O choro de Rui Mário na emocionante primeira noite de Lençóis Jazz e Blues Festival 2025

Rui Mário e seu Quarteto, na abertura do Lençóis Jazz e Blues Festival 2025, ontem (21), no Teatro Sesc Napoleão Ewerton - foto: Zema Ribeiro
Rui Mário e seu Quarteto, na abertura do Lençóis Jazz e Blues Festival 2025, ontem (21), no Teatro Sesc Napoleão Ewerton – foto: Zema Ribeiro

Rui Mário chorou no palco. Pura emoção. Como a que fez sentir o público presente. Era a primeira vez dele ali, em um show solo, ele geralmente visto como músico acompanhante e diretor musical de um monte de artistas, como ele mesmo lembrou.

Ao lado de sua sanfona, seu nome figura em fichas técnicas de álbuns como “Shopping Brazil” (2004), de Cesar Teixeira, “Dente de ouro” (2005), de Josias Sobrinho, e “Olho de boi” (2009), de Gildomar Marinho, para citar poucos.

Acompanhado do irmão Tião Lima (zabumba) e do sobrinho Vinícius Lima (triângulo e pandeiro), o núcleo pé de serra de seu quarteto, mais o groove dos ensandecidos Dedé Valença (baixo) e Marcones Pinto (guitarra), Rui Mário (sanfona) fez um show vibrante, dançante (pena estarmos sentados nas poltronas de um teatro em vez de “numa sala de reboco” ou numa praça da cidade), num passeio entre os guarda-chuvas que se convencionaram chamar forró e jazz.

A base do repertório desfilado pelo quinteto foi o álbum “Baião de doido”, que Rui Mário lançou este ano. Começaram pela faixa-título e desafilaram um rosário de referências e reverências que passou por Seu Raimundinho (pai do sanfoneiro e patriarca de uma família de músicos, sei lá quantos trios de forró pé de serra é possível formar ao longo dos galhos de sua árvore genealógica) — “Frevo pro Seu Raimundinho” —, pela filha Maria Eduarda (muitos familiares do músico na plateia) — “Xote desencabulado” — e pelo colega de instrumento Eliézio — “Meu nobre Eliésio” —, outra figura fácil em fichas técnicas de discos da música popular brasileira produzida no Maranhão, ídolo e amigo “que vivia lá em casa, chegava às cinco da manhã, aí está meu pai que não me deixa mentir; aprendi muita coisa com ele”, lembrou Rui Mário.

A emoção de Rui Mário não era jogo de cena para conquistar plateia. Suas lágrimas, no entanto, não se confundiam com timidez: no papel de frontman, o artista estava à vontade, evocando um Jimi Hendrix (1942-1970) na desenvoltura: certamente o americano tocaria daquele jeito se tivesse nascido no Nordeste brasileiro e fosse sanfoneiro em vez de guitarrista. O maranhense só não usou os dentes para fazer soar seu fole.

No bloco dedicado a Hermeto Pascoal (1936-2025), homenageado da edição 2025 do Lençóis Jazz e Blues Festival, Rui Mário equilibrou-se entre a conhecidíssima “Bebê”, em inspirado arranjo, e uma menos óbvia, e tão interessante quanto, “Suíte Norte Sul Leste Oeste”.

“Eu sempre quis dizer isso”, Rui Mário agora ria, enquanto agradecia à produção do festival e anunciava sua saideira, incitando o público a pedir mais uma. “E agora, que não tem no repertório?”. Acompanhado apenas dos parentes, formando um dos trios de forró pé de serra possíveis na árvore genealógica de Seu Raimundinho, antes da foto de costas para o público, atacaram o “Toque de pife”, de Dominguinhos (1941-2013), outra referência fundamental para qualquer sanfoneiro. E a apresentação de ontem foi mais um atestado de que Rui Mário não é um sanfoneiro qualquer.

A noite de abertura da edição 2025 do Lençóis Jazz e Blues Festival aconteceu ontem (21) no Teatro Sesc Napoleão Ewerton. O primeiro show da noite foi do Tiago Fernandes Trio — ele ao violão sete cordas, mais Valdico Monteiro (percussão) e Victtor Sant’anna (bandolim) —, que se apresentou no hall do Condomínio Fecomércio, recepcionando o público. Um show sóbrio e elegante, que incluiu temas como “Canto de Ossanha” (Baden Powell e Vinícius de Moraes), “Samba do avião” (Tom Jobim) e “Boi de Catirina” (Ronaldo Mota).

A noite foi encerrada pelo Mark Lambert Trio, num passeio por rock, jazz e blues, entre temas de nomes como Al Green e Ray Charles (1930-2004), entre outros. O líder, cantor e guitarrista radicado há oito anos em São Paulo, conquistou a plateia de cara, quando se apresentou, brincando: “eu sou norte-americano, ninguém é perfeito”.

Ladeado por Glécio Nascimento (baixo) e Max Sallum (bateria), o uso de pedais de efeitos pelo guitarrista e pelo baixista — a quem Lambert se referiu muitas vezes ao longo da apresentação — faziam o power trio soar por vezes como a eletrônica dos alemães do Kraftwerk. Dançamos sentados.

A programação — inteiramente gratuita — do Lençóis Jazz e Blues Festival 2025 continua sexta-feira (24), às 20h, na Concha Acústica Reinaldo Faray (Lagoa da Jansen). As atrações são o bandolinista Wendell de La Salles, o Jayr Torres Quarteto e o mineiro Beto Guedes.

A etapa Barreirinhas acontece na Avenida Beira-Rio, dias 31 de outubro e 1º. de novembro, também a partir das 20h; na primeira noite por lá as atrações são Luciana Pinheiro, Vanessa Moreno e Arismar do Espírito Santo e Morgana Moreno; na noite de encerramento se apresentam o Jota P Quarteto, Alice Caymmi e os americanos JJ Thames & Prado Brothers Band.

