Trio Zamoma encerra turnê “Acalanto” em Açailândia

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Apresentação acontece neste sábado (23), às 20h, na Praça da Bíblia

Moisés Ferreira (guitarra), Wilson Zara (voz e violão) e Mauro Izzy (contrabaixo): o Trio Zamoma. Foto: divulgação

No próximo sábado (23), o Trio Zamoma encerra a pequena turnê “Acalanto”. O grupo formado por Wilson Zara (voz e violão), Moisés Ferreira (guitarra) e Mauro Izzy (contrabaixo) chega ao oitavo município de sua rota: em Açailândia o show acontecerá na Praça da Bíblia (Av. Bernardo Sayão), às 20h, com participação dos artistas Eldima Barros, Fernando Terra e da banda Abrigo de Loa, formada por Jefferson Alive (voz), Anderson Mille (guitarra), Allan Soares (baixo) e Hudson Clayton (bateria).

“Acalanto” tem patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão e conta, nesta última apresentação, com parcerias locais da Secretaria Municipal de Cultura de Açailândia, Luthieria Soares, Rádio Sorriso FM e Studio Toka do Abrigo. O repertório é composto por clássicos da música popular brasileira e do pop rock nacional e internacional, de nomes como Belchior, Fagner, Raul Seixas, Zé Ramalho, Beatles, Bob Dylan, Angela Ro Ro e Roberto Carlos, entre outros.

“Chegamos ao fim desta temporada com a sensação do dever cumprido. A pandemia ainda não acabou e a gente, com a crise sanitária, teve ainda mais certeza da centralidade da cultura em nossas vidas; a música e outras formas de expressão artística têm nos ajudado a atravessar esse momento difícil. E mesmo que ainda não tenha acabado completamente, é muito bom poder reencontrar o público, com todos os cuidados que a situação exige, e também com artistas de cada cidade por onde passamos, nesse diálogo sempre interessante e estimulante, de muitas trocas e aprendizados”, comenta o cantor Wilson Zara.

Para Allan Soares, produtor local do evento, “o “Acalanto” é de grande importância cultural para o município de Açailândia. Temos acompanhado os municípios por onde o projeto tem passado e ficamos agradecidos por nossa cidade ter sido incluída na rota”, afirma.

“O projeto “Acalanto” circula por diversas cidades e Açailândia foi contemplada. A caravana apresenta um show musical para os amantes da boa música, com o grande artista Wilson Zara, cantor e músico de grande importância para a cultura do nosso estado. A Secretaria de Cultura agradece imensamente aos produtores do projeto por escolher nossa cidade como destino dessa turnê. Para nós é um privilégio receber tal espetáculo musical”, agradece o Secretário Municipal de Cultura de Açailândia Xico Cruz.

Gratuidade – Como todas as apresentações realizadas até aqui, a população também poderá desfrutar do show de forma gratuita em Açailândia – o encerramento da temporada acontece dia 23 de julho (sábado), às 20h, na Praça da Bíblia. Antes, o show “Acalanto”, do Trio Zamoma, foi apresentado nos municípios de Caxias (20 de maio), Lago da Pedra (3 de junho), Pedreiras (4 de junho), Governador Eugênio Barros (Vila Socorro, 1º. de julho), Barra do Corda (2 de julho), Grajaú (15 de julho) e Montes Altos (17 de julho).

Serviço

O quê: show de encerramento da turnê “Acalanto”
Quem: Trio Zamoma (Wilson Zara, Moisés Ferreira e Mauro Izzy). Participações: Eldima Barros, Fernando Terra e banda Abrigo de Loa
Quando: sábado (23), às 20h
Onde: Praça da Bíblia (Av. Bernardo Sayão, Açailândia/MA)
Quanto: grátis
Patrocínio: Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão
Parcerias: Secretaria Municipal de Cultura de Açailândia, Luthieria Soares, Rádio Sorriso FM e Studio Toka do Abrigo
Informações: no instagram @wilsonzarazara ou facebook @trilhasetons

“Violivoz”: Chico César e Geraldo Azevedo para êxtase da plateia

Fotos: Hebert Alves. Divulgação

Foi uma noite de fartura.

O cearense Lucas Ló, radicado há cinco anos em São Luís, desfiou um repertório inteiramente nordestino, com especial destaque para o ídolo conterrâneo Belchior, com bastante personalidade.

Acompanhado por Jessé Fonseca, num teclado cheio de balanço e personalidade, passeou ainda por nomes como Fagner, Djavan, Carlinhos Veloz, César Nascimento, Sérgio Habibe e Josias Sobrinho.

Aos pedidos insistentes de “Barco de papel”, joia de sua autoria, respondeu com um educado “já rolou”; o pedido partia dos que adentraram a sala atrasados. Um dos nomes mais sofisticados da noite ludovicense, Ló se apresentou por cerca de hora e meia preparando o terreno para a noite inesquecível que viria, ao mesmo tempo sendo parte dela.

Não faltaram clássicos como “Apenas um rapaz latino-americano”, “Pequeno mapa do tempo”, “Alucinação”, “Fotografia 3×4”, “A palo seco” e “Mucuripe”, da lavra de Belchior, esta última em parceria com Fagner, “Noturno” (Graco/ Caio Silvio), “Serrado” (Djavan), “Ilha bela” (Carlinhos Veloz), “Ilha magnética” (César Nascimento), “Eulália” (Sérgio Habibe) e “Engenho de flores” (Josias Sobrinho).

