O tempo do Tira-Teima

Foto: Zema Ribeiro

 

O Tira-Teima tem um tempo todo particular. Grupamento de choro formado em meados da década de 1970 em São Luís do Maranhão, somente em 2016 gravou o primeiro disco, Gente do Choro, cujo show de lançamento aconteceu somente ontem (19), no Teatro Arthur Azevedo.

O septeto que subiu ao palco ontem já difere do que gravou o disco, numa demonstração inequívoca de que o Tira-Teima é uma verdadeira escola, por onde passam grandes instrumentistas, do qual Paulo Trabulsi (cavaquinho solo), único remanescente da formação original, acabou, por isso, firmando-se como uma espécie de líder natural.

Após um texto lido em off pelo jazzófilo Augusto Pellegrini, a poeta Vanda Cunha recitou uma espécie de currículo artístico do Tira-Teima enumerando qualidades e grandezas e  pedindo à plateia uma salva de palmas para o grupo – a cortina ainda estava fechada e ela atrapalhou-se para encontrar a fresta e tornar aos bastidores.

A noite foi aberta por Gente do Choro (Paulo Trabulsi), choro cantado interpretado por Zé Carlos (pandeiro e voz), cuja letra versa sobre o ofício do chorão, por ruas e bares, entre a música como profissão e diversão.

O Tira-Teima tocou durante cerca de hora e meia, desfilando repertório inteiramente autoral, entre faixas de Gente do Choro e inéditas, algo raro de se ver e ouvir em rodas de choro, em que quase sempre se pescam peças mais populares do vasto repertório chorístico brasileiro. Seguiram-se Companheiro (Francisco Solano e Paulo Trabulsi) e Meiguice (Paulo Trabulsi).

“É uma alegria, uma satisfação muito grande estar aqui, realizando este show de lançamento de nosso cd. A felicidade é maior ainda por sabermos que estamos entre amigos. Todos aqui são amigos e parceiros”, afirmou Paulo Trabulsi, agradecendo a presença de todos, com o público presente ao teatro comprovando o que já é sabido: o choro não é música de multidões, tampouco modismo, com fiéis ouvintes dispostos a boas doses de boa música em qualquer tempo, em qualquer templo – como Luiz Jr. se referiu ao Arthur Azevedo, merecidamente.

Em Imbolada (Serra de Almeida), um casal entrou dançando, a demonstrar que o choro também é música para tanto. Ainda mais quando em diálogo com o maxixe e puxada à embolada nordestina, com destaque para a flauta do autor.

Serra de Almeida puxou do cofo de inéditas Os degraus da matriz, lembrando a escadaria da igreja em que brincou na infância, em sua São Bernardo natal, no interior do Maranhão.

O potiguar Wendell de la Salles, sempre saudado como uma espécie de integrante honorário do Tira-Teima, com seu bandolim, substituiu o cavaquinho de Paulo Trabulsi em Dom Chiquin (Serra de Almeida), formação mantida para Anjo meu (Wendell de la Salles), que ele compôs em homenagem à sua filha, e Aguenta seu Florêncio (Wendell de la Salles), homenagem ao avô, que um dia vacilou com a porta do guarda-roupa aberta e o menino Wendell descobriu um cavaquinho e consequentemente a música. Para sempre!

O grupo voltou a ter a formação do início do show – na foto, em sentido horário, Zé Carlos (pandeiro e voz), Henrique Brasil (percussão), Sadi Ericeira (cavaquinho centro), Serra de Almeida (flauta), Paulo Trabulsi (cavaquinho solo), Francisco Solano (violão sete cordas) e Luiz Jr. (violão sete cordas) – para executar Choro nobre (Serra de Almeida) e Expressivo (Paulo Trabulsi). Na sequência, músicos e plateia assistiram ao belo duo de sete cordas dialogando em Teimosinho (Luiz Jr.), momento em que o flautista aproveitou para dar uma conferida no whatsapp.

Luiz Jr. anunciou o próximo convidado: “meu professor”, disse, referindo-se ao violonista João Pedro Borges. “Vou aproveitar para fazer logo a propaganda: nós estamos trabalhando no Festival Internacional de Violão, que trará grandes instrumentistas à São Luís e terá direção do grande Turíbio Santos”, anunciou sem dar maiores detalhes.

Na sequência, todos os músicos deixaram o palco, exceto Serra. Flauta e seis cordas dialogaram em Simples como Serra (João Pedro Borges), faixa que fecha Gente do Choro. “É um enorme prazer estar entre amigos, com este grupo que vi nascer. Faço minhas as palavras de Tom Jobim: eu só faço música por encomenda. Mas antes que se pense em algo mercantilista, algumas encomendas vêm do coração e meu coração me encomendou essa homenagem a este grande amigo”, declarou o convidado especial.

Com a volta do grupo ao palco, Carlinhos da Cuíca cantou Pra ser feliz, música que o cearense Léo Capiba (1947-2014), outro ex-integrante do Tira-Teima, compôs em homenagem à sua esposa Sandra, registrada com a voz do autor em Gente do Choro. Depois Zeca do Cavaco emprestou a voz à futebolística Zona do agrião (Léo Capiba) e a Apelo, registrada no disco como de autor desconhecido, mas ontem corretamente creditada a Nhozinho Santos, pianista da Rádio Timbira, homônimo ao industrial que “inventou” o futebol por aqui e acabou dando nome ao estádio municipal.

Ricarte Almeida Santos, “embaixador do Choro no Maranhão”, comenda conferida pelo Instrumental Pixinguinha, leu um texto em que passeou pela trajetória e importância do grupo, destacando os talentos individuais de seus integrantes atuais e destacando nomes de outrora, como Adelino Valente, Antonio Vieira, Arlindo Carvalho, Cesar Teixeira, Chico Saldanha, Fernando Cafeteira, Sérgio Habibe e, entre outros, Ubiratan Sousa, autor do choro que dá nome ao grupo, infelizmente não registrado em Gente do Choro nem lembrada no repertório de ontem.

Por vezes o som tentou atrapalhar, mas a noite seria memorável acontecesse o que acontecesse.

No bis o grupo, com o reforço de Wendell de la Salles, acompanhou em Gente do Choro o coro de vozes de ​Anna Claudia, Augusto Pellegrini, Carlinhos Cuíca, Fátima Passarinho, Gabriela Flor, Quirino, Zeca do Cavaco e até a jornalista Edivânia Kátia (assessora e produtora do grupo e do show de ontem).

Disco lançado, missão cumprida. Votos de vida ainda mais longa ao Tira-Teima, que ontem, mais uma vez, botou essa gente do choro para sorrir de alegria e êxtase.

França, Lapa, Ilha e adiante

Francês radicado no Brasil há 15 anos, Nicolas Krassik está em São Luís. Amanhã (26) ele participa de uma roda de conversa, cujo tema é “Um violino francês na música brasileira”. O bate-papo acontece às 16h, no Auditório José Ribamar Martins, na Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo (Emem, Rua da Estrela, 365, Praia Grande).

Sábado (27) é a vez do franco-brasileiro desfilar seu talento na última edição desta temporada do projeto RicoChoro ComVida na Praça, a partir das 19h. Ele será acompanhado pelo Trio Crivador, grupo de virtuoses formado especialmente para a ocasião: Luiz Jr. (violão sete cordas), Rui Mário (sanfona) e Wendell de la Salles (bandolim). O grupo terá ainda o reforço do percussionista Marquinho Carcará. A noite contará ainda com discotecagem de Jorge Choairy e participação especial da cantora Flávia Bittencourt. Tanto o bate-papo quanto o sarau musical têm entrada franca. O projeto é patrocinado pela TVN, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Nicolas Krassik já é brasileiríssimo. Seu primeiro disco, intitulado Na Lapa [2004], bairro que ajudou a recolocar no mapa boêmio e musical brasileiro, abre com Krassik de Ramos, de Eduardo Neves, trocadilho com outro famoso bairro carioca, o Cacique de Ramos dos pagodes de Beth Carvalho, de cujo convite para gravar em disco, ele lembra com carinho em entrevista exclusiva a Homem de vícios antigos.

A Na Lapa seguiram-se Caçuá [2006], Nicolas Krassik e Cordestinos [2008], Odilê Odilá [2009], inteiramente dedicado a releituras instrumentais da obra de João Bosco, Nordeste de Paris [2013], também assinado com os Cordestinos, e Mestrinho e Nicolas Krassik [2016], dividido com o sanfoneiro. Ano passado ele lançou Antologia Nicolas Krassik – 15 anos de Brasil. Isso para falar apenas em carreira (mais ou menos) solo, fora as inúmeras participações em discos de artistas como Argemiro do Pandeiro, Chico Buarque, Chico Chagas, Edu Krieger, Gilberto Gil, Marcos Sacramento, Maria Gadu, Marisa Monte, Mu Carvalho, Pedro Luís, Pedro Miranda, Silvério Pontes, Yamandu Costa, Zé Paulo Becker e Zélia Duncan, entre outros.

Seu violino está na regravação de Namorada do cangaço (Cesar Teixeira), faixa de Batalhão de rosas, terceiro disco da carreira de Lena Machado, que a cantora maranhense lança ainda este semestre.

Foto: Elena Moccagatta

Homem de vícios antigos – Antes de sua apresentação, você participa da roda de conversa “Um violino francês na música brasileira”. O que será abordado durante a conversa?
Nicolas Krassik – A minha ideia é falar da minha trajetória, partindo da separação entre a música erudita e o popular, através do jazz, quais foram os desafios e as dificuldades, se livrar das partituras, desenvolver o ouvido, aprender a improvisar e procurar um swing diferente. Depois veio a descoberta da música brasileira, lá na França, aprendendo com os brasileiros de lá. Chegando ao Brasil, foram novos desafios, novas dificuldades, a descoberta mais profunda dessa cultura muito rica e muito diversa. Tive que aprender uma nova comunicação e espirito musical. Para tocar música brasileira, tem que se tornar um pouco brasileiro. Um violino é quase um detalhe, a pessoa é quem tem que se transformar e se adaptar.

Você está radicado no Brasil há década e meia. Como foi à época tomar a decisão de ficar?
Decidir ficar no Brasil foi fácil, quase óbvio. O difícil foi decidir viajar pro Brasil, nunca tinha viajado sozinho fora da França, somente a trabalho, foi um pouco assustador. Depois, quando vi tudo que estava acontecendo de bom comigo, no plano humano e profissional, tudo ficou bem claro.

Você já conhece São Luís? Se sim, quais as lembranças? E para esta sua vinda, quais as expectativas?
Acho que toquei em São Luís umas três vezes, a convite do meu amigo Mário Moraes, produtor apaixonado pelo samba do Rio de Janeiro. Eu lembro de um público muito caloroso e receptivo. Foi muito bom. Lugar lindo também. Só nunca deu tempo de conhecer os Lençóis. Imagino que essa nova oportunidade de ir para São Luís seja muito boa também, fico feliz dessa vez, de poder tocar com músicos da cidade, que sei que estão preparando esse encontro com muito carinho.

