Chorinhos e Chorões passa a ser veiculado em cadeia pelas rádios Universidade e Timbira a partir deste domingo (30)

O sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos produz e apresenta o dominical Chorinhos e Chorões. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
Da esquerda para a direita: Tiago Fernandes, Wendell de la Salles, Rui Mário e Marquinhos Carcará, o Quarteto Crivador. Foto: divulgação
Da esquerda para a direita: Tiago Fernandes, Wendell de la Salles, Rui Mário e Marquinhos Carcará, o Quarteto Crivador. Foto: divulgação
O cantor e compositor Claudio Lima. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
O cantor e compositor Claudio Lima. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
No palco ou na plateia, o poeta Celso Borges participou de diversas edições de RicoChoro ComVida na Praça e será homenageado no Chorinhos e Chorões deste domingo (30). Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação
No palco ou na plateia, o poeta Celso Borges participou de diversas edições de RicoChoro ComVida na Praça e será homenageado no Chorinhos e Chorões deste domingo (30). Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação

Na última quinta-feira (27) a Rádio Timbira estreou uma nova programação, com vistas à migração para FM, que acontecerá este ano. Programas como o “Fala, Mermã”, sobre o universo feminino, apresentado por Letycia Oliveira (de segunda a sexta, às 17h), e o “Radiola Timbira”, por este que vos escreve (aos domingos, ao meio-dia), passam a compor o novo quadro. O Balaio Cultural, que produzo e apresento com Gisa Franco (sábados, das 13h às 15h), está mantido.

Outras novidades dominicais são o “Alvorada” (das 7h às 9h), com Vanessa Serra, e o Chorinhos e Chorões (das 9h às 10h), com Ricarte Almeida Santos, que permanece na Universidade FM, sua casa original, há 36 anos no ar, e passa a ser veiculado em cadeia com a Timbira.

Para a edição de estreia, Ricarte receberá o Quarteto Crivador, em uma roda de choro ao vivo. O grupo é formado por Tiago Fernandes (violão sete cordas), Wendell de la Salles (bandolim), Rui Mário (sanfona) e Marquinhos Carcará (percussão).

A roda de choro será transmitida ao vivo, a partir do estúdio Lauro Leite, da Rádio Timbira, na Rua da Montanha Russa, 75, Centro. “A ideia é de festa mesmo, de marcar este novo momento, tanto da Timbira, quanto do Chorinhos e Chorões. A veiculação em cadeia com a Universidade vem somar, estamos muito felizes com a oportunidade, em um domingo recheado de boas companhias, começando cedo com Vanessa Serra, passando pelo decano Frank Matos, com o Timbira Espetacular, até chegar ao Radiola Timbira, contigo, a Timbira terá a trilha ideal para todo tipo de ouvinte: o que vai à praia, o que aproveita para fazer uma faxina ou lavar o carro, o que prepara o almoço, e é motivo de grande honra fazer parte desta trilha, deste cardápio”, declarou Ricarte Almeida Santos a Homem de Vícios Antigos.

Além do Quarteto Crivador, o Chorinhos e Chorões deste domingo (30), quando estreia na Rádio Timbira, receberá também o cantor Cláudio Lima, para uma homenagem ao poeta e jornalista Celso Borges (1959-2023), falecido no último domingo (23), Dia Nacional do Choro. Não por acaso, Cláudio Lima foi convidado do sarau RicoChoro ComVida na Praça, realizado no Largo da Igreja do Desterro, Centro Histórico da capital maranhense, por ocasião do lançamento de “Lembranças, Lenços, Lances de Agora: Memórias e Sons da Cidade na Voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022), de Celso Borges, obra em que ele se debruçou sobre os bastidores da gravação do antológico elepê “Lances de Agora” (1978), de Chico Maranhão, produzido por Marcus Pereira, gravado na sacristia da secular Igreja do Desterro.

Timbira e Universidade, que já possuíam uma “parceria campeã” – como reza o slogan das transmissões em cadeia – no esporte e eventualmente na transmissão de grandes eventos, como as festas juninas, ampliam a tabelinha. Pelo visto, o Chorinhos e Chorões aprofunda essa parceria já fazendo história desde o início.

Retrospectiva 2022

Balaio Cultural. Aos sábados, das 13h às 15h, na Rádio Timbira AM, com Gisa Franco e este blogueiro: Assis Medeiros, Almeida Marcus, Carlos Rennó, Bárbara Eugênia, Fred Zeroquatro (Mundo Livre S/A), Celso Borges, Carlos Careqa, Pedro Santos, Celia Catunda, Kiko Mistrorigo, Wado, Caetano Brasil, Carolinaa Sanches (Caburé Canela), Jaime Alem, Max Alvim, Fernando Salem, Otto, Angélica Freitas, Vitor Ramil, Péricles Cavalcanti, Gab Lara, Fi Bueno, Héloa, Ubiratã Trindade, Rodrigo Maranhão, Tatá Aeroplano, Maurício Pereira, Xico Sá, Simone Leitão, Luís Filipe de Lima, Pedro Luís, Yuri Queiroga, Zeca Baleiro, Vinícius Cantuária, Cláudio Lima, João Donato, Fernando Abreu, Lívia Mattos, Márcio Vasconcelos, João Cavalcanti, Cesar Teixeira, Rubi, Roberta Campos, Paulinho Moska, Thales Cavalcanti, Hélio Flanders (Vanguart), Lívia Nestrovski, Henrique Eisenmann, Arthur Nestrovski, Carlos Malta, Russo Passapusso, Patrícia Ahmaral, Otávio Rodrigues (Doctor Reggae), Zé Geraldo, Francis Rosa, Ligiana Costa, Bel Carvalho, José Miguel Wisnik, Erasmo Dibell (sábado que vem, 24) e BiD (31 de dezembro). Em 2023 tem muito mais!

Lances eternos

O ótimo público presente ao Largo da Igreja do Desterro, sábado passado (27). Foto: Rivânio Almeida Santos

Certas coisas, de tão mágicas, não têm explicação. “As retas mais curvas que o mundo tem” parecem convergir em uma só direção. O sarau de encerramento da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça, idealizado e coordenado por Ricarte Almeida Santos, é um destes acontecimentos. A coincidência geográfica e temporal, para celebrar um disco atemporal: a comunidade do Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, celebrava Nossa Senhora do Desterro e a procissão chegou em meio aos paralelepípedos quando o dj Jorge Choairy já preparava o terreno – modo de dizer, que a agricultura de seu set list já colhia os frutos plantados desde algum tempo –, numa convergência saudável e respeitosa entre o sacro e o profano. Exatamente como aconteceu há 44 anos, quando Chico Maranhão e o Regional Tira-Teima, a convite da gravadora Discos Marcus Pereira, ocuparam a sacristia da Igreja do Desterro para registrar o antológico elepê “Lances de agora”, de cuja “Ponto de fuga” pinço as aspas com que quase abro este texto.

