Pequena turnê do cantor também inclui apresentações em Santa Inês, Imperatriz e Tuntum
O cantor Wilson Zara. Foto: Manlio Macchiavello/ Divulgação
Inaugurado em junho passado, o charmoso Teatro Municipal de Açailândia, na Avenida Santa Luzia, às margens da BR 222, será palco de um Tributo a Raul Seixas, apresentado pelo cantor Wilson Zara. O show acontece dia 6 de setembro (quarta-feira, véspera do feriado da Independência), às 20h.
Wilson Zara (voz e violão) estará acompanhado por Mauro Izzy (baixo), Moisés Ferreira (guitarra) e Marjone (bateria). O cantor revela a emoção de subir a palco tão privilegiado. “Açailândia é uma cidade com a qual eu tenho uma relação desde garoto; foi onde eu terminei o ginásio, e participei de um show de calouros, foi a primeira vez que eu cantei num som, eu acabei vencendo o concurso, mas não levei o prêmio, mas eu estava bem contente por ter cantado. Também foi lá que eu ouvi Raul pela primeira vez, meu pai ainda mora lá”, relembra.
No repertório, clássicos e lados b do maluco beleza, apelido que Raul Seixas ganhou de um dos maiores sucessos de sua carreira. O teatro tem 221 lugares. Os ingressos custam entre R$ 10,00 e 20,00 e já estão à venda no site Ingresso Digital.
“A gente fez recentemente o Tributo em São Luís, como fazemos todos os anos, mesmo à época da pandemia, houve edições online; estamos viajando com praticamente a mesma banda, levando a mesma energia e nossa contribuição para manter vivo o importante legado de Raul Seixas”, continua Zara.
Agenda – Antes de chegar à Açailândia, Wilson Zara se apresenta em Santa Inês. Dia 2 de setembro (sábado), às 20h30, ele canta no Hellena Bistrô (Rua do Sol, 44), acompanhado de Mauro Izzy (baixo). No repertório, clássicos da música popular brasileira e do pop rock nacional e internacional. O couvert artístico individual custa apenas R$ 10,00.
A agenda de Zara pelo interior do Maranhão segue ainda no feriado de 7 de setembro (quinta-feira), quando apresenta o Tributo a Raul Seixas, acompanhado de sua banda, durante o MotoImp. O show acontece às 23h. O evento acontece no Parque de Exposições de Imperatriz (Marginal BR-010, 230). Informações sobre inscrições e ingressos no site do evento.
Dia 9 (sábado), é a vez de Tuntum. Zara e banda se apresentam no Old’s Pub Buteco e Petiscaria (Praça da Matriz, Centro). O evento começa às 21h, com entrada franca.
O jornalista e fotógrafo foi o primeiro a tocar a banda no rádio, exatamente no dia 17 de dezembro de 1982, antes mesmo de o grupo estrear no mercado fonográfico, o que aconteceria no ano seguinte, quando Herbert Vianna (guitarra e voz), Bi Ribeiro (contrabaixo) e João Barone (bateria) lançaram “Cinema mudo”, disco que trazia “Química” (Renato Russo) no repertório, gravada por eles antes mesmo da Legião Urbana – em um disco ao vivo da banda, lançado após o falecimento de seu líder, Renato Russo afirma que Os Paralamas do Sucesso são padrinhos da Legião Urbana.
Para escrever sobre o novo disco conversei por telefone com Maurício Valladares e através de um aplicativo de mensagens com João Barone. Compartilho agora, com minha meia dúzia de leitores e leitoras, as sobras do Farofafá.
Os Paralamas do Sucesso com Maurício Valladares. Foto: José Fortes
DEPOIMENTO: MAURÍCIO VALLADARES
40 anos: o começo de tudo
A primeira página [de seu livro “Os Paralamas do Sucesso”, com texto de Arthur Dapieve, Senac, 2006] é a reprodução que teria sido o diálogo meu com o Hermano [Vianna, antropólogo], irmão do Herbert, que era ouvinte do programa na Fluminense e ganhou a promoção do Clash, com “Combate rock”, aí a gente conversando pelo telefone, “pô, então vamos nos encontrar, passa lá em casa e pega o disco”, ele morava em Copacabana, o papo, vários assuntos comuns, a gente se encontrou, eu dei o disco pra ele, a gente ficou conversando, e no final ele falou assim: “bom, a próxima vez que a gente se encontrar eu vou te dar a fita que o meu irmão tá gravando com a banda dele”. Eu falei: “ah, beleza, qual é a banda?”. Ele falou: “Os Paralamas do Sucesso”. Eu falei: “pô, mas que nomezinho mequetrefe” [risos do repórter]. Bom, o mundo girou, os dias passaram, ele me deu a fita, e aí quando eu recebi a fita e gostei, eu de cara, isso era dezembro de 1982, eles tinham gravado três músicas, “Vital e sua moto”, “Encruzilhada noturna” [“Encruzilhada agrícola industrial”], e uma outra música [“Patrulha noturna”], isso é fácil de descobrir, porque existe uma lauda do programa que circulou pela web, eu contando, falando que “hoje vamos receber uma nova banda, chamada Os Paralamas do Sucesso”, e a Liliane [Yusim] que fazia o programa comigo, ela lembra perfeitamente deles três no estúdio. E lembra que o Herbert ficou muito eufórico, porque ele achou que a gente ia tocar uma música e tocamos as três que existiam. E essa demo sumiu. O João Barone, principalmente, procura essa demo há anos, há décadas, e não acha esse áudio. E aí a gente ficou amigo. Em sequência pintou a coisa deles gravarem pela Odeon, negócio de capa, de fotografia e aí o bagulho foi crescendo. Mas eles estiveram no estúdio da Fluminense no dia 17 de dezembro de 1982. E a gente esteve juntos agora, sábado, dia 17 de dezembro de 2022, exatos 40 anos depois, que foi esse show deles lá na Barra [o show de lançamento do disco, no Qualistage] e eu fiz um som antes.