A força do longevo Quinteto Violado, atualmente um sexteto, a rigor

O Quinteto Violado no palco do Teatro Sesc Napoleão Ewerton, ontem (15) - foto: Zema Ribeiro
O Quinteto Violado no palco do Teatro Sesc Napoleão Ewerton, ontem (15) – foto: Zema Ribeiro

Ver o Quinteto Violado ao vivo no palco é confirmar o que atestou Gilberto Gil há mais de 50 anos: eles fazem o free nordestino, abreviando e aludindo ao free jazz, a sonoridade encorpada do grupo com liberdade total para a improvisação e para aglutinar elementos da música popular, da música erudita e de folguedos da região nordestina, celebrada pelos seis músicos no espetáculo “Sertão”, apresentado ontem (15), em São Luís, no Teatro Sesc Napoleão Ewerton.

Não, você não leu errado (como um deles disse, ontem, durante o show: vocês não estão vendo errado): com o reforço do violeiro Waleson Queiros, um “viola heroe”, o Quinteto Violado é, atualmente, um sexteto, o que só reforça o groove de seu free.

Em entrevista exclusiva a este repórter, Marcelo Melo, voz e violão firmes aos 79 anos, ressaltou a disciplina como elemento fundamental para eles terem chegado onde chegaram. O cantor, compositor e violonista é o único remanescente da formação original, com o grupo tendo chegado aos 54 anos de estrada — há 10 não vinham à São Luís.

O grupo se completa com Dudu Alves (voz e teclado), Deri Santana (flauta), Sandro Lins (baixo) e Roberto Medeiros (voz e bateria). Em determinados pontos do espetáculo todos têm a oportunidade de exibir seu virtuosismo aos instrumentos. No bis, quase uma jam session, o improviso uniu temas que foram de “Baião” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) a “O trenzinho do caipira” (Heitor Villa-Lobos, Ferreira Gullar e Edu Lobo).

Elegantemente vestidos em roupas cujos tecidos bordados fazem referência ao gibão de couro tornado famoso por Lampião (1898-1938) e Luiz Gonzaga (1912-1989), os músicos estavam super à vontade no palco, entre o repertório, causos, histórias da trajetória e um depoimento gravado do segundo destacando a importância do Quinteto Violado para a música brasileira (o que também tinha me antecipado Marcelo Melo).

Além de Gonzaga — “Asa branca” (parceria com Humberto Teixeira), “A volta da Asa branca” (parceria com Zé Dantas) e “Acauã” (de Zé Dantas, sozinho) —, o repertório trouxe temas autorais — “Vaquejada” (Toinho Alves, Marcelo Melo e Luciano Pimentel), “Palavra acesa” (José Chagas e Fernando Filizola) —, além de nomes como Gilberto Gil — “Lamento sertanejo” (parceria com Dominguinhos) —, Milton Nascimento — “Notícias do Brasil (Os pássaros trazem”, parceria com Fernando Brant —, Alceu Valença — “Morena tropicana” (parceria com Vicente Barreto) —, e Paulo Diniz — “Pingos de amor” (parceria com Odibar) —, entre outros. A última antes do bis foi “Leão do Norte” (Lenine e Paulo César Pinheiro), uma espécie de síntese da nordestinidade.

Merece destaque também a menção ao paraibano Geraldo Vandré, cuja importância Marcelo Melo destacou, lembrando do encontro com o conterrâneo na França, quando ajudou-o a gravar “Das terras de benvirá” (1973), seu último álbum. “A ditadura militar não gostava de suas músicas e ele, como muitos intelectuais, foi obrigado a se exilar”, lembrou, para ouvir gritos de “sem anistia!” da plateia, e depois cantar “Pra não dizer que não falei as flores (Caminhando)” e “Disparada” (parceria com Théo de Barros).

Um espetáculo impecável que dá conta de reafirmar a importância da região Nordeste para a música e a cultura brasileiras, propósito de “Sertão” (que vai virar o próximo álbum do grupo), além da força do groove do free nordestino do Quinteto Violado. Vida longa!

Joãozinho Ribeiro celebra a vida e a arte em dois shows no Teatro Arthur Azevedo

[release]

Apresentações acontecem dias 3 e 4 no Teatro Arthur Azevedo, com participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro - foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro – foto: divulgação

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro completou, em 2025, 70 anos de idade e 60 de uma vitoriosa batalha contra um câncer. Uma de suas frases de cabeceira, do pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), diz que “o dever do artista é salvar o sonho”. O artista entende que a celebração da vida passa pela celebração da arte.

Estes são os motes do show “Canções da Vida e da Arte”, que Joãozinho Ribeiro apresenta nos próximos dias 3 e 4 de outubro, às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), com as participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe.

Com produção e coordenação geral de Lena Santos, o show de Joãozinho Ribeiro tem direção geral do artista, que será acompanhado pelos músicos Rui Mário (sanfona, teclados e direção musical), Arlindo Pipiu (violão e guitarra), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Robertinho Chinês (cavaquinho), Carlos Raqueth (baixo), Ronald Nascimento (bateria), Marquinhos Carcará (percussão), Kátia Espíndola (vocal), Raquel Espíndola (vocal) e Renato Serra (teclados).

As celebrações de Joãozinho Ribeiro têm caráter solidário: os ingressos para os shows serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino. A troca pode ser feita no Convento das Mercês (sede da Fundação da Memória Republicana Brasileira, Rua da Palma, Desterro) ou no Teatro Arthur Azevedo (nos dias do espetáculo).

Joãozinho Ribeiro é um dos artistas maranhenses mais gravados, tendo músicas suas em registros de nomes como Betto Pereira, Célia Maria, Chico César, Elba Ramalho, Flávia Bittencourt, Josias Sobrinho, Lena Machado, Olodum, Rita Benneditto, Rosa Reis e Zeca Baleiro, entre outros.

