Cinema grátis e de qualidade

O cineasta Beto Matuck conversou rapidamente com este blogue sobre o Encontro com Cinema, que ele promove aos sábados, no Chico Discos

Há cerca de um mês outra atividade semanal começou a tomar conta do espaço do Chico Discos. Às quintas-feiras, desde novembro de 2010, sob coordenação do poeta e jornalista Paulo Melo Sousa, o Papoético tem realizado debates sobre os mais variados temas ligados à arte e cultura; desde o início deste março que finda amanhã, o cineasta Beto Matuck tem promovido o Encontro com Cinema, sempre aos sábados, às 19h.

Ambos os eventos têm entrada franca e mostram, por um lado, a carência ludovicense por estes acontecimentos, e por outro o fazer na raça de pessoas que, por quererem ver as coisas acontecendo, não esperam bons ventos: promovem, com chuva, sol ou lua, sem grana (por vezes tirando do próprio bolso – sem contar “no da cachaça”, que já sai quase naturalmente), sem esperar pelo apoio do poder público e/ou iniciativa privada.

“A gente faz as coisas do jeito que pode. É da doação de um aqui, de outro acolá. O Beto [Matuck], por exemplo, doou este telão”, Paulo Melo Sousa aponta o espaço de projeção do bar, usado aos sábados e, vez por outra, às quintas. Paulão, como é conhecido, e Chiquinho, proprietário do bar, lançaram, também na raça, o I Festival de Poesia do Papoético – Prêmio Maranhão Sobrinho, que distribuirá prêmios em dinheiro e literatura a novos poetas, daqui e/ou de fora.

Neste sábado (31), o Encontro com Cinema exibirá O espelho [Zerkalo, Rússia, 1975. Drama, 101min.], de Andrei Tarkovski, cuja sinopse resume: “Um homem em seus últimos dias de vida relembra o passado. Entre as memórias pessoais da infância e adolescência, da mãe, da Segunda Guerra Mundial e de um doloroso divórcio, estão também momentos que contam a história da Rússia numa mistura de flashbacks, tomadas históricas e poesia original”. O diretor usa poemas de seu pai, Arseni Tarkovski, no fechamento das cenas.

Autor do documentário Mané Rabo, que retrata a vida de um cantador do boi de costa de mão de Cururupu, Beto Matuck respondeu as perguntas abaixo, que lhe foram enviadas por e-mail.

O cineasta Beto Matuck em ação
ZEMA RIBEIRO – De onde surgiu a ideia do Encontro com Cinema? Podemos dizer que se trata de um cineclube?
BETO MATUCK
– Não se trata de um cineclube. A ideia surgiu da necessidade de podermos assistir e discutir cinema e outras artes de maneira descontraída. Além de realizar filmes, eu sempre tive muito interesse pela exibição. Chico, o proprietário do espaço, como todos os amigos sabem, é um apaixonado por cinema e abriu o seu espaço para as nossas ideias.

A seleção dos filmes é tua? Está aberta a sugestões? A programação dos filmes é de minha responsabilidade, foi feita uma lista para o ano todo, mas nada impede de exibirmos contribuições de amigos, considerando a importância estética dos filmes.

Quem assume as pick-ups e faz rolar a música do mundo após as sessões? O som é responsabilidade do [poeta e jornalista] Eduardo Júlio, que faz uma pesquisa e apresenta música fora do circuito comercial – música do mundo. Não queremos personificar o encontro, queremos juntar forças para que muito mais aconteça em São Luís, tão carente de cultura mundial.

A coisa acontece nos moldes do Papoético, isto é, há debates sobre os filmes exibidos, ou a proposta é outra? Não há debates após as exibições, é filme e muita conversa enriquecedora.

Chico Discos: um bar

Ao contrário do que muita gente é induzida a pensar o Chico Discos é um bar. Explico: quem diz isso é o próprio Francisco de Assis Leitão Barbosa, o Chiquinho, seu proprietário, em entrevista ao jornal Vias de Fato, em sua edição de março, que saiu da gráfica quinta-feira passada (22).

Uma entrevista hilária concedida ao colega de redação, copo & alma Emílio Azevedo, nosso redator-chefe, editor, gerente e quantas outras funções “a dor e a delícia” de parir este jornal às ruas mês após mês exigirem.

Chico, desde antes de eu conhecê-lo, e já se vão mais de 12 anos, ele uma dessas amizades qual uísque, que melhoram com o passar dos tempos, sempre foi, como este blogueiro, “um homem de vícios antigos”, sempre comprando muitos discos, livros e dvds. Não raro nos encontrávamos no saudoso Bar de Seu Adalberto, um dos “bares pequenos” que ele cita na entrevista e onde costumávamos beber (e onde A vida é uma festa começou), cada qual com uma sacola debaixo do braço num doce e saudável exercício de fazer inveja um ao outro, exibindo mutuamente nossas mais recentes aquisições literárias, musicais, cinematográficas, afetivas, enfim.

Chico diz que seu bar, localizado no segundo andar de um casarão na esquina das ruas Treze de Maio e Afogados, no centro de São Luís, não passa disso: um bar. Nega as charmosas denominações de “centro cultural”, “casa de eventos” e outras pomposas honrarias. O fato é que ele começou vendendo livros e discos usados e locando dvds, atividade que abandonou em sequência. Hoje em dia vende cervejas, cachaças e outros alcoóis, petiscos, tira-gostos e o que mais nós, chegados a um grogue, tanto gostamos.

Quinta-feira passada (22) estive lá. Participando do Papoético, que acontece semanalmente, sob organização de Paulo Melo Sousa, o primeiro à esquerda, na foto acima, feita a meu pedido por Andréa Oliveira, esposa de Celso Borges, o terceiro. O segundo sou este que vos tecla e o quarto o músico André Lucap, que na semana anterior iniciou uma temporada de shows no bar.

Preciso deixar a cretinice e a preguiça de lado e aparecer mais no Chico Discos, bar em que, ao lado do Bar do Léo, sinto-me bastante à vontade, em casa mesmo. No Papoético em que a foto que ilustra este post foi feita acontecia o lançamento da Campanha Estadual de Combate à Tortura, da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) e outras entidades do Comitê Estadual de Combate à Tortura.