“Se alguém me dissesse, há cinco anos, quando saí do meu Ceará, que hoje eu estaria aqui, abrindo o show dessas duas figuras centrais na minha formação, nesse teatro lotado, eu não acreditaria. É um momento muito importante para mim”, revelou Ló, agradecendo a presença do público, em cujo repertório se destaca ainda a também autoral “Ode a São Luís”, inédita, em que ele, de certo modo canta sua rota e a receptividade com que foi acolhido na ilha do amor. Uma avant-première aos atentos que chegaram cedo.

Quando Chico César e Geraldo Azevedo subiram ao palco, a cama estava pronta.

“Violivoz” é um show vigoroso e sincero. Sobem ao palco sem firulas, dizendo logo a que vieram: atacam a introdução de “Táxi lunar” (Alceu Valença/ Geraldo Azevedo/ Zé Ramalho), mas antes de cantarem, emendam a “Cantiga (Caicó)”, das Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos, sucesso de Teca Calazans, com alterações na letra, a homenagear suas terras natais e reafirmar a admiração mútua: “oh, mana, deixa eu ir/ oh, mana, eu vou a pé/ oh, mana, deixa eu ir/ para o sertão de Catolé”, começa Chico, referindo-se a Catolé do Rocha, na Paraíba, seguido por Geraldo: “oh, mana, deixa eu ir/ andar é minha sina/ oh, mana, deixa eu ir/ para o sertão de Petrolina”, e depois: “oh, mana, deixa eu ir/ oh, mana, eu vou cedo/ oh, mana, deixa eu/ cantar com Geraldo Azevedo” e “oh, mana, deixa eu ir/ andar com quem me preza/ oh, mana, deixa eu/ cantar com Chico César”. A determinada altura de “Táxi lunar”, Geraldo Azevedo solta um “vai, Zé!” e Chico César imita a voz de Zé Ramalho. E era apenas o primeiro número.

O vigor a que me referi diz respeito ao fato de a dupla cantar e tocar – e por vezes dançar – por duas horas e 15 minutos de espetáculo, de pé. A sinceridade é percebida na admiração mútua várias vezes declarada. Um é fã do outro, os dois se tornaram amigos e parceiros. Geraldo Azevedo, ao lembrar de como se conheceram, convidado a gravar uma música de Chico César em um disco produzido por Totonho, que homenageava as vítimas da chacina da Candelária, no Rio de Janeiro, nunca lançado, já percebeu ali suas qualidades. Depois, quando Chico lançou “Aos vivos” (1995), seu disco de estreia, revelou ter comprado 50 exemplares e distribuído a amigos, produtores, em suas turnês pelo Brasil e Europa. “O Belchior, que é da minha geração, dizia que “nossos ídolos ainda são os mesmos” e Chico César era um ídolo novo e eu queria apresentá-lo pra todo mundo”, disse Geraldo. Chico completou: “Belchior também dizia que “o novo sempre vem”” e revelou a influência exercida sobre o então adolescente pelo disco “Cantoria 1” (1984), que registrou o encontro de Geraldo com Elomar, Vital Farias e Xangai.

“Para mim é uma alegria muito grande dividir o palco com Geraldo Azevedo, é uma baita honra vê-lo cantando uma música minha”, declarou Chico, depois de cantarem juntos “Estado de poesia” (Chico César).

É um show de entrega. Não há momentos solo de um e outro artista. Eles cantam juntos o tempo inteiro o repertório um do outro e de artistas admirados, casos de Geraldo Vandré (“Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando)” é emendada a “Mama África”, de Chico), Milton Nascimento e Caetano Veloso (“Paula e Bebeto”, gravada por Geraldo em 1979) e Paul Anka (a versão de Fred Jorge para “Diana”). Ninguém se cansa: nem os artistas no palco, nem a plateia. Todo mundo em comunhão. Ou quase.

Quando Chico César anunciou que cantaria “outra canção de amor, de nosso amor pela Terra, pelos pequenos agricultores, uma parceria minha com Carlos Rennó”, e atacou de “Reis do agronegócio”, um coro de “Fora Bolsonaro!” se ouviu no Centro de Convenções. Uma tentativa de vaia, raquítica, foi encoberta, e prevaleceu a vontade da maioria. Outros gritos de “Fora Bolsonaro!” vieram e Chico César, numa sequência demolidora, mandou, sempre acompanhado por Geraldo Azevedo, “Pedrada” (Chico César), cujo refrão diz: “fogo nos fascistas, fogo Jah!”. “Essa música, a primeira vez que eu cantei, foi em cima dum trio elétrico, num carnaval, aqui em São Luís, para 100 mil pessoas, e eu fiquei muito contente com a receptividade”, lembrou.

Em “Bicho de sete cabeças” (Geraldo Azevedo/ Renato Rocha/ Zé Ramalho), passaram perto de 10 minutos solando seus violões, até cada um cantar uma parte da letra, sem as sobreposições que a tornaram um clássico. Comentaram a pandemia, o isolamento social, a gênese do show, após Chico ter assistido a um show de Geraldo em São Paulo e terem ido para a casa do primeiro, depois do espetáculo, tocar violão na cozinha. Tocaram duas parcerias, uma inédita e o single “Nem na rodoviária”, já disponível nas plataformas de streaming.

São duas gerações de artistas, convivendo harmoniosa e respeitosamente, Geraldo aos 77 anos, Chico aos 58. Têm a mesma grandeza e importância. Nenhum se sobressai ao outro e o equilíbrio é também uma característica de destaque do show. São dois artistas que, cada um a seu tempo, souberam cativar o público de São Luís – suas apresentações por aqui são sempre marcadas por casas cheias e intensa interação das plateias. Ontem não foi diferente.