Parte deste repertório autoral será lembrada nas duas apresentações do show “Canções da Vida e da Arte”, que tem patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Serviço

O quê: show “Canções da Vida e da Arte”
Quem: Joãozinho Ribeiro e convidados
Quando: dias 3 (sexta) e 4 de outubro (sábado), às 20h
Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro)
Quanto: os ingressos solidários serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino (a partir do dia 1º. de outubro no Convento das Mercês e nos dias das apresentações também na bilheteria do TAA)
Informações: no instagram @joaozinhoribeiromilhoesdeuns

O pampa (ainda) é pop

foto: Dani Kline
foto: Dani Kline

Um engarrafamento se formou a caminho do Espaço Palazzo. Comentei com ela, meio a sério, meio fazendo graça: será que é tudo por causa do show? A sirene de uma ambulância obrigou o motorista a procurar fazer brecha e adiante encontramos a obra que causava o congestionamento. Mas a casa estava cheia, percebemos logo pela quantidade de carros nos estacionamentos dos arredores.

Qualquer um já deve ter ouvido a balela de que “no tempo da ditadura é que era bom” como introdução ao elogio da música produzida na época, mas o certo é que cada época tem alguma produção de valor, num futuro breve alçada ao status de clássico.

O bom público presente ao show “Acústicos Engenheiros do Hawaii”, apresentado ontem (19) por Humberto Gessinger em São Luís, era diverso: casais, pais e filhos, gente que era adolescente à época do auge do sucesso do grupo gaúcho, adolescentes que descobrem o grande museu de novidades de outrora nas plataformas digitais e saudosistas dos anos 1980 e 90 em geral.

O loiro cabeludo subiu ao palco pontualmente às 22h para um show de quase duas horas, como o título promete, um desfile de sucessos dos dois álbuns acústicos lançados pela banda – que teve várias formações ao longo da carreira, sempre centrada na figura de seu líder: como não há Guns’n Roses sem Axl Rose não existe Engenheiros do Hawaii sem Humberto Gessinger.

Conversando com o público ou colocando a cidade nas letras de suas músicas, citou São Luís como pode, retribuindo o coro da plateia, que cantou seus clássicos a plenos pulmões. A apresentação começou por “O papa é pop”, título do disco que os Engenheiros do Hawaii lançaram em 1990 – a estreia, com “Longe demais das capitais”, completa 40 anos em 2026.

Quando cantou “Toda forma de poder”, do álbum de estreia, atualizou os versos “o fascismo é fascinante/ deixa a gente ignorante fascinada”: àquela altura o Brasil mal havia saído de uma ditadura militar que durou 21 anos e é triste constatar que boa parte da população ainda clama por anistia por aqueles que tramaram um golpe de Estado que poderia ter mergulhado o país nas sombras novamente.

A inusitada parceria com Chico César em “Paraibah”, cuja letra cruza referências gaúchas e nordestinas, lançada no mais recente álbum solo de Humberto Gessinger, “Revendo o que nunca foi visto” (2025), foi precedida por um agradecimento por tudo o que o Nordeste fez pelo Brasil.

Humberto Gessinger não deixou a peteca cair: fez um show honesto que certamente agradou a cada um/a que estava ali, com ou sem saudosismo. Uma bela maneira de celebrar antecipadamente o dia do gaúcho, comemorado hoje (20).

A reportagem assistiu ao show a convite da Dux Produções.

A casa de Mônica Salmaso (e a gente de visita)

fotos: Zema Ribeiro

Mônica Salmaso é uma das maiores cantoras do Brasil em atividade. Seu show “Minha casa”, título do recém-lançado álbum homônimo (Biscoito Fino, 2025), apresentado ontem (6), no Teatro Arthur Azevedo, é uma síntese de beleza de um Brasil possível.

Com o show, ela circula o país em turnê desde 2023; o álbum foi gravado ao vivo, ano passado, em Belo Horizonte/MG. Isto é, ela inverteu a lógica de gravar um álbum em estúdio para só então partir para o palco. O resultado é um espetáculo maduro, irretocável, não há uma falha sequer, do figurino à iluminação, durante as quase duas horas de apresentação.

Já fazia 17 anos que a cantora não se apresentava em São Luís. Esteve aqui em 2008, acompanhada do grupo Pau Brasil, no mesmo TAA, em “Noites de gala, samba na rua”, seu álbum dedicado ao repertório de Chico Buarque. Do Pau Brasil seguem com ela, no palco e no estúdio, Ricardo Mosca (bateria) e o marido Teco Cardoso (flautas e saxofone); o sexteto se completa com Tiago Costa (piano), Neymar Dias (viola e contrabaixo, único craque brasileiro com esse nome), Ari Colares (percussão) e Lulinha Alencar (acordeom).

Comparando ao espetáculo passado, ao qual este se soma entre os melhores shows que já vi na vida, Mônica Salmaso está muito mais à vontade, com uma presença de palco absurda. O título do álbum (e do show) faz todo sentido: sua casa é o palco e a plateia é a visita que sai em êxtase diante de tanta beleza. É literalmente de arrepiar.

A base do repertório é o que está registrado no álbum, com exceção de “Violada” (que não consta do cd, disponível apenas em streaming e no DVD vindouro) e “Canto sedutor”, que, do álbum homônimo, em duo com Dori Caymmi, foi parar na trilha sonora do remake da novela “Renascer”, da Rede Globo

“A gente soube dessa música vendo a novela. Aí colocavam a música quando Jacutinga estava triste. Quando Jacutinga foi embora a gente achou que a música não ia mais tocar. Aí qualquer personagem que aparecia triste, eles colocavam a música. E eu não cantava nos shows. Aí depois o artista reclama que não tem oportunidade”, contou Mônica entre os vários dedos de prosa que teve ao longo do roteiro, não raro levando à plateia aos risos.