Qual será a base do repertório de sua apresentação?
Vamos tocar choro e forró, eu sou apaixonado por esses gêneros. Músicas minhas, do Sivuca, Dominguinhos e Jacob do Bandolim, entre outras.

Você já gravou com uma infinidade de grandes nomes da música brasileira. É possível destacar alguns momentos marcantes de sua trajetória?
Essa parte é delicada, foram mesmo muitos artistas. O primeiro convite veio da Beth Carvalho, pra gravar no cd Nome sagrado [2001, inteiramente dedicado ao repertório de Nelson Cavaquinho], depois gravei no dvd A madrinha do Samba. Essas duas participações foram essenciais para eu ganhar o meu “passaporte” pro mundo do samba. Outro grande encontro, um dos mais importantes pra minha trajetória, foi com Yamandu Costa. Gravei dois cds com ele e viajei o mundo inteiro. Devo muito a ele, aprendi muito, musicalmente e pessoalmente também. Não posso esquecer do Gilberto Gil. 10 anos depois de eu ter descoberto o cd Eu tu eles [2000, trilha sonora do filme homônimo, de Andrucha Wadington], ele me convidou para fazer parte do projeto Fé na festa [2010], onde o repertório era muito parecido. Esse disco tinha feito eu me apaixonar pela música nordestina. Tocar e viajar pelo mundo com esse artista incrível, foi uma aula de música e de vida, inesquecível.

No palco, você e o Trio Crivador terão a participação especial de outra maranhense, Flávia Bittencourt. Você já a conhece? O que pode dizer de seu trabalho?
Conheço e gosto muito da Flávia. A gente se conheceu no Rio e tive a alegria de gravar em dois cds dela. O primeiro foi um cd em homenagem ao Dominguinhos [Todo Domingos, de 2009], meu ídolo absoluto. O segundo, gostei muito também, gravei um xote com leitura mais moderna, elementos eletrônicos de muito bom gosto. Vai ser muito legal a gente poder se encontrar novamente e se apresentar juntos.

Quais os seus projetos para 2018?
Muitos projetos para esse ano, continuar o projeto Cordestinos, com novas composições e gravações, começar um projeto de duo com o violonista Gian Correa e tentar viajar mais pra Europa em busca de novas parcerias.

Correndo o chapéu

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Campanha de financiamento coletivo lançada no último dia 1º. pretende garantir parte do orçamento para viabilizar a publicação; a outra parte do recurso está garantida através de edital da Fapema

Os chororrepórteres Ricarte, Rivanio e este que vos perturba, no Bar do Léo, um dos cenários da Chorografia do Maranhão. Foto: Murilo Santos
Os chororrepórteres Ricarte, Rivanio e este que vos perturba, no Bar do Léo, um dos cenários da Chorografia do Maranhão. Foto: Murilo Santos

O sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos, o jornalista Zema Ribeiro e o fotógrafo Rivanio Almeida Santos aprovaram, em edital da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico do Maranhão (Fapema), projeto que pretende publicar em livro as 52 entrevistas da Chorografia do Maranhão, realizadas pelo trio com instrumentistas de choro naturais de/e/ou radicados no Maranhão.

Porém, o recurso aprovado pela Fundação é insuficiente para as pretensões dos “chororrepórteres”, como eles se autodenominaram. “Foram mais de dois anos de trabalho árduo, publicando quinzenalmente as entrevistas em parceria com um jornal de São Luís, e o registro destas entrevistas em livro, além de uma vontade nossa, é também um desejo de pesquisadores, estudantes de música e interessados em música em geral, e em choro em particular, além dos próprios personagens da série”, revela Ricarte.

Para conseguir o que falta dos recursos para realizar seu intento, o grupo lançou uma campanha virtual de financiamento coletivo. “O crowdfunding é uma tendência mundial para a realização de projetos nas mais diversas áreas, hoje. É claro que estamos abertos a patrocinadores, a empresários eventualmente sensíveis à cultura, alguns dos quais têm colaborado para a realização dos projetos realizados por Ricarte nos últimos anos; mas se eles não se aliarem ao projeto, já estamos, literalmente, com o bloco na rua e o chapéu na mão”, comenta Zema.

A campanha, que pretende arrecadar 30 mil reais e tem dois meses de duração, foi lançada no último dia 1º. de fevereiro. “Realizamos um trabalho que buscou primar pela excelência na apuração dos depoimentos, revelando além das próprias histórias pessoais dos chorões, um pouco da própria história do choro e da música em geral produzidos no Maranhão, as dificuldades e avanços vividos pelo gênero no estado, além de a Chorografia ser também um mapeamento afetivo e sentimental de lugares que, de algum modo, têm relação com a música imortalizada por gênios como Pixinguinha e Ernesto Nazareth, entre outros. Pode parecer que estamos querendo dinheiro demais, mas queremos um livro com um padrão de qualidade, como a memória deste pedaço da história e da cultura do Maranhão merece”, defende Rivanio.

Lançamentos além da Ilha – Outra pretensão do trio – e para isso, outro projeto já está em fase de elaboração, para captação de recursos através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura – é lançar o livro em praças de choro pelo país. “O Clube do Choro do Maranhão sempre buscou proporcionar o diálogo entre músicos do cenário local e do cenário nacional, e os projetos que produzimos ultimamente, movimentando a cena chorística da capital maranhense, não fizeram diferente. Nossa ideia é levar este livro à Brasília, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, garantindo a ida de um grupo de choro maranhense até cada uma destas cidades, para as noites de autógrafos”, antecipa Ricarte.

Capricho editorialChorografia do Maranhão, o livro, tem prefácio de Luciana Rabello e produção editorial da Pitomba! Livros e Discos, que tem investido na produção de obras sobre a cena musical do Maranhão. A editora de Bruno Azevêdo já publicou Onde o reggae é a lei, de Karla Freire, Em ritmo de seresta – Música brega e choperias no Maranhão, de seu proprietário, e O reggae no Caribe brasileiro, de Ramusyo Brasil, os dois primeiros em parceria com a Edufma.

Personagens e cenários – Para se ter uma ideia da diversidade dos entrevistados, citamos os personagens da galeria da Chorografia do Maranhão: Os Irmãos Gomes – filhos do capitão Nuna Gomes, compositor e multi-instrumentista rosariense, o violonista Bastico, Zequinha do Sax e Biné do Cavaco –; os bandolinistas César Jansen, Chiquinho França, Raimundo Luiz, Ronaldo Rodrigues, Wendell Cosme e Wendell de La Salles; o banjoísta Biné do Banjo; os cavaquinhistas Ignez Perdigão, Juca do Cavaco, Márcio Guimarães, Paulo Trabulsi, Rafael Guterres, Robertinho Chinês e Zeca do Cavaco; os flautistas Danuzio Lima, João Neto, Lee Fan, Paulinho Oliveira, Serra de Almeida, Zezé Alves; os percussionistas Arlindo Carvalho, Carbrasa, Léo Capiba [in memoriam], Luiz Cláudio, Nonatinho, Vandico, Wanderson e Zé Carlos; o pianista Adelino Valente; o sanfoneiro Rui Mário; os saxofonistas José Luís Santos e Osmarzinho; o trombonista Osmar do Trombone; o tecladista Maestro Nonato; os violonistas Agnaldo Sete Cordas [in memoriam], Celson Mendes, Domingos Santos, Francisco Solano, Giovani Cavalcanti, Gordo Elinaldo, Henrique Cardoso, Hermelino Souza, João Eudes, João Pedro Borges, João Soeiro, Joaquim Santos, Luiz Jr., Marcelo Moreira, Monteiro Jr., Turíbio Santos e Ubiratan Sousa – alguns dos listados assumem mais de um instrumento.

As entrevistas também revelam uma paisagem diversa, afetiva do choro em São Luís. A Chorografia do Maranhão visitou as residências de Adelino Valente, Arlindo Carvalho, César Jansen, dona Zelinda Lima (para entrevistar seu filho Danuzio), Gordo Elinaldo e João Pedro Borges (para entrevistar seu amigo e parceiro Turíbio Santos, que ensaiava lá, para uma apresentação em São Luís), além de Bar do Léo, Barraca Paradise, Barulhinho Bom, Brisamar Hotel, Chico Discos, ECI Museum, Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo, Estúdio de Júlio (Camboa), Feira da Praia Grande, Fonte do Ribeirão, Hotel Pestana, Kumidinha di Buteko, La Pizzeria, Praça da Saudade, Praça de Alimentação do São Luís Shopping, Quitanda de Seu João (esquina das ruas do Ribeirão e do Machado, Centro), Quitanda do Jósimo (esquina das ruas do Alecrim e Pespontão, Centro), Quitanda Rede Mandioca, Restaurante Chico Canhoto, Salomé Bar, Samba Sem Telhado e Sonora Studio.

Participações especiais – A série Chorografia do Maranhão contou ainda com chororrepórteres honorários: num encontro inusitado, em plena Feira da Praia Grande, o jornalista e compositor Cesar Teixeira – fundador do Regional Tira-Teima – ajudou a entrevistar Zeca do Cavaco, atualmente membro do grupamento de choro mais longevo do Maranhão; e Murilo Santos substituiu Rivanio, que não pode comparecer à entrevista com Os Irmãos Gomes no Bar do Léo.

Segunda etapa – Ricarte, Rivanio e Zema priorizam, agora, a publicação do trabalho em livro. Mas revelam uma vontade, para a qual já estão se preparando: revelar os chorões do interior do Maranhão. “Ao longo das entrevistas, diversas cidades maranhenses foram citadas como polos musicais importantes, embora praticamente desconhecidos. A Chorografia do Maranhão, por conta de todas as limitações, sobretudo pelo recurso zero que teve, ou melhor, não teve [risos], acabou se concentrando na capital e, quando entrevistou chorões radicados fora do Maranhão, foi aproveitando visitas suas à capital, por um ou outro motivo. Vamos trabalhar um projeto para garantir as viagens aos municípios do interior, as condições de trabalho, e continuar este mapeamento, do qual este livro encerra uma primeira etapa”, finaliza Ricarte.

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Flávia Bittencourt é a convidada da penúltima edição de RicoChoro ComVida

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Quinta edição do projeto terá ainda Quarteto Instrumental e Paulo do Vale

O talento e o carisma de Flávia Bittencourt. Foto: João Rocha
O talento e o carisma de Flávia Bittencourt. Foto: João Rocha

 

A penúltima edição do projeto RicoChoro ComVida em 2015 acontece amanhã (21), às 18h, no Bar e Restaurante Barulhinho Bom (Rua da Palma, 217, Praia Grande). A noite terá como atrações o pesquisador Paulo do Vale – que prefere não ser chamado de dj –, o Quarteto Instrumental e a cantora Flávia Bittencourt.

“Para nós é uma honra poder contar com a presença de Flávia Bittencourt no palco do RicoChoro ComVida, ela que é hoje uma cantora nacionalmente reconhecida, mas que nunca esqueceu de suas raízes, sempre reverenciando os mestres da música popular produzida no Maranhão”, declarou Ricarte Almeida Santos, produtor do projeto.