O lance de agora era a homenagem que o cantor Cláudio Lima prestaria a Chico Maranhão, compositor que chegou aos 80 anos neste agosto, cantando quase a íntegra do citado disco e duas pérolas de outros momentos da carreira de Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho, nome de pia do homenageado: “Rapaziada, o tempo mudou” e “Diverdade”. “Eu sei que você fica preso no ar quando eu canto”, diz a letra desta última, metáfora possível para a apresentação do cantor.

Acompanhado do Quarteto Crivador, Cláudio Lima era pura entrega no palco. Brincava, mas trabalhando sério, como é de seu feitio, com a própria voz e com a obra de Chico Maranhão. Prendia a atenção do público presente, devotos da boa música tal qual os admiradores das obras de Chico Maranhão, de Cláudio Lima e de choro em geral.

Cantar como quem reza: o sublime encontro de Cláudio Lima e Dicy, reverenciando Chico Maranhão. Foto: Rivânio Almeida Santos

O nome do grupo anfitrião, tomado emprestado de um dos três tambores da parelha de tambor de crioula, parecia também remeter a outra fase da carreira de Chico Maranhão, quando ele comandou a Turma do Chiquinho, registrado em sua “Ópera Boi – O sonho de Catirina”, de meados da década de 1990. Rui Mário (sanfona e direção musical), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Marquinhos Carcará (percussão) e Wendell de la Salles (bandolim) – que se lamentou quando em meio à apresentação inicial do grupo, arrebentou uma corda de seu instrumento, o que nem de longe tirou o brilho do espetáculo – trajaram de personalidade tanto o repertório instrumental do primeiro bloco de sua apresentação, quanto o acompanhamento luxuoso que prestaram a Cláudio Lima e sua convidada especial, a cantora Dicy – que cantou sozinha “Ponta d’areia” e dividiu com ele os vocais em “Vassourinha meaçaba”.

Em respeito às tradições e à religiosidade do local, a passagem de som atrasou. Mas até isso parecia contribuir para o brilho da noite: quem chegou no horário, acabou ouvindo Cláudio Lima cantar “Meu samba choro”, entrada de um delicioso cardápio musical. O público aplaudiu, antes mesmo de o show começar. Era o coroamento de uma ideia que começou há algum tempo: Cláudio Lima, o mesmo cantor e compositor que estava ali, no palco, é designer de formação e assina a capa e o tratamento de imagens do livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022), que o poeta e jornalista Celso Borges autografou na mesma ocasião. Foi a partir da pesquisa que o multi-artista mergulhou de cabeça no universo do filho de dona Camélia. O resto é história que ficará na memória dos presentes.

Em meio a tudo isso, ainda teve o poeta Fernando Abreu, brindando a plateia com um poema (“Ladainha”, que cita Allen Ginsberg e Chico Maranhão e suas lágrimas com novos poemas e canções) de seu novo livro, “Esses são os dias” (7Letras, 2022), que terá lançamento muito em breve.

Para não dizerem que não aponto defeitos: a temporada foi curta e só retorna às praças da ilha ano que vem.

RicoChoro ComVida na Praça homenageia Chico Maranhão

[release]

Repertório do disco “Lances de agora” (1978) será lembrado em frente à igreja onde foi gravado; compositor completou 80 anos neste agosto

Uma viagem no tempo. É o que promete o último sarau da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça, que acontece este sábado (27), às 19h, no Largo da Igreja do Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, em meio aos festejos de São José do Desterro.

A sacristia da secular igreja foi palco, em junho de 1978, das gravações do antológico elepê “Lances de agora”, do compositor Chico Maranhão, com o acompanhamento do Regional Tira-Teima. O disco foi lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira, do incansável pesquisador do cancioneiro de um Brasil desconhecido pela maioria dos brasileiros.

Show de Cláudio Lima será uma homenagem a Chico Maranhão. Foto: divulgação
A cantora Dicy fará uma participação especial durante a homenagem. Foto: divulgação

Chico Maranhão completou 80 anos neste agosto, de modo discreto, como é de seu feitio, ao contrário de outros oitentões ilustres da música popular brasileira. Ele receberá homenagem do cantor Cláudio Lima, convidado desta edição do sarau, que apresentará show com o repertório de “Lances de agora”, com a participação especial da cantora Dicy.

O poeta Celso Borges lerá trechos de “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” . Foto: Layla Razzo. Divulgação

Ainda na ocasião, o poeta e jornalista Celso Borges fará novo lançamento do livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão” (Palavra Acesa, 2022, 265 p.), misto de bastidores da gravação do disco e biografia de Chico Maranhão, com uma boa dose de imaginação poética – ao aproximar Maranhão e Bob Dylan, por exemplo.

Quarteto Crivador. Montagem. Divulgação

Cláudio Lima e Dicy serão acompanhados pelo Quarteto Crivador, formado por Marquinho Carcará (percussão), Rui Mário (acordeom e direção musical), Tiago Fernandes (violão sete cordas) e Wendell de la Salles (bandolim). O nome do grupo é tomado emprestado de um dos tambores da parelha do tambor de crioula, ritmo genuinamente maranhense que também é alvo do interesse do compositor homenageado, seja em músicas que compôs, seja na Turma do Chiquinho, grupo de tambor de crioula que comandou durante a década de 1990.

As atrações se completam com o dj Jorge Choairy, o mais tropicalista de nossos disc-jóqueis, antropofagicamente falando: seu set list é fruto de uma alimentação sonora que não conhece preconceitos, abarcando diversos gêneros, épocas e geografias, numa salada sonora sempre suculenta.

RicoChoro ComVida na Praça é uma realização da Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt, com produção de Girassol Produções e RicoChoro Produções Culturais, que agradecem ao deputado federal Bira do Pindaré, que tornou possível a realização desta edição do evento, ao destinar emenda parlamentar à Prefeitura Municipal de São Luís, através da Secretaria Municipal de Cultura (Secult).

Acessibilidade cultural – Os saraus RicoChoro ComVida na Praça garantem acessibilidade cultural, com banheiros químicos adaptados, assentos preferenciais, audiodescrição e tradução simultânea em Libras, a língua brasileira de sinais.

