Sérgio Habibe, ladeado por Edinho Bastos e Zezé Alves. Foto: Guta Amabile
Vi semana passada dois shows que chamam a atenção por diversos aspectos, que me perdoe a meia dúzia de fiéis leitores a demora no comentário.
Primeiro, Sérgio Habibe, na quarta-feira (6), véspera do feriadão, no Miolo Café Bar, no projeto Sonoridades, produção de Tutuca Viana. Aos 74 anos recém-completados – no último dia 31 de agosto –, o cantor e compositor demonstra estar em plena forma e por que é considerado um dos maiores da música popular brasileira.
Acompanhado de Edinho Bastos (violão) e Zezé Alves (flauta), bastava o rosário que desfiou, cada canção uma conta: “Solidão”, “Cavalo cansado” (gravada por Doroty Marques), “Eulália”, “Ponteira”, “Dia de será” (parceria com Cláudio Nucci e Juca Filho), “Panaquatira” e outras, em pouco mais de uma hora de apresentação.
Aberta por Léo Vianna (compromissos me impediram de chegar a tempo de ver), a noite transformou-se em verdadeira jam session, com canjas inspiradas de Alberto Trabulsi, César Roberto, Gerude, Tutuca, Célia Leite e Fátima Passarinho (que cantou “Vestido Bordeaux”, de Habibe com Raíque Macau, à capela).
Rita Benneditto. Foto: Márcio Vasconcelos
Depois, Rita Benneditto, no último sábado (9), na Noite da Encantaria, na programação das celebrações do aniversário de 411 anos de São Luís, realização da Prefeitura Municipal de São Luís.
Para além da exuberância de figurino, repertório, arranjos e arregimentação, a apresentação da cantora e compositora era necessária – talvez uns já soubessem, mas quem ainda não, e foi à praça, comprovou.
Rita Benneditto celebra em 2023 os 20 anos em cartaz de “Tecnomacumba”, projeto que já rendeu álbuns de estúdio e ao vivo, dvd e o irretocável show com que continua na estrada, longe de soar repetitivo ou única carta na manga da artista – que mantém outros projetos, com outras formações e repertórios, em paralelo.
Acompanhada da banda Cavaleiros de Aruanda – Fred Ferreira (guitarras e vocais), Wagner Bala (contrabaixo e vocais), Ronaldo Silva (bateria, programações eletrônicas e vocais) e Júnior Crispim (percussão e vocais) – Rita Benneditto equilibra os tambores dos terreiros das religiões de matriz africana, e consequentemente de nossa ancestralidade, costurando um repertório entre clássicos da música popular brasileira e pontos entoados em terreiros, não raro alguns números se encaixando em ambas as prateleiras. Em entrevista concedida a este repórter e veiculada no Balaio Cultural do dia do show, comigo e Gisa Franco, na Rádio Timbira, ela comentou certo incômodo e cansaço com a eterna tentativa de setores da mídia de rotulá-la.
Além da banda, Rita Benneditto contou com intervenções da bailarina Kiusam de Oliveira e do diretor, ator e bailarino Ciro Barcelos, celebrando os orixás Oxum e Oxóssi, e ao fim formou-se uma bela roda de tambor de crioula, com integrantes dos grupos da Floresta (Apolônio) e Liberdade (Leonardo).
O prefeito de São Luís Eduardo Braide afirmou, fazendo às vezes de mestre de cerimônias, ao anunciar a apresentação de Rita Benneditto, após a de diversos artistas locais: “vocês não são invisíveis. Desde ano passado, e todos os anos, na celebração do aniversário da cidade, haverá uma noite na programação dedicada à encantaria, aos povos de terreiro”. A plateia aprovou a iniciativa, com aplausos.
Ao repertório não faltaram clássicos como “Jurema” (domínio público adaptado por Rita Benneditto) – que antes de “Tecnomacumba” (2003), inaugurou a incursão da artista por este universo, gravada em seu álbum de estreia, ainda “Rita Ribeiro” (1997) –, “Domingo 23” (Jorge Benjor), “Oração ao Tempo” (Caetano Veloso), “A Deusa dos Orixás” (Toninho/ Romildo), “Tambor de Crioula” (Oberdan Oliveira/ Cleto Jr.) e “7Marias” (Felipe Pinaud/ Rita Benneditto), entre outras.
Também chamou a atenção e mostrou-se mais necessário que nunca, a performance do artista plástico Fernando Mendonça, que ao longo do show retratou Iemanjá em uma tela. Era uma espécie de desagravo, como demarcou Rita Benneditto, lembrando de mais um episódio de violência, racismo e intolerância religiosos ocorrido recentemente em São Luís: a depredação da estátua do orixá na praia do Olho d’Água. “Você pode quebrar quantas estátuas quiser, mas nunca vai quebrar nosso axé”, disse a cantora. Recado dado!
