Minha primeira vez num jornal

Foi há 27 anos. Era domingo, 20 de abril de 1986. Eu tinha quatro anos de idade. Até falecer em 2007, meu saudoso avô Antonio Viana guardou a edição 8.632 de O Estado do Maranhão em que fui capa.

Outro dia, conversando, minha avó Maria Lindoso falou-me do exemplar, que eu até então não conhecia, ou não lembrava. Trouxe-o para digitalizar e compartilhar com meus poucos mas fieis leitores.

Era uma materinha sobre uma campanha de vacinação infantil da época e os efeitos do período chuvoso sobre as filas nos postos.

Destaque na capa, mamãe, por exemplo, não depõe no texto para o qual a foto chama; ela simplesmente foi retratada segurando o guarda-chuva e carregando minha irmã, enquanto eu e meu irmão somos conduzidos por Nilta “de Tereza”. De esquerda, apareço à direita na foto.

A primeira vez do blogueiro num jornal (clique para ampliar)

“Chorografia do Maranhão” estreia amanhã (3) em O Imparcial

Ideia acalentada há um tempinho, a série Chorografia do Maranhão chega amanhã ao papel. Mais precisamente às páginas do jornal O Imparcial, onde será publicada quinzenalmente aos domingos.

Este blogueiro e Ricarte Almeida Santos entrevistam chorões maranhenses, fotografados por Rivânio Almeida Santos. O objetivo principal é registrar as histórias e memórias destes grandes mestres. Depois de publicadas no jornal, Chorografia deve virar um livro, talvez algo mais.

A jornalistamiga Patrícia Cunha fez uma bela matéria nO Imparcial de hoje (2), divulgando a iniciativa. Continue Lendo ““Chorografia do Maranhão” estreia amanhã (3) em O Imparcial”

Memória

Murilo Santos

Foto de Murilo Santos usada no cartaz de Marémemória (1974), espetáculo multimídia (antes da palavra existir) em que o Laborarte adaptou ao palco o livro-poema homônimo (1973) de José Chagas.

Hoje: Ponte Brasil-Benin na Casa de Nhozinho

A Casa de Nhozinho (Rua Portugal, 185, Praia Grande) recebe hoje e amanhã a Mostra Cultural Pedra da Memória, projeto-ponte que ligou o Brasil ao Benin, através de seus terreiros.

A Mostra já visitou São Paulo, onde a exposição fica em cartaz no Museu Afro até o último dia de 2012. Nela há um livro de fotografias, feitas em ambos os países, memórias de Euclides Talabyan, o Pai Euclides da Casa Fanti-Ashanti, desenhos de Carybé, além de exposição fotográfica, um documentário homônimo (dirigido pela querida Renata Amaral; é dela a iniciativa do projeto) e roda de conversa com participantes do projeto.

Hoje (16), às 19h30min, acontecem a abertura da exposição e o lançamento do livro Pedra da Memória. Amanhã (17), às 16h, roda de conversa com Vodunnon Daagbo Avimadjenon Ahouandjinou, um líder espiritual do Benin, o Babalorixá Euclides Talabyan, o professor Brice Sogbossi, antropólogo beninense radicado no Brasil, e a produtora Renata Amaral.

O conjunto Pedra da Memória (expo, livro, roda e doc) faz um resgate histórico importante e traz um material inédito e precioso sobre as tradições populares brasileiras e beninenses, em uma aproximação poética e reveladora, com a intenção de fazer o caminho inverso da “Árvore do Esquecimento”, onde os escravos eram obrigados a “dar voltas” para esquecer suas origens, e fomentar os re-conhecimentos.

Toda a programação é gratuita. O livro, na ocasião do lançamento, será vendido por R$ 50,00.

A notícia

Eu era um molecote que sequer tinha idade para tomar cerveja e, portanto, não bebia. Mas estava no bar, o saudoso Giovani, saudoso o bar, o ex-proprietário ainda está entre nós, em Rosário/MA, acompanhado de uns tios. Fran Gomes, atração da casa entre o fim de tarde e início da noite, certamente não lembra do episódio e nem teria por que.

Ele se apresentava, voz e violão, no local. Nossa mesa era próxima do palco. Eu, regado a refrigerante e com um conhecimento razoável de música brasileira para um garoto de minha idade, 14 anos?, 15?, 16?, adivinhava compositores e intérpretes das músicas com que ele agraciava o público presente, além de pedir-lhe músicas, algumas atendidas, outras não.

Talvez já “invocado” com minha “saliência”, a certa altura Fran Gomes lançou-me uma espécie de desafio: disse que ia tocar uma música que eu não conhecia. Duvidei. Dito e feito. Cantou a música abaixo, de Celso Viáfora e Vicente Barreto, pela qual apaixonei-me à primeira audição e, à época, não sosseguei até tê-la em disco em minha modesta coleção.

Um hino em tempo em que índios já não são salvos por guardas marinhos, muito pelo contrário.