O programa de 1982. Acervo Maurício Valladares. Reprodução
Som original
[Pergunto se ele tinha noção de que havia lançado uma banda que iria longe] Não, não tinha. Aliás, ninguém tinha projeção de porra nenhuma. Ali, no caso, a Fluminense eram umas figuras que se juntaram pra fazer uma aventura. Eu já vinha da música, já escrevia em jornal de música, já tinha dado uma circulada, estava circulando pelo jornalismo e sempre fui muito fissurado em rádio. Então, pra mim, foi um caminho natural, pra outras pessoas não, vinham de comércio, mas gostava de música, rock progressivo, música brasileira e se juntou ali pra fazer a rádio, mas sem nenhuma perspectiva do que ia acontecer. O que me interessou, no caso específico dOs Paralamas e Legião Urbana, e eu poderia citar outras, é que [interrompe-se], pô, morreu o Terry Hall, ontem, do The Specials. Não sei se você lembra do Obina Shok [banda brasiliense da época], que era uma banda que misturava, eles todos eram ligados a diplomatas em Brasília, africanos, do Caribe, eles fizeram uma banda muito maneira, gravaram dois discos [“Obina Shok”, em 1986, e “Salleé”, em 1988], o primeiro é muito bom, o [Gilberto] Gil gravou com eles, a Gal [Costa] gravou com eles [ambos participaram do elepê de estreia]. Então, eles ali, o Obina Shok, em meados dos anos 1980, não tão no início, eles representavam aquele som que me interessava muito, que era essa mistura de música africana, com Caribe, então, aquilo me chamou atenção na demo deles, eu toquei pra caramba, o mesmo caso da Legião e dOs Paralamas. Era um som muito diferente do que se produzia pela garotada no Brasil, que ainda vinha com aquele ranço de rock clássico, da MPB tradicional, e eu tinha acabado de chegar de Londres, eu tava com essa sonoridade, 2Tone, The Specials, Police, e do rock, Joy Division, The Cure, Echo & The Bunnymen, eu tinha ouvido todas essas bandas no início. Então, quando você ouve uma demo de uma rapaziada que você sente o estilo dessas referências, aquilo te liga o alerta. Agora, perspectiva de que isso seria, que a Legião iria se transformar no que foi, Os Paralamas e outros tantos, não, zero, nenhuma.
“Um acumulador do caralho”
Isso é praticamente uma doença minha, eu sou um acumulador do caralho. Eu guardo tudo. Eu tenho ingressos, um exemplo que casa com isso que a gente está falando, eu volta e meia conto essa história: quem, que em 1984, guardaria um bilhete deixado na portaria do prédio, de um tal de Renato Manfredini, dizendo que estaria mandando uma fita pra eu ouvir? Eu guardei, esse bilhete do Renato [Russo, vocalista da Legião Urbana], ele tinha uma letra linda, desenhava muito bem, está no livro “Cartas brasileiras” [“Correspondências históricas, políticas, célebres, hilárias e inesquecíveis que marcaram o país”, Companhia das Letras, 2017, org.: Sérgio Rodrigues], é um livro maneiríssimo, tem carta de Lampião [o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva] a Getúlio [Vargas, ex-presidente da República], passando por Dolores Duran [cantora e compositora] e o caralho a quatro, e está lá, numa página inteira, o bilhete do Renato pra mim. Qualquer pessoa pegaria aquele bilhete ali, de um anônimo, Renato Manfredini, ali, pô, legal, amassa e joga na lata do lixo. Hoje esse bilhete está eternizado num livro com cartas de D. Pedro II, Princesa Isabel, tá entendendo? Eu guardo tudo, cara. É um negócio preocupante, porque, bilhete de show, de jogo, agora a Rainha Elizabeth morreu, eu tenho bilhete de 1968, que eu fui num jogo com meu pai, seleção carioca contra seleção paulista, o jogo foi armado pra Rainha Elizabeth no Maracanã, um bilhete lindo, o ingresso do jogo. Eu tenho essa merda!
Outro livro com material do acervo
Esse livro eu não digo que está no forno porque o forno não foi ligado, mas ele está pensado, idealizado e prestes a ser ejetado. Esse livro, que a gente dá o nome fictício de almanaque, porque ele trata de outros assuntos, ele teria sido o livro anterior a meu livro de fotografia “Preto e branco” [Automática, 2016], que eu lancei em novembro de 2016. A primeira foto que está no livro deve ser de 1972 e a última deve ser de 2005, 6, quando eu parei de fotografar analógico e passei pro digital, por obrigação do mercado, e de coisas do Rio e de viagem, de show, pouca coisa de música, muita coisa de carnaval, futebol, muita rua, e esse livro “Preto e branco” ele ocupou o espaço do almanaque. O almanaque já estava começando a ser pensado, aí o Fernando Furtado, empresário do Skank, meu amigo, ligado em fotografia, gosta das minhas fotografias, falou “cara, essa ideia do almanaque é muito boa, tem a ver, mas você tem que fazer um livro de fotografia de arte, uma foto por página, bem impresso pra caramba, essa é a área que você tem que entrar”. Eu fiquei sensibilizado pela ideia do Fernando, falei com a Luiza Melo, editora, Christiano [Calvet] e Raul Mourão, eles acharam também e a gente inverteu o caminho da história. A gente começou a trabalhar no “Preto e branco” e deixamos o almanaque pra depois. Aí veio a pandemia e ficou meio que congelado. A gente retomou agora recentemente, juntar essas peças todas. O que seria o almanaque? Seria um livro das minhas histórias, do material que eu acumulei ao longo desses mais de 40 anos, com muita coisa do jornalismo, muita reprodução de matérias, dessa papelaria que eu tenho, cartaz, de disco autografado, um almanaque mesmo, das coisas que eu juntei.