Além do Papoético (às quintas, 19h30min, grátis) e da temporada de Lucap (uma sexta-feira por mês, R$ 10,00 o ingresso; este blogue avisará da próxima edição e seu autor estará na plateia), também o cineasta Beto Matuck tem organizado aos sábados (19h, grátis) a sessão Encontro com Cinema, seguida de música, com pesquisa de Eduardo Júlio (eles não estão na foto, mas também encontrei ambos, quinta passada).

Finalizo recomendando a leitura da entrevista, hilária, repito, de Chiquinho, no Vias de Fato, já nas bancas, que traz ainda dois textos meus, já publicados aqui e aqui.

Cine Chico

Há quase ano e meio o poeta Paulo Melo Sousa, mais conhecido como Paulão, resolveu reunir pessoas e temas interessantes e bater papo. Em novembro de 2010 surgia o Papoético, num endereço anterior do Chico Discos, o charmoso misto de sebo e bar do Chiquinho, cabra de bom gosto, figura que também aprecia uma boa conversa e boa bebida, sobretudo se for para falar de cinema, música e literatura, suas, nossas paixões.

O Papoético, hoje consolidado, sucesso absoluto de público, vem a cada quinta-feira instigando cabeças a passear pelos mais diversos assuntos. Tenho aparecido pouco, mas confesso que é sempre um espaço superagradável.

O debate-papo semanal recentemente lançou seu 1º. Festival de Poesia, tendo por patrono o poeta Maranhão Sobrinho, cujo edital e regulamento podem ser acessados na aba [PAPOÉTICO] deste blogue, aí por cima.

Mas não é do Papoético que quero falar. Desde sábado passado outra tertúlia está também agitando o Chico Discos. Trata-se do Encontro com Cinema, cujo e-mail de divulgação recebi do cineasta Beto Matuck, diretor de Mané Rabo. A ideia é a seguinte: às 19h exibe-se um filme (sábado agora, dia 10, é Medeia, de Lars Von Trier) e na sequência a “música do mundo” toma conta do lugar.

Desserviço – Não tenho mais informações nem fui atrás. Não sei por exemplo se o dj é o próprio Chiquinho e se a curadoria cinematográfica (suponho que a cargo do próprio Matuck) está aberta a sugestões do público. O grande lance é chegar lá e se inteirar.

Implosão das certezas

Como você poderia descrever essa obra? É uma junção de textos de combate, fruto de debates em que me meti na última década, principalmente crítica de autores nossos ou da realidade local, mas como é uma reunião ampla comporta também cinema marginal e até psicanálise. Gosto de pensar nesse livro como pequena caixa de bombons venenosos.

E o que o leitor poderá encontrar em seu livro? Raiva, indignação, avacalhação, mas também beleza e uma pitada de humor. Penso que só misturando esses elementos conseguiremos olhar para além dos lugares comuns da história do Maranhão. Aqui, acima de tudo, as pessoas se levam muito a sério, mesmo os mais bobos e ignorantes pensam sempre que estão dizendo a coisa mais importante do mundo, uma mostra do faz de conta em que vivemos mergulhados.

São artigos incisivos, questionadores e, acima de tudo, críticos. Na sua percepção está em falta essa visão questionadora dos fatos? A crítica está devendo em todo lugar, o pensamento há muito vem a reboque dos acontecimentos, mas aqui no Maranhão acho ainda mais grave, pois no fundo atravessamos o século XX como que anestesiados, cultuando um passado fantasmagórico. Hoje, apesar da manutenção deste padrão repetitivo e vazio, comandado principalmente pelos principais veículos de comunicação, é possível ver alguma disposição e condição de crítica numa outra geração que não reza pela cartilha dos velhos atenienses da Academia de Letras, nem se submete aos cânones estéreis do pensamento universitário. É fugindo desses dois horrores que tento respirar, atacando a linguagem publicitária que hoje dá a forma e o tom de todos os discursos.

Os seus textos falam de música, literatura, cidades, política. O que mais fervilha nessa sua mente criativa? Odeio a especialização e o pensamento “de especialista”, que é uma coisa catalogada. Aprendi cedo que o impulso criativo e a provocação mais interessante são fruto da mistura e da transgressão, nunca do respeito a cânones. Para fugir da camisa de força entrei numa aventura de implosão das certezas, que foi a implosão do campo de conhecimento. O blábláblá mais comum da universidade não me interessa mais há muito tempo.

*

Flávio Reis em entrevista a Patrícia Cunha nO Imparcial de hoje [Impar, p. 1], quando, às 19h30min, ele lança Guerrilhas no Papoético (Chico Discos, também conhecido como Sebo do Chiquinho, Rua Treze de Maio, 389-A, esquina com Afogados, sobre o Banco Bonsucesso). Entrada franca, o livro custa apenas R$ 20,00.

Flávio Reis lança Guerrilhas no Papoético

Livro reúne 20 textos que o cientista político e professor da UFMA publicou em jornais de São Luís nos últimos dez anos

(A arte do convite e o texto são da assessoria do evento)

Guerrilhas [Pitomba!/ Vias de Fato, 2012] aborda de forma contundente assuntos da área de política, história, música, cinema e psicanálise, entre outros. O livro abre com a polêmica sobre a fundação de São Luís, tema de cinco artigos de Flávio Reis, que é cientista político e professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão. O autor escreveu também Cenas Marginais (2005) e Grupos Políticos e Estrutura Oligárquica no Maranhão (2007).

Guerrilhas é um pequeno livro que nos ajuda a pensar o Maranhão, a entender por que chegamos até aqui do jeito que chegamos. No cerne de cada questão abordada está a luta contra o modo de pensar da classe dominante, que impõe a sua história, ora idealizada, ora subjugando o pensamento discordante”, afirma o poeta Celso Borges no prefácio do trabalho.

Na área de política, Guerrilhas ressuscita assuntos fadados ao silêncio, como o momento obscuro da política maranhense, nos anos 20 do século passado. Com base no livro Neurose do Medo (Nascimento de Moraes, 1923), resgata uma história com direito a governador neurótico, juiz arruaceiro, assassinato e suicídio. Quase 100 anos depois, mais um capítulo da política maranhense também é comentado pelo cientista, no artigo O Nó-Cego da Política Maranhense, que fala sobre a troca de governadores do estado, decidida pelo TSE em 2009.

