. Ceumar se apresenta hoje (25, às 19h) e amanhã (26, às 18h), no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), com entrada franca. As apresentações integram circulação com que a artista celebra seus 35 anos de música – contados não de sua estreia fonográfica, mas de quando começou a atuar na noite, vinda de sua Itanhandu natal para a capital mineira.

A circulação foi contemplada pelo edital Pixinguinha da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e, com ela, Ceumar chega ainda a Belém/PA e Belo Horizonte/MG. Quando do início das celebrações, este repórter conversou com Ceumar para o FAROFAFÁ. Releia a entrevista aqui.

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Serviço: show “Ceumar – 35 Anos de Música”. Hoje (25), às 19h, e amanhã (26), às 18h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro). Ingressos gratuitos – devem ser retirados na bilheteria do teatro, a partir de três horas antes do início do espetáculo.

O irrepreensível “Bolero de Célia” faz jus a bis

Célia Maria e o Regional Seis Por Meia Dúzia, ontem (29), no Miolo - foto: Guta Amabile
Célia Maria e o Regional Seis Por Meia Dúzia, ontem (29), no Miolo – foto: Guta Amabile

Não é possível chamar de outra coisa diferente de testemunhas privilegiadas a plateia do show “Bolero de Célia”, apresentado ontem (29), no Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, 100, Calhau). A cantora Célia Maria e o Regional Seis Por Meia Dúzia (que toma o nome emprestado de um choro de Luís Barcelos) proporcionaram ao ótimo público presente – todos os ingressos foram vendidos antecipadamente – uma noite de êxtase.

Tudo estava em seu devido lugar: Célia Maria em plena forma vocal, com seu bom humor característico, o grupo que a acompanhou, formado especialmente para a ocasião – Rui Mário (sanfona, arranjos e direção musical), Mano Lopes (violão sete cordas), Wendell de La Salles (bandolim), Gustavo Belan (cavaquinho), Gabriela Flor (percussão) e Chico Neis (violão sete cordas) –, a serviço do canto da estrela da noite, os convidados especiais Claudio Lima e Dicy, a escolha do repertório, o cenário (de Rivânio Almeida Santos), a impecável produção da RicoChoro Produções (leia-se os incansáveis Ricarte Almeida Santos e Danielle Assunção). Como disse e ouvi de alguns, ao fim da apresentação: nem uma microfoniazinha de nada para a gente ter alguma coisa do que reclamar.

“Sete ladrões que a polícia não prende”, me sopraram os amigos Targino e Neto – a eles e Maysa Pestana ofereço este texto –, ambos se valendo do jargão muito usado no meio musical: ladrão aqui é elogio, aquele que é muito bom, aquele que sabe tudo.

Célia Maria desfilou um repertório de sua intimidade – começou por “Ciúme”, de Antonio Vieira (1920-2009) –, passeando por seu álbum (o homônimo Célia Maria, de 2001) e seu EP (Canções e Paixões, de 2022), até aqui seus únicos registros fonográficos – pouco, para uma cantora de sua envergadura –, e clássicos da música brasileira, mas fez bonito também ao aventurar-se por novidades, como para ela era o caso de “Chorinho de Herança”, parceria de Chico Nô e Ricarte Almeida Santos que ela cantava pela primeira vez – a letra estava à sua frente, na estante, mas ela só consultou-a aqui e acolá, não cantou lendo.

O sexteto formado para acompanhá-la mescla maranhenses e adotados – Chico e Gabi são catarinenses, Belan é mineiro, Wendell potiguar – e friso suas origens tão somente para dizer do afeto recíproco deles pela terra que escolheram para viver e fazer música e esta não se aprende apenas no colégio, como já ensinava Noel Rosa (1910-1937): não é raro vê-los bebendo na fonte, em noites de São João ou qualquer experiência que vá tornar-lhes íntimos das polirritmias do bumba meu boi ou do tambor de crioula e da obra de Cesar Teixeira (para citar outro maranhense presente ao repertório de ontem) e outros mestres da música popular brasileira produzida aqui.