Quando a cortina se abre, Mônica Salmaso aparece com um tamborim nas mãos e entoa “Saudações” (Egberto Gismonti e Paulo César Pinheiro), senha para um repertório que alia temas já consagrados em sua trajetória a músicas nunca antes gravadas por ela, caso de “Xote” (Gilberto Gil e Rodolfo Stroeter), a que ela se referiu como “uma música que conta uma história, algo que só é possível no Brasil”.

“99% das músicas que as pessoas me mostram, sugerindo que eu grave, são tristes. Eu até sou chegada numa tristezinha, não vou mentir, mas eu quero ver quando é que alguém vai fazer o coco da Mônica Salmaso”, contou para mais risos do público, antes de cantar “Gírias do Norte” (Jacinto Silva e Onildo Almeida), num medley com “Coco sincopado”.

“Minha casa”, como o “Canto sedutor”, surgiu de exercícios durante a pandemia: lives, vídeos e duetos, o possível para o momento tenebroso atravessado pelo planeta e, particularmente, pelo Brasil, com o agravante político da época. Ao lembrar disso, alguém na plateia gritou “sem anistia!”. “Óbvio, sem anistia!”, respondeu a cantora, que nunca deixou de manifestar sua posição e preferência política.

Quando cantou “A violeira” (Tom Jobim e Chico Buarque), lembrou de como conheceu a música e tornou a fazer rir o público presente. “Eu era adolescente e achei a trilha do filme e uma parte dela foi composta por Tom e Chico. E eu canto desde adolescente. Vocês viram que a letra é quilométrica, mas eu nunca errei, embora eu só diga isso depois de cantar. Eu sei até que rola um bolão aí [entre os músicos] para saber quando eu vou errar, mas até aqui eu sigo invicta”, disse.

“Menina amanhã de manhã” (Tom Zé e Perna) foi o segundo bis com que deixou o palco (o primeiro foi a citada “Canto sedutor”). A felicidade desabou sobre os homens (e mulheres) antes mesmo que estes deixassem o teatro. Uns, tal qual este repórter, com a companheira e a mãe, sem um bloco de notas e tendo sacado o celular apenas para fazer as fotos que ilustram este texto, ainda enfrentaram a fila para colher autógrafo, fotos e abraços, com a vontade de fazer, de tão agradável, o cantor (sedutor) de Mônica Salmaso de “Minha casa”, nossa casa.

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Reveja a entrevista de Mônica Salmaso ao Balaio Cultural de ontem (6), na Rádio Timbira FM (95,5), com este repórter:

Show em Anajatuba marca encerramento da sétima temporada da oficina Trilhas e Tons

O instrutor Nosly durante abertura de mais uma turma da oficina Trilhas e Tons, hoje, em Arari - foto divulgação
O instrutor Nosly, em sala de aula, durante oficina Trilhas e Tons – foto: divulgação

A Praça da Cruz, no Centro de Anajatuba/MA, será palco do show de encerramento da oficina Trilhas e Tons de teoria musical aplicada à música popular, realizada até esta sexta (18), no município, fechando a sétima temporada do projeto – o show acontece sábado (19), às 19h.

Ministrada por Nosly, com coordenação de Wilson Zara e assistência de Mauro Izzy, músicos de reconhecida trajetória no cenário cultural maranhense, a formação de 20 horas-aula certifica os cursistas e o show é um momento de culminância e celebração, entre a equipe do projeto e quem participa da oficina, além do oferecimento de um espetáculo musical à população local.

Como o material didático utilizado na oficina, o show também é gratuito, com caráter de formação de plateia e prática do aprendizado em sala de aula. As atividades têm patrocínio do Instituto Cultural Vale, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com realização da Zarpa Produções e Ministério da Cultura (MinC), do Governo Federal.

Anajatuba foi o quinto município a que a oficina chegou em 2025. “A sensação é, ao mesmo tempo de dever cumprido, mas também suscita a necessidade de que cheguemos a mais municípios e retornemos a outros. A demanda é grande, como nossa disposição e nossa alegria em trocar conhecimentos com gente tão interessada no assunto que nos move: a música popular”, afirma Nosly.

Show de encerramento da oficina Trilhas e Tons em Arari acontece neste sábado (12)

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O instrutor Nosly durante abertura de mais uma turma da oficina Trilhas e Tons, hoje, em Arari - foto divulgação
O instrutor Nosly e alunos da oficina Trilhas e Tons em Arari – foto divulgação

O show de encerramento da oficina Trilhas e Tons de Teoria Musical Aplicada à Música Popular, com Wilson Zara, Nosly e alunos da oficina, será realizado neste sábado, 12 de julho, às 18h, na Praça Major Pestana, no bairro Cruzeiro. A entrada é gratuita. Trilhas e Tons tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e realização de Zarpa Produções, Ministério da Cultura (MinC) e Governo Federal.

“O projeto Trilhas e Tons não é só uma oficina – é um movimento de fortalecimento da nossa identidade musical. Ele mostra para Arari e para o Maranhão que nossa música tem valor, que merece estudo, respeito e investimento. Fico muito feliz com o retorno da oficina ao município e tenho certeza de que os frutos desse projeto vão ecoar por muito tempo por aqui”, afirma a poeta Samara Volpony, coordenadora local do projeto.

Na próxima semana, entre os dias 14 e 18 de julho, a oficina chega ao município de Anajatuba, onde será realizada na na Câmara de Vereadores (Manoel Rosa Mendonça). As inscrições e o material didático utilizado são gratuitos.

Arari e Anajatuba são as próximas paradas da oficina Trilhas e Tons

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Formação em teoria musical aplicada à música popular tem 20 horas-aula e é oferecida gratuitamente

O instrutor Nosly durante abertura de mais uma turma da oficina Trilhas e Tons, hoje, em Arari - foto divulgação
O instrutor Nosly durante abertura de mais uma turma da oficina Trilhas e Tons, hoje, em Arari – foto divulgação
Oficina Trilhas e Tons iniciou nesta segunda (7) em Arari - foto: divulgação
Oficina Trilhas e Tons iniciou nesta segunda (7) em Arari – foto: divulgação

A oficina Trilhas e Tons de teoria musical aplicada à música popular terá duas edições nas próximas semanas, a serem realizadas nos municípios de Arari e Anajatuba. Com patrocínio do Instituto Cultural Vale, o projeto é realizado pela Zarpa Produções e pelo Ministério da Cultura (MinC), através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

A formação tem 20 horas-aula e é ministrada por Nosly, com coordenação de Wilson Zara e assistência de Mauro Izzy, todos músicos de reconhecida trajetória na música popular brasileira produzida no Maranhão.

