Cristóvão Colombo da Silva

POR CESAR TEIXEIRA*

Um compositor que não precisou descobrir a América para ganhar fama, já trazia dentro de si a nau inspirada com que recriava o mundo todos os dias, e de improviso. Neste 12 de outubro, Dia das Crianças, completaria 100 anos, se estivesse vivo. O nome dele é Cristóvão / Sobrenome: Alô Brasil.

Alô Brasil no bar. Fotos: Acervo Cesar Teixeira. Reproduções

– Alô Brasil! Era a saudação de mouros e cristãos agrupados nas calçadas, nos botecos ou nas portas das casas quando ele passava, e logo respondia: “Aquele abraço!”.

Se fosse tempo de carnaval, transitava amanhecido com a fantasia da Turma do Quinto ou dos Fuzileiros da Fuzarca. De outra feita, era o chapéu de palha ou feltro, geralmente enfeitado com uma flor ou uma pena sobrevivente, quase um enxerto da batucada em sua cabeça. Era magro, de olhos graúdos e semiabertos que pareciam sonhar o tempo todo.

Caso estivesse fardado de funcionário da Secretaria de Transportes e Obras Públicas (Setop, hoje Sinfra) e sem o chapéu, podia-se ver sua cabeleira cheia, penteada rigorosamente à moda Orlando Silva, espécie de ídolo do compositor, daí o inseparável pente Flamengo no bolso de trás da calça.

O autor do perfil, ladeado por Cristóvão e Antonio Vieira

Invariavelmente, subia e descia as ruas da Madre de Deus todos os dias, obedecendo a um relógio interior, as longas pernas arqueadas como se cavalgasse uma nuvem, até finalmente encostar na quitanda do Seu Alfredo Louzeiro para a hora extra. Foi lá que eu conheci de perto, no início da década de 1970, a obra do compositor e amigo navegante Cristovam Colombo da Silva – conforme reza sua carteira de identidade –, que na gramática do samba foi rebatizado Cristóvão “Alô Brasil”.

O nome de pia era homenagem ao descobridor da América, e o apelido ganhou depois de ter na época participado do programa Alô Brasil, Aquele Abraço, apresentado por Lúcio Mauro na Rádio Globo, do Rio de Janeiro, depois de chegar com um dia de atraso para uma participação no Chacrinha.

Em 1982, foi ao programa de Flávio Cavalcante – Boa Noite Brasil –, da Rede Bandeirantes, em São Paulo, como convidado especial do produtor Renato Barbosa, que estivera em São Luís para ser apresentador do 1º Festival de Verão da Música Popular Maranhense, por ocasião dos festejos de 370 anos da cidade, em setembro daquele ano.

“Santo Cristo”, como era reverenciado por alguns familiares, então mostrou para todo o Brasil a sua arte de improvisar, o que fez aumentar mais ainda a sua popularidade, tendo no copo a sua cruz e o solovox da fraternidade. “Palavras que me comovem”, repetiria.

O compacto “Velhos moleques”, produzido por Chico Saldanha, Giordano Mochel e Ubiratan Souza. Capa. Reprodução
“Alô Brasil”. Capa. Reprodução

Ao lado de Caboclinho (José Assunção Gomes), integrou em abril de 1986 o Projeto Pixinguinha, do qual já havia participado três anos antes. João Nogueira e Marília Medalha estavam lá. No mesmo ano, gravou com Antonio Vieira, Lopes Bogéa e Agostinho Reis o compacto “Velhos Moleques”, e, em 1999, o cd “Alô Brasil”, com a participação de vários intérpretes maranhenses.

UNIVERSIDADE DE BAMBA

A quitanda do Alfredo, na Madre de Deus, era uma espécie de pontifícia universidade do samba, a cachaça tinha prioridade sobre os livros e não havia censura prévia, depois era entender-se com a medicina e tentar um fiado nas farmácias do bairro, restando as alternativas do boldo, espinheira santa e folha de mamão.

Entre os catedráticos que a frequentavam estavam Sapinho, Henrique Reis, Paletó, Luís de França, Caboclinho, Biné do Banjo, Vavá, Patativa, Dedinho e Veríssimo (Cuíte), todos compositores. Careca, Virador, Penicilina e Caraolho já eram falecidos.

Vez por outra, por lá passavam os violonistas Paquinha e Mascote, além de Nazinho, pescador e banjoísta que transformava segundas-feiras em domingos após longos dias no mar, entre charutos e doses de alcatrão para manter o voto de silêncio, enquanto Reinaldo mostrava a picardia na cabaça, Zé Leão no pandeiro, Dedinho na retinta…

Bem, na quitanda tudo virava instrumento: as portas, os mochos e até um inocente tonel de querosene encostado na parede, que servia de marcação. Sapinho fazia variações na bomba de lata que puxava o combustível, soprando-a como se fosse um saxofone.

Cristóvão ali era o coringa que iniciava o samba, com pulmão de Noel Rosa, outro artista que admirava. Dava o tom, descendo e subindo uma escala maior, para depois atacar com uma voz sibilada, devido aos dois únicos dentes na boca, segundo ele “para abrir as garrafas”:

Silêncio, vou ler um aviso:
É hora de começar a batucada…

O samba esquentava, convencendo Seu Alfredo a jogar uma pá de camarão seco sobre o balcão para absorver a aguardente do peritônio da rapaziada. “Se tivesse dinheiro, eu comprava um anel pra ser doutor de samba”, costumava dizer Cristóvão. Não sabia que já estava dando uma aula.

Cheguei a levar muitos desses compositores para um programa chamado “Pitacos” gravado e transmitido pela Rádio Timbira nos finais de semana, numa produção do Laborarte, entre 1972 e 1973. Não havia patrocinador, nem cachê. Às vezes partilhávamos uma garrafa e as passagens de ônibus, mas quase sempre a volta para a Madre de Deus era a pé. “Eu acho é bom!”, dizia Cristóvão.

