Apresentações acontecem dias 3 e 4 no Teatro Arthur Azevedo, com participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro – foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro completou, em 2025, 70 anos de idade e 60 de uma vitoriosa batalha contra um câncer. Uma de suas frases de cabeceira, do pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), diz que “o dever do artista é salvar o sonho”. O artista entende que a celebração da vida passa pela celebração da arte.
Estes são os motes do show “Canções da Vida e da Arte”, que Joãozinho Ribeiro apresenta nos próximos dias 3 e 4 de outubro, às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), com as participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe.
Com produção e coordenação geral de Lena Santos, o show de Joãozinho Ribeiro tem direção geral do artista, que será acompanhado pelos músicos Rui Mário (sanfona, teclados e direção musical), Arlindo Pipiu (violão e guitarra), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Robertinho Chinês (cavaquinho), Carlos Raqueth (baixo), Ronald Nascimento (bateria), Marquinhos Carcará (percussão), Kátia Espíndola (vocal), Raquel Espíndola (vocal) e Renato Serra (teclados).
As celebrações de Joãozinho Ribeiro têm caráter solidário: os ingressos para os shows serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino. A troca pode ser feita no Convento das Mercês (sede da Fundação da Memória Republicana Brasileira, Rua da Palma, Desterro) ou no Teatro Arthur Azevedo (nos dias do espetáculo).
Joãozinho Ribeiro é um dos artistas maranhenses mais gravados, tendo músicas suas em registros de nomes como Betto Pereira, Célia Maria, Chico César, Elba Ramalho, Flávia Bittencourt, Josias Sobrinho, Lena Machado, Olodum, Rita Benneditto, Rosa Reis e Zeca Baleiro, entre outros.
Parte deste repertório autoral será lembrada nas duas apresentações do show “Canções da Vida e da Arte”, que tem patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.
Serviço
O quê: show “Canções da Vida e da Arte” Quem: Joãozinho Ribeiro e convidados Quando: dias 3 (sexta) e 4 de outubro (sábado), às 20h Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro) Quanto: os ingressos solidários serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino (a partir do dia 1º. de outubro no Convento das Mercês e nos dias das apresentações também na bilheteria do TAA) Informações: no instagram @joaozinhoribeiromilhoesdeuns
O cantor e compositor Vicente Barreto – foto: Zema Ribeiro
Eu devia ter uns 14 ou 15 anos. Estava em um bar, tomando refrigerantes e vendo uma apresentação do violonista rosariense Fran Gomes. À época eu já tinha um conhecimento razoável de música, adquirido fuçando as coleções de vinis de meus avós, pais e tios. Naquela tarde fiz do músico uma espécie de jukebox – algo que hoje condeno, obviamente – e desdenhava de algo que eventualmente ele não sabia cantar ou tocar.
Foram tantos “toca Zé Ramalho”, “toca Zé Geraldo”, “toca Geraldo Azevedo”, “toca Fagner”, “toca Gilberto Gil”, “toca Chico Buarque”, “toca Caetano Veloso”, “toca Belchior”, “toca Djavan” e toca tudo que eu conhecesse, sem falar do infaltável “toca Raul!”, que ele retrucou: “eu vou cantar uma que tu não conhece”. A letra me pegou na hora – é até hoje uma de minhas canções prediletas em toda a MPB – e ao fim ele perguntou quem era e eu não soube responder. Era “A notícia”, parceria de Celso Viáfora e Vicente Barreto: “O New York Times não deu uma linha/ a BBC de Londres nem uma palavra/ mas ontem no Xingu um índio se afogou/ e um guarda-marinha se atirou nas águas/ para salvar a sua vida/ Na mesma hora um favelado da Rocinha/ que tinha sete filhos, arrumou mais um/ era um menino loiro de olho azul/ que tinha sido abandonado nu/ numa avenida/ Gente má, gente linda/ dia vem, noite finda/ em todo lugar”. A música é tão marcante que digito sua letra consultando apenas a memória.
Quase 30 anos depois do episódio que me apresentou a obra de Vicente Barreto – porque depois do maravilhamento que foi ouvir Fran tocá-la e descobrir um artista que eu então não conhecia, ir atrás de outras composições, discos etc., foi um pulo. Aquele moleque de 14 ou 15 anos se tornou jornalista, perdeu a empáfia e teve a oportunidade de entrevistar o artista baiano, por ocasião de seu álbum mais recente, “Na força e na fé” – hoje finalmente conheci-o pessoalmente, por ocasião de entrevista que concedeu ao Timbira Cult, com Gisa Franco, na Rádio Timbira FM (95,5), quando contei-lhe a história com que abro este texto.
Parceiro de nomes como Alceu Valença (“Tropicana”, “Cabelo no pente”, “Pelas ruas que andei”), Tom Zé (“Hein?”, “Lá vem cuíca”, “Na parada de sucesso” e “Esteticar” – esta também com Carlos Rennó), Celso Viáfora (a citada “A notícia”, “A cara do Brasil”, gravada por Ney Matogrosso), Paulo César Pinheiro (“Capitão do mato”, gravada por Maria Bethânia), Chico César (“Ilusão retada”) e Zeca Baleiro (“Saudades de te ver, Paraíba”), Vicente Barreto se apresenta hoje (12) e amanhã (13), às 20h, no Miolo Café Bar (Av. Litorânea, 100, Calhau). O cantor e compositor maranhense Djalma Chaves faz o show de abertura.
Acima: Neto Peperi, Alysson Ribeiro, Andréa Frazão, Luiz Cláudio e Dan Nobre; abaixo: Paulinho Akomabu, Chico Saldanha, Joãozinho Ribeiro, Rosa Reis, Fátima Passarinho e Anna Cláudia, as vozes de “Bloco Bonito” – foto: divulgação
O Baile do Parangolé chega à sua 14ª edição em 2025, celebrando os 46 anos de fundação da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH). O nome do baile toma emprestado o título de um conhecido coco do jornalista e compositor Cesar Teixeira, sócio da SMDH. O evento acontecerá na próxima quarta-feira (12), a partir das 19h, no Bar e Restaurante Pedra de Sal (esquina das ruas da Estrela e de Nazaré, Praia Grande). Os ingressos individuais custam R$ 40,00 e incluem abadá.
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, sócio da SMDH, lançará, na ocasião, o EP Bloco Bonito (faça aqui a pré-save), com quatro faixas em clima de folia e a participação especial de grandes nomes da música popular brasileira: Allysson Ribeiro, Andréa Frazão, Chico Saldanha, Neto Peperi, Paulinho Akomabu, Rosa Reis e Zeca Baleiro. As gravações aconteceram no Zabumba Records, sob a batuta do percussionista, compositor e produtor Luiz Cláudio.
Uma das faixas de destaque é “Algazarra no quartel”, interpretada por Alysson Ribeiro e Neto Peperi, uma crítica ácida e bem-humorada aos desmandos de um certo capitão que muito aprontou fora da caserna.
“Bloco Bonito” – capa/ reprodução
Segundo Joãozinho Ribeiro, o EP é uma homenagem ao cantor e compositor Tadeu de Obatalá (1964-2024), falecido ano passado, um dos fundadores do Bloco Afro Akomabu. A capa de Bloco Bonito, presente do amigo e parceiro Betto Pereira, cantor, compositor e artista visual, faz alusão à estética deste símbolo do carnaval maranhense surgido nas fileiras do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN).
Joãozinho Ribeiro, seus convidados especiais e os músicos que participaram da gravação de Bloco Bonito são as atrações do 14º. Baile do Parangolé, valorizando a música, a ancestralidade e os direitos humanos.
Webster Santos, Luiz Cláudio, Josias Sobrinho e Ceumar, ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo – foto: Zema Ribeiro
O primeiro dos dois shows que Ceumar traz à São Luís na circulação com que celebra seus 35 anos de música, realizado ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo (o segundo é hoje, 26, às 18h) foi uma demonstração de que a música é uma profissão de fé, capaz de promover uma verdadeira comunhão entre os artistas no palco e a plateia.
Nesta havia de fãs de carteirinha a gente que ouvia Ceumar ou ia ao Arthur Azevedo pela primeira vez – caso da própria artista, que visita São Luís desde 2000, quando realizou por aqui show no saudoso Canto do Tonico, do álbum Dindinha, sua estreia, lançado no ano anterior. Já havia passado pelo Teatro João do Vale, pelo antigo Armazém, pela Ponta do Bonfim, entre outros.
Não à toa ela falou, no bate-papo com os interessados, após a apresentação, sobre os espíritos da arte, aludindo às muitas histórias que comporta um teatro secular como o Arthur Azevedo, merecidamente tido como um templo sagrado das artes. Ladeada por Webster Santos, que se revezou entre violões, bandolim e vocais, ao longo do show, ela lembrou também da importância de políticas públicas de cultura, como a bolsa Pixinguinha de Música, da Funarte, que permite momentos como este, com entrada franca.
Ceumar sobe ao palco descalça, “para se conectar melhor com a terra”, e começa pelas origens, com “Canção de Itanhandu” (Henrique Beltrão) e “Mãe” (Ceumar), para não esquecer e nos lembrar de onde vem. Vai ilustrando o show com memórias de acontecimentos marcantes de sua trajetória, alguns deles aprofundados durante a conversa posterior.
Os 35 anos ela conta não da estreia fonográfica, mas de quando se muda para Belo Horizonte e começa a ralar na noite. É nessa altura que conhece Zeca Baleiro, produtor de seu álbum de estreia, que lhe apresentou Webster Santos, o percussionista Luiz Cláudio (cujo pandeirão com vassourinhas é uma marca da sonoridade de Dindinha) e o cantor e compositor Josias Sobrinho, os convidados dos shows em São Luís.