O livro traz três artigos sobre cinema, abordando o radicalismo da estética marginal, dos anos 70; a obra do cineasta Frederico Machado, com destaque para o filme, Litania da Velha; e um olhar sobre Nietzsche em Turim, do diretor Júlio Bressane, um texto que vê o nascimento da loucura de um dos pensadores mais radicais do ocidente.

Na área de literatura, Guerrilhas se debruça sobre A Saga do Monstro Souza, de Bruno Azevêdo e Gabriel Girnos. Flávio Reis acompanha a trajetória do personagem principal, um cachorro-quente serial killer, inserindo colagens e notícias de jornais retiradas do próprio livro de Bruno e Gabriel. O artigo é uma busca obsessiva pela São Luís real e não aquela idealizada em campanhas publicitárias para atrair turistas.

A música está presente em Guerrilhas no texto Antes da MPM. O assunto trazido à tona é o debate sobre o que vem a ser realmente música popular maranhense, o termo MPM, ou a invenção dele. O autor sabe que esta “é uma questão complicada, que não comporta respostas fáceis”.

Serviço

Guerrilhas > Livro de Flávio Reis > Lançamento dia 16 de fevereiro (quinta-feira), às 19h30min > Local: PapoéticoChico Discos (Sebo do Chiquinho, Rua São João, 389, esquina com Afogados, sobre o Banco Bonsucesso) > Entrada franca > O livro custa apenas R$ 20,00.

Curta Sampaio!

Quem acompanha este blogue sabe o quanto sou fã de Sérgio Sampaio.

Nem preciso dizer nada. A não ser agradecer a Ademir Assunção, que já disse.

Guerrilhas, novo livro de Flávio Reis

Este blogue dá em primeira mão. Antes, o prefácio:

OUTRA HISTÓRIA
Celso Borges*

Cada um luta com a arma que pode, com a arma que tem. A de Flávio Reis está na cabeça, no pensamento, na palavra. Afiada e lúcida, perpassa vários campos nesses 20 textos de Guerrilhas, em sua maioria publicada em jornais de São Luís nos últimos anos. Um pequeno livro que nos ajuda a pensar o Maranhão, a entender por que chegamos até aqui do jeito que chegamos. No cerne de cada questão abordada está a luta contra o modo de pensar da classe dominante, que impõe a sua história, ora idealizada, ora subjugando o pensamento discordante.

O livro abre com a polêmica sobre a fundação de São Luís. Cinco artigos desconstruindo o discurso oficial, que prefere idealizar a fundação da cidade pelos franceses, em lugar dos portugueses “bárbaros”. Um discurso que privilegia a filiação distinta de Daniel de La Touche, o fidalgo francês, Senhor de La Ravardière, em substituição a Jerônimo de Albuquerque, que nem português era, um mestiço do sertão. Analisando o debate em torno do nosso “mito fundador”, o autor afirma que a argumentação da maioria dos intelectuais e historiadores, sedimentada a partir do início do século 20, é resultado de uma visão narcísica que busca esconder uma história de violência e miséria em nome de um passado glorioso.

Guerrilhas ressuscita também assuntos fadados ao silêncio, como o momento obscuro da política maranhense, nos anos 20 do século passado. Com base no livro Neurose do Medo (Nascimento de Moraes, 1923), resgata uma história com direito a governador neurótico, juiz arruaceiro, assassinato e suicídio. Um verdadeiro circo de horrores, retrato da república em terra tupiniquim.

Quase 100 anos depois, mais um capítulo da barbárie política do Maranhão é revisto, agora sobre a troca de governadores do estado, decidida pelo TSE em 2009 (“O Nó-Cego da Política Maranhense”). Aqui ele aponta o dedo aos que sempre estão posando para a foto no baile dos vencedores. Mais adiante, no artigo em que saúda o primeiro aniversário do jornal Vias de Fato, (“Vias de Fato: um ano memorável”), retrata onde estamos metidos, imersos num jornalismo distante da comunidade, ressonando uma estrutura apodrecida.

Os primeiros nove textos de Guerrilhas são, portanto, uma radiografia de como a estrutura política dos últimos 100 anos nos obrigou a ler o Maranhão à sua maneira. Em seguida, o autor escreve sobre a violência urbana. E o Maranhão está ali também, como um “estado onde a moldura do poder oligárquico conseguiu atravessar o século sem grandes alterações, as polícias militar e civil sempre estiveram perpassadas por interesses políticos e prontas a se submeterem às vinganças privadas que passam ao largo do sistema judiciário.” (“Crime e Cinismo”).

Mais à frente, em artigo sobre “Litania da Vela”, poema de Arlete Nogueira da Cruz, toma por referência o filósofo Walter Benjamin e encara o poema como “ladainha do fim dos tempos modernos”. Poema do grotesco, prenúncio da nova barbárie, faz a descrição crua da miséria de uma velha na ‘cidade que se desfaz em salitre’. É a deixa para a retomada do primeiro assunto do livro. Como um boi triste e furioso, o autor continua ruminando o mito da fundação da cidade, tema que perpassa todo o livro. Nasce aí, talvez, o mais importante texto da coletânea: “A Saga do Monstro Souza”, sobre a obra de Bruno Azevêdo e Gabriel Girnos.

Nesta análise, consolida algo que me parece fundamental em Guerrilhas, um desejo de recontar a história numa busca obsessiva pela cidade real, não a de azulejinhos e boizinhos de butique, embalagem ideal para os turistas de pacote e o desenvolvimento de campanhas publicitárias, que alimentam a insossa cultura do elogio. Um Não à “Ó minha cidade, deixa-me viver…”, de Bandeira Tribuzi ou à Ilha Magnética de César Nascimento, mas um viva a São Luís de “Eh, Ponta D’areia, há muito tempo que eu não te vejo”, de Chico Maranhão. Flávio acompanha a trajetória do personagem principal, um cachorro-quente serial killer, inserindo colagens e notícias de jornais retiradas do próprio livro de Bruno e Gabriel.

