Joãozinho Ribeiro celebra a vida e a arte em dois shows no Teatro Arthur Azevedo

[release]

Apresentações acontecem dias 3 e 4 no Teatro Arthur Azevedo, com participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro - foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro – foto: divulgação

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro completou, em 2025, 70 anos de idade e 60 de uma vitoriosa batalha contra um câncer. Uma de suas frases de cabeceira, do pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), diz que “o dever do artista é salvar o sonho”. O artista entende que a celebração da vida passa pela celebração da arte.

Estes são os motes do show “Canções da Vida e da Arte”, que Joãozinho Ribeiro apresenta nos próximos dias 3 e 4 de outubro, às 20h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro), com as participações especiais de Adler São Luiz, Adriana Bosaipo, Alê Muniz, Aziz Jr, Chico Saldanha, Daffé, Josias Sobrinho, Maria Spíndola, Paulo Pirata, Rosa Reis e Sérgio Habibe.

Com produção e coordenação geral de Lena Santos, o show de Joãozinho Ribeiro tem direção geral do artista, que será acompanhado pelos músicos Rui Mário (sanfona, teclados e direção musical), Arlindo Pipiu (violão e guitarra), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Robertinho Chinês (cavaquinho), Carlos Raqueth (baixo), Ronald Nascimento (bateria), Marquinhos Carcará (percussão), Kátia Espíndola (vocal), Raquel Espíndola (vocal) e Renato Serra (teclados).

As celebrações de Joãozinho Ribeiro têm caráter solidário: os ingressos para os shows serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino. A troca pode ser feita no Convento das Mercês (sede da Fundação da Memória Republicana Brasileira, Rua da Palma, Desterro) ou no Teatro Arthur Azevedo (nos dias do espetáculo).

Joãozinho Ribeiro é um dos artistas maranhenses mais gravados, tendo músicas suas em registros de nomes como Betto Pereira, Célia Maria, Chico César, Elba Ramalho, Flávia Bittencourt, Josias Sobrinho, Lena Machado, Olodum, Rita Benneditto, Rosa Reis e Zeca Baleiro, entre outros.

Parte deste repertório autoral será lembrada nas duas apresentações do show “Canções da Vida e da Arte”, que tem patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Serviço

O quê: show “Canções da Vida e da Arte”
Quem: Joãozinho Ribeiro e convidados
Quando: dias 3 (sexta) e 4 de outubro (sábado), às 20h
Onde: Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro)
Quanto: os ingressos solidários serão trocados por alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal, pedagógicos, hospitalares, descartáveis, roupas e utensílios domésticos para a Casa de Apoio da Fundação Antonio Dino (a partir do dia 1º. de outubro no Convento das Mercês e nos dias das apresentações também na bilheteria do TAA)
Informações: no instagram @joaozinhoribeiromilhoesdeuns

Baile do Parangolé será palco do lançamento de “Bloco Bonito”, de Joãozinho Ribeiro

Acima: Neto Peperi, Alysson Ribeiro, Andréa Frazão, Luiz Cláudio e Dan Nobre; abaixo: Paulinho Akomabu, Chico Saldanha, Joãozinho Ribeiro, Rosa Reis, Fátima Passarinho e Anna Cláudia, as vozes de "Bloco Bonito" - foto: divulgação
Acima: Neto Peperi, Alysson Ribeiro, Andréa Frazão, Luiz Cláudio e Dan Nobre; abaixo: Paulinho Akomabu, Chico Saldanha, Joãozinho Ribeiro, Rosa Reis, Fátima Passarinho e Anna Cláudia, as vozes de “Bloco Bonito” – foto: divulgação

O Baile do Parangolé chega à sua 14ª edição em 2025, celebrando os 46 anos de fundação da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH). O nome do baile toma emprestado o título de um conhecido coco do jornalista e compositor Cesar Teixeira, sócio da SMDH. O evento acontecerá na próxima quarta-feira (12), a partir das 19h, no Bar e Restaurante Pedra de Sal (esquina das ruas da Estrela e de Nazaré, Praia Grande). Os ingressos individuais custam R$ 40,00 e incluem abadá.

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, sócio da SMDH, lançará, na ocasião, o EP Bloco Bonito (faça aqui a pré-save), com quatro faixas em clima de folia e a participação especial de grandes nomes da música popular brasileira: Allysson Ribeiro, Andréa Frazão, Chico Saldanha, Neto Peperi, Paulinho Akomabu, Rosa Reis e Zeca Baleiro. As gravações aconteceram no Zabumba Records, sob a batuta do percussionista, compositor e produtor Luiz Cláudio.

Uma das faixas de destaque é “Algazarra no quartel”, interpretada por Alysson Ribeiro e Neto Peperi, uma crítica ácida e bem-humorada aos desmandos de um certo capitão que muito aprontou fora da caserna.

"Bloco Bonito" - capa/ reprodução
“Bloco Bonito” – capa/ reprodução

Segundo Joãozinho Ribeiro, o EP é uma homenagem ao cantor e compositor Tadeu de Obatalá (1964-2024), falecido ano passado, um dos fundadores do Bloco Afro Akomabu. A capa de Bloco Bonito, presente do amigo e parceiro Betto Pereira, cantor, compositor e artista visual, faz alusão à estética deste símbolo do carnaval maranhense surgido nas fileiras do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN).

Joãozinho Ribeiro, seus convidados especiais e os músicos que participaram da gravação de Bloco Bonito são as atrações do 14º. Baile do Parangolé, valorizando a música, a ancestralidade e os direitos humanos.

divulgação
divulgação

“O comentário é quase geral”

O compositor Chico Saldanha - foto: Ribamar Nascimento/ divulgação
O compositor Chico Saldanha – foto: Ribamar Nascimento/ divulgação

O compositor Chico Saldanha (acompanhado por Marcão ao violão) é o convidado desta quarta-feira (25) no projeto Quarta no Solar. Capitaneado por Aziz Jr. e Chico Nô e aberto pela discotecagem de Pedro Dreadlock, o evento semanal, em pouco tempo, consolidou-se no calendário cultural da capital maranhense, sendo realizado sempre a partir das 19h no Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis (Rua Rio Branco, 420, Centro). O couvert artístico individual custa apenas R$ 15,00.

Chico Saldanha é um dos mais versáteis compositores maranhenses, passeando com igual desenvoltura pelos ritmos da cultura popular de seu estado natal e gêneros como o blues, o choro e o brega, num caldeirão sonoro de referências as mais variadas, entre a música, a literatura e o cinema, além, é claro, de sua própria memória prodigiosa, ao evocar e trazer para suas criações personagens como Babalu (na canção homônima), famoso dublador dos primórdios da TV Difusora, e Mário Mentira (em “É Tudo Verdade”), um vizinho seu na São Pantaleão que fez jus ao apelido que lhe deu sobrenome, entre outros.

Natural de Rosário, Saldanha mudou-se cedo para São Luís, vindo morar numa São Pantaleão habitada por gênios da estirpe de Cesar Teixeira (que chegou a ver engatinhando), João Pedro Borges e Ubiratan Sousa – no encarte de Emaranhado (2007), estes três nomes comparecem aos agradecimentos àqueles que os levaram ao caminho da música.

Entre os covers de Beatles da juventude aos grandes festivais – sua “Absolutamente” venceu a etapa maranhense do Canta Nordeste, festival outrora promovido pela Rede Globo de Televisão –, Chico Saldanha é um nome consolidado na história da música popular brasileira produzida no Maranhão, como compositor, autor de quatro álbuns até aqui – além do citado, Chico Saldanha (1988), Celebração (1998) e Plano B (2017) –, incluindo pérolas como “Itamirim”, “Linha Puída” e “Choro de Memórias”, e como memória viva, enciclopédia deste fazer musical.

Arrisco-me a soar imodesto, mas entre os poucos mas fiéis leitores não preciso esconder o orgulho em ser seu parceiro em “Dolores”, letra que escrevi em homenagem a Dolores O’Riordan (1971-2018), vocalista de The Cranberries, que ele musicou e gravou com a participação especial de Regiane Araújo.

Não preciso lembrar também que foi através de Chico Saldanha que as músicas hoje tão de conhecidas do repertório do elepê Bandeira de Aço (1978) chegaram a Marcus Pereira (1930-1981) e a Papete (1947-2016) – seu parceiro em “Pindaré”, para citar mais um clássico. O resto é história e é sempre um enorme prazer ouvi-lo contar. E cantar.

Chico Saldanha completou 79 anos em junho passado e segue ativo e criativo. Uma de suas mais recentes criações já têm duas gravações: além do próprio autor, antes Elizeu Cardoso gravou o presente que ganhou e fez de “Arco-íris” clássico instantâneo, do verso que intitula este texto, que eu não canso de pedir em rodas de violão ou qualquer outra oportunidade que me surja diante dos olhos, ouvidos e coração.

Joãozinho Ribeiro volta a mergulhar no universo do samba

[release]

Show no Miolo Café Bar dia 30 precede gravação de álbum dedicado ao gênero

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação

Em 2002 e 2003, quando percorreu 18 bairros de São Luís com o circuito Samba da Minha Terra, ficou comprovada a importância da verve sambista de Joãozinho Ribeiro, poeta e compositor versátil que se vira muito bem em outros gêneros, como também o provam centenas de composições suas, gravadas por nomes os mais diversos da música popular brasileira.

Em setembro Joãozinho Ribeiro entra em estúdio para gravar o segundo álbum de sua carreira, que já conta 45 anos, desde a estreia em um festival universitário de música em 1979. O sucessor de Milhões de Uns – Vol. 1, gravado ao vivo no Teatro Arthur Azevedo em 2012 e lançado no ano seguinte, será dedicado ao samba, com direção de Zeca Baleiro, produção de Luiz Cláudio e participações especiais de insuspeitos bambas – entre os nomes confirmados, além do próprio Zeca, estão Rita Benneditto, Chico César e Fabiana Cozza.

Como uma espécie de aquecimento para o registro do álbum, Joãozinho Ribeiro se apresenta no próximo dia 30 de agosto (sexta-feira), às 21h, no Miolo Café Bar (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau). No show, intitulado “45 Anos: Letra e Música”, o artista experimentará o repertório que pretende levar ao estúdio, acompanhado por João Eudes (violões de seis e sete cordas e direção musical), João Neto (flauta), Juca do Cavaco (cavaquinho) e Carbrasa (percussão).

No show, Joãozinho Ribeiro contará ainda com as participações especiais de Adler São Luís, Fernanda Garcia, Chico Saldanha e Neto Peperi. No repertório, clássicos como “Milhões de Uns”, “Saiba, Rapaz” e “Estrela”, para destacar alguns sambas e choros de sua lavra.