Outro/s disco/s
Essa é uma ideia que tem surgido. Tem muita coisa. Essa semana eu falei poderia fazer o disco dO Rappa, por exemplo. Quando eles foram, acho que em 2000, no RoNca RoNca, o som tá bom pra caramba, com o [baterista e letrista Marcelo] Yuka, um repertório maravilhoso, poderia fazer. Como poderia fazer um disco que misturasse vários artistas, desde Cássia Eller na Globo, Renato [Russo] e Dado [Villa-Lobos] na Globo também, com áudio bom pra caramba, Rodrigo Amarante, [Marcelo] Camelo sozinho tocando umas maluquices do caralho, quando ele tava naquela porra de música desorientante. Enfim, poderia fazer tranquilamente. Mas cara, é uma burocracia. Eu só consegui fazer esse disco dOs Paralamas porque são Os Paralamas. Eu sou de quebrar a burocracia, de conseguir as autorizações, de resolver as coisas financeiras. [A relação de amizade com Os Paralamas] é determinante, se não fosse, não rolaria. Um outro compacto que eu lancei em 2005, 2006, com algumas das gravações na Oi FM, um compacto com Do Amor, Cidadão Instigado, Otto e Tulipa, é um compacto que a gente deu, promocional. Pra conseguir liberar isso ia ser um parto e pra vender, negociar esse bolo, como é que vai ser dividido, pô, burocracia é um negócio que eu corro dela. Então eu prefiro nem fazer, pra não me aporrinhar. Esse dOs Paralamas só foi adiante porque era uma oportunidade única: é agora ou nunca. São 40 anos da banda, são 40 anos do programa e aí alguém lá em cima mexeu com os botões pra coincidir esse 17 de dezembro com o show deles e o vinil estar pronto junto. É um bagulho, é mandinga, é muito louco.
O ritual de ouvir música
Outro detalhe interessante, que é bacana de as pessoas perceberem: ah, só vai sair em vinil? Só vai sair em vinil. Ele vai pra plataforma, o Zé [José Fortes, empresário dOs Paralamas do Sucesso] vai botar, mas não vai sair em cd. Porque ele não é só um artefato para ouvir música, ele representa uma forma de ouvir música, ele representa uma relação com a música, com a atenção que a música precisa ter, com o tempo que a música precisa ter. Você está ouvindo o lado a, você quer ouvir o lado b? Eu lamento te informar, mas você vai ter que levantar e vai ter que virar o lado do disco, ele não vai tocar automaticamente [risos]. Ele representa isso, eu não acho que seja só saudosismo, pode ser que o saudosismo seja uma das características disso, mas é essa informação que está sendo dada, de que a música, para ser entendida como música e como um duto de informação e de tudo o que está envolvido ali, ela precisa de tempo, ela precisa da sua atenção. Isso é assim. Esse é o conteúdo, a mensagem que vai nesse disco, independente do que esteja nele, mas fora, se você olhar de fora, pô, eu preciso ter atenção aqui.
Os Paralamas do Sucesso com Maurício Valladares e o empresário José Fortes. Acervo Maurício Valladares
ENTREVISTA: JOÃO BARONE
ZEMA RIBEIRO – Maurício Valadares foi o primeiro a tocar Os Paralamas do Sucesso no rádio, antes mesmo de o grupo ter lançado o primeiro disco. É simbólico que os 40 anos da banda sejam celebrados com o lançamento de um disco que registra uma participação de vocês em um programa dele, ainda no século XX? Gostaria de ouvi-lo sobre essa relação de trabalho e amizade e a importância dele para a banda. JOÃO BARONE – O Maurício é um cara que construiu uma reputação como homem do rádio. Ele, naquele momento, onde estava todo mundo surgindo, tava todo mundo emergindo daquela grande efervescência, que todo mundo sentia, com o final da ditadura, com a necessidade de reescrever um pouco a cena musical jovem, a nova cena musical que apontava ali naquele início dos anos 1980, e a Rádio Fluminense, que teve uma atitude muito pioneira e instigante, ela tocava as inúmeras fitas que chegavam para a programação da rádio, porque eles deram essa abertura, essa receita, de ir atrás do novo, do que estava surgindo, por conta de algumas entradas no mainstream, como foi o caso da Blitz, que marcou muito, como primeiro momento, na hora que abriu a porteira para uma nova expressão, dentro da música jovem, com o rock ganhando mais espaço, saindo um pouco daquele gueto que ele vinha, da classe média, do rock como a gente conheceu nos anos 1970, que era uma coisa muito restrita à classe média, aos universitários, na época em que universitário gostava de rock [risos]. Então, é claro que existe uma importância gigantesca nos grandes referenciais do