Junto com o compositor participei de vários espetáculos nos palcos da cidade, e como já tinha o costume de acompanhá-lo no violão ou no cavaquinho pelas rodas de samba, quase não havia ensaio. Ele improvisava de lá e eu de cá. Lembro com saudade a apresentação que fizemos do Teatro Praia Grande [hoje Teatro Alcione Nazaré] ao lado de Henrique Reis e Patativa.

NOTÍCIAS DE JORNAL

Em 1984, Cristóvão foi fazer um show para ser gravado pelo Projeto Pró-Memória/SPHAN, que funcionava na rua das Barrocas, nº 125. Chegamos lá com uma garrafa de pinga embrulhada numa folha de jornal no horário marcado para as 19 horas. A secretária viu aquilo e não nos deixou entrar. “Pois bem, então vamos beber em outro lugar”, disse-lhe.

Já estávamos dobrando a esquina, quando um esbaforido Ivan Sarney, diretor do programa gritou da porta: “Voltem, voltem, o auditório está cheio! Podem entrar com a garrafa!” Foi uma noite memorável, com muito tema para improviso e estrondosas gargalhadas da plateia.

“Alô Brasil” costumava dizer, e cantar, que tinha samba na cabeça “como letra no jornal”. Isso denunciava o seu hábito pela leitura, que incluía os livrinhos de bolso. No final do expediente da Sinfra, onde foi contínuo e porteiro, ele reunia os jornais diários que por ali passavam, dobrando-os meticulosamente num pacote retangular amarrado com barbante.

Esse pacote ficava guardado debaixo dos balcões e prateleiras dos bares enquanto durasse a farra e a batucada, quando o carregava para casa. Lia até anúncio. No dia seguinte estava por dentro dos fatos, mesmo sem perceber as armadilhas criadas pelos feitores da informação, quase sempre ruins da cabeça e doentes do pé.

Cristóvão, porém, tinha um espírito puro, que através da música lhe permitia o dom da ubiquidade, assumindo as dores e alegrias dos outros. Fez samba para Dedinho (Eu moro no morro do Esqueleto / com a minha Nega Teresa…) e para Tabaco (Se você desceu de lá / por favor me dê notícias da mina Nega Joana…) como se fosse eles cantando. Mas fez também para si próprio:

Foi no dia 12 de outubro de 22
que nasceu na Madre Deus
mais um sambista,
o resto eu conto depois…

Nasceu no Dia das Crianças, que tanto adorava. Por isso, repetia que se pudesse nasceria de novo, pois estava ficando “velho e encolhidinho”. Aí conjeturava que alguém poderia pensar: “Será que ele está virando criança outra vez?” Quase chega lá, não fossem as complicações de uma hérnia, que o levou à morte em 20 de agosto de 1998.

Fui ver pela última vez meu grande amigo no Hospital Carlos Macieira, onde jazia sobre o mármore, embrulhado em lençóis. Lembrei-me do pacote de jornais, que ele não iria mais colecionar, nem leria ansioso a notícia da própria morte. Isso não seria mais necessário para quem tirou de letra a vida como um passeio distraído pela rua.

No cemitério, antes que o pedreiro vedasse com tijolos o mausoléu de família, consegui jogar-lhe uma flor, para que não esquecesse de por no chapéu quando encontrasse com os outros sambistas já embriagados de aurora.

O BATENTE DO SAMBA

Caricatura de Érico Junqueira

Cristovam Colombo da Silva nasceu em São Luís, na rua do Passeio, em 12 de outubro de 1922, numa casa ao lado do extinto Cine Rialto. De lá foi ainda criança para a rua de São Pantaleão, nº 1.275, próximo ao Hospital Geral, para onde também se mudou, em 1941, o bloco Fuzileiros da Fuzarca, fundado cinco anos antes na rua de São João, com o envolvimento de toda a sua família.

E não era pouca gente. Seus pais, José Bonifácio da Silva e Mercedes Ramos da Silva, tiveram oito filhos: Amélia, Sandoval, Astrogildo, Cristovam, Manoel, Lenir, Noca e Teresa, somando-se uma infinidade de descendentes. Dona Mercedes foi uma espécie de esteio dos Fuzileiros durante cerca de 20 anos, até o seu falecimento no início da década de 1960, quando o bloco se mudou para o coração da Madre de Deus.

Foi então que Cristóvão pode se dedicar à Turma do Quinto, escola de samba da qual foi um dos fundadores, mas tinha uma participação quase clandestina por causa da predileção da família pelos Fuzileiros da Fuzarca.

Quando a escola foi criada, em 1940, ele já era operário têxtil cardador da Fábrica São Luís, que processava fios de algodão, mudando-se dali para a Cânhamo, onde durante 28 anos ocupou como fiandeiro uma das máquinas que fabricavam sacos de estopa para a indústria e o comércio locais.

Depois do trabalho, Cristóvão ainda encontrava disposição e tempo para tocar pandeiro e cantar suas músicas em gafieiras, clubes e cabarés, sobretudo na Zona do Meretrício, onde se apresentava com a orquestra de Pedrão e no Jazz Irakitan. Assim, matava a sede da boemia e alimentava a magra renda.

Em 1968, conseguiu um emprego na Secretaria de Viação e Obras Públicas (SVOP), que depois se tornou SETOP, e, por último Sinfra. Lá exerceu os cargos de contínuo e agente de portaria, que para ele era o nome moderno de vigia. “Mas não vigio nada, nem ninguém”, dizia.

Na verdade, Cristóvão gostava de servir a todos e não se furtava de qualquer tipo de empreitada, desde as filas de banco até entregar no horário exato o almoço dos executivos, que o consideravam um funcionário exemplar. Era o primeiro a chegar e o último a sair da repartição, contrariando o estereótipo da malandragem que pesa sobre os sambistas.