“Este show vai ser uma confraternização, um encontro com parceiros, instrumentistas e intérpretes, já pensando no que a gente vai fazer quando entrar em estúdio. Tudo está sendo pensado com muito carinho e cuidado, tanto para o palco, quando a gente vai sentir o termômetro do público, quanto para o estúdio, quando a gente vai para um registro definitivo de uma obra que eu sigo construindo, num álbum que está sendo pensado de forma equilibrada entre músicas bastante conhecidas no Maranhão, mas também apresentando inéditas”, promete Joãozinho Ribeiro.

Serviço

O quê: show “45 Anos: Letra e Música”
Quem: o poeta e compositor Joãozinho Ribeiro e Regional
Quando: dia 30 de agosto (sexta-feira), às 21h
Onde: Miolo Café Bar (Av. Litorânea, nº. 100, Calhau)
Quanto: R$ 25,00 (couvert artístico individual)

Single duplo celebra os 79 anos de Chico Saldanha

[release]

O compositor Chico Saldanha - foto: Ribamar Nascimento/ divulgação
O compositor Chico Saldanha – foto: Ribamar Nascimento/ divulgação

Com quatro álbuns gravados – Chico Saldanha (1988), Celebração (1998), Emaranhado (2007) e Plano B (2017) –, o compositor Chico Saldanha costuma brincar acerca do intervalo entre seus lançamentos. “A imperfeição é mais fácil de tolerar em doses pequenas”, diz, citando a poeta polonesa Wislawa Szymborska (1923-2012).

Autor de clássicos da música popular brasileira, entre os quais “Itamirim” e “Linha Puída”, o rosariense é considerado entre seus pares como a memória viva da música popular brasileira produzida no Maranhão: foi o responsável por fazer chegar aos ouvidos de Papete o repertório registrado pelo artista em Bandeira de Aço (Discos Marcus Pereira, 1978); integrou a primeira formação do Regional Tira-Teima, tendo tocado violão na gravação do antológico Lances de Agora (Discos Marcus Pereira, 1978), de Chico Maranhão; em 1985, com os parceiros Giordano Mochel e Ubiratan Sousa, produziu o compacto Sotaques, em que canta “Fuzileiro de Novo”, com que comemorava a volta dos Fuzileiros da Fuzarca naquele ano; e entre outros feitos produziu, com os mesmos parceiros, o compacto Velhos Moleques (1986), que reuniu Antonio Vieira (1920-2009), Agostinho Reis (s/d), Cristóvão Alô Brasil (1922-1998) e Lopes Bogéa (1926-2004). Para se ter uma ideia, o primeiro só viria a estrear em disco solo em 2001, com O Samba é Bom, produzido por Zeca Baleiro.

Só estas referências iniciais já garantiriam a Saldanha um lugar no panteão sagrado da MPB. Mas o artista, que completa 79 anos hoje (11), segue produzindo, mantendo a qualidade característica e, sorte a nossa, tem disponibilizado alguns singles, em sua própria voz ou de intérpretes de mútua admiração. São os casos recentes de “Dolores” – uma singela homenagem a Dolores O’Riordan (1971-2018), vocalista dos Cranberries, de que tenho a honra de ser o parceiro letrista –, interpretada por ele em um inspirado dueto com a cantora Regiane Araújo; “Dom Quixote”, parceria com Ivan Sarney, repescada do repertório setentista dos festivais de música de que participou, que finalmente ganhou o mundo na voz de Lucas Sobrinho; e “Arco-Íris”, toada solitária de rara beleza, interpretada por Elizeu Cardoso, cuja honra de cantá-la ele considera um verdadeiro presente.

Marcando seu aniversário de 79 anos, para não fugir do clichê-reclame de loja popular: o artista aniversaria mas quem ganha o presente somos nós, ouvintes ávidos e atentos, sedentos desta rara beleza que só Chico Saldanha pode nos proporcionar: ele lança hoje single duplo com as faixas “Passou, Pintou e Bordou” e uma releitura da citada “Arco-Íris”.

A música é o pote de ouro de Chico Saldanha, longe disto ser uma metáfora financeira: ambas as letras citam arcos-íris. A primeira tem construção sui generis, transitando entre bossa nova, blues e samba e fechando com a sutil citação do bolero “Alguém me Disse” (Jair Amorim [1915-1993] e Evaldo Gouveia [1928-2020]), sucesso de Anísio Silva (1920-1989).

Já a releitura de “Arco-Íris” pelo autor ganha ares de fado, no diálogo entre o bumba meu boi (originalmente trata-se de uma toada) e a influência moura, que levou o produtor Luiz Cláudio a explorar os sofisticados vibratos das vozes de Chico Saldanha e Neném do Vale – com quem canta em dueto –, como o sotaque de orquestra, natural de Rosário, feito o compositor, a dar as mãos ao fado português, encontro este que se reflete no arranjo da música.

“Passou, Pintou e Bordou” acaba sendo também uma homenagem a Zezé Alves (1955-2024), pois é um dos últimos registros do músico em estúdio. Além de sua flauta, a ficha técnica da faixa se completa com Fernando Hell (bateria), Mauro Travincas (baixo), Daniel Nobre (guitarra, violão e arranjo) e Luiz Cláudio (percussão e arranjo).

Já em “Arco-Íris” as vozes de Chico Saldanha e Neném do Vale estão emolduradas por Arlindo Pipiu (violão e baixo elétrico), Emílio Furtado (baixo acústico), Robertinho Chinês (cavaquinho), Jovan Lopes da Silva (trombone), Natan Jefferson Moreira Silva dos Santos (trompete), Luiz Cláudio (percussão e arranjos) e Anna Cláudia (vocalizes).

Pela média destacada no início do texto, um próximo álbum de Chico Saldanha ainda demoraria uns três anos. Ainda é cedo para dizer se estes singles são um aperitivo. Compositor de destinos, como diria um outro colega seu de ofício, senhor da razão, o tempo dirá.

*

Ouça “Arco-Íris” e “Passou, Pintou e Bordou”:

Rodeado de amizades, Elizeu Cardoso celebra hoje 30 anos de ilha

divulgação
divulgação

Elizeu Cardoso é engraçado. Quem acompanha suas postagens nas redes sociais tem uma pequena amostra de sua capacidade de rir, às vezes de si mesmo, e de fazer rir. É contagiante. Mas lê-lo nas telas não chega nem perto de privar de sua amizade e ouvir seus causos diretamente dele.

Posso dizer que tenho o privilégio de sua amizade e mais – não é à toa que ele chama a minha mãe também de mãe, testemunha de tantas rodas de prosa, violão e conversa fiada regada pelas delícias que ela prepara e cerveja gelada.

Cantor, compositor, escritor, professor, webradialista e sei lá quantas outras credenciais lhe assentam feito carapuça, Elizeu Cardoso completa, neste 2024, 30 anos de ilha, desde que chegou, menino vindo de Pinheiro, o violão debaixo do braço, a passagem por alguns festivais onde começou a bordar sua história, o estudo de Geografia na Universidade Federal do Maranhão, orgulho de pai, mãe e incontáveis irmãos.

Como é de seu feitio, a Festança (certamente mistura de festa e sustança) com que celebra a efeméride acontece hoje (24), a partir das 19h30, no Miolo Café Bar (Av. Litorânea, 100, Calhau), reunindo uma constelação de craques da música popular brasileira produzida no Maranhão, pequena parte de um círculo de amizades que Elizeu Cardoso vem amealhando com seu talento, simpatia e reciprocidade.

Elizeu Cardoso (voz e violão) estará acompanhado por João Simas (violão e guitarra) e Dark Brandão (bateria e percussão). A divulgação do show anuncia as participações especiais de Aziz Jr., Chico Nô, Chico Saldanha (autor da toada “Arco-Íris”, single mais recente do pinheirense), Daffé, Helyne, Josias Sobrinho, Klícia, Santacruz, Tiago Máci e Tutuca Viana, mas sua alma (negra) agregadora certamente fará chegar gente que não está no convite.

Citei várias credenciais de Elizeu Cardoso e afirmo: esbanja talento em tudo o que faz por não fazer nada de qualquer jeito. A Festança de hoje poderia ser só um encontro de amigos em um bar para tocar, beber e trocar abraços – e em certa medida é. Mas acompanho os bastidores há pelo menos um mês, sua preocupação com cada detalhe, confirma quem vai, chama fotógrafo, isso, aquilo e aquilo outro. Ele é puro capricho e zelo.

Eu poderia passar um bom tempo enaltecendo as qualidades de Elizeu Cardoso – e são muitas. Já escrevi aqui e acolá sobre sua literatura. Mas quero ater-me à música, esta faceta que ele escolheu para celebrar suas três décadas de ilha – “do Boqueirão pra lá tudo é diferente”, costuma repetir.

Quem primeiro me chamou a atenção para a qualidade de suas composições foi o amigo e parceiro comum Gildomar Marinho. Antes de conhecer a figura, conheci a obra e fui tomado por sua beleza, por uma construção que alinha as ancestralidades africanas impregnadas em nossa formação sociocultural – exacerbada em Elizeu –, indo de temas românticos, homenagem à cidade natal até questões sociais e geopolíticas.

Um artista raro, de talento nato, que tem muito a nos oferecer, em uma época em que carecemos tanto de beleza e delicadeza. Para quem porventura ainda não conhece, a Festança de hoje é um bom começo.

Joãozinho Ribeiro e grande elenco celebram a paz na terceira edição do show “Com o Afeto das Canções”

[release]

O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação
O poeta e compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: divulgação

Evento acontece no próximo dia 16 de dezembro (sábado), no Convento das Mercês

A trajetória artística do poeta e compositor Joãozinho Ribeiro se confunde com sua trajetória militante. Desde que estreou na música, num festival universitário em 1979, em que ficou em segundo lugar, sua obra se debruça sobre questões sociais, num fazer artístico de uma consciência raras vezes vista.

Com um livro – “Paisagem Feita de Tempo” (Edição do Autor, 2006) – e um disco lançados – “Milhões de Uns – vol. 1”, gravado ao vivo no Teatro Arthur Azevedo em 2012 e lançado no ano seguinte – até aqui, sua poesia e sua música invariavelmente alertam para as mazelas que nos cercam.

“A função do artista é salvar o sonho” e a frase do pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920) há algum tempo martela o juízo de Joãozinho como um mantra. Notícias de guerras distantes pedem paz, pão e poesia. E música.

É pensando e motivado por isso que Joãozinho Ribeiro, ser gregário, como já sabemos, se reúne com uma constelação de primeira linha da música popular brasileira produzida no Maranhão para o show “Com o Afeto das Canções III – A Festa da Paz”, que acontece no próximo dia 16 de dezembro (sábado), no Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro), a partir das 18h.