Ainda sobre o grupo, todos músicos extraordinários e referências em seus respectivos instrumentos, tocando sem exageros ou firulas, a serviço de emoldurar o canto de Célia Maria, não à toa alcunhada a voz de ouro do Maranhão – no que torna a martelar o juízo a pergunta retórica sobre o porquê de, a despeito de tanto talento, ser ainda menos conhecida e reconhecida do que merece e, apesar de ter circulado pelo eixo Rio-São Paulo em início de carreira e convivido com grandes nomes, nunca ter sido alçada ao sucesso nacional.

Mas a noite não era de lamentos e logo no começo do show ela contou orgulhosa que tinha ganhado de presente de Zeca Baleiro a música que dá nome ao show. Após o clássico “Manhã de Carnaval” (Luiz Bonfá e Antonio Maria), chamou Claudio Lima, primeiro convidado, ao palco. Juntos, cantaram “Lápis de Cor” (Cesar Teixeira); depois, ela perguntou se ele não gostaria de sentar-se para fazer “Loucura”, referindo-se ao clássico de Lupicínio Rodrigues (1914-1974), que ele cantaria sozinho na sequência. “Não, obrigado, eu gosto de fazer “Loucura” em pé”, respondeu, num alívio cômico que fez toda a plateia gargalhar.

Com minha esposa Guta Amabile, sentado à mesa do amigo Paulo Gilmar, também acompanhado de sua Marta, troquei com ele várias das impressões que trago para o presente texto. A meu lado, em outra mesa, um turista, deduzo, filmava, aplaudia, perguntava o título ou a autoria de determinada música, o que ia respondendo dentro das possibilidades de minha memória.

Em plena forma vocal, Célia Maria precisava de ajuda para levantar-se, mas ainda arriscou-se a uns passos de dança, já uma marca de suas apresentações, por exemplo em “A Pedra Rolou” (Antonio Vieira). “Eu estou com um problema no joelho”, desculpou-se com a plateia – mas dançou e inspirou alguns a também se jogar na pista.

Quando chegou a vez de Dicy também não faltou bom humor. Juntas cantaram – e botaram a plateia para cantar junto, pelo menos o refrão, “Só Pra Chatear” (Príncipe Pretinho), sucesso de Roberto Ribeiro (1940-1996).  Quando Dicy foi defender sozinha “Obrigado” (Eduardo Gudin), pediu uma cadeira, no que Célia mandou: “tu também tá com problema no joelho, minha filha?”, para gargalhada geral do público. “Não, é só para eu cantar mais perto dessa diva”. A admiração era mútua e Célia Maria agradeceu a oportunidade de conhecer Dicy.

Após clássicos como “Modinha” (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), “Azulão” (Jayme Ovalle e Manuel Bandeira), “O Morro Não Tem Vez” (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e “Chuvas de Verão” (Fernando Lobo), entre outras, Célia Maria ainda voltou a dançar em “Balança Pema” (Jorge Benjor), outra marca de suas apresentações.

Anunciado o fim do show, aos gritos de “mais um” da plateia, ela mandou ver “O Samba é Bom” (Antonio Vieira) e talvez aí finalmente a gente tenha achado algo para criticar no show. Mas no fundo sabemos que não seria justo reclamar de sua duração, também na medida. Então iniciamos ali mesmo o coro por um bis de “Bolero de Célia”, o show. Ou que a produção, nos moldes do saudoso Clube do Choro Recebe, com outros artistas e grupos, inscreva o acontecimento como um evento regular no calendário cultural da capital maranhense. A conferir. Expectativas foram criadas.