A cantora tem três discos lançados: Sentido (2005), Todo Domingos (2009) e No Movimento (2014). O primeiro reuniu, entre os compositores gravados por ela, Josias Sobrinho [Terra de Noel, incluída na trilha sonora da novela global América], Cesar Teixeira [Dolores e Flor do Mal, com participação especial de Renato Braz], Chico Maranhão [Ponto de Fuga e Vassourinha Meaçaba], Zeca Baleiro [Berê] e Martinho da Vila [Ex-amor, com trecho em castelhano vertido por Natalia Mallo], entre outros; o segundo é dedicado ao repertório de Dominguinhos, que havia feito uma participação especial com sua sanfona no disco de estreia da artista; no mais recente, ela deixou aflorar sua veia de compositora, além de registrar gravações para projetos especiais, caso da versão voz e violão para Mar de rosas [versão de Rossini Pinto para Rose Garden, de Joe South], hit dos Fevers, e a gravação de Parangolé (Cesar Teixeira) com participação especial de Zeca Baleiro.

O Quarteto Instrumental reuniu-se especialmente para recebê-la no palco do Barulhinho Bom. João Neto (flauta), Luiz Cláudio (percussão), Luiz Jr. (violão sete cordas) e Robertinho Chinês (bandolim e cavaquinho) prometem um repertório de choro com uma pegada vibrante, mesclando clássicos do gênero a células da cultura popular do Maranhão, além de números autorais. No primeiro time, nomes como Severino Araújo, Ernesto Nazareth, Pixinguinha e Jacob do Bandolim, entre outros.

“São quatro dos mais requisitados músicos da cena musical maranhense, não apenas a chorística. Luiz Jr., por exemplo, esteve recentemente acompanhando a compositora Patativa, no lançamento de seu disco no Sesc Pompeia, em São Paulo”, atesta Ricarte.

Com atuação profissional em fotografia e cinema, campos em que seu talento é largamente reconhecido, não é comum ver Paulo do Vale atuar como dj, título que ele rejeita, em respeito aos profissionais da área. Ao projeto RicoChoro ComVida ele abre uma exceção e, antes e depois das apresentações do Quarteto Instrumental e Flávia Bittencourt, mostrará ao público o fruto de suas pesquisas e coleção.

Produção de RicoMar Produções Artísticas, RicoChoro ComVida tem patrocínio da Fundação Municipal de Cultura (Func), Gabinete do Deputado Bira do Pindaré, TVN e Galeteria Ilha Super, e apoio do Restaurante Barulhinho Bom, Calado e Corrêa Advogados Associados, Sonora Studio, Clube do Choro do Maranhão, Gráfica Dunas, Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt e Musika S.A. Produções Artísticas.

Serviço

O quê: RicoChoro ComVida – 5ª. Edição.
Quem: Quarteto Instrumental, Flávia Bittencourt e Paulo do Vale.
Quando: dia 21 de novembro (sábado), às 18h.
Onde: Barulhinho Bom (Rua da Palma, 217, Praia Grande).
Quanto: R$ 30,00 (reserva de mesas pelo telefone (98) 988265617).

RicoChoro ComVida se consolida no calendário cultural de São Luís

Próxima edição do projeto acontecerá 3 de outubro, no Barulhinho Bom

O passeio de Célia Maria acompanhada pelo Trítono Trio, então um quinteto. Foto: Rivanio Almeida Santos
O passeio de Célia Maria acompanhada pelo Trítono Trio, então um quinteto. Foto: Rivanio Almeida Santos

 

O DJ Pedro Sobrinho registrou a emoção com o convite. Jornalista de formação, escreveu em seu blogue, dois dias após a segunda edição de RicoChoro ComVida (sábado, 5 de setembro): “um momento de realização pessoal e profissional”, declarou, agradecendo ao produtor Ricarte Almeida Santos a oportunidade de participar do projeto, num texto que acaba por se transformar em um manifesto contra os preconceitos que puristas têm por DJs.

Célia Maria e os integrantes do Trítono Trio também registraram deferências ao produtor, no palco do Barulhinho Bom (Rua da Palma, 217, Praia Grande), que abriga a temporada – mais cinco apresentações estão previstas até dezembro de 2015, a próxima tendo como atrações o grupo Urubu Malandro, a cantora Alexandra Nicolas (interpretando repertório consagrado por Carmen Miranda) e o DJ Joaquim Zion, mas isto é assunto para outro texto, específico sobre a noite de 3 de outubro próximo.

Rui Mário (sanfona) destacou a importância do projeto para a valorização da música e dos músicos do Maranhão, não só do choro. O Trítono Trio, completado por Robertinho Chinês (bandolim) e Israel Dantas (violão), na ocasião substituído por Luiz Jr. (violão sete cordas), recebeu os reforços de Ronald Nascimento (bateria) e Mauro Sérgio (contrabaixo). O resultado foi um repertório refinado em execuções idem. Nada de conformismo ou mesmice. Tico-tico no fubá (Zequinha de Abreu), por exemplo, ganhou ares de tango, sem perder a essência da música ligeira que exige habilidade e técnica apuradas de quem encara o desafio de tocá-la.

Célia Maria agradou o público ao mesclar em seu repertório, clássicos do cancioneiro nacional, músicas de seu disco de estreia e do próximo disco, ainda sem data de lançamento. Entre outras, A banca do distinto (Billy Blanco), um libelo contra o racismo, Ingredientes do samba (Antonio Vieira), Milhões de uns (Joãozinho Ribeiro), ambas de seu disco de estreia, Saiba, rapaz (Joãozinho Ribeiro), música que cantou no disco de estreia do compositor, Adeus, Billie (Cesar Teixeira), inédita que está em seu disco novo, que cita a diva jazz Holiday, e Balança pema (Jorge Benjor).

As canjas, inspiradas, contaram com as presenças de Paulo Trabulsi (cavaquinho), Luiz Cláudio (percussão) e Alberto Trabulsi (voz e violão). A exemplo da primeira edição, certamente as canjas dão ideia das edições futuras – nenhuma é igual a outra. Esta contou inclusive com a canja surpresa do mineiro Paulinho Pedra Azul, que havia feito show no Teatro Arthur Azevedo na quinta-feira anterior, celebrando os 30 anos de namoro com a capital aniversariante. Entre choros seus e de Godofredo Guedes, pai de Beto Guedes, além do clássico Jardim da fantasia, o artista não poupou elogios ao projeto e à militância chorona de seu idealizador, produtor e apresentador, além dos músicos que o acompanharam, de improviso, dizendo-se feliz em estar ali. A plateia foi ao delírio.

Com patrocínio da Fundação Municipal de Cultura (Func), Gabinete do Deputado Bira do Pindaré, TVN e Galeteria Ilha Super, apoio do Restaurante Barulhinho Bom, Calado e Corrêa Advogados Associados, Sonora Studio, Clube do Choro do Maranhão, Gráfica Dunas, Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt e Musika S.A. Produções Artísticas e produção de RicoMar Produções Artísticas, RicoChoro ComVida já está consolidado no calendário cultural de São Luís: o projeto manteve um bom público, mesmo com a programação gratuita alusiva ao aniversário da capital que já acontecia na cidade.

Noite de autógrafos de Joãozinho Ribeiro terá música e cinema

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Apresentação do compositor dá continuidade à temporada de lançamento de Milhões de uns – vol. 1, seu disco de estreia. Na ocasião será exibido curta-metragem integrante da programação do Festival Avanca-São Luís

A cantora Milla Camões aplaude o compositor Joãozinho Ribeiro em edição da temporada Milhões de uns. Foto: Ton Bezerra

 

O compositor Joãozinho Ribeiro volta ao palco do Restaurante Malagueta (Rua das Graúnas, 3, Renascença II) dia 28 de agosto (sexta-feira), às 20h, dando continuidade à temporada de lançamentos e noites de autógrafos do cd Milhões de uns- vol. 1, trabalho que marca sua estreia no mercado fonográfico.

Cinema – A abertura da noite fica por conta da avant-première do festival Avanca-São Luís. Na ocasião Francisco Colombo apresentará um curta-metragem que integra a programação da mostra, que acontecerá dias 2 e 3 de setembro, no Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy).

O cineasta e professor universitário está cursando mestrado em Comunicação em Aveiro, Portugal, e selecionou alguns filmes de um festival local para mostrar em São Luís. “É uma oportunidade única, já que provavelmente estes filmes não chegarão ao circuito das salas de cinema no Brasil, mesmo as não comerciais”, avisa. O festival também acontecerá em Imperatriz, com produção de Marcos Fábio Belo Matos, professor da UFMA naquele município.

“Quem me conhece e acompanha minha trajetória sabe que sempre gostei de estimular o diálogo entre as mais variadas linguagens artísticas, seja como artista, seja como gestor”, afirmou Joãozinho Ribeiro, que já mesclou poesia à música das noites de Milhões de uns e agora traz o cinema para o centro das atenções.

Participações especiais – Os convidados do show são Milla Camões e Hugo Carafunim. À cantora o artista não poupou elogios quando de sua última apresentação e é conhecida a aclamação da plateia quando ela interpretou o blues Coisa de Deus (Joãozinho Ribeiro e Betto Pereira) no show de gravação do cd: escalada apenas para a primeira noite, acabou participando também da segunda, atendendo ao pedido do público.

O trompetista Hugo Carafunim é sobrinho de Joãozinho Ribeiro. Ex-aluno da Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa de Araújo (EMEM) e da Banda do Bom Menino do Convento das Mercês – onde hoje dá aula –, suas primeiras aparições públicas foram justamente ao lado do tio, no circuito musical alternativo Samba da Minha Terra, que levou samba e choro a 18 comunidades de São Luís entre 2002 e 2003.

O repertório base da apresentação é o de Milhões de uns – vol. 1, mas Joãozinho Ribeiro deve interpretar ainda composições inéditas, além de outras, já gravadas por diversos artistas – convém lembrar que ele é um dos compositores mais requisitados do Maranhão. Durante a apresentação será acompanhado por Darkliwson (percussão), Elton Nascimento (flauta e saxofone), Luiz Jr. (violão sete cordas e direção musical) e Murilo Rego (teclado). Os ingressos individuais custam R$ 20,00 e podem ser adquiridos no local.

Serviço

O quê: show Milhões de uns – vol 1 e Avant-première do Festival de Cinema Avanca-São Luís
Quem: Joãozinho Ribeiro, com participações especiais de Milla Camões, Hugo Carafunim e Francisco Colombo
Quando: 28 de agosto (sexta-feira), às 20h
Onde: Restaurante Malagueta (Rua das Graúnas, 3, Renascença II)
Quanto: R$ 20,00

RicoChoro ComVida (sobre a edição passada e a próxima)

[Escrevi no Medium os dois textos abaixo; rependuro-os aqui (com pequeníssimas edições), caso você não tenha lido lá, para ir entrando no clima…]

MAGIA MARCA ESTREIA DE RICOCHORO COMVIDA

Foto: Rivanio Almeida Santos

Uma alta dose de expectativa foi gerada em torno da estreia do projeto RicoChoro ComVida, desde seu anúncio. Em parte explicada pela orfandade musical deixada pelo saudoso Clube do Choro Recebe, realizado entre 2007 e 2010, também produzido por Ricarte Almeida Santos — para alguns o novo projeto é uma continuidade daquele.