Perto do fim do show, Geraldo apenas ameaçou cantar “Terra à vista” (Carlos Fernando). Puxou o “San, san, san, São Luís do Mará” do refrão, que a plateia imediatamente repetiu em coro, mas deixou apenas a vontade no público. Alguém na plateia, insistentemente pedia “Pétala”, não o sucesso de Djavan, mas abreviando o título de “Pétala por pétala” (Chico César/ Vanessa Bumagny). “A gente vê muito homem ansioso, mulher é menos. A mulher goza melhor por que ela goza depois, goza mais e melhor; o homem é sempre aquela pressa, de querer gozar logo”, contou para gargalhadas da plateia e o não-atendimento ao pedido renitente.

Chico César citou vários amigos, maranhense ilustres, afirmando ser uma honra estar mais uma vez em sua terra: Papete, Rita Benneditto, Josias Sobrinho, Chico Saldanha, Flávia Bittencourt, Alcione. E Celso Borges, a quem fez especial deferência: “foi quem me apresentou a Zeca Baleiro. A gente já morava em São Paulo e ele um dia me disse: olha, tem um amigo meu, do Maranhão, vindo morar aqui, é meio doidinho assim que nem tu, não é bem compreendido em nossa terra; isso naquela época, e eu entendi de cara o que ele queria dizer”, contou, para risadas da plateia. Em seguida ofereceu-lhe “Você se lembra” (Geraldo Azevedo/ Pippo Spera/ Fausto Nilo).

Também cantaram juntos “Pedra de responsa” (Chico César/ Zeca Baleiro) e na sequência Geraldo puxou, a capella, o refrão de “Cadê meu carnaval” (Geraldo Azevedo), que ele cantou, modificando a letra: “Olê lê lê/ cadê meu carnaval?/ olê lê lê/ cadê meu carnaval?/ carnaval está chegando/ cadê meu carnaval?” – a letra original diz “carnaval está morrendo”. O público ficou cantando enquanto eles se retiraram do palco.

Aos gritos de mais um, retornaram, para delírio dos presentes, mandando o clássico “Dona da minha cabeça” (Geraldo Azevedo/Fausto Nilo), em arranjo de reggae. Já não havia mais ninguém sentado, praticamente todo mundo cantava junto e alguns casais arriscavam uns passos.

Um final apoteótico de um show antológico, de uma turnê adiada e interrompida pela pandemia de covid-19, indefinidamente prorrogada pela irresponsabilidade de uns poucos que insistem em querer um Brasil feio e triste, justamente o contrário do colorido das roupas dos artistas e da diversidade que sua música representa, afinal de contas o Brasil alegre e festeiro, que haverá de prevalecer. Espero que este dueto, esta cantoria, este grande encontro, vire disco. Oxalá!

Cecília Leite: equilíbrio e consistência

Enquanto a chuva passa. Capa. Reprodução
Enquanto a chuva passa. Capa. Reprodução

 

Cecília Leite demorou cerca de 10 anos entre um disco e outro. Em Enquanto a chuva passa, repete a opção de misturar compositores locais a nomes nacionais, dando sua contribuição para o fim das barreiras geográficas impostas pelo mercado fonográfico – o disco foi gravado no Rio de Janeiro.

A faixa-título é sua estreia como compositora e narra a vida de um casal que enquanto se separa e um tenta esquecer do outro, mais se lembram de momentos vividos a dois. “Enquanto me esqueço de ti/ lembro do amor/ tingindo as tardes do Rio/ com as cores da nossa leveza/ sorrisos, certezas/ dos meus nos teus passos/ lembro dos beijos de braços/ abraços de pernas/ nas horas eternas”, canta, no refrão.

A chuva que ajuda a batizar o disco volta a aparecer noutras faixas. Em Maré cheia, inspirado samba de Bruno Batista, o compositor veste uma persona feminina ao compor pensando na intérprete. “Por isso se eu mostrar minha alma/ levantem os olhos com calma/ e batam palmas para mim”. A dobradinha merece os aplausos, emoldurada – como de resto a voz de Cecília ao longo do disco – por Luís Filipe de Lima (violão sete cordas), Marcos Nimrichter (piano), Ney Conceição (contrabaixo), Edu Neves (sax) e Marcos Suzano (percussão).

Também chove em Tempo afora (Fred Martins), sucesso de Ney Matogrosso: “Onde mora a ternura/ onde a chuva me alaga/ onde a água mole perfura/ dura pedra da mágoa/ eu tenho o tempo do mundo, tenho o mundo afora”, começa a letra. Cecília Leite recria ainda outra música já gravada por Ney Matogrosso: Noite Severina, parceria de Pedro Luís e Lula Queiroga. A água ganha destaque no projeto gráfico de Claudio Lima, cantor e designer talentoso em ambos os ofícios, outra dobradinha do primeiro disco que se repete.

Ela recria ainda Por um fio (Marcelo Segreto), de O hábito da força (2011), primeiro disco da Filarmônica de Pasárgada, De todas as maneiras (Chico Buarque), hit de Maria Bethânia (de Álibi, de 1978), Seule, de Pixinguinha, com letra em francês de Vinicius de Moraes, trilha do filme Sol sobre a lama (de Alex Viany, de 1963) e, num medley emenda dois grandes nomes da poesia brasileira, maranhenses, um de adoção, outro de nascimento: Palavra acesa, de José Chagas, e Traduzir-se, de Ferreira Gullar. A primeira, musicada por Fernando Filizola, sucesso do Quinteto Violado; a segunda, por Fagner.

Falecido ano passado, é de Chagas, a propósito, a honrosa apresentação da cantora no encarte: “O canto em Cecília é tão visceral quanto nos pássaros, que cantam porque nisso está uma das razões da vida”.

