Os presentes da noite

TEXTO: ZEMA RIBEIRO
FOTOS: RIVÂNIO ALMEIDA SANTOS

A dj Josy Dominici
Apresentação da campanha “Pacto pelos 15% com fome”, da Ação da Cidadania
O Regional Caçoeira
O cantor e compositor Vinaa
Os cantores e compositores Paulinho Pedra Azul e Djalma Chaves

Não é apenas o encontro de artistas cantando e tocando e a plateia batendo palmas. Camadas se desdobram e palavras como encanto e magia bem servem para tentar traduzir o que aconteceu na noite de sábado (6), na Praça do Letrado, no Vinhais. Servem, embora eu não saiba se são suficientes. Creio que não, afinal de contas, tudo ali transbordava, seja a qualidade das apresentações, o ambiente aconchegante e afetuoso, o clima de feira com as barracas do entorno, a alegria de encontros e reencontros.

Era do que se tratava: após dois anos suspensas em razão do isolamento social imposto pela pandemia de covid-19 (breve exceção se abriu ano passado quando os saraus foram realizados nos jardins do Museu Histórico, com controle de acesso), os chorões e choronas da ilha estavam ávidos por uma roda de choro nos moldes a que estavam acostumados. Mas a de sábado foi além.

O evento abriu espaço para a coordenação estadual da campanha “Pacto pelos 15%”, da Ação da Cidadania, que busca doações e voluntários para amenizar o flagelo da fome, que atormenta mais de 30 milhões de brasileiros, além dos que vivem em situação de insegurança alimentar. Além de falas de representantes da ONG, vídeos da campanha foram exibidos ao longo da programação.

A dj Josy Dominici voltou a se apresentar após cerca de 10 anos dedicando-se a outras frentes. Sua sequência aqueceu o ótimo público presente, com um repertório de muito bom gosto, entre clássicos do samba e choro, música popular brasileira e reggae, além de elementos da cultura popular do Maranhão.

O caminho foi seguido pelo Regional Caçoeira: choro, baião, bumba meu boi e samba, com pitadas jazzy, integraram o cardápio de Ricardo Mendes (clarinete, flauta e saxofones), Wanderson Silva (pandeiro), Wendell Cosme (cavaquinho de seis cordas e bandolim de 10 cordas) e Thiago Fernandes (violão de sete cordas). O virtuosismo e versatilidade do quarteto levaram o público a um passeio por clássicos de Pixinguinha, Severino Araújo, Donato Alves, Raimundo Makarra e Coxinho, entre outros, além de temas autorais de Wendell, como o “Baião das três”, composta por ele especialmente para o sarau.

Vinaa revelou que ansiava estar no palco de RicoChoro ComVida na praça já há algum tempo. Lembrou-se das origens, do acolhimento por nomes como Cury – autor de “O que me importa”, sucesso de Tim Maia que figurou em seu repertório àquela noite – e Zeca Baleiro – com quem gravou “Cicatriz (No regresa)” em “Elementos e hortelãs na terra dos eucaliptos” (2019), seu segundo disco, também presente ao setlist.

“Agora vocês me dão licença para eu botar os óculos de Cartola”, pediu, antes de cantar “O mundo é um moinho”, clássico do repertório do mangueirense, um dos grandes momentos de uma noite para lá de especial.

Também acompanhado pelo Regional Caçoeira, Djalma Chaves, ao violão, iniciou sua apresentação com o clássico absoluto “Aquarela brasileira” (Silas de Oliveira), apresentando um repertório de clássicos que incluiu também, entre outras, “Tristeza” (Niltinho Tristeza). E foi ele o responsável pela grande surpresa da noite, ao chamar ao palco o parceiro mineiro Paulinho Pedra Azul, que de passagem pela ilha, deu uma canja inspirada, elogiando o grupo anfitrião.

“Você já é ludovicense, é o mineiro mais maranhense que eu conheço”, afirmou Djalma Chaves, ao que Pedra Azul retrucou: “só falta oficializar”. Antes da participação musical, leu um poema que havia escrito na manhã de sábado, exaltando as belezas de São Luís, cidade com que mantém estreita e longeva relação – ganhará melodia?