A discussão sobre identidade reaparece através da música. O assunto trazido à tona é o debate sobre o que vem a ser realmente música popular maranhense, o termo MPM, ou a invenção dele. O texto é apenas a ponta de iceberg de um debate complexo e extenso. O autor sabe que esta “é uma questão complicada, que não comporta respostas fáceis”. Talvez tenha esquecido de destacar no bolo de influências de alguns compositores da tal MPM o reggae, que divide com o bumba-boi, o prato preferido desses artistas, de 1978 a 1998. Afinal, aquilo que se fez com o boi, tirando-o do terreiro para dentro dos estúdios (leia-se Papete e compositores do Bandeira de Aço), aconteceu também com o reggae, retirado dos salões para o sucesso das rádios (leia-se Beto Pereira, Mano Borges, César Nascimento, etc).

Da música para o cinema. Dos três artigos destaco “Marginal Sim, e por que não? Babaloo, Babilônia, Brasil”. Defesa enfática do cinema marginal, produzido no Brasil nos primeiros anos da década de 70, enaltecendo a postura dessa geração, que continuou com a câmera livre do cinema novo, mas sem as amarras deste: “de certa forma radicalizavam o mergulho no subdesenvolvimento preconizado anos antes por Gláuber Rocha, faziam a escancaração da barbárie sem a carapaça política e o sentido de missão”.

Os textos sobre cinema mostram uma opção clara pela radicalidade, com exceção da análise que faz sobre a filmografia do maranhense Frederico Machado, em que é mais ponderado. No olhar sobre “Nietzsche em Turim”, de Júlio Bressane, acompanha os passos-imagens do filósofo alemão enquanto a loucura toma sua alma. Um texto que vê o nascimento da loucura de um dos pensadores mais radicais do ocidente.

De Nietzsche para Lacan, Freud e companhia: recalque, desejo, angústia e pulsão. Dois artigos, dois peixes fora d’água, dois peixes dentro do mar da existência, o doloroso mundo da psicanálise. Talvez Flávio pudesse deixá-los de fora, mas como evitar a vida fora da arte?

*Celso Borges é autor de oito livros de poesia, entre eles “Pelo Avesso”, “Persona Non Grata”, “NRA”, “Música” e “Belle Époque”.

&

Baixe agora!

2011 foi o ano em que conheci pessoalmente o desde antes e sempre admirado Flávio Reis. Entre as muitas lacunas em minha formação, uma delas certamente é não ter sido seu aluno. No entanto, tenho aprendido um bocado com seu convívio, nas reuniões do conselho editorial do jornal Vias de Fato, do qual “nosso mestre”, como o chamamos eu e Emílio Azevedo, é grande entusiasta.

Autor de Cenas Marginais (2005) e Grupos Políticos e Estrutura Oligárquica no Maranhão (2007), ambos editados às próprias custas s/a, o professor da UFMA agora bota na rua o bloco de Guerrilhas, “reunião de artigos escritos na última década, quase todos publicados na imprensa local, reeditados com pequenas correções”, cujo prefácio acima bem resume.

O livro “ainda não foi impresso, mas será” e o lançamento acontecerá em janeiro, detalhes o blogue dará em momento oportuno, antecipando que trata-se de uma publicação que envolve esforços do próprio Flávio Reis (às próprias custas s/a, ibidem), da editora Pitomba! e do jornal Vias de Fato, cujos selos comparecem à obra. Antes do lançamento os poucos mas fieis leitores deste blogue já podem baixar o pdf: Guerrilhas.

Cultura em 2011

Aos 45 do segundo tempo, às vésperas do fechamento da edição de dezembro do Vias de Fato (nº. 27, capa acima, ora nas melhores bancas da Ilha), inventei de fazer uma retrospectiva cultural. No último dia 12 encaminhei a uma pá de agentes culturais um e-mail com a seguinte pergunta: “Para o bem ou para o mal, no campo cultural, o que você destacaria numa retrospectiva particular do ano que se encerra?”.

Alguns responderam, outros não; outros ainda o fizeram depois do fechamento do jornal. O blogue traz abaixo um mix do que saiu na edição impressa do mensal com respostas que chegaram depois à caixa de e-mails do blogueiro (os depoimentos em itálico só aparecem acá).

RETROSPECTIVA CULTURAL

O jornal Vias de Fato traz aos leitores uma retrospectiva construída a muitas mãos – a coletividade uma característica da publicação. Veja o que diversos agentes culturais destacaram entre os acontecimentos do ano que se encerra

ZEMA RIBEIRO

Ano em que o mensal Vias de Fato completou dois de circulação ininterrupta – apesar de todas as dificuldades – e véspera do quarto centenário da capital maranhense – há controvérsias – 2011 foi marcado por diversos acontecimentos na área cultural.

Em vez de fazer uma retrospectiva certamente incompleta, resolvemos ouvir gente da área, que entende do assunto. Maranhenses ligados ao setor, residentes ou não aqui ou mesmo nem nascidos, mas com alguma ligação com o estado, destacaram o que de bom e ruim aconteceu no ano que se encerra.

“Para o bem ou para o mal, no campo cultural, o que você destacaria numa retrospectiva particular do ano que se encerra?” foi a pergunta feita pelo Vias de Fato. Leia abaixo as respostas.

O crítico Alberto Jr.: otimismo

“A primeira coisa que me vem à cabeça ao pensar em cultura neste ano de 2011 é a palavra ‘otimismo’, sobretudo em relação ao trabalho que muitos artistas vêm desenvolvendo de forma independente na busca de uma cena cultural cada vez mais urbana e ‘conectada’ com as experiências desenvolvidas em outros estados.

Um exemplo disso é o pessoal do gênero pop/rock, que, neste ano, conseguiu produzir shows e eventos fazendo circular pela ilha bandas alternativas com trabalho autoral e promovendo esse diálogo musical dentro dos circuitos nacionais de festivais de música independente. Cito aqui o Coletivo Velga, Garibaldo e o Resto do Mundo, Gallo Azzuu, Megazines, Nova Bossa, entre outros.

Beto Ehongue, Dicy Rocha, Tássia Campos, Milla Camões, Bruno Batista e Djalma Lúcio me fizeram bater muitas palmas em todos os projetos que estiveram envolvidos.