rock brasileiro, que veio antes, nos anos 1970, Mutantes, Rita Lee, Raul Seixas, mas a geração dos anos 1980 foi responsável por ancorar definitivamente o rock na música brasileira. Então, o que a gente viu ali na Rádio Fluminense foi um momento inicial dessa grande abertura para o rock brasileiro e esse momento refletiu-se em todas as capitais do Brasil, em todas as regiões, foram aflorando as bandas novas de rock, especialmente daquela cena lá de Brasília, de onde Os Paralamas sempre faziam referência a Brasília. A gente é uma banda do Rio, mas Brasília sempre esteve no norte dOs Paralamas, tanto que até hoje muita gente acha que Os Paralamas são de Brasília [risos]. Mas o Bi e o Herbert, que moraram lá, conheceram aquela turma toda, do Renato Russo, do Dinho [Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial], Plebe Rude, o caramba a quatro. Enfim, quando chegou esse momento dOs Paralamas levarem a fita até a rádio Fluminense, a gente teve a surpresa do Maurício Valladares tocar no programa dele a nossa fita e dali, já, as músicas da nossa fita começaram a tocar na programação da rádio, “Vital e sua moto” foi um hit, dentro daquela lista das bandas novas que eram pedidas pelos ouvintes, e o resto foi história. A gente no começo de 1983 assinou o contrato com a gravadora e o Maurício sempre teve essa visão, assim, mais ampla da cena do rock principalmente, onde ele sempre ia atrás da novidade, ia atrás da vanguarda, apesar de ele não gostar muito disso [risos], a gente sempre via o Maurício como o cara que apontava boa música, além de qualquer rótulo, de influência ou de vanguardista, o Maurício sempre gostou de boa música, de qualquer que fosse a era, do rock clássico, dos grandes vultos do rock, dos anos 1960, 70, e aí quando chegou nos 80 ele estava indo lá, atrás das novas tendências, tanto que o programa dele, o Rock Alive, era sempre assim, sempre colocava coisas diferentes, e aí a gente teve a sorte de começar uma amizade a partir dali. O Maurício já era fotógrafo antes de ser um cara da rádio e ele era um fotógrafo fora do comum, era um cara com um perfil muito artístico em termos de fotografia, ele nunca foi um fotógrafo profissional, sabe?, de trabalhar em estúdios e não sei o quê. O Maurício é um cara que a personalidade dele também está na fotografia que ele faz. Ele acabou trabalhando com [interrompe-se], a gente chamou ele pra fazer as capas do nosso disco [“Cinema mudo”, de 1983], ele foi o cara que fez a primeira foto oficial dOs Paralamas, para a revista Pipoca Moderna, ali no final de 1982, onde já anunciava-se o nosso show no Circo Voador em 1983, quando a gente abriu [pro] Lulu Santos. Maurício sempre foi um cara muito de personalidade, ele não é um fotógrafo como todo mundo acha que o fotógrafo é, aquele cara que sai tirando um milhão de fotos. O Maurício tirava meia dúzia de fotos e olhe lá [risos], ele busca o momento ideal para fazer o clique, ele não é o cara que sai numa roleta russa, tirando foto a três por quatro. A personalidade dele sempre se expressou muito nas fotografias, na música que ele apresenta. E esse disco que ele agora lançou é apenas um registro dos inúmeros registros preciosos que ele tem de muita gente bacana que participou das várias encarnações do programa dele de rádio. Quando ele saiu da Rádio Fluminense, depois veio com outro programa, que era o Ronca Tripa, depois virou Radiola e aí nos últimos anos, já vai fazer um tempão, uns 20 anos, virou o RoNca RoNca, e ele continua espalhando boa música pelo universo afora. A nossa relação de amizade foi crescendo com o tempo, o Maurício é um cara que virou parte dOs Paralamas, ele é um cara da nossa entourage, sempre referencial. Quando a gente vai fazer alguma coisa a gente mostra pra ele, a gente fala com ele, ele tem uma ingerência muito grande sobre a nossa organização. Os Paralamas somos nós três, mais o Zé Fortes, como teve o documentário [“Os quatro Paralamas”, de 2020, de Roberto Berliner e Paschoal Samora, disponível na Netflix], é o quarto Paralama, e o Maurício é um cara que a gente sempre conta com a opinião dele em qualquer situação, ele é uma espécie de oráculo prOs Paralamas e essa relação foi crescendo ao longo dos anos, ela foi se amalgamando com o tempo e a gente é compadre velho, depois desse tempo todo, 40 anos desde o dia em que ele tocou a gente pela primeira vez no rádio e essa amizade só fez aumentar com o tempo.