Célia Maria apresenta seu Bolero no Miolo, nesta sexta (29)

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A cantora Célia Maria - foto: Zeqroz Neto/ divulgação
A cantora Célia Maria – foto: Zeqroz Neto/ divulgação

A cantora Célia Maria adotou seu nome artístico para fugir da vigilância dos pais e conseguir cantar (escondida) em programas de auditório em rádios maranhenses. Nos anos 1960 circulou pelo eixo Rio-São Paulo e conviveu com figuras como Cartola (1908-1980), Nelson Cavaquinho (1911-1986), Zé Keti (1921-1999) e o conterrâneo João do Vale (1934-1996).

Considerada a voz de ouro da música do Maranhão, Célia Maria só viria a gravar um álbum, o homônimo Célia Maria, em 2001, com arranjos de Ubiratan Sousa, incluindo o choro “Milhões de Uns”, de Joãozinho Ribeiro, que angariou troféu no Prêmio Universidade FM daquele ano. Nada disso, no entanto, foi capaz de dar a ela o merecido reconhecimento: trata-se de uma das maiores cantoras brasileiras em qualquer tempo.

Só voltaria a gravar em 2022, por iniciativa de admiradores: lançou o EP Canções e Paixões (ouça acima), cujo repertório traz, entre outras, o “Bolero de Célia”, que Zeca Baleiro compôs especialmente para sua interpretação. É a música do conterrâneo que dá título ao show que a artista apresenta nesta sexta-feira (29), às 21h, no Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau).

Na apresentação, Célia Maria será acompanhada do Regional Seis Por Meia Dúzia (nome tomado emprestado de um choro de Luis Barcelos), que está longe de ser qualquer coisa ou mais ou menos, formado especialmente para a ocasião: Rui Mário (sanfona e direção musical), Wendell de La Salles (bandolim), Gustavo Belan (cavaquinho), Gabriela Flor (pandeiro), Chico Neis (violão) e Mano Lopes (violão sete cordas).

A noite contará ainda com as luxuosas participações especiais de Claudio Lima e Dicy. Os ingressos já estão esgotados. No repertório, além de canções de Célia Maria e Canções e Paixões, a que comparecem nomes como Antonio Maria (1921-1964), Antonio Vieira (1920-2009), Cesar Teixeira, Chico Buarque, Edu Lobo, Chico Maranhão e Luiz Bonfá (1922-2001), entre outros, além de um passeio por clássicos da música popular brasileira, com destaque para boleros, choros e sambas-canções.

“Bolero de Célia”, o show, tem produção de RicoChoro Produções e apoio cultural de Maxx, Potiguar, Gênesis Educacional, Bira do Pindaré, Pró Áudio e Turê.

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Serviço

O quê: show “Bolero de Célia”
Quem: Célia Maria e Regional Seis Por Meia Dúzia. Participações especiais de Claudio Lima e Dicy
Onde: Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau)
Quando: dia 29 (sexta-feira), às 21h
Quanto: ingressos esgotados
Produção: RicoChoro Produções
Apoio cultural: Maxx, Potiguar, Gênesis Educacional, Bira do Pindaré, Pró Áudio e Turê

“Você me abre seus braços/ E a gente faz um país”: as lições de Antonio Cicero (1945-2024)

O filósofo e poeta Antonio Cicero - foto: ABL/ divulgação
O filósofo e poeta Antonio Cicero – foto: ABL/ divulgação

A profusão de homenagens ao poeta, letrista e filósofo Antonio Cicero (1945-2024) é mais que merecida: qualquer brasileiro/a cantarola várias de suas letras, não raro sem saber que ele é o autor.

Antonio Cicero saiu de cena por vontade própria: recorreu ao suicídio assistido (eutanásia), ontem (23), na Suíça, onde a prática é legalizada. Para além de debates no campo religioso (reafirmou seu ateísmo na carta de despedida), optou por uma morte digna quando acreditou que o mal de Alzheimer já não lhe garantia uma vida idem.

Consciente até o fim, talvez seu gesto tenha tido uma intenção política. Mesmo que não, a discussão que se poderia/deveria abrir é justamente essa: o direito a uma morte digna quando a vida já não o é – ou quando assim for considerada.