Isso lhe valia uns bons trocados para as suas esticadas pelos botecos das redondezas, antes de chegar na Madre de Deus e de lá seguir para o Bairro de Fátima, para onde se mudara no início dos anos 1970. “Ele acordava às seis horas, tomava café e ia por um atalho até a Madre de Deus, e de lá para o São Francisco, atravessando a ponte, todos os dias”, conta Dona Vanda, a viúva, hoje com 72 anos [à época da publicação original do texto].

Vanderlisa da Silva relata que conheceu Cristóvão na porta da Cânhamo por volta de 1946, quando tinha apenas 14 anos e ele 24. Por ser muito branca, era chamada de “loura” ou “americana” pelos colegas operários. Logo chamou a atenção do compositor, que, a princípio, brincava muito com ela, mas era esnobado.

“A brincadeira virou coisa séria”, lembra Dona Vanda. Tiveram uma convivência de mais de 50 anos, no início cheia de altos e baixos, pois ambos gostavam de brincar – ela nos bailes e ele nas rodas de samba. Dessa paixão, em 1951 nasceu o único filho, Orlando Silva (poderia ser outro?), depois veio o neto, Rafael, herdeiros de uma grande fortuna: o samba inspirado e irretocável de Alô Brasil.

*Cesar Teixeira é jornalista e compositor. Perfil originalmente publicado no Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, nº. 66, em 2006, então quinzenalmente encartado no Jornal Pequeno, aqui reproduzido com pequeníssimas modificações

Cesar Teixeira apresenta Samba de Botequim, nesta sexta (23)

[release]

O cantor e compositor Cesar Teixeira. Foto: divulgação

Show no Ceprama será uma grande festa devotada ao samba, na Madre Deus, um dos bairros mais identificados com o gênero

O cantor e compositor Cesar Teixeira tem encontro marcado com seu público: ele apresenta o show Samba de Botequim, na próxima sexta-feira (23), às 19h, no Ceprama (Madre Deus).

Como o título entrega, a apresentação será dedicada ao samba, um dos gêneros musicais de predileção do artista, nascido e criado na Madre Deus, bairro boêmio encravado no coração da ilha, onde passou também parte da idade adulta.

Pelos botequins da Madre Deus – Cesar Teixeira foi frequentador de rodas de samba espontâneas em botequins lendários, como a quitanda de Seu Alfredo, onde pescadores, magarefes, operários e outros personagens se reuniam entre sacas de arroz, farinha e camarão seco, munidos de seus instrumentos. Foi amigo de lendas do bairro, como o compositor Cristóvão Alô Brasil (12/10/1922-19/8/1998), que completaria 100 anos no próximo dia 12 de outubro e de quem se tornaria parceiro, entre outros, e integrou a ala de compositores da Escola de Samba Turma do Quinto, também sediada na Madre Deus. Em 2010 Cesar Teixeira foi homenageado pela rival Favela do Samba.

Para o artista, o show é também uma homenagem às mulheres, “especialmente às mulheres negras, tão sacrificadas pelo atual governo”, afirma. A abertura fica por conta da dj Vanessa Serra, e ele terá como convidadas Rosa Reis, Célia Maria, Flávia Bittencourt, Lena Machado, Fátima Passarinho, Gabriela Flor – todas elas intérpretes de sua obra de longa data, em discos e shows – e o bloco carnavalesco Fuzileiros da Fuzarca, com 86 carnavais no currículo.

Cesar Teixeira será acompanhado por um regional formado por Rui Mário (sanfona e direção musical), Marquinhos Carcará (percussão), Tiago Fernandes (violão sete cordas), Chico Neis (violão), Gabriela Flor (pandeiro), Ronald Nascimento (bateria), Gustavo Belan (cavaquinho), Hugo Braga Reis (trombone), Ricardo Mendes (saxofone, clarinete e flauta), Daniel Cavalcante (trompete), Regina Oliveira (vocais) e Duda Saraiva (vocais). Entre os instrumentistas haverá ainda a participação especial de Victor Oliveira (saxofone). No repertório, clássicos e sambas inéditos da lavra do compositor, além de homenagens à velha guarda madredivina, entre nomes como Cristóvão Alô Brasil, Caboclinho e Patativa.

Trajetória – Com uma carreira iniciada ainda na década de 1960, em festivais estudantis de música, Cesar Teixeira foi um dos fundadores do Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte), em 1972, e um dos quatro compositores gravados por Papete no elepê “Bandeira de aço” (1978), lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira e considerado um divisor de águas na música popular brasileira produzida no Maranhão. É também jornalista e artista plástico. Lançou dois discos solo: “Shopping Brazil” (2004) e “Camapu” (2018). O show “Samba de Botequim” será gravado e o material audiovisual deve ser disponibilizado em breve.

“Samba de Botequim” é uma realização da Pitan Produções e Coletivo Apoena, com patrocínio do Governo do Estado do Maranhão e Grupo Mateus, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Entre os objetivos da iniciativa está a formação de plateia. Os ingressos serão trocados por um quilo de alimento não-perecível e a arrecadação será destinada ao Natal Solidário das Mercês e para a Associação das Profissionais do Sexo no Maranhão (Aprosma), com atuação na área do centro histórico da capital maranhense.

Serviço

O quê: show Samba de Botequim
Quem: Cesar Teixeira e convidados
Quando: dia 23 (sexta-feira), às 19h
Onde: Ceprama (Madre Deus)
Quanto: um quilo de alimento não-perecível
Realização: Pitan Produções e Coletivo Apoena
Patrocínio: Governo do Estado do Maranhão e Grupo Mateus, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura
Informações: no instagram @showsambadebotequim

Sem tirar de dentro

A ginga de Patativa ladeada por Philippe Israel e Cauê Veloso. Foto: Zema Ribeiro

 

Philippe Israel (pandeiro e voz) cantou dois sambas da Madre Deus à guisa de aquecimento: Araçagi, de Cristóvão Alô Brasil, e um de Luís de França, uma das muitas lendas do bairro, berço do gênero na capital maranhense.