Começou por “Carinhoso” (Pixinguinha), cantada em dueto com Djalma Chaves. Em seguida, provocado pelo grupo, atacou de “Cantar” (Godofredo Guedes) e aos pedidos de mais um e com a capacidade de improviso do Caçoeira (que não havia ensaiado com o convidado surpresa), atendeu com “Jardim da fantasia” (Paulinho Pedra Azul), certamente um de seus maiores clássicos.

Presente à Praça do Letrado, o jornalista e historiador Marcus Saldanha, em uma rede social, sintetizou a noite: “uma noite de presentes para os presentes”.

O próximo sarau RicoChoro ComVida na Praça acontece dia 20 de agosto (sábado), às 19h, na Praça Nossa Senhora de Nazaré (Cohatrac). As atrações são o dj Marcos Vinícius, o Instrumental Tangará, a cantora Bia Mar e o cantor Carlinhos da Cuíca. O evento é uma realização da Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt, com produção de RicoChoro Produções Culturais e Girassol Produções.

Encontro de gerações marca estreia da temporada 2022 de RicoChoro ComVida na Praça

[release]

Projeto terá três saraus presenciais em agosto; o primeiro acontece sábado (6) e tem como atrações a dj Josy Dominici, Regional Caçoeira, Djalma Chaves e Vinaa

O cantor e compositor Djalma Chaves. Foto: divulgação
O cantor e compositor Vinaa. Foto: Enzo Hofmann

Artistas de distintas gerações, os maranhenses Djalma Chaves e Vinaa se encontram no próximo sarau musical do projeto RicoChoro ComVida na Praça, que acontece neste sábado (6), às 19h, na Praça do Letrado (Vinhais), inaugurando a temporada 2022 do projeto.

Se o primeiro geralmente é mais associado com a música popular brasileira, poderíamos dizer que o segundo está mais para o pop. Em comum, ambos têm como marcas de seu trabalho o zelo com a qualidade e a estreita relação com suas origens.

Uma das mais bem sucedidas canções de Djalma Chaves é “Santo milagreiro”, composta inspirada nos festejos de São Raimundo dos Mulundus, em sua Vargem Grande natal. O trabalho mais recente de Vinaa é “Fé de Alimária”, disco que traz no título o nome de sua avó e é uma profunda pesquisa pelo cancioneiro maranhense, com um repertório formado por releituras de nomes que vão de Catulo da Paixão Cearense, Coxinho e João do Vale a Betto Pereira, Erasmo Dibell e Josias Sobrinho, entre outros.

O Regional Caçoeira. Montagem. Divulgação

Os dois artistas serão acompanhados pelo Regional Caçoeira, formado por Wendell Cosme (cavaco e bandolim), Wanderson Silva (percussão), Tiago Fernandes (violão sete cordas) e Ricardo Mendes (saxofone e flauta). A temporada 2022 de RicoChoro ComVida na Praça tem direção musical de Rui Mário.

A dj Josy Dominici. Foto: divulgação

A noite contará ainda com discotecagem da dj Josy Dominici, uma das pioneiras na discotecagem de reggae, um espaço ainda majoritariamente masculino, tendo integrado a equipe África Brasil Caribe, do dj Ademar Danilo. Sua apresentação no projeto RicoChoro ComVida na Praça marca um retorno da dj ao circuito, já que sua última aparição aconteceu em 2010, quando passou a se dedicar a outros projetos, de empreendedorismo e empoderamento negro e feminino.

O sarau RicoChoro ComVida na Praça é uma realização da Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt, com produção de RicoChoro Produções Culturais e Girassol Produções, que agradecem o apoio do Deputado Federal Bira do Pindaré para sua realização, através de emenda parlamentar destinada à Prefeitura Municipal de São Luís, através da Secretaria Municipal de Cultura.