“A gente enxerga esta realização como uma grande festa de confraternização, típica do período, mas pautada por muito profissionalismo e solidariedade. É um espaço do acontecer solidário, reunindo cerca de uma centena de envolvidos, desde instrumentistas, convidados especiais, produtores, grupos de cultura popular da comunidade do Desterro, bairro onde me criei e onde está localizado o Convento das Mercês, cartão postal da capital maranhense que é sede da Fundação da Memória Republicana Brasileira, em cujas festas de fim de ano a gente se insere, colaborando também com a Campanha Natal Sem Fome. Música na existência, para alimentar os espíritos! Dança nos corpos, para liberar as energias positivas! Eparrei! Aleluia! Shalom! Saravá!”, resume Joãozinho Ribeiro.

A música começa com apresentações de grupos de cultura popular do entorno: Tambor dos Onças, Zumba da Negra Zete, Capoeira do Mestre Bamba e os Blocos Tradicionais Os Foliões e Os Guardiões. Na sequência, tendo como mestre de cerimônias o poeta e cordelista Moizes Nobre, Joãozinho Ribeiro será acompanhado por Rui Mário (sanfona, teclados e direção musical), Hugo Carafunim (trompete), Danilo Santos (saxofone e flauta), Ronald Nascimento (bateria), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Marquinhos Carcará (percussão), Robertinho Chinês (cavaquinho), Katia Espíndola (vocal), Raquel Espíndola (vocal). O anfitrião terá como convidados o Bloco Afro Akomabu, Anastácia Lia, Andréa Frazão, Ronald Pinheiro, Josias Sobrinho, Zé Heitor (vencedor do concurso de toadas dos sotaques da baixada e costa de mão, promovido pela FMRB), Chico Saldanha, Bicho Terra, Allysson Ribeiro, Anna Cláudia e Fátima Passarinho – os três últimos, sob a batuta do maestro Arlindo Pipiu, irão comandar o Baile da Paz, antecipando o carnaval, apresentando um repertório de frevos e marchinhas, incluindo composições inéditas que estarão no EP carnavalesco que o compositor lançará no início de 2024.

“Com o Afeto das Canções III – A Festa da Paz” tem produção e coordenação geral de Lena Santos e patrocínio da Potiguar e Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão. O acesso se dará mediante a troca de um quilo de alimento não perecível, no local. A arrecadação será destinada à Campanha Natal Sem Fome.

Serviço

O quê: show “Com o Afeto das Canções III – A Festa da Paz”
Quem: o poeta e compositor Joãozinho Ribeiro e convidados
Quando: dia 16 de dezembro (sábado), às 18h
Onde: Convento das Mercês (Rua da Palma, Desterro)
Quanto: os ingressos serão trocados por um quilo de alimento não perecível

Um letrista bissexto entre ídolos e amigos

Zema Ribeiro, Regiane Araújo e Chico Saldanha (com o Led Zeppelin ao fundo), no Zabumba Records. Foto: divulgação

A morte de Dolores O’Riordan (1971-2018), em 15 de janeiro de 2018, foi, para mim, golpe de difícil assimilação. A cantora e compositora irlandesa, vocalista da banda The Cranberries, tinha apenas 46 anos. Lembro particularmente de minha dificuldade em noticiar o acontecimento no então diário Balaio Cultural, programa que produzo e apresento com Gisa Franco há mais de sete anos, na Rádio Timbira.

Dizem que quando estamos perto da morte um filme inteiro se passa na cabeça da gente. Com Dolores O’Riordan morria um pedaço de minha adolescência – à época eu já era um quase quarentão, ave, Leminski! Estudante do ensino médio na segunda metade da década de 1990, comprei os três primeiros discos da banda em sociedade com um colega de turma e revezávamos os álbuns entre minha casa e a dele; muito além dos discos, a amizade durou até ele sucumbir ao neofascismo bolsonarista – “war child/ victim of political pride”.

Em algum dia do ano passado eu estava dirigindo quando ouvi, no rádio do carro, uma música dos Cranberries. Não lembro se era “Linger” ou “Ode To My Family” – mas com certeza era uma das duas. Quando cheguei ao destino, liguei o computador e um poema me veio como um jorro, quase como se eu o psicografasse.

Escrita a letra de “Dolores”, enviei ao cantor e compositor Chico Saldanha – que já havia musicado “Dorflex”, ainda inédita. Que também deve ter lá suas manhas no psicografismo, já que no mesmo dia me enviou, por um aplicativo, um esboço de melodia, que ele cantava se acompanhando ao violão, com a seguinte mensagem: “veja se está no rumo”.

Quem sou eu para julgar. A mim, a pegada blues da melodia do ídolo tornado amigo e parceiro, caía como uma luva – perdoem o clichê, mas essas cervejas e essa lua, em véspera de lançamento de parceria com Chico Saldanha, botam a gente comovido como o diabo.

Dolores. Capa. Reprodução

Mais um ano se passou – ano e meio, para ser exato, Cassiano! – e o rosariense resolveu começar a gravar umas músicas inéditas (sim, outras vêm aí!). “Dolores” furou a fila e ele não queria cantar sozinho. Ousei convidar Regiane Araújo, cantora e compositora que desde a primeira audição me impactou tanto quanto Dolores O’Riordan, voz necessária e destacado talento de sua geração.

O sim de Regiane Araújo me deixou contente: era um encontro de talentos e gerações em torno da homenagem a um ícone pop da envergadura de Dolores O’Riordan. Chico Saldanha (voz) e Regiane Araújo (voz) são acompanhados por Fernando Hell (bateria), Daniel Nobre (guitarra e violão aço), Mauro Travincas (baixo), Ricardo Foca (gaitas) e Luiz Cláudio (percussão, arranjo, produção e direção musical). A música foi gravada no Zabumba Records.

Para a capa do single, lembrei de um velho sofá que fotografei durante a pandemia de covid-19, tentando estabelecer um diálogo com a capa de “No Need To Argue” (1994), o segundo álbum dos Cranberries, em que a banda está sentada em um ambiente interno; na capa de “Dolores” o sofá está rasgado e vazio, abandonado em uma calçada que começa a ser tomada pelo mato, à frente de um muro carcomido pelo tempo.

Dolores O’Riordan segue viva em sua música atemporal e na saudade e memória do fã-clube mundo afora, inclusive este letrista bissexto. Se voltasse no tempo e estivesse no elenco de “A Viagem”, novela de Ivani Ribeiro que a Rede Globo exibiu em 1994, cuja trama, de inspiração kardecista, abordava a vida após a morte – e a que The Cranberries compareceu com “Linger” à trilha sonora internacional –, eu mesmo perguntaria se ela gostou da homenagem.

*

Leia a letra:

DOLORES (Chico Saldanha/ Zema Ribeiro)

para Dolores O’Riordan

Nunca mais encontrei Dolores na balada
Ela nunca mais me disse nada
Enquanto eu bebia ao pé do balcão

Dolores nunca mais subiu ao palco pr’uma canja
Mesmo que apareça outra banda
Ouço apenas o vazio de meus pensamentos

A balada já não tem a mesma graça
Nunca mais pedi um drinque estranho
Desligaram o som
Não se ouve mais When you’re gone
When you’re gone

Eu que sou uma gata sem eira nem beira,
Já virei zumbi
Zombie

Aos poucos fui perdendo os discos
Que passei a vida a colecionar
Que passei a vida a colecionar

Dolores foi embora sem dizer goodbye
Tropeço na saudade quando a noite cai
Procuro uma palavra, não vou encontrar
Ninguém vem me dizer onde ela foi morar

Sua voz se diluiu no sinal vermelho
No cruzamento entre a morte e a canção
Eu bato ponto todo dia no balcão
Na doce ilusão de um dia ela voltar

*

“Dolores” chega às plataformas de streaming nesta segunda (30). Faça o pré-save:

Festival Zabumbada, noite um

(a segunda já está rolando enquanto escrevo)

O sublime encontro de Chico César com o Bumba meu boi do Maracanã. Fotos: Laila Razzo. Festival Zabumbada/ Divulgação

A entrada triunfal de Chico César no palco do Festival Zabumbada, encerrando a primeira noite do evento, foi uma espécie de síntese da emoção. Ao término da apresentação do Bumba meu boi de Maracanã, ele adentrou ao palco entoando “Sereia linda de Cumã”, composição do saudoso mestre Humberto, que o batalhão registrou com a participação do paraibano em “Aldeia Tupinambá” (Zabumba Records, 2020), consistente tributo ao pai de Ribinha, cujo legado está sendo preservado e levado adiante com louvor pelo herdeiro.

A Praça das Mercês exalava afeto. “A vida é a arte do encontro”, como nos ensinou o poeta, mas a pandemia de covid-19 fez ter mais sentido do que nunca o “embora haja tanto desencontro nessa vida”.

Se o encontro do paraibano com o bumba meu boi do Maranhão não era inédito, seja pela citada participação em disco, seja por sua própria trajetória, como fez questão de demonstrar ao cantar “Folia de príncipe”, vê-lo no palco é uma experiência única, o que faz valer o dito “fez valer o ingresso”, mesmo em se tratando de evento gratuito, realizado com patrocínio do Instituto Cultural Vale, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Chico César fez um show vibrante, passeando por diversas fases de seus quase 30 anos de carreira, isto se contados a partir da estreia fonográfica com “Aos vivos” (Velas, 1995), de cujo repertório pinçou “Beradéro”, com que abriu o espetáculo acompanhado por sua banda. Foi aplaudido em peso quando cantou o verso “e a cigana analfabeta lendo a mão de Paulo Freire”, que cita o pedagogo inimigo número um do regime bolsonarista.

À sua “Mama África” emendou “Brilho de beleza” (Nego Tenga) e “Pra não dizer que não falei das flores” (Geraldo Vandré), não o único medley da noite. Assisti ao show inteiro (e de resto à toda a primeira noite de festival) ao lado do compositor Chico Saldanha, amigo e parceiro que conheceu e conviveu com Chico César quando ele e Zeca Baleiro iniciavam o desbravar das veredas do sucesso na pauliceia desvairada. Saldanha chegou a gravar vocais na primeira versão de “Mama África”, que permaneceu inédita. “Mas era impossível não perceber que aquilo faria tamanho sucesso”, confidenciou-me.

Em “À primeira vista” trocou intencionalmente os nomes de Prince e Salif Keïta da letra original pelos de Zeca Baleiro e Rita Benneditto, numa reverência a seus pares maranhenses de geração. Outro medley de destaque foi “Da taça” com “Onde estará o meu amor” e “Diana”, versão de Fred Jorge para a música de Paul Anka, sucesso de Carlos Gonzaga. Chico César é, também, um liquidificador de referências.

Momentos de euforia da plateia também se deram quando ele cantou “Pedrada” (do refrão “fogo nos fascistas, fogo Jah!”), lembrando tê-la cantado pela primeira vez em público em cima de um trio elétrico no circuito carnavalesco da avenida Beira-Mar, no Centro de São Luís, em 2019, antes de lançar o disco “O amor é um ato revolucionário” naquele mesmo ano. E quando cantou “Bolsominions são demônios”, inédita que vem fazendo a cabeça de muita gente e causando polêmica, fez o público de ontem gritar “fora Bolsonaro!” e cantar “olê, olé, olé, olá, Lula, Lula!”.