Arte na luta contra a fome – O projeto RicoChoro ComVida na Praça é parceiro do “Pacto pelos 15% com fome”, da ONG Ação da Cidadania. Atualmente mais de 33 milhões de brasileiros não têm o que comer. O objetivo da campanha é “promover uma grande aliança entre entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores, para atuarem na linha de frente no combate à fome e às desigualdades sociais”. O evento é gratuito e aberto ao público, mas recomenda-se a doação de um quilo de alimento não-perecível, como gesto concreto de engajamento na campanha. O volume arrecadado será destinado a comunidades em situação de vulnerabilidade social.

Divulgação

Serviço

O quê: sarau RicoChoro ComVida na Praça
Quem: dj Jorge Choairy, Quarteto Crivador, o cantor Cláudio Lima, com participação especial de Dicy Rocha, e o poeta e jornalista Celso Borges
Quando: dia 27 (sábado), às 19h
Onde: Largo da Igreja do Desterro, Centro Histórico de São Luís
Quanto: grátis
Informações: @ricochoro (instagram e facebook)

Do Cohatrac ao Desterro: temporada 2022 de RicoChoro ComVida na Praça termina sábado que vem

O encontro de Bia Mar e Carlos Cuíca no palco do RicoChoro ComVida na Praça. Foto: Zeqroz Neto/ Divulgação

O segundo sarau da temporada 2022 do projeto RicoChoro ComVida na Praça ocupou a de Nossa Senhora de Nazaré, no Cohatrac, sábado passado (20) no diálogo saudável e estimulante entre músicos e plateia, com a participação da comunidade, entre os que fruíam a roda de choro e os que aproveitavam a passagem do dj Marcos Vinícius, do Instrumental Tangará e dos cantores e compositores Bia Mar e Carlos Cuíca pelo bairro para fazer um extra, entre vendedores ambulantes e os bares, restaurantes e churrasquinhos do entorno.

Nos 10 anos da lei de cotas e o atual momento de revisão da referida legislação, Marcos Vinícius mandou o recado pela música de Macau interpretada por Sandra de Sá, que canta “todo brasileiro tem sangue crioulo”, em “Olhos coloridos”, hit absoluto desde o lançamento, um dos pontos altos de sua sempre caprichada sequência.

Acompanhados por um Tangará que caprichou na homenagem a Jacob do Bandolim (1918-1969) – o “herdeiro” Hamilton de Holanda estava na cidade para um show na véspera – falecido há 53 anos, num 13 de agosto. Dele tocaram “Noites cariocas” – “hoje vai virar “Noites ludovicenses”, brincou o acordeonista Andrezinho –, “Assanhado” e “Doce de coco”. O grupo se completa com Valdico Monteiro (pandeiro), Gustavo Belan (cavaquinho) e Tiago Fernandes (violão sete cordas).

Bia Mar e Carlos Cuíca fugiram do óbvio em seus repertórios, cujos pontos altos (a escolha não é fácil e essa é uma opinião pessoal) foram, respectivamente “Reconvexo” (Caetano Veloso) e “Mestre Antonio Vieira” (Carlos Cuíca), revelando referências e inspirações.

Sábado que vem (27), às 19h, no Largo da Igreja do Desterro, no Centro Histórico da capital, acontece o último sarau da temporada. As atrações são o dj Jorge Choairy, o Quarteto Crivador – formado por Marquinhos Carcará (percussão), Rui Mário (acordeom e direção musical), Wendell de la Salles (bandolim) e Tiago Fernandes (violão sete cordas) – e o cantor Cláudio Lima, com a participação especial de Dicy, que farão uma homenagem ao repertório do antológico elepê “Lances de agora” (1978), de Chico Maranhão. Na ocasião, o poeta e jornalista Celso Borges fará novo lançamento de seu livro “Lembranças, lenços, lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão”, com leitura de trechos da obra.

“Comida, diversão e arte”

[release]

RicoChoro ComVida na Praça terá três edições presenciais em agosto; projeto estabeleceu parceria com a Ação da Cidadania na campanha “Pacto pelos 15% com fome”

Chorinho (1942). Candido Portinari. Reprodução

15% da população brasileira não têm o que comer atualmente, no maior retrocesso da história do país. É pensando nestes mais de 33 milhões de brasileiros que a Ação da Cidadania lançou, no último dia 15 de julho, a campanha “Pacto pelos 15% com fome”, que visa “promover uma grande aliança entre entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores, para atuarem na linha de frente no combate à fome e às desigualdades sociais”. O objetivo é “viabilizar doações diretamente para as instituições do Pacto e cadastrar voluntários na luta contra a insegurança alimentar”.

No Maranhão, a primeira iniciativa a abraçar a causa é o projeto RicoChoro ComVida na Praça, que terá três edições presenciais em agosto: dias 6, 20 e 27, nas praças do Letrado (Vinhais), Nossa Senhora de Nazaré (Cohatrac) e Largo da Igreja do Desterro, respectivamente, sempre às 19h. Os eventos são gratuitos e abertos ao público.

“Este evento sempre prezou pelo diálogo e pela diversidade, além do afeto. Palco e plateia em comunhão no exercício de fazer e fruir boa música, alimento para a alma. Agora, diante da tragédia social brasileira, irmanamo-nos a esta importante iniciativa da Ação da Cidadania, sempre lembrando o início de tudo, com os ideais do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. É colocar em prática a máxima dos Titãs: “a gente quer comida, diversão e arte”, aproveitando ainda para agradecer à sensibilidade do deputado Bira do Pindaré, pelo apoio ao projeto, e à Prefeitura de São Luís, através da Secretaria Municipal de Cultura, fundamental para viabilizá-lo”, comenta o sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos, idealizador e coordenador de RicoChoro ComVida na Praça.

No primeiro sarau, as atrações são a dj Josy Dominici, o Regional Caçoeira e os cantores Vinaa e Djalma Chaves; depois é a vez do dj Marcos Vinícius, Instrumental Tangará, a cantora Bia Mar e o cantor Carlinhos da Cuíca; e na última edição desta temporada, o sarau terá como atrações o dj Jorge Choairy, o Quarteto Crivador e o cantor Cláudio Lima, com a participação especial da cantora Dicy.

RicoChoro ComVida na Praça é uma produção de RicoChoro Produções Culturais e Girassol Produções Artísticas. O evento garante acessibilidade cultural para pessoas com deficiência, com assentos prioritários, banheiros acessíveis, audiodescrição e tradução simultânea em libras, a língua brasileira de sinais.

Meia dúzia de videoclipes maranhenses

 

Quando ouvi os primeiros segundos de Como me sinto tive a certeza de um hit instantâneo. Com Gisa Franco, entrevistei-o no Balaio Cultural (Rádio Timbira AM) sobre o EP que lançou antes de rumar para São Paulo. Garoto prodígio, Dhean começou a cantar aos três anos na igreja evangélica que sua família frequentava. A música é, por assim dizer, o carro-chefe do trabalho, que traz quatro faixas autorais e uma releitura inspirada de Demais (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira), sucesso de Maysa.

