
Eu devia ter uns 14 ou 15 anos. Estava em um bar, tomando refrigerantes e vendo uma apresentação do violonista rosariense Fran Gomes. À época eu já tinha um conhecimento razoável de música, adquirido fuçando as coleções de vinis de meus avós, pais e tios. Naquela tarde fiz do músico uma espécie de jukebox – algo que hoje condeno, obviamente – e desdenhava de algo que eventualmente ele não sabia cantar ou tocar.
Foram tantos “toca Zé Ramalho”, “toca Zé Geraldo”, “toca Geraldo Azevedo”, “toca Fagner”, “toca Gilberto Gil”, “toca Chico Buarque”, “toca Caetano Veloso”, “toca Belchior”, “toca Djavan” e toca tudo que eu conhecesse, sem falar do infaltável “toca Raul!”, que ele retrucou: “eu vou cantar uma que tu não conhece”. A letra me pegou na hora – é até hoje uma de minhas canções prediletas em toda a MPB – e ao fim ele perguntou quem era e eu não soube responder. Era “A notícia”, parceria de Celso Viáfora e Vicente Barreto: “O New York Times não deu uma linha/ a BBC de Londres nem uma palavra/ mas ontem no Xingu um índio se afogou/ e um guarda-marinha se atirou nas águas/ para salvar a sua vida/ Na mesma hora um favelado da Rocinha/ que tinha sete filhos, arrumou mais um/ era um menino loiro de olho azul/ que tinha sido abandonado nu/ numa avenida/ Gente má, gente linda/ dia vem, noite finda/ em todo lugar”. A música é tão marcante que digito sua letra consultando apenas a memória.
Quase 30 anos depois do episódio que me apresentou a obra de Vicente Barreto – porque depois do maravilhamento que foi ouvir Fran tocá-la e descobrir um artista que eu então não conhecia, ir atrás de outras composições, discos etc., foi um pulo. Aquele moleque de 14 ou 15 anos se tornou jornalista, perdeu a empáfia e teve a oportunidade de entrevistar o artista baiano, por ocasião de seu álbum mais recente, “Na força e na fé” – hoje finalmente conheci-o pessoalmente, por ocasião de entrevista que concedeu ao Timbira Cult, com Gisa Franco, na Rádio Timbira FM (95,5), quando contei-lhe a história com que abro este texto.
Parceiro de nomes como Alceu Valença (“Tropicana”, “Cabelo no pente”, “Pelas ruas que andei”), Tom Zé (“Hein?”, “Lá vem cuíca”, “Na parada de sucesso” e “Esteticar” – esta também com Carlos Rennó), Celso Viáfora (a citada “A notícia”, “A cara do Brasil”, gravada por Ney Matogrosso), Paulo César Pinheiro (“Capitão do mato”, gravada por Maria Bethânia), Chico César (“Ilusão retada”) e Zeca Baleiro (“Saudades de te ver, Paraíba”), Vicente Barreto se apresenta hoje (12) e amanhã (13), às 20h, no Miolo Café Bar (Av. Litorânea, 100, Calhau). O cantor e compositor maranhense Djalma Chaves faz o show de abertura.

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