Várias vezes Chico César (voz, guitarras e violões) reafirmou “lugar de mulher é onde ela quiser”, uma delas ao apresentar a baixista Lana Ferreira. Para viver em “Estado de poesia”, sua banda se completava com Helinho Medeiros (teclados), Gledson Madeira (bateria), Sintia Piccin (sopros) e Richard Fermino (sopros).

Como maranhense honorário, o paraibano de Catolé do Rocha Chico César sentia-se em casa e parecia não querer sair do palco. Sorte a nossa! Entre “Mand’ela” e “Pedra de responsa”, parcerias com Zeca Baleiro, entre muitas outras jóias de seu repertório, a exemplo de “Deus me proteja” (2008), gravada com a adesão de Dominguinhos, por ele lembrado ontem, e “Dúvida cruel”, parceria com Itamar Assumpção, nem precisou o público pedir bis para o show ter chegado bem perto de duas horas de duração (“Violivoz”, com Geraldo Azevedo, a que assisti em abril passado, durou 2h15).

Não vi inteira a primeira noite do festival – e ainda estou aqui escrevendo enquanto as atrações da segunda já começaram a se apresentar. Hoje encerra com Dona Onete e amanhã com Mariana Aydar, veja a programação completa no instagram @festivalzabumbada.

Mas outros pontos da noite de ontem merecem destaque.

A exuberância do Bumba meu boi da Floresta de Mestre Apolônio e as toadas de protesto do Bumba meu boi da Fé em Deus, traduzindo no ritmo das zabumbas que emprestam o nome ao festival a trágica realidade brasileira. Tudo isso (e mais um pouco) entremeado pela discotecagem sempre atenta e antenada da dj Vanessa Serra.

A participação especial de César Nascimento no show do Criolina, marcando o encontro, no palco, dos autores de “Maguinha do Sá Viana”, de César e Alê Muniz, reggae que se tornou um clássico da música popular brasileira produzida no Maranhão. O Criolina, Luciana Simões (voz), Alê Muniz (voz e guitarra), era acompanhado por Erivaldo Gomes (percussão), Sarah Byancchi (saxofones), João Simas (guitarra), Davi Oliveira (baixo), Sandoval Filho (teclado e programação) e Thierry Castelo (bateria), além da performance da atriz Áurea Maranhão.

O Criolina fez um show diverso, aliando covers e repertório autoral, com destaque para “A menina do salão” e “O santo”, juntando xote e reggae, a demonstrar a proximidade entre as células rítmicas dos dois gêneros, transformando João do Vale em regueiro e Bob Marley em uma espécie de Luiz Gonzaga, evoé, Gilberto Gil! Certas coisas só entende quem presencia. Novamente vamos passear na praça, evoé, Luiz Melodia!

*

Perdeu ou quer ouvir de novo? O Balaio Cultural de hoje (9), na Rádio Timbira AM, dedicou a maior parte de sua programação musical às atrações do Festival Zabumbada:

“Violivoz”: Chico César e Geraldo Azevedo para êxtase da plateia

Fotos: Hebert Alves. Divulgação

Foi uma noite de fartura.

O cearense Lucas Ló, radicado há cinco anos em São Luís, desfiou um repertório inteiramente nordestino, com especial destaque para o ídolo conterrâneo Belchior, com bastante personalidade.

Acompanhado por Jessé Fonseca, num teclado cheio de balanço e personalidade, passeou ainda por nomes como Fagner, Djavan, Carlinhos Veloz, César Nascimento, Sérgio Habibe e Josias Sobrinho.

Aos pedidos insistentes de “Barco de papel”, joia de sua autoria, respondeu com um educado “já rolou”; o pedido partia dos que adentraram a sala atrasados. Um dos nomes mais sofisticados da noite ludovicense, Ló se apresentou por cerca de hora e meia preparando o terreno para a noite inesquecível que viria, ao mesmo tempo sendo parte dela.

Não faltaram clássicos como “Apenas um rapaz latino-americano”, “Pequeno mapa do tempo”, “Alucinação”, “Fotografia 3×4”, “A palo seco” e “Mucuripe”, da lavra de Belchior, esta última em parceria com Fagner, “Noturno” (Graco/ Caio Silvio), “Serrado” (Djavan), “Ilha bela” (Carlinhos Veloz), “Ilha magnética” (César Nascimento), “Eulália” (Sérgio Habibe) e “Engenho de flores” (Josias Sobrinho).

“Se alguém me dissesse, há cinco anos, quando saí do meu Ceará, que hoje eu estaria aqui, abrindo o show dessas duas figuras centrais na minha formação, nesse teatro lotado, eu não acreditaria. É um momento muito importante para mim”, revelou Ló, agradecendo a presença do público, em cujo repertório se destaca ainda a também autoral “Ode a São Luís”, inédita, em que ele, de certo modo canta sua rota e a receptividade com que foi acolhido na ilha do amor. Uma avant-première aos atentos que chegaram cedo.

Quando Chico César e Geraldo Azevedo subiram ao palco, a cama estava pronta.

“Violivoz” é um show vigoroso e sincero. Sobem ao palco sem firulas, dizendo logo a que vieram: atacam a introdução de “Táxi lunar” (Alceu Valença/ Geraldo Azevedo/ Zé Ramalho), mas antes de cantarem, emendam a “Cantiga (Caicó)”, das Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos, sucesso de Teca Calazans, com alterações na letra, a homenagear suas terras natais e reafirmar a admiração mútua: “oh, mana, deixa eu ir/ oh, mana, eu vou a pé/ oh, mana, deixa eu ir/ para o sertão de Catolé”, começa Chico, referindo-se a Catolé do Rocha, na Paraíba, seguido por Geraldo: “oh, mana, deixa eu ir/ andar é minha sina/ oh, mana, deixa eu ir/ para o sertão de Petrolina”, e depois: “oh, mana, deixa eu ir/ oh, mana, eu vou cedo/ oh, mana, deixa eu/ cantar com Geraldo Azevedo” e “oh, mana, deixa eu ir/ andar com quem me preza/ oh, mana, deixa eu/ cantar com Chico César”. A determinada altura de “Táxi lunar”, Geraldo Azevedo solta um “vai, Zé!” e Chico César imita a voz de Zé Ramalho. E era apenas o primeiro número.

O vigor a que me referi diz respeito ao fato de a dupla cantar e tocar – e por vezes dançar – por duas horas e 15 minutos de espetáculo, de pé. A sinceridade é percebida na admiração mútua várias vezes declarada. Um é fã do outro, os dois se tornaram amigos e parceiros. Geraldo Azevedo, ao lembrar de como se conheceram, convidado a gravar uma música de Chico César em um disco produzido por Totonho, que homenageava as vítimas da chacina da Candelária, no Rio de Janeiro, nunca lançado, já percebeu ali suas qualidades. Depois, quando Chico lançou “Aos vivos” (1995), seu disco de estreia, revelou ter comprado 50 exemplares e distribuído a amigos, produtores, em suas turnês pelo Brasil e Europa. “O Belchior, que é da minha geração, dizia que “nossos ídolos ainda são os mesmos” e Chico César era um ídolo novo e eu queria apresentá-lo pra todo mundo”, disse Geraldo. Chico completou: “Belchior também dizia que “o novo sempre vem”” e revelou a influência exercida sobre o então adolescente pelo disco “Cantoria 1” (1984), que registrou o encontro de Geraldo com Elomar, Vital Farias e Xangai.

“Para mim é uma alegria muito grande dividir o palco com Geraldo Azevedo, é uma baita honra vê-lo cantando uma música minha”, declarou Chico, depois de cantarem juntos “Estado de poesia” (Chico César).

É um show de entrega. Não há momentos solo de um e outro artista. Eles cantam juntos o tempo inteiro o repertório um do outro e de artistas admirados, casos de Geraldo Vandré (“Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando)” é emendada a “Mama África”, de Chico), Milton Nascimento e Caetano Veloso (“Paula e Bebeto”, gravada por Geraldo em 1979) e Paul Anka (a versão de Fred Jorge para “Diana”). Ninguém se cansa: nem os artistas no palco, nem a plateia. Todo mundo em comunhão. Ou quase.

Quando Chico César anunciou que cantaria “outra canção de amor, de nosso amor pela Terra, pelos pequenos agricultores, uma parceria minha com Carlos Rennó”, e atacou de “Reis do agronegócio”, um coro de “Fora Bolsonaro!” se ouviu no Centro de Convenções. Uma tentativa de vaia, raquítica, foi encoberta, e prevaleceu a vontade da maioria. Outros gritos de “Fora Bolsonaro!” vieram e Chico César, numa sequência demolidora, mandou, sempre acompanhado por Geraldo Azevedo, “Pedrada” (Chico César), cujo refrão diz: “fogo nos fascistas, fogo Jah!”. “Essa música, a primeira vez que eu cantei, foi em cima dum trio elétrico, num carnaval, aqui em São Luís, para 100 mil pessoas, e eu fiquei muito contente com a receptividade”, lembrou.

Em “Bicho de sete cabeças” (Geraldo Azevedo/ Renato Rocha/ Zé Ramalho), passaram perto de 10 minutos solando seus violões, até cada um cantar uma parte da letra, sem as sobreposições que a tornaram um clássico. Comentaram a pandemia, o isolamento social, a gênese do show, após Chico ter assistido a um show de Geraldo em São Paulo e terem ido para a casa do primeiro, depois do espetáculo, tocar violão na cozinha. Tocaram duas parcerias, uma inédita e o single “Nem na rodoviária”, já disponível nas plataformas de streaming.

São duas gerações de artistas, convivendo harmoniosa e respeitosamente, Geraldo aos 77 anos, Chico aos 58. Têm a mesma grandeza e importância. Nenhum se sobressai ao outro e o equilíbrio é também uma característica de destaque do show. São dois artistas que, cada um a seu tempo, souberam cativar o público de São Luís – suas apresentações por aqui são sempre marcadas por casas cheias e intensa interação das plateias. Ontem não foi diferente.

Perto do fim do show, Geraldo apenas ameaçou cantar “Terra à vista” (Carlos Fernando). Puxou o “San, san, san, São Luís do Mará” do refrão, que a plateia imediatamente repetiu em coro, mas deixou apenas a vontade no público. Alguém na plateia, insistentemente pedia “Pétala”, não o sucesso de Djavan, mas abreviando o título de “Pétala por pétala” (Chico César/ Vanessa Bumagny). “A gente vê muito homem ansioso, mulher é menos. A mulher goza melhor por que ela goza depois, goza mais e melhor; o homem é sempre aquela pressa, de querer gozar logo”, contou para gargalhadas da plateia e o não-atendimento ao pedido renitente.