Vai chamando um a um. Quando Webster entra, ouve-se ao longe o batuque de um bloco carnavalesco. Ele brinca: “eu sou baiano, combinei isso com eles”. O bom humor é uma das marcas da apresentação e da conversa.
Com os três no palco, um momento para celebrar Dindinha, desde à faixa-título, passando às composições de Josias gravadas por ela em sua estreia: o lelê “Rosa Maria”, com direito a dança dela e do autor, e a toada “As ‘perigosa’”, transformada numa balada em sua gravação.
Tal qual sua própria discografia, ao longo do show é difícil falar em ponto alto: Ceumar embevece a plateia sozinha, acompanhada e mesmo quando se projeta até a beira do palco e canta (e se faz acompanhar pelo público: “vocês lembram?”) à capela (e a gente canta junto o “Samba da utopia”, de Jonathan Silva).
Ceumar passeia pelo repertório de seus álbuns sempre ilustrando as canções com histórias. Por exemplo, “Achou!”, que deu título a seu álbum dividido com o violonista e compositor Dante Ozzetti. Ela ganhou a música dele e Luiz Tatit para participar de um festival da TV Cultura em que ficou com o segundo lugar.
Não faltaram “O seu olhar” (Arnaldo Antunes e Paulo Tatit), “Lá” (Péri), “Alguém total” (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), “Cantiga” (Zeca Baleiro), “Boi de haxixe” (Zeca Baleiro), “Galope rasante” (Zé Ramalho), “Encantos de sereia” (Osvaldo Borgez) e “Silencia” (Ceumar), entre outras. E ela ainda leu alguns poemas de Ainda (Mórula, 2024), primeiro livro póstumo do poeta Celso Borges (1959-2023). Quando deixou o palco, após cerca de duas horas de show, e anunciou a conversa com o público, este pediu bis. Ela voltou acompanhada dos convidados e caíram no canto e dança em “Engenho de flores” (Josias Sobrinho).
Hoje tem mais. Não sei se é o mesmo show (nunca é!) na íntegra ou se há modificações no repertório e agora me pego em dúvida se o “mais um” gritado pela plateia era a saideira cantada ontem ou o bis de hoje, um show inteiro. “Olha pro céu”, como o Luiz Gonzaga (parceria com José Fernandes) que ela gravou na estreia (mas não cantou ontem), que até São Pedro colaborou ontem e não é por qualquer coisa que se perde show de Ceumar. Ainda mais de graça. Obrigado por mais uma chance! Depois não digam que eu não avisei.
A cantora e compositora Ceumar – foto: Isabelle Novaes/ divulgação
Os caminhos da cantora e compositora Ceumar se cruzam com os de Webster Santos, Luiz Cláudio e Josias Sobrinho desde Dindinha (Atração, 1999), disco de estreia da mineira – o primeiro tocou cavaquinho, violão e bandolim em faixas do álbum; o segundo, percussão; e do terceiro ela gravou “As ‘perigosa’” e “Rosa Maria”.
Produzido pelo maranhense Zeca Baleiro – autor de “Cantiga”, “Boi de haxixe” e “Pecadinhos”, além da faixa-título –, foi seu nome e o de Josias, entre os autores, na contracapa, o que primeiro me chamou a atenção (depois da própria capa, é lógico) naquele álbum.
A história é por demais conhecida e eu mesmo já contei noutras ocasiões: lá pelo começo dos anos 2000, quando ainda existiam lojas de discos, eu saí do trabalho rumo à parada de ônibus e encostei em uma das que havia na Rua de Santana, no Centro de São Luís. Não conhecia Ceumar, mas não titubeei: saí dali com o cd em mãos e ao chegar em casa, botei para ouvir e não parei mais.
Paixão à primeira vista, paixão à primeira audição – reafirmada a cada álbum seu: Sempre Viva (Elo Music, 2003), Achou! (2006, com Dante Ozzetti), Meu Nome (Circus, 2009), Live In Amsterdam (2010), Silencia (Circus, 2014), Viola Perfumosa (Circus, 2018, com Lui Coimbra e Paulo Freire) e Espiral (Circus, 2019).
São Luís será testemunha de seu reencontro com os citados no início deste texto. Ceumar se apresenta hoje (25, às 19h) e amanhã (26, às 18h), no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), com entrada franca. As apresentações integram circulação com que a artista celebra seus 35 anos de música – contados não de sua estreia fonográfica, mas de quando começou a atuar na noite, vinda de sua Itanhandu natal para a capital mineira.
A circulação foi contemplada pelo edital Pixinguinha da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e, com ela, Ceumar chega ainda a Belém/PA e Belo Horizonte/MG. Quando do início das celebrações, este repórter conversou com Ceumar para o FAROFAFÁ. Releia a entrevista aqui.
divulgação
Serviço: show “Ceumar – 35 Anos de Música”. Hoje (25), às 19h, e amanhã (26), às 18h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro). Ingressos gratuitos – devem ser retirados na bilheteria do teatro, a partir de três horas antes do início do espetáculo.
A cantora Célia Maria – foto: Zeqroz Neto/ divulgação
A cantora Célia Maria adotou seu nome artístico para fugir da vigilância dos pais e conseguir cantar (escondida) em programas de auditório em rádios maranhenses. Nos anos 1960 circulou pelo eixo Rio-São Paulo e conviveu com figuras como Cartola (1908-1980), Nelson Cavaquinho (1911-1986), Zé Keti (1921-1999) e o conterrâneo João do Vale (1934-1996).
Considerada a voz de ouro da música do Maranhão, Célia Maria só viria a gravar um álbum, o homônimo Célia Maria, em 2001, com arranjos de Ubiratan Sousa, incluindo o choro “Milhões de Uns”, de Joãozinho Ribeiro, que angariou troféu no Prêmio Universidade FM daquele ano. Nada disso, no entanto, foi capaz de dar a ela o merecido reconhecimento: trata-se de uma das maiores cantoras brasileiras em qualquer tempo.
Só voltaria a gravar em 2022, por iniciativa de admiradores: lançou o EP Canções e Paixões (ouça acima), cujo repertório traz, entre outras, o “Bolero de Célia”, que Zeca Baleiro compôs especialmente para sua interpretação. É a música do conterrâneo que dá título ao show que a artista apresenta nesta sexta-feira (29), às 21h, no Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau).
Na apresentação, Célia Maria será acompanhada do Regional Seis Por Meia Dúzia (nome tomado emprestado de um choro de Luis Barcelos), que está longe de ser qualquer coisa ou mais ou menos, formado especialmente para a ocasião: Rui Mário (sanfona e direção musical), Wendell de La Salles (bandolim), Gustavo Belan (cavaquinho), Gabriela Flor (pandeiro), Chico Neis (violão) e Mano Lopes (violão sete cordas).
A noite contará ainda com as luxuosas participações especiais de Claudio Lima e Dicy. Os ingressos já estão esgotados. No repertório, além de canções de Célia Maria e Canções e Paixões, a que comparecem nomes como Antonio Maria (1921-1964), Antonio Vieira (1920-2009), Cesar Teixeira, Chico Buarque, Edu Lobo, Chico Maranhão e Luiz Bonfá (1922-2001), entre outros, além de um passeio por clássicos da música popular brasileira, com destaque para boleros, choros e sambas-canções.
“Bolero de Célia”, o show, tem produção de RicoChoro Produções e apoio cultural de Maxx, Potiguar, Gênesis Educacional, Bira do Pindaré, Pró Áudio e Turê.
divulgação
Serviço
O quê: show “Bolero de Célia” Quem: Célia Maria e Regional Seis Por Meia Dúzia. Participações especiais de Claudio Lima e Dicy Onde: Miolo Bar e Café (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau) Quando: dia 29 (sexta-feira), às 21h Quanto: ingressos esgotados Produção: RicoChoro Produções Apoio cultural: Maxx, Potiguar, Gênesis Educacional, Bira do Pindaré, Pró Áudio e Turê
O filósofo e poeta Antonio Cicero – foto: ABL/ divulgação
A profusão de homenagens ao poeta, letrista e filósofo Antonio Cicero (1945-2024) é mais que merecida: qualquer brasileiro/a cantarola várias de suas letras, não raro sem saber que ele é o autor.
Antonio Cicero saiu de cena por vontade própria: recorreu ao suicídio assistido (eutanásia), ontem (23), na Suíça, onde a prática é legalizada. Para além de debates no campo religioso (reafirmou seu ateísmo na carta de despedida), optou por uma morte digna quando acreditou que o mal de Alzheimer já não lhe garantia uma vida idem.
Consciente até o fim, talvez seu gesto tenha tido uma intenção política. Mesmo que não, a discussão que se poderia/deveria abrir é justamente essa: o direito a uma morte digna quando a vida já não o é – ou quando assim for considerada.
Demoro a processar certas mortes. Antonio Cicero era imortal – da Academia Brasileira de Letras (ABL) – e parecia mesmo eterno, o que se comprovará ao continuarmos assobiando seu legado vivo.
A finitude também foi tema de suas criações, como por exemplo em “O Meu Sim” (parceria com a irmã Marina Lima, que a gravou): “quem sabe o fim não seja nada/ e a estrada seja tudo”.
Não faltaram, nas citadas homenagens, a escolha de letras de música e poemas prediletos, um exercício difícil, dado o volume e a qualidade da obra de um de nossos grandes criadores.