ZR – Os Paralamas do Sucesso foi a banda mais ousada do chamado pop rock brasileiro dos anos 1980, justamente por sua disposição em não se contentar com o pop rock, indo além, nas misturas, por exemplo, com o reggae e o ska. Pra você, além do contato com Gilberto Gil, o que foi definidor nesse aspecto? JB – Eu acho que o que caracteriza Os Paralamas é uma espontaneidade muito grande e um compromisso muito grande com o que a gente gosta mais de fazer, que é tocar. O Herbert foi desenvolvendo uma capacidade muito grande nesse dom que ele tem, de composição, mas ele faz tudo visando esse grande momento que é a gente tocar junto e ele poder tocar também, porque o Herbert, acima de tudo, é um guitarrista. É um cara que pensa, sempre pensou muito na guitarra, na composição. Ele foi evoluindo musicalmente ao longo desse tempo todo, ele foi colocando a mente dele a favor da música e pensando coisas musicalmente até mais ousadas do que a guitarra. Ele começou a pensar no piano, começou a pensar nos riffs de sopros, que hoje são parte integrante dOs Paralamas. Isso tudo sai muito da cabeça do Herbert, ele foi desenvolvendo essa musicalidade e a gente foi arriscando tudo no que ele pensava, o Herbert sempre foi esse músico excepcional, o cara que, musicalmente é o mais requintado dOs Paralamas, o Herbert estudou violão clássico, o Herbert sabia tocar bossa nova, e ele foi refinando a capacidade dele de letrista e hoje a gente tem esse legado das músicas dOs Paralamas que ele fez há tantos anos e todo mundo canta até hoje e não tem um ranço nostálgico, é uma coisa que funciona hoje em dia. O repertório dOs Paralamas está longe de ser uma coisa nostálgica, as músicas funcionam atualmente, as pessoas que descobrem a obra dOs Paralamas hoje em dia, a gente tem um público que cresceu com a gente, mas quis o destino que a gente renovasse muito o nosso público, por conta da nossa música, do que a gente fez antes, do que a gente faz eventualmente atualmente, mas esse aspecto dOs Paralamas continua funcionando até hoje, o nosso grande prazer em fazer o que a gente faz, em tocar junto e ir pra estrada, que é uma outra coisa que a gente gosta muito, de fazer show, quando a gente tem assunto a gente grava um disco e é assim que a gente funciona, com esse descompromisso, até certo ponto, de ficar indo atrás de fórmulas ou de receitas. A gente vai aonde o nosso arrepiômetro funciona. Talvez seja a melhor explicação dOs Paralamas, mais do que qualquer autorreferência de ousadia ou de não sei o quê. Naquela época a gente até tentou se diferenciar do bloco todo que tinha ali do rock brasileiro, o nosso terceiro disco [“Selvagem?”, de 1986] foi mais ou menos isso, a gente fez uma escolha realmente, estética, uma escolha conceitual, e de lá pra cá a gente foi explorando a musicalidade intrínseca que a gente tem. Umas horas a gente está mais reggae, umas horas a gente foi mais afro, uma hora a gente está mais balada, uma hora a gente está mais roqueiro, enfim, é isso que a gente faz, a gente explora as nossas personalidades musicais ao nosso bel-prazer.
ZR – O disco recém-lançado, com o material do RoNca RoNca de 1999, revela algumas influências de vocês, no sentido em que além de clássicos e lados b da banda, apresenta também Os Paralamas do Sucesso fazendo alguns covers. O que mais você destacaria neste registro? JB – O repertório que foi registrado nesse vinil que agora é lançado pelo Maurício Valladares, o RoNca RoNca, podia se dizer o RoNca RoNca sessions [risos], como eu falei, o Maurício tem um baú com registros incríveis de um monte de gente que foi ao programa dele fazer uma apresentação ao vivo, ali, em tempo real, foi gravado, mas era tudo ao vivo, a nossa participação foi ao vivo, a menina lá, a ouvinte, pediu para a gente tocar “Navegar impreciso” [Herbert Vianna] e a gente tocou ali, na hora. Esse repertório foi bem inusitado, que a gente apresentou ali no programa do Maurício, o Herbert puxou lá uns blues, puxou lá uma música do The Beat, do The English Beat [“The tears of a clown” (Henry Cosby/ Smokey Robinson/ Stevie Wonder)], e algumas músicas não tão conhecidas, não tão hits assim dOs Paralamas, e o que tem de interessante nesse registro é que ali a gente estava começando a rascunhar o que viria a ser o nosso Acústico MTV [1999], que a gente gravou dali a alguns meses, a gente começou a experimentar algumas coisas nesse formato acústico, apesar de o Herbert ter gravado com uma guitarra elétrica, mas a gente já estava ali esboçando um projeto pra gente fazer um acústico que seria meio na contramão da receita do formato, que era sempre pegar as músicas mais conhecidas e tocar com um violão, um bongozinho, então a gente estava pensando assim, ousadamente, num acústico onde a gente não traria apenas obviedades, então esse registro do programa do Maurício, que agora está saindo nesse vinil, é uma espécie de caviar, é uma tiragem limitada, de produção limitada, com um registro assim raríssimo dOs Paralamas despojados, e que tem um valor, assim, por conta dessa pré-produção, desse pré-registro do nosso acústico.