Chico César citou vários amigos, maranhense ilustres, afirmando ser uma honra estar mais uma vez em sua terra: Papete, Rita Benneditto, Josias Sobrinho, Chico Saldanha, Flávia Bittencourt, Alcione. E Celso Borges, a quem fez especial deferência: “foi quem me apresentou a Zeca Baleiro. A gente já morava em São Paulo e ele um dia me disse: olha, tem um amigo meu, do Maranhão, vindo morar aqui, é meio doidinho assim que nem tu, não é bem compreendido em nossa terra; isso naquela época, e eu entendi de cara o que ele queria dizer”, contou, para risadas da plateia. Em seguida ofereceu-lhe “Você se lembra” (Geraldo Azevedo/ Pippo Spera/ Fausto Nilo).

Também cantaram juntos “Pedra de responsa” (Chico César/ Zeca Baleiro) e na sequência Geraldo puxou, a capella, o refrão de “Cadê meu carnaval” (Geraldo Azevedo), que ele cantou, modificando a letra: “Olê lê lê/ cadê meu carnaval?/ olê lê lê/ cadê meu carnaval?/ carnaval está chegando/ cadê meu carnaval?” – a letra original diz “carnaval está morrendo”. O público ficou cantando enquanto eles se retiraram do palco.

Aos gritos de mais um, retornaram, para delírio dos presentes, mandando o clássico “Dona da minha cabeça” (Geraldo Azevedo/Fausto Nilo), em arranjo de reggae. Já não havia mais ninguém sentado, praticamente todo mundo cantava junto e alguns casais arriscavam uns passos.

Um final apoteótico de um show antológico, de uma turnê adiada e interrompida pela pandemia de covid-19, indefinidamente prorrogada pela irresponsabilidade de uns poucos que insistem em querer um Brasil feio e triste, justamente o contrário do colorido das roupas dos artistas e da diversidade que sua música representa, afinal de contas o Brasil alegre e festeiro, que haverá de prevalecer. Espero que este dueto, esta cantoria, este grande encontro, vire disco. Oxalá!

Das escritas do Choro

Chorografia do Maranhão. Capa. Reprodução

 

Quando José Antonio deixou a maternidade, aos 18 dias, a primeira música que ele ouviu foi a Suíte Retratos, na execução da Camerata Carioca em Tributo a Jacob do Bandolim, de 1979. Não a ouviu completa, pois o percurso da maternidade até em casa, de carro, era menor que o tempo de duração dos quatro movimentos (os “retratos”), que homenageiam Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e Chiquinha Gonzaga.

Não foi por acaso: a homenagem é uma espécie de síntese do Choro, ou pelo menos de suas origens e entre os bambas que tocam no disco está o maranhense João Pedro Borges, o que me enche de orgulho. O disco foi escolhido intencionalmente, redundo.

Sábado que vem (15), às 19h, na Praça Gonçalves Dias, durante o último sarau de RicoChoro ComVida na Praça em 2018, Ricarte Almeida Santos, Rivânio Almeida Santos e este que vos perturba lançaremos – finalmente! – o livro Chorografia do Maranhão, que reúne as 52 entrevistas com 54 instrumentistas de Choro nascidos ou radicados no Maranhão que publicamos como uma série no jornal O Imparcial, entre março de 2013 e maio de 2015.

O lançamento acontecerá em noite especial, não apenas por se tratar da despedida do projeto este ano de seus fiéis seguidores e frequentadores eventuais, mas por que teremos o fino do Choro, a começar pelo DJ Franklin, mais o encontro do Regional Tira-Teima com a cavaquinhista carioca Luciana Rabello – e a participação especial da cantora Alexandra Nicolas.

“Um lance de dados jamais abolirá o acaso”, nos ensina Mallarmé. Sorte ou acaso, esta celebração é também fruto de bastante trabalho: do trio de autores e do editor Bruno Azevêdo – o livro sai pela Pitomba!, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), com a chancela do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (PGCult) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Mas voltemos a alguns acasos, chamemos assim. Domingo passado, em conversa no Chorinhos e Chorões, patrimônio do Maranhão e programa bastante citado pelos entrevistados – que os chororrepórteres chamamos chorografados –, o último antes do lançamento, Ricarte Almeida Santos levou dois discos de Luciana Rabello para tocar enquanto conversávamos sobre a Chorografia do Maranhão. Um deles era o lendário Os Carioquinhas no Choro [1977], do grupo homônimo que tinha entre os integrantes a cavaquinhista e seu saudoso irmão Raphael Rabello, ambos então adolescentes. O grupo era uma espécie de embrião do que viria a ser a Camerata Carioca, sob o comando do gaúcho Radamés Gnattali. Quando Serra de Almeida (flautista do Tira-Teima) concedeu a primeira entrevista da série (publicada em março de 2013, mas realizada bem antes, o que dá ainda mais tempo de trabalho, melhor deixar essa conta pra lá), no extinto Kumidinha de Buteko, a capa do elepê decorava a parede e apareceu em uma das fotografias publicadas no jornal.

As pontas se ligam: Luciana Rabello assina a produção musical de Festejos [Acari Records, 2013], estreia de Alexandra Nicolas no mercado fonográfico, ela que fará uma participação especial durante a apresentação da amiga, um reencontro que promete arrepiar quem conhece o disco e se arrepender quem porventura ainda não (ou correr atrás do tempo perdido, nunca é tarde!).

As pontas se ligam: se, de meu lado, dedico o livro a José Antonio, afinal de contas para quem escrevo tudo o que escrevo, por outro, os irmãos Almeida Santos o dedicam a Raimundo Juruca, seu pai, que lhes ensinou a mais que gostar, a amar o Choro – o que tento fazer com José Antonio, que frequentou sua primeira roda aos nove meses de idade, com as presenças de ninguém menos que Zé da Velha e Silvério Pontes, na edição inaugural de RicoChoro ComVida na Praça, em agosto de 2016, na mesma Gonçalves Dias em que agora o Chorografia do Maranhão será lançado.

Ligam-se as pontas deste emaranhado, com texto de Chico Saldanha nas orelhas, apresentação de Luciana Rabello e posfácio de Cesar Teixeira. São muitas histórias, inclusive as nossas, já que o editor Bruno Azevêdo e o poeta Celso Borges, “testemunha de muito do que o livro diz”, nos entrevistaram para o volume.

Chorografia do Maranhão cumpre uma importante tarefa de mapear e contar as histórias dos personagens que desfilam por suas páginas, mas não só: também de toda uma geografia e afetividade que permeiam o Choro no estado.

Seu lançamento é, ao mesmo tempo, sinônimo de alegria e emoção, de um lado, e, de outro, a sensação de tirar um enorme peso das costas. Foram mais de cinco anos de trabalho entre a entrevista inicial e o livro. Que, convenhamos, com o constante interesse de jovens músicos e a consequente renovação da cena Choro, o que não é privilégio apenas do Maranhão, ainda bem, já nasce defasado: diante do surgimento de novos talentos, um volume dois já se insinua necessário, embora os chororrepórteres não prometam nada, ao menos por enquanto.

Grande parte das entrevistas do livro foi realizada em bares, redutos chorísticos por excelência. É hora de passar a régua, mas insistimos em pedir mais uma e mais um choro, por favor!

O que pensam os artistas maranhenses das eleições de 2018?

No próximo dia 13 de dezembro completam-se 50 anos do Ato Institucional nº. 5, vulgo AI-5, que dava ao ditador de plantão o poder de fechar o congresso nacional e, entre outras arbitrariedades, cassar mandatos de parlamentares. O famigerado AI-5 também suspendeu o habeas corpus e, entre outras mazelas, levou artistas brasileiros ao exílio.

O Brasil vivia os anos mais duros de uma ditadura civil-militar cujas sombras pairaram sobre o país por longos 21 anos. A democracia e a Constituição brasileiras são recentes; a segunda completou este mês 30 anos de promulgada. No entanto, ao contrário de vizinhos sul-americanos que também passaram por regimes autoritários, o Brasil nunca fez seu dever de casa, nunca acertou suas contas com o passado – o que nem de longe poderia ser visto como mero revanchismo.

Quando da votação do golpe que destituiu a presidenta legitimamente eleita pelo voto popular em 2016, o deputado federal Jair Bolsonaro dedicou seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que de “brilhante” tinha apenas o sobrenome: foi reconhecido como um dos mais sádicos torturadores produzidos nos porões da ditadura. Não à toa o hoje presidenciável fez questão de salientar, na ocasião: “o terror de Dilma Rousseff”.

Em qualquer outro lugar do mundo, Bolsonaro teria saído preso da sessão e muito provavelmente não voltaria ao parlamento, com o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar, no mínimo. Aqui, inchou feito cururu no sal e hoje é, como alertou o articulista Francisco Assis no jornal português Público, em artigo de opinião assim intitulado, “um canalha à porta do Planalto”.

A jovem e frágil democracia brasileira está ameaçada e não faltam avisos. A campanha de Jair Bolsonaro (PSL) é alicerçada por fake news, cujo combate tem sido ineficaz por parte das instituições. Declarações do presidenciável e cabeçadas entre ele e seu vice, o General Hamilton Mourão (PRTB) têm sido cristalinas sobre o que vem por aí, caso o capitão da reserva seja eleito.

O AI-5, que hoje em dia deveria ser tão somente objeto de estudo em escolas e universidades, volta a sobrevoar nossas cabeças como uma ameaça. O documento, entre outras questões obscuras, estabelecia a censura prévia de música, cinema, teatro, televisão, imprensa e outros meios de comunicação.

Causa-me espécie ver artistas, “as antenas da raça”, no dizer de Ezra Pound, defendendo a candidatura do pesselista, a despeito de o mesmo, além de todo o exposto, já ter declarado a intenção de extinguir o Ministério da Cultura – ou de entregar a pasta ao ator Alexandre Frota, recém-eleito deputado federal por São Paulo. Mais recentemente foi além e chegou a cogitar destino parecido para o Ministério da Educação.

Homem de vícios antigos enviou um e-mail com quatro perguntas sobre as eleições deste ano a mais de 50 artistas maranhenses ou radicados no Maranhão. Além dos artistas originalmente listados, abriu a consulta através do perfil de seu titular em uma rede social: a quem se interessasse em receber o questionário e participar, o blogue estava aberto. Isto é: apesar de o blogue ter lado e declará-lo – seu titular declarou, nas redes sociais, votos a Flávio Dino (PCdoB) para o governo do Maranhão, e Fernando Haddad (PT) para a presidência da república –, como por aqui somente o fizeram claramente a revista CartaCapital e a versão brasileira do jornal El País, a ideia original era ouvir quaisquer artistas que quisessem se manifestar.

O blogue recebeu apenas 10 respostas, entre os artistas que receberam o e-mail original e os que posteriormente solicitaram participar da entrevista. Curiosamente, todos declararam voto no candidato petista no segundo turno.