 

 

Em 17 de maio passado, sob direção de Marcelo Flecha, Cláudio Lima subiu ao palco da Pequena Companhia de Teatro, em São Luís, onde apresentou o show Com a lira, marcando posição no Dia Internacional de Combate à Homofobia. Desfilou um repertório de temática homoafetiva e/ou assinado por compositores e compositoras idem. O show acabou merecendo bis e o cantor ganhou de presente de Zeca Baleiro a canção Qualhira, para a qual o próprio Cláudio Lima, designer de profissão, realizou o videoclipe de animação. Contra a força bruta, delicadeza e beleza.

 

 

Enquanto uns fecham os olhos e assim legitimam e autorizam o extermínio de indígenas, o duo Yamí celebra os povos originários. Marco Lobo (percussão e eletrônica) e Federico Puppi (violoncelo e eletrônica) se unem a Rita Benneditto (voz e percussão) num canto que celebra a conexão do humano/indígena com o divino/natureza. A música une o candomblé ao bumba meu boi, utilizando instrumentos de percussão típicos da manifestação legitimamente maranhense, como o pandeirão e o tambor-onça.

 

 

O registro ao vivo dá ideia do que foi o show de lançamento de Elementos e hortelã na terra dos eucaliptos, segundo disco do cantor e compositor Vinaa, realizado no último dia 1º/11, na Concha Acústica Reinaldo Faray (Lagoa da Jansen). O álbum está disponível nas principais plataformas digitais e tem também edição física.

 

 

Zeca Baleiro já lançou outro disco, O amor no caos – volume 2, mas soltou recentemente o lyric vídeo de Mais leve, gravada pelo cantor e compositor com a adesão de sua parceira na autoria da faixa Cynthia Luz no volume 1. Ambos os álbuns estão disponíveis em cd e nas plataformas digitais.

 

 

Jornalista de formação, a compositora e cantora Valéria Sotão assina direção e edição de vídeo em Desmanchem, single que acaba de disponibilizar no youtube. Antenada com os novos tempos e as mudanças na forma de consumir música, ela tem lançado faixas de modo esparso e anuncia para breve o lançamento de novo single.

“Tu é qualhira, porra?”

Foto: Zema Ribeiro

Ninguém que tenha ouvido qualquer disco ou canção ou visto qualquer apresentação duvida do talento de Cláudio Lima: não cabe em si de tanto.

Corajoso e ousado, ele soltou seus demônios ontem (17), Dia Internacional de Combate à Homofobia, na sede da Pequena Companhia de Teatro (Rua do Giz, 295, Praia Grande), em Com a lira, cujo repertório é dedicado à temática homoafetiva na música popular brasileira – e/ou de compositores homossexuais.

O trocadilho do título, com a expressão tipicamente maranhense “qualhira” (ou “qualira”), usada para designar homossexuais, afeminados etc., já anunciava o conteúdo do show.

Com a lira é o grito de resistência de Cláudio Lima diante da violência perpetrada historicamente contra homossexuais, quadro que deve se agravar com a política armamentista do governo federal.

Num formato econômico, Cláudio Lima acercou-se dos talentosos Totti Moreira (violão e guitarra) e Luís Cruz (guitarra, bateria e programações) para dar seu recado.

A direção de Marcelo Flecha potencializou o gigante que Cláudio Lima já era. No cenário pendiam formas evocando chifres de veado e costela de veado. O cantor trajava uma camisa brilhosa, que ele não tardaria a tirar, ficando apenas com a de baixo, a calça com suspensório e um sapato de salto e sem traseira.

Sou rebelde (Manuel Alejandro, versão de Paulo Coelho), sucesso de Leno e Lilian regravado por Chico César, abre o espetáculo, marcando o primeiro arrebatamento musical de Cláudio Lima, ainda na infância. Segue-se Homem com h (Antonio Barros), hit de Ney Matogrosso.

“Este show é um ato de resistência contra o empoderamento da imbecilidade”, anunciou Cláudio Lima. Para completar, divertindo-se/nos: “um pouquinho de qualhiragem”.

Balada do louco (Rita Lee e Arnaldo Baptista) ele cantou sem o auxílio do microfone, percorrendo o L formado pelas cadeiras da plateia. Daniel na cova dos leões (Renato Russo e Renato Rocha), da Legião Urbana, ganhou arranjo reggae, o que aconteceu também com Malandragem (Cazuza e Frejat), sucesso de Cássia Eller. Nesta, ele trocou o “eu troco um cheque” da letra original por “eu fumo um beque”.

Quando cantou Ilusão à toa (Johnny Alf), mandou: “essa música é do único homossexual da bossa nova”, ao que alguém na plateia retrucou: “que você sabe, não é, Cláudio?”. O cantor riu, concordando: em pleno 2019 ninguém mais deveria caber no armário.

Gilberto Gil compareceu ao repertório com duas em sequência: O veado, faixa pouco lembrada de Extra (1983), e Pai e mãe. Antes de River Phoenix – Carta a um jovem ator (Milton Nascimento) ele pediu “licença: essa eu quero dedicar ao meu boy”.

Única autoral do repertório, O medo (Cláudio Lima) é um rap de letra densa e ligeira, que trata de um tema central na vida da população LGBTQI+. Depois atacou de Minha carta (Tom Zé), única música do set list já gravada por Cláudio Lima (faixa de Cada mesa é um palco, de 2006, segundo disco do artista).

Era hora de uma dose dupla de Chico Buarque: após uma introdução em que evoca um cantor de ópera, mandou O que será? e em sequência Geni e o zepelim.

Parceria de Angela RoRô e Cazuza, Cobaias de Deus é apoteótica: Cláudio Lima canta sentado na poltrona vermelha que compõe o cenário e vem escorregando, evocando a agonia pública de Cazuza em decorrência do vírus HIV. Termina a música deitado no chão, bagunçando o tapete e anunciando que o show, visceral, está próximo do fim.

“A placa de censura no meu rosto diz:/ não recomendado à sociedade”. A letra de Não recomendado (Caio Prado) é uma cusparada na cara hipócrita da sociedade. Continua: “má influência/ péssima aparência/ menino indecente/ viado!/ pervertido/ mal amado/ menino malvado/ cuidado!”.

À porrada da letra original, Cláudio Lima tira onda mandando um recado sério, evocando o bullying sofrido por tantos na infância e adolescência: termina de cantar aos berros, com a pergunta violenta tantas vezes ouvida: “tu é qualhira, porra?”.