ZR – Em suma: o disco no RoNca RoNca está longe do que poderíamos chamar de caça-níquel e Os Paralamas tem lançado material inédito com certa regularidade, embora o último disco de inéditas seja de 2017 [“Sinais do sim”]. Estamos às vésperas de 2023 e eu queria ouvi-lo sobre o que você pode adiantar em relação a novidades da banda e sua expectativa como cidadão. JB – Pois é, a gente está adentrando aqui um ano novo com uma perspectiva muito boa de trabalho, que já começou nesse ano. Ao longo desse ano a gente teve praticamente um renascimento do show business, com o arrefecimento da pandemia, em alguns momentos houve uma preocupação e tal, mas a gente está longe daquele cenário terrível que foi 2020, 2021. Então a gente está um pouco nesse embalo, de momento mais promissor, nossa agenda está muito boa, a gente está trabalhando bastante, a gente vai retomar nossa frequência de encontros pra poder ver o material novo que o Herbert tem escrito, retomar mais, assim, a nossa rotina de criação mesmo, e isso não aconteceu porque durante a pandemia a gente se encontrou pouquíssimo nas horas em que a gente estava podendo se encontrar pra fazer shows e tal, e um ou outro ensaio, e aí ao longo de 2021, também, que foi um ano meio vagalume, acendeu, apagou, esse ano de 2022 foi muito promissor, que a gente caiu forte na estrada e nós ficamos sem tempo de fazer esses encontros pra tocar, pra levar som, pra compor e a gente com certeza vai retomar isso nesse ano que se inicia. Já que você perguntou, a gente está muito otimista com um certo alívio que a gente teve dentro da política nacional. A gente sabe que não é uma tarefa simples resolver os grandes problemas que o Brasil tem, mas o fato de a gente ter se livrado de um governo que tinha claramente um perfil fascista no seu discurso, na sua política nefasta, então já é uma melhoria. Eu acho que não vai ser nenhum passeio no parque o que a gente vai ter que fazer para reencontrar o rumo democrático no Brasil e todos os desafios que a gente sabe que existe, socialmente falando, principalmente, e é preciso muito bom senso pra gente não ficar sempre numa gangorra entre os dois extremos, da extrema-direita e da extrema-esquerda, a gente precisa achar um caminho do meio, onde a gente consiga tirar o grosso da população da miséria, do mapa da fome, fazer um investimento seríssimo na educação, fazer uma devassa fiscal, acabar com esse dinheiro todo que vai pelo ralo no nosso processo político e torcer pra que o Brasil volte a ser um país digno das riquezas e da gente que vive nesse país. Vamos torcer!
Apresentação acontece neste sábado (23), às 20h, na Praça da Bíblia
Moisés Ferreira (guitarra), Wilson Zara (voz e violão) e Mauro Izzy (contrabaixo): o Trio Zamoma. Foto: divulgação
No próximo sábado (23), o Trio Zamoma encerra a pequena turnê “Acalanto”. O grupo formado por Wilson Zara (voz e violão), Moisés Ferreira (guitarra) e Mauro Izzy (contrabaixo) chega ao oitavo município de sua rota: em Açailândia o show acontecerá na Praça da Bíblia (Av. Bernardo Sayão), às 20h, com participação dos artistas Eldima Barros, Fernando Terra e da banda Abrigo de Loa, formada por Jefferson Alive (voz), Anderson Mille (guitarra), Allan Soares (baixo) e Hudson Clayton (bateria).
“Acalanto” tem patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão e conta, nesta última apresentação, com parcerias locais da Secretaria Municipal de Cultura de Açailândia, Luthieria Soares, Rádio Sorriso FM e Studio Toka do Abrigo. O repertório é composto por clássicos da música popular brasileira e do pop rock nacional e internacional, de nomes como Belchior, Fagner, Raul Seixas, Zé Ramalho, Beatles, Bob Dylan, Angela Ro Ro e Roberto Carlos, entre outros.
“Chegamos ao fim desta temporada com a sensação do dever cumprido. A pandemia ainda não acabou e a gente, com a crise sanitária, teve ainda mais certeza da centralidade da cultura em nossas vidas; a música e outras formas de expressão artística têm nos ajudado a atravessar esse momento difícil. E mesmo que ainda não tenha acabado completamente, é muito bom poder reencontrar o público, com todos os cuidados que a situação exige, e também com artistas de cada cidade por onde passamos, nesse diálogo sempre interessante e estimulante, de muitas trocas e aprendizados”, comenta o cantor Wilson Zara.
Para Allan Soares, produtor local do evento, “o “Acalanto” é de grande importância cultural para o município de Açailândia. Temos acompanhado os municípios por onde o projeto tem passado e ficamos agradecidos por nossa cidade ter sido incluída na rota”, afirma.
“O projeto “Acalanto” circula por diversas cidades e Açailândia foi contemplada. A caravana apresenta um show musical para os amantes da boa música, com o grande artista Wilson Zara, cantor e músico de grande importância para a cultura do nosso estado. A Secretaria de Cultura agradece imensamente aos produtores do projeto por escolher nossa cidade como destino dessa turnê. Para nós é um privilégio receber tal espetáculo musical”, agradece o Secretário Municipal de Cultura de Açailândia Xico Cruz.
Gratuidade – Como todas as apresentações realizadas até aqui, a população também poderá desfrutar do show de forma gratuita em Açailândia – o encerramento da temporada acontece dia 23 de julho (sábado), às 20h, na Praça da Bíblia. Antes, o show “Acalanto”, do Trio Zamoma, foi apresentado nos municípios de Caxias (20 de maio), Lago da Pedra (3 de junho), Pedreiras (4 de junho), Governador Eugênio Barros (Vila Socorro, 1º. de julho), Barra do Corda (2 de julho), Grajaú (15 de julho) e Montes Altos (17 de julho).
Serviço
O quê: show de encerramento da turnê “Acalanto” Quem: Trio Zamoma (Wilson Zara, Moisés Ferreira e Mauro Izzy). Participações: Eldima Barros, Fernando Terra e banda Abrigo de Loa Quando: sábado (23), às 20h Onde: Praça da Bíblia (Av. Bernardo Sayão, Açailândia/MA) Quanto: grátis Patrocínio: Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão Parcerias: Secretaria Municipal de Cultura de Açailândia, Luthieria Soares, Rádio Sorriso FM e Studio Toka do Abrigo Informações: no instagram @wilsonzarazara ou facebook @trilhasetons
Turnê do Trio Zamoma chega a mais dois municípios sexta-feira e domingo que vem
Mauro Izzy, Wilson Zara e Moisés Ferreira, o Trio Zamoma. Foto: divulgação
Wilson Zara (voz e violão), Moisés Ferreira (guitarra) e Mauro Izzy (contrabaixo) se juntaram no Trio Zamoma e, neste formato enxuto, estão percorrendo oito municípios maranhenses desde maio passado, com o projeto “Acalanto”, patrocinado pela Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.