Algumas casas noturnas também me ofereceram bons encontros e boas experiências sonoras. Salve o Odeon Sabor e Arte que voltou com boas energias e a novidade regueira que é o Porto da Gabi. Experiências transcendentais.

No difícil campo das artes cênicas, a Pequena Companhia de Teatro, a Santa Ignorância Cia. de Teatro e o talento do dramaturgo Igor Nascimento não deixaram eu me acomodar na confortável resignação de fruir de espetáculos simples. Foram geniais!

Tivemos quatro festivais de cinema com programação de qualidade e algumas com caráter popular que me fizeram chorar com a vida e arte de grandes artistas e inclusive com alguns filmes que serviram bem mais do que ter pago qualquer valor para um analista ou psicólogo. Quando a ficção ajuda até a tua subjetividade.

Enfim, pelos exemplos que citei, percebe-se a pouca referência a instituições ou órgãos públicos como apoiadores desses projetos. O otimismo está aí: essa sensação de testemunhar experiências culturais contemporâneas que nos afastam de qualquer saudosismo ou nostalgia com outras décadas e colocam nossos sentidos para viver o presente, sem vícios, sem dependências e com a coragem de quem confia na autoestima de nossa produção cultural contemporânea.

E o próximo ano será bem melhor!”

Alberto Júnior, radialista e crítico musical

“O fato mais marcante foi a grande quantidade de shows em São Luís no início do ano. Foi uma verdadeira explosão de bons shows e shows inéditos ou quase inéditos em São Luís. Infelizmente o ano de 2011 não prosseguiu com a grande “leva” de shows, talvez por acanhamento de muitos produtores, mas os primeiros meses do ano foram realmente surpreendentes. Só para lembrar, tivemos apenas em abril, Pitty, Marcelo D2, Lobão, Richie Spice, Doro Pesch e outros. O primeiro semestre de 2011 também nos agraciou com shows de Jason Mraz, Adriana Calcanhotto, Marcelo Camelo, Blues Etílicos, Arnaldo Antunes e muitos outros. O segundo semestre também pode ser lembrado com shows do Teatro Mágico e os internacionais Blind Guardian e Flo Rida. Dezembro será fechado com chave de ouro com show de Paulinho Moska, em mais uma edição do Prêmio da Rádio Universidade. Com certeza esqueci de mencionar vários outros shows, mas todos esses shows provaram que São Luís pode sim receber grandes nomes da música brasileira e exportações da música pop”.

Andréa Barros, jornalista, ex-assessora de comunicação da Lima Dias Turismo, agência responsável pela vinda de muitos dos shows citados à capital maranhense

Ehongue lembra a dinheirama despejada no carnaval carioca em detrimento dos artistas que produzem no Maranhão

“Queria tanto estar agora escrevendo algo de bom sobre os rumos culturais de nossa cidade/estado em 2011, sério mesmo. Queria poder dizer que grandes eventos aconteceram e melhor ainda acreditar que o ano seguinte mostra uma luz clara no fim do túnel, mas não dá. Ficamos carentes de políticas culturais onde ainda prevalecem as decadentes e assistencialistas programações de São João e Carnaval.

Os milhões dedicados à escola de samba Beija Flor, a Praia Grande abandonada e outros milhões dispersados em uma árvore de natal são só algumas das aberrações que indicam que nossa terra anda completamente na contramão das necessidades. Isso tudo merece um DELETE.

Fora da esfera oficial aconteceram coisas boas, como por exemplo o Prêmio Nacional de Música recebido pela dupla Alê Muniz e Luciana Simões. Isso serve de inspiração para toda uma geração de músicos maranhenses que mesmo sem o apoio ou a lembrança dos órgãos que trabalham com cultura continuam teimando com talento e criatividade.

Em 2012 desejo a todos um ano mais sincero e promissor.”

“Beto Ehongue, compositor e produtor musical, homem à frente das bandas Negoka’apor e Canelas Preta

“Destacaríamos, em 2011, o Papoético como uma ideia que germinou e está criando raízes no panorama cultural da cidade. Apesar de ainda não ter a visibilidade necessária na mídia, está se expandindo entre as pessoas que pensam e se preocupam com a cultura em São Luís e no Maranhão. Como evento, São Luís, Outros 400 [temporada de nove shows apresentada pelo compositor Joãozinho Ribeiro e convidados no Novo Armazém] foi um acontecimento que reuniu a nata da música e da cultura maranhenses nos últimos meses do ano.

Também citaríamos o Café Literário, promovido no [Centro de Criatividade] Odylo Costa, filho, organizado pela professora Ceres Fernandes e, finalmente lembramos, para lamentar, o pouco caso que a Prefeitura de São Luís dedicou à Feira do Livro, um evento agregador e com grande potencial econômico, turístico e cultural, mas que está sendo continuamente esvaziado devido à miopia dos atuais administradores da cidade”.

Beto Nicácio, arte-educador, publicitário e quadrinhista, e Iramir Araújo, historiador, publicitário e quadrinhista, a Dupla Criação

Para Mesito, Feira do Livro foi decepcionante

“A decepcionante 5ª. Feira do Livro de São Luís (Felis). Para mim foi a maior decepção cultural nos últimos tempos”.

Bioque Mesito, poeta

Para o editor da Pitomba!: "De mal (...) quase tudo que tenha (...) alguma oficialidade"

“O Papoético é um lance massa! É o que vejo de mais interessante, por ser um lance coletivo e agregador, sem falar na pinga. De mal houve quase tudo que tenha as mãos de alguma oficialidade: tombamento do boi, feira do livro, essas coisas”.

Bruno Azevêdo, escritor, autor de Breganejo Blues e O Monstro Souza, editor da revista Pitomba! e, a partir deste número, colunista do Vias de Fato

“Na música eu destacaria a trajetória de sucesso de Cine Tropical, que deu o Prêmio da Música Brasileira ao Criolina. Na literatura, o lançamento de aliado involuntário, novo livro de poemas de Fernando Abreu”

Celso Borges, poeta e jornalista, parceiro da Alê Muniz e Luciana Simões em São Luís-Havana, faixa que levou o troféu de melhor música no Prêmio Universidade FM 2010

Prêmio do Criolina e livro de Fabreu foram os destaques para CB, aqui visto em uma de suas elogiadas performances

“Vamos logo para o bem.
Mesmo não sendo lá essas coisas, difícil não destacar no ano de 2011, no campo cultural e longe dos afagos oficiais, os lançamentos primorosos dos CDs de Bruno Batista e de Nosly, o amadurecimento  da dupla Criolina, a garra e a beleza das performances de Celso Borges, o Papoético do Paulão [o poeta e jornalista Paulo Melo Sousa], o Café Literário, o livro do Fernando Abreu, os Outros 400, projeto de Joãozinho [Ribeiro] etc . Saldo positivo.