Marconi Rezende e convidados realizam show em prol da democracia
“Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, se tornou um hino contra a ditadura militar brasileira inaugurada pelo golpe de 1964. O clássico é lembrado até hoje em momentos de enfrentamento, por exemplo, greves de trabalhadores reivindicando direitos.
A canção dá título ao show que Marconi Rezende e convidados apresentam – “em prol da democracia”, frisa o artista anfitrião –, na próxima sexta-feira (30 de setembro), às 21h, no Soul Lounge (Av. Litorânea).
O show terá repertório autoral e clássicos da música popular brasileira, com especial atenção às chamadas canções de protesto, numa tomada de posição coletiva, pública e, sobretudo, musical.
Além de Marconi Rezende, sobem ao palco Emanuelle Paz, Joãozinho Ribeiro, Josias Sobrinho, Luciana Pinheiro, Milla Camões, Tássia Campos e Tutuca.
O cenário de autoritarismo e violência no Brasil de 2022 é bastante parecido com o da ditadura. E é contra essa barbárie que estes artistas irão cantar.
O couvert artístico custa apenas 20 reais e pode ser pago antecipadamente pelo pix (98) 99111-9493.
“Apesar de você, amanhã há de ser outro dia” (Chico Buarque)
“É pena eu não ser burro; eu não sofria tanto” (Raul Seixas)
“Meu coração não se cansa de ter esperança”, como cantou o recém-oitentão Caetano Veloso. Ao longo dos últimos quatro anos não foram poucas as vezes em que alertei parentes, amigos e conhecidos – ou deveria chamá-los todos/as de ex? – acerca do bolsonarismo, cuja máquina de mentir é tão perversa que acaba transformando seus próprios entusiastas em vítimas do próprio esquema.
Ainda em 2018 fui tachado por um par de parentes de “fanático”, adjetivo que acompanhava palavras como lulista, petista, dilmista, esquerdista ou comunista. Logo eu, que nunca deixei de fazer justas críticas ao PT e seus líderes enquanto o partido esteve no poder – ao contrário de quem, após um mandato inteiro de desmandos de Jair Bolsonaro, segue aplaudindo-o desavergonhada e acriticamente.
Falo de gente pobre, gente como eu. Não é nem gente remediada, que diante de qualquer emergência possa fazer um saque em uma poupança e resolver um imprevisto. Gente que se nega a perceber que é inaceitável o retorno do Brasil ao mapa da fome, sendo o país um dos maiores produtores de alimentos do mundo; gente que se nega a perceber que é impossível pagarmos tão caro por combustíveis fósseis, sendo o país um dos maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo. A quem me lê agora e não simpatiza com Jair Bolsonaro e sua família, peço perdão pelas repetições e redundâncias, mas estas são necessárias, vocês sabem o porquê.
É claro que é muito mais fácil receber uma figurinha engraçada, um meme, um vídeo curto e imediatamente repassar por aplicativos de mensagens e redes sociais em geral. Mas nem sempre o mais fácil é o melhor ou o correto. Ler dá trabalho, interpretar texto dá trabalho, pesquisar dá trabalho – ter consciência de classe, então, nem se fala. Checar, então, se uma notícia é verdadeira ou não, mesmo que isto custe apenas perguntar a algum conhecido, dá muito trabalho.
“Mas esta checagem deveria ser papel dos próprios jornalistas”, uns podem argumentar, não sem razão. Sim, deveria: mas muitos de meus colegas de profissão sucumbiram ao bolsonarismo, mesmo que o líder neofascista seja uma ameaça ao exercício crítico e livre de nossa profissão, além de à nossa própria existência. Fora que não são apenas jornalistas que usam redes sociais, estas ferramentas que têm suas vantagens, mas também deram voz a uma legião de imbecis, como ainda teve tempo de afirmar Umberto Eco (1932-2016).
Um presidente da república é uma referência política, moral e cultural. Para o bem ou para o mal – e esta antítese está bem desgastada, quando a extrema-direita se posiciona como “o bem” para derrotar “o mal” (seja o comunismo, o lulismo, o petismo, a esquerda, os vermelhos), mesmo pecando, ao usar o nome de Deus em vão, para mentir. Cristianismo e bolsonarismo são doutrinas absolutamente incompatíveis.
Jair Bolsonaro se elegeu com a cantilena vazia do pseudocristianismo escondido em um de seus slogans de campanha: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, esgarçou o versículo bíblico do evangelho de São João. Na prática a teoria é outra e qualquer investigação sobre si ou sua família é colocada em sigilo de 100 anos.
Faço questão de escrever este texto puxando as coisas apenas pela memória, sem consultar links ou reler matérias – fosse citar exemplos cotidianos, uma carta aberta não seria suficiente, melhor seria escrever logo um livro, mas já há excelentes publicações revelando as entranhas do bolsonarismo e seu modus operandi, desde o processo que resultou em sua ida à reserva do Exército até a relação dele e sua família com as milícias cariocas.