A proposta e a dinâmica são quase as mesmas, sobretudo o diálogo entre o choro e ritmos da cultura popular maranhense e outras vertentes musicais, através do encontro de instrumentistas e cantores e, agora, DJs.

O Barulhinho Bom, palco da nova empreitada, estava completamente lotado para a inauguração do RicoChoro ComVida. As expectativas foram todas superadas em uma noite carregada de magia.

Entre vinis e o laptop, o DJ Franklin abriu os caminhos, os trabalhos, as trilhas da noite, tocando o melhor do samba e do choro, entre nomes como Paulinho da Viola, Cartola, Nourival Bahia, Clara Nunes, Nelson Cavaquinho e outros bambas. Ficou até fácil para o quarteto formado por João Neto (flauta), Luiz Cláudio (percussão), Luiz Jr. (violão sete cordas) e Wendell Cosme (bandolim e cavaquinho).

Fácil é modo de dizer, que música é trabalho duro e sério, e o quarteto inaugural do projeto passeou por um repertório de choros clássicos, entre nomes como Pixinguinha e Waldir Azevedo, incidentando, aqui e ali, sutilmente, a ginga e a malemolência da cultura popular do Maranhão.

Luiz Jr. pegou o microfone e ao declarar a emoção de estar ali, foi às lágrimas. “Eu me sinto honrado em estar aqui. Muito obrigado ao Ricarte, um eterno batalhador do choro e da nossa música. Esse projeto traduz a minha luta de quase 30 anos, pois tenho orgulho de dizer que me dedico exclusivamente à música, que é justamente o reconhecimento da nossa música”, declarou, antes de voltar ao ofício.

O convidado da noite era o cantor Cláudio Lima, que cantou sentado, obrigado por um aparelho ortopédico que trazia na perna esquerda. Esbanjou versatilidade, passeando por nomes como Cesar Teixeira, Marcos Magah, Acsa Serafim, Celso Borges, Alê Muniz e Bruno Batista, entre outros. O adjetivo “visceral” não é nenhum exagero: sentindo fortes dores durante a apresentação, o artista levou o show até o final, foi elegante ao negar o bis — “eu emendei tudo, por que com a perna desse jeito, sair e voltar ia dar trabalho”, disse sorrindo — e saiu do palco para o hospital.

Um momento muito aguardado do RicoChoro ComVida era também o das canjas, algo outrora tradicional no Clube do Choro Recebe: é o momento em que instrumentistas e cantores da plateia sobem ao palco, para uma jam sem ensaio. É a hora dos encontros, dos improvisos e de novo deleite da plateia. Sábado passado deram o ar da graça Serra de Almeida (flauta), Paulo Trabulsi (cavaquinho), Osmar do Trombone, Osmar Jr. (saxofone) e Zé Carlos (pandeiro), além da cantora Célia Maria, próxima convidada do projeto, na edição de 5 de setembro, véspera de feriado.

Produtor e apresentador da empreitada, Ricarte Almeida Santos agradeceu aos deuses da música e aos patrocinadores (Fundação Municipal de Cultura e Gabinete do Deputado Bira do Pindaré), apoiadores (Restaurante Barulhinho Bom, Calado e Corrêa Advogados Associados, Sonora Studio, Clube do Choro do Maranhão, Gráfica Dunas, Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt e Musika S.A. Produções Artísticas) e equipe de produção (RicoMar Produções Artísticas).

Quem achou pouco, talvez tenha razão, ainda mais que, ao contrário do semanal Clube do Choro Recebe, RicoChoro ComVida terá periodicidade mensal. Mas no fim da noite, o DJ Franklin já começou a abrir os caminhos, as trilhas para a próxima edição. Como diria o filho do chorão Godofredo: “quando entrar setembro”…

Veja fotos da edição inaugural de RicoChoro ComVida aqui.

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VOCÊ SABE O QUE É TRÍTONO?

Trítono? No dicionário é o “intervalo de três tons”. É um conceito musical, mas mesmo na música, pode ir além. E vai. É quando se juntam Israel Dantas (violão), Robertinho Chinês (bandolim e cavaquinho) e Rui Mário (sanfona): é o Trítono Trio.

Foto: Divulgação

A formação é recente na cena musical instrumental da cidade, mas somadas as trajetórias individuais de cada um, é possível falar em vasta bagagem e experiência de sobra, talento idem.

O Trítono Trio surgiu espontaneamente, nos intervalos de ensaios, shows e gravações em que seus membros se encontravam, com esta formação oportunizando a cada músico mostrar suas veias de instrumentista — de acompanhamento ou solista –, arranjador e compositor.

Vindo de searas diferentes da música, os componentes do Trítono Trio apresentam ao público suas releituras para clássicos e músicas menos conhecidas do repertório do choro e da música popular brasileira, além de composições próprias, com influências do jazz, da bossa nova, do baião e de ritmos da cultura popular do Maranhão.

Somados aos talentos de Ronald Nascimento (bateria) e Mauro Sérgio (contrabaixo acústico), o Trítono Trio é o grupo anfitrião da próxima edição do projeto RicoChoro ComVida, que acontecerá dia 5 de setembro (sábado), às 18h, no Barulhinho Bom (Rua da Palma, 217, Praia Grande).

A trinca de ases com dois coringas receberá a dama Célia Maria, dona de um timbre inconfundível, desfilando sucessos de artistas do Maranhão e do Brasil, entre choro, bolero, samba canção, bossa nova e música popular brasileira em geral.

RicoChoro ComVida tem produção de RicoMar Produções Artísticas, patrocínio de Fundação Municipal de Cultura (Func) e Gabinete do Deputado Bira do Pindaré, e apoio de Barulhinho Bom, Clube do Choro do Maranhão, Gráfica Dunas, Músika S.A. Produções Artísticas, Calado e Corrêa Advogados Associados, Sonora Studio e Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt.

Ricarte Almeida Santos estreia projeto no rastro do Clube do Choro Recebe

[release que eu já tinha publicado aqui; agora com novas informações]

Divulgação
Divulgação

 

RicoChoro ComVida acontecerá mensalmente no Barulhinho Bom (Praia Grande) e mantém formato que estimula diálogo do choro com ritmos da cultura popular do Maranhão e outras vertentes musicais

Tido como o mais longevo projeto musical independente da noite de São Luís, o Clube do Choro Recebe deixou saudades ao ser encerrado, em 2010, após aproximadamente três anos de existência.

Entre março de 2013 e maio passado, Ricarte Almeida Santos inventou, com o irmão-fotógrafo Rivanio Almeida Santos e o jornalista Zema Ribeiro, a série Chorografia do Maranhão, que entrevistou 52 instrumentistas de choro naturais de/e/ou radicados no Maranhão. O projeto agora está em fase de captação de recursos e um volume reunindo os depoimentos publicados no jornal O Imparcial deve sair em livro em breve, em edição da Pitomba! Livros e Discos, do irrequieto Bruno Azevêdo.

Órfãos daquele projeto, majoritariamente sediado no Bar e Restaurante Chico Canhoto (Cohama), com breves passagens por La Pizzeria/Pousada Portas da Amazônia (Praia Grande) e Associação do Pessoal da Caixa (APCEF, Calhau), sempre reclamaram da ausência de um palco adequado para a fruição do choro, não obstante a resistência de grupos e experiências como o Regional Tira-Teima – o mais antigo em atividade no estado – e o Cantinho do Choro, ainda em voga.

Foi atendendo a inúmeros pedidos que Ricarte Almeida Santos resolveu, através da RicoMar Produções – dele com a gestora cultural Marla Silveira –, voltar à produção de um espetáculo mensal, nos moldes do saudoso Clube do Choro Recebe, em que o choro dialogue com os ritmos da cultura popular do Maranhão e outras vertentes musicais – proposta que norteou as noites de sábado daquele projeto, então semanal.

Atrações – O projeto RicoChoro ComVida estreará no próximo dia 1º. de agosto (sábado), às 18h, no Barulhinho Bom (Rua da Palma, 217, Praia Grande), tendo como atrações o Quarteto de Aço, formado por João Neto (flauta e flautim), Luiz Cláudio (percussão), Luiz Jr. (violões de seis e sete cordas, viola e guitarra) e Wendell Cosme (bandolim e cavaquinho). O convidado da noite será o cantor Claudio Lima, um dos mais versáteis intérpretes da música brasileira produzida no Maranhão.

“A formação do Quarteto de Aço é quase a gênese do Choro Pungado, um dos grandes acontecimentos do Clube do Choro Recebe, que incorporou em seu repertório o diálogo do choro com as manifestações de nossa cultura popular. Claudio Lima, com dois discos gravados, é um artista de extrema sensibilidade, gosto apurado, com grandes serviços prestados à música brasileira, seja por seus registros sonoros, seja pelos belos projetos gráficos que assina em trabalhos alheios”, elogiou Ricarte Almeida Santos, produtor do RicoChoro ComVida.

Quem também sobe ao palco da primeira edição do projeto é o Dj Franklin, com uma trilha de “samba, choro e outros baiões”, pescados de sua vasta coleção de vinis. Ele é um dos mais respeitados djs ludovicenses, com um profundo trabalho de pesquisa musical. Sua alegria contagiante é um dos temperos do cardápio com que ele prepara cada apresentação, em especial esta inaugural do RicoChoro ComVida. Franklin tocará antes e depois das apresentações do Quarteto de Aço e Claudio Lima.

Neste semestre inaugural a frequência do projeto será mensal. Novas datas e novas atrações já estão fechadas, mas, por enquanto, a produção prefere guardar segredo. Os ingressos para as apresentações custarão R$ 20,00, cada.

Nova casa – O palco da nova produção de Ricarte é o Barulhinho Bom, que mudou de endereço há alguns meses. Antes localizado na Lagoa da Jansen, já contando alguns bons serviços prestados à boa música, além de bar e cozinha diferenciados, veio juntar-se à teimosia e resistência do bairro da Praia Grande, um dos três do centro histórico ludovicense, cartão postal tombado como patrimônio cultural da humanidade.

“O sucesso do projeto depende da parceria e solidariedade de um monte de gente envolvida, desde os artistas que se apresentarão a cada edição, a equipe de produção, patrocinadores, apoiadores, a casa que abriga os espetáculos e, é claro, o público, razão maior de tudo isso”, enumera Ricarte.

O projeto RicoChoro ComVida tem patrocínio da Fundação Municipal de Cultura (Func) e do Gabinete do Deputado Bira do Pindaré, e apoio cultural de Dunas Gráfica, Sonora Studio, Clube do Choro do Maranhão, Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt, Calado e Corrêa Advogados Associados e Restaurante Barulhinho Bom.

