Encontro de gerações marca estreia da temporada 2022 de RicoChoro ComVida na Praça

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Projeto terá três saraus presenciais em agosto; o primeiro acontece sábado (6) e tem como atrações a dj Josy Dominici, Regional Caçoeira, Djalma Chaves e Vinaa

O cantor e compositor Djalma Chaves. Foto: divulgação
O cantor e compositor Vinaa. Foto: Enzo Hofmann

Artistas de distintas gerações, os maranhenses Djalma Chaves e Vinaa se encontram no próximo sarau musical do projeto RicoChoro ComVida na Praça, que acontece neste sábado (6), às 19h, na Praça do Letrado (Vinhais), inaugurando a temporada 2022 do projeto.

Se o primeiro geralmente é mais associado com a música popular brasileira, poderíamos dizer que o segundo está mais para o pop. Em comum, ambos têm como marcas de seu trabalho o zelo com a qualidade e a estreita relação com suas origens.

Uma das mais bem sucedidas canções de Djalma Chaves é “Santo milagreiro”, composta inspirada nos festejos de São Raimundo dos Mulundus, em sua Vargem Grande natal. O trabalho mais recente de Vinaa é “Fé de Alimária”, disco que traz no título o nome de sua avó e é uma profunda pesquisa pelo cancioneiro maranhense, com um repertório formado por releituras de nomes que vão de Catulo da Paixão Cearense, Coxinho e João do Vale a Betto Pereira, Erasmo Dibell e Josias Sobrinho, entre outros.

O Regional Caçoeira. Montagem. Divulgação

Os dois artistas serão acompanhados pelo Regional Caçoeira, formado por Wendell Cosme (cavaco e bandolim), Wanderson Silva (percussão), Tiago Fernandes (violão sete cordas) e Ricardo Mendes (saxofone e flauta). A temporada 2022 de RicoChoro ComVida na Praça tem direção musical de Rui Mário.

A dj Josy Dominici. Foto: divulgação

A noite contará ainda com discotecagem da dj Josy Dominici, uma das pioneiras na discotecagem de reggae, um espaço ainda majoritariamente masculino, tendo integrado a equipe África Brasil Caribe, do dj Ademar Danilo. Sua apresentação no projeto RicoChoro ComVida na Praça marca um retorno da dj ao circuito, já que sua última aparição aconteceu em 2010, quando passou a se dedicar a outros projetos, de empreendedorismo e empoderamento negro e feminino.

O sarau RicoChoro ComVida na Praça é uma realização da Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt, com produção de RicoChoro Produções Culturais e Girassol Produções, que agradecem o apoio do Deputado Federal Bira do Pindaré para sua realização, através de emenda parlamentar destinada à Prefeitura Municipal de São Luís, através da Secretaria Municipal de Cultura.

Arte na luta contra a fome – RicoChoro ComVida na Praça é parceiro da campanha “Pacto pelos 15% com fome”, da ONG Ação da Cidadania. Interessados/as poderão se cadastrar como voluntários/as, fazer doações e/ou conhecer melhor a campanha, que busca minimizar os efeitos da tragédia nacional: atualmente mais de 33 milhões de brasileiros não têm o que comer. O objetivo do “Pacto pelos 15% com fome” é “promover uma grande aliança entre entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores, para atuarem na linha de frente no combate à fome e às desigualdades sociais”.

Acessibilidade cultural – O evento é gratuito e aberto ao público e possui acessibilidade cultural, com a oferta de assentos preferenciais, banheiros adaptados, audiodescrição e tradução simultânea em libras, a língua brasileira de sinais.

Divulgação

Serviço

O quê: sarau RicoChoro ComVida na Praça
Quem: dj Josy Dominici, Regional Caçoeira, Djalma Chaves e Vinaa
Quando: dia 6 (sábado), às 19h
Onde: Praça do Letrado (Vinhais)
Quanto: grátis
Informações: @ricochoro (instagram e facebook)

Dylan e Marley serão homenageados no sarau Vinil e Poesia

Tertúlia é retomada hoje pela dj Vanessa Serra e terá como convidado o poeta Fernando Abreu

Bob Dylan. Foto: Press Association/AP. Reprodução
Bob Marley. Foto: reprodução

Em 1989 o hoje oitentão Gilberto Gil lançou “De Bob Dylan a Bob Marley – um samba-provocação”, um dos tantos libelos antirracistas de sua vasta obra, faixa de “O eterno deus Mu dança”. Diz o baiano no refrão: “Bob Marley morreu/ porque além de negro era judeu/ Michael Jackson ainda resiste/ porque além de branco ficou triste”.

Bob Marley (1945-1981), primeiro artista pop de fama internacional, tornou-se o rei do reggae e tornou o gênero jamaicano um dos mais populares ao redor do mundo. Bob Dylan (1941-), com suas letras épicas quilométricas, levou o Nobel de literatura em 2016, para o qual sua obra musical pesou sobremaneira.

A dj anfitriã do sarau Vinil e Poesia Vanessa Serra. Foto: Marco Salles. Divulgação
O poeta Fernando Abreu em entrevista ao saudoso Radioletra, na Rádio Timbira AM. Foto: Zema Ribeiro

Ambos serão homenageados hoje (21) na retomada do sarau Vinil e Poesia, tertúlia poético-musical-etilírica-afetiva capitaneada pela jornalista e produtora cultural Vanessa Serra, a dj anfitriã. O convidado de hoje é o poeta Fernando Abreu, que tem nos Roberts Nesta e Zimmerman, dois artistas de sua predileção.

O poeta explica a gênese da ideia: “já tem pelo menos uns cinco anos que venho pensando em juntar canções desses dois gigantes em um recital. Contemplamos fases bem diversas dos dois, desde os primeiros discos, com um tratamento que privilegia a poesia das letras, buscando pontos de contato com os poemas. Acho que conseguimos”, aposta.

Em dezembro de 2019 este repórter participou da primeira edição do sarau Vinil e Poesia. Na ocasião, disse alguns poemas de Marcelo Montenegro e Paulo Leminski, dois de meus poetas preferidos. E Vanessa Serra levava livros de sua biblioteca particular, com destaque para autores maranhenses, para estimular a participação do público.

Eram tempos pré-pandêmicos – mas disso não tínhamos como saber, à época. O sarau tomou corpo no Cazumbá Lounge, na Lagoa, à época da primeira administração. Mas a primeira vez que o nome Vinil e Poesia foi usado na divulgação remete ainda à temporada que a dj realizou no restaurante Flor de Vinagreira, na Praia Grande, quando o performer Hélio Martins participou de uma das edições, recitando um poema da maranhense Lúcia Santos.

A interação de artistas da música e da poesia e do público, que passou a se interessar por presenciar o evento semanal, além de eventualmente subir ao palco, consagrou o evento, cujos encontros acabaram migrando para o formato virtual, com o avanço da pandemia de covid-19 e suas consequentes restrições. O Vinil e Poesia passou a acontecer às quartas-feiras, com transmissão pelo canal da dj no instagram – os primeiros convidados foram os cantores e compositores Josias Sobrinho e Jorge Thadeu. Aos domingos pela manhã, a princípio também pelo instagram e, posteriormente, pelo twitch, ela também realizada a Alvorada, do quintal de sua casa, que logo angariou uma audiência fiel.

As adesões de artistas ao projeto e seu formato despojado redundaram no elepê “Vinil e Poesia”, que teve metade da tiragem doada para djs e formadores de opinião. Realizado com recursos da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, o disco tem 14 faixas, está disponível também nas plataformas de streaming e é quase um milagre, pelo tempo recorde de produção e a constelação reunida, que inclui nomes como As Brasileirinhas, Betto Pereira, Célia Leite, Celso Borges, César Nascimento, Eloy Melônio, Jorge Passinho, Josias Sobrinho, Lúcia Santos, Mano Borges, Nosly e Zeca Baleiro, entre outros.