O Partido dos Trabalhadores está fora do poder há seis anos e qualquer verdade dita a um simpatizante de Jair Bolsonaro ainda é invariavelmente rebatida com um “e o PT?”, “e o Lula?”, “e a Dilma?”. Em meio a isso, a prisão, covarde, pois injusta, pois sem provas, do maior líder político vivo da América latina, pelas mãos de um juiz e procuradores corruptos, o lavajatismo a serviço do bolsonarismo, cujos objetivos eram tirar das eleições de 2018 o então líder em todas as pesquisas de opinião e alimentar o antipetismo.
Mentiras têm pernas curtas: a farsa caiu, a casa dos golpistas caiu, e o governo Bolsonaro, quatro anos depois de eleito, nada tem para mostrar que tenha beneficiado a vida de qualquer brasileiro, a não ser a do próprio nanopresidente, de seus familiares e aliados de ocasião, cujas burras nunca enchem.
Vivemos há dois anos e meio uma crise sanitária global, com distintos comportamentos em relação a seu combate ao redor do mundo. A opção do Brasil governado pelo neofascismo foi retardar a compra de vacinas enquanto tentava negociar propinas e as sórdidas mentiras de toda ordem do Hitler tupiniquim que acabaram por colaborar para o inchaço do número de óbitos, hoje em mais de 700 mil, muitos dos quais poderiam ter sido evitados, se o adorador de Ustra tivesse agido em prol do povo, em vez de ficar imitando gente morrendo por falta de ar. Tudo indica que a história se repetirá com a varíola dos macacos, infelizmente.
Por vários motivos, diversos gênios da criação artística brasileira faleceram nos últimos anos: Agnaldo Timóteo (1936-2021), Aldir Blanc (1946-2020), Cassiano (1943-2021), Dona Inah (1935-2022), Flávio Migliaccio (1934-2020), João Gilberto (1931-2019), Letieres Leite (1959-2021), Mário Luiz Thompson (1945-2021), Moraes Moreira (1947-2020), Nelson Sargento (1924-2021), Paulo Diniz (1940-2022), Paulo Gustavo (1978-2021), Rubem Fonseca (1925-2020), Sérgio Sant’Anna (1941-2020), Tarcísio Meira (1935-2021). Em nenhum caso o ocupante do Palácio do Planalto decretou luto oficial, lançou nota de pesar ou sequer publicou qualquer coisa em redes sociais, manifestando condolências a familiares e fãs-clubes.
“Que diferença faria?”, poderão me perguntar. É o simbólico que nos diferencia dos animais. E este profundo desprezo pelas artes – tidas como coisa de esquerdistas – é um dos símbolos do fascismo.
Por falar nisso, apesar de este texto se intitular “Carta aberta a parentes e amigos bolsominions”, outra categoria poderia estar no título: não perdoo artistas bolsonaristas. É uma contradição em termos. O desmonte sistemático das políticas culturais – e do próprio Ministério da Cultura – já seria motivo suficiente para que o candidato à reeleição não encontrasse apoio entre a classe. E particularmente acredito que artistas, “as antenas da raça” no dizer de Ezra Pound (1885-1972), sejam bem maiores que bobagens como “mamata da Rouanet” ou “caixa preta do BNDES”.
Falando em mamata, por que é mesmo que quem se indigna com a corrupção só se indigna com a corrupção do PT? Os governos de Lula e Dilma, além dos investimentos em órgãos de controle e fiscalização, criaram o Portal da Transparência e nunca interferiram em aparelhos como a Polícia Federal a fim de livrar quaisquer de seus quadros em investigações. Lideranças petistas foram condenadas, presas, perderam cargos. Ou seja: foram punidos por seus crimes. Resumindo: cortaram na própria carne.
Apesar do desejo de alguns, no Brasil (ainda) não existe pena de morte – quer dizer, até existe informalmente, fora da lei, para a população negra, moradores de periferias e pequenos traficantes. Então o que explica o cinismo de quem até hoje se revolta com uma tapioca comprada com cartão corporativo, mas não se revolta com os milhões torrados diariamente pelo atual mandatário da república, sob a proteção dos sigilos centenários?
Volto aos artistas: aqueles que se respeitam e nutrem respeito por seu público têm lado e assumem. E não se trata de ser petista, lulista, dilmista ou beneficiário de leis de incentivo à cultura através de renúncia fiscal. Trata-se de assumir uma postura diante da encruzilhada civilização x barbárie, autoritarismo x democracia, alegria x tristeza, humanidade x desumanidade. O Brasil é o país da alegria e grande parte dela nos é dada por artistas – imaginem o que teria sido do isolamento social sem as lives, os streamings ou quaisquer outras formas de arte e entretenimento. Como podem artistas apoiarem quem representa a tristeza e a morte? Ou, a esta altura do campeonato, aferrarem-se a uma suposta neutralidade? “Se você fica neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor”, já diria o Nobel da Paz Desmond Tutu (1931-2021).