Patativa chegou trajando seus indefectíveis chapéu e galho de arruda na orelha esquerda. A maioria em pé, um bom público já aguardava no pátio do Centro Cultural Vale Maranhão (Av. Henrique Leal, 149, Praia Grande). A pedreirense, que acabaria por tornar-se a mais madredivina entre as sambistas, inaugurava a temporada 2018 do programa Pátio Aberto, com shows semanais gratuitos, sempre às quintas-feiras, às 19h.

Foi apresentada pelo cordelista Moisés Nobre, que emendou, com personalidade, versos de alguns sambas de Patativa ao chamá-la ao palco. Esta não se fez de rogada e atacou com um tambor de mina, abrindo a apresentação que se equilibraria entre músicas inéditas e algumas gravadas em Ninguém é melhor do que eu [Saravá Discos, 2014], até aqui seu único registro fonográfico.

Casos da própria Ninguém é melhor do que eu, Santo guerreiro e Xiri meu – que invariavelmente é a mais pedida pelo público, que dança e canta em coro. Entre as inéditas, destaque para Feijoada incompleta. “Chico Buarque tem a Feijoada completa; Patativa fez a Feijoada incompleta”, provocou Philippe. “Essa é uma boa história. Um dia um amigo me chamou para um aniversário. Eu fui. Chegando lá, me serviram uma feijoada que era só feijão e água”, contou para risos da plateia.

No intervalo entre uma música e outra, virou-se para Cauê Veloso (cavaco e voz): “bóra, meu filho, três sem tirar de dentro, pra eu sair ligeiro”, brincou. A apresentação durou cerca de 45 minutos.

Além de Philippe e Cauê, a banda se completava com ​ Kit (violão), Marcão (percussão), Osvaldo (percussão) e Ricardo (percussão). O show acabou com outro medley madredivino, com sambas compostos pelos saudosos Henrique Sapo, Paletó e Bibi Silva para o bloco Fuzileiros da Fuzarca, do qual Patativa é integrante.

O bis ficou por conta de Babado na favela, outra autoral gravada em Ninguém é melhor do que eu. “O show não acabou. Todo mundo pra Fonte!”, convidou Philippe Israel, anunciando o esticar da noite no tradicional Samba na Fonte, na Fonte do Ribeirão, cartão postal da cidade, agora emoldurado de samba.

#ocupafeira

Patativa e Turma do Vandico farão três horas de samba na Feira da Praia Grande, na programação do Festival BR 135

Há dois anos, em novembro, a compositora Patativa realizava um sonho: pelas mãos do conterrâneo Zeca Baleiro, lançava Ninguém é melhor do que eu, seu disco de estreia, que contou com participações especiais de Simone e Zeca Pagodinho, dois cantores de sua admiração, além do maranhense, idem.

Seu primeiro disco era há muito aguardado por um séquito de fãs e conhecidos que Patativa acumulou ao longo dos anos em que inventou e aprimorou o que ela mesmo chama de “samba de cachaceiro”, sambas de letras propositalmente curtas para evitar o risco do esquecimento numa manhã de ressaca.

Prestes a completar 80 anos, em 2017, quando lançará seu segundo disco, também produzido por Zeca Baleiro, Patativa esbanja, além do galho de arruda na orelha esquerda, uma saúde de ferro, de fazer inveja a muito jovem trabalhado na academia. Consultas e exames, aliás, contradizem a maledicência provinciana que lhe imputa o mal de Alzheimer – o HD privilegiado de Maria do Socorro Silva, nome de batismo da pedreirense, arquiva mais de 200 composições nos mais variados estilos, que o público conhecerá no sucessor de Ninguém é melhor do que eu, que privilegiou o universo do samba, vertente pela qual é mais conhecida.

A exceção, no primeiro disco, era Xiri meu, cacuriá malicioso, batizado pelo apelido maranhense dado à genitália feminina, que acabou por emprestar título a um documentário curta-metragem de Tairo Lisboa, que obteve algum êxito no circuito de festivais de cinema do Brasil. A música que fecha Ninguém é melhor do que eu é, no final das contas, um quase-samba de empoderamento feminino, que, no universo geralmente machista do samba, coloca as mulheres em seu devido lugar: fazendo o que quiserem, quando quiserem, com quem bem entenderem.

O Mercado das Tulhas ou Feira da Praia Grande, espécie de segunda casa de Patativa, que ela visita com frequência, tirando onda com feirantes, habitués e turistas, será o palco em que a madredivina dama estará à vontade, na companhia da Turma do Vandico, um dos mais longevos grupos de samba da Ilha.

A grande roda de samba e sorriso acontecerá no próximo sábado (26), a partir das 15h (a previsão é que siga até 18h), com entrada gratuita – a exemplo de toda a programação do Festival BR 135 e do Conecta Música, evento paralelo de formação e debates.

Patativa passeará pelo repertório de seu disco de estreia e do próximo (já gravado!), além levar ao público inéditas de seu cofo fundo e versátil de composições.

Há alguns anos o BR 135 e o Conecta Música ocupam com arte e discussões sobre seus rumos diversos espaços da Praia Grande, valorizando o patrimônio arquitetônico, cultural e humano. Alê Muniz, seu idealizador e organizador, ao lado de Luciana Simões, com quem forma o duo Criolina (que lança disco novo ainda este ano), reconhece o “formato de feira” do Festival, que este ano tem as ocupações culturais destes tempos temerários, mas não só, entre os temas de debate. Entrar na Feira, literalmente ocupá-la, é mais um acerto, que se soma a vários outros na estrada que o BR 135 já percorreu até aqui. Ainda mais com Pattaiva e a Turma do Vandico de cicerones.