Serviço

O quê: estreia do projeto RicoChoro ComVida
Quem: Dj Franklin, Quarteto de Aço (João Neto, Luiz Cláudio, Luiz Jr. e Wendell Cosme) e Claudio Lima
Quando: 1º. de agosto (sábado), 18h
Onde: Barulhinho Bom (Rua da Palma, 217, Praia Grande)
Quanto: R$ 20,00
Maiores informações: (98) 981920111 (Ricarte Almeida Santos, produção), 988265617 (Marla Silveira, produção) e/ou 991668162 (Zema Ribeiro, assessoria de comunicação)
Fan page: facebook.com/ricochorocomvida

Alvíssaras! Ricarte Almeida Santos inaugura novo projeto musical

Rico Choro Com Vida terá primeira edição dia 1º. de agosto, no Barulhinho Bom

Arte: Nuna Neto
Arte: Nuna Neto

 

Talvez o Clube do Choro Recebe tenha sido o mais longevo projeto musical já realizado em São Luís/MA, em seus moldes. Os encontros musicais semanais realizados no Bar e Restaurante Chico Canhoto, na Cohama, com rápidas passagens pela Pousada Portas da Amazônia/ La Pizzeria (Praia Grande) e Associação do Pessoal da Caixa (APCEF, Calhau), eram feitos com baixo orçamento, e muito do que aconteceu em aproximadamente três anos, entre 2007 e 2010, tempo de duração do citado projeto, foi fruto das doações de alguns.

E não se fala aqui só em dinheiro. Fatores como tempo, energia, amor e carinho também se somaram para seu êxito – coisas que não têm preço, nem figuram em comerciais de cartões de crédito. Equipamento de som, cachês de músicos, produção e assessoria, embora pequenos, eram garantidos por pequenos patrocínios, além do apurado com a bilheteria da casa, sempre praticando preços populares.

Tive a honra, o prazer e o privilégio de, à época, ser assessor de comunicação do exitoso projeto – até hoje, vez por outra, ouço a indagação: “quando é que o Clube do Choro vai voltar?”. A abreviatura do nome do projeto na pergunta se justifica pela estreita relação, à época, do produtor Ricarte Almeida Santos com o Clube do Choro do Maranhão, apesar de o Clube do Choro Recebe ser bastante identificado como algo do apresentador do Chorinhos e Chorões na Rádio Universidade FM (106,9MHz) – e não agiam errados os que cometiam esta personificação.

Idealizador do projeto a partir de uma visita do músico mineiro Paulinho Pedra Azul à Ilha, em 2007, era Ricarte Almeida Santos o responsável por articular grupos e artistas convidados para os saraus semanais que viraram sinônimo de música de qualidade em São Luís, já que o formato pensado, proposto e realizado, embora privilegiasse o choro, não se fechou ao gênero, abrindo diálogos bastante interessantes e importantes, sobretudo com os ritmos da – e com os artistas que a fazem – cultura popular do Maranhão. Também era ele que corria em busca de patrocínios, que “perturbava” os músicos para garantir os ensaios que se traduziam em intimidade musical entre grupos e convidados no palco, além de ser o mestre de cerimônias que, sábado após sábado, apresentava grupos e artistas e outras informações pertinentes, já que – e isso também merece destaque – o Clube do Choro Recebe cumpriu uma função pedagógica. E se houvesse outras tarefas, certamente seriam desempenhadas com o mesmo capricho e zelo.

Não é raro também encontrar entre os que tenham passado pelo projeto, em seu palco ou plateia, os que elogiem a atenção do público presente à música, principal atração das noites daqueles sábados. “As pessoas iam ali para ouvir música”, costumam afirmar, em oposição a lugares em que a música é apenas um detalhe, quando o que importa para as pessoas é tocar sua própria percussão, batendo talheres em pratos ou estalando selfies (praga menos avassaladora naqueles idos).

O fato é que, passados três anos, com a inexistência de apoio dos poderes públicos e os escassos patrocínios da iniciativa privada, o projeto teve que ter um fim decretado, deixando muitos órfãos, incluindo o produtor e este que vos perturba.

Três anos depois, em março de 2013, iniciamos, os irmãos Almeida Santos, Ricarte e Rivanio, este responsável pelas fotografias, e este que lhes toma o tempo com estas mal traçadas, a série Chorografia do Maranhão, publicada quinzenalmente aos domingos (com raras falhas na periodicidade) no jornal O Imparcial, que gratuitamente nos cedeu duas páginas de seu caderno Impar e recebeu, também gratuitamente, por mais de dois anos, até aqui, 52 entrevistas com instrumentistas de choro nascidos ou radicados no Maranhão.

A Chorografia do Maranhão contempla um panorama único e inédito, constituindo-se na maior série de entrevistas já publicada por um jornal no Maranhão – apesar da pausa, seu trio de realizadores não deu ainda o trabalho por encerrado, por entender que algumas figuras fundamentais para a história e o desenvolvimento do choro no estado ainda estão de fora.

Por outro lado, somado o entusiasmo do escritor e editor Bruno Azevêdo e de sua Pitomba! Livros e Discos, já está sendo trabalhado o lançamento do material em livro – oxalá que na próxima Feira do Livro de São Luís (Felis) – para o que estamos correndo atrás de patrocínio.

Mas as coisas não param por aí. Ainda bem!

Durante um show do compositor Cesar Teixeira – com participações especiais de Flávia Bittencourt e Célia Maria – no Bar do Léo, no último sábado (4), e em seu programa, ontem (5), Ricarte Almeida Santos anunciou: dia 1º. de agosto, ele inaugura o projeto Rico Choro Com Vida, que acontecerá aos sábados, uma vez por mês, no Barulhinho Bom (Rua da Palma, 217, Praia Grande), sempre das 18h às 21h.

O projeto manterá o formato do Clube do Choro Recebe: um grupo apresenta repertório instrumental por uma hora, recebendo depois um convidado. Na sequência, palco livre para as tão charmosas canjas. Para a primeira edição, o embaixador do choro no Maranhão anunciou o nome do cantor Cláudio Lima, que será acompanhado por Luiz Cláudio (percussão), Luiz Jr. (violões de seis e sete cordas, guitarra e viola), Robertinho Chinês (cavaquinho e bandolim) e Rui Mário (sanfona), o mesmo quarteto que acompanhou Cesar Teixeira no show de sábado. A formação é quase o Quartetaço (que tinha o flautista João Neto em vez de Robertinho Chinês), que batizado por Aço, de Bruno Batista, foi formado justamente para acompanhá-lo quando de uma apresentação no Clube do Choro Recebe, e engendrava o Choro Pungado, quinteto que acabou reunindo todos eles ao redor da fogueira do fazer choro, mesclando o gênero a tudo o que se possa imaginar em termos de ritmos da cultura popular do Maranhão, certamente uma das maiores invenções daquele projeto – infelizmente, de existência ainda mais meteórica que o próprio.

Os ingressos custarão R$ 20,00 e poderão ser adquiridos no local. Ao novo ciclo que se inicia, desejamos vida longa: Rico Choro Com Vida, Rico Choro Com Vida longa!

Chorografia do Maranhão: Luiz Cláudio

[O Imparcial, 8 de junho de 2014]

Nascido no Pará e radicado no Maranhão desde 1981, o percussionista Luiz Cláudio é o 33º. entrevistado da série Chorografia do Maranhão

Foto: Rivanio Almeida Santos

 

TEXTO: RICARTE ALMEIDA SANTOS E ZEMA RIBEIRO
FOTOS: RIVÂNIO ALMEIDA SANTOS

O paraense Luiz Cláudio Monteiro Farias participou de alguns processos revolucionários da música produzida no Maranhão. Nascido em 17 de março de 1964, o músico aportou na Ilha no início da década de 1980 para trabalhar como intérprete em um hotel e nunca mais voltou à terra natal – a não ser a passeio e, recentemente, para gravar o disco do trio Loopcínico, que mistura os tambores do Maranhão a bases eletrônicas.

Filho de Cláudio da Silva Farias e Maria de Nazaré Monteiro Farias, é casado com Susana Almeida Fernandes, que o acompanhou à entrevista que concedeu à série Chorografia do Maranhão na Quitanda Rede Mandioca. Eles têm três filhos: Luiz Cláudio Filho, Leonardo e Luana.

Em paralelo ao ofício musical, Luiz Cláudio hoje continua trabalhando como tradutor e intérprete – a camisa que usava quando conversamos trazia a expressão “drums”, que pode ser traduzida como “tambores”. Ele carregava um derbak, instrumento egípcio e lembrou do arrebatamento que foi ver e ouvir o Tambor de Crioula de Mestre Leonardo pela primeira vez, numa longínqua manhã de domingo de carnaval.

Um dos mais requisitados percussionistas destas plagas, Luiz Cláudio já tocou e gravou com inúmeros artistas e não esconde serem os ritmos da cultura popular do Maranhão sua principal escola – mesmo quando o assunto é tocar choro, o que foi fundamental para o meteórico Choro Pungado, outra formação importante que integrou.

Foto: Rivanio Almeida Santos
Foto: Rivanio Almeida Santos

 

Quais as primeiras memórias musicais de tua infância? O que te tocou pela primeira vez? Foram as big bands americanas. Meu pai havia herdado do meu avô vários LPs. Meu avô trabalhava na Icome, uma empresa em Macapá, durante a segunda guerra mundial, ele trabalhava com código morse, numa base lá. Nessa interação com os aliados, era um ponto de abastecimento dos aviões americanos. Esses americanos começaram a trazer pra ele muitos LPs, aquela época de Glenn Miller [trombonista americano], Tommy Dorsey [trombonista e trompetista americano], isso foi herdado por meu pai, ele tocava isso na radiola em casa, a gente criança, e ele ficava dançando com a minha mãe o tempo todo, ouvindo aquilo. E a gente ouvindo aquela música boa. Claro, além daquilo a gente ouvia muita música brasileira, ele gosta muito de música brasileira. Dolores Duran, Maysa, Lupicínio Rodrigues, aí vai, Pixinguinha…

Com que idade você veio ao Maranhão? E o que te trouxe? Com 17 anos de idade. Eu vim trabalhar aqui como intérprete.

Já nessa idade? Já, já era formado em inglês, eu comecei muito cedo. Eu fui convidado pra ser o intérprete aqui, acho que o primeiro intérprete, na época era o [hotel] Quatro Rodas, hoje é o Pestana, passou por várias gestões. Um tio meu passou em casa, foi uma coisa do acaso. É o destino. Esse tio passou em casa numa noite, “olha, teu filho fala inglês, eu tou com um gerente amigo meu lá, indo morar em São Luís para ser gerente de um hotel, e precisa de um intérprete, que ele não fala português, tem que ter uma pessoa para treinar e cuidar da recepção. Teu filho não quer ir?”. Eu estava sentado na porta de casa, sem pretensão nenhuma, sem saber o que tinha no Maranhão, o que estava me esperando musicalmente, isso é uma coisa interessante, em um dia eu dei a resposta, em três dias eu estava morando aqui e nunca mais voltei.