“Quando o disco chegou foi aquela felicidade tamanha. Você vê um produto seu que você pode pegar, um sonho que foi realizado de forma tátil, com a adesão de pessoas tão significativas, capa de Betto Pereira. Foi uma coisa muito especial. Até hoje, quando eu paro para pensar, eu digo “meu Deus, como foi que eu consegui?”, e eu só consegui porque eu não fiz nada só. Nós tivemos uma equipe maravilhosa, com a participação fundamental do estúdio Zabumba Records, com a produção executiva de Suzana Fernandes e direção artístico-musical de Luiz Cláudio. A gente conversava, eu dizia como eu queria, como eu pensava, ele me mostrava, e deu super certo. Em um mês nós conseguimos realizar a gravação desse disco. 14 faixas em um mês é uma coisa absurda”, relembra Vanessa Serra, que levou o prêmio Papete na Festa da Música do Maranhão em 2021 com este trabalho.

“Eu costumo receber mensagens de djs, me dizendo que estão tocando o disco, eu ouço o disco na rádio, a alegria maior é ver essa música reverberar, que é o grande propósito de ter feito esse disco, ter essa produção fonográfica do Maranhão, com artistas dessa magnitude em circulação por todo o país”, celebra a dj, que reuniu 22 artistas em 14 faixas, entre poetas, cantores e compositores. Ela pretende lançar um segundo volume em breve.

“Eu e Fernando Abreu sempre conversamos, ele também participou da live, ele me mandou uma música, “Meio Bob, meio Marley”, e eu disse que era boa, e na hora deu pra perceber que era um brasileiro cantando. E era ele. Aí eu fui rever a live, como o papo fluiu, e ele me disse que estava fazendo algumas experimentações. Aí deu a vontade de a gente repetir a dose”, lembra Vanessa.

Autor de “Relatos do escambau” (1998), “O umbigo do mudo” (2003), “Aliado involuntário” (2011), “Manual de pintura rupestre” (2015) e “Contra todo alegado endurecimento do coração” (2019), Fernando Abreu não é um neófito quando o assunto é levar poemas das páginas dos livros para o palco, esteja ele montado numa biblioteca, numa praça ou num bar.

“A curtição de estar no palco vem desde os tempos heróicos da Akademia dos Párias [grupo de estudantes/poetas que agitou a cena literária e boêmia da ilha, em meados da década de 1980], e permanece até hoje. Não vamos fazer um show de música, mas um recital de poesia e música. Sou um cantor apenas na medida em que todo poeta é um cantor, embora minha ligação com a canção popular antiga e profunda, de influência mesmo. Nesse caso, versões livres de canções de Marley e Dylan, ambas em parceria com Celso Borges, dão conta dessa intimidade. Ou seja, a experiência de letrista está ligada à experiência com poesia de uma forma geral”, afirma o poeta, que teve os dois livros mais recentes publicados pela carioca 7Letras, mesma editora por que lançará “Esses são os dias”, ainda este ano – o público presente ao sarau de hoje terá oportunidade de ouvir em primeira mão, alguns poemas deste volume vindouro.

“Estamos todos muitos sofridos, as dores da pandemia se somam ao horror de um governo perverso e genocida. Precisamos de alento, e esse projeto, com a coragem e a vontade de pôr a poesia em cena, é um grande alento e alimento para muita gente. E é com o propósito de contribuir, de oferecer também algum alimento, que estamos participando, eu e Lucas Ferreira [multi-instrumentista e letrista da Babycarpets, sobrinho do poeta], com grande alegria”, convida Fernando Abreu.

O evento muda de palco e hoje reencontrará seu público em formato presencial no Soul Lounge SLZ (Av. Litorânea, Calhau), às 20h – o couvert artístico individual custa R$ 12,00.

Luiz Jr. Maranhão homenageia Papete em show

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Repertório prestigia músicas que se tornaram clássicas na voz do artista, mas vai além; apresentação terá participações especiais de Josias Sobrinho, Djalma Chaves, Ribinha de Maracanã, dj Pedro Sobrinho e convidado surpresa

O cantor, compositor e multi-instrumentista Luiz Jr. Maranhão. Foto: Ton Bezerra. Divulgação

O legado de Papete será lembrado em show em homenagem ao artista, falecido em 2016. O bacabalense José de Ribamar Viana, seu nome de batismo, é considerado um embaixador da cultura popular maranhense, que ele ajudou a tornar mais conhecida mundo afora. Em 1978 lançou o elepê “Bandeira de aço” (Discos Marcus Pereira), considerado um divisor de águas na música popular brasileira produzida no Maranhão.

O show “Canta Papete”, do cantor, compositor e multi-instrumentista Luiz Jr. Maranhão acontece neste sábado (4), às 21h, no Estaleiro Gastrobar (Rua do Trapiche, Praia Grande, próximo à Praça dos Catraieiros e Casa do Maranhão). O repertório, além dos clássicos do “Bandeira de aço” – assinados por Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Ronaldo Mota e Sérgio Habibe –, passeia por outros compositores gravados por Papete em sua discografia, por músicas que ele gravaria (caso de “Matraca matreira”, de Joãozinho Ribeiro) e por homenagens (“Terreiro”, que Luiz Jr. Maranhão compôs em homenagem a Papete e gravou em seu disco com a participação do homenageado).

“O repertório consiste nas músicas consagradas pelo Papete, começando pelo “Bandeira de aço”, mas eu dei uma atualizada, fazendo um exercício de pensar também em músicas que Papete poderia ter gravado, músicas atuais da cultura popular do Maranhão, além de três músicas autorais, “Saudade de São João”, que eu lancei o videoclipe ano passado, “Zabumbada na ilha” e “Boizinho guerreiro”, que eu fiz em parceria com Celso Borges”, antecipa Luiz Jr. Maranhão.

Luiz Jr. Maranhão (violão sete cordas, guitarra e viola caipira) será acompanhado por Dark (bateria), Marquinhos Carcará (percussão), Cleuton Silva (baixo), Edinho Bastos (guitarra), Murilo Rego (teclado), Danilo Santos (saxofone e flauta) e Hugo Carafunim (trompete). O show contará ainda com as participações especiais do dj Pedro Sobrinho e dos cantores e compositores Josias Sobrinho, Djalma Chaves e Ribinha de Maracanã, além de uma participação surpresa.

Os ingressos custam R$ 50,00 (individual), R$ 90,00 (casadinha) e R$ 250,00 (mesa) e podem ser reservados ou adquiridos antecipadamente pelo telefone/whatsapp (98) 99112-5481 (Tatiana Ramos). A produção é da RicoChoro Produções Culturais.

Serviço
O quê: show “Canta Papete”
Quem: Luiz Jr. Maranhão e banda. Participações especiais: Josias Sobrinho, Djalma Chaves, Ribinha de Maracanã, dj Pedro Sobrinho e convidado surpresa
Onde: Estaleiro Gastrobar (Rua do Trapiche, Praia Grande; próximo à Praça dos Catraieiros e Casa do Maranhão)
Quando: dia 4 (sábado), às 21h
Quanto: R$ 50,00 (individual), R$ 90,00 (casadinha) e R$ 250,00 (mesa)
Informações, reservas e vendas antecipadas: (98) 99112-5481 (Tatiana Ramos).
Produção: RicoChoro Produções Culturais.

“Violivoz”: Chico César e Geraldo Azevedo para êxtase da plateia

Fotos: Hebert Alves. Divulgação

Foi uma noite de fartura.