Aos gritos de “mais um!” e diante do impacto da plateia, emendou a música nela mesma, como quem acende um cigarro na bagana do anterior: atacou novamente de Não recomendado, repetindo trejeitos e a pergunta brutal.

Com a lira é destes espetáculos que não podem estacionar em uma única apresentação.

Um legítimo 12 anos

Foto: Zema Ribeiro

 

A resignação católica nos ensina que para tudo tem seu tempo.

Ontem o cantor Cláudio Lima entrou para a história, poderíamos dizer de forma brincalhona: é provavelmente o primeiro artista a lançar o segundo disco (Cada mesa é um palco) depois de ter lançado o terceiro (Rosa dos ventos). Não como Hermeto Pascoal, que recentemente soltou um disco gravado em 1999. Ou John Coltrane, que recentemente teve descoberto um disco inédito gravado em 1963.

Cada mesa é um palco, disco de voz e piano, que Cláudio Lima dividiu com o pianista baiano radicado nos Estados Unidos Rubens Salles, chegou ao mercado em 2006, mas nunca teve um show de lançamento, por uma soma de circunstâncias. Tudo tem seu tempo, ontem foi o dia – ou melhor, a noite. A eles juntou-se o percussionista paraense radicado no Maranhão Luiz Cláudio.

Falar em show de lançamento daquele disco talvez não dê conta da dimensão da noite, pelo fato de o repertório ter extrapolado o que foi gravado no disco do copo sujo de batom. Se os uísques 12 anos são os melhores, que dizer então de um disco, cujo bolero-título diz: “cada mesa é um palco/ e afogada no álcool/ tu finges me amar”?

O palco não poderia ser outro: o Buriteco Café, na Praia Grande, vem se configurando como uma casa que acredita em propostas artísticas diferenciadas, para além daquilo que se convencionou chamar de música de barzinho.

Há uma comunhão entre artistas e plateia – que compreende estar diante de um espetáculo grandioso, e não (apenas) para comer, beber e conversar.

Cláudio Lima se agiganta ao subir ao palco, parece entrar em transe. Durante o show de ontem, por duas vezes chegou a dispensar o microfone, sua voz entre um cantor de ópera e um vaqueiro aboiando, por exemplo, em Lamento sertanejo (Dominguinhos/ Gilberto Gil).

Na inédita Toc toc (Rubens Salles), “ou Knock knock, em inglês”, brincou o pianista, o espaço para o improviso do trio, entre teclas, tambores e voz. Os três tocam e cantam como quem brinca, status adquirido com muito esforço.

Entre os destaques da noite, as releituras arrebatadoras de Guardanapos de papel (Leo Masliah), de letra longa e delicada, versão pouco conhecida de Milton Nascimento, e Tropicana (Alceu Valença).

Estabelecido nos Estados Unidos, o piano de Rubens Salles está para muito além da bossa nova para gringo ouvir (o que já não seria pouco) e após acompanhar Cláudio Lima em músicas como Garota de Ipanema (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes), Lígia (Tom Jobim) e Insensatez (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes), não se fez de rogado e acompanhou a pulsação frenética do bumba meu boi de zabumba, na toada Adeus (Mestre Zió), gravada por Luiz Cláudio em um EP indicado ao Grammy, música que encerrou a apresentação de ontem.

Aos gritos de “mais um”, Cláudio Lima retrucou: “eu já estava pensando que vocês não iam pedir”. Cada mesa é um palco estava finalmente lançado, com direito a exemplares do disco à venda: “ainda existe cd, gente!”, o cantor tornou a brincar. No bis, Bis (Cesar Teixeira), que contém o verso-título do disco e show.

Serviço: hoje (10), a partir das 16h, o trio reprisa Cada mesa é um palco no projeto Quintal Cultural, na Casa d’Arte (Rua do Farol do Araçagy, 9, Raposa – em frente à clínica Ruy Palhano), com cachê colaborativo, no velho esquema Silvio Santos (leiam este parêntese lembrando a voz do Lombardi: “deixa o Oficina em paz, Silvio!”): “quanto vale o show?”.

Todo mundo vai pedir bis

[baita honra e responsabilidade escrever este release a pedido de Cláudio Lima]

Cada mesa é um palco é um verso de Bis, bolero de Cesar Teixeira, que dá título ao segundo disco do cantor Cláudio Lima, lançado em 2006, dividido com o pianista baiano radicado nos Estados Unidos Rubens Salles.

A música conta a história de um artista entre o ofício e o amor e o verso evoca diversas leituras. Cada mesa é um palco foi o título escolhido para o show que Cláudio Lima (voz), Rubens Salles (piano) e Luiz Cláudio (percussão) apresentam no próximo dia 9 de junho (sábado), às 20h, no Buriteco Café (Rua Portugal, Praia Grande). Os ingressos – à venda no local – custam R$ 20,00.

A curiosidade é que o disco nunca teve show de lançamento. “Posso dizer que vou finalmente lançar meu segundo disco, depois de ter lançado o terceiro”, diverte-se Cláudio Lima, que além de Cada mesa é um palco, lançou também Cláudio Lima (2001) e Rosa dos ventos (2017).

Os discos de Cláudio Lima são profundamente marcados pelo flerte com a música eletrônica e com uma criteriosa seleção de repertório. Ao disco – e ao show – Cada mesa é um palco comparecem nomes como o citado Cesar Teixeira, além de Bruno Batista, Tom Zé, Luiz Gonzaga, Herivelto Martins e Tom Jobim, entre outros.

O show reunirá no palco três virtuoses: Cláudio Lima é hoje reconhecidamente um dos maiores intérpretes da música popular produzida no Maranhão, tendo-se aventurado com desenvoltura como compositor em seu disco mais recente; Rubens Salles é pianista aclamado internacionalmente, com sua mistura de jazz, world music e a ginga brasileira, com os discos Munderno e Liquid Gravity Plus na bagagem; e o paraense radicado no Maranhão Luiz Cláudio é um de nossos mais requisitados percussionistas, atualmente desenvolvendo um trabalho solo, já tendo emprestado seu talento ao trabalho de nomes como Cesar Teixeira (Shopping Brazil), Ceumar (Dindinha), Lena Machado (Samba de Minha Aldeia) e Zeca Baleiro (Vô Imbolá), entre muitos outros.

O espetáculo terá apresentação única, aproveitando a passagem de Rubens Salles por São Luís. O set list será focado em Cada mesa é um palco, mas Cláudio Lima passeará pelo repertório de seus outros discos, lembrando músicas como Black is the color of my true love’s hair (tradicional canção folk, gravada por Nina Simone), do primeiro, além de umas poucas que não figuram em seus discos, caso de My valentine (Paul McCartney). Ao longo da apresentação haverá espaço também para Rubens e Luiz Cláudio exibirem seu virtuosismo, num diálogo-duelo entre piano e percussão.