Laborarte: raízes de um ideal

CESAR TEIXEIRA

1974: Josias Sobrinho e Cesar Teixeira faziam uma dupla de violeiros em encenação de “Marémemória”, espetáculo multimídia (antes de a palavra existir) baseado no livro-poema de José Chagas

Fundado oficialmente em 11 de outubro de 1972, o Laborarte completa 40 anos, mas a história da sua criação começa bem antes. A ideia original de formar um coletivo de arte integrada – reunindo teatro, música, dança, artes plásticas, fotografia etc – partiu do Movimento Antroponáutica (1969-1972), até então estruturado em cima da poesia.

Houve uma primeira convocação geral dos artistas de São Luís, em 1970, sem discriminação de tendências estéticas ou ideologia política. Foi um erro. A reunião ocorrida no prédio do Liceu, num domingo, acabou em verdadeiro tumulto, com os antroponautas subindo nas carteiras de uma sala de aula e discutindo entre si.

Uma nova convocação foi realizada em meados de 1972, tendo sido convidados grupos já constituídos e afinados com a proposta, entre eles o Teatro de Férias do Maranhão (TEFEMA), dirigido por Tácito Borralho, e o Grupo Chamató de Danças Populares, sob o comando de Regina Telles. Em uma reunião noturna nas escadarias da Biblioteca Pública (Praça Deodoro) foi decidida a programação cultural para lançar o movimento.

A manifestação seria realizada no auditório daquela biblioteca, cujas escadarias seriam ocupadas por uma exposição de artes plásticas. No auditório haveria performances com teatro, dança e música, culminando com o lançamento do livro Às mãos do dia, do poeta Raimundo Fontenele, que deveria fazer um ácido discurso-manifesto no final das apresentações.

Entre os convidados estaria o Secretário de Educação, Prof. Luiz Rego, que, conforme planejado, deveria ficar sentado num vaso sanitário. No coquetel, em vez de vinho ou guaraná, seriam oferecidos aos presentes penicos de leite e caranguejos vivos. Sem falar que em cada lance de escada que dava acesso ao auditório haveria um boneco de pano enforcado, ali representando o próprio artista marginalizado por um governo conservador.

Nada disso aconteceu, pois a Polícia Federal soube da mirabolante programação e mandou vários agentes para o local.

Houve exposição, teatro, dança e apresentação musical com a participação de Chico Maranhão e Sérgio Habibe, além do lançamento do livro. Mas o discurso ficou preso na garganta do poeta, que teve de prestar depoimento à PF, sendo liberado após intervenção da escritora Arlete Nogueira, então diretora do Departamento de Cultura do Estado.

Contudo, o movimento foi em frente, tendo sido escolhido o nome Laborarte (Laboratório de Expressões Artísticas) quando o grupo já estava instalado no prédio da Rua Jansen Müller, 42, contando ainda com a participação de alguns atores do Grupo Armação, criado por Borralho quando era seminarista em Recife.

A proposta de uma linguagem artística integrada, com identidade própria e respeitando as raízes culturais, portanto, já existia antes e se consolidaria na convergência para o Laborarte, instituído em 11 de outubro de 1972, uma quarta-feira, ocasião em que foi lançado o folheto de poesia mimeografado Os ossos do hospício, de minha autoria.

Naquele lugar se deu uma verdadeira alquimia que ajudou a quebrar alguns tabus e influenciar positivamente as artes no Maranhão. Não só a música ali produzida, mas sobretudo o teatro, apoiado nos estudos de Grotowsky, Artaud, Suassuna, Boal, Stanislavsky e Brecht. Sem esquecer de rezar nas cartilhas de Eduardo Garrido, Bibi Geraldino e Cecílio Sá, teatrólogos de verve popular.

O trabalho do Laborarte rendeu o prêmio de Melhor Plasticidade no Festival Nacional de Teatro Jovem, em Niterói (1972), com Espectrofúria, e o Troféu MEC/ Mambembe, no Rio de Janeiro (1978), com O cavaleiro do destino. Enfim, a entidade fez o dever de casa, e o que começou numa sala de aula vazia acabou virando uma escola.

Infelizmente, não posso relatar mais detalhes da história, porque fui expulso do Laborarte no início de 1975 e não vi de perto o que aconteceria depois. Mesmo assim, ainda contribuí indiretamente escrevendo o Testamento de Judas, impresso em forma de cordel (antes era mimeografado), entre 1990 e 2005, o que provocaria a fúria de muitos “herdeiros”.

[Viajando a trabalho, não cheguei a ir ao Laborarte dia 11, quando estavam previstas diversas atividades pelos festejos de suas quatro décadas; deixo com os poucos mas fieis leitores a memória e a pena afiadas de um de seus fundadores]

Memória do Choro

Do álbum de Maria de Fátima Borges, esposa de João Pedro Borges, em seu facebook. Um 11 de setembro feliz para os Estados Unidos. Via Ricarte Almeida Santos.

Maré Memória

Josias Sobrinho e Cesar Teixeira faziam uma dupla de violeiros no espetáculo teatral homônimo, baseado no livro-poema Marémemória (1973), de José Chagas. Dirigida por Tácito Borralho, a peça foi encenada pelo Laborarte durante dez dias consecutivos no Teatro Arthur Azevedo, em maio de 1974.