Polarização existia nos tempos em que Lula e Dilma disputavam eleições contra Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, José Serra e, entre outros, Geraldo Alckmin. Ora, se Alckmin entendeu a necessidade de alianças para livrar o Brasil do neofascismo e do neonazismo, qual é a sua dificuldade em entender?
Há uma barbárie em curso no Brasil, basta acompanhar o noticiário: do capoeirista Moa do Katendê (1954-2018), entre o primeiro e o segundo turnos da eleição de 2018, ao campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo (1989-2022) no último fim de semana, passando pela vereadora Marielle Franco (1979-2018) e o motorista Anderson Gomes (1978-2018), o bolsonarismo mata. “Ah, mas o presidente não apertou o gatilho em nenhum destes casos”, apelará um/a bolsonarista, que deve, no entanto, acreditar na facada desferida por Adélio Bispo durante (te)at(r)o de campanha de Bolsonaro em 2018. De fato não puxou o gatilho, mas reiteradamente incentiva o ódio e a eliminação física de opositores em discursos, além de ter facilitado o porte e a posse de armas à população em geral, colaborando para o ambiente de terror e guerra civil que o Brasil, mais do que nunca, vive (ou morre?).
Qual terá sido o peso da postura de artistas contrários à ditadura militar brasileira instaurada em 1964 para o fim do regime de exceção em 1985? Obviamente é difícil calcular. Mas sua recusa em calar, que os levou a prisões, torturas, exílios, desaparecimentos e censuras, certamente colaborou para que o pesadelo acabasse. Não há clima, tempo, espaço, nem motivo para neutralidade. Goste-se ou não de Lula, do PT, ou de quaisquer nomes e partidos postos à disputa.
Não é preciso sentir dor para se indignar com a dor alheia. Não é preciso passar fome para se indignar com a fome alheia. Não é preciso ser negro para lutar contra o racismo. Não é preciso ser homossexual para lutar contra a homofobia e a violência que dela decorre. Não é preciso ser indígena para ser contra o desmatamento e o garimpo ilegais na floresta. Não é preciso ser mulher para se indignar contra os assustadoramente crescentes números de estupros e feminicídios. Basta ser humano e ter alguma empatia e alguma consciência de que o estímulo à lei da selva, por ação ou omissão, não nos serve nem nos representa.
Esta singela missiva é um último chamado à razão a parentes, amigos e artistas bolsonaristas. Errar é humano e não é vergonhoso admitir erros. Antes tarde do que nunca. Ainda é tempo de reconstruir o Brasil. Ou ao menos de não deixar terminarem de destruí-lo. Nem simpatizantes e defensores de Bolsonaro aguentariam um eventual segundo mandato deste governo da necropolítica e da destruição sistemática. Até por que, caso esta tragédia aconteça, sequer existirá Brasil. E quem diz/ia que foi enganado em 2018 não vai ter desculpa dessa vez.
“O último pau de arara” [Grafatório, 2020, 172 p.; R$ 79,90], novo livro de Jotabê Medeiros, bem poderia ser um roteiro dos irmãos Coen e, se digo isto, não é pela inevitabilidade do clichê, mas pela habilidade do próprio autor em jogar com seu ofício – o universo da cultura pop sempre foi seu ganha-pão – ao contar a história de alguém que, embora o respeitasse, nunca ligou muito para isso, tratava quadrinhos com desprezo e nunca foi ao cinema.
O livro é um misto de biografia de João Francisco de Medeiros, seu pai, autobiografia, autoficção e ensaio sociológico sobre migrações internas, muito mais comuns no Brasil de outrora, mas ainda presentes, sobretudo no recrutamento de trabalhadores em situações análogas à escravidão. Há alguma doçura na forma como são narrados certos episódios de violência, e não são poucas as cenas de fúria incontida de seu pai, jamais soando condescendente. “Essa é uma obra de fricção. Espremida entre a memória e a vontade de contar”, diz em boutade, em que anuncia também um escancarar de intimidades, também nunca soando vulgar.
Aos três anos de idade, em 1965, o 11º filho do “Paraíba”, o primeiro homem entre 15 filhos, viajou de Sumé até a nascente Cianorte, no Paraná, em um caminhão de sal. Dessa viagem clandestina vem o título do livro, emulando o sucesso de Fagner, de autoria de José Cândido, Venâncio e Corumba.
A partir de remontar fragmentos da trajetória de seu próprio pai, Jotabê Medeiros remonta a trajetória de sua enorme família – e a sua: o paraibano do interior que se muda muito cedo para o Paraná, em busca de melhores condições de vida, forma-se em jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina e depois se muda para São Paulo, onde viria a se tornar um dos maiores jornalistas culturais do país – isto não é ele quem diz no livro, sou eu quem digo novamente, aqui e agora –, autor das festejadas e honestas biografias de Belchior (2017) e Raul Seixas (2019).
