
Fui pego de surpresa pela notícia do falecimento da amiga Moema de Castro Alvim (22/8/1942-17/10/2014), professora aposentada da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e sebista. Internada em decorrência de um problema na vesícula, veio a falecer, após 11 dias, vítima de infecção generalizada.
Foram mais de 20 anos de convívio, desde que, ainda menino, mudamos para a Rua de Santaninha (Centro) e comecei a frequentar seu Papiros do Egito, à época localizado na Rua dos Afogados – antes funcionou na Rua do Egito, daí o nome, e hoje está na Rua Sete de Setembro.
Lá adquiri meus primeiros vinis dos Beatles (e depois, grande parte de minhas modestas biblioteca e coleção de discos) e visitá-la era sempre um bom papo, exceto quando acabávamos por enveredar por política e eu silenciava por achar que não valia a pena arranhar a amizade – nascida em Pinheiro, ela admirava o conterrâneo José Sarney como político, no que divergíamos completamente.
Em uma ocasião entrevistei-a para um trabalho de faculdade, um texto para a disciplina Jornalismo em Revista, ministrada pela professoramiga Larissa Leda. Era sobre os sebos de São Luís. A equipe obteve uma boa nota com o trabalho, mas a entrevista que me concedeu dona Moema, como sempre a chamei, é ínfima percentagem do muito que conversamos, sobre tudo, nestas mais de duas décadas de convívio, compras e cadernos de fiado.
Vez por outra ela me apresentava a algum/a cliente e sempre destacava o fato – e só então me dava conta disso – de que eu nunca vendia livros ou discos lá; apenas os comprava.
Sua atividade de sebista começou para fugir de empréstimos sem futuro: aposentada da UFMA, colegas e alunos/as costumavam pedir-lhe livros de sua coleção pessoal, que quase sempre não voltavam. Para evitar aborrecimentos e perdas de amizades, montou o sebo.
Já há algum tempo o Papiros do Egito era somente um hobby, algo para ocupar a cabeça e não sucumbir aos males da idade. Moema partiu aos 72 anos. Ela se indignava com uma equação que não fecha: “nos últimos anos quantas faculdades se abriram em São Luís? E quantas livrarias fecharam?”, perguntou, me fazendo refletir sobre o assunto. Condenava o uso indiscriminado de xerox nos cursos universitários.
Com o movimento fraco do sebo, dedicava-se ultimamente a seu blogue e ao facebook, onde debatia com amigos e admiradores assuntos os mais diversos, de literatura a política, além de comportamento e história. Neste último tema ocupava-se em pesquisar a de sua cidade natal. Diversas vezes me contou entusiasmada de descobertas acerca de fatos e personagens do município da baixada, de cuja Academia de Letras, Artes e Ciências era membro.
O falecimento de dona Moema é dolorido golpe, sobretudo por que prevejo-o duplo: com ela deve morrer também o Papiros do Egito, um dos maiores e mais longevos sebos de São Luís. Sobre isso, espero estar enganado.









