Trapixixita

É certeira a afirmação do músico Chico Nô em e-mail recebido pelo blogue, ao classificar a Tribo do Pixixita, que completa nove edições hoje, como “uma mostra da música maranhense contemporânea”, ele um dos discípulos do homenageado, o evento já cravado no calendário musicultural da Ilha.

Tribo é corruptela de tributo a este “artista quase sem obra”, conforme me confidenciou Nelsinho Martins, filho de José Carlos Martins, o Pixixita. “Ele era sobretudo um cara que gostava de brincar, de música e de ser amigo. Gostava de tocar sem compromisso, tipo, no teu quintal, numa farra; se tu chamasse ele pro palco, pra tocar no teu show, aí ele já ficava envergonhado, era muito tímido”, lembra o professor de capoeira do Laborarte.

Um time de bambas de primeira linha da música produzida hoje no Maranhão ocupará o Trapiche Bar, na Ponta d’Areia, mesmo em caso de chuva, a partir das 21h: Ângela Gullar, Célia Leite, Chico Maranhão, Criolina, Dicy Rocha, Erivaldo Gomes, Gerude, Instrumental Pixinguinha, João Madson, Nosly, Rosa Reis, Tutuca e Zé Maria Medeiros, além do citado Chico Nô e dos poetas Celso Borges, Moisés Nobre e Paulo Melo Sousa. Direto de São Paulo, o maranhense de Cururupu Tião Carvalho fará o show de encerramento da noite. Mas certamente muitos artistas não anunciados devem dar o ar da graça e arte nesta noite que promete.

Engenheiro civil de formação, Pixixita teve na música sua grande paixão: figura querida por quantos o conheceram, foi professor da Escola de Música do Maranhão. Falecido em 2002, tem sido lembrado anualmente por esta festa que cresce a cada edição. Os ingressos custam apenas R$ 20,00 e podem ser adquiridos no local. Abaixo, alguns momentos da edição de 2009, pra você entrar no clima, sacar qual é e ter desperto o desejo de pintar por lá mais tarde:

Achados e perdidos

Encontro de Chicos: Maranhão (E) diz algo a Saldanha (D), observadouvido por Ricarte Almeida Santos (C)

8 de dezembro de 2007. Véspera do aniversário de 40 anos de Ricarte Almeida Santos. Na ocasião, o produtor e mestre de cerimônias oficial do saudoso Clube do Choro Recebe, seria homenageado com a primeira audição pública de Chorinho de herança (letra dele musicada por Chico Nô): Lena Machado havia gravado a música às pressas, na casa de Paulo Trabulsi, em uma primeira versão que alcançou relativo sucesso, chegando inclusive a tocar na Rádio Universidade FM.

Anos depois, a música ganharia nova roupagem na gravação que a cantora faria em seu festejado Samba de Minha Aldeia (2010): “É de vinil/ é de vinil/ este chorinho que herdei de pai”, diz o início da letra.

A edição em que a imagem acima foi captada (cujos créditos do fotógrafo não dou por não ter: Pedro Araújo? Ivo Segura? a própria Lena Machado?) é de uma das raras do longevo projeto que perdi. Tinha como grupo anfitrião o Urubu Malandro e como convidado seu ilustre integrante: Mestre Antonio Vieira (voz, percussão).

Uma imagem vale mais que mil palavras e só postar essa foto histórica aí bastaria, sem carecer explicá-la ou mesmo tentar adivinhar o que Maranhão dizia a Saldanha (ou Ricarte ou um deles lembra ou a curiosidade permanecerá), mas uma coisa puxa a outra e, ó a ligação: Trabulsi, então com apenas 17 anos, Vieira e Saldanha, então integrantes do Regional Tira-Teima (outro grupo que muito desfilou talentos no palco do Bar Chico Canhoto, que abrigava o Clube do Choro Recebe), tocaram em Lances de Agora (1978), um disco fundamental de Chico Maranhão.

Achei a foto cascavilhando uns arquivos, à procura de um retrato de Léo Spirro, um dos artistas que deram canja naquela noite, para o material de divulgação da próxima edição de Outros 400, de Joãozinho Ribeiro.

Enviei-a por e-mail aos retratados e a mais alguns poucos amigos, incluindo o professor Flávio Reis, que recentemente escreveu o artigo-fagulha Antes da MPM, publicado no Vias de Fato e orgulhosamente reproduzido por este blogue.

O texto tem dado alguns nós na cabeça de muita “gente boa, gente doida”, entre os quais os dissertandos Ricarte e Alberto Jr. e o monografando que vos bafeja (é, vêm aí alguns trabalhos para jogar lenha na fogueira das discussões sobre música, cultura popular, Maranhão e outros lances, de agora e sempre). Achados e perdidos, outros virão.