Quando você chegou ao Maranhão, já tinha algum envolvimento com música ou isso apareceu aqui? Semiprofissionalmente, vamos dizer, aqui. Em Belém eu saía nas escolas de samba tocando tamborim, ainda naquela época de couro de gato, existiam fábricas famosas. Aqui é que eu tive o primeiro contato de tocar numa banda.

Você disse que não sabia o que te esperava em São Luís. O que era que te esperava em São Luís? A cultura popular, os tambores, que é minha principal escola.

Numa de tuas primeiras vindas ao Maranhão, na [praça] Deodoro, houve uma cena impactante. Exatamente. Havia um ônibus que eu tomava, o Calhau, que passava, passa até hoje, na frente do hotel, e deixa você no Centro da cidade. Me falaram, “olha, você quer conhecer o Centro? Você pega esse ônibus, você vai descer bem na Deodoro”. Eu tava de folga do hotel, fui embora. Era uma manhã de carnaval, época em que os tambores de crioula, naquela época iam muito às ruas tocar o carnaval. Nesse domingo eu desci na Deodoro e vi aquele tambor ecoando de longe, andei, fui chegando mais perto do som, era o Tambor de Mestre Leonardo. Aquilo foi um impacto, um raio, um clarão que abriu na minha cabeça. É isso aí que eu quero! Vou pesquisar, vou correr atrás. Em Belém o carimbó, as manifestações, os ritmos do Pará não aparecem, não estão tão presentes no contexto urbano, misturados com a cidade quanto aqui no Maranhão. Eu acho que aqui é mais que qualquer lugar do Brasil. [O impacto] foi uma coisa inexplicável, eu me aproximei, perguntei onde era a sede. Uma semana depois eu já estava lá frequentando para começar [a aprender a tocar].

Hoje você é um percussionista reconhecido não só aqui, mas nacionalmente. Quem você considera seus mestres? Quem te ensinou esse ofício da percussão? A minha formação musical não foi erudita, formal. Foi muito empírica, muito de ver, ouvir e depois levar para casa e fazer o dever de casa. Naquela época celular nem existia, a gente usava um gravador k7. Os mestres para mim foram Mestre Leonardo, do tambor de crioula, Mestre Felipe, também do tambor de crioula, e o Bibi, tocador chefe lá da Casa de Nagô, na Rua Cândido Ribeiro [Centro]. Eu os considero mestres por que eu não estudei música formalmente, então o que eu aprendi com esses ritmos me serve até hoje. Quando eu comecei a descobrir novos estilos musicais, como o choro, o jazz, que eu comecei a estudar música mesmo, esses ritmos daqui servem até hoje como a principal base, o principal alicerce. Neles você encontra todas as matrizes rítmicas africanas. Não só africanas, mas ibéricas, indígenas, você consegue absorver uma quantidade de informações rítmicas, tocando esses ritmos do Maranhão. O boi e o tambor, principalmente, eles têm uma polirritmia, é muito difícil. Quando você consegue entender a complexidade daquilo, tudo o que vem pela frente é fichinha, entendeu? Quando eu comecei a aprender outros estilos, eu pensava “eu já vi isso”. Tudo isso veio desses ritmos daqui, que são ancestrais, vieram da África, do Oriente Médio.

Quando é que você foi para São Paulo? Já tocava profissionalmente? Já. O primeiro grupo que eu participei foi o grupo Asa do Maranhão: Sérgio Brenha, Mano Borges, Chico Poeta, Celso Reis. Era uma movimentação muito forte, Rabo de Vaca, Terra e Chão, era um grupo da Universidade [Federal do Maranhão], Arlindo [Carvalho, percussionista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 18 de agosto de 2013] fez parte. O Rabo de Vaca, que era uma escola, era Jeca [percussionista], Josias [Sobrinho, compositor], Zezé Alves [flautista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 9 de junho de 2013]. O Asa do Maranhão foi um dos últimos e eu comecei no Asa, no Colégio Marista, ali no Centro. Depois vieram César Nascimento, o primeiro artista com quem eu toquei aqui, Mano Borges. Eu fui para São Paulo no final da década de 1980.

Foi a música que te levou para lá? Foi.

Você tem uma carreira paralela de tradutor e intérprete com a de músico. Houve alguma fase em que você tenha vivido exclusivamente de música? Muito. Em São Paulo eu vivi quase inteiramente de música. Nas horas vagas é que eu trabalhava como tradutor e intérprete, mas eu priorizava a música.

Lá você participou de vários trabalhos, gravação de discos. Muitos. Eu tive a sorte de cair num berço musical da boa música de São Paulo. Nada contra, mas quase não toquei em bares, quase não toquei em bandas cover. Só trabalhei com os grandes compositores, tanto na música instrumental quanto na cantada.

Cite alguns nomes. Vamos lá! Eu comecei com a Ceumar [cantora e compositora mineira hoje radicada na Holanda], vocês conhecem Dindinha [primeiro disco de Ceumar, lançado em 1999, produzido por Zeca Baleiro], a Rita Ribeiro [cantora maranhense radicada em São Paulo, hoje Rita Beneditto], gravei nos dois primeiros cds dela, Juliana Amaral [cantora paulista], Chico Saraiva [violonista carioca], Grupo A Barca, Nelson Aires, pianista, é muita gente! Gerson Conrad [compositor, ex-Secos e Molhados], que acabou voltando para a arquitetura, e Zeca Baleiro! Além de tocar e gravar com toda essa galera boa, eu participei de muitas oficinas e workshops com músicos e manifestações do Oriente Médio. Foi aí que eu conheci e fiz oficinas de música árabe, africana, cubana. Aí eu comecei a ver o Maranhão lá dentro. A bagagem, o que eles tocavam, eu dizia, “olha, isso tem lá no Maranhão”, mas não de forma arrogante. Eu levava o pandeirão, fazia um Boi de Pindaré, as células são muito parecidas com música marroquina. Uma coisa que eu sempre gostei foi fazer essa, vamos chamar de fusão, palavra batida, esse diálogo entre estilos e instrumentos musicais, misturando outras linguagens com as daqui. Pra mim a música é universal, então você pode fazer no pandeirão outros ritmos que não os tradicionais daqui, pode tocar no pandeiro outras coisas além de samba. Daí que vieram vários arranjos para o Choro Pungado.

Por falar em Choro Pungado, além dele e do Asa, que outros grupos você integrou? O Quinteto Calibrado, o Choro Pungado, o grupo Asa do Maranhão, o Duo Sound, com Luiz Jr. [violonista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 4 de agosto de 2013], Som na Lata, Loopcínico, mais recente. Acho que foram estes.

E artistas com os quais você tocou? Ah, aqui em São Luís teve a Flávia Bittencourt [cantora], teve [os cantores e compositores] César Nascimento, Tutuca, Carlinhos Veloz, a gente fez uma excursão interessante pelo Projeto Pixinguinha [da Funarte]. Taí: eu toquei muito samba pelo Projeto Pixinguinha, na época eu encontrei [os sambistas] Luiz Carlos da Vila, Luizinho Sete Cordas e Moacyr Luz. Fizemos oito capitais do Nordeste, três dias em cada cidade. Toquei nos discos de Celso Borges [XXI, de 2000, e Música, de 2006]. Toquei no disco de Lena Machado [Samba de Minha Aldeia, de 2010], de Cesar Teixeira [Shopping Brazil, de 2004]. Cesar Teixeira e Josias Sobrinho pareciam, para mim, antes de conhecê-los pessoalmente, eram como deuses. Eu não sou daqui. Quando eu cheguei, eu morei na esquina de São João com Afogados, ao lado do Chico Discos, no mesmo prédio. Eu descia e parava na casa de Arlindo, que eu posso dizer que foi o meu primeiro grande influenciador na coisa da percussão moderna, me inspirou muito, a coisa do set, eu já falei isso pra ele, ele não acreditou [risos]. Ele me abriu a cabeça. Voltando a Cesar, de repente ele me chama para gravar, acho que é o único registro dele até agora, foi o maior presente da música maranhense, ter gravado nesse cd.

Quais os discos mais importantes nos quais você já tocou? Cesar Teixeira, Ceumar, Dindinha, Som na Lata, que é um projeto social, um cd muito bom, Loopcínico, pra mim é um marco, um divisor de águas, embora não compreendido, mas um dia a gente vai ser [gargalhadas]. Vô imbolá [de Zeca Baleiro] e Rubens Salles, foram dois cds que eu gravei, Liquid Gravity e Munderno, um gravado em São Paulo e o outro em Nova Iorque.

Vamos falar de choro. O que significou para você integrar o Choro Pungado e o Quinteto Calibrado? Aprendizado. O Quinteto Calibrado, os caras, a veia deles é muito forte, tradicionalistas, é importante beber na tradição. O moderno você pode vir com milhões de ideias novas, mas você não pode trabalhá-las sem entender como é feito originalmente. Essa é a base, em cima dessa base, que não pode ser mudada, alterada, você pode inserir outros elementos. Por isso é importante conhecer e tocar com os caras que entendem isso. Foi muito bom. Daí, amizade com Luiz Jr., Rui Mário [sanfoneiro, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 7 de julho de 2013], pensamos em criar um grupo diferente, de choro, respeitando as tradições, o original, mas dialogando com essa rítmica maranhense. Daí surgiu o Choro Pungado, que era um laboratório vivo de criação. Nós íamos lá para casa ensaiar, comer os quitutes que a Suzana fazia, acho que é por isso que os ensaios rendiam muito [risos]. Lá em casa eles fizeram duas músicas, uma foi Fim de tarde, do Robertinho Chinês [bandolinista e cavaquinhista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 28 de abril de 2013], parece que o Nicolas Krassik [violinista francês radicado no Rio de Janeiro] gravou [Krassik tocou violino na faixa, no disco Made in Brazil, de Robertinho Chinês]. O Choro Pungado pra mim foi também um divisor de águas na minha cabeça, eu achava que choro tinha que ser tocado só daquela maneira, que é lindo, maravilhoso. Eu cheguei a assistir em São Paulo o [Conjunto] Época de Ouro, ainda com o pai do Paulinho da Viola [o violonista César Faria, falecido], e ele tocando junto. Quando eu vi isso foi uma coisa de louco! O Choro Pungado serviu também, pra mim acho que foi o maior legado dele, ele desencadeou interesse em alguns dos músicos por essa coisa de buscar o novo sem ter medo. Posso dizer, acho que ele vai concordar quando ler, o Rui Mário, ele já era um grande músico, mas abriu mais ainda a cabeça dele. quando nós trouxemos o Rui pro Choro Pungado, ele ainda tem a veia do baião, do forró da família, tradição. Eu lembro de ter apresentado pra ele dois caras: o Piazzolla [o falecido compositor e bandoneonista argentino Astor Piazzolla], colocamos Libertango no repertório, depois o Toninho Ferragutti [sanfoneiro], com quem eu já havia gravado e tocado em São Paulo, com Nelson Aires. Eu acho que isso foi uma alavanca para ele enveredar por essa coisa que ele faz hoje, que é misturar o jazz, um pouco de erudito, sem deixar de lado as raízes dele. O maior legado do Choro Pungado acho que é esse. Robertinho fez um cd logo depois aproveitando essas influências. João Neto [flautista, Chorografia do Maranhão, O Imparcial, 2 de fevereiro de 2014] já era um grande músico, hoje está melhor ainda.