“Inverno” (parceria com Adriana Calcanhotto), “Holofotes” (com João Bosco e Waly Salomão), “O Circo” (com Orlando Moraes), “Maresia” (com Paulo Machado), “Dono do Pedaço” (com Gilberto Gil e Waly Salomão), “Os Ilhéus” (com José Miguel Wisnik), “O Último Romântico” (com Lulu Santos e Sérgio Souza), “À Francesa” (com Cláudio Zoli), “Acende o Crepúsculo”, “Fogo e Risco”, “Bobagens, Meu Filho, Bobagens”, “Pra Começar”, “Fullgás” “Virgem” (com Marina Lima), nas vozes, respectivamente, de Adriana Calcanhotto, João Bosco, Maria Bethânia, Zeca Baleiro, Gilberto Gil, José Miguel Wisnik, Lulu Santos, Gal Costa, Ney Matogrosso e Caetano Veloso, além da própria Marina Lima, parceira primeira e maior, são alguns (poucos e) ótimos exemplos, entre tantos possíveis.
Não “guardei” o motivo pelo qual desperdicei a única chance que tive de conhecer Antonio Cicero pessoalmente: ele era uma das atrações da IX Feira do Livro de São Luís (2015), mesma edição que trouxe Marcelo Yuka (1965-2019) – que também não conheci –, sob curadoria do poeta Fernando Abreu, seu admirador confesso.
Chico César se apresentou ontem (2), na Praça das Mercês, no Desterro, no Centro Histórico da capital maranhense, na programação do aniversário de 412 anos de São Luís. Cantou por pouco mais de hora e meia, numa demonstração de sua relação atávica, umbilical e orgânica com a cidade. Muita gente, ainda hoje, acredita que o paraibano é maranhense.
Prestes a completar 30 anos de sua estreia fonográfica, com Aos Vivos (Velas, 1995), ele escolheu “Beradêro”, faixa que abre o citado trabalho, para inaugurar seu show, com a plateia cantando junto desde ali e direito a um “viva Paulo Freire (1921-1997)!” – o educador é citado na letra – respondido a plenos pulmões pelo público presente.
Artista experiente e experimentado, com pleno domínio de palco, Chico César soube fazer o público cantar junto, aplaudir, dançar e vibrar, em êxtase coletivo. Marcado para às 21h, o show só foi começar pouco depois de 23h30. O artista desculpou-se, mas disse que o atraso nada tinha a ver com ele e sua equipe, que esperaram pacientemente todas as apresentações que o antecediam. E revelou: “a gente preparou um show de duas horas, mas vai ter que diminuir um pouquinho. Minha equipe precisa estar no aeroporto às duas”. Após ouvir um “ah” de insatisfação do público, respondeu: “amanhã vocês trabalham”. E o público, para rir de si mesmo: “não!”.
Chico César conhece o chão que pisa, sabia que estava na ilha do reggae. Após “Beradêro” mandou “Árvore”, clássico do baiano Edson Gomes (que ele havia cantado em duo com Marcelo Jeneci em Night Club Forró Latino (volume I), álbum mais recente do sanfoneiro), seguida por “Mama África”, “Brilho de Beleza” (Nego Tenga) – trocando o nome de Bob Marley (1945-1981) da letra original pelo de Marielle Franco (1979-2018) – e finalizando o longo medley com “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores” (Geraldo Vandré), transformando a praça num salão de baile em que os presentes não têm intervalo para interromper a dança.
Dizer que o público foi à loucura pode ser redundante em se tratando deste show, de muitos pontos altos. Chico César cantou “Sereia Linda de Cumã” (Humberto de Maracanã/ Zé Maria), faixa de Aldeia Tupinambá (Ná Music/ Tratore, 2020), de que ele participa (quem esteve no Festival Zabumbada em 2022 não esquece o encontro do paraibano com o batalhão, na mesma Praça das Mercês). A esta seguiram-se “Vestido de Amor” e “À Primeira Vista”, com citação de “Samurai” (Djavan), numa apresentação recheada de intertextos, em que Chico César vai descortinando sua formação e sua relação com o lugar, sem nunca forçar a barra.
No palco ao lado do Monumento da Diáspora Africana, na Praça das Mercês, Chico César exaltou o papel dos negros e das mulheres, por vezes repetindo a frase “lugar de mulher é onde ela quiser” – metade do sexteto que o acompanha – a banda Machifeme, como ele apresentou – é feminino: Síntia Piccin (saxofone e flauta), Richard Fermino (trompete e flauta), Larissa Humaitá (percussão), Gledson Meira (bateria), Helinho Medeiros (teclado e sanfona) e Lana Ferreira (baixo).
“Pensar em Você” trouxe outras citações: “Nossa Canção” (Luiz Ayrão), além de um trechinho de “Dia Branco”, de Renato Rocha e Geraldo Azevedo – com quem Chico divide Violivoz (Ao Vivo) (Chita/ Geração/ LF + C, 2023). Quando cantou “Deus me Proteja” agradeceu a Dominguinhos (1941-2013) e Juliette, por colocarem sua composição no coração dos brasileiros. Presenteou os presentes com uma inédita, “composta ontem” – quando postou-a no instagram: “Namorar no Maranhão”, uma toada que primeiro cantou sozinho ao violão e depois acompanhado da banda. Dedicou-a a “Josias Sobrinho e Chico Saldanha, meus mestres”, que estavam presentes. Outra viria mais à frente, “composta durante a pandemia, mas também parece que foi ontem”, sobre os Lençóis Maranhenses – que ele revelou não conhecer, “ainda”, brincando com o fato de serem “muita areia para seu caminhãozinho”.
“Agalopado” (Alceu Valença), faixa que abre Espelho Cristalino (Som Livre, 1977), inaugurava um bloco de formadores de Chico César, como ele mesmo revelou. Seguiram-se “Sobradinho” (Sá e Guarabyra), cuja regravação pelo paraibano foi abertura de novela da Rede Globo, e “Admirável Gado Novo” (Zé Ramalho). O fio autoral foi retomado com “Palavra Mágica” e “Da Taça”, com incidental de “Lenha”, do parceiro maranhense Zeca Baleiro (com que Chico divide o álbum Ao Arrepio da Lei (Saravá/ Chita, 2024). O medley se completava com “Proibida Pra Mim” (Chorão/ Marcão/ Champignon/ Pelado), sucesso do grupo Charlie Brown Jr., também regravada por Baleiro, “Onde Estará o Meu Amor”, “Diana” (Paul Anka em versão de Fred Jorge [1928-1994]) e “Filme Triste” (John D. Loudermilk [1934-2016] em versão de Romeu Nunes), na porção jovem-guardista do espetáculo.
“Eu vou cantar uma música que eu lembro que a primeira vez que eu cantei em público foi aqui, num carnaval, em cima de um trio elétrico. Não é fácil a gente lançar uma música assim”, lembrou-se antes de cantar “Pedrada”. Como ontem, este repórter estava lá e lembra do impacto da mensagem, em pleno carnaval de 2019. Pelo meio da música mandou a palavra de ordem: “sem anistia!”.
Em meio a “Estado de Poesia” gritou “viva Celso Borges (1959-2023)!”, lembrando o parceiro que o apresentou a Zeca Baleiro. Quando cantou “Pedra de Responsa” (Chico César/ Zeca Baleiro) voltou a apresentar a banda, referindo-se a cada músico como uma pedra de responsa, a gíria maranhense que designa os reggaes muito bons, os prediletos. Era a noite do povo de axé, e Chico César terminou a apresentação cantando “Mamãe Oxum” à capela. O tema de domínio público, adaptado por Zeca Baleiro, foi cantado em dueto por ambos no álbum de estreia do maranhense, Por Onde Andará Stephen Fry? (MZA Music, 1997).
Chico César saudou São Luís pelos 412 anos que a cidade completará no próximo dia 8 de setembro e disse esperar estar de volta em 12 anos para esta festa. O gracejo de um artista que adora o lugar, por ele é adorado e tem vindo com frequência, para alegria de seu público fiel: de 2019 para cá, só não se apresentou em 2020 e 2021, os anos mais graves da pandemia de covid-19.
Passava um pouco de uma da manhã quando as luzes do palco se apagaram e os resistentes começaram a fazer o caminho de volta para casa, satisfeitos, mas com o gosto de quero mais por contradizer-lhes, certamente em estado de poesia.
Show no Miolo Café Bar dia 30 precede gravação de álbum dedicado ao gênero
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação
Em 2002 e 2003, quando percorreu 18 bairros de São Luís com o circuito Samba da Minha Terra, ficou comprovada a importância da verve sambista de Joãozinho Ribeiro, poeta e compositor versátil que se vira muito bem em outros gêneros, como também o provam centenas de composições suas, gravadas por nomes os mais diversos da música popular brasileira.
Em setembro Joãozinho Ribeiro entra em estúdio para gravar o segundo álbum de sua carreira, que já conta 45 anos, desde a estreia em um festival universitário de música em 1979. O sucessor de Milhões de Uns – Vol. 1, gravado ao vivo no Teatro Arthur Azevedo em 2012 e lançado no ano seguinte, será dedicado ao samba, com direção de Zeca Baleiro, produção de Luiz Cláudio e participações especiais de insuspeitos bambas – entre os nomes confirmados, além do próprio Zeca, estão Rita Benneditto, Chico César e Fabiana Cozza.
Como uma espécie de aquecimento para o registro do álbum, Joãozinho Ribeiro se apresenta no próximo dia 30 de agosto (sexta-feira), às 21h, no Miolo Café Bar (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau). No show, intitulado “45 Anos: Letra e Música”, o artista experimentará o repertório que pretende levar ao estúdio, acompanhado por João Eudes (violões de seis e sete cordas e direção musical), João Neto (flauta), Juca do Cavaco (cavaquinho) e Carbrasa (percussão).
No show, Joãozinho Ribeiro contará ainda com as participações especiais de Adler São Luís, Fernanda Garcia, Chico Saldanha e Neto Peperi. No repertório, clássicos como “Milhões de Uns”, “Saiba, Rapaz” e “Estrela”, para destacar alguns sambas e choros de sua lavra.