Demoro a processar certas mortes. Antonio Cicero era imortal – da Academia Brasileira de Letras (ABL) – e parecia mesmo eterno, o que se comprovará ao continuarmos assobiando seu legado vivo.

A finitude também foi tema de suas criações, como por exemplo em “O Meu Sim” (parceria com a irmã Marina Lima, que a gravou): “quem sabe o fim não seja nada/ e a estrada seja tudo”.

Não faltaram, nas citadas homenagens, a escolha de letras de música e poemas prediletos, um exercício difícil, dado o volume e a qualidade da obra de um de nossos grandes criadores.

“Inverno” (parceria com Adriana Calcanhotto), “Holofotes” (com João Bosco e Waly Salomão), “O Circo” (com Orlando Moraes), “Maresia” (com Paulo Machado), “Dono do Pedaço” (com Gilberto Gil e Waly Salomão), “Os Ilhéus” (com José Miguel Wisnik), “O Último Romântico” (com Lulu Santos e Sérgio Souza), “À Francesa” (com Cláudio Zoli), “Acende o Crepúsculo”, “Fogo e Risco”, “Bobagens, Meu Filho, Bobagens”, “Pra Começar”, “Fullgás”  “Virgem” (com Marina Lima), nas vozes, respectivamente, de Adriana Calcanhotto, João Bosco, Maria Bethânia, Zeca Baleiro, Gilberto Gil, José Miguel Wisnik, Lulu Santos, Gal Costa, Ney Matogrosso e Caetano Veloso, além da própria Marina Lima, parceira primeira e maior, são alguns (poucos e) ótimos exemplos, entre tantos possíveis.

Não “guardei” o motivo pelo qual desperdicei a única chance que tive de conhecer Antonio Cicero pessoalmente: ele era uma das atrações da IX Feira do Livro de São Luís (2015), mesma edição que trouxe Marcelo Yuka (1965-2019) – que também não conheci –, sob curadoria do poeta Fernando Abreu, seu admirador confesso.

Festa beneficente, Guará Vibes acontece hoje, no Laborarte, com grande elenco

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Há cerca de 10 anos, pais e mães fundaram a Associação Educacional e Sociocultural Guará Mirim, mantenedora do jardim de infância homônimo (que este ano inaugurou sua primeira turma do ensino fundamental), que promove a educação baseada na pedagogia Waldorf, baseada na filosofia da educação do austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), fundador da antroposofia.

O objetivo da citada pedagogia é formar seres livres e conscientes em um mundo tão complexo, o que começa na garantia do direito da criança brincar, ser feliz e experimentar o mundo com respeito.

A associação busca atualmente sua regularização junto aos órgãos e autoridades competentes da Educação brasileira (ministério, secretarias, conselhos etc.), um processo que não é rápido, nem barato.

Pais e mães têm se doado na busca de uma educação adequada para seus filhos. A busca de recursos para o citado objetivo envolve outras ações permanentes. Para quem não compreende: não se trata de botar o carro na frente dos bois. Instituições de ensino são fundadas e depois regularizadas (como estudante e, à época funcionário, acompanhei, por exemplo, o processo de regularização da então Faculdade São Luís – hoje Estácio – junto ao MEC).

Mas nem só de trabalho, burocracia e criar/educar os filhos, vivem os homens e as mulheres: hoje (19), a partir das 17h, acontece a festa beneficente Guará Vibes, no Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão, o Laborarte (Rua Jansen Müller, 42, Centro). As atrações são os djs Joaquim Zion e Otávio Rodrigues, o Doctor Reggae, a cantora Dicy e o grupo Forró do Mel. Os ingressos custam R$ 30,00 e o valor arrecadado será inteiramente dedicado ao citado processo.

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No Timbira Cult de ontem (18), na Rádio Timbira FM (95,5), Gisa Franco conversou com as produtoras culturais Raquel Gonçalves e Soraia Sales Dornelles, e a cantora Dicy, mães de estudantes e ex-estudantes do Jardim Guará Mirim. Assista: