O baile de Chico César, em casa

TEXTO E FOTOS: ZEMA RIBEIRO

Chico César se apresentou ontem (2), na Praça das Mercês, no Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, na programação do aniversário de 412 anos de São Luís. Cantou por pouco mais de hora e meia, numa demonstração de sua relação atávica, umbilical e orgânica com a cidade. Muita gente, ainda hoje, acredita que o paraibano é maranhense.

Prestes a completar 30 anos de sua estreia fonográfica, com Aos Vivos (Velas, 1995), ele escolheu “Beradêro”, faixa que abre o citado trabalho, para inaugurar seu show, com a plateia cantando junto desde ali e direito a um “viva Paulo Freire (1921-1997)!” – o educador é citado na letra – respondido a plenos pulmões pelo público presente.

Artista experiente e experimentado, com pleno domínio de palco, Chico César soube fazer o público cantar junto, aplaudir, dançar e vibrar, em êxtase coletivo. Marcado para às 21h, o show só foi começar pouco depois de 23h30. O artista desculpou-se, mas disse que o atraso nada tinha a ver com ele e sua equipe, que esperaram pacientemente todas as apresentações que o antecediam. E revelou: “a gente preparou um show de duas horas, mas vai ter que diminuir um pouquinho. Minha equipe precisa estar no aeroporto às duas”. Após ouvir um “ah” de insatisfação do público, respondeu: “amanhã vocês trabalham”. E o público, para rir de si mesmo: “não!”.

Chico César conhece o chão que pisa, sabia que estava na ilha do reggae. Após “Beradêro” mandou “Árvore”, clássico do baiano Edson Gomes (que ele havia cantado em duo com Marcelo Jeneci em Night Club Forró Latino (volume I), álbum mais recente do sanfoneiro), seguida por “Mama África”, “Brilho de Beleza” (Nego Tenga) – trocando o nome de Bob Marley (1945-1981) da letra original pelo de Marielle Franco (1979-2018) – e finalizando o longo medley com “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores” (Geraldo Vandré), transformando a praça num salão de baile em que os presentes não têm intervalo para interromper a dança.

Dizer que o público foi à loucura pode ser redundante em se tratando deste show, de muitos pontos altos. Chico César cantou “Sereia Linda de Cumã” (Humberto de Maracanã/ Zé Maria), faixa de Aldeia Tupinambá (Ná Music/ Tratore, 2020), de que ele participa (quem esteve no Festival Zabumbada em 2022 não esquece o encontro do paraibano com o batalhão, na mesma Praça das Mercês). A esta seguiram-se “Vestido de Amor” e “À Primeira Vista”, com citação de “Samurai” (Djavan), numa apresentação recheada de intertextos, em que Chico César vai descortinando sua formação e sua relação com o lugar, sem nunca forçar a barra.

No palco ao lado do Monumento da Diáspora Africana, na Praça das Mercês, Chico César exaltou o papel dos negros e das mulheres, por vezes repetindo a frase “lugar de mulher é onde ela quiser” – metade do sexteto que o acompanha – a banda Machifeme, como ele apresentou – é feminino: Síntia Piccin (saxofone e flauta), Richard Fermino (trompete e flauta), Larissa Humaitá (percussão), Gledson Meira (bateria), Helinho Medeiros (teclado e sanfona) e Lana Ferreira (baixo).

“Pensar em Você” trouxe outras citações: “Nossa Canção” (Luiz Ayrão), além de um trechinho de “Dia Branco”, de Renato Rocha e Geraldo Azevedo – com quem Chico divide Violivoz (Ao Vivo) (Chita/ Geração/ LF + C, 2023). Quando cantou “Deus me Proteja” agradeceu a Dominguinhos (1941-2013) e Juliette, por colocarem sua composição no coração dos brasileiros. Presenteou os presentes com uma inédita, “composta ontem” – quando postou-a no instagram: “Namorar no Maranhão”, uma toada que primeiro cantou sozinho ao violão e depois acompanhado da banda. Dedicou-a a “Josias Sobrinho e Chico Saldanha, meus mestres”, que estavam presentes. Outra viria mais à frente, “composta durante a pandemia, mas também parece que foi ontem”, sobre os Lençóis Maranhenses – que ele revelou não conhecer, “ainda”, brincando com o fato de serem “muita areia para seu caminhãozinho”.

“Agalopado” (Alceu Valença), faixa que abre Espelho Cristalino (Som Livre, 1977), inaugurava um bloco de formadores de Chico César, como ele mesmo revelou. Seguiram-se “Sobradinho” (Sá e Guarabyra), cuja regravação pelo paraibano foi abertura de novela da Rede Globo, e “Admirável Gado Novo” (Zé Ramalho). O fio autoral foi retomado com “Palavra Mágica” e “Da Taça”, com incidental de “Lenha”, do parceiro maranhense Zeca Baleiro (com que Chico divide o álbum Ao Arrepio da Lei (Saravá/ Chita, 2024). O medley se completava com “Proibida Pra Mim” (Chorão/ Marcão/ Champignon/ Pelado), sucesso do grupo Charlie Brown Jr., também regravada por Baleiro, “Onde Estará o Meu Amor”, “Diana” (Paul Anka em versão de Fred Jorge [1928-1994]) e “Filme Triste” (John D. Loudermilk [1934-2016] em versão de Romeu Nunes), na porção jovem-guardista do espetáculo.

“Eu vou cantar uma música que eu lembro que a primeira vez que eu cantei em público foi aqui, num carnaval, em cima de um trio elétrico. Não é fácil a gente lançar uma música assim”, lembrou-se antes de cantar “Pedrada”. Como ontem, este repórter estava lá e lembra do impacto da mensagem, em pleno carnaval de 2019. Pelo meio da música mandou a palavra de ordem: “sem anistia!”.

Em meio a “Estado de Poesia” gritou “viva Celso Borges (1959-2023)!”, lembrando o parceiro que o apresentou a Zeca Baleiro. Quando cantou “Pedra de Responsa” (Chico César/ Zeca Baleiro) voltou a apresentar a banda, referindo-se a cada músico como uma pedra de responsa, a gíria maranhense que designa os reggaes muito bons, os prediletos. Era a noite do povo de axé, e Chico César terminou a apresentação cantando “Mamãe Oxum” à capela. O tema de domínio público, adaptado por Zeca Baleiro, foi cantado em dueto por ambos no álbum de estreia do maranhense, Por Onde Andará Stephen Fry? (MZA Music, 1997).

Chico César saudou São Luís pelos 412 anos que a cidade completará no próximo dia 8 de setembro e disse esperar estar de volta em 12 anos para esta festa. O gracejo de um artista que adora o lugar, por ele é adorado e tem vindo com frequência, para alegria de seu público fiel: de 2019 para cá, só não se apresentou em 2020 e 2021, os anos mais graves da pandemia de covid-19.

Passava um pouco de uma da manhã quando as luzes do palco se apagaram e os resistentes começaram a fazer o caminho de volta para casa, satisfeitos, mas com o gosto de quero mais por contradizer-lhes, certamente em estado de poesia.

Um show para ninguém botar defeito

[Sobre De graça, de Marcelo Jeneci, 17/10, Teatro Arthur Azevedo]

Fotosca: Zema Ribeiro
Fotosca: Zema Ribeiro

 

Marcelo Jeneci já está definitivamente consagrado entre os grandes da chamada nova geração da música popular brasileira. Instrumentista bastante requisitado, nome presente em fichas técnicas de discos e shows de Arnaldo Antunes, Chico César, Vanessa da Mata, Zélia Duncan, Luiz Tatit, José Miguel Wisnik, Mariana Aydar, Vanessa Bumagny, Péricles Cavalcanti e Swami Jr., entre outros, parceiro de alguns, ele provou, em De graça, show apresentado no Teatro Arthur Azevedo, sexta-feira passada (17), que poucas vezes a palavra central da surrada sigla fez tanto sentido.

Se Luiz Gonzaga definiu uma estética musical usando sua sanfona, sobretudo (re)inventando o baião, Jeneci (re)coloca definitivamente o instrumento na música pop, superando qualquer preconceito. Embora sua música, ora vibrante, ora pura dor de cotovelo, esteja mais para Roberto Carlos – mas enquadrá-lo em rótulos e/ou comparações não basta para entender e apreciar a grandeza de sua obra.