Com um repertório de clássicos da música popular brasileira e do pop rock nacional e internacional, a pequena turnê tem estabelecido diálogos entre os artistas e manifestações culturais locais das cidades por onde passam.
Os próximos destinos de “Acalanto” são os municípios de Grajaú e Montes Altos. No primeiro, o Trio Zamoma se apresenta na Pracinha da Trizidela, dia 15 (sexta-feira), às 20h, como apoio local da Prefeitura Municipal; já no segundo, o show integra a programação de abertura dos festejos de Santa Ana, padroeira da cidade. Em Montes Altos, a apresentação acontece dia 17 (domingo), no mesmo horário, na Praça de Santa Ana, com apoio da Paróquia de Santa Ana. Todas as apresentações da turnê são gratuitas e abertas ao público.
Em Montes Altos o show se soma à missa e leilões, tradicionalmente realizados durante festejos religiosos. “Montes Altos se sentirá privilegiada com um show dessa envergadura e melhor ainda, totalmente gratuito. É muito importante entrar nesse circuito turístico e de shows do Estado e a passagem do Trio Zamoma por aqui certamente será uma fonte de inspiração para nossos artistas locais”, afirma a pedagoga imperatrizense Neuzinete Guimarães, moradora de Montes Altos.
“Estes encontros, estas trocas, têm nos motivado bastante enquanto artistas; estamos buscando levar sempre o nosso melhor, tentando corresponder às expectativas do público, a interação e o carinho com que temos sido recebidos por onde já passamos com a turnê “Acalanto””, comenta o cantor Wilson Zara.
Serviço
O quê: shows da turnê “Acalanto” Quem: o Trio Zamoma – Wilson Zara (voz e violão), Moisés Ferreira (guitarra) e Mauro Izzy (contrabaixo) Quando/onde: dia 15 (Pracinha da Trizidela, em Grajaú); e dia 17 (Praça de Santa Ana, em Montes Altos), sempre às 20h Quanto: grátis Informações: instagram @wilsonzarazara e facebook @trilhasetons Patrocínio: Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão
Apresentações gratuitas do Trio Zamoma acontecem sexta (1º.) e sábado (2)
[release]
Moisés Ferreira, Wilson Zara e Mauro Izzy, o Trio Zamoma. Foto: divulgação
Vila Socorro, no município de Governador Eugênio Barros, recebe nesta sexta-feira (1º.), às 20h, o show “Acalanto”, do Trio Zamoma, formado por Wilson Zara (voz e violão), Moisés Ferreira (guitarra) e Mauro Izzy (contrabaixo). O evento contará com a presença do poeta Salgado Maranhão, filho ilustre do lugar, que lança, na ocasião, seu 15º. volume de poemas, o livro “Pedra de encantaria”. Na mesma noite haverá ainda o lançamento do filme “Rio Itapecuru, a revolta de D. Zefa”, do cineasta Josimar Gonçalves, também natural de Vila Socorro.
“A parceria com o Zara começou de forma inusitada: há quase 10 anos ele foi convidado para participar de uma outra homenagem que me fizeram e ele mandou super bem de cover do Raul Seixas numa noite memorável. Daí surgiu uma amizade e admiração que só se fortalecem”, relembra Salgado Maranhão.
Parceiro de nomes como Elton Medeiros, Gereba, Ivan Lins, Moacyr Luz, Paulinho da Viola, Rosa Passos e Zé Américo Bastos, entre outros, Salgado Maranhão tem sua “Caminhos de sol” (parceria com Herman Torres), sucesso de Zizi Possi, no repertório de “Acalanto”. Em Vila Socorro a apresentação acontecerá na Praça Central.
A turnê “Acalanto” tem patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão, e tem levado a diversos municípios do interior maranhense um repertório de clássicos da música popular brasileira e do pop rock nacional e internacional, sempre dialogando com manifestações culturais locais.
“Muitos eugenio-barrenses já conhecem a arte do cantor Wilson Zara. Temos um carinho muito especial por ele e este projeto é de grande relevância para o Maranhão, por possibilitar a diversas comunidades apreciar música de qualidade. Esse show certamente irá proporcionar momentos muito agradáveis em Vila Socorro”, aposta a relações públicas Heracília Oliveira, que está na organização local do evento.
No dia 2 (sábado), “Acalanto” chega a Barra do Corda. O show acontece na Praça Melo Uchoa, Centro, às 20h. “Este projeto foi idealizado no momento da pandemia e foi desenvolvido para levar uma música mais tranquila, mais suave, para que chegasse às pessoas num momento tão difícil. É muito importante para nossa cidade receber um evento como esse”, afirma o músico Cabral Marán, guitarrista da banda Engenheiros Urbanos.
A apresentação do Trio Zamoma em Barra do Corda terá um sabor todo especial, pois marca o reencontro do cantor Wilson Zara com o público de sua cidade natal.