Completam o disco Tem dó (Paulo Monarco e Zeca Baleiro), que o abre, falando na dor da despedida de maneira original; Arrastada (Patrícia Polayne), um martelo sobre o sofrimento e a emancipação feminina; Ainda mais (Eduardo Gudin e Paulinho da Viola), um samba sobre a esperança de reconciliação, com a típica elegância do portelense; Enquanto a chuva passa termina com Lembranças, outra vez Bruno Batista vestindo a persona feminina, competente qual um Chico Buarque, para citarmos dois dos compositores preferidos de Cecília, a propósito, os únicos que comparecem em ambos os discos – este, na estreia, fez uma versão em francês para Eu te amo (Dis-mois comment) e cantou com ela. “As lembranças que inventei…/e já gasta de mim, quis poder confessar/ o que me faz amarga e nua/ não sou minha… sem ser tua!”, termina a letra de Bruno.

Cecília equilibra-se com desenvoltura entre músicas (mais ou menos) consagradas e material inédito, num grandioso exercício de seleção de repertório – prévio, portanto, à gravação. Ela canta o que gosta, sem se prender a rótulos e gêneros. O resultado é o consistente trabalho que apresenta agora aos fãs e aos que certamente virão a tornar-se.

*

Cecília Leite apresenta hoje (10), às 19h30, no São Luís Shopping (segundo piso) um pocket show de pré-lançamento de Enquanto a chuva passa, com entrada franca. A noite contará ainda com exposição de fotos, exibição de videoclipe e lançamento de remix da faixa Arrastada, com os djs Alex Palhano e Macau. Confiram o teaser.

Para ouvidos, mentes e corações abertos

[Sobre Hein?, show de Bruno Batista e Claudio Lima, Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy), 27/11]

Foto: Aparecida Batista
Foto: Djalma Raposo

 

Hein? não é para surdos. É para ouvidos atentos, ávidos. Não é para quem está acostumado a mesmice. Ou é, se se quiser sair desta zona de conforto.

É um show em que Bruno Batista e Claudio Lima divertem-se no palco e nós nos embevecemos na plateia. Em determinada altura, ao agradecer carinhosamente a presença de todo mundo, o segundo comenta a importância do público: “sem vocês nós não estaríamos aqui cantando, fazendo música. Estaríamos em casa, estudando”.

Parece simples a ideia de reunir um amontoado de canções, subir no palco e cantar. Pode até parecer, mas está longe disso. Há uma preocupação em reinventar, em recriar, em recompor.

Claudio Lima está cantando cada vez melhor, no palco sua entrega é total, seus elegantes suspensórios não contêm o talento que lhe cabe. Bruno Batista, a despeito de ainda bastante jovem, já é um senhor compositor, sua boina deve ser a primeira a saber das ideias musicais originais que estão sempre a fervilhar sua cabeça.

A poesia forte de Gonzaguinha é recitada ao final de Comportamento geral, que abre o show. Uma música forte, que parece dizer que, apesar de estarem se/nos divertindo e deliciando, a dupla não está para brincadeira.

Noturno (Graco/ Caio Silvio), sucesso de Fagner, ganha clima jazzy na interpretação límpida de Claudio Lima. Sozinho, acompanhando-se com um maracá, canta Kaô (Gilberto Gil/ Rodolfo Stroeter), o risco e a experimentação marcas deste inspirado artista.

Zanza (Carlinhos Brown) ganha grand finale de boi de zabumba, no arranjo inspirado acompanhado pela banda, enxuta e competente: Rui Mário (teclado e sanfona), Luiz Jr. (violões de seis e sete cordas e viola) e João Simas (guitarras).

Antes de cantarem Guaraná Jesus (versão de Carlos Careqa para Chocolate Jesus, de Tom Waits) Bruno Batista contou a história de como chegou à música, de como chapou com À espera de Tom, o disco em que Carlos Careqa canta apenas versões de Tom Waits, ele “fãzaço” declarado de ambos.

Claudio Lima brinca com a voz e torna sublime o fecho de Menina amanhã de manhã (Tom Zé), cantada por ambos e acompanhada por Bruno Batista ao violão – o que ele faz em boa parte do show.

Vê se me esquece (Itamar Assumpção/ Alice Ruiz) é uma música que Bruno Batista escolheu para chamar de sua. Ciranda para Janaína (Kiko Dinucci/ Jonathan Silva) demonstra sua inserção na cena paulistana, onde reside.

“A culpa é dele”, Claudio Lima acusa Bruno Batista ao interpretar Teu corpo (parceria de Bruno com Paulo Monarco e Dandara Modesto), uma das inéditas da ótima safra recente do compositor. Também foram reveladas Madrigal (também parceria de Bruno com Monarco e Dandara) Senhora da alegria – cantada como se rezassem, linda oração que a música é –, O queixo, um tango engraçado, e Caixa preta. Coisas lindas que eu espero que eles gravem logo nos discos prometidos em entrevista, pois não é justo ficarmos reféns de apresentações que não acontecem com tanta regularidade – infelizmente.

O show foi fechado com Hein? (Tom Zé/ Vicente Barreto), que batiza o show. Bruno Batista e Claudio Lima apresentaram a banda e agradeceram novamente aos patrocinadores e apoiadores e a presença do público. Voltaram para o bis: Rosa dos ventos, com que venceram um festival há dois anos, em São Luís, se juntou a Tarantino, meu amor, únicas autorais já gravadas pelo compositor.

Esqueceram-se de comentar o belo cenário, assinado por Claudio Lima: formado por espelhos, um ponto de interrogação em forma de orelha – ou vice-versa –, espécie de logomarca de Hein?, usada também na divulgação do espetáculo desde sua primeira edição, em 2008.