O cearense Lucas Ló, radicado há cinco anos em São Luís, desfiou um repertório inteiramente nordestino, com especial destaque para o ídolo conterrâneo Belchior, com bastante personalidade.

Acompanhado por Jessé Fonseca, num teclado cheio de balanço e personalidade, passeou ainda por nomes como Fagner, Djavan, Carlinhos Veloz, César Nascimento, Sérgio Habibe e Josias Sobrinho.

Aos pedidos insistentes de “Barco de papel”, joia de sua autoria, respondeu com um educado “já rolou”; o pedido partia dos que adentraram a sala atrasados. Um dos nomes mais sofisticados da noite ludovicense, Ló se apresentou por cerca de hora e meia preparando o terreno para a noite inesquecível que viria, ao mesmo tempo sendo parte dela.

Não faltaram clássicos como “Apenas um rapaz latino-americano”, “Pequeno mapa do tempo”, “Alucinação”, “Fotografia 3×4”, “A palo seco” e “Mucuripe”, da lavra de Belchior, esta última em parceria com Fagner, “Noturno” (Graco/ Caio Silvio), “Serrado” (Djavan), “Ilha bela” (Carlinhos Veloz), “Ilha magnética” (César Nascimento), “Eulália” (Sérgio Habibe) e “Engenho de flores” (Josias Sobrinho).

“Se alguém me dissesse, há cinco anos, quando saí do meu Ceará, que hoje eu estaria aqui, abrindo o show dessas duas figuras centrais na minha formação, nesse teatro lotado, eu não acreditaria. É um momento muito importante para mim”, revelou Ló, agradecendo a presença do público, em cujo repertório se destaca ainda a também autoral “Ode a São Luís”, inédita, em que ele, de certo modo canta sua rota e a receptividade com que foi acolhido na ilha do amor. Uma avant-première aos atentos que chegaram cedo.

Quando Chico César e Geraldo Azevedo subiram ao palco, a cama estava pronta.

“Violivoz” é um show vigoroso e sincero. Sobem ao palco sem firulas, dizendo logo a que vieram: atacam a introdução de “Táxi lunar” (Alceu Valença/ Geraldo Azevedo/ Zé Ramalho), mas antes de cantarem, emendam a “Cantiga (Caicó)”, das Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos, sucesso de Teca Calazans, com alterações na letra, a homenagear suas terras natais e reafirmar a admiração mútua: “oh, mana, deixa eu ir/ oh, mana, eu vou a pé/ oh, mana, deixa eu ir/ para o sertão de Catolé”, começa Chico, referindo-se a Catolé do Rocha, na Paraíba, seguido por Geraldo: “oh, mana, deixa eu ir/ andar é minha sina/ oh, mana, deixa eu ir/ para o sertão de Petrolina”, e depois: “oh, mana, deixa eu ir/ oh, mana, eu vou cedo/ oh, mana, deixa eu/ cantar com Geraldo Azevedo” e “oh, mana, deixa eu ir/ andar com quem me preza/ oh, mana, deixa eu/ cantar com Chico César”. A determinada altura de “Táxi lunar”, Geraldo Azevedo solta um “vai, Zé!” e Chico César imita a voz de Zé Ramalho. E era apenas o primeiro número.

O vigor a que me referi diz respeito ao fato de a dupla cantar e tocar – e por vezes dançar – por duas horas e 15 minutos de espetáculo, de pé. A sinceridade é percebida na admiração mútua várias vezes declarada. Um é fã do outro, os dois se tornaram amigos e parceiros. Geraldo Azevedo, ao lembrar de como se conheceram, convidado a gravar uma música de Chico César em um disco produzido por Totonho, que homenageava as vítimas da chacina da Candelária, no Rio de Janeiro, nunca lançado, já percebeu ali suas qualidades. Depois, quando Chico lançou “Aos vivos” (1995), seu disco de estreia, revelou ter comprado 50 exemplares e distribuído a amigos, produtores, em suas turnês pelo Brasil e Europa. “O Belchior, que é da minha geração, dizia que “nossos ídolos ainda são os mesmos” e Chico César era um ídolo novo e eu queria apresentá-lo pra todo mundo”, disse Geraldo. Chico completou: “Belchior também dizia que “o novo sempre vem”” e revelou a influência exercida sobre o então adolescente pelo disco “Cantoria 1” (1984), que registrou o encontro de Geraldo com Elomar, Vital Farias e Xangai.

“Para mim é uma alegria muito grande dividir o palco com Geraldo Azevedo, é uma baita honra vê-lo cantando uma música minha”, declarou Chico, depois de cantarem juntos “Estado de poesia” (Chico César).

É um show de entrega. Não há momentos solo de um e outro artista. Eles cantam juntos o tempo inteiro o repertório um do outro e de artistas admirados, casos de Geraldo Vandré (“Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando)” é emendada a “Mama África”, de Chico), Milton Nascimento e Caetano Veloso (“Paula e Bebeto”, gravada por Geraldo em 1979) e Paul Anka (a versão de Fred Jorge para “Diana”). Ninguém se cansa: nem os artistas no palco, nem a plateia. Todo mundo em comunhão. Ou quase.

Quando Chico César anunciou que cantaria “outra canção de amor, de nosso amor pela Terra, pelos pequenos agricultores, uma parceria minha com Carlos Rennó”, e atacou de “Reis do agronegócio”, um coro de “Fora Bolsonaro!” se ouviu no Centro de Convenções. Uma tentativa de vaia, raquítica, foi encoberta, e prevaleceu a vontade da maioria. Outros gritos de “Fora Bolsonaro!” vieram e Chico César, numa sequência demolidora, mandou, sempre acompanhado por Geraldo Azevedo, “Pedrada” (Chico César), cujo refrão diz: “fogo nos fascistas, fogo Jah!”. “Essa música, a primeira vez que eu cantei, foi em cima dum trio elétrico, num carnaval, aqui em São Luís, para 100 mil pessoas, e eu fiquei muito contente com a receptividade”, lembrou.

Em “Bicho de sete cabeças” (Geraldo Azevedo/ Renato Rocha/ Zé Ramalho), passaram perto de 10 minutos solando seus violões, até cada um cantar uma parte da letra, sem as sobreposições que a tornaram um clássico. Comentaram a pandemia, o isolamento social, a gênese do show, após Chico ter assistido a um show de Geraldo em São Paulo e terem ido para a casa do primeiro, depois do espetáculo, tocar violão na cozinha. Tocaram duas parcerias, uma inédita e o single “Nem na rodoviária”, já disponível nas plataformas de streaming.

São duas gerações de artistas, convivendo harmoniosa e respeitosamente, Geraldo aos 77 anos, Chico aos 58. Têm a mesma grandeza e importância. Nenhum se sobressai ao outro e o equilíbrio é também uma característica de destaque do show. São dois artistas que, cada um a seu tempo, souberam cativar o público de São Luís – suas apresentações por aqui são sempre marcadas por casas cheias e intensa interação das plateias. Ontem não foi diferente.

Perto do fim do show, Geraldo apenas ameaçou cantar “Terra à vista” (Carlos Fernando). Puxou o “San, san, san, São Luís do Mará” do refrão, que a plateia imediatamente repetiu em coro, mas deixou apenas a vontade no público. Alguém na plateia, insistentemente pedia “Pétala”, não o sucesso de Djavan, mas abreviando o título de “Pétala por pétala” (Chico César/ Vanessa Bumagny). “A gente vê muito homem ansioso, mulher é menos. A mulher goza melhor por que ela goza depois, goza mais e melhor; o homem é sempre aquela pressa, de querer gozar logo”, contou para gargalhadas da plateia e o não-atendimento ao pedido renitente.