Adiado show de Patativa

Figa pra espantar o mau olhado. Foto: Beto Matuck
Figa pra espantar o mau olhado. Foto: Beto Matuck

 

O show que a compositora Patativa apresentaria neste sábado (14), no novo Barulhinho Bom (Praia Grande), foi adiado. Maria do Socorro Silva, a Patativa, “foi acometida por uma virose e não teria condições de cantar”, informou a produção.

Em novembro passado ela lançou seu disco de estreia, Ninguém é melhor do que eu, em show no Porto da Gabi. A ideia da apresentação cancelada era proporcionar ao público ludovicense nova oportunidade de vê-la no palco. Mês que vem ela deve realizar uma turnê no circuito Sesc/SP, com produção de Zeca Baleiro.

Em momento oportuno, a produção informará nova data para o show de Patativa, o que este blogue terá o maior prazer em divulgar.

Março fazendo água – É o segundo show adiado em São Luís este mês. Sexta passada (6), o lançamento de Milhões de Uns – vol. 1, de Joãozinho Ribeiro, que inauguraria uma temporada do compositor, anunciado para o Bar do Léo, não aconteceu. A produção do compositor também deve anunciar a nova data de estreia em breve.

Alguns dias com Patativa

No retorno do Vias de Fato, nosso repórter de cultura relembra Ninguém é melhor do que eu, show de lançamento do disco de estreia da compositora Patativa, que ele teve a honra de assessorar

Talentosa, contente e faceira: a compositora Patativa ladeada pelo séquito de admiradores com quem trabalhou para o sucesso de "Ninguém é melhor do que eu", o disco e o show. Foto: Maristela Sena
Talentosa, contente e faceira: a compositora Patativa ladeada pelo séquito de admiradores com quem trabalhou para o sucesso de “Ninguém é melhor do que eu”, o disco e o show. Foto: Maristela Sena

 

Nem pestanejei ao receber o convite para assumir a assessoria de comunicação do show de lançamento de Ninguém é melhor do que eu, disco de estreia de Patativa, que aconteceu em São Luís, no Porto da Gabi, na última quarta-feira (19).

Já era admirador de longa data de seu trabalho e sabia cantar alguns sambas seus de cor, apesar da quase inexistência de registros de músicas suas até ali. As exceções eram Rosinha, gravada por Fátima Passarinho no único disco do grupo Fuzarca (integrado ainda por Cláudio Pinheiro, Inácio Pinheiro, Roberto Brandão e Rosa Reis), e Colher de chá, por Lena Machado em Samba de minha aldeia (2009), com participação especial de Zé da Velha e Silvério Pontes.

O aprender fácil, a própria Maria do Socorro Silva, seu nome de pia, 77 anos, explica: “samba de cachaça! A letra é curtinha pra não esquecer”. E dá um exemplo, cantarolando a letra de Quebrei meu tamborim: “deixei de beber/ e quebrei meu tamborim/ eu não vou, eu não vou/ na porta daquele botequim/ vai, vai, vai/ eu não quero mais você pra mim”.

Nas rodas boêmias entre a Praia Grande e a Madre Deus, Xiri meu é hit absoluto. Durante os dias em que a acompanhei por diversos veículos de comunicação numa maratona de entrevistas prévias ao lançamento, senti-me personagem do documentário curta-metragem de Tairo Lisboa, que toma emprestado no título sua música mais famosa. Ela ia cumprimentando conhecidos por onde passava, distribuindo seus “beijinhos furta-cor”. Pura simpatia!

Não poucas vezes ouvi-a dizer, em conversas ou respondendo a perguntas de repórteres, que “quem espera por Deus não cansa”, referindo-se ao fato de somente agora lançar o primeiro disco da carreira. “Eu queria mais cedo, quando estava mais nova e a voz, mais bonita. Mas foi agora que Deus quis”, também a vi conformando-se algumas vezes. Ninguém é melhor do que eu sai pelo selo Saravá Discos, de Zeca Baleiro, diretor artístico do disco, que tem produção musical de Luiz Jr.

O álbum traz um apanhado de 12 sambas e o cacuriá malicioso, já velho conhecido dos ludovicenses, sobretudo os frequentadores das citadas rodas boêmias, e conta com as participações especiais de Simone, em Saudades do meu bem querer, e Zeca Pagodinho, na faixa-título, além do próprio Zeca Baleiro, em Santo guerreiro.

Patativa já está com outro disco na gaveta, Patativa canta sua história, que deve ser lançado antes do carnaval, segundo o produtor Luiz Jr., financiado por edital da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão.

Mas é de Ninguém é melhor do que eu que nos cabe falar, por enquanto. O lançamento foi uma linda noite de festa, em que Patativa foi reverenciada por fãs, amigos, admiradores, conhecidos e todos os frequentadores, assíduos ou não, do Porto da Gabi, cuja proprietária e o marido, Gabriela e Josemar, são personagens de uma das músicas do disco: o Samba dos seis.

Joaquim Zion e Marcos Vinicius, djs residentes da casa na já tradicional Sexta do Vinil, três anos recém-completados, fizeram o povo gingar misturando reggae, merengue e música brasileira, antes das apresentações do grupo Samba na Fonte – de cujas apresentações na Fonte do Ribeirão que lhes batiza Patativa vez por outra participa – e da exibição do filme de Tairo Lisboa.

Depois era a vez dela. Inseparáveis, o chapéu e o galho de arruda na orelha esquerda compunham o figurino com que Patativa subiu ao palco, acompanhada de Luiz Jr. (violão sete cordas e direção musical), Robertinho Chinês (cavaquinho), Davi (contrabaixo), Oliveira Neto (bateria), Lambauzinho (percussão), Wanderson (percussão), Elton (sax e flauta), Philippe Israel (vocais) e Lena Machado (vocais) – esta subiria ao palco a partir de sua participação especial em Colher de chá.