Que venham temporada e turnê, como também prometido em entrevista. Mais gente precisa ouvir e conhecer Bruno Batista e Claudio Lima, dentro e fora do Maranhão.

p.s. (como na música de Itamar e Alice): houve certo exagero no uso de gelo seco, às vezes mais de um jato por música. A máquina faz muito barulho.

Seis anos depois, Bruno Batista e Claudio Lima reapresentam Hein?

Blogue conversou com os artistas sobre o show, parceria, amizade, projetos e discos futuros

Foto: Vivian Pereira
Foto: Vivian Pereira

 

Quando me abriram a porta do Estúdio Sonora, do músico Luiz Jr., ele (violão sete cordas), João Simas (guitarra) e Rui Mário (teclado) acompanhavam Bruno Batista (voz e violão) e Claudio Lima (voz) em Zanza (Carlinhos Brown).

Passaram a música várias vezes, com Rui Mário chegando a trocar o teclado pela sanfona, para ver o que soava melhor no arranjo. Estavam arredondando-a para o espetáculo Hein?, sucesso de público e crítica que depois de seis anos volta a ser apresentado hoje (27), às 20h30, no Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy, Rua do Egito, Centro; ingressos: R$ 30,00, à venda na bilheteria do Teatro).

Bruno Batista e Claudio Lima são dois dos mais interessantes artistas da música produzida no Brasil atualmente. O primeiro tem três discos gravados: o homônimo Bruno Batista (2004), Eu não sei sofrer em inglês (2010) e (2014). Claudio Lima estreou antes, com um disco que levava seu nome (2001), e depois lançou Cada mesa é um palco (2006), dividido com o pianista Rubens Salles.

Responsável pelos belos projetos gráficos de seus dois discos, Claudio Lima assinou também o do segundo de Bruno Batista. Atualmente está gravando seu terceiro disco, ainda sem título.

Quando apresentaram a primeira edição de Hein?, em 2008, no Teatro Alcione Nazaré (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho), ninguém – nem eles mesmos – entendeu o porquê de o show não ter ganhado uma temporada ou turnê – promessa que já fazem para a edição de agora.

Depois de Zanza, o grupo deu um break para café e cigarros. Este blogue aproveitou para conversar com Bruno Batista e Claudio Lima, que além de Hein?, falaram de amizade, parceria, projetos e discos futuros. Depois da conversa o blogue ainda ouviu Menina amanhã de manhã, outra de outro baiano, Tom Zé, que comparece ao repertório do show, batizado por uma parceria dele com Vicente Barreto.

Claudio sempre me parece mais tímido fora do palco. No palco ele cresce…
Bruno Batista – [risos] Agora… por que no palco, antes, era a mesma coisa.
Claudio Lima – A mão no bolso [risos].

Eu li que Guaraná Jesus [Chocolate Jesus, de Tom Waits, versão de Carlos Careqa] está no repertório do show.
Bruno –Eu sou fãzaço do Tom Waits. Quando Careqa fez aquele disco de versões [À espera de Tom, 2008], eu falei “pô, que massa!”. E quando chegou em Guaraná Jesus eu fiquei puto: “quem era pra ter feito isso era eu!” [risos]. Tinha que ter tido essa ideia, sensacional a sacada dele. Aí a gente resolveu colocar no show, eu trouxe pra Claudio, ele se amarrou também, tá legal pra caramba.

Seis anos depois vocês voltam com Hein? O show na época foi sucesso de público e crítica e havia uma cobrança. Por que a demora? E o que significa essa volta?
Claudio – Foi até uma surpresa na época.
Bruno – Ambos tínhamos lançado apenas um disco [nota do blogue: Claudio Lima já havia lançado Cada mesa é um palco, de 2006]. Claudio Lima tinha o Claudio Lima, que foi um disco arrebatador, todo mundo falava. Eu lancei o meu [Bruno Batista, de 2004] dois ou três anos depois, e quando eu lancei o meu a gente se conheceu. Eu já o conhecia através do trabalho do disco dele, ele conheceu o meu, a gente se aproximou através de amigos em comum, e já rolou aquela energia boa, a gente se gostou de cara.
Claudio – Acho que a primeira vez que a gente sentou, na casa de Alex [Palhano, jornalista], tu me mostrou “hoje eu quero solidão” [cantarola o verso inicial de Despedida, de Bruno Batista], eu falei: “eu quero!”.
Bruno – Exatamente! Na verdade, foi na audição do disco. Eu tava com o disco pronto, fui fazer uma audição e tu tava lá. Nesse mesmo dia tu gostou de Despedida e de Eu não ouvi todos os discos, quis gravar e tal. Afinou, pessoalmente, musicalmente, fizemos o primeiro Hein? O show foi um sucesso. A gente cometeu um erro, na época, de não ter feito uma temporada do show.

Por que não ter repetido antes?
Claudio – Eu provoquei bruno no face [a rede social facebook]: “vamos ressuscitar o Hein??” Foi só um comentariozinho.
Bruno – Exatamente!
Claudio – Eu tou vendo que a cena aqui tá bem legal.

Quando foi essa provocação?
Claudio – Foi esse ano, começo desse ano.
Bruno – A provocação para refazer o Hein? foi esse ano, mas a gente já tinha um projeto de fazer um disco juntos. E como a gente ainda não conseguiu fazer isso, bom, tá demorando demais, talvez por causa do disco que venha a ideia de refazer o Hein?