Arte na luta contra a fome – RicoChoro ComVida na Praça é parceiro da campanha “Pacto pelos 15% com fome”, da ONG Ação da Cidadania. Interessados/as poderão se cadastrar como voluntários/as, fazer doações e/ou conhecer melhor a campanha, que busca minimizar os efeitos da tragédia nacional: atualmente mais de 33 milhões de brasileiros não têm o que comer. O objetivo do “Pacto pelos 15% com fome” é “promover uma grande aliança entre entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores, para atuarem na linha de frente no combate à fome e às desigualdades sociais”.

Acessibilidade cultural – O evento é gratuito e aberto ao público e possui acessibilidade cultural, com a oferta de assentos preferenciais, banheiros adaptados, audiodescrição e tradução simultânea em libras, a língua brasileira de sinais.

Divulgação

Serviço

O quê: sarau RicoChoro ComVida na Praça
Quem: dj Josy Dominici, Regional Caçoeira, Djalma Chaves e Vinaa
Quando: dia 6 (sábado), às 19h
Onde: Praça do Letrado (Vinhais)
Quanto: grátis
Informações: @ricochoro (instagram e facebook)

“Comida, diversão e arte”

[release]

RicoChoro ComVida na Praça terá três edições presenciais em agosto; projeto estabeleceu parceria com a Ação da Cidadania na campanha “Pacto pelos 15% com fome”

Chorinho (1942). Candido Portinari. Reprodução

15% da população brasileira não têm o que comer atualmente, no maior retrocesso da história do país. É pensando nestes mais de 33 milhões de brasileiros que a Ação da Cidadania lançou, no último dia 15 de julho, a campanha “Pacto pelos 15% com fome”, que visa “promover uma grande aliança entre entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores, para atuarem na linha de frente no combate à fome e às desigualdades sociais”. O objetivo é “viabilizar doações diretamente para as instituições do Pacto e cadastrar voluntários na luta contra a insegurança alimentar”.

No Maranhão, a primeira iniciativa a abraçar a causa é o projeto RicoChoro ComVida na Praça, que terá três edições presenciais em agosto: dias 6, 20 e 27, nas praças do Letrado (Vinhais), Nossa Senhora de Nazaré (Cohatrac) e Largo da Igreja do Desterro, respectivamente, sempre às 19h. Os eventos são gratuitos e abertos ao público.

“Este evento sempre prezou pelo diálogo e pela diversidade, além do afeto. Palco e plateia em comunhão no exercício de fazer e fruir boa música, alimento para a alma. Agora, diante da tragédia social brasileira, irmanamo-nos a esta importante iniciativa da Ação da Cidadania, sempre lembrando o início de tudo, com os ideais do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. É colocar em prática a máxima dos Titãs: “a gente quer comida, diversão e arte”, aproveitando ainda para agradecer à sensibilidade do deputado Bira do Pindaré, pelo apoio ao projeto, e à Prefeitura de São Luís, através da Secretaria Municipal de Cultura, fundamental para viabilizá-lo”, comenta o sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos, idealizador e coordenador de RicoChoro ComVida na Praça.

No primeiro sarau, as atrações são a dj Josy Dominici, o Regional Caçoeira e os cantores Vinaa e Djalma Chaves; depois é a vez do dj Marcos Vinícius, Instrumental Tangará, a cantora Bia Mar e o cantor Carlinhos da Cuíca; e na última edição desta temporada, o sarau terá como atrações o dj Jorge Choairy, o Quarteto Crivador e o cantor Cláudio Lima, com a participação especial da cantora Dicy.

RicoChoro ComVida na Praça é uma produção de RicoChoro Produções Culturais e Girassol Produções Artísticas. O evento garante acessibilidade cultural para pessoas com deficiência, com assentos prioritários, banheiros acessíveis, audiodescrição e tradução simultânea em libras, a língua brasileira de sinais.