O jornalista é hábil em contar uma história que nos prende a atenção, mesmo em não se tratando de um protagonista de vida pública – o autor não nos poupa mesmo de suas dúvidas durante o processo de feitura do livro: seria seu próprio pai um personagem biografável? Embora aqui e acolá falemos dele no passado, como o faz também o autor, João Francisco de Medeiros está vivo – sofreu um AVC e teve uma perna amputada nos últimos anos – e completará 103 no próximo abril.
Baseado na própria memória, em conversas com familiares, viagens e rara documentação, Jotabê Medeiros não se deixa vencer pelas lacunas, urdindo texto delicioso, como é de seu feitio, histórias que se entrecruzam, como os constantes escambos que seu pai acabou tornando meio de vida. Em meio a tudo isso há um belo tributo ao irmão apelidado Jack, batizado em homenagem a Jackson do Pandeiro, ídolo de sua mãe – a ele o autor dedicou “Belchior: Apenas um rapaz latino-americano”: o irmão faleceu justo na semana em que o biógrafo viajaria a Santa Cruz do Sul, nos rastros do biografado então desaparecido. Com a mudança de planos e a ida ao velório do irmão, Belchior faleceu em sequência e aquela biografia foi finalizada com o relato de seu velório, entre a Sobral natal e Fortaleza.
A realçar a delicadeza e elegância do texto de Jotabê Medeiros, o estonteante projeto gráfico da Grafatório – marca da pequena casa editorial de Londrina/PR –, com xilogravuras de Luiz Matuto. A tiragem limitadíssima de 750 exemplares foi possível graças a um financiamento coletivo. Os que contribuíram já recebemos um pdf por e-mail, no que adiantei a leitura, na certeza de que relerei tão logo me chegue às mãos o exemplar impresso – a pindaíba, a pandemia e o capricho editorial acabaram atrasando um pouco as coisas, mas de mais longe já viemos, como quem desce de Sumé à Cianorte num caminhão de sal.
Vez por outra o noticiário chama atenção para episódios ultraviolentos, como as infelizmente costumeiras chacinas em escolas dos Estados Unidos (mas não só). É este o mote do delicado “Se algo acontecer… te amo” (“If anything happens, I love you”, 2020, 12 minutos), curta-metragem de animação escrito e dirigido por Will McCormack e Michael Govier, disponível em streaming na Netflix.
Um casal faz uma refeição numa mesa comprida, cada qual numa ponta. A cena revela o esfriar do relacionamento e o consequente distanciamento de marido e esposa após terem perdido o amor comum, a filha, como saberemos adiante, para a facilidade do porte indiscriminado de armas de fogo, infelizmente não mais um privilégio norte-americano.
A partir daí, “Se algo acontecer… te amo” corre em feedback e não tem um final feliz: triste e comovente, é impossível para o espectador não se emocionar ao descobrir a origem do título do filme (o deste texto é verso de “Pedaço de mim”, de Chico Buarque, que ali também canta que “a saudade é o revés de um parto/ a saudade é arrumar o quarto/ do filho que já morreu”), mas também se propõe a refletir sobre a violência, esta chaga de nosso tempo, infame, triste, doido e doído. No fundo, é sobre superação, mas engana-se quem imaginar encontrar a água com açúcar típica de quem tenta vender fórmulas para quem deseja ser feliz – como se elas existissem.
Do nascimento da filha, ao aniversário de 10 anos, passando por boas lembranças entre viagens, brincadeiras, objetos e um gato, a força de “Se algo acontecer… te amo” reside também na ausência de diálogos – tudo se resolve no traço dos animadores Youngran Nho (que assina a direção de animação), Haein Michelle Heo e Julia Gomes Rodrigues e na música.
“Emoções! Risos! Sexo! Sangue!”, lemos, em inglês, na capa de Squeak the mouse [2019], cujas 158 páginas reúnem 15 histórias de gato e rato no melhor estilo Tom e Jerry, mas com muito mais doses do que é anunciado no balão da capa, que diz de cara a que veio o álbum de Massimo Mattioli (1943-2019): os dois protagonistas entre açúcar e pimenta, com um violentando o outro (e este vingando-se na contracapa, onde se lê “impróprio para menores de 18 anos”) com uma espécie de motosserra portátil, em cores vibrantes, como ao longo de toda a publicação.
O volume em capa dura lançado no Brasil reúne histórias publicadas desde 1982 na Itália, além de inéditas. Por aqui a dupla de inimigos íntimos ficou conhecida graças à revista Animal, que circulou entre 1987 e 1991, fundada, entre outros, por Fábio Zimbres e Rogério de Campos, este também fundador e atualmente editor da Veneta, que publica o volume.