Em Arari a oficina acontece no Centro de Ensino Arimatéa Cisne (Praça Major Pestana), de 7 a 11 de julho. Em Anajatuba será de 14 a 18 de julho, na Câmara de Vereadores (Manoel Rosa Mendonça). A cada município por onde passa, a oficina é encerrada com um show, que congrega os artistas que oferecem a formação, cursistas certificados e artistas locais, numa verdadeira mostra de talentos.

“É a culminância do projeto, onde a gente vê a aplicação prática daquilo que a gente troca em cinco dias. E a gente sempre lembra que não é preciso ser músico nem ter conhecimento prévio de música para participar. Desde as aulas até o show, o projeto Trilhas e Tons é pautado pela alegria destes encontros e destas trocas”, afirma o cantor e compositor Nosly.

As inscrições, o material didático utilizado nas oficinas e a entrada nos shows são totalmente gratuitos. Em seu sétimo ano, Trilhas e Tons já certificou mais de 1.500 cursistas nas cidades por onde passou, em todas as regiões do Maranhão.

A tristeza alegre de Itaercio Rocha

Foto: Guta Amabile
Foto: Guta Amabile

Ao ouvir a expressão “Ralando o cotovelo no asfalto” penso imediatamente em Lupicínio Rodrigues (1914-1974). Mas não há nenhuma música do gaúcho no coeso repertório do show que o cantor e compositor Itaercio Rocha voltou a apresentar, ontem (5, ocasião em que assisti) e anteontem (4), no Auditório Ulisses Manaças do Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis (Rua Rio Branco, 420, Centro).

Chamar-lhe cantor e compositor é pouco: o multi-artista é autor do lindo cenário, ornado por corações bordados. Acompanhado por Chico Neis (violões, arranjos e direção musical) e Gabriela Flor (percussão), Itaercio Rocha inverte a equação: em um show intimista (por isso no auditório em vez de na área aberta da casa), faz o público vibrar ao percorrer canções que falam de amor, solidão, traições, abandonos e desencontros, aliando seu canto potente à sua veia de ator.

Itaercio sobe ao palco sozinho e manda “Cão sem dono”, de Sueli Costa (1943-2023) e Paulo César Pinheiro, à capela: é a senha para mergulharmos num universo misto de dor de cotovelo (o repertório) e alegria (poder testemunhar um artista de sua envergadura no palco, ao vivo).

A costura do medley que une “Pra dizer adeus” (Edu Lobo e Torquato Neto [1944-1972]) e “Serra da Boa Esperança” (Lamartine Babo [1904-1963]) é coisa de gênio. Tom Jobim (1927-1994) dizia que difícil era fazer o simples e imediatamente, ao ouvi-las juntas, me peguei pensando: como é que ninguém havia pensado nisso antes?

Entre momentos em trio ou sozinho no palco, Itaercio Rocha, sempre fugindo do óbvio, desfilou ainda temas de Caetano Veloso (“Do cóccix até o pescoço”, lançada por Elza Soares [1930-2022]), Luiz Gonzaga (1912-1989) (“Juazeiro”, parceria com Humberto Teixeira [1915-1979]), João do Vale (1934-1996) (“Bom vaqueiro”, parceria com Luiz Guimarães) e o megahit “Alvejante” (Céu Maia), um dos momentos em que o público cantou junto. No bis mandou a autoral “Ele me ama”, talvez seu maior hit.

Não era a estreia do show, já apresentado em outras ocasiões e palcos e é curioso pensar que um espetáculo dessa magnitude não consiga ficar em cartaz por mais tempo em São Luís, mesmo tendo sido feito às próprias custas s. a., como diria Itamar Assumpção (1949-2003).

O pequeno auditório estava lotado e espero sinceramente que surjam novas oportunidades a quem, por um motivo ou outro, não tenha conseguido assisti-lo desta vez. Antes mesmo de os cotovelos se recuperarem das cicatrizes e de se desfazerem os sorrisos extasiados com que a gente costuma sair de um show irretocável.

Com patrocínio do Instituto Cultural Vale, Oficina “Trilhas e Tons” volta a percorrer municípios maranhenses

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Certificação em Codó, após oficina realizada no município em edição anterior do projeto - foto: divulgação
Certificação em Codó, após oficina realizada no município em edição anterior do projeto – foto: divulgação

A Oficina “Trilhas e Tons”, de teoria musical aplicada à música popular, após três anos, volta a percorrer municípios maranhenses levando formação prática a músicos e curiosos em geral.

Com patrocínio do Instituto Cultural Vale (ICV), através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e realização do Ministério da Cultura (MinC), a oficina é ministrada pelo cantor e compositor Nosly, com coordenação do músico Wilson Zara e assistência de Mauro Izzy, todos eles artistas reconhecidos na cena cultural maranhense.

Com carga horária de 20 horas-aula, distribuídas em cinco encontros ao longo de uma semana, a oficina percorrerá os municípios de Grajaú, Arari, Itapecuru-Mirim, Anajatuba e Pindaré-Mirim, oferecendo 30 vagas em cada um deles.

O projeto retoma uma estrada comprida, que vem sendo pavimentada por experiências de trocas, entre sua equipe e cada um/a que se inscreve para uma nova etapa. Já foram mais de 50 oficinas realizadas, com mais de 1.000 cursistas certificados.