Responderam ao blogue os compositores Chico Saldanha [lançou ano passado Plano B, seu quarto disco], Gildomar Marinho [tem três cds lançados, Olho de Boi, Pedra de Cantaria e Tocantes, e dois gravados, Mar do Gil e Porta-Sentidos, a serem lançados em breve], Fábio Allex [lançou os cds Porta-Novas em 2013 e De volta ao passado que nunca vivi, em 2016] e Joãozinho Ribeiro [publicou em 2006 o livro-poema Paisagem feita de tempo; em 2013 lançou o cd Milhões de uns – vol. 1; ex-presidente da Fundação Municipal de Cultura de São Luís e ex-secretário de Estado da Cultura do Maranhão]; o cineasta Francisco Colombo [seu novo curta-metragem, Avesso, recebeu troféus de melhor trilha sonora, melhor ator coadjuvante e melhor fotografia na mostra competitiva maranhense do 41º. Festival Guarnicê de Cinema]; a artista plástica Babula Rosana [recebeu os prêmios Interações Estéticas e Residência Artística em Pontos de Cultura, e Economia Criativa, do Ministério da Cultura]; a cantora Tássia Campos [com o Trio 123, formado por ela, Camila Boueri e Milla Camões, lançou este ano o EP 123]; o escritor Franck Santos [lançou este ano o volume Poemas para dias de chuva, pela editora paulista Patuá]; e as poetas Samara Volpony [estreou com o volume de poemas Contramaré, ano passado, pela Patuá] e Adriana Gama de Araújo [estreou este ano com o volume de poemas Mural de nuvens para dias de chuva, pela editora Penalux].

Alguns dos artistas convidados a responder as quatro perguntas continuam manifestando nas redes sociais um pró-bolsonarismo baseado em fake news, memes e no discurso de ódio contra o PT e a corrupção, lugares comuns que têm sido a tônica da campanha da chapa militar. Talvez tenham optado pelo silêncio em relação à pequena entrevista por não terem o que defender no programa de governo e discursos de seu candidato em relação aos temas propostos.

A seguir, na ordem em que foram recebidas, as respostas dos 10 artistas às quatro perguntas de Homem de vícios antigos. As respostas enviadas não sofreram edição, tendo passado apenas por revisão, optando o blogue por preservar a íntegra das opiniões.

Homem de vícios antigos – O governador Flávio Dino foi reeleito em primeiro turno. Qual a sua opinião sobre o resultado?

O compositor Chico Saldanha. Foto: Francisco Colombo

Chico Saldanha – Resultado mais que esperado. Flávio Dino soube conduzir melhor a campanha explorando com facilidade a fadiga de material do grupo Sarney. Também passou para a população um sentimento de que tentou, apesar das dificuldades impostas pela crise criada com o impeachment, mudar alguns paradigmas na administração e também escolher  bem as prioridades onde iria investir.

O compositor Gildomar Marinho. Foto: Paulo Caruá

Gildomar Marinho – Acredito que o trabalho sério, com transparência e o cuidado com a coisa pública ajudam a explicar parte do sucesso desta reeleição de Flávio Dino. O leque de alianças e a boa performance pessoal ajudaram a consolidar o fim de uma era oligárquica, patriarcal, materializado na derrota dos seus representantes no Senado e na Câmara de Deputados. Tenho acompanhado, ainda que à distância, daqui do Ceará, a evolução das políticas públicas, notadamente nas áreas de educação, saúde, segurança pública e políticas afirmativas e de inclusão social. Este conjunto de motivos explica sua vitória, destacando que se dá em momento delicado para a democracia brasileira com a onda conservadora que se avolumou no Brasil.

O cineasta Francisco Colombo. Foto: Eduardo Júlio

Francisco Colombo – Acho que o trabalho foi reconhecido, em que pesem as contradições. Basta de família Sarney!

A artista plástica Babula Rosana. Foto: divulgação

Babula Rosana – Foi um ótimo resultado. Prova que a oligarquia Sarney não tem mais força no Maranhão.

O compositor Fábio Allex. Foto: divulgação

Fábio Allex – É a confirmação de que o Maranhão se libertou, ainda que tardiamente, do atraso personificado pela família Sarney. É o reconhecimento, sobretudo, das realizações que foram feitas no campo social, assim como o forte investimento na área da educação. Reflete o esforço e comprometimento que vem existindo, apesar da profunda recessão econômica do país. O estado entendeu que o caminho de mudanças deve continuar. Trata-se, inclusive, do governo mais bem avaliado do país. Apenas isso justificaria.

A cantora Tássia Campos. Foto: Quilana Viégas

Tássia Campos – Eu votei nele na primeira e na segunda eleição. Apesar de ter duras críticas à gestão da Sectur [a Secretaria de Estado da Cultura e Turismo do Maranhão], acredito que prum estado tão pobre como o nosso, o melhor é Dino, pra melhoria dos indicadores sociais e garantia de direitos humanos.

O escritor Franck Santos. Foto: divulgação

Franck Santos – Acho merecido! Eu votei nele na eleição passada e nessa também! Precisamos de renovação, de mudanças no estado e na capital. Como professor, acho que o governador Flávio Dino não se comprometeu ainda como deveria com nossa classe trabalhista, mas votei nele justamente esperando que nesses próximos quatro anos algo mude nesse sentido.

A poeta Samara Volpony. Foto: divulgação

Samara Volpony – O resultado retrata a sua excelente gestão. Destaco a maior participação popular, a educação de qualidade, a transparência e o rompimento com a velha política implantada no Maranhão. Se formos refletir, ainda falta muito para sermos o estado que queremos, mas reconstruir um estado que vivia há meio século nas mãos de uma única família não é das tarefas mais simples. Flávio Dino conseguiu, em quatro anos, retirar aquele retrato vergonhoso do Maranhão, as manchetes que sempre nos noticiavam negativamente, para dar lugar àquelas que nos mencionam como exemplo para o país, como na área de educação, em que nós, professores, temos o salário base mais alto do país, só para citar uma entre tantas.

A poeta Adriana Gama de Araújo. Foto: divulgação

Adriana Gama de Araújo – Acredito que quem detém o controle da máquina pública dificilmente não se reelege. Além disso, a possibilidade de um retorno dos Sarneys ao governo fez com que até os críticos da administração Dino votassem nele. Eu não. Ele poderia ter feito um primeiro mandato com investimentos reais no que se refere à educação. Não fez nada além do que governos anteriores fizeram: pintar paredes e propaganda. Sou professora da rede pública e a única coisa que espero é que desta vez ele cumpra tudo que a lei manda. Reajustes dos salários dos professores e escolas realmente dignas. Valorizar de fato a educação não é achar que o pouco que se faz é muito. É colocar tudo que envolve a educação como prioridade.

O compositor Joãozinho Ribeiro. Foto: Paulo Caruá

Joãozinho Ribeiro – O resultado reflete, antes de qualquer outro comentário, a ampla aprovação da gestão Flávio Dino, não somente pelo percentual de votos atingidos na eleição em primeiro turno, como pelas políticas públicas que chegaram de forma concreta aos segmentos mais necessitados da população, como saúde, educação, segurança, agricultura familiar e alguns outros serviços públicos básicos, vinculados diretamente às questões da cidadania e aos direitos humanos. Neste aspecto, também tem de ser alvo de destaque a responsabilidade fiscal que não escamoteou os investimentos e assegurou a regularidade de pagamento de salários, a despeito de outros estados considerados ricos que se encontram em situação de penúria, como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul. A reeleição de Flávio Dino, assegurando a continuidade da gestão, por outro lado representa um tiro de misericórdia na oligarquia Sarney e tudo que ela tem representado em vários campos da vida econômica, política e social do estado. Também representa um desafio sem precedentes para o próprio governo, cujas cobranças devem ser maiores e os compromissos da gigantesca coligação que deve apresentar as suas faturas políticas e administrativas, nem sempre coadunadas com o campo da licitude. Muitos desafios em algumas áreas deficitárias, do ponto de vista estratégico, como é o caso da Cultura e do Desenvolvimento Social também precisarão ser enfrentados.

Homem de vícios antigos – Em quem você vai votar para presidente no segundo turno? Por quê?

Chico Saldanha – Claramente em Fernando Haddad, porque foi na ditadura militar que criei consciência politica e cheguei à conclusão que a ditadura atrasou o país e cometeu uma série de atrocidades contra os direitos humanos. Aliás, fico com o vice-presidente [do marechal Artur da Costa e Silva, entre 1967 e 1969, o mesmo que decretou o AI-5] Pedro Aleixo: “na ditadura eu tenho mais medo é do guarda da esquina” e eu da mulher que chicoteou o carroceiro [referindo-se a uma eleitora de Jair Bolsonaro que, em São Luís, desceu de seu carro e agrediu um carroceiro com seu próprio chicote]. Retroceder 55 anos não faz parte dos meu planos A, B ou C [faz trocadilho com o título de seu disco mais recente]….

Gildomar Marinho – Em Fernando Haddad. Primeiro, pelo que representa sua candidatura, que traz em sua essência o projeto iniciado por Luiz Inácio Lula da Silva, interrompido pelos implacáveis ataques a partir de 2014, culminando com golpe parlamentar de 2016. A experiência de Haddad no Ministério da Educação em um dos momentos de maior expansão do ensino acadêmico da História do Brasil e sua performance à frente da prefeitura de São Paulo, denotam a figura capaz de enfrentar os desafios da Presidência do Brasil, especialmente neste conturbado momento.

Francisco Colombo – Haddad 13! É o candidato mais preparado, com as melhores propostas. Como se não bastasse isso, ele personifica a democracia e o outro o oposto, o autoritarismo, o fascismo.

Babula Rosana – Fernando Haddad. Por que me identifico com as propostas e para barrar que o outro candidato seja presidente do Brasil.

Fábio Allex – Não desejei essa configuração para o segundo turno. Votei em Ciro Gomes, não como “voto útil”, mas por entender que ele tinha o melhor projeto, além da representatividade que construiu ao longo da sua vida pública. Sou apartidário. Talvez isso me permita ter um olhar mais plural, desprovido de paixões por legenda ou personalidade. Consigo perceber a dualidade do PT, no que se refere ao desenvolvimento do país durante o governo Lula, além da posterior avalanche de corrupção na qual o partido se envolveu, ainda que não tenha sido uma exclusividade do partido. Não há relativização, há fatos. Diante do cenário, voto em Fernando Haddad. Um bom candidato, com boas propostas, que agora herda grande rejeição em virtude do antipetismo aclamado pelo país, mas que, de fato, não traduz o que ele pode oferecer. Ele pode, sim, ser uma continuidade do que foi no melhor momento. Já o candidato do PSL, vejo como a opção mais nefasta que pude acompanhar em uma eleição. É nítida a falta de preparo para assumir um cargo de tamanha importância, da falta de consciência política e social, até mesmo para os seus próprios eleitores, além de não ser menos nítido o discurso de ódio que ele profere. Votar nele virou lema de “combate à corrupção”, o que está longe de ser verdade. Ele é um incentivo para o Brasil se dividir cada vez mais. Porém, infelizmente, levando em conta o panorama, parece que essa realidade só será percebida na prática.