Serviço
O quê: shows da turnê “Acalanto” Quem: Trio Zamoma – Wilson Zara (voz e violão), Moisés Ferreira (guitarra) e Mauro Izzy (contrabaixo) Quando/onde: dia 1º (sexta), às 20h, na Praça Central em Vila Socorro (Governador Eugênio Barros); e dia 2 (sábado), no mesmo horário, na Praça Melo Uchoa, em Barra do Corda Quanto: grátis Informações: no instagram @wilsonzarazara ou facebook @trilhasetons Patrocínio: Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão
O baixista Nema Antunes dedicou seu show a seus pares de instrumento Arthur Maia (1962-2018) e Mauro Sérgio, falecido ano passado, vítima de covid-19. Com ele, no palco, um sexteto formado no Maranhão, para a apresentação, incluindo dois integrantes do Quarteto Buriti – de que o contrabaixista Mauro Sérgio, ex-professor da Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo, fez parte: Ronald Nascimento (bateria) e Daniel Cavalcanti (trompete e flugelhorn), este também professor da Emem. Ao piano, Marcelo Carvalho, autor de um dos números instrumentais do roteiro, gravado por Nema em “Plúmbeo”, seu disco mais novo. O grupo se completava com Israel Dantas (guitarra), Ricardo Mendes (saxofone) e Renato Serra (teclado) e demonstrou, ao longo da apresentação, que a prática leva à perfeição, tal a qualidade da performance.
Era o show de abertura do Palco Mundo 2022, projeto que integra o circuito Lençóis Jazz e Blues Festival, normalmente realizado em paralelo ao evento, no segundo semestre, com apresentações em Barreirinhas e São Luís. Nenhuma das seis atrações do line up dos dois dias do evento é novidade na produção de Tutuca Viana: todos já se apresentaram em edições anteriores do LJBF. Mas valeu a pena o reencontro de artistas com a plateia, sentimento recíproco traduzido em palavras ouvidas tanto no palco como entre o público.
Os artistas celebravam esse reencontro, após dois anos de lives e esporádicas apresentações presenciais. Não sei se isso potencializou a ranzinzice do repórter, cada vez menos tolerante com aqueles que vão a teatros para ver o show através da tela do smartphone ou que aproveitam qualquer intervalo para ver ou ouvir, obviamente sem fones de ouvido, para azar da vizinhança, o último vídeo do tik tok ou a última mensagem de áudio enviada no grupo da família. Depois não me venham reclamar de Zé da Chave, que obviamente chegou na metade da primeira apresentação, instalou-se na frisa mais próxima à direita do palco e atacou com seu molho.
A apresentação seguinte era do gaitista brasiliense Gabriel Grossi, acompanhado por Eduardo Farias (piano e teclados), Michael Pipoquinha (baixo) e Sérgio Machado (bateria), outro super grupo.
O show foi pautado no repertório de seu disco mais recente, “Re disc cover”, um trocadilho esperto que joga com o fato de ser um disco de releituras de clássicos do pop rock das décadas de 1960 a 90 e sua redescoberta, seja por um público mais jovem, seja por amantes da música instrumental brasileira com pouca relação com bandas como Oasis, Nirvana, Queen e Jackson 5, entre outras – em maio do ano passado ele conversou com Gisa Franco e este repórter, no Balaio Cultural, da Rádio Timbira AM, sobre o álbum.
Grossi se entrega completamente no palco, entre despir o repertório das letras que estamos acostumados a cantar e vesti-lo com sua gaita, quase à beira do esgotamento físico: seu rosto se avermelha, os joelhos dobram, e entre um solo e outro dos músicos que lhe acompanham, muitos goles d’água, para dar conta do recado. De “Isn’t she lovely”, de Stevie Wonder, passando por “Smells like teen spirit”, do Nirvana, “Wonderwall”, do Oasis, “Ben”, do Jackson 5, “Message in a bottle”, do Police, e “Another one bites the dust”, do Queen. Ao reafirmar o prazer de estar em São Luís e falar da força da cultura do Maranhão, lembrou-se que a ilha do amor é também a Jamaica brasileira, antes de atacar de “Redemption song”, de Bob Marley.
Foi o grande show da noite, numa noite de três grandes shows. A quinta-feira seria encerrada com a apresentação do majestoso Filó Machado, setentão paulista mais conhecido e respeitado fora do Brasil, como tantos de nossos gênios. Cantor, compositor, arranjador e multi-instrumentista, apresentou um show autoral, em que prestou homenagens a “Vadeco” (o título da música remete a seu professor de violão), e lembrou a importância do aprendizado oferecido pela experiência de tocar na noite, em bares e boates.
“Se eu não tivesse tido essa experiência, agora eu estaria nervoso, me perguntando o que fazer”, disse, senhor da situação e arrancando risos e aplausos da plateia. Quando um roadie assomou ao palco para corrigir uma sobra de frequência no violão de Felipe Machado (seu neto, que cantou dois bonitos sambas autorais), ele tornou a divertir o público: “eu sou curioso. Eu fiquei vendo aqui e até esqueci de vocês”, disse, para mais gargalhadas. E continuou, num jogo de melismas e onomatopeias repetido pelo público, elogiado pelo artista. Nessa brincadeira, cantou sem o microfone, sempre acompanhado pelo público, e assim, desceu do palco e deu uma volta ao redor da plateia até retornar para junto do grupo que o acompanhava, que se completava com o mesmo baterista de Gabriel Grossi, Sérgio Machado (seu filho), Fábio Leandro (piano e teclados), Carlinhos Noronha (baixo) e Jota P (saxofones).
A programação do Palco Mundo continua hoje (25), a partir das 19h, com apresentações de Gabriela Marques, Bebê Kramer e Arismar do Espírito Santo. A entrada é gratuita e as pulseiras de acesso ao teatro podem ser retiradas na bilheteria, desde as 14h de hoje, sugerindo-se a troca por um quilo de alimento não perecível. A arrecadação será doada à ONG ludovicense Pouso Obras Sociais.