Sobre o encontro do trio no palco, Cláudio Lima relembra: “foi Luiz Cláudio quem me apresentou a Rubens Salles, em 2003, em São Paulo. A gente tentou montar uma banda, foi o começo de tudo. A banda acabou não dando certo e pouco tempo depois veio o Cada mesa é um palco”. É a primeira vez que os três artistas se apresentam juntos.

Alterando o verso final da música que dá título ao segundo disco de Cláudio Lima, podemos antecipar do show Cada mesa é um palco: quando a noite terminar e a cortina fechar, todo mundo vai pedir bis.

Serviço

O quê: show Cada mesa é um palco
Quem: Cláudio Lima (voz), Rubens Salles (piano) e Luiz Cláudio (percussão)
Quando: dia 9 de junho (sábado), às 20h
Onde: Buriteco Café (Rua Portugal, Praia Grande)
Quanto: R$ 20,00 (ingresso individual)

Lições de um guará

Esplêndido. Capa. Reprodução

 

2017 foi um ano de descobertas para Cláudio Lima. Artista sempre apontado como cantor talentoso, revelou-se compositor ao assinar, sozinho ou em parceria, a metade das faixas de Rosa dos ventos, seu terceiro disco. O ano que findou revelou ainda outra faceta de Cláudio Lima: a de escritor, autor do infanto-juvenil Esplêndido: o guará que não conseguia ficar vermelho [Gwará/ Sesc/ Oca/MA, 2017, 48 p.], ilustrado por Rosiane Bastos.

Claudio Lima não coloca no papel algo ouvido da tradição oral, nem reconta uma lenda ou algo que o valha. Ele parte de um argumento original e seu livro debate questões urgentes e fundamentais, todas pautadas em direitos humanos, como a preservação do meio ambiente, sabedoria indígena, solidariedade, bullying, igualdade, amizade, adoção, alimentação adequada etc.

Livro para ser lido por crianças de todas as idades, com o perdão do clichê, Esplêndido conta a história de um guará que é muito mais que um guará que não conseguia ficar vermelho. É a história de um guará que cai do ninho ao nascer, se perde de sua família original, se afeiçoa a um caranguejo chama-maré (base da alimentação da espécie) e é adotado por uma siricora.

Fábula de formação – acompanha os passos do guará do nascimento aos ensinamentos que nos deixa ao longo da leitura –, sua moral vem em forma de poesia, com referências sutis (à cantora Maysa, rainha da fossa, gênero a que Cláudio Lima já dedicou um disco) ou escancaradas (à poeta Cora Coralina, que empresta o nome à Siricora Coralina, mãe adotiva de Esplêndido).

O quanto temos em comum com o protagonista, muitas vezes querendo ser isto ou ter aquilo sem entender o sentido de determinadas buscas?

“Às vezes a gente tenta maquiar os problemas, achando que as aparências são o mais importante. Se tu quer uma transformação, ela tem que vir de dentro”, ensina-lhe/nos Pedro Bó, um macaco amigo. “Tu realmente acreditas que só os pássaros vermelhos são felizes? A felicidade tem tantas cores!”, disseram-lhe/nos árvores e nuvens em uníssono durante um sonho.

Viva a diversidade!, outro tema abordado por Cláudio Lima em seu livro de estreia, recheado de ensinamentos, longe da autoajuda que costumeiramente vira best-seller. Aquela voz (das nuvens e árvores no sonho), volta a se pronunciar: “às vezes o mundo com suas provocações te deixa desamparado e buscas alguma ilusão que te cega e deixas de tirar proveito da tua própria angústia. Vou te dar apenas dois conselhos: 1. Busque o amor dos outros do jeito que eles te sabem amar e retribua; 2. Busque conhecimento em todos os lugares onde tiveres acesso. Assim tuas dúvidas poderão transformar-se em sabedoria”.

Vale usar o próprio título do livro para elogiá-lo?

Verdade e fantasia: João do Vale para crianças

O voto popular deu a João do Vale o merecido título de maranhense do século XX. O cantor e compositor, um dos mais importantes do Brasil em todos os tempos, é tido como um dos pilares da música nordestina, ao lado de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Marinês – que gravaram suas músicas.

Cantador de coisas simples, imortalizou em suas composições sua terra e sua gente. Minha história, comovente autobiografia musical, é um ótimo exemplo.

João do Vale – Mais coragem do que homem [Edufma, 1998], biografia escrita pela jornalista Andréa Oliveira, há muito está esgotada. Não é disputada a tapas e a peso de ouro em sebos simplesmente por que não se encontra.

Ela conviveu com o ídolo durante seus últimos anos. Após o sucesso no sul maravilha, João do Vale retornou para sua Pedreiras natal, no interior do Maranhão, para reencontrar a vida simples que tanto o inspirou, o pé no barro do chão, o dominó com os amigos na esquina, o Lago da Onça e a Rua da Golada, Mané, Pedro e Romão, imortalizados em clássicos como Pé do lajeiroPisa na fulô e a já citada Minha história.

João – O menino cantador. Capa. Reprodução

Apaixonada pela vida a obra de João do Vale, Andréa Oliveira volta a seu personagem no infantil João – O menino cantador [Pitomba!, 2017, 36 p.], em que busca contar para crianças a/s história/s do artista, valorizando sua infância.

“Era uma vez”, começa o livro, evocando a clássica abertura dos contos de fadas. O livro nasceu do desejo de Andréa Oliveira, autora ainda de Nome aos bois – tragédia e comédia no bumba meu boi do Maranhão (2003), de contar a história de João do Vale aos filhos, à época ainda crianças – entre a ideia e a publicação foram sete anos.

A autora mescla a precisão jornalística e seu compromisso com a veracidade dos fatos ao universo fabular. Garante às crianças, como ela declarou em entrevistas, os direitos à verdade e à fantasia, no que o próprio João do Vale foi um craque.

Em meio à narrativa de Andréa Oliveira, trechos de músicas de João do Vale (não há quem não se pegue cantando ao ler) e ilustrações do artista plástico Fernando Mendonça, cuja simplicidade certamente despertará o interesse das crianças em produzir suas próprias ilustrações, “completando” as originais do livro – o projeto gráfico é do cantor e designer Claudio Lima. Literatura, música e artes plásticas redescobrindo, para as novas gerações, a importância do autor de Estrela miúda e Na asa do vento.