Mas vão conseguir fazer o disco juntos, não é?
Bruno – [enfático:] Vamos! É um projeto pessoal nosso, meu e dele. Agora não vai dar, ele vai lançar o disco dele proximamente. Não vai demorar, né?
Claudio – [irônico] Não, não vai demorar. Depende só de… grana [risos].

Como está essa feitura de teu disco novo, o terceiro disco?
Claudio – A pré-produção tá pronta, com as bases de Eduardo Patrício [músico maranhense radicado em Curitiba, assinou as bases eletrônicas de Cada mesa é um palco]. Eu fiz um show, Rosa dos ventos [título de uma música de Bruno Batista, vencedora do Festival Viva 400 anos, que celebrou o aniversário de fundação da capital maranhense], eu estava excitado com as bases do Eduardo e chamei Luiz Jr., briguei com Luiz Jr. para ele tocar em cima das bases [risos].

Há um momento muito bonito de Rosa dos ventos [o show aconteceu dia 21 de fevereiro de 2014, no Teatro da Cidade de São Luís], que está no youtube, que é Salomé, de Fabreu [o poeta Fernando Abreu] e Magah [o cantor e compositor Marcos Magah]. Ela está no teu disco novo?
Claudio – Não sei. Não sei, mas eu acho que sim.
Bruno – É linda aquela música!
Claudio – Por que o que acontece: eu tou com essas bases, aí vou chamar músicos, começar a gravar, alguma coisa pode acontecer. Essa é uma. Tem outra do Magah que eu também tou com vontade, dele e de Acsa [Serafim, cantora e compositora], nunca foi tocada.

E o que tem no repertório desse novo Hein??
Bruno – O repertório é todo diferente. A gente pensou em fazer umas canções de que a gente gostava, começou com isso. A gente não sabia muito bem o que fazer e começamos apanhando algumas canções de que a gente gostava pessoalmente. No meio do processo eu senti Claudio cutucando ali, mas não falava direito o que era. Aí ele falou: “Bruno, eu tou sentindo falta de inéditas”. Aí eu achei que isso seria o grande lance. Eu tinha acabado de lançar um disco [Lá, 2014], no começo desse ano, e quando você lança um disco você acaba com seu estoque, as que eu tinha eu gravei [risos]. Como o disco saiu em março, eu já vinha compondo algumas coisas, comecei a apresentar uma série de canções pra ele.
Claudio – Começou a vasculhar as gavetas, os sentimentos.
Bruno – Tanto que tem música que ainda não estava pronta, que está sendo terminada agora, terminando a letra agora, eram só embriões. Mas o repertório do show, basicamente é esse: canções que a gente gosta de cantar, que a gente tem afinidade.
Claudio – Mas a gente manteve um formato, intuitivamente, um formato que foi o primeiro Hein?. Tipo colocar uma música muito conhecida, colocar inéditas. Por que quando eu cantei Rosa dos ventos no primeiro Hein? – eu cantei Rosa dos ventos –, era inédita. Foi a primeira vez que a música foi cantada. Teve mais inéditas?
BrunoHilda Regina [faixa de Eu não sei sofrer em inglês, de 2010] era inédita, eu fui gravar depois. Mas eu acho que esse show tem mais inéditas que o anterior, tem quatro ou cinco. Por que se depender da gente, a gente bota só as coisas que são meio lado b, então a gente tenta dosar um pouquinho.

Então Hein? mescla um pouco de um tributo a artistas que acabaram colaborando por moldar vocês enquanto artistas, quer dizer, referências – Tom Zé, Tom Waits – a um repertório inédito teu. Tudo que é inédito é teu ou há inéditas de outros artistas?
Bruno – Não. Até poderia ter tido. Calhou de ser. A gente não pensou isso: “vamos botar inéditas minhas”. Acabou acontecendo. Comecei a mostrar algumas coisas e elas preencheram o show e a gente não foi atrás [de repertório inédito de outros compositores]. Basicamente é isso: inéditas minhas e um tributo a artistas que nos formaram musicalmente.

Estou sentindo uma timidez de vocês em não entregar o ouro [risos]: Tom Zé eu sei que tem por conta da faixa-título, Tom Waits por que eu li na matéria [#hein? A volta, de Patrícia Cunha, nO Imparcial de 23 de novembro de 2014], Carlinhos Brown por que ouvi vocês cantando. O quê mais?
Bruno – Fagner. Roque Ferreira, que é um cara que cada vez que passa, desde que eu descobri a obra dele, me apaixonei, a gente vai botar uma música dele. Carlinhos Brown, Tom Waits, Carlos Careqa, Tom Zé. É o seguinte: se fôssemos pegar os formadores mesmo, teria que botar Elomar, Chico Buarque. O repertório é de coisas que a gente está ouvindo e gosta de cantar e de alguma forma influenciam no que a gente faz.
Claudio – Tem [Gilberto] Gil também.
Bruno – Sim, Gil, um dos grandes mestres nossos.

E vocês, fora de Hein?, têm se encontrado de vez em quando, às vezes não no palco. Teve Rosa dos ventos, com que vocês ganharam o festival, um compondo, outro cantando. Estão sempre em contato.
Claudio – Que pagou a pré-produção de meu disco.
Bruno – Sempre. Sempre que eu venho à São Luís a gente se encontra. Nós, além de parceiros musicais, somos amigos. As primeiras audições de meu disco, eu sempre mando pra Claudio, música nova. Tem uma música que vai entrar no Hein?, chamada Senhora da alegria, que, assim que eu fiz, mandei pra Claudio. A gente se conhece, sabe que o outro vai gostar de ouvir. A gente está sempre em contato, é amigo.