“Estamos muito contentes em poder retomar este trabalho, de voltar a levar uma formação rápida, que estimula o fazer artístico e aprimora o trabalho de quem já tem algum envolvimento com este meio. São números que nos dão orgulho, porque a gente sabe das dificuldades para torná-los realidade. A gente não quer lamentar o tempo em que ficamos parados por motivos de força maior, mas somar mais empenho por mais alunos concluindo esta formação, porque a gente já percorreu uma estrada grande e bonita, mas ainda há muito por fazer”, projeta Nosly.

A cada município, encerrando as oficinas, Nosly, Wilson Zara e Mauro Izzy apresentarão um show, gratuito e aberto ao público em geral, com a participação de artistas locais e de cursistas que concluíram as atividades, num momento de comunhão e demonstração prática dos conhecimentos adquiridos.

A primeira oficina desta nova etapa acontecerá em Grajaú/MA, entre os dias 17 e 21 de março – o local de inscrições e realização da oficina serão divulgados em breve. As inscrições, oficinas e material didático são gratuitos.

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Ceumar e seus companheiros em comunhão com a plateia

Webster Santos, Luiz Cláudio, Josias Sobrinho e Ceumar, ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo - foto: Zema Ribeiro
Webster Santos, Luiz Cláudio, Josias Sobrinho e Ceumar, ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo – foto: Zema Ribeiro

O primeiro dos dois shows que Ceumar traz à São Luís na circulação com que celebra seus 35 anos de música, realizado ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo (o segundo é hoje, 26, às 18h) foi uma demonstração de que a música é uma profissão de fé, capaz de promover uma verdadeira comunhão entre os artistas no palco e a plateia.

Nesta havia de fãs de carteirinha a gente que ouvia Ceumar ou ia ao Arthur Azevedo pela primeira vez – caso da própria artista, que visita São Luís desde 2000, quando realizou por aqui show no saudoso Canto do Tonico, do álbum Dindinha, sua estreia, lançado no ano anterior. Já havia passado pelo Teatro João do Vale, pelo antigo Armazém, pela Ponta do Bonfim, entre outros.

Não à toa ela falou, no bate-papo com os interessados, após a apresentação, sobre os espíritos da arte, aludindo às muitas histórias que comporta um teatro secular como o Arthur Azevedo, merecidamente tido como um templo sagrado das artes. Ladeada por Webster Santos, que se revezou entre violões, bandolim e vocais, ao longo do show, ela lembrou também da importância de políticas públicas de cultura, como a bolsa Pixinguinha de Música, da Funarte, que permite momentos como este, com entrada franca.

Ceumar sobe ao palco descalça, “para se conectar melhor com a terra”, e começa pelas origens, com “Canção de Itanhandu” (Henrique Beltrão) e “Mãe” (Ceumar), para não esquecer e nos lembrar de onde vem. Vai ilustrando o show com memórias de acontecimentos marcantes de sua trajetória, alguns deles aprofundados durante a conversa posterior.

Os 35 anos ela conta não da estreia fonográfica, mas de quando se muda para Belo Horizonte e começa a ralar na noite. É nessa altura que conhece Zeca Baleiro, produtor de seu álbum de estreia, que lhe apresentou Webster Santos, o percussionista Luiz Cláudio (cujo pandeirão com vassourinhas é uma marca da sonoridade de Dindinha) e o cantor e compositor Josias Sobrinho, os convidados dos shows em São Luís.

Vai chamando um a um. Quando Webster entra, ouve-se ao longe o batuque de um bloco carnavalesco. Ele brinca: “eu sou baiano, combinei isso com eles”. O bom humor é uma das marcas da apresentação e da conversa.

Com os três no palco, um momento para celebrar Dindinha, desde à faixa-título, passando às composições de Josias gravadas por ela em sua estreia: o lelê “Rosa Maria”, com direito a dança dela e do autor, e a toada “As ‘perigosa’”, transformada numa balada em sua gravação.

Tal qual sua própria discografia, ao longo do show é difícil falar em ponto alto: Ceumar embevece a plateia sozinha, acompanhada e mesmo quando se projeta até a beira do palco e canta (e se faz acompanhar pelo público: “vocês lembram?”) à capela (e a gente canta junto o “Samba da utopia”, de Jonathan Silva).

Ceumar passeia pelo repertório de seus álbuns sempre ilustrando as canções com histórias. Por exemplo, “Achou!”, que deu título a seu álbum dividido com o violonista e compositor Dante Ozzetti. Ela ganhou a música dele e Luiz Tatit para participar de um festival da TV Cultura em que ficou com o segundo lugar.

Não faltaram “O seu olhar” (Arnaldo Antunes e Paulo Tatit), “Lá” (Péri), “Alguém total” (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), “Cantiga” (Zeca Baleiro), “Boi de haxixe” (Zeca Baleiro), “Galope rasante” (Zé Ramalho), “Encantos de sereia” (Osvaldo Borgez) e “Silencia” (Ceumar), entre outras. E ela ainda leu alguns poemas de Ainda (Mórula, 2024), primeiro livro póstumo do poeta Celso Borges (1959-2023). Quando deixou o palco, após cerca de duas horas de show, e anunciou a conversa com o público, este pediu bis. Ela voltou acompanhada dos convidados e caíram no canto e dança em “Engenho de flores” (Josias Sobrinho).

Hoje tem mais. Não sei se é o mesmo show (nunca é!) na íntegra ou se há modificações no repertório e agora me pego em dúvida se o “mais um” gritado pela plateia era a saideira cantada ontem ou o bis de hoje, um show inteiro. “Olha pro céu”, como o Luiz Gonzaga (parceria com José Fernandes) que ela gravou na estreia (mas não cantou ontem), que até São Pedro colaborou ontem e não é por qualquer coisa que se perde show de Ceumar. Ainda mais de graça. Obrigado por mais uma chance! Depois não digam que eu não avisei.