Chico César citou vários amigos, maranhense ilustres, afirmando ser uma honra estar mais uma vez em sua terra: Papete, Rita Benneditto, Josias Sobrinho, Chico Saldanha, Flávia Bittencourt, Alcione. E Celso Borges, a quem fez especial deferência: “foi quem me apresentou a Zeca Baleiro. A gente já morava em São Paulo e ele um dia me disse: olha, tem um amigo meu, do Maranhão, vindo morar aqui, é meio doidinho assim que nem tu, não é bem compreendido em nossa terra; isso naquela época, e eu entendi de cara o que ele queria dizer”, contou, para risadas da plateia. Em seguida ofereceu-lhe “Você se lembra” (Geraldo Azevedo/ Pippo Spera/ Fausto Nilo).

Também cantaram juntos “Pedra de responsa” (Chico César/ Zeca Baleiro) e na sequência Geraldo puxou, a capella, o refrão de “Cadê meu carnaval” (Geraldo Azevedo), que ele cantou, modificando a letra: “Olê lê lê/ cadê meu carnaval?/ olê lê lê/ cadê meu carnaval?/ carnaval está chegando/ cadê meu carnaval?” – a letra original diz “carnaval está morrendo”. O público ficou cantando enquanto eles se retiraram do palco.

Aos gritos de mais um, retornaram, para delírio dos presentes, mandando o clássico “Dona da minha cabeça” (Geraldo Azevedo/Fausto Nilo), em arranjo de reggae. Já não havia mais ninguém sentado, praticamente todo mundo cantava junto e alguns casais arriscavam uns passos.

Um final apoteótico de um show antológico, de uma turnê adiada e interrompida pela pandemia de covid-19, indefinidamente prorrogada pela irresponsabilidade de uns poucos que insistem em querer um Brasil feio e triste, justamente o contrário do colorido das roupas dos artistas e da diversidade que sua música representa, afinal de contas o Brasil alegre e festeiro, que haverá de prevalecer. Espero que este dueto, esta cantoria, este grande encontro, vire disco. Oxalá!

Saraus online de RicoChoro ComVida já têm data

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Ano passado o público não pode fazer o que estava acostumado ao longo do segundo semestre: ir para as praças de São Luís prestigiar o projeto RicoChoro ComVida na Praça, já consolidado no calendário cultural ludovicense, que há quatro temporadas estimula o diálogo entre o Choro e a riqueza da música popular brasileira, passando, obviamente, pela diversidade da cultura popular do Maranhão.

A RicoChoro Produções Culturais, no entanto, gravou três saraus em formato online. As gravações aconteceram nos estúdios da TV Guará, em formato talk show, com edições apresentadas por Ricarte Almeida Santos.

Passaram pelo palco os grupos Quarteto Crivador, Regional Caçoeira e Choro da Tralha, e os cantores Anastácia Lia, Dicy, Elizeu Cardoso, Josias Sobrinho, Neto Peperi e Regiane Araújo.

Serviço – A transmissão dos saraus pela TV Guará (canal 23.1 na tevê aberta; 21 na TVN; 323 na Sky HD; e 23 na Net) acontecerá dias 5 (às 22h30), 6 (às 18h) e 7 de fevereiro (também às 18h).

Veja a seguir uma pequena amostra do que vem por aí: Regiane Araújo, acompanhada do Regional Caçoeira, interpreta o clássico “Naquela mesa”, que Sérgio Bittencourt compôs em homenagem a seu pai, o revolucionário Jacob do Bandolim (aproveite e se inscreva no canal RicoChoro Produções Culturais no youtube para não perder as novidades):

Das praças às telas: RicoChoro ComVida terá três edições virtuais em 2020

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Apresentações musicais ocorrerão em formato talk show; diálogo de grupos de choro com artistas de vertentes distintas da música popular está mantido nas lives do projeto

O Quarteto Crivador. Da esquerda para a direita: Marquinho Carcará, Rui Mário, Wendell de la Salles e Luiz Jr. Maranhão. Foto: divulgação

Num ano atípico como 2020, o público de São Luís foi privado ao que já estava acostumado no segundo semestre: os tradicionais saraus do projeto RicoChoro ComVida na Praça, que percorrem diversos logradouros públicos da capital maranhense.

Mas os chorões e choronas apreciadores da iniciativa, além de curiosos em geral, não ficarão órfãos: RicoChoro ComVida na Praça terá edições em formato online, uma espécie de live talk show, com apresentação de Ricarte Almeida Santos e produção de Girassol Produções Artísticas, realizadas com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, administrados pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma).

RicoChoro ComVida, portanto, este ano não será na praça, mas online: três saraus manterão a proposta do projeto, de estimular o diálogo entre o choro e outras vertentes da música popular brasileira, através do encontro de um grupo de choro e cantores e cantoras, de gêneros e gerações distintas.

As lives serão gravadas nos estúdios da TV Guará e ainda não têm data para ir ao ar. No formato de talk show, Ricarte Almeida Santos conversará com os grupos e artistas convidados, numa espécie de entrevista musicada, bastante dinâmica.

Na primeira live, o Quarteto Crivador – formado por Marquinho Carcará (percuteria), Luiz Jr. Maranhão (violão sete cordas), Rui Mário (sanfona) e Wendell de la Salles (bandolim) – recebe como convidados Dicy e Josias Sobrinho; na segunda, é a vez do Regional Caçoeira – Tiago Fernandes (violão sete cordas), Wendell Cosme (cavaquinho e bandolim), Lee Fan (flauta e saxofone), e Wanderson Silva (percussão) – dialogar musicalmente com Elizeu Cardoso e Regiane Araújo; e por último, Anastácia Lia e Neto Peperi serão recebidos pelo Choro da Tralha, formado por João Eudes (violão sete cordas), João Neto (flauta), Gabriela Flor (pandeiro) e Gustavo Belan (cavaquinho).

Os grupos – O Quarteto Crivador, que leva o nome de um dos tambores da parelha do tambor de crioula, e o Caçoeira, nome de um instrumento de pesca, têm em seu DNA musical a mescla do choro com gêneros da cultura popular do Maranhão. O Choro da Tralha formou-se para tocar no sebo e botequim homônimo, recentemente fechado, temporariamente, em razão da pandemia. Apresentava-se aos domingos, mas acabou conquistando outros palcos. Sua sonoridade e formação remetem aos primeiros regionais surgidos no Brasil.

Os convidados – Homens e mulheres de gerações distintas e enorme talento, conheça um pouco do perfil dos artistas convidados das lives de RicoChoro ComVida em 2020.

Dicy iniciou sua trajetória musical cantando na igreja, na infância. Integrou o trio vocal Flor de Cactus, que acompanhou Wilson Zara na noite imperatrizense. Artista engajada, tem um disco solo gravado, “Rosa semba”.

Josias Sobrinho é um dos grandes mestres da música popular brasileira produzida no Maranhão. Figurou no repertório do antológico “Bandeira de aço” (Discos Marcus Pereira, 1978), lançado por Papete, considerado um divisor de águas da música produzida por aqui.

Elizeu Cardoso é um artista plural: professor de geografia, escritor, locutor e programador de uma webrádio, o cantor e compositor é dos artistas que melhor faz a ponte entre a música popular produzida no Maranhão e as raízes ancestrais africanas.

Regiane Araújo tem formação em Ciências Sociais e é uma artista que dá voz a denúncias sociais. Participou do Festival BR-135 e recentemente foi selecionada pelo Conecta Música para a produção de um videoclipe. O videoclipe de sua música “Tirem as cercas” é sucesso de público e crítica.

Anastácia Lia é um dos grandes talentos de sua geração, transitando com desenvoltura por diversas vertentes musicais. Nasceu em berço musical, sendo descendente de fundadores da Turma do Quinto. Atualmente é intérprete da Favela do Samba e uma das organizadoras do anual Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba. Artista engajada, tem na música um instrumento de combate ao racismo e outras formas de discriminação.