A narrativa é linear, acompanhando João do Vale desde sua infância até o falecimento, passando por sua ida ao Rio de Janeiro, de carona em caminhões, o trabalho na construção civil, as primeiras gravações, o sucesso, a resistência à ditadura militar – do que o clássico Carcará é metáfora exemplar.

Mas engana-se quem pensa que a história tem final triste: a autora atesta, com razão, que João do Vale permanece vivo, prova disso é sua obra, até hoje cantada e assobiada por muitos, e este livro, cuja beleza e delicadeza reavivam a memória do artista – este realmente merece ser chamado de “popular” – e, além de comover os que já lhe conhecem, certamente despertará o interesse dos que porventura ainda não.

Num tempo em que em geral crianças interessam-se mais por celulares e tablets que por livros, João – O menino cantador tem também uma difícil tarefa de conquistar novos leitores. Que, curiosos, poderão voltar aos eletrônicos para descobrir João do Vale através do youtube e de outros aplicativos.

Serviço

A noite de autógrafos de João – O menino cantador, de Andréa Oliveira, acontece nesta quinta-feira (1º. de junho), às 18h30, na Sala de Exposições do Condomínio Fecomércio – Sesc/Senac (Av. dos Holandeses, Calhau). Haverá pocket show com Ivandro Coelho interpretando repertório de João do Vale. Publicado pela editora Pitomba!, o livro tem apoio do Sesc/MA

Beleza a norte, sul, leste e oeste

Foto: ZR (27/5/2017)
Foto: ZR (27/5/2017)

 

Ao contrário de shows em que, em geral, o uso de celulares e câmeras é proibido (em vão) pela produção, a plateia que assistiu Claudio Lima sábado passado (27), no Cine Teatro da Cidade de São Luís, foi das mais educadas que vi em muito tempo. E a colheita de imagens e posterior postagem nas redes sociais foram incentivadas, logo no texto de abertura, que anunciou a subida do cantor ao palco.

“Coloquem seus celulares no silencioso, mas não os desliguem: fotografem e filmem e postem nas redes sociais”, dizia o texto. Em seguida, solicitou, para gargalhadas da plateia: “este show está sendo gravado. Guardem manifestações como “lindo! Gostoso! Arrasou, qualhira!”, para os intervalos das músicas”. Pedido pronta e educadamente atendido.

Gritos de “lindo!”, “gostoso!” e “viado!” foram ouvidos ao fim da primeira música, Boi tarja preta (Celso Borges/ Alê Muniz). “Tá bom, gente! Já chega!”, pediu Claudio Lima entre a timidez ensaiada e o domínio absoluto da cena – sua performance nunca é exagerada, a serviço tão somente de sua voz, de dar ênfase ao que canta.

O show de lançamento de Rosa dos ventos coroava de forma brilhante uma ideia acalentada há ao menos cinco anos. O show seguiu à risca o roteiro do disco, à exceção de Lástima (Giovanne Chaves), que cantou sentado, acompanhado apenas pelo teclado de Rui Mário.

A inclusão da inédita comprova o que Claudio Lima disse em entrevistas de divulgação do show: já está catando repertório para um próximo disco. Em Rosa dos ventos gravou apenas nomes maranhenses – incluindo ele, em seu début como compositor – e quase apenas inéditas, a exceção justamente a faixa-título, já registrada pelo compositor, Bruno Batista – “mas eu cantei antes”, também frisou em diversas entrevistas, lembrando os prêmios de melhor música e melhor intérprete que ele e Bruno levaram, respectivamente, no Festival Viva 400 Anos de Música Popular, que em 2012 celebrou os 400 anos de fundação da capital maranhense.

Claudio Lima, que a exemplo de seus discos anteriores, assina o projeto gráfico de Rosa dos ventos, também era autor do belo cenário em que desfilou o repertório do disco, acompanhado por Eduardo Patrício (programações eletrônicas, bateria e percussão), Pablo Habibe (guitarra), Davi Oliveira (contrabaixo), Memel (guitarra), João Neto (flauta) e Rui Mário (teclado e sanfona).

Em Eu não sou refém da maioria (Claudio Lima) trouxe ao palco o bailarino Luciano Teixeira que, a princípio enrolado numa bandeira do Brasil, foi literalmente até o chão coreografando o funk. “É uma honra, pra mim, pra vocês, pra toda a equipe, podermos fazer arte em tempos tão sombrios”, disse o cantor em determinada altura do espetáculo. Fervorosamente aplaudido após cada música, não foi diferente após o comentário.

Após São Luís (Variações líricas a partir de uma abertura de programa de reggae) (letra de Celso Borges sobre melodia de Michael Rilley), Claudio Lima tornou a brincar com a plateia: “não precisam pedir bis. Ele já está institucionalizado. A gente vai sair e volta pra fazer”. Voltaram aos gritos de “mais um, mais um!”, prontamente atendido. Cantou Bis (Cesar Teixeira), de onde tirou o verso que dá título a seu disco anterior, Cada mesa é um palco (2006). Foi o único momento em que o cantor e os seis músicos estiveram todos juntos no palco ao mesmo tempo, quando Claudio Lima os apresentou ao público.

O disco e a figura escolhida para título apontam em todas as direções, norte, sul, leste, oeste. Rosa dos ventos, disco e show, e Claudio Lima aglutinam e distribuem beleza. Seu público não é refém da maioria e justamente por isso estava ali.

*

Roteiro do show

1) Boi tarja preta (Celso Borges/ Alê Muniz)
2) Salomé minha dor (Fernando Abreu/ Marcos Magah)
3) Não seja burra, baby (Walquiria Almeida/ Claudio Lima)
4) Caminhos ocultos (Der wegweiser) (Franz Schubert/ Claudio Lima)
5) Pingão (Tiago Máci)
6) Parapapá (Claudio Lima/ Mário Tommazo)
7) Esmolas (Bruno Batista)
8) Não sou refém da maioria (Claudio Lima)
9) Melodia sentimental (Claudio Lima/ Mário Tommazo)
10) Lástima (Giovanne Chaves)
11) Só me resta regar tuas petúnias (Claudio Lima/ Marcos Tadeu)
12) Falta flauta (Claudio Lima/ Marcos Tadeu)
13) Nem os cadáveres sobreviverão (Marcos Magah/ Acsa Serafim)
14) Rosa dos ventos (Bruno Batista)
15) São Luís (Variações líricas a partir de uma abertura de programa de reggae) (Celso Borges/ Michael Rilley)

Bis

16) Bis (Cesar Teixeira)

Claudio Lima: um artista único

[release]

Em seu terceiro disco, cantor revela-se também compositor. Rosa dos ventos será lançado em show no próximo dia 27 de maio

Rosa dos ventos. Capa. Reprodução
Rosa dos ventos. Capa. Reprodução

POR ZEMA RIBEIRO

Cada disco de Claudio Lima é único. O artista não repete fórmulas, se arrisca, ousa, nunca se acomoda em uma zona de conforto. É um dos mais talentosos cantores brasileiros em atividade. A cada disco, cuida de cada detalhe: da seleção de repertório – só canta o que lhe emociona – ao projeto gráfico: artista talentoso também nessa seara, já emprestou seus dotes a discos de Bruno Batista e Cecília Leite.