Fisguei a foto acima na maré do acervo laborarteano, em pesquisa acerca da citada adaptação.

O Labô completa 40 anos ano que vem. Revirar as boas marés dessas memórias é ótima pedida. Um show celebrativo reunindo seus três músicos fundadores, os dois acima mais Sérgio Habibe, seria sensacional, não?

João do Vale: 15 anos de eternidade

Provavelmente não se achará, nos jornais ilheus de hoje, linha sobre os quinze anos da subida de João do Vale, “o maranhense do século XX”, completados neste 6 de dezembro.

Melhor que tentar costurar algo, usando a própria obra do pedreirense, dizendo coisas como “ele partiu na asa do vento“, ou que o seu “perfume fica boiando no ar” (A voz do povo) ou coisas que o valham, deixa o próprio João, lúcido e autêntico, falar e cantar.

Abaixo, duas versões de seu Carcará, dos maiores clássicos do mestre. Viva João!

Ficção científica alarmou a população*

O que você faria se ligasse o rádio e escutasse que a terra – sobretudo a sua terrinha – está sendo invadida por extraterrestres? Homenzinhos verdes descendo de naves espaciais com antenas na cabeça, capacetes transparentes e com consequências inimagináveis.

Hoje em dia, provavelmente você acessaria a internet, à caça de maiores informações. Ou dispararia torpedos a torto e a direito em busca de saber mais de seus amigos.

Mas e há quarenta anos, quando não existiam internet ou telefones celulares?

30 de outubro de 1971. A Rádio Difusora havia completado, no dia anterior, 16 anos. Para comemorar a data, uma turma levou ao ar o programa A Guerra dos Mundos, que simulava a tal invasão com que se abre este texto.

O feito já havia sido realizado nos Estados Unidos, em 1938, por iniciativa de Orson Welles, que viria, depois, a ficar mundialmente famoso com Cidadão Kane, um dos melhores filmes já realizados em todos os tempos, na opinião de, entre muitos outros, Elvas Ribeiro, o insuspeito Parafuso, um dos envolvidos na empreitada.

A diferença? Nos Estados Unidos de mais de 30 anos antes, as pessoas sabiam tratar-se de um programa de ficção, da adaptação radiofônica do livro homônimo de H. G. Wells. Em São Luís, a incauta população foi pega de surpresa – os avisos de que se tratava de uma obra de ficção foram colocados depois, nos espaços “em branco” da fita, para evitar problemas com a Polícia Federal.

Graças a Parafuso uma equipe coordenada pelo professor Francisco Gonçalves da Conceição (UFMA) conseguiu recuperar a gravação do programa: ela está em um cd encartado em Outubro de 71 – Memórias fantásticas da Guerra dos Mundos, que faz o resgate deste importantíssimo capítulo da radiofonia maranhense – a historinha da fita apenas uma das inúmeras e deliciosas lembradas no livro.

A equipe: Aline Cristina Ribeiro Alves, Andréia de Lima Silva, Elen Barbosa Mateus, Kamila de Mesquita Campos, Karla Maria Silva de Miranda, Mariela Costa Carvalho, Romulo Fernando Lemos Gomes e Sarita Bastos Costa. Privilegiadamente, este blogueiro já havia escutado trechos dessa história, a “memória fantástica” de Parafuso, sempre bem acompanhado de seu copo de uísque, habitué do Bar do Léo, onde vez por outra nos encontramos. Agora, recontada em livro com maior riqueza de detalhes e visões múltiplas.

A obra celebra os 40 anos do ocorrido em entrevistas com cinco personagens que trabalharam no acontecimento: Sérgio Brito (roteiro), Pereirinha (direção técnica), o citado Parafuso (sonoplastia), J. Alves (reportagem) e Rayol Filho (locução) – as entrevistas foram concedidas entre 2005 e 2006 e o resultado final foi lido e aprovado pelos entrevistados, já neste 2011.

Outubro de 71, o livro, resgata também o script original do programa. Um trabalho silencioso, árduo, mas certamente prazeroso. Francisco Gonçalves e seu time nos pegam de surpresa, como há 40 anos o foram os ouvintes da Difusora. À época, pânico, terror, bares e lojas fechados, o saldo dA Guerra dos Mundos. Outra historinha deliciosa: um pastor protestante que reuniu a família para ler o livro do Apocalipse, a fim de se preparar para o fim do mundo; ao descobrir a “farsa”, ligou para a rádio e “esculhambou” o conhecido Parafuso – mais não conto.

ServiçoHoje (26) será diferente: às 19h, no Palácio Cristo Rei (Praça Gonçalves Dias), acontece o lançamento de Outubro de 71 – Memórias fantásticas da Guerra dos Mundos. Entrada franca. O livro – com cd encartado – será vendido por R$ 30,00.

*Manchete de capa do jornal O Imparcial de 31 de outubro de 1971