O teatro estava absolutamente lotado e o espetáculo foi uma demonstração de cumplicidade entre artista e público como raras vezes se vê. Bastavam poucas notas a cada música para o público vibrar, aplaudir, fazer pedidos, cantar junto e mandar gritos de “lindo” e “linda”, para ele e Laura Lavieri, cantora com que divide os vocais desde Feito pra acabar (2010), seu disco de estreia.

Jeneci pilotou teclados e sanfona, cantou, dançou e acariciou as projeções que serviam de cenário, em momentos de pura beleza. Esbanjando simpatia, desceu do palco empunhando um microfone sem fio, rodou a plateia, “flertou” com uma fã, “tomou” o celular de outra, filmou tudo o que estava acontecendo e terminou o momento fazendo um selfie e devolvendo o celular. Em meio a tudo isso a plateia foi ao delírio, evocando gritos histéricos, apertos de mão e abraços de homens e mulheres.

O cantor e compositor revelou-se emocionado com a oportunidade de estar ali. “É tão raro sermos convidados para tocar por estas bandas”. Confessou-se admirado com a beleza dos Lençóis Maranhenses, que, turista, visitara no dia anterior. “Aquilo é único no mundo. Que bom que vocês têm os Lençóis em sua terra”, derreteu-se em elogios.

O par de vocalistas passeou pelos repertórios de Feito pra acabar e De graça (2013) e Jeneci cantou ainda Vamos passear de bicicleta (Hyldon). “Foi uma música que me apareceu durante a feitura desse disco novo. Diz tudo o que a gente queria dizer, com outras palavras”.

Jeneci (voz, teclado e sanfona) e Lavieri (voz e teclado) foram acompanhados por Regis Damasceno (contrabaixo, violão, teclado), Ricardo Prado (guitarra e teclado), João Erbetta (guitarra), Richard Ribeiro (bateria) e Estevan Sinkovitz (guitarra e teclado).

Não faltaram hits como Alento (Jeneci/ Isabel Lenza/ Arnaldo Antunes), Temporal (Jeneci/ Isabel Lenza), Nada a ver (Jeneci), A vida é bélica (Jeneci/ Isabel Lenza), Julieta (Jeneci/ Isabel Lenza), Dar-te-ei (Helder Lopes/ José Miguel Wisnik/ Jeneci/ Verônica Pessoa), Pra sonhar (Jeneci), Sorriso madeira (Jeneci), Jardim do Éden (Arnaldo Antunes/ Betão Aguiar/ Jeneci), Felicidade (Jeneci/ Chico César) e Pense duas vezes antes de esquecer (Arnaldo Antunes/ Jeneci/ Ortinho), entre outras. Completando quase duas horas de apresentação, o bis, um show à parte, incluiu a faixa-título do disco (Jeneci/ Isabel Lenza), que também batiza o show, e Quarto de dormir (Jeneci/ Arnaldo Antunes). “Essa não estava no repertório, mas depois que eu cheguei dos Lençóis, fui para uma situação de imprensa na Cultura Inglesa [principal patrocinadora do show] e alguns me pediram. Eu resolvi atender”, contou.

De graça é um show (e um disco) para ninguém botar defeito.

O paraíso sonoro de Russo Passapusso

Paraíso da miragem. Capa. Reprodução
Paraíso da miragem. Capa. Reprodução

 

Russo Passapusso e Curumin foram apresentados um ao outro por BNegão. O primeiro participou do terceiro disco do segundo, Arrocha, lançado em 2012, justamente a primeira vez que ouvi (falar d)o primeiro.

Este ano foi a vez de Curumin retribuir a simpatia musical: o baterista de Arnaldo Antunes toca (teclado, bateria, percussão, programação, violão) e produz (com o guitarrista Lucas Martins e o baixista Zé Nigro) Paraíso da miragem, estreia solo de Passapusso, baiano de Feira de Santana à frente de experiências como o BaianaSystem. O título é verso de Paraquedas, faixa que abre o disco (veja clipe ao final do post).

Qual Curumin, Passapusso é um verdadeiro liquidificador de influências, reprocessando-as e dando aos ouvintes um disco de sonoridade original, fazendo ao mesmo tempo música para pensar e dançar.