Patativa abriu o show com a mina No pé da minha roseira (“No pé da minha roseira/ em cada galho é uma flor”). Cantou quase todo o disco e mais cinco inéditas, incluindo esta primeira. Zeca Baleiro dividiu o microfone com ela em Santo guerreiro e em Ninguém é melhor do que eu. Antes, brincou: “vai ser difícil fazer as vezes do xará”, referindo-se a Zeca Pagodinho, que canta a faixa-título no disco.

O público lotou o Porto da Gabi em plena quarta-feira. O clima de cumplicidade entre artistas e público, raras vezes visto com tanta intensidade, garantiu que tudo corresse bem. Agora Patativa era uma estrela – como sempre foi – mas continuava se comportando como se cantasse na Fonte do Ribeirão, na Feira da Praia Grande ou na janela da sala de sua casa – onde a vi batucando um samba, talvez compondo, enquanto esperávamos a hora de um novo compromisso de divulgação do show. Ou seja: Patativa continuava se comportando como a Patativa que sempre foi, desde que Justo Santeiro colocou-lhe o apelido, com o que de início se zangou, o que certamente colaborou para que o nome artístico pegasse. “E tu, que é uma Patativa, que só vive cantando pela Madre Deus?”, revidou à comparação com o Amigo da Onça numa cachaçada, como ela mesma conta.

Passados tantos anos, Patativa, hoje, é sinônimo de alegria e boa música – mesmo quando os temas são tristes, como as saudades e as dores de amor. Que seu compor e seu canto alcem cada vez mais altos voos, pousando em cabeças, corações e ouvidos abertos e interessados.

[Vias de Fato, dezembro de 2014]

Reverenciando grandes mestres do gênero, Divino Espírito Samba marca volta de Lena Machado aos palcos

[release]

Show gratuito acontece na Praia Grande e terá participações de Patativa, Zé Pivó e Luzian Filho

Foto: Rivanio Almeida Santos
Foto: Rivanio Almeida Santos

 

No melhor espírito “eu quero é botar meu bloco na rua”, a cantora Lena Machado volta aos palcos com o show Divino Espírito Samba. A apresentação, gratuita, acontece no Anfiteatro Beto Bittencourt (Ágora do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho), na Praia Grande, no próximo dia 15 de janeiro (quinta-feira), às 20h. A produção é da Negro Axé.

Recentemente Lena Machado participou do show de lançamento de Ninguém é melhor do que eu, disco de estreia da compositora Patativa, do réveillon, como convidada do grupo Afrôs, e da posse do governador Flávio Dino, mas há algum tempo o fã clube vinha reclamando um show completamente seu.

“O show é uma espécie de antologia com o melhor do samba brasileiro, o que inclui autores locais, que não devemos nada a ninguém”, exalta a cantora, que volta aos palcos em grande estilo. Nenhum dos 18 sambas do repertório já foi gravado por Lena nos dois discos que lançou: Canção de vida (2006) e Samba de minha aldeia (2009). Com Quem roubou minha aquarela?, de Cesar Teixeira, ela participou da Exposamba, concurso voltado ao gênero em nível nacional. “O repertório não deixa de ser também uma espécie de teste para o que estamos pensando para o próximo disco”, revela, ainda sem previsão de lançamento.

Além de Cesar Teixeira, fornecem obras primas para sua privilegiada voz Antonio Vieira, Batatinha, Benito di Paula, Bruno Batista, Candeia, Chico Buarque, Ismael Silva, Luzian Filho, Paletó, Patativa, Paulo César Pinheiro, Roge Fernandes e Roque Ferreira.

A cantora contará ainda com as participações especiais de Patativa (em cujo disco fez vocais e de quem gravou Colher de chá em seu segundo trabalho), Luzian Filho (do grupo Feijoada Completa) e Zé Pivó (compositor da Turma de Mangueira, escola de samba do bairro do João Paulo, e do bloco carnavalesco madredivino Fuzileiros da Fuzarca).

“Para mim é uma honra, eu, aprendiz, dividir o palco com estes mestres. É beber na fonte de nosso samba genuíno, legítimo, autêntico”, derrete-se a artista. Sobre o nome do show ela conta: “é impossível negar o samba como uma das autênticas expressões de nossa cultura popular, essa nossa batida diferente. O nome une dois aspectos de nossa tradição, e dessa fusão de duas tradições surge algo moderno, daí Divino Espírito Samba”. Além de tudo, soa bem. Como um bom samba.

Lena Machado será acompanhada por Andrezinho (percussão), Fofo (bateria), João Eudes (violão sete cordas), João Paulo Seixas (percussão), Lee Fan (flauta), Rafael Bruno (contrabaixo), Rui Mário (sanfona), Wanderson Silva (percussão) e Wendell Cosme (bandolim, cavaquinho e direção musical). Uma constelação de craques para ninguém botar defeito.

Serviço

O quê: show Divino Espírito Samba.
Quem: a cantora Lena Machado, com participações especiais de Patativa, Zé Pivó e Luzian Filho.
Quando: dia 15 de janeiro (quinta-feira), às 20h.
Onde: Anfiteatro Beto Bittencourt (Ágora do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho), Praia Grande.
Quanto: grátis.
Maiores informações: (98) 981920200 e 981220009.

Tairo Lisboa, a cena e o cinema

Tairo Lisboa é um dos nomes que tem ajudado a movimentar a cena criativa de São Luís de ao menos dois anos para cá. Foi através dele que ouvi falar pela primeira vez em Phil Veras e Tiago Máci, por exemplo.