Tássia Campos – Votei no primeiro e votarei no segundo em Haddad. Nem tem dificuldade na escolha. É civilização ou barbárie. Fico com a democracia.

Franck Santos – Haddad, claro! Por que jamais votaria em Bolsonaro ou em quem não me representa como nordestino, gay e trabalhador.

Samara Volpony – Voto no Fernando Haddad e na Manuela D’Ávila. São os candidatos que apresentam o projeto de Brasil que eu desejo neste tempo de ódio e caos em que vivemos. Voto no Haddad porque em sua gestão como Ministro da Educação no Governo Lula permitiu a milhares de jovens terem a oportunidade de entrar numa universidade pelos Programas que criou: Fies, Prouni, pelo Enem. Sem esses programas, certamente, os mais pobres jamais teriam a chance de adentrar no Ensino Superior. Voto no Haddad por seu programa de governo na área da educação, na área da economia, na área da cultura. Voto no Haddad porque a sua proposta para o país contempla aqueles esquecidos socialmente, e eu, como artista e professora, só poderia estar ao lado de quem pensa em um Brasil mais justo e democrático.

Adriana Gama de Araújo – Votarei novamente no Fernando Haddad. Conheço o currículo dele. É um homem competente e com sensibilidade para o que de fato melhora a vida das pessoas: educação e respeito ao meio ambiente.

Joãozinho Ribeiro – Haddad 13, sem nenhuma dúvida! Pelo meu histórico de vida e de luta por uma sociedade mais justa, solidária e com oportunidades iguais para todos, já nem precisaria de justificativas. No entanto, as eleições de 2018 culminam com um processo de disseminação de ódio e violência que pode vir a ser institucionalizado, na figura de um candidato de extrema direita que defende uma pauta de intolerância e de extinção de direitos que a humanidade levou séculos para implementar. Embora com algumas críticas a todo o processo, que impediu que o candidato mais legítimo e aprovado pela população sequer pudesse concorrer às eleições presidenciais, temos que colocar a Democracia acima de tudo, que com toda certeza é o valor maior que está em jogo. O resto pode ser objeto de várias batalhas que se anunciam, mas que devem ter como campo preferencial o Parlamento, as redes, as ruas, os movimentos sociais, tudo dentro do marco constitucional, sem o ativismo jurídico-partidário-midiático, responsável por grande parte da crise política e institucional que hoje vivenciamos no país.

Homem de vícios antigos – Como você avalia as propostas dos dois presidenciáveis para a área cultural?

Chico Saldanha – Para te dizer a verdade acredito que Bolsonaro não tem a mínima noção do que seja projeto cultural, dado ao seu total despreparo para assuntos que não versem sobre violência. Pelas ações e diálogo com os produtores culturais quando esteve na prefeitura de São Paulo, acho que o projeto do Haddad ganha por WO [sigla de walkover, que significa a vitória de um time em razão da ausência do adversário].

Gildomar Marinho – Eu percebo, de um lado, a retomada da Cultura para o centro das discussões, como elemento estratégico de afirmação das diversas identidades da nação brasileira, a perspectiva de retomar as políticas culturais iniciadas no governo Lula, capitaneadas pelo ex-ministro Gilberto Gil, a retomada do planejamento estratégico do País, tendo a cultura como pilar desse desenvolvimento. Por outro lado, vejo na proposta do candidato conservador, a retomada de valores há muito descolados da realidade brasileira, além da promessa velada de extinção do próprio Ministério da Cultura.

Francisco Colombo – Haddad e equipe tiveram sensibilidade para entender que cultura é mais que mero diletantismo. O seu oponente, ao contrário, prega o desmonte das estruturas de fomento. Demonstra, reiteradamente, um desejo de vingança contra adversários, incluindo, obviamente, artistas.

Babula Rosana – Não conheço a fundo as propostas, mas deduzo que as do Bolsonaro devem ser as piores começando pelo convite ao Alexandre Frota para Ministro da Cultura. Por outro lado esse mesmo presidenciável diz que vai acabar com o Ministério da Cultura. Do Haddad, pela continuidade dos trabalhos que o PT já teve na área cultural acredito ser progressista e de continuidade dos projetos e processos democráticos e de repartição equivalente dos recursos e editais por todas as regiões do país.

Fábio Allex – Não dá para comparar, pois apenas Haddad tem proposta nessa área. O que não é surpresa. Inclusive, Bolsonaro tem interesse em acabar com o Ministério da Cultura e transformá-lo em uma secretaria. Contudo, sinto falta de um detalhamento nas propostas do petista. Mas, se colocadas em prática, a princípio, atenderia uma diversidade importante, quando diz que vai retomar o investimento em museus, fomentar espaços para a manifestação de povos indígenas, incentivar a leitura e literatura, regulamentar o direito autoral nos meios digitais, bem como tratar do desenvolvimento e ampliação da produção independente.

Tássia Campos – Bolsonaro quer extinguir o MinC [Ministério da Cultura]. Nem tenho o que dizer.

Franck Santos – Haddad promete rever o Plano Nacional de Cultura, o Sistema Nacional de Cultura e recursos ao Ministério da Cultura, enquanto Bolsonaro até agora não fez ou faz menção às políticas culturais. Um país sem cultura, educação, arte de um modo geral, não é um país!

Samara Volpony – Na verdade, nós temos apenas um candidato que tem propostas para a área cultural: o presidenciável Fernando Haddad. Repudio, enquanto artista que sou, a proposta do candidato Jair Bolsonaro em extinguir o Ministério da Cultura e a Lei Rouanet e ainda, tratar artistas como “vagabundos”. Seguindo o viés da nossa história, é bastante simbólico que o Ministério da Cultura tenha sido criado no período pós-ditadura militar e agora quererem extingui-lo. Mas não permitiremos esse retrocesso. Quanto à proposta do candidato Fernando Haddad, minha avaliação é bastante positiva. Seu programa de governo prevê uma política nacional para as artes que inclui sua produção, circulação e fomento das áreas, a reestruturação da Funarte [a Fundação Nacional de Artes, vinculada ao MinC], a retomada dos pontos de cultura e memória, priorizar pela Lei Rouanet coletivos da periferia, entre outros. Só podemos avaliar quem tem propostas.

Adriana Gama de Araújo – E Jair Bolsonaro tem propostas para a área cultural? Não vi, não. As propostas do Haddad são muito boas: fazer das manifestações artísticas e culturais um espaço para fomentar democracia, diálogo, diversidade, respeito. Conversar com quem faz e possibilitar caminhos de desenvolvimento e inclusão social.

Joãozinho Ribeiro – Infelizmente, só temos uma proposta para ser avaliada, pois o programa do candidato Jair Bolsonaro sequer dedicou uma linha para essa questão de tamanha relevância para um Brasil que pretende estar acima de tudo, dada a imensa diversidade cultural da nossa nação. Aliás, dos debates e entrevistas que tive a oportunidade de assistir entre candidatos a governador e presidenciáveis, essa questão em raríssimos momentos foi contemplada. Até mesmo no Maranhão, que se destaca pelo grande potencial criativo na área cultural, essa questão passou batida. Em matéria intitulada “Só 5 dos 13 presidenciáveis listam planos para cultura em programas de governo”, publicada na edição de 19 de setembro 2018, do jornal Folha de S. Paulo, o jornalista responsável pelo texto [o texto era assinado por Eduardo Moura, Isabella Menon, Guilherme Genestreti, Maria Luísa Barsanelli e Maurício Meireles] informava [Joãozinho cita trechos da matéria]: “No acalorado debate desta corrida eleitoral, pouco se ouve falar de cultura. Dos 13 candidatos à Presidência da República, apenas 5 descrevem projetos para a área em seus programas de governo. Poucos programas trazem projetos detalhados para o campo da cultura, alguns deles nem sequer tocam nesse assunto […]. Não há menções à área nas propostas de Jair Bolsonaro (PSL), atual líder nas pesquisas de intenção de voto, Cabo Daciolo (Patriota) e Henrique Meireles (MDB). Álvaro Dias (PODE) fala apenas em “cultura livre com Cartão Cultura”. José Maria Eymael (DC) lista pontos estratégicos, como “resgate e valorização da cultura e da identidade nacional”, mas não apresenta ações”. Já o programa de Haddad 13 lista um rol de compromissos que representam com legitimidade todo acúmulo de discussões e debates, transformados em planos, projetos e programas, das últimas três décadas, alguns deles inseridos na própria Constituição Federal, e outros refletindo os compromissos internacionais firmados pelo Brasil em tratados e convenções de tal magnitude, assim exemplificados em um trecho do programa [de governo do PT, registrado no TSE]: “cumprir a recomendação da Unesco e aumentar progressivamente os recursos para o MinC, visando alcançar a meta de 1% do orçamento da União”.

Homem de vícios antigos – Como você acompanha e avalia a atual divisão do Brasil, explicitada nas ruas e nas redes?

Chico Saldanha – Igual a você, Homem de vícios antigos, sou do tempo em que a pessoa que trazia dentro de si esse sentimento de raiva, de preconceito, de desrespeito às mulheres e homossexuais tinha muita vergonha de falar isso perto de quem quer que fosse. Por isso, às vezes, fico sem entender como várias pessoas, amigas, por sinal, embarcaram nessa insanidade.

Gildomar Marinho – Acompanho com bastante preocupação, notadamente, quando presenciamos elementos típicos do fascismo, como a intolerância, a desconstrução dos diferentes, o nacionalismo, a xenofobia, a LGBTfobia, com dosagens preocupantes de violência, com mortes e mutilações já registradas. As redes sociais têm se configurado verdadeiros campos de batalhas medievais, em uma espécie de vale-tudo para a aniquilação de seus oponentes que, em muitos casos, são gente do seu próprio sangue. O resultado é esta preocupante escalada da violência. Por outro lado, acompanho uma boa parte da sociedade afirmando-se com incrível senso de justiça, de civilidade e consciência de si e do seu meio. Espero que o bom senso seja vencedor.

Francisco Colombo – Como consequência do golpe político-jurídico-midiático. Desde 2013 a direita se comporta de maneira muito agressiva. Em 2014 não aceitou a derrota de Aécio [Neves, recentemente eleito deputado federal por Minas Gerais] pra Dilma. De lá pra cá, com a participação explícita do judiciário, via [o juiz Sérgio] Moro e Supremo [Tribunal Federal], as coisas caminharam para a ameaça real do fascismo nos empurrando para o precipício.

Babula Rosana – Esquizofrênica. Desinformação, manipulação da mídia e ajuda internacional para o candidato Bolsonaro.