Paraíso da miragem passeia entre rock, rap, afoxé, samba e eletrônico, com letras entre a azaração da pista e o engajamento. Anjo está na primeira categoria: “me deu vontade de calar tua boca/ me deu vontade de rasgar tua roupa/ me deu vontade de te chamar de louca/ mas a vontade é muita e a coragem é pouca/ me deu vontade de fazer mandinga/ promessa pra você, mulher/ mas é que todo dia um anjo cai do céu”, provoca a letra. Sangue do Brasil, na segunda: “O sangue do Brasil vai pelo chão/ subiu o morro, prestou socorro/ mais um do povo morreu tão novo/ botou escuta, filho da puta/ do outro lado um deputado/ descarado, nem se esconde/ se acha santo feito um monge/ e o meu sangue aqui no morro”, revela, trágico e dançante.

MC Passapusso assina todas as faixas do disco, Areia, parceria com Tatiana Lírio, em que pontua o refinado violão sete cordas de Rodrigo Soares, e Autodidata, com BNegão e Fael Primeiro, que fecha o disco.

Outros nomes interessantes que comparecem ao encarte do disco – disponível para download gratuito ou compra do vinil no site do artista – são Marcelo Jeneci (teclados), Edgar Scandurra (guitarra em Remédio), Anelis Assumpção (voz em Sem sol), Edy Trombone, Thalma de Freitas (voz em Sapato), Hugo Hori (sax em Sapato), Tiquinho (trombone em Sapato) e BNegão (voz em Autodidata), entre outros.

Com Paraíso da miragem Russo Passapusso consagra-se em definitivo como um dos nomes merecedores de atenção da, vá lá, nova música popular brasileira.

Vanessa da Mata volta ao disco

 

Vanessa da Mata esbanja feminilidade ao esvoaçar vestidos coloridos no encarte de Segue o som, sétimo disco de sua carreira, de título apropriado para quem retorna de uma experiência literária bastante interessante, A filha das flores (2013), seu romance de estreia.

O disco abre com Toda humanidade veio de uma mulher, faixa de título feminista-criacionista cuja personagem é uma menina que quer se divertir e ser feliz.

A faixa título é outro papo de amigos: “relaxe seu semblante e pense no que está se metendo”, adverte outra mulher que, ao que parece, não quer um relacionamento mais sério. “Dramas são sempre enrolados/ tome mais cuidado/ não vá sem razão”, prossegue advertindo.

Em Não sei dizer adeus um ouvinte desavisado poderia pensar numa participação especial, já que a voz da cantora muda sob efeitos, um dos problemas do disco o excesso de ruídos e um dispensável remix da faixa título, que o encerra.

Depois do bom disco dedicado à obra de Tom Jobim – Vanessa da Mata canta Tom Jobim –, do ano passado, a mato-grossense continua mostrando por que a exigente Maria Bethânia escolheu-a para intitular um disco seu há 15 anos – A força que nunca seca (parceria com Chico César). Rebola nêga, qual a música de década e meia atrás, retrata outra mulher cuja “vida é muito dura” e os “sonhos são livres e ela só/ dá surra de amor nos filhos”

Cantando e compondo também em inglês – a regravação de Sunshine on my shoulders, sucesso de John Denver, e My grandmother told me (Tchu bee doo bee doo), um dos destaques do disco – ela cerca-se de músicos da nova e velha guardas em canções de amor e despedida: Fernando Catatau (guitarra), Kassin (contrabaixo, guitarra, sintetizador, teclado), Liminha (contrabaixo, guitarra, violão), Lincoln Olivetti (piano rhodes), Marcelo Jeneci (teclado) e Stephane San Juan (bateria, percussão), entre outros. Pode não ser seu álbum mais inspirado, mas traz diversos bons momentos.

Arnaldo Antunes não faz mais do mesmo

[sobre Acústico, show que Arnaldo Antunes apresentou sábado passado (9), no Mandamentos Hall, Lagoa, São Luís. Desaviso: isto não é jornalismo!]

Acústico MTV (2012) é o terceiro disco ao vivo de Arnaldo Antunes em cinco anos, mas isso não o coloca no rol daqueles compositores brasileiros que todos os anos lançam o mesmo disco. O ex (ou eterno?) titã está em outro grupo: o dos mais instigantes e interessantes compositores brasileiros na ativa.