Neto Peperi é ex-vocalista e cavaquinhista do grupo Espinha de Bacalhau, lendário nas noites de São Luís. Cantor e compositor inspirado é um dos mais talentosos representantes do gênero que por aqui consagrou nomes como Cristóvão Alô Brasil, Cesar Teixeira e Zé Pivó, entre outros que costuma incluir em seu repertório.

Do bar ao vinil

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Ao longo de um ano de “Vinil & Poesia”, a dj Vanessa Serra reuniu a nata da música e poesia produzidas no Maranhão; o resultado pode ser conferido no elepê que leva o nome do projeto

Vinil & Poesia. Capa. Reprodução

Em dezembro do ano passado, em casa de nome mais que apropriado, o Cazumbá Lounge, na Lagoa, a dj Vanessa Serra estreou seu projeto “Vinil & Poesia”, aliando duas paixões.

Já era uma dj consagrada, apesar do pouco tempo de estrada. Jornalista de formação e produtora de profissão, só começou a levar a discotecagem a sério em 2016. Sem firulas, como escrevi em seu release oficial, que tive a honra de escrever a pedido.

Não me peçam impessoalidade: fui o primeiro a subir àquele palco, recitando Paulo Leminski e Marcelo Montenegro, dois poetas de minha predileção, e é impossível não lembrar disso com emoção.

Além dos vinis de seu ofício, Vanessa Serra havia levado uns livros, priorizando autores e autoras maranhenses, instigando o público a participar. O que no início tinha jeito de brincadeira, tomou ares sérios, mas não ficou algo careta. Às quartas-feiras, a tertúlia semanal começou a receber poetas e músicos como convidados, para canjas ao vivo, durante o set da dj.

Aí veio a pandemia. O isolamento social. O lockdown. As inúmeras lives que foram/fomos inventando e reinventando para suportar a saudade da vida social, de ir ao bar, de jogar conversa fora, de ouvir boa música nas companhias de amores e amigos. Entre elas o “Vinil & Poesia”, que Vanessa Serra nunca deixou de fazer, mesmo quando foi obrigada ao formato online.

Somente recentemente, com a liberação de eventos de pequeno porte, observadas as normas de segurança sanitária vigentes, ela voltou a realizar o evento ao vivo, a partir do Cazumbá Lounge.

O projeto já era vitorioso ao estimular o diálogo entre música de qualidade e tirar a poesia do lugar solene da página do livro e levá-la ao bar, para ser dita e ouvida por gente atenta, curiosa e esperta. Gente antenada, enfim. Mas uma vitória de um a zero é menos gostosa que uma goleada e Vanessa Serra marca mais um golaço: 14 participações de artistas nas noites do “Vinil & Poesia” estão registradas em um disco de vinil. É luxo só, como diria o poeta.

“Vinil & Poesia” é uma realização de VS Comunicação e Cultura, com patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. Gravado no estúdio Zabumba Records, reúne uma constelação de primeira grandeza da música e poesia produzidas em terras maranhenses.

Na ordem de aparição, Lúcia Santos diz seu poema “No umbigo da noite insana”; Célia Leite zabumba em “Pedras de cantaria” (parceria dela com Jorge Passinho, que faz participação especial na faixa); Mano Borges evoca os ares oitentistas da intensa produção musical maranhense daquela década em “Duas ruas desertas”, de sua autoria; “De São Marcos a São José” nos conduz, pelo sotaque, ao Vale do Pindaré, na parceria de Eloy Melônio e Josias Sobrinho, cantada por este; “Esse tu” é mais uma delicada amostra da parceria profícua de Celso Borges e Nosly, que a interpreta; “Tanto fogo” (Jorge Passinho/ Inaldo Lisboa/ Maninho Quadros), interpretada por Dicy, com participação especial de Santacruz, mete o dedo em ferida atualíssima da tragédia brasileira; César Nascimento cantando o xote “João do Vale, minha homenagem”, de sua autoria, fecha o lado A do disco.

O lado B abre com a voz de Celso Borges em seu poema/toada hi-tech “Tambor de crioula”; “Chovia no canavial”, com que Zeca Baleiro presenteou o projeto, ganha interpretação especial do grupo As Brasileirinhas; o multifacetado Jorge Thadeu comparece com “Guajajara”, de sua autoria; “Ventre livre”, de Luís Du Rosário, é a bela estreia em disco de um artista que não encarou a música como profissão, apesar do imenso talento; Gerude relê o clássico “Jamaica São Luís”, parceria sua com Cyba Carvalho; Betto Pereira comparece ao disco para além da embalagem: canta o reggae “Nação vibration”, parceria sua com o jornalista Gilberto Mineiro; e Tutuca Viana fecha o álbum com a balada “Luz de neon”, que escreveu em parceria com João Marques.

A riqueza deste álbum está no atrito entre poesia e música, para além da leitura de poemas com fundo musical e da pergunta mofada “letra de música é poesia?”, num diálogo estimulante entre gêneros, gerações e a diversidade da cultura popular do Maranhão, ao mesmo tempo plural (pela variedade) e singular (certas coisas só existem por aqui).

“Aqui conseguimos reunir um belo roteiro de canções… Acordes e versos, palavras e tons, memórias profundas, alimento para a alma da gente… “Vinil & Poesia”, de fato, é uma imensidão de sentimentos… É coletividade, pertencimento, entrega e amor”, sintetiza a jornalista, dj e produtora Vanessa Serra em texto na contracapa do elepê.

Ela assina a concepção do projeto e direção geral, que tem direção técnica de Maurício Capella (companheiro de arte e vida), direção artística de Luiz Cláudio, direção musical de João Simas, produção executiva de Suzana Fernandes e produção técnica de Joaquim Zion (seu padrinho no ofício da discotecagem). As artes de capa, contracapa e encarte são de Betto Pereira e o projeto gráfico é de Eric Félix. O álbum é dedicado “à memória, vida e obra de Raimundo Nonato Rodrigues de Araújo (Maestro Nonato), Nonato Buzar, Papete e Gérson da Conceição”.

Muita gente procura o bar para espairecer e vai ao lugar certo. Outros afogam mágoas e também não estão no lugar errado. Alguns, no dia seguinte, querem esquecer o que fizeram. Vanessa Serra eterniza um momento bonito e importante, de um projeto frequentado por “gente fina, elegante e sincera”. Agora, mesmo quem não sai à noite, não frequenta bares ou não curte um drinque, pode levar “Vinil & Poesia” para casa. A inscrição “volume 1”, que lemos na capa do disco, já nos leva a responder, como naquele velho rock: mais uma dose? É claro que eu tô a fim.

Serviço – A live de lançamento de “Vinil & Poesia”, com a presença dos artistas que participam do álbum, será realizada dia 16 de dezembro (quarta-feira), às 20h, com transmissão simultânea pelos perfis da dj Vanessa Serra no instagram e youtube. O projeto é uma realização de VS Comunicação e Cultura, com patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (Secma), com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc.

Olha, moço, eu vim parabenizar Josias Sobrinho

O compositor Josias Sobrinho, circa 1970. Foto: acervo pessoal
O compositor Josias Sobrinho em show em Teresina/PI, circa 1978. Foto: Assaí/ Acervo pessoal/ Josias Sobrinho

 

Certa feita brinquei com Josias Sobrinho: seu estúdio deveria se chamar Tramaúba, não Opus. Tramaúba, o nome do povoado que ele nasceu, à época Penalva, hoje Cajari. De Cajari pra capital, de pra lá da Ponta d’Areia para o mundo. Falo de um de nossos maiores compositores, gravado por nomes como Betto Pereira, Cláudio Pinheiro, Ceumar, Chico Maranhão, Diana Pequeno, Flávia Bittencourt, Leci Brandão, Lena Machado, Papete, Rita Benneditto e Xuxa, entre muitos outros.