Isto talvez explique o grande intervalo entre um trabalho e outro: cinco anos de Claudio Lima (2001), a estreia, a Cada mesa é um palco (2006), dividido com Rubens Salles, pianista baiano radicado nos Estados Unidos, e mais de 10 entre o segundo e este Rosa dos ventos (2017), que lançará em show no próximo dia 27 de maio (sábado), às 20h30, no Cine Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy, Rua do Egito, Centro) – os ingressos antecipados custam R$ 20,00, à venda na Livraria Leitura (São Luís Shopping); no dia do espetáculo, R$ 30,00, na bilheteria do teatro.

A história de Rosa dos ventos, o disco, começa em 2012, quando Claudio Lima levou para casa o troféu de melhor intérprete no Festival Viva 400 Anos de Música Popular, que celebrou os 400 anos de fundação da capital maranhense. A composição de Bruno Batista, que gravou-a em seu (2013), levou a estatueta de melhor música e com o dinheiro do prêmio, Claudio Lima começou a arquitetar o novo álbum, cuja realização se completou com o patrocínio do Centro Elétrico através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Em Rosa dos ventos o artista debuta como compositor: sozinho ou em parceria, assina metade das 14 faixas, alicerçadas pelas bases eletrônicas de Eduardo Patrício, com quem divide a produção musical. A ele, com seus loops, efeitos sonoros, sintetizadores, baixo, marimba e programação de xilofone, somam-se João Simas (guitarra, baixo, teclado e loops de bateria), Pablo Habibe (guitarra e violão), Rui Mário (sanfona, piano e violoncelo), Roberto Chinês (cavaquinho e bandolim) e João Neto (flauta).

Há poema de Walquiria Almeida musicado (Não seja burra baby), versão de Franz Schubert (Der wegweiser virou Caminhos ocultos), o funk Não sou refém da maioria, cuja mensagem pode ser uma espécie de cartão de visitas do cantor, além de parcerias com Mário Tommazo (Parapapá e Melodia sentimental) e Marcos Tadeu (Só me resta regar tuas petúnias e Falta flauta).

O cantor em retrato de Alison Veras
O cantor em retrato de Alison Veras

Antenado, Claudio Lima reúne ao menos três gerações de compositores maranhenses na ativa, atestando a si mesmo como um “pescador de pérolas”, expressão que não à toa já intitulou disco de outro grande cantor brasileiro.

Rosa dos ventos abre e fecha com o olhar poético sui generis de Celso Borges sobre a cultura popular e a capital maranhense: a toada Boi tarja preta (parceria com Alê Muniz), em que dessacraliza o bumba meu boi, e a pedra de responsa São Luís (Variações líricas a partir de uma abertura de programa de reggae), versão para o clássico Shaperville, de Michael Riley.

Marcos Magah também comparece com duas músicas ao repertório: Salomé minha dor (parceria com o poeta Fernando Abreu) e Nem os cadáveres sobreviverão (com Acsa Serafim), ambas já testadas (e aprovadas pelo público) em shows de Claudio Lima. Quem também lhe fornece um par de pepitas é Bruno Batista: Esmolas e a faixa-título. O repertório se completa com o samba Pingão, de Tiago Máci, recheado de ludovicensidade, crítica social e fina ironia.

Claudio Lima faz música e é impossível rotulá-lo além disso. Sobre a demora deste Rosa dos ventos o que se pode dizer é que valeu a pena esperar. Ele afirma já ter repertório e já estar trabalhando no próximo disco, mas a letra de Não sou refém da maioria pode responder a eventuais cobranças mais apressadas: “não me queiram enquadrar/ em nenhum padrão vulgar/ onde eu tenha que concordar/ o meu molde se quebrou”.

Não é apenas cada disco de Claudio Lima que é único: ele próprio o é.

*

Clique aqui para ouvir Rosa dos ventos, o novo disco de Claudio Lima.

Modéstia e sinceridade

O cantor e compositor Marcos Magah é uma das atrações da terceira edição de RicoChoro ComVida na Praça, que acontece amanhã (24), às 18h, na Praça da Fé (ou Praça da Praia Grande), em frente à Casa do Maranhão.

A noite será aberta com discotecagem do DJ Samir Ewerton, e apresentações do cantor Claudio Lima e do grupo Urubu Malandro – formado por Arlindo Carvalho (percussão), Domingos Santos (violão sete cordas), Fleming (bateria), Juca do Cavaco e Osmar do Trombone.

O evento é gratuito, com patrocínio da TVN, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Sobre sua participação nesta edição do projeto, Marcos Magah concedeu uma breve entrevista – modesta, sincera e hilariante – a Homem de vícios antigos.

Divulgação
Divulgação

Claudio Lima interpretou Salomé [no show Rosa dos Ventos, no Teatro da Cidade de São Luís, antigo Cine Roxy, em fevereiro de 2014], parceria tua com o poeta Fernando Abreu. O que você achou da interpretação?
Eu fiquei super feliz e honrado, e foi engraçado: eu tinha acabado de chegar em São Paulo para fazer uns shows e descolar uns trampos em restaurante de chinês e Wilka  [Sales, sua produtora à época] me mandou o link do youtube. Eu, na época desesperado, olhei aquilo, comprei uma cerveja, acendi um careta [gíria para cigarro] e saí gritando no meio daquela cidade linda, onde nada espanta.

O que você espera do show de sábado, no sarau de RicoChoro ComVida na Praça?
Velho, na boa, não é frase de efeito, não, mas eu sempre espero o pior.

Serão dois shows separados ou vocês se encontram em algum momento?
Eu e Claudio estamos sempre juntos, mas, sim, eu entro no show dele e ele no meu. Cantaremos Adoniran [Barbosa] juntos.

Você é um artista mais próximo do punk, rock e brega. Como foi se encaixar no choro do Urubu Malandro?
Eu pensei que seria enrolado, mas, cara, da minha parte foi tranquilo. Não sei da parte deles. Cheguei ao estúdio e toquei aquelas canções velhas e simples que tenho e eles me trataram com respeito. Só fiquei com pena do Juca e do Domingos se olhando e pensando: “como é que se chama um cara desses para um projeto tão bonito?” Meninos, coisas da vida.