E teu disco novo? Por que você mostrou muita coisa inédita lá na Ponta do Bonfim [Bruno Batista cantou na edição do evento que trouxe Danilo Caymmi à São Luís].
Bruno – Mostrei. Mas esse disco não vai ser para agora. Eu lancei o em março de 2014. Esse ano foi atípico para a produção no Brasil. Todo mundo lamentou não ter circulado, Copa do Mundo no Brasil, eleições, o dinheiro ficou apertado para todo mundo, não tinha verba de incentivo. Eu ainda não consegui fazer esse disco andar da maneira que eu gostaria. O ano que vem vai ser dedicado a tentar andar com , colocar ele na roda, então meu próximo disco vai ficar provavelmente para 2016. Mas a criação, a composição ela não para. Ainda bem.

Claudio, você está trabalhando no terceiro disco e já comentaram o projeto de gravar um disco em conjunto. Algum sonho de fazer um disco teu cantando só músicas de Bruno?
Claudio – [gargalhadas]. Eu faria um disco só com músicas de Bruno.
Bruno – É. Tem dois discos para fazer: o nosso e esse, que eu farei com o maior prazer do mundo.

E você está envolvido com o de Naeno [compositor piauiense, tio de Bruno], não é?
Bruno – O disco de Naeno é um disco que me deu um superprazer. Além de ser meu tio é um compositor que eu acho maravilhoso. Inclusive, agora que tu falou, me deu uma pena de não ter colocado uma música de tio Naeno nesse show, cara.

Ainda dá tempo!
Bruno – [gargalhadas] O disco de Naeno eu fiz a produção artística, chamei Swami Jr. [violonista] e Guilherme Kastrup [percussionista] para a produção musical, tem participações especiais de Monica Salmaso, Chico César, Zeca Baleiro. Eu peguei o repertório dele todo, selecionamos 13 faixas, algumas já gravadas, outras completamente inéditas. Eu queria fazer um panorama da obra dele. Era a primeira vez que ele ia fazer um disco fora, com esse tipo de músico, esse tipo de produção, achei que merecia isso. Tá lindo, tá muito bonito, está sendo prensado agora, até o Natal deve estar pronto, e a gente deve lançar ano que vem. Esse disco tem uma curiosidade: o Dominguinhos ia participar dele. Eu liguei para Dominguinhos, ele estava saindo de Recife para Fortaleza, e falou “olha, chegando em Fortaleza daqui a uma semana”, ele só andava de carro, “e lá eu vou gravar a participação no disco de Naeno. Nesse meio tempo ele adoeceu terminalmente e a gente não teve a oportunidade de ter Dominguinhos no disco, que é uma grande referência pra meu tio. Nossa, seria pra gente uma honra imensa. Mas apesar disso o disco está maravilhoso.

Apesar de uma banda enxuta estão escudados pelo que há de melhor, em termos de instrumentistas, em São Luís, no Maranhão. Como é que foi a escolha dessa banda, o entrosamento de vocês?
Claudio – A gente já trabalha com Luiz Jr., eu, Bruno separadamente. Você já fez um show com essa formação, né?
Bruno – Só Jr. e Rui Mário.
Claudio – E deu vontade de chamar alguém da nova geração pra dar uma provocada. A gente chamou o Simas.
Bruno – Pra misturar as linguagens.
Claudio – E tirá-los de uma zona de conforto. Eu adoro estranhamento, adoro botar músico pra brigar [gargalhadas]. Meu primeiro disco foi um dj [Eduardo Corelli], não é músico, tem uma cultura musical maravilhosa. Na época ele se travestia, tu imagina o cara vir de São Paulo e chegar lá no estúdio de Henrique Duailibe [gargalhadas]. No primeiro momento já teve aquele [gesticula e imita sons de objetos se quebrando]. E ele não sabia da linguagem musical, andamento, tom. E me perguntavam: “como é que tu quer, Claudio?” “Eu não sei, resolvam!”. Foi assim que surgiu o primeiro disco.
Bruno – É isso! A gente queria misturar linguagens. Tem o Jr. e o Rui, que a gente toca há muito tempo, eu sou fãzaço dos dois, e a gente queria fazer um show acústico. Eu sou compositor, por excelência. Claudio é intérprete, adora canção, adora letra, aquele universo da canção. A gente pensou numa formação mais acústica, menor, onde a canção fosse a vedete e as letras fossem bem ditas, bem compreendidas, e nisso, querendo misturar linguagens, a gente optou por essa formação, que tá dando o maior pé, da maneira como a gente pensava ser. Vai ficar foda!

Há perspectiva de temporada, turnê?
Bruno – [enfático] Tem! Eu não vou ter medo de falar isso em entrevista, é até uma forma de a gente se cobrar depois.

A palavra acesa e celebrada de José Chagas

CAPA_CD

Em primeira mão, a capa de A palavra acesa de José Chagas, disco em que a poesia do mais maranhense de todos os paraibanos é tornada música. A maioria é inédita, mas estão lá Palavra acesa e Palafita, já gravadas pelo Quinteto Violado, a primeira, tema da novela Renascer, da Rede Globo. Um de nossos maiores versejadores, José Chagas completa 90 anos em 2014.

Participam do disco este timaço de feras listado na capa. A produção é de Celso Borges e Zeca Baleiro. Os desenhos são de Paullo César e o projeto gráfico é de Andréa Pedro.

O lançamento acontece na próxima quinta-feira (5), às 21h, no Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy). Haverá uma sessão de audição do disco e a exibição de um vídeo, realizado especialmente para o projeto.

O blogue voltará ao assunto.