Conheci Josias Sobrinho antes mesmo de conhecê-lo, embalado por suas toadas que conheço, aprecio e canto desde a infância, com que fui ninado e com que ninei meu filho. Cara de pau que sou, há muito tempo entreguei-lhe em mãos um poema que escrevi, quando ele dava expediente em sua extinta livraria Espaço Aberto, na Rua do Sol. Levou mais de 10 anos, mas ele musicou o poema – que virou uma toada de boi de zabumba. Depois eu colocaria a letra na melodia de um tango seu e até aqui este é o tamanho de nossa parceria musical.

No início do mês, entrevistei-o numa edição do TimbirAlive; quem perdeu (ou quer ver de novo) pode conferir no IGTV da Rádio Timbira AM (@radiotimbira, no instagram). Um bate-papo descontraído, em que ele brindou a audiência e o repórter com duas de suas antológicas criações: Engenho de flores e Bacurau pragueiro. Só então me toquei que nunca o havia entrevistado, não formalmente, não diante de câmera ou com um gravador ligado – apesar dos muitos anos de amizade, parceria, alguns espaços comuns de trabalho e a admiração que nutro desde sempre por este cidadão do mundo que não tira o chapéu pra qualquer vagabundo.

Se uma entrevista formal, digamos, era algo inédito, não faltam ao currículo generosas doses de boa conversa regada a laudas e laudas de cachaça temperada, sobretudo no balcão do Batista, a lendária cachaçaria na Travessa da Lapa, no Desterro, onde é proibido fotografar e, por conta de uma selfie, uma vez fizemos um juramento ao proprietário de nunca mais por os pés ali – quebrado quase imediatamente após a cura da ressaca, potencializada pela mistura decorrente de querermos sempre experimentar ou relembrar vários sabores, o máximo de sabores, numa mesma rodada.

Se as regras de isolamento social têm nos impedido de atualizar o papo pessoalmente e de dar um abraço idem no dia de seu aniversário, vulgo hoje, significa apenas uma coisa: no capitalismo afetivo, tudo o que atrasa também deve ser pago com juros e correção etilírica.

*

13 músicas para você conhecer ou admirar ainda mais Josias Sobrinho:

Os cinco melhores álbuns imaginários brasileiros de todos os tempos

É ideia que me persegue há algum tempo, e só agora a falta do que fazer na quarentena, por força da pandemia de coronavírus (covid-19), me permite por no papel – ou melhor, aqui nos bits e bytes da internet.

Falta do que fazer é modo de dizer: tenho conseguido sobreviver à reclusão forçada graças às minhas coleções de discos (reais) e livros (idem), além de serviços de streaming, da internet em geral e, obviamente, da companhia dela.

Mas há tempos penso nestes discos que muito provavelmente nunca serão gravados e consequentemente lançados. Se um dia forem, certamente farão a alegria de muita gente.

Uma vez, numa edição da Aldeia Sesc Guajajara de Artes, dedicaram uma noite ao choro. Consultado sobre a programação, sugeri dois espetáculos, que acabaram acatados pela curadoria e aconteceram: a Praça Nauro Machado, na Praia Grande, foi palco de uma (quase) reedição do Recital de música brasileira, com Célia Maria (voz) e João Pedro Borges (violão); e do encontro, no mesmo palco ao mesmo tempo, dos grupos Instrumental Pixinguinha e Regional Tira-Teima. Lembro-me da história para dizer que certas ideias, às vezes, podem se concretizar, por mais malucas que possam parecer.

Capa imaginária de disco imaginário. Desenho de Zema Ribeiro
Capa imaginária de disco imaginário. Desenho de Zema Ribeiro

Arari Irará, de Tom Zé e Zeca Baleiro – O maranhense nasceu em São Luís mas passou a infância em Arari, anagrama de Irará, cidade natal de Tom Zé. A primeira é famosa por sua melancia e O abacaxi de Irará mereceu até música do baiano (faixa de Se o caso é chorar, de 1972). A capa do disco evoca a banana de Andy Wahrol na capa do clássico The Velvet Underground & Nico (1967).

Metonímia, de Odair Cabeça de Poeta e Paulinho Boca de Cantor – A figura de linguagem que toma a parte pelo todo, como ensinam os livros de gramática, intitula o álbum dividido pelos baianos, menos conhecidos do que deveriam. Cabeça de Poeta é parceiro de Tom Zé e com o Grupo Capote uniu forró e rock (forrock) antes de Alceu Valença; Boca de Cantor integrou (e integra, nas eventuais voltas que o grupo dá) os Novos Baianos.

Lances de aço (ou Bandeira de agora) – Em 1978, Papete e Chico Maranhão fizeram história ao lançar, pela gravadora Discos Marcus Pereira, discos considerados divisores de água na música popular produzida no Maranhão. O primeiro, com Bandeira de aço, em que cantava composições de Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Ronaldo Mota e Sérgio Habibe; o segundo, com Lances de agora, de repertório completamente autoral. Lances de aço (ou Bandeira de agora) reúne Chico Maranhão e os quatro “compositores do Maranhão” (como grafado na capa de Bandeira de aço) em releituras das 20 faixas que somam os dois álbuns.

Os Novos Novos Baianos, de Pedro Baby, Betão Aguiar, Davi Moraes, Bem Gil e Moreno Veloso – Pedro Baby (filho de Baby do Brasil e Pepeu Gomes), Betão Aguiar (filho de Paulinho Boca de Cantor), Davi Moraes (Moraes Moreira), Bem Gil (Gilberto Gil) e Moreno Veloso (Caetano Veloso)  se unem em um disco coletivo, relendo criações de baianos como os pais, além de Tom Zé, Dorival Caymmi, Riachão, Batatinha, Roque Ferreira e João Gilberto.

Roberto Carlos canta Sérgio Sampaio, de Roberto Carlos – Dois dos mais ilustres filhos de Cachoeiro do Itapemirim (os outros são Rubem Braga e Luís Capucho), no Espírito Santo, unidos em um mesmo álbum. 26 anos após o falecimento do autor de Eu quero é botar meu bloco na rua, finalmente o Rei realiza o sonho do fã: é conhecida por todos a vontade de Sampaio ser gravado por Roberto, para quem compôs Meu pobre blues, que abre o tributo.

Em show hoje Karleyby Allanda reverencia Josias Sobrinho

A cantora Karleyby Allanda. Foto: divulgação
A cantora Karleyby Allanda. Foto: divulgação

 

As trajetórias de Josias Sobrinho e Karleyby Allanda guardam ao menos uma semelhança: se ele, moço, veio “de pra lá da Ponta d’Areia”, fixando residência na capital e tornando-se um dos mais reconhecidos compositores do Maranhão, ela, já gozando de certo prestígio em sua Imperatriz natal, há oito anos sentou praça na Ilha, onde torna-se cada vez mais conhecida.

Hoje (28), às 21h, ela sobe ao palco do Taberna da Bossa (Praça dos Catraieiros, Praia Grande) para apresentar o show O cancioneiro de Josias Sobrinho, em que interpretará 20 músicas do compositor, entre consagradas, lados b e inéditas.

Em Renascer, disco de estreia que deve lançar mês que vem, ela catou, no cofo do penalvense, Meu amanhã e Requebra no compasso, que o público conhecerá em sua voz, a intérprete somando-se ao vasto time dos que já gravaram sua obra: A 4 Vozes, Betto Pereira, Ceumar, Chico Maranhão, Cláudio Lima, Cláudio Pinheiro, Diana Pequeno, Flávia Bittencourt, Leci Brandão, Lena Machado, Papete, Salomão di Pádua e Xuxa, entre outros.