“Mattioli optou pela narrativa como sequências de imagens de um eterno retorno, fortemente baseadas nos desenhos animados dos anos 40, 50 e 60. Nesses desenhos (…) dispensava-se a linha do tempo, a narrativa continuada, em busca de um sentido maior para os personagens, que pareciam eternamente aprisionados em um dia de marmota, de gags violentas e pueris. Não é à toa que predadores perseguindo suas presas são um dos temas prediletos das animações dessa época, como o gato que caça o rato e o coiote que caça a ave pernalta”, anota o quadrinhista Rafael Campos Rocha (autor de Magda e Deus, essa gostosa, entre outros), no prefácio do álbum.
A disposição dos quadros nas páginas, todos iguais, e a movimentação e agilidade do enredo, levam o leitor a uma inevitável comparação entre hq e tv. As histórias se dão em looping, sem diálogos, com o gato perseguindo e matando o rato, que ressuscita e se vinga do gato e assim sucessiva e infinitamente – com generosas e muito bem desenhadas doses de sexo pelo caminho, além de citações a filmes de terror.
Não quero atribuir qualquer carga profética ao trabalho de Mattioli, aparentemente desconectado da realidade, de mero entretenimento, mas ele parece ter desenhado exatamente estes nossos tristes tempos: entre o monstruoso e o sublime, como cantaria um antigo compositor baiano, entre corpos decapitados ou cortados ao meio, com muito sangue jorrando, e o humor que emana (ou deveria emanar) de histórias em quadrinhos, ele poderia estar falando de nossa tragédia política em meio à pandemia (e vice-versa), em que às vezes o grau da desgraça é medido pelo volume de memes que é capaz de produzir.
Poderíamos dizer ainda que o gato e o rato de Squeak the mouse são os pais de The Itchy & Scratchy Show, conhecidos no Brasil como Comichão e Coçadinha, protagonistas de uma animação exibida dentro de Os Simpsons, de Matt Groening.
Nunca se chegou a um consenso sobre o cangaço: bandidos ou heróis? O que é mais interessante notar é o fascínio que o bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, exerce até hoje, passado tanto tempo de sua atuação e dizimação.
Jurados de morte. Capa. Reprodução
Uma das histórias de Jurados de morte [Dupla Criação/7 Cores Gráfica e Editora, 2017, 26 p.; pedidos pelo e-mail teclandocomadupla@gmail.com ou telefone (98) 3227-7688] parte da sobrevivência inusitada de Cara de Cão, um cangaceiro cujo nome, pelas mãos e imaginações de Iramir Araújo e Beto Nicácio, autores da HQ, remonta a Cara de Cavalo, da icônica bandeira “seja marginal, seja herói” do artista plástico pré-tropicalista Hélio Oiticica.
Araújo e Nicácio, com anos de relevantes serviços prestados aos quadrinhos no Maranhão – convém lembrar que hoje, 30, celebra-se o Dia do Quadrinho Nacional –, atuam em todas as frentes: no mercado publicitário, na produção e publicação e na crítica, tendo mantido durante muito tempo colaboração com veículos de comunicação da ilha.
Esta Jurados de morte, lançada em dezembro passado na Comic Con Experience 2017, em São Paulo, tem os componentes de um bom faroeste: ação, violência, bom humor. Na primeira história, um grupo de cangaceiros é chacinado pela polícia – os macacos, como eram comumente chamados –, com apenas Cara de Cão sobrevivendo, no que reside o elemento surpresa da trama. Araújo e Nicácio partem de um elemento histórico (o cangaço) para sobrepor sua ficção.
Na segunda, uma trama em que a honra dita o preço da vida e esta flerta o sobrenatural. A história se passa em uma cidade do interior do Brasil, em que os poderes econômico e político têm estreitas relações. A revista não traz a típica advertência, mas bem poderia: “qualquer semelhança é mera coincidência”. À guisa de apresentação, troçam Araújo e Nicácio: “não duvide se lhe dissermos que as duas histórias desse volume nos foram contadas tal como as narramos, com um ou outro exagero ou uma ou outra omissão. Não duvide se lhe afirmarmos que, por as termos revelado, estamos, também nós, jurados de morte”.
Em ambas não fica delimitada sua localização no tempo – a do cangaço, obviamente, é mais fácil imaginar. Mas histórias como as de Jurados de morte podem acontecer em qualquer tempo e lugar: é que temas como a violência continuam atuais e reais, mesmo quando tratados sob as tintas da ficção.
Burroughs [Veneta, 2015, 128 p.], de João Pinheiro, outro brasileiro de reconhecimento internacional, é um mergulho profundo na atormentada mente do escritor beat – o quadrinista já havia hqbiografado outro da geração, em Kerouac [Devir, 2011]. A impressão arroxeada do miolo da graphic novel lembra as provas mimeografadas da escola da infância.