O reencontro de Ceumar com os maranhenses

A cantora e compositora Ceumar - foto: Isabelle Novaes/ divulgação
A cantora e compositora Ceumar – foto: Isabelle Novaes/ divulgação

Os caminhos da cantora e compositora Ceumar se cruzam com os de Webster Santos, Luiz Cláudio e Josias Sobrinho desde Dindinha (Atração, 1999), disco de estreia da mineira – o primeiro tocou cavaquinho, violão e bandolim em faixas do álbum; o segundo, percussão; e do terceiro ela gravou “As ‘perigosa’” e “Rosa Maria”.

Produzido pelo maranhense Zeca Baleiro – autor de “Cantiga”, “Boi de haxixe” e “Pecadinhos”, além da faixa-título –, foi seu nome e o de Josias, entre os autores, na contracapa, o que primeiro me chamou a atenção (depois da própria capa, é lógico) naquele álbum.

A história é por demais conhecida e eu mesmo já contei noutras ocasiões: lá pelo começo dos anos 2000, quando ainda existiam lojas de discos, eu saí do trabalho rumo à parada de ônibus e encostei em uma das que havia na Rua de Santana, no Centro de São Luís. Não conhecia Ceumar, mas não titubeei: saí dali com o cd em mãos e ao chegar em casa, botei para ouvir e não parei mais.

Paixão à primeira vista, paixão à primeira audição – reafirmada a cada álbum seu: Sempre Viva (Elo Music, 2003), Achou! (2006, com Dante Ozzetti), Meu Nome (Circus, 2009), Live In Amsterdam (2010), Silencia (Circus, 2014), Viola Perfumosa (Circus, 2018, com Lui Coimbra e Paulo Freire) e Espiral (Circus, 2019).

São Luís será testemunha de seu reencontro com os citados no início deste texto. Ceumar se apresenta hoje (25, às 19h) e amanhã (26, às 18h), no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), com entrada franca. As apresentações integram circulação com que a artista celebra seus 35 anos de música – contados não de sua estreia fonográfica, mas de quando começou a atuar na noite, vinda de sua Itanhandu natal para a capital mineira.

A circulação foi contemplada pelo edital Pixinguinha da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e, com ela, Ceumar chega ainda a Belém/PA e Belo Horizonte/MG. Quando do início das celebrações, este repórter conversou com Ceumar para o FAROFAFÁ. Releia a entrevista aqui.

divulgação
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Serviço: show “Ceumar – 35 Anos de Música”. Hoje (25), às 19h, e amanhã (26), às 18h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro). Ingressos gratuitos – devem ser retirados na bilheteria do teatro, a partir de três horas antes do início do espetáculo.

Cátia de França apresentou seu novo álbum em show no Festival BR-135

Cátia de França e banda no palco do Festival BR-135 - foto: Zema Ribeiro
Cátia de França e banda no palco do Festival BR-135 – foto: Zema Ribeiro

Ontem (15), na segunda e última noite do Festival BR-135 Cátia de França reencontrou o público ludovicense – era apenas a segunda vez que a paraibana se apresentava como cantora no Maranhão; a primeira, na Casa d’Arte (Raposa), há pouco mais de dois anos, no formato voz e violão. Antes, já tinha passado por aqui na década de 1970 integrando trupes teatrais.

Graças à redescoberta, pelas gerações mais novas, de seu álbum solo de estreia, 20 Palavras Ao Redor do Sol (1979), no youtube ou em plataformas digitais, ao ver uma juventude conhecendo seu repertório e cantando parte dele junto, não apenas seus maiores êxitos, mas coisas já do último álbum, No Rastro de Catarina (2024), não pude deixar de pensar em meus primeiros contatos com sua obra: entre o fim da infância e início da adolescência ouvindo sua “Kukukaya (Jogo da Asa da Bruxa)” na voz de Xangai no antológico Cantoria 1 (1984).

Ela abriu o show com uma música do novo álbum, “Fênix”, que evoca sua própria trajetória: antes de ser merecidamente reconhecida, sobretudo a partir de Hóspede da Natureza (2016), Cátia de França não era nome comum entre curadorias de festivais – ainda bem que isso mudou, nunca é tarde.

No Rastro de Catarina, o álbum que forneceu a base do repertório de sua apresentação, costura composições novas e resgate de criações que datam ainda da década de 1970. Cátia de França tem a veia e a alma nordestina sem tirar um pé do rock, que o diga a formação da banda que a acompanhou: Cristiano Oliveira (viola), “melhor amigo do mundo”, Marcelo Macêdo (guitarra), Elma Virgínia (baixo) e Beto Preah (bateria) – a mesma formação com que gravou o álbum, faltando apenas Chico Corrêa, que esteve no palco no dia anterior, com Seu Pereira e Coletivo 401.

Em “Espelho de Oloxá” dá o recado: “cada mulher que se impõe nos liberta”, no que fala também de si mesma, jogando luzes sobre o empoderamento feminino, preocupação da curadoria do festival, que montou um line up completamente nordestino e valorizando grandemente a presença feminina em seus dois palcos.

Se o captador do violão quis lhe atrapalhar, ela levou na esportiva. A princípio brincou com sua própria timidez, dizendo ao roadie (e ao público presente): “eu já venho nervosa para cá, ainda acontece um negócio desses”. Mas depois tirou de letra, alternando-se entre os caxixis e o triângulo – nada que espante quem já conhecia a sanfoneira do primeiro disco de Zé Ramalho (1978).

“Negritude” é das músicas da nova safra que mais empolgam o público, que foi ao delírio com a levada reggae com que trajou “Academias e Lanchonetes”. “É a terra do reggae”, saudou a ilha, antes de “Bósnia”, do recado “toda guerra é feia”. Ao ouvir um grito de “gostosa!” vindo da plateia, rebateu, bem-humorada: “mentiroso!”. Respondeu com um “é lá no fim” ao pedido de “Kukukaya” e com um “não sei, não” ao de “Estilhaços”.