Para você, o que é o choro? Eu acho que o choro é o retrato da nossa cultura popular brasileira, da música de massa, da música da rua, com esse tratamento mais sofisticado da música erudita, não vou dizer do jazz. Eu acho que os choros originais, os primeiros, não têm essa influência jazzística, tem mais essa influência erudita, clássica. É isso, essa união dessa influência barroca, da música clássica no Brasil, com nossas raízes africanas, principalmente, a síncope do samba, souberam fazer esse casamento muito bem.

Quem hoje no Brasil te chama a atenção? Que você ouve e para para escutar? [O grupo] Nó em Pingo d’Água, gosto do Hamilton de Holanda [bandolinista]. Dos atuais, que estão aí. Paulinho da Viola [cantor, compositor e instrumentista] tem um lado chorístico muito forte.

Voltando a antes do Choro Pungado e do Quinteto Calibrado: como foi que você caiu no choro? Você lembra de um marco? Lembro. Antes desses grupos, a gente fazia música de um modo mais espontâneo. Centro da cidade, acho que já existia a ponte, mas não existia o outro lado, não havia música, movimento. Eu lembro de sair da porta do Laborarte [o Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão], grupo que eu fiz parte, outra escola muito importante da minha vida, gestão Nelson Brito [dramaturgo, falecido], quando ele assumiu. Lá nós saíamos sete horas da noite, eu, Jorge do Rosário, na percussão. Era uma percussão de choro, pandeiro, atabaque de couro e madeira, um cavaco, era um sambista da antiga, usava uma boina, Bonifácio, e um sete cordas, irmão de Sávio Araújo, seu Nato [Araújo]. A gente saía tocando choro e samba, pelo prazer de tocar e ganhar algum trocado para tomar cachaça. Olha o nosso percurso: a gente saía do Laborarte, encostava no Rui [o Bar do Rui, vizinho ao Laborarte, na Rua Jansen Müller, no Centro de São Luís], tocava, passava o chapéu, era assim, uma maravilha! De lá a gente ia pro Hotel Central [na Praça Benedito Leite, Centro, hoje desativado], o chapéu rodava, a grana ia toda pra comida e bebida. Nessa peregrinação, a gente fazia uns três, quatro bares num fim de semana, numa sexta-feira. Minha escola começa aí. O Nato era nosso guarda costas, ele era fortão. De vez em quando tinha uma treta nesses bares e a gente botava “Nato, vai lá e resolve!”. Ele não levava desaforo pra casa.

Você se considera um chorão? Sim, me considero. Acho que todo músico brasileiro tem que se considerar chorão, por que é o estilo musical que conseguiu sintetizar em um só bom gosto e elegância, nos arranjos executados, além de uma percussão muito forte, que é a marca nossa. Com todo respeito ao baião, mas dos estilos brasileiros é o mais bem lapidado e acabado. É uma música muito detalhista. Eu gosto de ser chorão, mas ainda não sou chorão: se você absorver e conseguir, eu não consegui ainda, tocar aquilo com domínio total, você consegue tocar qualquer outra música. Muita gente não gosta, mas todo músico brasileiro deveria passar pelo choro. É uma escola maravilhosa.

Como você avalia o choro praticado hoje em São Luís? Muito bom, muito fértil. Acompanho pelos jornais, eu não saio muito à noite. A velha guarda, os tradicionais continuam aí, Tira-Teima, Pixinguinha, e tem vários grupos novos que eu ainda não tive oportunidade de assistir. Só o fato de ainda estarem criando grupos novos significa que a linguagem continua firme e forte. Duas faculdades de música, os músicos dentro dessas faculdades, alguns integrantes de grupos estudam nestas faculdades. Para a cena está faltando voltar o nosso Clube do Choro [Recebe].

Qual a importância daquele projeto? Foi decisivo. Não só pro choro, mas pra música instrumental como um todo. Lá você permitia que nós tocássemos o choro, o samba e trabalhos autorais. Acompanhamos o Criolina [os cantores e compositores Alê Muniz e Luciana Simões], Bruno Batista [cantor e compositor] e outros cantores que foram lá, com ou sem influência do choro. E grupos instrumentais que além do choro tocavam outros gêneros. Tinha aquele aspecto muito informal, o público frequentava, prestava atenção, e foi gravado, muita memória ali, muitos grupos tocaram, acabaram, outros se formaram a partir dali. Foi um marco que precisa voltar.

Eu queria que você comentasse rapidamente o Som na Lata e o Loopcínico, os discos, os processos. O Som na Lata foi, ainda é até hoje, a gente vive numa cidade muito injusta socialmente, uma inquietação a partir de meu dissabor em ver muitas crianças desocupadas, mas com ritmo, talentosíssimas. Daí eu comecei a fazer oficinas no GDAM [o Grupo de Dança Afro Malungos, sediado no Parque do Bom Menino], a convite do Adão [liderança do GDAM]. Esse trabalho começa com oficinas de educação ambiental, ética, disciplina, a gente passa esses conceitos para as crianças, depois entra na parte musical, muito forte, culminando com a formação de uma banda e o cd. Eu concluí todas essas fases e saiu aquele cd, nós fomos premiados pela Universidade FM, melhor hip hop, tinha essa categoria. Uma das músicas [Shopping Brazil] de Cesar Teixeira fala no som da lata, [cantarola:] “o quê que tem? Se eu como na lata?”. A música tinha tudo a ver e ele, com aquela cabeça maravilhosa, cedeu esse espaço [parte dos músicos do Som na Lata participou da gravação da faixa-título do disco Shopping Brazil]. O Som na Lata tem que voltar e nós vamos voltar em breve. O Loopcínico vem de outra inquietação: quando eu estava em São Paulo eu conheci a música eletrônica, entre os anos 1980, 90, tocava lá nos clubes, nas casas noturnas, fazia produção com alguns djs, como o Érico Teobaldo, que produziu um dos cds [PetShopMundoCão] do Zeca [Baleiro], mas não tinha conseguido ainda uma forma de trabalhar a música eletrônica que fosse completamente dominado pela música maranhense. Eu consegui com o Loopcínico, ali eu consegui dar voz aos tambores. O disco foi gravado em Belém, no estúdio Ná Music, mas com a linguagem maranhense. O disco foi indicado agora ao Prêmio da Música Brasileira 2014. Entre quase cinco mil cds nós ficamos na pré-seleção entre cento e poucos. Pra mim já foi um prêmio. Eu chamei Beto Ehongue [cantor, compositor e dj] e Lobo de Siribeira [cantor e compositor], foi a formação inicial. O Loopcínico era um sonho antigo como percussionista, instrumentista. A concepção dele é muito nova, não a base, a eletrônica já existe há muito tempo, mas a concepção desse cd, inserido no nosso contexto, ainda está sendo muito nova. Muita gente não percebeu que os tambores foram gravados ao vivo, eles não foram sampleados, há uma diferença. Muita gente ainda não conseguiu entender por que aqueles tambores estão ali misturados com as bases eletrônicas.

Temporada celebra 60 anos de Joãozinho Ribeiro

[release]

Compositor realizará shows mensais até o final do ano. Turnê alcançará São Luís e municípios do interior. Nas ocasiões será lançado o disco Milhões de Uns – Vol. 1. Estreia acontece nesta sexta (6), no Bar do Léo

Milhões de Uns - Vol. 1. Capa. Reprodução
Milhões de Uns – Vol. 1. Capa. Reprodução

 

Milhões de Uns – Vol. 1 apresenta uma significativa, embora pequena, parte da obra musical do poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, que completa 60 anos de idade no próximo abril. É o primeiro registro lançado com o autor interpretando sua obra, coalhado de participações especiais, gravado ao vivo em duas memoráveis noites no Teatro Arthur Azevedo, em novembro de 2012 – a exceção é a gravação em estúdio de Elba Ramalho para Asas da paixão (Joãozinho Ribeiro).

É que Milhões de Uns não é apenas título de uma das mais conhecidas músicas do artista, vencedora do Prêmio Universidade FM há mais de 10 anos, na magistral interpretação de Célia Maria. A música que batiza o disco de estreia é a mais perfeita tradução do que são a vida e obra do bacharel em Direito, funcionário público e professor universitário nascido João Batista Ribeiro Filho.

A constelação presente ao disco reflete sua importância para a música produzida no Maranhão ao longo dos últimos mais de 30 anos. Ali estão nomes como o Coral São João, Milla Camões, Célia Maria, Zeca Baleiro, Chico César, Alê Muniz, Lena Machado, Chico Saldanha e Elba Ramalho, a interpretar sambas, choros, blues, reggaes, forrós e marchinhas, o que demonstra a versatilidade de Joãozinho Ribeiro.

Variedade refletida também no leque de parceiros: Betto Pereira (Coisa de Deus), Alê Muniz (Planos urbanos), Chico César (Anonimato), Marco Cruz (Tá chegando a hora) e Zezé Alves (Rua Grande).

O autor e seus convidados são escudados pela banda Milhões de Uns, outra constelação de craques à parte: Arlindo Carvalho (percussão), Danilo Costa (saxofone tenor e flauta), Firmino Campos (vocal), George Gomes (bateria), Hugo Carafunim (trompete), Klayjane (vocal), Luiz Jr. (violão sete cordas, guitarra semiacústica e viola caipira), Paulo Trabulsi (cavaquinho), Rui Mário (sanfona e teclado), Serginho Carvalho (contrabaixo) e Wanderson Silva (percussão).

Se médicos chegaram a desenganar o moleque João aos nove anos de idade, apostando-lhe cinco anos de sobrevida, o menino cresceu, tornou-se Joãozinho Ribeiro e teima em viver e fazer arte, desde um Festival Universitário de Música na UFMA, em 1979. Com seu otimismo quase insuportável, como gracejou Zeca Baleiro durante a gravação do disco, um de seus bordões é “eu não morro nem que me matem”, frase de quem teima em lutar pelas coisas que acredita, como diz outra conhecida canção sua.

Para festejar os seis ponto zero, Joãozinho Ribeiro, sempre acompanhado de convidados especiais, inicia nesta sexta-feira (6), às 20h, no Bar do Léo, uma temporada que circulará por alguns bares e outros espaços ludovicenses e deve descer também a alguns municípios do interior. A ideia é realizar, a partir deste início de março, shows mensais até o fim do ano.