Do primeiro produziu shows no Chico Discos. Do segundo, organizou uma exposição de caricaturas, no mesmo lugar – minha geladeira ostenta um ímã com Cesar Teixeira, que viria a ser personagem de música sua tempos depois, mas esta é outra história. O nome do produtor figura no encarte do recém-lançado Mete o amor, forte, EP do segundo.

Há algum tempo Tairo Lisboa foi selecionado em um concurso para o qual inscreveu um roteiro – ou a ideia – de um documentário sobre Patativa. Tempos depois fui convidado a prestar meu depoimento sobre a madredivina dama.

Xiri meu ficou pronto e foi exibido em sessões superconcorridas no Cine Praia Grande, ocasião em que o público pode conhecer todos os curtas-metragens que resultaram do projeto São Luís nos 4 Cantos, idealizado por Mavi Simão, responsável também por Cinerama e Maranhão na Tela.

Lembro que eu mesmo não consegui assistir ao doc de Tairo, contentando-me, aquela noite, com um cachorro-quente do Souza, a volta para casa e um “fica para a próxima”. O público na porta do cinema era tanto que houve, na mesma noite, uma segunda sessão – mas disso só soube depois, já tinha ido embora.

Discípulo – voluntário ou não – de Murilo Santos, cineasta e fotógrafo que sempre volta aos lugares para “prestar contas” do que andou captando com suas lentes, Tairo Lisboa realizou uma sessão de exibição de Xiri meu na Feira da Praia Grande, um dos habitats naturais da autora de Colher de chá. Por um motivo ou outro acabei perdendo também.

Só fui ver o filme na noite em que Patativa lançava Ninguém é melhor do que eu, seu disco de estreia, em show no Porto da Gabi – bar que ficou famoso pelo reggae semanal realizado às sextas-feiras há três anos, cuja proprietária é personagem de um dos sambas – o Samba dos seis – gravados no disco, outra paisagem frequentada por Maria do Socorro Silva, nome de pia de Patativa.

Mas o filme que vi era diferente – eu não aparecia (isso era o de menos). Tairo andou mexendo em coisa e outra para participar de um ou outro festival – em alguns, mais conservadores, teve que trocar inclusive o título, já que não pegava bem, ter em suas programações, um dos nomes pelo qual é conhecido, no Maranhão, o órgão sexual feminino, como indica uma nota no encarte do disco de estreia de Patativa.

Recentemente Tairo Lisboa disponibilizou a íntegra da versão, digamos, original de Xiri meu no Youtube. A protagonista está em franca divulgação de seu primeiro disco. Vejam o filme e divirtam-se enquanto o diretor nos conta o que está tramando para 2015.

Noite de gala para Patativa

[texto escrito às pressas, ontem, a pedido do amigo Gutemberg Bogéa. Saiu no JP Turismo, Jornal Pequeno, hoje]

Emoção e autenticidade marcaram show em que a sambista de 77 anos lançou Ninguém é melhor do que eu, seu disco de estreia

TEXTO: ZEMA RIBEIRO
FOTOS: MARISTELA SENA

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Há certas facetas de que só Patativa é capaz. Lotar o Porto da Gabi em plena quarta-feira, por exemplo. Mas o motivo era dos mais justos: o lançamento de seu tão aguardado disco de estreia, que finalmente chegava aos ouvidos de quem aprecia a música de qualidade produzida no Maranhão.

O Samba na Fonte, grupo que ocupa com música a Fonte do Ribeirão, um dos cartões postais do Centro Histórico ludovicense, foi reverenciá-la. Vez por outra ela dá canjas na paisagem.

Os DJs Joaquim Zion e Marcos Vinicius, residentes da casa, misturaram reggae, merengue e música brasileira para recebê-la. A noite era dela, a diva, a madredivina dama, em noite de estreia e gala, aos 77 de idade, que nunca é tarde e “quem espera por Deus não cansa”, como ela mesmo não cansa de dizer.

Pelas mãos de Luiz Jr., produtor musical, e Zeca Baleiro, diretor artístico, Ninguém é melhor do que eu, o disco, chega ao mercado pela Saravá Discos, selo que Baleiro inventou e em que investe energia e um punhado de dinheiro do próprio bolso para lançar nomes em que acredita, que valem a pena. Foi assim com Antonio Vieira, com Lopes Bogéa e agora com Patativa, entre outros.

Ninguém é melhor do que eu tem participações especiais de Zeca Baleiro em Santo Guerreiro, Simone em Saudades do meu bem querer e de Zeca Pagodinho na faixa-título. No repertório, além de Xiri meu, por demais conhecida em rodas boêmias da Ilha, estão ainda Rosinha, gravada por Fátima Passarinho no único disco do grupo Fuzarca (integrado ainda por Rosa Reis, Cláudio Pinheiro, Inácio Pinheiro e Roberto Brandão), e Colher de chá, gravada por Lena Machado em Samba de Minha Aldeia (2009).

Após samba e discotecagem, a exibição de Xiri meu, documentário curta-metragem de Tairo Lisboa preparava o público – como se precisasse – para o que viria a seguir. A noite era dela, repita-se. Na tela, depoimentos de amigos e admiradores: o compositor e jornalista Cesar Teixeira, o ator e incentivador Fumaça, o sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos, o feirante Corintiano. Patativa caminha tranquilamente pela Feira da Praia Grande, ruas da Madre Deus e da Vila Embratel, onde mora atualmente. Tudo isso regado a seus sambas, trechos do que se ouviria completo no show.

Escudada por Luiz Jr. (violão sete cordas e direção musical), Robertinho Chinês (cavaquinho), Elton (flauta e sax), Davi (contrabaixo), Oliveira Neto (bateria), Lambauzinho (percussão), Wanderson (percussão), Philippe Israel (vocais) e Lena Machado (vocais), Patativa mostrou, sem ser arrogante, por que Ninguém é melhor do que eu.