Com a faixa-título do futuro lançamento, de sua autoria, Karleyby Allanda foi recentemente classificada no Festival de Música do Sintsep. Aos poucos as coisas estão acontecendo para a artista que ama cantar e se divide entre os ofícios da música, do ensino (é professora da rede pública estadual) e da graduação em Direito, que cursa após ter se graduado em Letras e se especializado em Literatura Contemporânea.

Outra semelhança entre o compositor homenageado na noite de hoje e a intérprete está num verso de Terra de Noel, uma das músicas do repertório: “não vou tirar meu chapéu pra qualquer vagabundo”. Com seu chapéu e seu violão, Josias reverencia mestres como o Noel Rosa que homenageia já no título de uma de suas mais conhecidas criações. Karleyby lembra o ensinamento de outros ícones, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, e dá a Josias “flores em vida”, como ensinou o par.

Completam a noite de celebração Wilson Zara – amigo de Karleyby desde os tempos de Caneleiros Bar, em Imperatriz, onde ela fez suas primeiras apresentações –, que fará o show de abertura, o também imperatrizense Chico Nô e Zé Paulo, que farão participações especiais. Karleyby Allanda sobe ao palco acompanhada de Carlos Raqueth (contrabaixo), Fofo (bateria), Guilherme Raposo (teclados) e Jayr Torres (violão, guitarra e direção musical). O couvert artístico individual custa R$ 10,00.

No rastro do Bandeira de aço

[O Imparcial, ontem]

Como o LP de Papete tentou ser imitado por uma geração, que acabou presa a um rótulo-sigla e a herança às novas gerações

ZEMA RIBEIRO

Bandeira de aço. Capa. Reprodução
Bandeira de aço. Capa. Reprodução

No rastro da repercussão do LP Bandeira de Aço [Discos Marcus Pereira, 1978], em que Papete interpretava composições de quatro compositores maranhenses, elementos da cultura popular do Maranhão foram definitivamente absorvidos pelas classes médias e elites locais. Antes, era “folclore” de um lado e música erudita ou popular para outro.

As primeiras experiências de hibridização vieram justo de um grupo de artistas que, alguns anos antes, fundou o Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte) e mergulhou na pesquisa de nossas raízes. Como se as missões folclóricas de Mário de Andrade passassem pelo Maranhão com 50 anos de atraso.

O compositor Josias Sobrinho. Foto Fafá Lago
O compositor Josias Sobrinho. Foto Fafá Lago

“Quando me incluí no grupo, no primeiro semestre de 1973, a turma já estava integrada. O trabalho girava em torno do teatro, mas cada um de nós compositores fazia sua parte, em sua busca individual de um trabalho próprio. A reação do público tinha os componentes do momento histórico: cenário político, preconceito social, de gênero, de pele, de cultura. Por minha parte ouvi algumas vezes que essas músicas não eram adequadas”, relembra Josias Sobrinho, autor de quatro faixas do Bandeira de aço.

No rastro, toda uma geração acreditou estar ali uma fórmula para o sucesso, apesar de o ex-publicitário Marcus Pereira não produzir com a cabeça no mercado. “A impressão que eu tenho é de que a geração do Bandeira de aço é uma espécie de Clube da Esquina desunido, sem continuidade”, provoca o músico Pablo Habibe, sobrinho de Sérgio Habibe, outro dos compositores gravados por Papete.

“O mercado aqui ainda é pequeno e devia ser insignificante na época. Gosto de pensar que o Bandeira de aço poderia ter sido grande nacionalmente se eles agissem como os mineiros e lutassem juntos pelo disco, divulgando no sul do país e tudo mais. Quem sabe, um Bandeira de aço II poderia ter saído. Tio Sérgio, Chico Maranhão [compositor não gravado em Bandeira de aço, mas que lançou no mesmo ano, também pela Marcus Pereira, o igualmente antológico Lances de agora], Josias e Papete, juntos, como uma banda, teria sido incrível”, continua.

O fato é que, aprisionados pelo rótulo da “Música popular maranhense” e a sigla bastarda MPM, nenhum disco lançado por um artista ou banda no Maranhão, ao longo dos próximos quase 20 anos alcançaria o nível estético de Bandeira de aço, não à toa eleito o melhor disco da música produzida no Maranhão em todos os tempos em enquete realizada pelo jornal Vias de Fato.

Pablo Habibe aposta em uma explicação. “Enquanto o pessoal do Bandeira de aço tem bossa nova, folclore, Clube da Esquina, incluindo uma inconfessável dose de rock progressivo e Beatles, a MPM era voltada para a ideia de fazer sucesso no rádio pela imitação imediata da programação. Eles atiravam pra todo lado: ora faziam reggae, imitavam Alceu Valença e sua trupe, voltavam para João do Vale, músicas românticas que soavam de novela… Tinham e têm todo o direito de fazer isso e conseguiram produzir algumas músicas bem bacanas, mas quero dizer que é uma geração, a da MPM, marcada pela perseguição do sucesso e não por uma estética musical especifica. O foco era outro”, defende.

Curiosamente, as coisas só parecerão mudar de figura quase 20 anos depois, com as estreias fonográficas de dois maranhenses que rumaram para o eixo Rio-SP, caminho natural de quase todos os maranhenses que alcançaram alguma repercussão nacional: Zeca Baleiro e Rita Ribeiro [hoje Benneditto], que em 1997 lançaram Por onde andará Stephen Fry? e Rita Ribeiro, respectivamente, ambos pela MZA Music, de Marco Mazzola, lenda viva da indústria fonográfica nacional.

Alê Muniz e Luciana Simões convergiram suas estradas musicais quando juntos inventaram o duo Criolina, hoje com dois discos e um EP gravados, responsáveis por tributos ao LP Bandeira de aço ocorridos desde 2013, quando o LP completou 35 anos, reunindo seus compositores (exceto Ronaldo Mota, o único que mora no Rio de Janeiro) e a nova geração, de nomes como Afrôs, Bruno Batista, Dicy Rocha e Madian e o Escarcéu. Hoje vivendo em São Luís do Maranhão, o casal Criolina é responsável por uma importante movimentação da cena autoral a partir do Festival BR-135, sucesso de público, crítica e intercâmbio – e frisamos o último aspecto pelo fato de o festival tanto trazer artistas de fora para deleite do público maranhense quanto servir de vitrine para artistas locais que, a partir dele, acabam conquistando outros palcos.

O cantor e compositor Tiago Máci. Foto Carla Pedraça
O cantor e compositor Tiago Máci. Foto Carla Pedraça

Onde e em quê isso vai dar, difícil responder. O jovem compositor Tiago Máci aponta, entre as principais diferenças entre aquela e sua geração, fatores como o mercado. “O mercado é uma coisa que mudou totalmente e isso acaba mudando todo o contexto de plateia, formação de plateia, não o talento ou a qualidade musical”, aponta.

“Isso de MPM talvez tenha trancado um pouco a própria música daqui, regionalizando uma coisa que na verdade é universal. Tanto que outros produtos musicais que talvez não se enquadrassem na MPM não é considerado MPM mesmo sendo feito aqui ou por gente daqui: Zeca Baleiro, Rita Ribeiro, Alcione. É uma coisa que parece que, saindo daqui, já não é mais regional, ficando aqui é regional”, confunde Máci, artista confessadamente influenciado por Cesar Teixeira, autor da faixa-título de Bandeira de aço.