Para a estreia estão escalados Célia Maria e Chico Saldanha. Os shows terão um formato intimista. As apresentações têm entrada franca. Milhões de Uns – Vol. 1 pode ser adquirido na ocasião, no local, e ainda nos seguintes pontos de venda espalhados pela Ilha: Banca do Dácio (Praia Grande), Livraria Poeme-se (Praia Grande), Rodrigo Cds Maranhenses (Praia Grande), Banca do Valdir (Renascença I), Papos & Sapatos (Lagoa da Jansen), Quitanda Rede Mandioca (Rua do Alecrim), Banca do Mundo de Coisas (Renascença II) e Play Som (Tropical Shopping).

Alguns dias com Patativa

No retorno do Vias de Fato, nosso repórter de cultura relembra Ninguém é melhor do que eu, show de lançamento do disco de estreia da compositora Patativa, que ele teve a honra de assessorar

Talentosa, contente e faceira: a compositora Patativa ladeada pelo séquito de admiradores com quem trabalhou para o sucesso de "Ninguém é melhor do que eu", o disco e o show. Foto: Maristela Sena
Talentosa, contente e faceira: a compositora Patativa ladeada pelo séquito de admiradores com quem trabalhou para o sucesso de “Ninguém é melhor do que eu”, o disco e o show. Foto: Maristela Sena

 

Nem pestanejei ao receber o convite para assumir a assessoria de comunicação do show de lançamento de Ninguém é melhor do que eu, disco de estreia de Patativa, que aconteceu em São Luís, no Porto da Gabi, na última quarta-feira (19).

Já era admirador de longa data de seu trabalho e sabia cantar alguns sambas seus de cor, apesar da quase inexistência de registros de músicas suas até ali. As exceções eram Rosinha, gravada por Fátima Passarinho no único disco do grupo Fuzarca (integrado ainda por Cláudio Pinheiro, Inácio Pinheiro, Roberto Brandão e Rosa Reis), e Colher de chá, por Lena Machado em Samba de minha aldeia (2009), com participação especial de Zé da Velha e Silvério Pontes.

O aprender fácil, a própria Maria do Socorro Silva, seu nome de pia, 77 anos, explica: “samba de cachaça! A letra é curtinha pra não esquecer”. E dá um exemplo, cantarolando a letra de Quebrei meu tamborim: “deixei de beber/ e quebrei meu tamborim/ eu não vou, eu não vou/ na porta daquele botequim/ vai, vai, vai/ eu não quero mais você pra mim”.

Nas rodas boêmias entre a Praia Grande e a Madre Deus, Xiri meu é hit absoluto. Durante os dias em que a acompanhei por diversos veículos de comunicação numa maratona de entrevistas prévias ao lançamento, senti-me personagem do documentário curta-metragem de Tairo Lisboa, que toma emprestado no título sua música mais famosa. Ela ia cumprimentando conhecidos por onde passava, distribuindo seus “beijinhos furta-cor”. Pura simpatia!

Não poucas vezes ouvi-a dizer, em conversas ou respondendo a perguntas de repórteres, que “quem espera por Deus não cansa”, referindo-se ao fato de somente agora lançar o primeiro disco da carreira. “Eu queria mais cedo, quando estava mais nova e a voz, mais bonita. Mas foi agora que Deus quis”, também a vi conformando-se algumas vezes. Ninguém é melhor do que eu sai pelo selo Saravá Discos, de Zeca Baleiro, diretor artístico do disco, que tem produção musical de Luiz Jr.

O álbum traz um apanhado de 12 sambas e o cacuriá malicioso, já velho conhecido dos ludovicenses, sobretudo os frequentadores das citadas rodas boêmias, e conta com as participações especiais de Simone, em Saudades do meu bem querer, e Zeca Pagodinho, na faixa-título, além do próprio Zeca Baleiro, em Santo guerreiro.

Patativa já está com outro disco na gaveta, Patativa canta sua história, que deve ser lançado antes do carnaval, segundo o produtor Luiz Jr., financiado por edital da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão.

Mas é de Ninguém é melhor do que eu que nos cabe falar, por enquanto. O lançamento foi uma linda noite de festa, em que Patativa foi reverenciada por fãs, amigos, admiradores, conhecidos e todos os frequentadores, assíduos ou não, do Porto da Gabi, cuja proprietária e o marido, Gabriela e Josemar, são personagens de uma das músicas do disco: o Samba dos seis.

Joaquim Zion e Marcos Vinicius, djs residentes da casa na já tradicional Sexta do Vinil, três anos recém-completados, fizeram o povo gingar misturando reggae, merengue e música brasileira, antes das apresentações do grupo Samba na Fonte – de cujas apresentações na Fonte do Ribeirão que lhes batiza Patativa vez por outra participa – e da exibição do filme de Tairo Lisboa.

Depois era a vez dela. Inseparáveis, o chapéu e o galho de arruda na orelha esquerda compunham o figurino com que Patativa subiu ao palco, acompanhada de Luiz Jr. (violão sete cordas e direção musical), Robertinho Chinês (cavaquinho), Davi (contrabaixo), Oliveira Neto (bateria), Lambauzinho (percussão), Wanderson (percussão), Elton (sax e flauta), Philippe Israel (vocais) e Lena Machado (vocais) – esta subiria ao palco a partir de sua participação especial em Colher de chá.

Patativa abriu o show com a mina No pé da minha roseira (“No pé da minha roseira/ em cada galho é uma flor”). Cantou quase todo o disco e mais cinco inéditas, incluindo esta primeira. Zeca Baleiro dividiu o microfone com ela em Santo guerreiro e em Ninguém é melhor do que eu. Antes, brincou: “vai ser difícil fazer as vezes do xará”, referindo-se a Zeca Pagodinho, que canta a faixa-título no disco.

O público lotou o Porto da Gabi em plena quarta-feira. O clima de cumplicidade entre artistas e público, raras vezes visto com tanta intensidade, garantiu que tudo corresse bem. Agora Patativa era uma estrela – como sempre foi – mas continuava se comportando como se cantasse na Fonte do Ribeirão, na Feira da Praia Grande ou na janela da sala de sua casa – onde a vi batucando um samba, talvez compondo, enquanto esperávamos a hora de um novo compromisso de divulgação do show. Ou seja: Patativa continuava se comportando como a Patativa que sempre foi, desde que Justo Santeiro colocou-lhe o apelido, com o que de início se zangou, o que certamente colaborou para que o nome artístico pegasse. “E tu, que é uma Patativa, que só vive cantando pela Madre Deus?”, revidou à comparação com o Amigo da Onça numa cachaçada, como ela mesma conta.

Passados tantos anos, Patativa, hoje, é sinônimo de alegria e boa música – mesmo quando os temas são tristes, como as saudades e as dores de amor. Que seu compor e seu canto alcem cada vez mais altos voos, pousando em cabeças, corações e ouvidos abertos e interessados.

[Vias de Fato, dezembro de 2014]

Para ouvidos, mentes e corações abertos

[Sobre Hein?, show de Bruno Batista e Claudio Lima, Teatro da Cidade de São Luís (antigo Cine Roxy), 27/11]

Foto: Aparecida Batista
Foto: Djalma Raposo

 

Hein? não é para surdos. É para ouvidos atentos, ávidos. Não é para quem está acostumado a mesmice. Ou é, se se quiser sair desta zona de conforto.

É um show em que Bruno Batista e Claudio Lima divertem-se no palco e nós nos embevecemos na plateia. Em determinada altura, ao agradecer carinhosamente a presença de todo mundo, o segundo comenta a importância do público: “sem vocês nós não estaríamos aqui cantando, fazendo música. Estaríamos em casa, estudando”.

Parece simples a ideia de reunir um amontoado de canções, subir no palco e cantar. Pode até parecer, mas está longe disso. Há uma preocupação em reinventar, em recriar, em recompor.

Claudio Lima está cantando cada vez melhor, no palco sua entrega é total, seus elegantes suspensórios não contêm o talento que lhe cabe. Bruno Batista, a despeito de ainda bastante jovem, já é um senhor compositor, sua boina deve ser a primeira a saber das ideias musicais originais que estão sempre a fervilhar sua cabeça.

A poesia forte de Gonzaguinha é recitada ao final de Comportamento geral, que abre o show. Uma música forte, que parece dizer que, apesar de estarem se/nos divertindo e deliciando, a dupla não está para brincadeira.

Noturno (Graco/ Caio Silvio), sucesso de Fagner, ganha clima jazzy na interpretação límpida de Claudio Lima. Sozinho, acompanhando-se com um maracá, canta Kaô (Gilberto Gil/ Rodolfo Stroeter), o risco e a experimentação marcas deste inspirado artista.

Zanza (Carlinhos Brown) ganha grand finale de boi de zabumba, no arranjo inspirado acompanhado pela banda, enxuta e competente: Rui Mário (teclado e sanfona), Luiz Jr. (violões de seis e sete cordas e viola) e João Simas (guitarras).

Antes de cantarem Guaraná Jesus (versão de Carlos Careqa para Chocolate Jesus, de Tom Waits) Bruno Batista contou a história de como chegou à música, de como chapou com À espera de Tom, o disco em que Carlos Careqa canta apenas versões de Tom Waits, ele “fãzaço” declarado de ambos.

Claudio Lima brinca com a voz e torna sublime o fecho de Menina amanhã de manhã (Tom Zé), cantada por ambos e acompanhada por Bruno Batista ao violão – o que ele faz em boa parte do show.

Vê se me esquece (Itamar Assumpção/ Alice Ruiz) é uma música que Bruno Batista escolheu para chamar de sua. Ciranda para Janaína (Kiko Dinucci/ Jonathan Silva) demonstra sua inserção na cena paulistana, onde reside.

“A culpa é dele”, Claudio Lima acusa Bruno Batista ao interpretar Teu corpo (parceria de Bruno com Paulo Monarco e Dandara Modesto), uma das inéditas da ótima safra recente do compositor. Também foram reveladas Madrigal (também parceria de Bruno com Monarco e Dandara) Senhora da alegria – cantada como se rezassem, linda oração que a música é –, O queixo, um tango engraçado, e Caixa preta. Coisas lindas que eu espero que eles gravem logo nos discos prometidos em entrevista, pois não é justo ficarmos reféns de apresentações que não acontecem com tanta regularidade – infelizmente.

O show foi fechado com Hein? (Tom Zé/ Vicente Barreto), que batiza o show. Bruno Batista e Claudio Lima apresentaram a banda e agradeceram novamente aos patrocinadores e apoiadores e a presença do público. Voltaram para o bis: Rosa dos ventos, com que venceram um festival há dois anos, em São Luís, se juntou a Tarantino, meu amor, únicas autorais já gravadas pelo compositor.

Esqueceram-se de comentar o belo cenário, assinado por Claudio Lima: formado por espelhos, um ponto de interrogação em forma de orelha – ou vice-versa –, espécie de logomarca de Hein?, usada também na divulgação do espetáculo desde sua primeira edição, em 2008.

Que venham temporada e turnê, como também prometido em entrevista. Mais gente precisa ouvir e conhecer Bruno Batista e Claudio Lima, dentro e fora do Maranhão.

p.s. (como na música de Itamar e Alice): houve certo exagero no uso de gelo seco, às vezes mais de um jato por música. A máquina faz muito barulho.