Cantou quase o disco inteiro, um apanhado de sambas acima da média, além de cinco inéditas. Sua espontaneidade e jovialidade marcantes contagiaram o público, em uma noite realmente mágica. Tudo jogava a favor: o vento das margens do Bacanga, a qualidade do som, o ambiente, cuja proprietária e seu marido, Gabi e Josemar, são personagens de Samba dos seis, uma das músicas do repertório.

A noite foi coroada ainda com as participações mais que especiais de Lena Machado, que dividiu Colher de chá com a autora, e Zeca Baleiro, que cantou e fez graça com ela em Santo guerreiro e na faixa-título.

O som dos tambores dos Filhos de Dadinha (outro apelido da compositora, este da intimidade de sua casa) encerraram a noite em grande estilo. Até nisso Patativa surpreende: em vez de botar uma saia e rodar, mostrou ao público mais uma composição, no ritmo das batidas frenéticas de Josemar, Peixinho e cia.

*

Confiram Patativa em Ninguém é melhor do que eu (com participação especial de Zeca Pagodinho)

Patativa estreia em disco

[release]

Foto: Beto Matuck
Foto: Beto Matuck

 

A sambista Patativa está com tudo e não está prosa. Neste ano, em que completou 76 de idade, sua carreira vive um novo e único momento: Patativa, que nunca havia gravado um disco solo, lançará dois cds.

O primeiro, concebido sob iniciativa de Zeca Baleiro, diretor artístico, e Luiz Jr., produtor musical, se chama Ninguém é Melhor do que Eu e traz participações de Simone, Zeca Pagodinho e do conterrâneo Baleiro. É um apanhado de 12 sambas mais o hit regional Xiri Meu, cacuriá malicioso que o povo maranhense já inclui entre seus grandes “clássicos”. O disco sai em novembro pelo selo Saravá Discos, o mesmo que em outros tempos gravou Antonio Vieira e Lopes Bogéa.

O segundo disco, patrocinado pela Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão (SECMA), terá o título Patativa canta sua História e está em fase final de gravação, devendo ser lançado no início do ano que vem. O produtor e arranjador é também o músico Luiz Jr.

Ninguém é Melhor do que Eu – Recebendo Lena Machado e Zeca Baleiro como convidados, Patativa lança Ninguém é Melhor do que Eu com show no dia 19 de novembro, no Porto da Gabi (Aterro do Bacanga). O evento começa às 19h, com os DJs Marcos Vinicius e Joaquim Zion, e o grupo Samba na Fonte.

Antecipando o que vem por aí, Ninguém é Melhor do que Eu, faixa que dá nome ao disco e tem a participação de Zeca Pagodinho, começa a ser executada nas rádios maranhenses, em primeira mão, nesse final de semana. E a partir da próxima segunda-feira, passa a ser distribuída para rádios de todo o país.

PATATIVA – ‘Ninguém é melhor do que eu’ – show de lançamento do cd
Participações especiais: Lena Machado e Zeca Baleiro.
Abertura: DJs Joaquim Zion e Marcos Vinicius e Grupo Samba na Fonte.
Onde: Porto da Gabi (Aterro do Bacanga).
Quando: 19 de novembro (quarta-feira), às 19h.
Quanto: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia para estudantes e demais casos previstos em lei).
Onde comprar online: DR. Ingresso, (98) 3015-3017.
Pontos de venda: Papos e Sapatos (Lagoa da Jansen) e Livraria Poeme-se (Praia Grande), a partir do dia 4/11 (terça feira).

Patativa vai ao Rio

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

“E vou voltar em videotapes e revistas supercoloridas/ pra menina meio distraída repetir a minha voz”. A voz de Ednardo ecoa em minha cabeça ao saber da notícia que o documentário de Tairo Lisboa sobre Maria do Socorro Silva, a Patativa, chega ao Rio de Janeiro.

Com o título alterado para simplesmente Patativa, certamente para passar no filtro de curadorias mais conservadoras, o curta metragem será exibido na mostra Singular Periferia, dentro da programação do festival Visões Periféricas, que acontece de amanhã a 18 de agosto.

O filme de Tairo será exibido quinta-feira (12, às 18h), no Oi Futuro (Rua Visconde de Pirajá, 54, Ipanema).

Sou de pouca fala, disco de estreia de Patativa, será lançado em setembro.

Cinema na feira

Num dos habitats naturais da homenageada, a Feira da Praia Grande, haverá exibição, amanhã (26), às 19h, do doc Xiri meu: eu não dou, de Tairo Lisboa sobre Patativa, compositora cujo disco de estreia deve ser lançado este ano.

Na sequência será exibido Ruas, de Nayra Albuquerque e o cine-feirinha termina com dicotecagem da Maré de Som e Rádio Casarão.

De graça, ótima pedida! Digam aí: tirando suas casas, onde é que vocês podem pegar um cineminha tomando cerveja gelada ou uma temperada com aroeira?

O talento de Patativa na tela

Tive o prazer de falar um pouco sobre a diva madre-divina para o documentário de Tairo Lisboa que estreia hoje, às 18h30min, no Cine Praia Grande. Xiri meu, o curta-metragem, foi selecionado pelo projeto São Luís nos 4 cantos, que produziu 10 documentários, todos exibidos na programação do festival Maranhão na Tela, que está ocupando os espaços do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, na Praia Grande, por estes dias.

Além da própria Patativa e deste que vos perturba, comparecem ao vídeo, entre outras figuras, nomes como Cesar Teixeira e Ricarte Almeida Santos. Além desta produção, vocês ainda ouvirão falar no nome da compositora: a sambista está concorrendo no Festival de Música Carnavalesca promovido pelo Sistema Mirante de Comunicação e deve lançar este ano seu disco de estreia, produzido pelo músico Luiz Jr.

O talento de Patativa há tempos merece ser mais conhecido. Estas iniciativas são importantes. Que venham outras, valorizando sua arte e a de outros mestres.