O repertório de seu novo disco passeia por várias fases da carreira: solo, com os Titãs, Tribalistas, além do registro em sua própria voz para músicas que fizeram sucesso na voz de outros intérpretes, casos de Alma (parceria com Pepeu Gomes, sucesso na voz de Zélia Duncan), Sem você (parceria com Carlinhos Brown gravada como Busy man pelo baiano com participação especial de Marisa Monte) e De mais ninguém (parceria com Marisa Monte gravada por ela e regravada por Nelson Gonçalves). E ainda há espaço para inéditas.

Arnaldo Antunes não é de se repetir: se em Ao vivo no estúdio (2007), os convidados eram os tribalistas Carlinhos Brown e Marisa Monte e os titãs Branco Melo e Nando Reis, em Ao vivo lá em casa (2011) eram Erasmo Carlos e Jorge Benjor; agora, neste Acústico MTV (2012) são Nina Becker e Moreno Veloso, o que dá ideia das possibilidades da obra de sua obra, tão diversa.

Foi basicamente o repertório de Acústico MTV que Arnaldo Antunes apresentou em São Luís sábado passado (9), no Mandamentos Hall (Lagoa). Um show irretocável. Nem mesmo as quase duas horas e meia de atraso para o início conseguiram diminuir seu brilho, a demora certamente uma estratégia da casa para vender sua bebida cara em seu ambiente climatizado, um som mecânico anos-80-remix criando o clima para quando a banda subisse ao palco.

Quem pagou pelos ingressos – salgados para os padrões ilhéus, pista a 70 reais, no dia – certamente achou bem pago, que valeu cada centavo, caso deste que vos perturba, que assistiu ao show às próprias custas, cantando quase todo o repertório e relevando até mesmo o comportamento da turma que assiste a shows não pelos próprios olhos, mas pelas lentes de máquinas fotográficas e/ou telefones celulares que servem de.

Mesmo a pouco mais de metro e meio do palco, por vezes tive que ver mãos e braços não batendo palmas ou se agitando alegremente ao som de Arnaldo Antunes e banda, mas empunhando o que há de mais moderno em se tratando de tecnologia. O palco da casa, a propósito, deveria ser mais alto, já que o público não-VIP assiste ao show de pé – ou seja, quem está mais distante do palco verá ainda menos artista e mais braços, mãos, máquinas, celulares, flashes.

Vestido de branco, qual um chef, a camisa com aqueles botões não ao centro, Arnaldo Antunes demonstra alegria o tempo inteiro sobre o palco, talvez feliz com sua ótima banda – ou melhor, constelação: Betão Aguiar (contrabaixo), Chico Salém (violão), Edgard Scandurra (violão), Marcelo Aguiar (bateria) e Marcelo Jeneci (sanfona e teclado) –, talvez feliz com a receptividade do público, com o novo disco, ou certamente com tudo isso ao mesmo tempo. É sincero o seu “espero que vocês estejam se divertindo aí tanto quanto nós aqui” dirigido ao público. Nem mesmo algumas falhas no som o irritaram. Ou ao menos ele não demonstrou. Nem mesmo a graça sem graça do despropositado grito de “toca Raul!”, se é que ele ouviu.

Hora e meia de show depois, bis incluso, hora de tentar comprar o disco novo e catar autógrafo. Não consegui. Um simpático Jeneci me informou que a caixa com os discos de Arnaldo Antunes já haviam sido guardadas, pois o músico pegaria em instantes uma van rumo ao aeroporto. Ele não havia trazido seu Feito pra acabar (2010), de que tenho somente cópia, como lhe disse. E Curumin, de quem também esperava comprar os discos solo, acabou não vindo. Já fui uns bons pares de vezes onde ainda se vendem discos em São Luís, em busca do Acústico MTV, hoje inclusive, sem sucesso. Tê-lo e ouvi-lo vez em quando certamente tornará ainda mais viva a lembrança da agradável passagem deste artista multifacetado e sua banda idem pela capital maranhense.

p.s.: agradecimentos do blogue a Bruna Castelo Branco e Polyana Amorim, pelo diálogo, e Samir Aranha Serra, pela fotografia que roubei de seu facebook.