



TEXTO: ZEMA RIBEIRO
FOTOS: ROSANA BARROS
A não ser diante de uma impossibilidade real e incontornável, nunca me nego a conversar com estudantes de jornalismo. Por isso disse sim ao convite recebido do Simpósio de Comunicação da Região Tocantina, que este ano chegou à maioridade.
Com as credenciais da Rádio Timbira FM e Farofafá, dividi a mesa de abertura do evento, “Desafios da produção de conteúdo no jornalismo cultural e independente”, na noite do último dia 11 de dezembro, com os colegas Inácio França (Marco Zero Conteúdo) e Helena Dias (Brasil de Fato Pernambuco).
Falamos para um auditório com bom público, formado por estudantes, professores, profissionais e curiosos em geral. O clima era o melhor possível. Todos saímos impressionados com o evento: grande, organizado, simpático e acolhedor. E se atribuo tais adjetivos ao Simcom, este os deve a todas as pessoas envolvidas com sua produção e organização, a quem saúdo através do casal Alexandre Maciel e Yara Medeiros, professores do curso, sul-mato-grossenses que adotaram o Maranhão como casa e logo se tornaram amigos de infância (não foram os únicos).
Marcus Túlio, Duda, Gustavo, cada professor/a ou aluno/a que travou contato comigo desde o convite, foi sempre super gentil, educado/a, atencioso/a, simpático/a, o que não deve ser tarefa fácil, dada a magnitude do evento. Senti-me em casa, o tempo inteiro, da efígie grafitada (não consegui identificar a autoria, mas terei o maior prazer em editar este texto dando o devido crédito) do professor Sérgio Ferretti (1937-2018), logo na entrada do campus às indicações e companhias para almoços e jantares.
Foram dois dias de muitas trocas e aprendizados. De gaiato, assisti à oficina ministrada por Inácio França, sobre produção de conteúdo para a internet, em que ele trouxe sua experiência de fundador da Marco Zero, reforçando a importância de um jornalismo independente, que pode ser feito em qualquer lugar, com o barateamento dos custos proporcionado pelas novas tecnologias – não há mais as despesas com distribuição, por exemplo, como à época dos jornais impressos, quando começamos.
Na turma, num exercício prático de troca de histórias, que seriam ouvidas e contadas por seu interlocutor, conheci a surpreendente e bonita história de seu Francisco, vítima de paralisia infantil que hoje cursa o quarto período de Jornalismo, e Radassa, que se divide entre a família e os cuidados com o amigo que conheceu no ensino médio – enquanto ela, mais jovem, não se decide pelo curso que irá fazer, já assiste algumas disciplinas de Comunicação como ouvinte, acompanhando o amigo.
A mesa de abertura, mediada por Alexandre, foi bastante participativa. O bloco final de perguntas juntou não sei quantas delas e havia disposição dos que ali estavam para mais, o que demonstra a relevância dos temas propostos. Um desafio comum apontado por nós três é a questão do dinheiro: fontes de financiamento, o custo de se fazer um jornalismo sério, responsável, comprometido com a informação de qualidade e correta. Outros foram servidos pela plateia, entre o desafio e a oportunidade: inteligência artificial, redes sociais, a pauta cultural e sua relação com outras editorias, entre outros.
Otimista incorrigível, banquei o pessimista, ainda que este não supere àquele, em mim. Além da grana, ou melhor, da falta dela, a algoritmização da vida é um desafio, porque sabemos que os algoritmos servem a uma monocultura e o papel do jornalismo como um todo, e particularmente o cultural, é justamente promover a diversidade. Nesse sentido, o jornalismo cultural tem, hoje, um papel curatorial.
Além de fazer amigos, foi também a oportunidade de conhecer pessoalmente gente que eu só conhecia das redes sociais (Dhara Inácio e Rosiane Stefane) e de revê-los: casos dos fotógrafos Daniel Sena e Rosana Barros, dos professores Letícia Cardoso (com quem me encontrei já no aeroporto, para pegar o voo de ida), Ricardo Alvarenga e Marcos Fábio (que ministrou disciplinas de redação em minha graduação), da poeta Lília Diniz, que aqueceu o público com sua apresentação de poesia e coco antecedendo a mesa, e do cantor e compositor Erasmo Dibell, que se apresentou (com o também talentoso Washington Brasil) na tarde do Publisimcom, o evento (dentro do evento) de publicações de livros. Trouxe na bagagem o “Curacanga”, de João Marcos – na graduação, ele me entrevistou para um trabalho acadêmico; hoje aluno do Mestrado, ele pesquisa livros-reportagens, com foco nos trabalhos da jornalista Andréa Oliveira sobre João do Vale (1934-1996) e o bumba meu boi. Instiguei-o a lançar o novo livro em São Luís, ano que vem.
E mesmo as amigas que não revi, era possível sentir sua presença. De certo modo e à distância, acompanhei as graduações de Mariana Castro e Lanna Luiza. Da primeira, ao mencionar seu nome, ouvi um elogioso “ela é babado!” de uma estudante; da segunda, a quem devo o contato e o convite recebido, lembrei-me imediatamente de suas aventuras com o Zine Sibita, que, sagitariano como eu (se não fosse, tornou-se), neste dezembro completou 10 anos, com direito a uma sala, bolo e parabéns, e, ao mesmo tempo que voltava a ser editado em corte-e-cola, já era também site e tv no youtube (para onde cheguei a ser entrevistado por ocasião desta passagem que aqui relato brevemente). Na bagagem trouxe uma ecobag (e ganhei o avatar da Idayane Ferreira, quem me segue nas redes sociais verá) desta importante iniciativa que este ano ganhou o prêmio de melhor Design de Imprensa na Expocom Nordeste, em Natal/RN.
Uma das perguntas desta entrevista eram as três principais razões pelas quais fazer ou continuar fazendo jornalismo: paixão/tesão (gostar do e viver o que se faz é importante), compromisso (com a informação de qualidade e com quem lê/ou/vê) e teimosia (fazer jornalismo apesar de tudo).
Foi animador ver o envolvimento de professores/as e alunos/as, empenhados para que tudo desse certo. Mesmo não ficando o evento inteiro, por força de compromissos outros, foi gratificante constatar que tal grau de engajamento atingiu seus objetivos: deu tudo certo. Fiquei feliz de vi/ver tudo o que vi/vi e espero voltar em breve. Vida longa ao Simcom!


