De tristeza: a continuada  favelização da Praia Grande e a perda de D. Teté.”

Chico Saldanha, compositor, lançou Emaranhado em 2007 e, ao lado de Cesar Teixeira, Joãozinho Ribeiro e Josias Sobrinho, levou o troféu de melhor show do ano no prêmio Universidade FM 2011

Memória cinemetográfica

“Como a minha área de atuação é o cinema, acho que é importante destacar que em 2011 tivemos várias mostras e festivais. Isso é uma importante conquista para o público, que certamente teve acesso a produções destacadas no cenário nacional e no internacional.

Não podemos esquecer também esse maravilhoso trabalho do cineasta Murilo Santos de devolver às comunidades aquilo que a sua câmera registrou com o passar dos anos, tanto na forma de sessões como na de belos painéis fotográficos, além dos novos vídeos gerados nesses encontros.”

Francisco Colombo, cineasta e professor universitário, curador das mostras de Cinema Infantil e Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, realizadas em São Luís em 2011

Gildomar Marinho entra em estúdio em janeiro para gravar sucessor de Olho de Boi (2009) e Pedra de Cantaria (2010)

“O destaque é o próprio jornal, com sua linha editorial que se configura um contraponto à cultura vivenciada no Maranhão atualmente, eivada de vícios, paternalismos e extremamente violenta contra qualquer perspectiva de emancipação cultural. Vias vai às veias, às tripas, aos fatos. Um soco no estômago de uma elite autocrática. Um sopro de vida à verdadeira imprensa livre”.

Gildomar Marinho, compositor

Para Lena Machado, destaque foi o show de Cesar Teixeira

“O show Bandeira de Aço de Cesar Teixeira em julho, no Circo da Cidade. Ver o nosso querido poeta feliz e à vontade no palco, cantando clássicos, além de apresentar inéditas como Cubanita e Boi de Medonho foi maravilhoso. Tão bom que não canso de perguntar: e aí, Cesar, quando seremos presenteados com o segundo?!!”

Lena Machado, cantora

Descaso com artistas entre as lembranças de Milla Camões, que estreia em disco ano que vem

“O que me marcou de forma positiva foi o Lençóis Jazz e Blues Festival. Claro, houve a minha participação, mas muito mais pelo fato de São Luís ter entrado, definitivamente, na rota comercial deste tipo de música, no Brasil. Além de, por falar em rota, termos tido também, bons shows (apesar de, às vezes, a preços exorbitantes, por conta da falta de espaço adequado para as apresentações ou mesmo falta de compromisso dos contratantes), boas peças de teatro, enfim. Vi um suspiro de qualidade entrando nas veias da cidade e isso me deixa feliz. Dois fatos me deixam extremamente triste: a falta de responsabilidade e compromisso de donos de bares, casas noturnas e governantes com a música em geral (não pensem que calotes, prejuízos etc., acontecem só com uma fatia: inclua aí TODOS os estilos), e, embora redundante, a pergunta anual, que continua sem resposta: “Até quando?”; e a perda de figuras importantes de nossa cultura, a exemplo de Dona Teté. Seu cacuriá continuará vivo, por que existem pessoas dispostas a se comprometer com seu legado. Mas quantos mestres morreram, esquecidos em interiores deste Estado, quantas culturas, quantas danças estão entrando em extinção, por não haver interessados em repassar ao próximo seu conhecimento? Aulas de cultura popular, de arte em geral, nas escolas; a aprovação e inclusão definitivamente dessa Lei [que torna obrigatório o ensino de música nas escolas], seria de grande valia. E que 2012 nos traga felicidade, poesia, música e arte ao cubo!”

Milla Camões, cantora

Falecimentos de Carlos de Lima e Dona Teté entre os maus momentos lembrados por Moema

“Tivemos bons e maus momentos, alegres e tristes. Com certeza a morte de D. Teté e a do Sr. Carlos Lima foram nossas grandes perdas. Alegres foram os outros momentos, incluindo (para quem gosta): o carnaval, as festas juninas, as feiras, principalmente a de livros e a de artigos de vários paises. O lançamento do livro de Aymoré Alvim, meu irmão, foi um dos melhores momentos da nossa Academia. Lamentáveis os fatos que envolveram o Prof. Saraiva [acusado de racismo por estudantes da UFMA], manchando uma reputação construida com muito sacrifício, ao longo de muitos anos”

Moema de Castro Alvim, sebista, proprietária do Papiros do Egito

Papoético de Paulão entre os mais lembrados na retrospectiva

“Acompanhei pouco as agitações culturais este ano. Só estive mesmo ligado no Papoético, mas, acho que a revista Pitomba! fez a diferença. Fazer literatura, no Maranhão, hoje em dia, é ato de heroísmo e publicar é altruísmo puro. A Pitomba! deu uma importante contribuição, aliando agitação literária com um material de qualidade, gerando, inclusive, polêmica, o que serviu para oxigenar o cenário da cultura local”.

Paulo Melo Sousa, jornalista e poeta, coordenador do Papoético, tertúlia semanal realizada no Chico Discos (Rua 13 de Maio, Centro)

“Eu destacaria o filme A alegria, de Felipe Bragança e Marina Meliande, bem como a Trilogia Coração no Fogo, da qual o filme faz parte, pelas razões que já expus aqui. É um cinema que produz, com suas imagens oxigenadas, outras maneiras de ver. Munição pesada para a imaginação, o sonho e a coragem”.