“A linguagem é um vírus vindo do espaço”, determina um dos primeiros quadros da história. O big bang de William Burroughs (1914-1997) foi o assassinato de sua esposa Joan, numa brincadeira de de seu xará Tell.
A HQ retrata um Burroughs perseguido por fantasmas, escrevendo para fugir deles, seu processo criativo, o método cut up utilizado por ele, Mugwumps, drogas, alucinações, o famoso inseto de Kafka, sua bissexualidade, a interzona e o Almoço nu – levado ao cinema por David Cronenberg. Também estão lá a violência – sobretudo contra homossexuais – e a sociedade que a aplaude, aos gritos de “bandido bom é bandido morto”.
“Morfina, heroína, dilaudid, eucodal, pantopom, diocodid, diosane, ópio, demerol, dolofina, paufium… comi, cheirei, injetei, enfiei no reto… o método não importa, o resultado é sempre o mesmo: dependência”, revela a certa altura. “Foram 15 anos no vício. Aos quarenta e cinco anos de idade, me livrei da doença da dependência. (…) Registrei minhas alucinações em centenas de páginas que mais tarde seriam publicadas sob o título Almoço nu”, continua. E arremata: “A única coisa real sobre um escritor é o que ele escreve, e não a sua vida. (…) Sinto-me forçado à conclusão apavorante de que nunca teria me tornado um escritor… sem a morte de Joan”.
Burroughs é, em suma, a história da busca de seu protagonista, um artista que viria a influenciar gerações, por salvação através da literatura, sua única crença possível.
Quando estacionei o carro, já havia uma aglomeração na esquina. A caminho de uma loja de eletrônicos, encontrei um homem sangrando. Corpulento, cerca de 1,80m. Era o agressor, saberia mais tarde. O agredido eu veria depois, na calçada de uma loja: um coreano franzino. Não havia sido o único a apanhar. O motivo? O cliente que o agrediu queria nota fiscal na compra de uma caneta, me contou um camelô.
O clima era de tensão, como se os que estão ali todos os dias aguardassem a volta do homem, com reforços. “Todo dia a polícia passa aqui nesse horário. Hoje não aparece ninguém”, lamentou um camelô. Um rapaz de bermuda branca e sem camisa, passava para lá e para cá, um pedaço de pau transformado em porrete na mão. Outro, trajando um abadá, tentava dissuadi-lo de suas intenções.
Comentários xenofóbicos já eram ouvidos aqui e ali. “A gente pra entrar na terra desse povo é uma frescura; agora eles chegam aqui e ainda querem botar banca”, disse uma senhora.
De repente a correria e brasileiros e coreanos trocavam todo tipo de agressões: socos, chutes, pontapés. Um policial à paisana deu três tiros pra cima, tentando conter a turba enfurecida. “Esse policial veio só gastar bala”, um flanelinha fez pouco caso.
Filmei poucos segundos da ocorrência, interrompido pela memória entupida do celular, além do medo de bala perdida, de porrete, da ira de algum dos envolvidos na confusão.
Lamentamos os linchados e linchadores nossos de cada dia, mas querer resolver toda questão no braço é inaceitável. Está errado o comerciante estrangeiro que não fornece nota fiscal, ainda que pela venda de uma caneta? Sim, está. Mas há mecanismos legais para resolver a questão. Voltar à lei de Talião, da qual nunca saímos, é que não pode.
Hoje a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), entidade que tenho a enorme honra e responsabilidade de presidir, completa 36 anos. A data será festejada com a realização do 6º. Baile do Parangolé.
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Há 10 anos tombava Irmã Dorothy Stang, vítima da violência, do latifúndio e dos conflitos agrários no vizinho Pará, um dos campeões brasileiros no assunto, nem tão distante assim, não apenas geograficamente, do Maranhão.
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Fui entrevistado pelo blogueiro Robert Lobato. Na entrevista, concedida por conta da repercussão de nota em que a SMDH critica a MP 185, editada pelo governo Flávio Dino, comento, além da pauta central, questões como a redução da maioridade penal, o discurso senso comum de que “bandido bom é bandido morto” e a democratização da mídia, entre outras temáticas em direitos humanos.
Catirina. Capa. Reprodução. Ilustração: Cesar Teixeira
Mulher, mãe, negra, trabalhadora rural, vítima de violências e violações de Direitos Humanos. Esta é Catirina, tão cantada em verso e prosa, símbolo da resistência do povo do Maranhão ante as mazelas nossas de cada dia – o modelo predatório de desenvolvimento, o avanço do agronegócio e suas monoculturas, o trabalho escravo, a fome, a opressão, os piores indicadores de desenvolvimento entre as unidades federadas.
Casada com pai Francisco, quantos herdeiros seus estão detidos em Pedrinhas? Quantos outros vivendo abaixo da linha da pobreza? Quantos outros pedindo esmolas nos semáforos? Catirina quer comer a língua do boi, quer satisfazer seu desejo, mas não olha nem pensa só no próprio umbigo.