“Este show vai ser uma confraternização, um encontro com parceiros, instrumentistas e intérpretes, já pensando no que a gente vai fazer quando entrar em estúdio. Tudo está sendo pensado com muito carinho e cuidado, tanto para o palco, quando a gente vai sentir o termômetro do público, quanto para o estúdio, quando a gente vai para um registro definitivo de uma obra que eu sigo construindo, num álbum que está sendo pensado de forma equilibrada entre músicas bastante conhecidas no Maranhão, mas também apresentando inéditas”, promete Joãozinho Ribeiro.
Serviço
O quê: show “45 Anos: Letra e Música” Quem: o poeta e compositor Joãozinho Ribeiro e Regional Quando: dia 30 de agosto (sexta-feira), às 21h Onde: Miolo Café Bar (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau) Quanto: R$ 25,00 (couvert artístico individual)
O compositor Chico Saldanha – foto: Ribamar Nascimento/ divulgação
Com quatro álbuns gravados – Chico Saldanha (1988), Celebração (1998), Emaranhado (2007) e Plano B (2017) –, o compositor Chico Saldanha costuma brincar acerca do intervalo entre seus lançamentos. “A imperfeição é mais fácil de tolerar em doses pequenas”, diz, citando a poeta polonesa Wislawa Szymborska (1923-2012).
Autor de clássicos da música popular brasileira, entre os quais “Itamirim” e “Linha Puída”, o rosariense é considerado entre seus pares como a memória viva da música popular brasileira produzida no Maranhão: foi o responsável por fazer chegar aos ouvidos de Papete o repertório registrado pelo artista em Bandeira de Aço (Discos Marcus Pereira, 1978); integrou a primeira formação do Regional Tira-Teima, tendo tocado violão na gravação do antológico Lances de Agora (Discos Marcus Pereira, 1978), de Chico Maranhão; em 1985, com os parceiros Giordano Mochel e Ubiratan Sousa, produziu o compacto Sotaques, em que canta “Fuzileiro de Novo”, com que comemorava a volta dos Fuzileiros da Fuzarca naquele ano; e entre outros feitos produziu, com os mesmos parceiros, o compacto Velhos Moleques (1986), que reuniu Antonio Vieira (1920-2009), Agostinho Reis (s/d), Cristóvão Alô Brasil (1922-1998) e Lopes Bogéa (1926-2004). Para se ter uma ideia, o primeiro só viria a estrear em disco solo em 2001, com O Samba é Bom, produzido por Zeca Baleiro.
Só estas referências iniciais já garantiriam a Saldanha um lugar no panteão sagrado da MPB. Mas o artista, que completa 79 anos hoje (11), segue produzindo, mantendo a qualidade característica e, sorte a nossa, tem disponibilizado alguns singles, em sua própria voz ou de intérpretes de mútua admiração. São os casos recentes de “Dolores” – uma singela homenagem a Dolores O’Riordan (1971-2018), vocalista dos Cranberries, de que tenho a honra de ser o parceiro letrista –, interpretada por ele em um inspirado dueto com a cantora Regiane Araújo; “Dom Quixote”, parceria com Ivan Sarney, repescada do repertório setentista dos festivais de música de que participou, que finalmente ganhou o mundo na voz de Lucas Sobrinho; e “Arco-Íris”, toada solitária de rara beleza, interpretada por Elizeu Cardoso, cuja honra de cantá-la ele considera um verdadeiro presente.
Marcando seu aniversário de 79 anos, para não fugir do clichê-reclame de loja popular: o artista aniversaria mas quem ganha o presente somos nós, ouvintes ávidos e atentos, sedentos desta rara beleza que só Chico Saldanha pode nos proporcionar: ele lança hoje single duplo com as faixas “Passou, Pintou e Bordou” e uma releitura da citada “Arco-Íris”.
A música é o pote de ouro de Chico Saldanha, longe disto ser uma metáfora financeira: ambas as letras citam arcos-íris. A primeira tem construção sui generis, transitando entre bossa nova, blues e samba e fechando com a sutil citação do bolero “Alguém me Disse” (Jair Amorim [1915-1993] e Evaldo Gouveia [1928-2020]), sucesso de Anísio Silva (1920-1989).
Já a releitura de “Arco-Íris” pelo autor ganha ares de fado, no diálogo entre o bumba meu boi (originalmente trata-se de uma toada) e a influência moura, que levou o produtor Luiz Cláudio a explorar os sofisticados vibratos das vozes de Chico Saldanha e Neném do Vale – com quem canta em dueto –, como o sotaque de orquestra, natural de Rosário, feito o compositor, a dar as mãos ao fado português, encontro este que se reflete no arranjo da música.
“Passou, Pintou e Bordou” acaba sendo também uma homenagem a Zezé Alves (1955-2024), pois é um dos últimos registros do músico em estúdio. Além de sua flauta, a ficha técnica da faixa se completa com Fernando Hell (bateria), Mauro Travincas (baixo), Daniel Nobre (guitarra, violão e arranjo) e Luiz Cláudio (percussão e arranjo).
Já em “Arco-Íris” as vozes de Chico Saldanha e Neném do Vale estão emolduradas por Arlindo Pipiu (violão e baixo elétrico), Emílio Furtado (baixo acústico), Robertinho Chinês (cavaquinho), Jovan Lopes da Silva (trombone), Natan Jefferson Moreira Silva dos Santos (trompete), Luiz Cláudio (percussão e arranjos) e Anna Cláudia (vocalizes).
Pela média destacada no início do texto, um próximo álbum de Chico Saldanha ainda demoraria uns três anos. Ainda é cedo para dizer se estes singles são um aperitivo. Compositor de destinos, como diria um outro colega seu de ofício, senhor da razão, o tempo dirá.
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação
Espetáculo poético-musical acontece nesta sexta-feira (22), no Teatro Arthur Azevedo
Diariamente somos bombardeados pelo noticiário e pelas redes sociais com notícias desagradáveis. São fartos os casos de desastres (supostamente) naturais, violências de toda ordem e assassinatos, não raro os três se relacionando.
Na contramão disso, temos as artes, para servirem não como alienação, alheamento ou fuga da realidade, mas também para nos ajudar a refletir sobre a quadra histórica que atravessamos.
“O dever do artista é salvar o sonho”, sentenciou o artista plástico italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), frase que se tornou um mantra para o poeta e compositor maranhense Joãozinho Ribeiro.
Nesta cruzada quase quixotesca em busca de salvar o sonho, Joãozinho Ribeiro apresenta nesta sexta-feira (22), às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), o espetáculo “Canções de Amor e Paz”, reunindo um grande elenco da música e poesia cometidas por estas plagas.
Desfilando um repertório autoral, Joãozinho Ribeiro agrega como convidados/as o Coral Infantil Batucando Esperança, Elisa Lago, Emmanuel Ferraro, Adriana Bosaipo, Anna Cláudia, Fátima Passarinho, Zeca Baleiro – que fará uma participação especial virtual, apresentando uma parceria inédita deles em vídeo –, Ivandro Coelho, Gisele Vasconcelos, Marconi Rezende, Rosa Reis, Leda Nascimento, Elizandra Rocha, Gilson César, Rosa Ewerton, Uimar Junior, Moizes Nobre e Tatiane Soares.
O anfitrião e a constelação que o acompanha terão seus feitos musicais e poéticos emoldurados pelos talentos de Rui Mário (sanfona e direção musical), Arlindo Pipiu (baixo), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Robertinho Chinês (cavaquinho e bandolim), Tiago Fernandes (violão sete cordas) e Marquinhos Carcará (percussão). A produção é de Lena Santos e a direção geral de Joãozinho Ribeiro.
Os ingressos custam R$ 50,00 (R$ 25,00, a meia-entrada para estudantes com carteira e demais casos previstos em lei) e estão à venda na Bilheteria Digital e na bilheteria do Teatro Arthur Azevedo.
Serviço
O quê: show “Canções de Amor e Paz” Quem: Joãozinho Ribeiro e convidados Quando: sexta-feira (22), às 20h Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro) Quanto: R$ 50,00 e 25,00
O cantor e compositor Marconi Rezende. Foto: Danielle Vieira/ Divulgação
“O meu pai era paulista/ meu avô pernambucano/ o meu bisavô mineiro/ meu tataravô baiano/ meu maestro soberano/ foi Antonio Brasileiro”. Os versos que abrem “Paratodos”, canção que abre e intitula o disco que Chico Buarque lançou em 1993, dão a genealogia familiar e musical do compositor, que completou 79 anos em junho passado.
“Paratodos” é o título escolhido por Marconi Rezende para o show que apresenta no próximo dia 12 de agosto (sábado), às 19h, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB, Rua Conde D’Eu, 560, Centro), em Fortaleza/CE. O maranhense é um dos maiores covers do autor de verdadeiros hinos da música popular brasileira, como “Construção”, “Apesar de Você”, “Vai Passar” e “Cotidiano”, entre outras.
O espetáculo tem entrada franca. Na ocasião, Marconi Rezende (voz e violão) estará acompanhado por Adriano Oliveira (piano), Luciano Franco (contrabaixo) e André Benedect (bateria). O repertório faz um passeio por clássicos da lavra buarqueana e lados b.
“Chico Buarque é um dos maiores artistas deste país e tem uma obra tão extensa quanto versátil. A gente pretende oferecer ao público todas as facetas do cantor, compositor, dramaturgo e escritor, referência em todas as vertentes por onde se aventurou”, promete Marconi Rezende.