Reuben da Cunha Rocha, jornalista e poeta

Ricarte Almeida Santos lembra bons momentos, apesar da ausência de política cultural, objeto de seu estudo no mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA)

“Para o bem: o projeto Outros 400 [temporada capitaneada pelo compositor Joãozinho Ribeiro, no Novo Armazém]; o show Rosa Secular II [com Chico Saldanha, Joãozinho Ribeiro, Josias Sobrinho e convidados, Bar Daquele Jeito, 10/12]; o lançamento do cd Eu não sei sofrer em inglês, o segundo de Bruno Batista;  o show Bandeira de Aço, de Cesar Teixeira [Circo da Cidade, junho]; a Mostra de Cinema Infantil [Cine Praia Grande, 12 e 13/10]; o Festival Guarnicê de Cinema; as várias rodas de choro em vários locais da Ilha (de shoppings a botequins); o lançamento do cd A Canção de Cartola na voz de Léo Spirro. Para o mal: nem um passo dado no sentido de uma política cultural para o Maranhão; o governo de Roseana Sarney financiando o carnaval da Beija Flor carioca; a morte de Dona Teté; a cultura de eventos que ainda prevalece; e o abandono da Praia Grande”.

Ricarte Almeida Santos, sociólogo e radialista, apresentador do dominical Chorinhos & Chorões, às 9h, na Rádio Universidade FM (106,9MHz)

Urias critica parte da classe artística

“São Luís, 400.000 lamentos. Um povo é o reflexo de seu governo ou o governo é reflexo do seu povo? Estamos no ápice da mediocridade no nosso fazer cultural (talvez com exceção para as “brincadeiras” populares). Uma secretaria medíocre, cercada de nós, artistas ainda mais medíocres, que sempre pensamos que nosso trabalho é a maravilha. A miséria que vem nos cercando, sem dúvida, vai sendo refletida na qualidade de nossos produtinhos “inventados” e não criados com um debruçar sobre si mesmo para por em prática um processo que venha alterar e complementar a consciência de quem somos nós. Ouvi outro dia de um amigo “artista”: “Ah!, esse negócio de processo (!!!!), de treino e ensaio pesado me enche o saco. Agora tudo é processo! Eu quero mais é fazer!”. Acho que todos nós realmente temos o direito de fazer o que nos dá na telha e nos desejos, mas na minha liberdade de pensar, penso também que esse papo é de “artista” que não tem que batalhar para viver da arte que faz e tem casa, comida e roupa lavada, além de não dar a mínima pro seu crescimento pessoal, o que por si só justifica a busca de um processo de trabalho..”

Urias Oliveira, ator premiado internacionalmente, botando o dedo na ferida

Wilson Marques é outro que destaca o cinema em 2011

“Destaco o primeiro Festival Internacional de Cinema, da Lume, evento de alto nível que infelizmente foi pouquíssimo prestigiado pelo público de São Luís”.

Wilson Marques, escritor, lançou em 2011 A Lenda do Rei Sebastião e o Touro Encantado em Cordel

ZéMaria Medeiros destaca evento próprio e descaso com artistas pelo poder público

“Os 9,7 anos de A Vida é uma Festa, os lançamentos dos cds Onde tá o coro, de ZéMaria Medeiros & A Casca de Banana, e Arriba Saia, de Omar Cutrim, os falecimentos de Mundica e Dona Teté, os atrasos entre seis meses e um ano para pagamento de cachês de artistas, um absurdo!, o carnaval 400 anos da Beija Flor, ridículo!, o desprezo da produção musical do Maranhão pelos maranhenses, em valorização do axé, breganejo, pornoforró e tchans!”

ZéMaria Medeiros, poeta e músico, comanda há mais de nove anos o happening A Vida é uma Festa, que acontece semanalmente às quintas-feiras na Praia Grande

Maré Memória

MURILO SANTOS
ESPECIAL PARA O BLOGUE

Já me perguntaram se essa foto é de minha autoria. Acho que sim. Coordenei o Departamento de Cinema e Fotografia do Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte), desde a sua fundação até meados de 1975. Antes disso, fiz parte do grupo que deu origem ao Laborarte, o Tefema, Teatro de Férias do Maranhão, fundado por Tácito Borralho em 1971. Desde então passei a fotografar e fazer iluminação de espetáculos. No Laborarte fiz fotos durante nossas pesquisas de campo e de espetáculos. A iluminação das peças também ficava a cargo do Departamento de Fotografia e Cinema. Lembro de ter feito uma foto semelhante a essa, desse mesmo ângulo. Lembro de ter aproveitado a placa de “proibido fumar” do Teatro Arthur Azevedo, enquadrando somente a palavra “proibido”, para sublinhar o tom de protesto do espetáculo e das músicas de Cesar Teixeira e Josias Sobrinho. Coisas da época. Se de fato a foto é de minha autoria, ela certamente foi feita durante um ensaio no Arthur Azevedo, momento em que eu aproveitava para sair da cabine de iluminação e fazer fotos para registro interno e divulgação dos espetáculos.

Com a adaptação da obra de José Chagas, Maré Memória, o Laborarte concretiza o sonho de integrar as diferentes linguagens desenvolvidas pelos chamados departamentos: Cênicas; Dança; Música; Fotografia e Cinema; Artes Plásticas e Artesanato; Propaganda; Imprensa.

O mastro que se vê na foto representa uma festa de São Benedito. Além das músicas compostas especialmente para o espetáculo, era cantado o tradicional bendito de São Benedito. Lembro que nesse momento os atores aceleravam progressivamente o cântico e o andamento de uma procissão em torno do mastro, até tornar-se uma correria. Geniais coisas do Tácito!

Para esse espetáculo, realizei dois filmes curtos em Super-8 filmados nas palafitas do bairro da Liberdade. Um documentário e outro que poderíamos chamar de experimental. A exemplo das músicas que eram cantadas e tocadas pelos músicos protagonistas da foto, assumindo personagens na cena, como forma de integrar também, o cinema ao espetáculo teatral, os filmes eram projetados num lençol estendido num momento determinado em um varal dessa palafita cenográfica que aparece na imagem. A ideia era fazer com que as imagens externas e reais compusessem a encenação no palco. Algo inédito para aquela época. Portanto, é em 1974, quando experimentamos de fato um laboratório de expressões artísticas integradas com Maré Memória é que se inicia o ciclo do Super-8 no Maranhão. Um início que tem na projeção desses filmes talvez as primeiras e únicas exibições para um público pagante

O curta experimental, se assim podemos classificá-lo, durava menos de três minutos. Neste filme, as imagens, quase sempre em closes, associavam estacas de palafitas aos buracos de caranguejos na lama, banhados pelo leve vai e vem das ondas da maré. O filme era projetado no instante em que o casal protagonista do espetáculo entrava em casa e se recolhia às suas intimidades. O público da peça pode ver o que podemos considerar talvez o único filme erótico do ciclo Super 8.