Em tempo (já falei sobre, mas não custa repetir): a foto do cabeçalho deste blogue, clicada por Murilo Santos, mostra Josias Sobrinho e Cesar Teixeira fazendo um par de violeiros na peça Marémemória, baseada no livro-poema homônimo de José Chagas. O livro é de 1973, a peça, do ano seguinte.

Viva Paulinho da Viola!

Paulinho da Viola completou 70 anos ontem. Não houve estardalhaço como para outros setentões de 2012 (ou como imagino que haverá, não imerecidamente, para Chico Buarque daqui a dois anos). Não é de hoje a diminuição quase sempre imposta a este grandessíssimo artista, em geral tido apenas como sambista (como se isso fosse coisa menor) e não como um artista da MPB (o que é MPB? Samba não é música?, não é popular?, não é brasileiríssimo?).

Paulinho da Viola é fundamental! Artista de nobre linhagem e rara elegância, merece figurar em qualquer panteão da música brasileira. Se a mídia não deu a devida atenção, mesmo que apenas por ocasião da efeméride, o artista anuncia shows (no Rio, de graça, na Madureira berço de sua Portela do coração, e no Carnegie Hall) e caixa com discos, informações que li na Folha de domingo, onde soube também que a Portela irá homenageá-lo na avenida em 2013.

O maranhense João Pedro Borges, que tocou em A obra para violão de Paulinho da Viola, dividindo o disco com o artista e o pai dele, César Faria (violonista do conjunto Época de Ouro que acompanhou Jacob do Bandolim), já afirmou que é bastante valiosa a contribuição do músico para a escola brasileira do instrumento. Esta sua faceta, de compositor de choros sofisticados, é bem menos conhecida que a de sambista, porém não menos importante. O disco citado é hoje tão desconhecido quanto raro: foi distribuído como brinde de fim de ano aos clientes de uma empresa em meados da década de 1980, nunca tendo chegado ao formato digital.

Um dos momentos de maior emoção na vida do músico aconteceu quando sua Foi um rio que passou em minha vida foi cantada no aquecimento, o “esquenta”, o samba que anima os membros da escola antes de a mesma entrar na avenida. Isso foi em 1971, o disco lançado no ano anterior, espécie de resposta que Paulinho dava a si mesmo, depois de ter escrito Sei lá, Mangueira (parceria com Hermínio Bello de Carvalho), enaltecendo a rival.

Até hoje há quem acredite que sua Sinal Fechado, regravada por, entre outros, Fagner e Chico Buarque, seja de autoria do último.

Para um amor no Recife já teve regravações de Marina Lima e Zé Ramalho, alguém aí ainda desconfia que Paulinho é só do samba (o que não seria pouco)?

Paulinho é também presença constante nos discos de Marisa Monte, seja emprestando obras primas do quilate de Para ver as meninas e Dança da solidão, seja tocando um violão aqui, um cavaquinho acolá.

Acompanhada do grupo Semente, Teresa Cristina estreou em disco há 10 anos, com um trabalho inteiramente dedicado à obra do mestre: o duplo A música de Paulinho da Viola.

Ainda há muito por dizer e muito mais com o que ilustrar este post. Paulinho da Viola tem obra vasta e bem mais merecem as celebrações e homenagens por seus 70 anos. Uma frustração? Nunca ter sido gravado por Aracy de Almeida, “uma das maiores cantoras de samba” que o Brasil já (ou)viu. Uma historinha? Já cansada de ser sempre cobrada para cantar o repertório de Noel Rosa, sua maior intérprete um dia confessou estar cansada de “carregar o peso desse morto nas costas”, disse, referindo-se, “sei lá, não sei”, ao samba de Noel ou ao próprio compositor. Caetano Veloso compôs um samba novo, A voz do morto, em que homenageia Paulinho da Viola, “viva Paulinho da Viola”, vivíssimo, atuante e elegante aos 70.

Separados pelo nascimento

E pela saudade do João que já partiu:

João do Vale (1981), produzido por Chico Buarque, Fagner e Fernando Faro, com participações especiais de, entre outros, Tom Jobim, Alceu Valença, Jackson do Pandeiro, Zé Ramalho, os dois primeiros produtores, e…

Oásis de Bethânia (2012), o ótimo disco novo da Maria que lhe batiza em verso de Carta de Amor, de Paulo César Pinheiro, “Meus pés recebem bálsamos/ Unguento suave das mãos de Maria, irmã de Marta e Lázaro/ No oásis de Bethânia”, na letra mais longa entre as dez do disco.

Quem sacou a semelhança foi a cantoramiga Lena Machado.

O choro que voz me nordestes

Amanhã (13) este blogueiro tem a honrosa e difícil missão de substituir Ricarte Almeida Santos no Chorinhos e Chorões (Rádio Universidade FM, 106,9MHz). O programa vai ao ar às 9h. O titular do programa está viajando a trabalho.

Este aí do título o mote inventado para conceber o script, que acabo de redigir. A ideia: mostrar a influência do choro na criação de alguns artistas nordestinos, não necessariamente tidos como “chorões” por nós, muitas vezes.

No cardápio sonoro da seleção musical que preparei: Novos Baianos, Tom Zé, Zé Ramalho, Fagner, Josias Sobrinho, Chico Saldanha e Chico Maranhão, isto é, um passeio por um pedaço do Nordeste: Bahia, Paraíba, Ceará e Maranhão. É claro que há(via) muito mais a mostrar/tocar, mas em uma hora…

Que os poucos-mas-fieis leitores nos ouçam! Agradecemos a audiência, a preferência, a paciência… Que os muitos-e-fieis ouvintes de Ricarte idem. Deixe aí um comentário e ouça seu nome no Alô, Chorão!