Autodidata, o músico maranhense lapidou na noite ludovicense sua escolha criteriosa de repertório. Se Chico Buarque é seu inegável artista preferido, ele também costuma apresentar pérolas de outros mais de 100 compositores, ofício no qual ele mesmo é um talento: “Estrelando” (2009), seu disco de estreia, apresenta esta faceta de Marconi Rezende, que também será lembrada durante o tributo ao carioca.
Tamanha é sua identificação com a obra de Chico Buarque, com suas execuções charmosas e impecáveis, que Marconi Rezende se viu liderando um movimento espontâneo intitulado Clube do Chico, marcado por constantes celebrações à obra deste craque da MPB, que chegou a ter até sede fixa durante um tempo.
Ano passado, quando Chico Buarque se apresentou na capital alencarina com a turnê “Que Tal Um Samba?”, Marconi Rezende estava na caravana de maranhenses que foi até lá prestigiar o ídolo. “Tem saudades do Ceará”, como o mesmo diz na letra de “Iracema Voou”, e por isso mesmo, vai até lá.
Atualmente Marconi Rezende trabalha em um novo projeto autoral, incluindo parcerias com o conterrâneo Zeca Baleiro. Após Fortaleza, Marconi Rezende levará a homenagem a Chico Buarque em “Paratodos” a outras capitais nordestinas.
Serviço
O quê: show “Paratodos – Especial Chico Buarque” Quem: o cantor, compositor e violonista maranhense Marconi Rezende Quando: 12 de agosto (sábado), às 19h Onde: Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB, Rua Conde D’Eu, 560, Centro, Fortaleza/CE) Quanto: entrada franca
Sábado passado (27) o Reviver Hostel (Rua da Palma, Praia Grande) foi palco do show de lançamento de “O Homem Que Virou Circo” (2023), novo álbum do cantor e compositor Marcos Magah, produzido pelo conterrâneo Zeca Baleiro.
O trabalho encerra uma trilogia, iniciada com o álbum de estreia “Z de Vingança” (2012) e continuada com “O Inventário dos Mortos (Ou Zebra Circular”) (2015). “O Homem Que Virou Circo” conta com participações especiais de Odair José (em “Estação Sem Fim”) e Bárbara Eugênia (em “As Coisas Mais Lindas do Mundo”, parceria dele com Celso Borges [1959-2023]).
Entre a doçura e a revolta, como salienta o produtor, o terceiro álbum de Magah preserva suas características essenciais, que tem marcado sua trajetória solo – o cantor integrou a banda Amnésia, com que ajudou a consolidar uma cena punk em São Luís, a partir do bairro do Cohatrac – com seu passeio desenvolto entre o punk, o rock e o brega, com letras inteligentes e instigantes.
Na véspera do show de lançamento, que acabei perdendo (por motivos de força maior), acompanhei um pedaço do último ensaio no Estúdio 2F Sonato (Vinhais). Na ocasião, a convite da produção, conversei com Marcos Magah e Zeca Baleiro – e por motivos idem, só agora consigo postar a conversa.
Fotos: Patrícia Castro
ENTREVISTA: MARCOS MAGAH E ZECA BALEIRO
ZEMA RIBEIRO: Antes de Baleiro ir se aventurar em São Paulo em busca do sonho de viver de música, teve uma trajetória aqui por barzinhos na noite de São Luís, que era mais ou menos a mesma época em que o Magah ajudou a consolidar ali a cena punk, a partir do Cohatrac, com a banda Amnésia. Naquela época vocês já se encontravam? Como é que era essa relação na década de 1980? MARCOS MAGAH: Rapaz, a gente se via, cidade pequena, a gente chegou inclusive a dividir palco, acho que em 1990. É 89, 90, no festival São Luís Rock Show e a gente dividiu no Coqueiro [bar], que era o festival muito louco de rock and roll [risos], e a gente dividiu o palco lá uma vez, nesse festival que eu me referi agora. São Luís, cidade pequena, todo mundo acaba se olhando em algum momento. Lá na frente, a gente acabou se encontrando novamente no filme do Neto Borges, que foi o “Ventos Que Sopram”, quando a gente começou a pensar em trabalhar junto.
ZR: Baleiro, você sempre teve uma atenção muito grande, voltada sobretudo para artistas do teu lugar, São Luís, do Maranhão, e ao longo desses anos de carreira, 26 já, isso se contarmos só a partir do disco de estreia, e você sempre deu uma força, colaborou, produziu, enfim, ajudou também a colocar nomes aí no radar. O que te chamou a atenção na obra de Magah que você resolver produzi-lo? ZECA BALEIRO: Bom, e aí, Magah? Falo a verdade ou minto? [risos]. Só te corrigindo: não era sonho, não, era desespero mesmo. Quando eu saí daqui para São Paulo era uma tentativa de alargar os horizontes, e falo isso sem desabonar a cidade que eu amo, que eu adoro e tal, mas eu tava num momento pessoal muito confuso, muito conturbado e numa vibe muito sexo, drogas e rock and roll, mais drogas do que sexo na verdade [risos]. Eu fui para buscar outros caminhos, para me aventurar, para buscar crescimento, desenvolvimento para mim, como pessoa, como artista e por outras demandas também que não vêm ao caso. Lá no meu bairro, no Monte Castelo, tinha uma turma também, Ricardo, me ajuda aí a lembrar [pede para Magah], que eram de uma banda, ali perto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a turminha que se reunia ali se correspondia com Arnaldo Baptista. Tu [apontando para Magah] era da Amnésia, tinha a Ânsia de Vômito, os nomes eram maravilhosos [risos], e eu era amigo deles, assim, amigo de bairro, da gente se encontrar e tal. Naquele tempo, não só em São Luís, no Brasil de uma maneira geral, essas prateleiras da música eram muito essa segmentação, era até de uma natureza mais social, a galera do rock não se misturava com a galera do samba, que não se misturava com a galera da chamada MPB, que quiseram chamar de MPM aqui, e eu era aberto. Eu gostava de música popular, me interessava por música popular de uma maneira geral, então eu era tanto amigo de Joãozinho Ribeiro, que é um cara que cultua a Velha Guarda, Noel [Rosa, compositor (1910-1937)] e tal, como podia ser amigo de Ricardo e de Magah, de outros caras. Masa gente não foi de fato, assim, amigos. A gente era ali contemporâneo, olhava ali com o interesse aquela cena, a gente esteve juntos nesse festival, eu lembro até que eu entrei com a minha banda, todos pintados, e todo mundo ficou “estão pensando que são os Secos e Molhados?”.Mas era uma brincadeira, uma provocação. Depois, o Magah esqueceu de contar, que ele perambulou por São Paulo e nessa época o Fernando Abreu, parceiro, poeta parceiro comum dos dois, escreveu: “Zeca, te lembra de Magah? Ele tá em São Paulo”. Eu tava na época viajando muito, a gente não conseguiu se encontrar, mas ele mandou três letras por e-mail. Uma delas virou a nossa primeira parceria, “Eu Chamo de Coragem”, está no “O Amor no Caos – volume 2“, aí veio o documentário, a gente se aproximou, ele mostrou umas canções e eu falei “pô, vamos fazer repertório”, e foi assim.
ZR: Agora depois dessa tua ida para São Paulo tu acabou te tornando uma espécie de embaixador, né? ZB: Eu detesto esse negócio de embaixador.
ZR: É, detesta, mas assim, é porque tu nunca negou a mão a quem precisou. ZB: É porque é amor mesmo, cara. O cara pode ser capixaba também, e eu aliás fiz, por sinal, com a obra de Sérgio Sampaio. Naturalmente, tem que ter um entendimento da vivência do cara, que pode ser Magah ou pode ser Antonio Vieira (1920-2009), da dificuldade dos meios de produção, que mesmo hoje São Luís ainda é uma cidade com muita dificuldade, como é Aracaju, como é Maceió, como é qualquer cidade menor assim, né? Não é uma metrópole como Rio, São Paulo, Belo Horizonte. Agora essa coisa de embaixador, desculpa, até posso ter sido descortês, mas é porque isso de embaixador passa um pouco uma ideia de oficialidade, sabe? E eu detesto qualquer tipo de oficialidade [risos]. Eu não sou embaixador de nada. Eu posso gostar do cara sendo maranhense, piauiense ou cearense. Naturalmente eu não me afastei, como outros artistas fizeram um afastamento, às vezes até normal, né? Por exemplo, Alcione, de quem eu sou muito fã, hoje é mais associada à cultura musical do Rio, à Mangueira do que aqui, embora ela nunca vá deixar de ser maranhense, profundamente maranhense. Por uma natureza minha mesmo, assim, pessoal, eu gosto de estar aqui, sinto um pertencimento, me sinto fazendo parte de uma coisa, me sinto inserido nisso aqui como o meu lugar, mesmo que eu vá morar na Romênia. Uma vez dividindo os microfones, o palco, a cena com Ferreira Gullar (1930-2016), um programa que o Tony Bellotto tinha, não sei se tem mais, na TV Cultura, “Afinando a Língua”, juntou o Ferreira Gullar e eu, e a gente conversando e o cara perguntou pro Gullar: “a origem importante, Ferreira Gullar?”, e ele falou: “rapaz, tudo que a gente tem, a única coisa que a gente tem, é a origem, é onde a gente nasceu, de onde a gente veio, o lugar ao qual a gente pertence, todo o resto é incerto, agora a origem é definitiva”. Eu achei isso lindo. Eu repito isso como um mantra. Eu nunca neguei minha origem.