Festival apresentou resultados do projeto “Catadores de Direitos”

Sábado passado (26/10), no Festival Estadual “Nossos Talentos, Nossos Direitos”, crianças e adolescentes mostraram o que aprenderam em projeto realizado pela Cáritas no Maranhão

Foto: Elson Paiva
Foto: Elson Paiva

Foto: Elson Paiva
Foto: Elson Paiva

O time de Buritirana goleou um combinado de vários outros municípios maranhenses por 4×0. A partida durou meia hora. Caíque, de 11 anos, cursando o quinto ano, Luciano Jr., 10, também cursando o quinto ano, e Alan, 8, do terceiro ano, eram só alegria, pela vitória, terminando de gastar as energias que sobraram do amistoso pelos brinquedos e equipamentos de ginástica da Praça do Letrado, no Vinhais, em São Luís. “Sim” foi a resposta em uníssono quando indaguei-lhes se queriam ser atletas profissionais. O mais velho e o mais novo são flamenguistas; o do meio, são-paulino.

O conselho que lhes dei, “não basta ser bom de bola, não pode parar de estudar”, eles devem ouvir repetidamente. O trio integra o conjunto de crianças e adolescentes filhos e filhas de catadores e catadoras de materiais recicláveis ou de famílias de baixa renda atendidos pelo projeto Catadores de Direitos, realizado pela Cáritas Brasileira Regional Maranhão com apoio da Kindermission desde 2012 – e de forma ininterrupta desde 2017.

É uma manhã ensolarada de sábado e estamos no “Festival Estadual Nossos Talentos, Nossos Direitos”, que ocupou a praça pública em São Luís, após ter etapas regionais realizadas nos municípios de atuação do projeto: Bacabal, Balsas, Imperatriz, Lago da Pedra e Loreto. Futebol, roda de capoeira, música, poesia, dança e teatro integraram o cardápio do festival, uma mostra de talentos a demonstrar o que a gurizada aprendeu durante o projeto, que passará por avaliação em novembro, ocasião em que definirá novos municípios de atuação. Também para novembro está previsto o lançamento de um vídeo-documentário sobre o projeto, em fase de finalização.

“Em alguns municípios as equipes estão bem organizadas e continuarão o trabalho. A  Cáritas está aberta a parcerias”, destacou Lucineth Cordeiro, da coordenação colegiada do organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Maranhão, reforçando o princípio de rotatividade do projeto e das ações da Cáritas.

Luziane Alves é mãe de quatro filhos atendidos pelo projeto Catadores de Direitos. “Percebi que eles melhoraram em casa e no desempenho escolar, são interessados em leitura”, afirma sobre os filhos, que têm entre oito e 13 anos.

Instrutor de capoeira, Onivaldo de Assis, 44, atua há dois no projeto, em Bacabal. “É um longo trabalho de conscientização. É preciso despertar a vontade de querer aprender, valorizando o esporte e a cultura, fazendo essa moçada crescer como pessoas, ser alguém na vida. É um trabalho árduo, que une conhecer direitos com ter saúde”, comenta.

Gleicilene Araújo, 13, conta ter aprendido capoeira, carimbó, futebol e violão – ela foi uma das que se apresentou ao instrumento, cantando uma música sobre o meio ambiente. “É um projeto importante. Conheci pessoas que passaram a ir e conseguiram sair do mundo das drogas”, revela.

O sol a pino não esmorecia os presentes, animados pelo mestre de cerimônias Tedd Mac, que sabe unir bom humor e dicas úteis para a garotada – em perfeita sintonia com os valores ensinados aos beneficiários do projeto. Motivos para sorrir não lhes faltavam: estavam ali a exibir seus talentos e ganhar medalhas, que penduravam no pescoço, orgulhosos, conscientes de seu papel de sujeitos de direitos, mesmo que uns insistam em negar ou dizer o contrário.

“Os meninos e meninas e o povo no poder eu quero ver”, era palavra de ordem, grito de guerra – ou de contra-ataque, com endereço certo. “Criança tendo voz, vez e lugar: esse é o país que a gente quer”, afirmou Lena Machado, secretária executiva da Cáritas no Maranhão. “Eles não precisam de sorte, é de oportunidades que precisam, de respeito a seus direitos, para que cresçam em graça e sabedoria”, finalizou, certa da missão ao mesmo tempo cumprida e em progresso.

(texto originalmente publicado no JP Turismo, Jornal Pequeno de hoje)