Fábio Allex – É um mal que assola a sociedade, tendo como pauta a intolerância, a qual, no fim das contas, resume-se em uma briga partidária resultante de uma generalização. Enquanto se deveria dialogar com forças diferentes e discutir problemas reais, cai-se nesse embate contraproducente. É algo fortalecido com a figura do Bolsonaro, mas com imensa contribuição do PT. É a busca por uma suposta honra que desonra ainda mais. Só quem perde com tudo isso é o próprio país.

Tássia Campos – Tô assustada com tanta desinformação. Creio que é bem pior que ignorância. A violência está sendo legitimada pelo discurso do tal Bolsonaro. Não acredito em divisão do Brasil, acredito que o fascismo saiu do armário. Ele tava só escondido.

Franck Santos – Acompanho não só com temor como com horror, não só nas redes sociais como no corpo a corpo, com as pessoas próximas, seja nas relações familiares, de amizade ou nos locais de trabalho. Tenho muito medo do que está por vir, tenho medo dos dias sombrios, tenho medo do que possa acontecer às minorias. Tenho estado muito triste e quase deprimido. Também cansado de tentar que essas pessoas compreendam e tenham discernimento para o que é melhor, ou menos pior, para as pessoas dos meus círculos, seja virtualmente ou pessoalmente. O geógrafo Milton Santos já disse muito tempo que há “vários brasis dentro do Brasil” e estamos vendo e sentido isso na pele, olhos e coração.

Samara Volpony – Tenho acompanhado diariamente as redes sociais e também no dia a dia. O que tenho ouvido é um discurso inflamado e a relação com o outro cada vez mais comprometida: de um lado os que votam no candidato A e de outro os que votam no candidato B. As redes sociais viraram palanque do ódio, do rebaixamento do outro, e os que antes eram anônimos ganham fãs, legiões daqueles que concordam com seu pensamento, por mais grosseiro que seja. A minha avaliação é de imenso pesar, porque as pessoas perderam a capacidade de se compadecer, de ter empatia, de ouvir o outro e de pensar no outro. Esses são princípios que aprendi durante minha infância e que vou levar para sempre. As pessoas têm levado esse momento tão delicado, como se estivessem em uma partida de futebol, ainda não se deram conta da imensa responsabilidade que traz o momento, que é um princípio básico de humanidade: pensar no outro.

Adriana Gama de Araújo – O Brasil sofre de uma falta de conhecimento crônica. A nação foi “se fazendo nas coxas” e estas nem eram as do povo. Embora nós a sustentemos, nós não a pensamos. Infelizmente. E com a facilidade da circulação de informação por causa da internet e das redes sociais, as pessoas adquiriram uma falsa noção de conhecimento. Ninguém conhece nada e pensa que sabe de tudo. Política sempre foi para o povo brasileiro sinônimo de “roubalheira” e agora quem está “na mídia” como ladrão-mor é o PT. Uma parte da população decidiu lutar cegamente contra “esse mal”; a outra parte ainda acredita que “a esperança vai vencer o medo” e a corrupção. Estou ao lado dos esperançosos. Justiça cega é suicídio coletivo.

Joãozinho Ribeiro – Para mim, a grande divisão do Brasil deste momento é em grande parte circunstancial, embora não negligencie o perigo do ódio e da intolerância que se avolumaram de 2013 para cá, insuflados, irresponsavelmente, e em grande parte, pela mídia e pelo fundamentalismo religioso, além do ativismo judicial-partidário. Para mim, a grande divisão tem raízes profundas e permanentes na desproporcional desigualdade, que cega as pessoas e que as transformam numa espécie singular de um tipo de analfabetismo inusitado, assim conceituado pelo poeta Mário Quintana: “O maior analfabeto político não é aquele que não sabe ler, mas que, sabendo, se recusa a fazê-lo”. Estamos esquecendo justamente de fazer uma leitura do mundo e de suas grandes expectativas, mergulhados num analfabetismo brutalizado pelo preconceito, pela discriminação e pelo fascismo, ressurgindo em variadas formas em todos os cantos do planeta. Este ano a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 70 anos, as grandes revoltas estudantis de 1968, a Primavera de Praga e o famigerado AI-5, 50; a Constituição da República Federativa do Brasil, 30. Portanto um ano que merece ser prestigiado pela afirmação da cultura da paz e pelo reencantamento do mundo.

Um repertório que já nasce clássico

Foto: Francisco Colombo

 

Foi a cantora Lena Machado, quando de sua participação, quem sintetizou o sentimento de quem compareceu ontem (20) ao Anfiteatro Betto Bittencourt (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande), quando Chico Saldanha lançou Plano B, seu mais recente disco, o quarto da carreira, em um show de bolso.

“Para mim é uma honra enorme estar aqui, participar deste disco, deste show. Este aqui é o Plano B De Buriti”, afirmou juntando a faixa-título com a música que cantam juntos, num trocadilho feliz – o disco quase muda de nome durante a elaboração do projeto gráfico. “Saldanha é imprescindível, é dessas pessoas que se não existissem a gente mandava fazer de buriti”, afirmou a cantora, o feitiço a favor do feiticeiro.

Um bom público foi prestigiar o compositor. A cidade tinha diversas opções a custo zero, como seu lançamento. Muita gente conhecida se reencontrava na plateia, mas a animação geral não tirou a atenção do que realmente importava: o desfile do bom repertório de Plano B, em que Saldanha foi acompanhado por Marquinhos (bateria e percussão), Rui Mário (sanfona), Luiz Jr. (violão sete cordas e guitarra) e Marcão (contrabaixo).

Saldanha abriu com Clichês e passeou por Afeganistão, Ela só queria ser Ella, Ela se move, Remoto botequim, Choro de memórias. É impressionante, e não sei se digo isto por estar por dentro do processo (meu nome figura, baita honra, como assessor de comunicação na ficha técnica do disco), mas a impressão é a de já conhecer aquelas músicas há tempos. Como se já nascessem clássicas.

Ou no dizer de Flávio Reis: “Saldanha é um artesão. Demora, leva um tempo de um disco pra outro”, a média de intervalo é de 10 anos, “mas não faz besteira”. Eu fico realmente feliz de ouvi-lo tocar no rádio, além do Santo de Casa.

Única música do repertório de ontem que não figura em Plano B, Itamirim, daqueles clássicos que a maioria das pessoas canta sem conhecer a autoria, fechou a noite como se espera quando se toca um hino: todo mundo cantando junto.

Foto: Francisco Colombo

O artesanato musical de Chico Saldanha

[release]

Compositor lança Plano B, quarto disco de sua carreira

Plano B. Capa. Reprodução

Chico Saldanha tem importância fundamental para a moderna música popular produzida no Maranhão. Para ficarmos em apenas dois bons exemplos: foi ele quem tocou, ao violão, para Papete, as músicas que viriam a emocionar o publicitário Marcus Pereira, que imediatamente tratou de garantir seu registro no antológico Bandeira de aço (1978); como integrante da primeira formação do Regional Tira-Teima, ao violão, acompanhou Chico Maranhão no igualmente antológico Lances de agora (1978), também lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira. Os dois álbuns são considerados divisores de águas. O resto é história.

Consciente de seu papel e lugar, e sem afobação, o rosariense só estrearia em disco solo 10 anos mais tarde, no LP homônimo Chico Saldanha (1988), que traria ao menos um clássico de nossa música popular: a toada Itamirim, interpretada por Tião Carvalho. Antes, Saldanha já havia prestado reverência e registrado em disco, ao lado dos então também produtores Giordano Mochel e Ubiratan Sousa, as vozes e talentos singulares de Agostinho Reis, Antonio Vieira, Cristóvão Alô Brasil e Lopes Bogéa, no compacto Velhos moleques (1986).

Levou 10 anos entre a estreia de Saldanha e o segundo disco, Celebração (1988). A média se manteve entre estes e os títulos seguintes: Emaranhado (2007) e o recém-lançado Plano B (2017). Dois motivos parecem justificar tanta espera entre um e outro: o primeiro é que o advogado de formação realiza seus trabalhos às próprias custas; o segundo é o capricho com que ele mesmo cuida de cada detalhe. Modesto, ele cita a poeta polonesa Wisława Szymborska: “a imperfeição é mais fácil tolerar em doses pequenas”.

Plano B reúne algumas características comuns à carreira de Saldanha, sem que isso signifique mais do mesmo. Está lá sua versatilidade como compositor (sozinho ou em parceria assina as 11 faixas da bolachinha), passeando por balada, blues, reggae, xote, bumba meu boi, tango, choro e bolero, com pitadas de brega – “Chico sempre o aborda com uma ironia muito particular” – e “a lírica amorosa quase sempre presente”, como destaca o poeta Celso Borges em texto no encarte.

Entre os temas abordados comparecem o jazz (Ela só queria ser Ella), a guerra conjugal (na bem-humorada Afeganistão), a dor de cotovelo (a faixa-título, Fio desencapado, Mano a mano e Remoto botequim, que cita o Tango pra Teresa, de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, além dos cantores de tango Carlos Gardel e Armando Manzanero), a São Luís de outrora (Choro de memórias), a dança (Ela se move) e o amor (De buriti), além de diálogos com o cinema (Pano rápido) e a música eletrônica (Clichês).

Participação especial mais constante dos discos de Saldanha, Zeca Baleiro comparece em Clichês, que abre o disco, muito além do que promete o título. Na faixa eles ligam os londrinos da Groove Armada com o madredivino Cristóvão Alô Brasil. Milla Camões faz o vocalize em Ela só queria ser Ella, invocando a homenageada. Nosly divide o vocal com Saldanha em Ela se move, parceria deles com Jamil Damous (cunhado de Saldanha que faleceu após as gravações), que cita os bailarinos Mikhail Baryshnikov e Rudolf Nureyev. Lena Machado fecha o time de participações especiais imortalizando um dito popular da região do Turi, no interior do Maranhão, em De buriti (Saldanha/ Jamil Damous).

O disco tem arranjos e direção musical de Luiz Jr. (guitarra, violão, violão sete cordas, viola caipira) e conta ainda com músicos como Daniel Cavalcanti (trompete), Kleuton (contrabaixo), Rui Mário (teclado e acordeom) e Wanderson Silva (percussão), entre outros. O projeto gráfico é de Amanda Simões, sobre peças artesanais (em fibra de buriti) de Vilma Rosane, fotografadas por Beatriz Maia.

Plano B é um disco delicado, comovente e vigoroso. A cada disco, Saldanha sempre nos leva a pensar que “valeu a pena esperar”. O título soa também como uma metáfora para alguém que passou a vida se dividindo entre o expediente das repartições e a música. Quem sabe agora, aposentado do plano a, não careçamos esperar tanto entre um Plano B e outro do artista – agora em tempo integral.

SERVIÇO

Chico Saldanha lança Plano B em show no próximo dia 20 de julho (quinta-feira), às 19h, no Anfiteatro Betto Bittencourt (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande), com entrada gratuita.