ZR: Sábio Gullar. Esse reencontro no decorrer do processo feitura do documentário do Neto Borges, o “Ventos Que Sopram”, eu até acompanhei parte das gravações aqui em São Luís, é impossível a gente não lembrar de um parceiro comum também de vocês, Zeca até fez a devida homenagem no show de ontem, a Celso Borges. Queria um depoimento de vocês sobre essa figura tão importante para todos nós. MM: Rapaz, eu conheci Celso quando eu tava em São Paulo, essa ida a que Zeca se referiu há pouco. Aquela história da cidade pequena, que todo mundo se vê e tal. Mas às vezes não tem contato, uma intimidade, então. E aí em São Paulo, eu fui chamado para fazer uns shows que era eu, ele e o poeta Reuben, o CavaloDada. E aí nós fizemos uma série de quatro shows juntos lá e nessa história de fazer show, o Reuben, eles estavam os dois trabalhando, eu me lembro bem dessa cena, principalmente esses dias aí, e ele me chamou, o Reuben, né? Eles iam fazer uma história lá que eles recitavam poesia e eu cantava as canções, aquelas divisões que se faz, né? E o CavaloDada falou para ele assim, “cara, tu precisa olhar as letras do Magah”, e ele falou para mim assim: “então recita aí alguma coisa”, aí eu falei uma dessas letras que eu faço [risos] e ele ficou assim, gostou muito, e aí era para ser só um show e a gente acabou fazendo quatro e surgiu o lance da amizade. E a amizade da gente era uma coisa muito bacana, porque Celso era muito mais novo do que [risos]. Ele tinha uma energia, um espírito assim, eu me lembro de uma vez a gente fazendo uma canção chamada “Camboa” e ele escreveu um verso, a gente escrevia um de frente para o outro, cada um com seu papelzinho assim, e ele escreveu um verso, ele ficou tão feliz, cara, que ele subiu na janela. E eu ficava dizendo “Celso, desce daí”, eu preocupado, era uma pessoa mais velha [risos]. Então era assim, cara, era uma relação realmente intensa, e também da mesma forma, tínhamos discussões maravilhosas. Para mim é bem complicado essa coisa de pensar que Celso não tá mais aqui. Ele foi um cara muito importante para mim porque ele nunca se dava por contente. Eu mostrava algo para ele, ele dizia “não, tu faz melhor, estica isso para cá, leva pr’ali”, ele tinha essa coisa, né? E aquela coisa de um bom humor, que jogava a gente para frente. E tava sempre disposto, qualquer projeto que eu dava o toque, vamos fazer, às vezes as minhas propostas absurdas para testar a paciência dele, ele falava “eu topo”, e eu dizia “pô, esse cara é mais maluco do que eu, mano”. É um amigo e parceiro assim, cara, que realmente… as nossas conversas, que iam para muito além das questões artísticas, de criação e tal, coisa de amizade mesmo, de falar sobre coisas, amor, dinheiro principalmente. A gente falava muito de dinheiro, porque a gente não tem nenhum. Quem não tem dinheiro geralmente só fala de dinheiro e a gente conversava muito sobre isso. Meu amigo querido, meu irmão. ZB: Pra mim ainda é um pouco difícil falar sobre Celso porque ainda estou muito sob o efeito do choque. Toda morte é, de certa maneira, chocante, por mais até previsível que seja, e no caso da do Celso tomou todos nós de surpresa. Foi muito imprevisível e essas pessoas que têm uma vitalidade, uma intensidade muito grande no viver, a gente demora a acreditar. Eu perdi alguns amigos ao longo desses últimos anos e alguns deles eu até hoje não realizei, é difícil realizar. É difícil vir a São Luís, por exemplo, e imaginar que eu não vou encontrar Celso, que a gente não vai se provocar mutuamente, às vezes até brigar como a gente brigava, porque era uma relação de irmão mesmo. “Baleiro, esse disco aí eu tou achando ele meio repetitivo”, “ah, vai se foder, e esse teu último livro aí é o quê, porra?”. Então era assim, era amor mesmo, uma relação de amor, porque não era superficial, era profunda, a gente falava o que tinha que falar. Celso é muito importante na minha trajetória musical, do Nosly, de muita gente. O Celso era um fazedor, né? Quando ele foi diretor da Rádio Mirante ele criou um programa, eu ainda estudava, tinha 14 anos, estudava no Colégio Batista, e a primeira vez, 14, 15 anos, que eu toquei uma música minha. Eu era muito tímido. O Nosly, que era meu vizinho de bairro, ali, de rua, no Monte Castelo, era um pouco mais atirado, foi meu primeiro parceiro, falou: “Zeca, tem um programa na Rádio Mirante, chama “Contatos Imediatos”. Você vai, toca, aí três caras concorrem na noite, e aí as pessoas telefonam, anos 1980, 83, 84, e o vencedor, quem tiver mais votos ganha uma máquina tira-teima da Kodak e um ticket para comer na Churrascaria O Laçador. Aí eu fui, lembro que nessa noite Nosly foi me acompanhando, dois violões, um baiãozinho, chamava “Sem Pé Nem Cabeça”, foi a primeira vez, e Celso “pô, interessante essa pegada e tal, vamos encontrar”. Ele que coordenava, dirigia o programa, “vamos!”. E aí foi uma saraivada, a gente fez oito músicas em sequência, eu, ele e Nosly, que deu origem ao nosso primeiro show, “Um Mais Um”. É um cara que tá na origem de toda a nossa história. Eu lembro que a primeira vez que eu ouvi Fauzi [Beydoun, vocalista da Tribo de Jah] foi nesse programa, tocando “Neguinha”, nem era um reggae ainda, era uma balada. Acho que César Nascimento também, a primeira vez que eu vi o César foi assim. Era um cara que abria muitas portas, tinha essa coisa meio visionária. Quando eu comecei na música, Celso já tinha um certo sucesso, já era uma personalidade, já aparecia na tevê, já tinha uma aparição aqui e acolá, um programa, a Revista Guarnicê, ele já era uma personalidade pública e eu tinha simpatia pela figura dele, pelas coisas que ele fazia, nos aproximamos. Nossas histórias se cruzaram em São Paulo também, ele foi um pouco antes, quando eu cheguei em São Paulo, ele me falou: “Zeca, conheci um cara aí da Paraíba, não tem nada a ver contigo, mas tem tudo a ver contigo, tu vai entender. Chama-se Chico César, trabalha na revista Elle, a gente se conheceu aqui na Rádio Gazeta, ele veio gravar um programa, vocês dois vão se amar”. Aí eu cheguei em São Paulo. Fui de carro, com a Solange, minha companheira na época, e no caminho o amplificador, nos sacolejos das estradas do Piauí, a gente passou 20 dias viajando num Fiat Uno, chegou quebrado em São Paulo e eu precisei de amplificador. Liguei para os amigos e Celso disse: “rapaz, liga para aquele cara, ele deve ter, o Chico César, liga para ele”. Ele me deu o telefone, liguei para o Chico, nos encontramos lá na Paulista, na frente da TV Gazeta, fui até a casa dele, no meu carro, lá em Santo Amaro, que era longe para cacete, passamos a noite tocando, eu, ele e Celso tocando e ele me emprestou o amplificador. Enfim eu pude fazer o show, importante, passamos a noite tocando e realmente ficamos encantados um com o outro. Entendi exatamente o que o Celso queria dizer. Éramos diferentes, mas éramos muito afins. E ele estava tão certo que a nossa amizade permanece até hoje, inclusive vai resultar num disco até o fim do ano, início do ano, a gente vai lançar. Então o Celso é um cara muito importante, tem essa coisa de agregar pessoas. Isso é muito importante na cena cultural de qualquer lugar.
ZR: Curioso essa essa memória de vocês de Celso, essa intensidade com que ele vivia e produzia. Quer dizer, partiu fisicamente ainda no auge da capacidade criativa e está presente no disco mais novo do Magah, “As Coisas Mais Lindas do Mundo”. Queria agora focar um pouquinho no álbum, eu lembro que quando tu lançaste o “Z de Vingança”, há mais de 10 anos, já falava numa trilogia, né? Que depois veio “O Inventário dos Mortos” e agora “O Homem Que Virou Circo”. Acho que isso demonstra uma organização muito grande. Queria que você falasse um pouco desse processo, de criação do álbum, de composição. Como é que foi isso? MM: Rapaz, eu vinha escrevendo. Eu tinha a ideia de lançar esse disco, inclusive Celso foi comigo uma vez no estúdio, até para registrar algumas canções. Eu tinha a ideia do disco, o tema, algumas canções como “Ela Nunca Teve Ninguém”, eu já tinha algumas canções, “O Homem Que Virou Circo” e tal. E eu tinha ideia de registrar, de fazer esse disco. O problema é que toda vez que eu entrava no estúdio eu não achava uma liga com um produtor. O cara achava esquisito aquilo ali, queria me propor uma outra coisa lá e eu falava: “não cara, eu quero fazer isso aqui, independente de [qualquer opinião que] não, que isso aqui não vai dar certo”. Eu falei: “não, cara, eu não eu não dei certo até agora, eu não estou preocupado com isso, não, velho. Eu tô querendo registrar o disco, não interrompe a minha felicidade” [risos]. E aí eu tentava sempre, três tentativas com produtores diferentes e tal, até que encontrei com o Zeca e a gente começou a falar sobre o disco, que tem uma coisa que eu e ele, a gente gosta de coisas parecidas, assim, a gente não vê muito fronteira de música e tal. E quando a gente começou a pensar o disco eu remodelei muitas canções. Essa parceria minha com Celso, eu adoro essa música, sabe?, eu gosto demais dessa música. Eu chamei ele, essas coisas do Celso, é impossível não contar alguma coisa, “eu quero fazer uma música assim”, e ele me perguntou pelo telefone “onde é que tu tá?”; aí eu digo: “cara, eu tô aqui na casa tal”; ele: “me aguarda que eu tô chegando aí!” [risos]. Isso era Celso. E aí eu comecei a remodelar as canções, ia amostrando para Zeca, algumas coisas, “isso aqui tá bom, isso aqui não e tal”. E acabou virando esse disco. Eu fiquei muito satisfeito assim com o resultado, porque eu gravei exatamente o que eu queria gravar, não sei se eu tô respondendo tua pergunta. Mas outro dia eu vi uma coisa engraçada, o cara disse que eu que eu me vendi e tal. Eu digo: “pô, eu preciso olhar o comprador”, não tenho ideia de quem me comprou até agora, que eu fiz concessão. Pô, cara, se tu for escutar o disco, eu não entendo, não tem concessão, ali eu fiz exatamente o que queria, a gente nunca conversou sobre “não, vamos mudar isso aqui”, não. A gente não é bobo, né,cara? Não faria sentido. Não tinha porquê. Umas coisas assim engraçadas, quando a gente tava fazendo o disco, talvez valha o registro, é que vem eu e Zeca dentro do carro e eu falei assim, “pô, Zeca, eu quero te dizer uma coisa; rapaz, eu gostaria que tu não cantasse no disco”. E ele falou: “bicho, eu estou pensando a mesma coisa” [risos].