Não era um show para a galera do “oba, oba”: Cátia de França apresentou, em um festival gratuito e a céu aberto, o repertório de seu novo álbum, embora não tenham faltado clássicos como “Ensacado”, “Kukukaya”, “Vinte Palavras Girando ao Redor do Sol” e “Quem Vai Quem Vem”, demonstrando ser merecedora da atenção, carinho e reconhecimento com que vem sendo tratada Brasil afora, mais recentemente. Antes tarde do que mais tarde.

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Ouça No Rastro de Catarina:

Em sábado intenso, Wilson Zara apresenta 33ª. edição do “Tributo a Raul Seixas”

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O cantor Wilson Zara - foto: divulgação
O cantor Wilson Zara – foto: divulgação

O último dia 21 de agosto marcou os 35 anos do falecimento de Raul Seixas (1944-1989). Neste sábado (24), o cantor Wilson Zara apresenta mais uma edição do já tradicional “Tributo a Raul Seixas”, que apresenta desde 1992 – quando ainda morava em Imperatriz/MA e o show tinha por título “A hora do trem passar”.

Ouvir “Ouro de tolo” (Raul Seixas) foi marcante para Wilson Zara, que chegou a iniciar o curso de Letras e a passar em um concurso para bancário – à época o emprego dos sonhos, que abandonou para viver de música. No final da década de 1990 o artista mudou-se para São Luís, onde tornou-se um dos mais importantes nomes da noite da ilha.

O 33º. “Tributo a Raul Seixas” acontece às 21h, no Mestre Cana (Rua Portugal, 58, Praia Grande) – os ingressos custam R$ 30,00, à venda no local, na Luso Eventos – (98)991519512 – e na loja Ilha da Fantasia no instagram. O evento tem apoio de O Colibri Hotel e Colonial Comunicação Visual.

No palco, Wilson Zara (voz e violão) estará acompanhado por Marjone (bateria e vocais), Mauro Izzy (baixo), Moisés Ferreira (guitarra), Felipe Van Halen (guitarra) e Marco (teclado), e contará ainda com as participações especiais de Beto Ehong, Pedro Cordeiro, Alê Durrock e Thiago Pinheiro. A abertura fica por conta da banda Altas Doses e do DJ Cláudio.

Mas as homenagens a Raul Seixas começam antes. Na data, acontecerá a primeira passeata raulseixista em São Luís, organizada pela Sociedade Ilha da Fantasia, fundada em 2006 por Maidson Machado, Antônio Ednir, Thyago Thardelly e Muchila, todos fãs de carteirinha de Raul Seixas. A concentração acontece na Praça Nauro Machado (Praia Grande), onde Zara dará uma canja, antecipando um pouco do show, cujo repertório é formado por clássicos e lados b do repertório do cantor e compositor baiano. A passeata fará o curto percurso entre a praça e o local do show.

Também sábado, quem homenageia recebe homenagem: Wilson Zara é o convidado da Rádio das Tulhas, evento semanal que acontece de meio-dia às 18h, na Feira da Praia Grande, sob o comando dos DJs Victor Hugo e Lenda Brother.

Aos 35 anos sem ele, nunca foi tão atual o grito de “Toca Raul!”.

Joãozinho Ribeiro volta a mergulhar no universo do samba

[release]

Show no Miolo Café Bar dia 30 precede gravação de álbum dedicado ao gênero

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação

Em 2002 e 2003, quando percorreu 18 bairros de São Luís com o circuito Samba da Minha Terra, ficou comprovada a importância da verve sambista de Joãozinho Ribeiro, poeta e compositor versátil que se vira muito bem em outros gêneros, como também o provam centenas de composições suas, gravadas por nomes os mais diversos da música popular brasileira.

Em setembro Joãozinho Ribeiro entra em estúdio para gravar o segundo álbum de sua carreira, que já conta 45 anos, desde a estreia em um festival universitário de música em 1979. O sucessor de Milhões de Uns – Vol. 1, gravado ao vivo no Teatro Arthur Azevedo em 2012 e lançado no ano seguinte, será dedicado ao samba, com direção de Zeca Baleiro, produção de Luiz Cláudio e participações especiais de insuspeitos bambas – entre os nomes confirmados, além do próprio Zeca, estão Rita Benneditto, Chico César e Fabiana Cozza.

Como uma espécie de aquecimento para o registro do álbum, Joãozinho Ribeiro se apresenta no próximo dia 30 de agosto (sexta-feira), às 21h, no Miolo Café Bar (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau). No show, intitulado “45 Anos: Letra e Música”, o artista experimentará o repertório que pretende levar ao estúdio, acompanhado por João Eudes (violões de seis e sete cordas e direção musical), João Neto (flauta), Juca do Cavaco (cavaquinho) e Carbrasa (percussão).

No show, Joãozinho Ribeiro contará ainda com as participações especiais de Adler São Luís, Fernanda Garcia, Chico Saldanha e Neto Peperi. No repertório, clássicos como “Milhões de Uns”, “Saiba, Rapaz” e “Estrela”, para destacar alguns sambas e choros de sua lavra.

“Este show vai ser uma confraternização, um encontro com parceiros, instrumentistas e intérpretes, já pensando no que a gente vai fazer quando entrar em estúdio. Tudo está sendo pensado com muito carinho e cuidado, tanto para o palco, quando a gente vai sentir o termômetro do público, quanto para o estúdio, quando a gente vai para um registro definitivo de uma obra que eu sigo construindo, num álbum que está sendo pensado de forma equilibrada entre músicas bastante conhecidas no Maranhão, mas também apresentando inéditas”, promete Joãozinho Ribeiro.

Serviço

O quê: show “45 Anos: Letra e Música”
Quem: o poeta e compositor Joãozinho Ribeiro e Regional
Quando: dia 30 de agosto (sexta-feira), às 21h
Onde: Miolo Café Bar (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau)
Quanto: R$ 25,00 (couvert artístico individual)