Expor nossas vergonhas é o primeiro passo para uma reflexão profunda sobre o assunto, para que possamos superar os problemas.
Refletir sobre diversos temas-problemas da realidade maranhense, a fim de colaborar para sua superação é o objetivo desta revista Catirina que o/a leitor/a tem em mãos. Da crise no sistema penitenciário à violência urbana e no campo e o extermínio da juventude negra, entre outras tristes e trágicas realidades que deverão ser abordadas em números futuros. Infelizmente.
Não à toa batiza esta publicação um dos personagens mais importantes do auto do bumba meu boi do Maranhão, uma das mais conhecidas manifestações de nossa cultura popular. Catirina gesta a vida, a esperança e o futuro, que se constroem na luta!
[Amanhã é o lançamento do número zero da revista Catirina, saiba mais]
Silvero/Gisele mostra o que aprendeu na escola. Não se passa impunemente por esse monólogo. Foto: Daniel Sena
Silvero está sozinho no palco. Quase só. Um músico ao piano o acompanha. Ele canta e dança. De repente despe o vestido vermelho e escreve no próprio corpo. Seu nome. Gisele. Uma personagem que surgiu e que hoje ele mesmo não se sabe onde termina o ator e começa a personagem. Ambos fundem-se num só corpo.
O ator conta a história de Gisele e de vários outros travestis, transexuais e transformistas. BR Trans, monólogo da companhia cearense As Travestidas, equilibra-se numa linha tênue entre o bom humor e a desgraça. O espetáculo, vencedor do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga 2014, é dirigido por Jezebel De Carli e encenado pelo ator Silvero Pereira, que também assina cenário, figurino, maquiagem e adereços – do palco, ele mesmo opera a luz.
Sem perder a graça e o rebolado, aponta para questões latentes de nosso cotidiano, como o universo LGBT, a homofobia e a necessidade de combatê-la, dentro e fora de sua própria casa, a ineficiência do sistema educacional, e da sociedade em geral, em lidar com “o diferente” e a impunidade quase geral para crimes de motivação homofóbica.
BR Trans lida com o desconhecido: o “medo” que a sociedade tem de corpos parados nas esquinas escuras da noite é o medo que lhes domina cotidianamente: medo da violência, da intolerância, da morte. Tudo isso envolto em uma atmosfera de pura arte, beleza e poesia. Sublime, BR Trans desperta risos e lágrimas na plateia.
Neymar está fora da Copa. É a notícia mais triste da Copa, até agora. E permanecerá a mais triste, mesmo que a próxima notícia triste seja a de que a seleção brasileira disputará o terceiro lugar.
O Brasil fez ontem, talvez, sua pior partida no mundial. Se não a pior partida, ao menos o pior segundo tempo. Ainda assim demonstrou sua superioridade e bateu a Colômbia por 2×1.
Bater talvez não seja melhor verbo que vencer, afinal de contas, Zúñiga bateu Neymar e terminou com seus sonhos – e o de milhões de brasileiros, ao menos meus, em particular – de terminar artilheiro do torneio e seu melhor jogador.
Bater, no caso, é eufemismo. A joelhada do colombiano nas costas do brasileiro, que terminou por fraturar-lhe a coluna uma vértebra e eliminá-lo da competição, foi, no mínimo, criminosa.
Logo Neymar, o craque do Barça – mas eternamente santista –, que vinha enfeitando a competição com seu talento e suas belas jogadas, devolvendo ao futebol o status de arte de que já parecíamos ter nos desacostumado.
Li e ouvi muitas opiniões acerca da mordida do uruguaio Suárez no italiano Chiellini e sua severa punição. Minha opinião sobre o episódio está dada: a punição é necessária, mas a Fifa pesou a mão (e isto eu já dizia antes do ocorrido ontem).
Brasil e Colômbia fizeram talvez o jogo mais violento da Copa e infelizmente o dado não se traduziu na distribuição de cartões amarelos e vermelhos – Zúñiga sequer recebeu punição. Em determinado momento do segundo tempo a seleção colombiana admitiu ter carimbado o passaporte de volta para casa e, em vez de tentar reverter a situação e garantir ao menos a prorrogação da partida, aprimorou seu arsenal contraditor de qualquer vestígio de “fair play”.
A Fifa precisa punir exemplarmente o jogador colombiano. Se é para comparar, certamente a marca deixada por Suárez em Chiellini já sumiu. Neymar ficará ao menos um mês fora dos gramados. Lamentável não só para a seleção e torcida brasileiras e a Copa do Mundo: lamentável para o Futebol, com F maiúsculo.
Zúñiga, para este que vos perturba, vira, a partir de ontem, sinônimo de tragédia, qual ziquizira, urucubaca, caiporismo e que tais.