ZB: Todo disco que eu produzo eu canto e eu desde o início falei: “Magah, acho que nada a ver, vamos buscar outras pessoas, tentar o Odair José, Fernando Mendes, alguém com quem você tenha uma afinidade”. Eu preferi tocar, toquei teclado, percussão, assobiei no disco, criei as linhas de baixo, mas cantar, não [risos]. Eu cantar era um caminho fácil, óbvio. MM: Nós dois estávamos pensando a mesma coisa.
ZR: Como é que foi a costura das participações especiais de Bárbara Eugênia e Odair José? ZB: O Magah mostrou as músicas e tal, eu mandei as quatro que tinham esse acento mais brega descarado, embora o brega do Magah seja muito sofisticado, mas tem esse flerte com essa música mais popular, então mandei quatro e falei: “ouve aí, Odair!”, e ele falou: “eu gostei dessa, essa aqui é a minha cara”. E o desgraçado do Odair é tão talentoso, bicho, é aquela coisa, a gente cola no clichê, na lenda que se forma em torno do cara, às vezes deixa de ver o real, o cerne da coisa. Ele mandou a música transformada. Para melhor! Ele deu uma melhorada, a música já era boa.
ZR: Quase vira parceiro. ZB: Quase vira parceiro. É. Eu até falei: “Odair, você não quer? Você fez o arranjo”. “Não, eu não quero, é só como eu li a música. Eu gostaria que vocês gravassem assim”. O Magah falou: “porra, ficou demais”. Ele releu a música, se identificou, pegou o violão e fez. Mostrei, falei: “vamos fazer exatamente o que o Odair fez, só que com banda: bateria, baixo, guitarra e órgão”. Ficou aquilo. Gênio, né? O cara que tem um entendimento da música, da canção, como poucas pessoas. E a Bárbara eu tava produzindo o disco dela, calhou de, no mesmo tempo. O disco do Magah durou uns três anos, porque a gente começou em janeiro do ano da pandemia. 2020, né? A gente gravou as primeiras bases de voz e violão no Estúdio Zabumba aqui, levei. E aí a pandemia veio e ferrou tudo, né? Fez a gente postergar tudo. Aí fui fazendo devagarinho, voltei, fizemos mais uma bateria de canções, foi mudando também o repertório. Magah dizia: “ah, eu fiz uma nova safra aqui que eu acho que tem mais a ver” e assim foi. E a Bárbara estava justo em processo, ele falou: “adoro ela, cara, adoro o timbre dela. Vamos achar uma música?”. Quando ele mandou a parceria com Celso, eu falei: “é essa aí, vai ficar linda na voz dela”; ele não queria nem cantar [risos]; “tá tão bonita que eu não vou nem cantar”, ele me disse; o disco é teu, tem que cantar; e ficou lindona, né? Parece uma música assim, um folk americano dos anos 50, 60, tem um traço especial.
ZR: Quando a gente ainda estava esperando Baleiro, eu estava vendo um pedaço do ensaio e vocês falaram numa coisa de não fazer concessões, de não pensar na coisa de transformar o trabalho do Magah para ser palatável. E aí teve uma mudança na banda e, “ah, agora tá soando como Magah”; e eu disse: pode botar Magah com a Filarmônica de Berlim que sempre vai ter uma coisa brega e punk ali, que é o traço dele. Isso facilitou a produção do disco, essa coisa de não ter que repensar muita coisa? ZB: Não. Dificultou [risos]. É o seguinte: tem dois tipos básicos de gente no mundo: o cara que mesmo certo tá errado e o cara que mesmo errado tá certo. Magah é do segundo time. Então, assim, musicalmente falando por exemplo, ele tem uma forma de respirar, uma compreensão do ritmo da música, muito particular. Tem outros artistas que são assim: Chico. Chico César, tocar com ele é super difícil, porque ele tem umas coisas que não são óbvias, de compasso, ele mete os compassos, e é intuitivo, coisa de origem, atávico, quebra a matemática, bota um compasso de 5 por 8 no meio de um 4 por 4, é um negócio assim, e Magah tem, a seu modo também, com essa viagem roqueira que ele tem, faz compasso muito louco. Teve uma música lá que eu falei assim: “essa aqui a gente não vai conseguir botar metrônomo, botar um clique para poder depois a banda gravar”. Então o que que eu fiz? É aquela “Eu Gosto de Ler a Bíblia”. Eu falei: “grava aí do teu jeito, respira do teu jeito, canta do jeito que tu acha, o povo lá que se foda, a banda lá”; aí a gente foi, passamos uma noite lá, o Kuka [Stolarski], baterista, ficou contando os compassos, “não, aqui tem um compasso de cinco, aqui tem um compasso de três”; eu falei: “escreve a partitura aí, bicho, trabalha”; aí ele fez todo o mapinha, mas ficou sensacional, porque ficou do jeito que ele faria mesmo. A gente não tentou fazer caber numa quadratura mais careta, mas conservadora, mais lógica. Não teve isso. O rock dele tá preservado. Agora, talvez até porque o cara tá ficando um senhor, as canções, tem uma canção ou outra com uma certa doçura, tem uma raiva, uma revolta aqui, mas tem uma doçura ali, faz parte também. Mas não tem esse negócio de concessão, isso é besteira. O rock precisa também, os amantes do rock, desse imaginário rock, precisam dessa coisa meio antissistêmica, assim, “você se vendeu”. Eu lembro, vou contar um episódio. Quando eu gravei o Charlie Brown Jr., que inclusive era rock, mas uma galera mais assim, ficou, teve um happening punk, assim, lá em Recife, o pessoal no carnaval se virou de costas na hora que eu toquei a música, eles queriam que eu tocasse “Vô Imbolá”, “Heavy Metal do Senhor”, essa faceta mais atrevida, mais rítmica, pós-mangueBit, aquela coisa. E quando eu toquei eles se viraram. E outro garoto em Londrina falou assim: “me decepcionei com você, bicho, você se vendeu para o mercado”. Aí eu falei: “cara, não, rapaz, você não tá entendendo o que é isso, isso é outra coisa”. Aí eu voltei lá três anos depois, ele tinha me perdoado com “Pet Shop Mundo Cão” (2002) [risos]. “Tá perdoado, tá perdoado”. Então tem essa coisa, faz parte, “o cara se vendeu”,a gente também tinha isso quando jovem, curtia uns caras, aí de repente, Rita Lee (1947-2023) era isso, era uma loucura com Mutantes, com o Tutti-Frutti, depois entrou Roberto de Carvalho, só com o tempo que você vai avaliar, aquela obra também é fantástica. Era mais pop, era mais radiofônica, era mais comercial. Mas ainda assim era brilhante, era sensacional. Então, essas avaliações fazem parte também desse imaginário do rock. É bom até, né? Tem uma cena maravilhosa no documentário do Jards Macalé. Perguntam ao [cantor e compositor Gilberto] Gil: “Gil, mas o quê que você acha, Macalé, esse artista que nunca fez concessão?”. “Nunca fez concessão, é? Eu não conheço ninguém que nunca tenha feito concessão”. Não tem como viver sem fazer concessão. Mas não é o caso aqui.
ZR: Magah em estado bruto, mas de algum modo também, lapidado. MM: Bruto, porém nem tanto. ZB: Os brutos também amam [risos]. Essa coisa da produção, eu não sou assim um produtor, no sentido tecnológico do termo, como Liminha é, como Brian Eno é e tal. Eu sou produtor no sentido de arregimentar, de orientar, de dar um caminho. E de respeitar o que o cara é, porque se for pra descaracterizar, então, ele que arranje outro. É para extrair o melhor dele, se eu puder fazer, ajudar nisso, eu tô dentro. Se for para estragar, arranje outro. MM: Tem uma coisa que perde o sentido, porque o que, no caso, atraiu um produtor como Zeca, foi aquilo que os caras acham que você deveria como produtor, descaracterizar. Se o que te atraiu foi aquilo, é aquilo que deve ser preservado, é o coração. ZB: Lapidação era um termo mais técnico, de fazer, de botar bons músicos tocando, bons técnicos mixando, masterizando, dando timbres, esse cuidado com timbres, mas eu acho um disco rock pra cacete. Você não acha, não?