Guardo esta foto que registra as filmagens dos curtas para o espetáculo Maré Memória. No cenário de mangue e lama, a câmera Super-8 (uma Canon 1014 recém doada ao Laborarte) acha-se protegida por um saco plástico.

De pé no mangue (e lama) filmando para Maré Memória, o cineasta Murilo Santos fotografado por um palafitado

Hoje, em São Luís: últimas sessões da 6ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul

Seis filmes em quatro sessões marcam o último dia da 6ª. Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul em São Luís. De graça, no Cine Praia Grande (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande), serão exibidos:

13h: Sobra uma lei (Daiana Di Candia/ Denisse Legrand, Uruguai, 36min., 2011, doc) e Pequenas vozes (Óscar Andrade/ Jairo Eduardo Carrillo, Colômbia, 76min., 2010, doc). Ambos os filmes tratam dos direitos da criança e do adolescente e à integridade física e têm classificação indicativa: 10 anos, clica sobre o horário para ver detalhes do programa.

15h: Chuvas de verão (Carlos Diegues, Brasil, 93min., 1977, ficção), direito do idoso, classificação indicativa: 16 anos.

17h: Morango e chocolate (Tomás Gutierrez Alea/ Juan Carlos Tabío, Cuba/ México, 110min., 1993, ficção), cidadania LGBT, democracia e direitos humanos, classificação indicativa: 14 anos.

19h: A terra a gastar (Cássia Mary Itamoto/ Celina Kurihara, Brasil, 6min., 2009, animação) e Os inquilinos (Os incomodados que se mudem) (Sérgio Bianchi, Brasil, 103min., 2010, ficção), o primeiro abordando economia e direitos humanos, o segundo, segurança pública cidadã, ambos com classificação indicativa: 14 anos, clica no horário para mais detalhes sobre o programa.

CuriosidadeO céu sem eternidade (Eliane Caffé, Brasil, 70min., 2011, doc), rodado em Alcântara/MA, e exibido sexta-feira (4), às 19h, teve a sessão mais concorrida da Mostra: aproximadamente 180 pessoas se espremeram entre as 120 poltronas do CPG, os corredores e o chão; superou mesmo a sessão de abertura, que contou 160 presentes.

Aposta do blogue – O filme mais concorrido de hoje deve ser Morango e chocolate, a conferir.

Uma falta de energia anunciada deverá atrasar um pouco as sessões. Mas é bom não contar muito com isso, chegar cedo e garantir os ingressos. Depois dessas, só ano que vem ou se você visitar uma das capitais por onde a Mostra ainda vai passar.

Hoje, às 19h, no Cine Praia Grande

Maiores informações, programação completa e tudo o mais aqui.

Murilo Santos no Papoético

O cineasta Murilo Santos posa com uma Kodak Rio 400, presente de seu pai

Fotógrafo, cineasta e professor, Murilo Santos (foto) é o convidado de hoje (20) do Papoético, que acontece a partir das 19h30min no Chico Discos (esquina das ruas Treze de Maio e Afogados, entrada pela primeira, sobre o banco Bonsucesso), de graça.

Sob mediação do poeta Paulo Melo Sousa, vulgo Paulão, Murilo conversará com o público presente sobre seus ofícios e exibirá o documentário francês Le bonheur est là-bas, en face, de Jean-Pierre Beaurenaut, cujo estilo influenciou o trabalho do maranhense.

O doc foi filmado no Maranhão (na capital São Luís e na comunidade quilombola de Ariquipá, Bequimão), na década de 70, e discute temas como comunidades quilombolas, migrações, cidade e urbanização, entre outros.

Cinemúsica

Três curtas-metragens com nomes de música compõem a sessão de abertura da Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, que em sua sexta edição chega pela segunda vez à São Luís.

Os filmes (todos ficções brasileiras de 2010, com classificação indicativa 14 anos) Doce de coco (20min.), de Allan Deberton, Tempo de criança (12min.), de Wagner Novais, e Máscara negra (15min.), de Rene Brasil, embora não necessariamente tenham sido inspirados nas músicas e/ou as mesmas não estejam em suas trilhas sonoras (aqui um palpite de quem ainda não viu os filmes), repetem os títulos Doce de coco, de Jacob do Bandolim, Meus tempos de criança, de Ataulfo Alves, e Máscara negra, de Zé Ketti e Hildebrando Pereira Matos.

Na capital maranhense a sessão de abertura da Mostra acontece dia 31/10 (segunda-feira), às 19h, no Cine Praia Grande (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande), com entrada franca, como todas as outras sessões do evento cinematográfico, conforme o e-flyer abaixo:

Cineminha com as crianças, pra curtir o feriado de meio de semana

O feriado cai numa quarta-feira e você acha isso “uó”: não dá para fazer aquela viagem emendando com o fim de semana. Fosse amanhã o dia da padroeira, sexta-feira era Tiradentes: enforcar e ser feliz.

O jeito é curtir a ressaca (ontem foi “sexta”, lembra?) e aproveitar. A dica é pegar os filhos, sobrinhos, netos ou qualquer outra criança, que hoje é dia delas, e levar ao Cine Praia Grande (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande). Lá, hoje (a partir das 16h) e amanhã (a partir das 17h), de graça, acontece a I Mostra de Cinema Infantil de São Luís, que exibirá, em seis programas, os 33 filmes que integram um box comemorativo de 10 anos da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.

Além dos filmes, brincadeiras e guloseimas para as crianças. A programação completa você acessa aqui.

Cinema de qualidade em dose dupla

Em sua 6ª. edição, Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul chega pela segunda vez à capital maranhense. De 31/10 a 6/11.

Antes, São Luís e o Cine Praia Grande recebem, dias 12 e 13 de outubro, a Mostra de Cinema Infantil.