Entre outras influências, Máci comenta: “o mais massa é que geralmente nossos ídolos de referência estão quase todos mortos, como Sérgio Sampaio, Noel [Rosa], Gonzaguinha. E [Marcos] Magah é um desses [ídolos], mas com ele eu tomo um café, compomos juntos, e ainda diz que é meu fã [risos]. E não menos que isso: está vivo [mais risos]”. A recíproca é verdadeira.

*

Ouça o disco Bandeira de aço:

Bandeira de aço: documentário sobre o disco é disponibilizado no youtube

No dia 28 de maio de 2013 vários artistas subiram ao palco do Teatro Arthur Azevedo para celebrar os 35 anos de Bandeira de aço, antológico disco de Papete, lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira, em 1978. A iniciativa era do Festival BR 135, capitaneado pelo casal Criolina, leia-se, Alê Muniz e Luciana Simões.

No disco, vencedor de enquete do jornal Vias de Fato, Papete cantou nove músicas, os primeiros registros fonográficos das vastas, importantes e belas obras de Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Ronaldo Mota e Sérgio Habibe.

Por ocasião do espetáculo, um documentário foi exibido, contando a(s) história(s) do disco, destacando sua importância, e botando o dedo em feridas. O filme tem depoimentos dos quatro compositores e do intérprete, além de nomes como Chico Saldanha (compositor que fez chegar a fita com as canções às mãos e ouvidos de Marcus Pereira) e Zeca Baleiro, entre outros.

Com roteiro de Celso Borges e Andréa Oliveira, o documentário (finalmente) foi disponibilizado pela produção, na íntegra, no youtube. Assista:

Laborarte comemora 43 anos com vasta programação

Trupe do Laborarte em foto de data e autoria não identificadas. Da esquerda para a direita: Claudio Ribeiro, Zeca Baleiro, Joãozinho Ribeiro e Jorge "Cara de Borracha"; abaixo: Jorge do Rosário, Rosa Reis, Paulinho Oliveira e Saci Teleleu
Trupe do Laborarte em foto de data e autoria não identificadas. Da esquerda para a direita: Claudio Ribeiro, Zeca Baleiro, Joãozinho Ribeiro e Jorge “Cara de Borracha”; abaixo: Jorge do Rosário, Rosa Reis, Paulinho Oliveira e Saci Teleleu

 

Diversos movimentos convergiram para o nascente Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão, o Laborarte, fundado em 11 de outubro de 1972. Música, teatro, artes plásticas, fotografia, cultura popular: para tudo havia espaço em seus departamentos, ocupados por nomes que fariam história neste estado, como Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Sérgio Habibe, Murilo Santos, Wilson Martins, Regina Telles, Tácito Borralho, Rosa Reis, Nelson Brito, Mestre Patinho, Dona Teté e Joãozinho Ribeiro, entre outros, em diferentes épocas.

O Labô, como é comumente chamado pelos mais íntimos, completa 43 anos domingo (11) e preparou vasta programação, inteiramente gratuita, para comemorar. Ano que vem, o casarão 42 da Rua Jansen Müller (Centro) será enredo da Escola de Samba Flor do Samba no carnaval.

Ao longo da programação (veja completa ao final do post), uma videoinstalação apresentará documentários, espetáculos e outros acervos históricos do Laborarte, acumulados ao longo de mais de quatro décadas de atividades ininterruptas.

Entre as montagens iniciais merecem destaque Espectrofúria [1972], recentemente reencenada, sobre texto de Eduardo Lucena, que recebeu o prêmio de Melhor Plasticidade no Festival Nacional de Teatro Jovem em Niterói/RJ, Os Sete Encontros do Aventureiro Corre-Terra ou O Cavaleiro do Destino, de Josias Sobrinho e Tácito Borralho [prêmio Mambembe de 1978], Agonia do Homem [1972], poemas de Nauro Machado adaptados por Otto Prado, Mártir do Calvário [1973], em que Ubiratan Teixeira interpretou Pilatos, e Marémemória [1974], baseado no livro-poema homônimo de José Chagas, cuja foto de Josias Sobrinho e Cesar Teixeira fazendo um par de violeiros encabeça este blogue.

De 30 anos de Laborarte, reportagem do último, aliás, cato informações para este texto. O do compositor-fundador foi publicado em 19 de outubro de 2002 no Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, do Jornal Pequeno, e está também na coletânea Maranhão Reportagem [Clara Editora, 2002], organizada por Félix Alberto Lima.

Entre os destaques da programação de aniversário, acontece hoje (9) a noite de autógrafos dos livros Cantigas Divinas, em que Camila Reis, com transcrições de Gustavo S. Correia e ilustrações de Layo Bulhão, transpõe para partituras, cantos entoados nos festejos do Divino e na dança do Cacuriá, e Vem cá curiar o cacuriá, de Inara Rodrigues, sobre a dança em que ambas as autoras dão – ou já deram – passos. O primeiro tem patrocínio da Fundação Cultural Palmares e Ministério da Cultura; o segundo foi premiado no Concurso Literário Cidade de São Luís.

Moda, dança e poesia dão o tom da noite de amanhã (10). A partir das 20h Tieta Macau, Deuzima Serra, Moisés Nobre e Raimunda Frazão – uma das homenageadas da 9ª. Feira do Livro de São Luís – apresentam performances nas áreas.

Na sequência, Joãozinho Ribeiro atrela à programação de aniversário do Laborarte o show que tem apresentado ao longo deste ano, lançando seu disco de estreia, Milhões de uns – vol. 1. Nesta ocasião, a apresentação terá as participações especiais de Josias Sobrinho e Rosa Reis.

“Para mim é uma honra e um prazer fazer valer o dito popular, “o bom filho à casa torna”. Minhas relações com o Labô têm tempo e história”, declarou o compositor, autor da maioria das músicas do espetáculo carnavalesco-teatral Te gruda no meu fofão. “Alegria maior ainda é poder dividir o palco com Josias Sobrinho e Rosa Reis, nomes de importância fundamental, em diferentes épocas, para o surgimento e a continuação do Laborarte nas trincheiras em prol de nossa cultura popular”, continuou. “Darei um presente ao Laborarte, o público pode esperar uma surpresa”, prometeu, deixando o mistério no ar.

A noite de sábado guarda espaço ainda para show das Afrôs e a programação se encerra no domingo de aniversário (11), com um cortejo do Cacuriá de Dona Teté na Feira do Livro (Praia Grande), às 17h30, cujo encerramento também acontece na data.

Como afirmou Cesar Teixeira em seu texto de há 13 anos, “nomes de pessoas e considerações sobre o trabalho do Laborarte não caberiam nesta página – dariam um livro”. Faça parte dessa história!

Programação

Hoje (9), a partir das 20h

Receba! – Dança, Negritude, Pertencimento, com Luana Reis
Noite de autógrafos dos livros Cantigas Divinas, de Camila Reis, e Vem Cá Curiar o Cacuriá, de Inara Rodrigues
Instalação fotográfica Chuseto, de Jesús Pérez
Videoinstalação – documentários, espetáculos e outros acervos históricos do Laborarte
Roda de Capoeira Angola com os mestres Nelsinho, Patinho e convidados
Shows de Rosa Reis e Camila Reis
Palco livre

Amanhã (10), a partir das 20h

Exibição de vídeo de Moda e intervenção Beltranesca, com Tieta Macau
Solo de dança popular com Deuzima Serra
Performance Poéticas, com Moisés Nobre, Raimunda Frazão e convidados
Show de Joãozinho Ribeiro – Lançamento do cd Milhões de uns, com participação especial de Josias Sobrinho e Rosa Reis
Cânticos aos 43 anos de Laborarte
Show das Afrôs

Domingo (11), às 17h30

Cortejo do Cacuriá de Dona Teté na 9ª. Feira do Livro de São Luís (Praia Grande)