ZR: Sim, acho. Baleiro precisa ir para o cortejo [parte do elenco de “Dom Quixote de Lugar Nenhum”, musical de Ruy Guerra com trilha sonora de Baleiro, faria um cortejo àquela tarde, na Praia Grande], Magah precisa continuar o ensaio. Vamos fechar falando do show de amanhã, o lançamento d“O Homem Que Virou Circo”, no Reviver Hostel. Banda, participações especiais, e reforçar o convite para a rapaziada que tá assistindo a gente [esta entrevista foi gravada em vídeo, mas problemas técnicos impediram o upload no youtube]. MM: Pois é, a gente vai estar lançando agora, sábado, 27, amanhã, né?, “O Homem Que Virou Circo”, cheio de participações especiais. Em primeiro lugar, eu quero citar aqui a minha banda, a Magahdelic Band, é uma banda assim, é quase a The Band, tu tá entendendo?, só que no Maranhão [risos], então acompanhado da minha banda, a gente vai ter a Vanessa Serra, DJ que eu gosto pra caramba, o amor que ela tem pelo vinil, as coisas que ela põe lá.
ZR: Fala os nomes da banda. MM: Sim, citar os integrantes da banda. O Eduardo Pinheiro na guitarra, assim que eu olhei ele tocando, cara, primeira vez eu imediatamente chamei ele, “chega aqui, cara, vamos tocar ali”, ele já conhecia meu trabalho e tal e ficou contente para caramba, então o Eduardo na guitarra; o Gus Mendes que é um baixista também que eu olhei assim, garotão da noite. É só garoto, né? De idoso só tem eu. Eu só pego garoto!
ZR: A galeria do amor. MM: [risos] Quando eu lancei o “Z”, a canção que abria o show era esta, né, “Galeria do Amor” [do repertório de Agnaldo Timóteo (1936-2021)], e ficou todo mundo assim, esse cara, e ficou muito bonito. Aquilo ali é rock, aquela linguagem maravilhosa, libertária, linda. O Gus Mendes no baixo, o Diogo nos teclados e efeitos e meu querido Taylor na bateria. Essa é a Magahdelic Band, uma banda que tem uma facilidade para fazer concessão, então é a banda perfeita pra mim. ZB: Concession Band. MM: É, Concession Band [risos], a gente vai mudar o nome. E é isso, cara, se eu estiver esquecendo alguma coisa o Baleiro vai completar aqui a parada de sucesso. ZB: Nada mais a declarar. Só dizer que fico muito feliz de ter feito essa parceria com Magah. Peço desculpas pela demora na entrega do trabalho, mas a gente vai falar todo mundo ainda, que tem uma lista de agradecimentos. O show tem a produção de Aziz Jr., Samme Sraya, Tiago Máci, que também é nosso parceiro. MM: A participação da Dicy, cantando comigo “As coisas mais lindas do mundo”. Também vai ficar lindo com ela, cara, também sou fãzão. ZB: E é isso. Acho que a missão está cumprida, era fazer um disco, um disco genuíno, assim, não que os discos dele anteriores [não fossem], eu adoro os discos dele, mas quando eu ouvi as canções, falei, “poxa, eu sei exatamente o que fazer com isso, eu acho que sei exatamente o que fazer com isso”, sem também descaracterizá-lo, sem levar para um outro caminho, sem tentar fazer o que não é, porque as coisas são que são. O que não é o que não pode ser o que não é o que não pode ser o que não é, né? Aquela coisa lá [citando a música dos Titãs], então, eu ouço com o maior prazer esse disco, o que é um bom sinal, porque depois que eu produzo alguma coisa, eu passo um tempo assim, tenho um tempo de afastamento. Mas é um disco que eu ouço com muito prazer, boto, recebo amigos, boto para ouvir e as pessoas curtem muito as letras, né? Porque canção é mais do que só música, é a ideia também, né? E o Magah, nesse sentido, é um cara brilhante, tem ideias incríveis, originais e por isso ele é o que é.
“Quero ficar no teu corpo feito tatuagem”. Os versos iniciais da clássica “Tatuagem” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), com que Zeca Baleiro abriu o show “Fado Tropical”, ontem (25), no Teatro Arthur Azevedo, bem traduzem a relação do maranhense com seu público, consolidada em 26 anos, se contarmos apenas a partir de sua estreia fonográfica, com “Por Onde Andará Stephen Fry?” (MZA Music, 1997).
Por falar em 26 anos, chegou hoje às plataformas de streaming “Você Goza Com Dinheiro” (Zeca Baleiro), segundo single de uma série com que o artista está celebrando a inusitada efeméride.
Como ele mesmo contou, para gargalhadas do ótimo público presente: “quando eu lancei meu primeiro disco, me ligaram e disseram que tinham conseguido botar uma música minha na nova novela do Manoel Carlos, “Por Amor”; eu sempre fui noveleiro, sabia tudo, elenco, ficha técnica, trilha sonora, ficava disputando com minha irmã Lúcia [Santos, poeta] para saber quem tinha mais conhecimentos novelísticos; eu voltei a assistir novela e fiquei esperando, mas os capítulos passavam e nada da música; lá pelo capítulo 45, eu já quase desistindo de acompanhar, achando que não ia rolar, o personagem de Antônio Fagundes deu um beijo de cinema na Cássia Kis e a música tocou por dois minutos e meio, um tempão para televisão, no horário nobre; eu fiquei emocionado, chorei, mas depois a música nunca mais tocou, pois o personagem de Antônio Fagundes trocou a Cássia Kis pela Regina Duarte; tinha o dedo podre, o Fagundes”. E atacou de “Bandeira” (Zeca Baleiro), com o público cantando junto.
Acompanhado por Rui Mário (piano e sanfona), Lui Coimbra (violoncelo) e Luiz Cláudio (percussão), Baleiro desfilou um repertório de clássicos. De sua autoria e de Ruy Guerra, parceiro de Chico Buarque na música que intitulou o espetáculo, e de quem o próprio Zeca tornou-se parceiro recentemente, ao compor a trilha sonora do musical “Dom Quixote de Lugar Nenhum”, de autoria do brasileiro nascido em Moçambique.
O show foi montado para promover a peça, que estreia em junho no Teatro Oi Casagrande, no Rio de Janeiro, e após temporada no Sudeste, circulará pela região Nordeste no segundo semestre – “incluindo São Luís”, como Baleiro fez questão de frisar. Ele mesmo salientou que aquele era um show único, já que não há perspectiva de se repetir para além da sessão extra, realizada ontem mesmo, fruto da grandiosidade e generosidade do artista. Explico: a sessão de 20h seria apenas para convidados e para o Instituto Cultural Vale, que patrocina a realização de “Dom Quixote de Lugar Nenhum”. Baleiro não via muito sentido em fazer um show fechado em sua própria terra e fez distribuir ingressos para o público em geral, mediante a troca por um quilo de alimento não perecível. Não deu para quem quis e após reclamações gerais e algum tumulto, a produção do artista e a direção do TAA conseguiram garantir uma sessão extra, às 22h.
Baleiro estava à vontade, literalmente em casa e entre amigos. Presença ilustre na plateia, o ator Mateus Nachtergaele, a quem o cantor se referiu como “um dos maiores atores brasileiros de todos os tempos”, e a convite dele, de seu lugar, anunciou “Processo de Conscerto do Desejo”, que apresentará domingo (28), às 19h, no TAA. Nachtergaele sintetizou o espetáculo: “minha mãe morreu quando eu tinha três meses de idade. E deixou uma pasta com poemas, muito bonitos. Ela tinha 22 anos quando se suicidou e hoje eu estou feliz em poder trazer isso a público”. Baleiro perguntou-lhe o porquê de São Luís e o ator não titubeou: “por que esse é um dos teatros mais bonitos do mundo”, elogiou.
Baleiro brincou com as intérpretes de Libras, reconhecendo a importância da acessibilidade cultural em espetáculos. Revelou se interessar mais pela língua brasileira de sinais que por inglês, mas que ainda não tinha tido tempo de estudar. Com uma delas, repassou a letra de “Quase Nada” (Alice Ruiz/ Zeca Baleiro) – que cantou com citação de “Sangue Latino” (Paulo Mendonça/ João Ricardo). “Tem poesia isso aí, o gestual dela”, arrematou.
Zeca Baleiro prestou ainda uma comovente homenagem ao parceiro Celso Borges (1959-2023). “Foi um dos maiores incentivadores da minha carreira e de muitos artistas daqui. Foi um cara que se envolveu com tudo, música, poesia, rádio… São Luís fica um pouco mais triste sem sua presença. Nós fizemos mais de 30 canções juntos e eu gravei algumas poucas. Vou cantar a mais conhecida”, disse, antes de cantar “A Serpente (Outra Lenda)”, esquecendo-se de citar o terceiro parceiro, o percussionista argentino Ramiro Musotto (1963-2009).
“Bárbara” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), “Babylon” (Zeca Baleiro), “Ana de Amsterdã” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), “Não Existe Pecado Ao Sul do Equador” (Chico Buarque/ Ruy Guerra), “Banguela” (Zeca Baleiro), em arranjo caliente, e “Fado Tropical”, incluindo a sífilis (“que todo general devia ter àquela época”, ironizou Baleiro) censurada pela ditadura militar, foram alguns outros clássicos presentes ao repertório.
Ao fim da apresentação, parte do elenco de “Dom Quixote de Lugar Nenhum” subiu ao palco para apresentar algumas canções da trilha sonora do espetáculo e anunciar o cortejo que acontecerá hoje (26), às 17h, nas imediações da Praça Nauro Machado (Praia Grande). Nesse momento, Zeca Baleiro e Lui Coimbra se juntaram à trupe tocando instrumentos de percussão.
Ainda com atores e atrizes em cena, à guisa de bis, Baleiro anunciou que ia fazer “Telegrama” (Zeca Baleiro), para delírio da plateia, que cantou junto. Após pouco mais de hora e meia o dito popular “tudo que é bom dura pouco” parecia demonstrar sua validade, mas o show precisava terminar para o acesso do público para a segunda sessão, também lotada.