O fuxico do ano

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Lançamento de single e videoclipe de Alexandra Nicolas no próximo dia 5 de novembro marca sua estreia como compositora

A dona do fuxico. Capa. Reprodução

“Nem te conto”, diz um a outro, morto de vontade de contar. O outro não desdenha e quer saber. Mas o suspense faz parte do jogo. Um se prepara, pigarreia, ganha tempo. Quantos sinônimos há para fuxico? Fofoca, burburinho, mexerico, intriga… O povo aumenta mas não inventa.

Esse release, parece, nada acrescerá de novo. Parece que já está todo mundo sabendo. De quê? Como assim, de quê? Em que mundo vocês vivem? Vocês estão falando sério? Estão por fora? Não estão sabendo de nada? Não estão entendendo nada? Juro que quem não entende sou eu. Em tempos de redes sociais, quando a gente vai mostrar alguma coisa pra alguém, a resposta, invariavelmente, é: vi há cinco minutos.

Mas é sério mesmo que vocês não estão sabendo? Pois eu conto, que eu não tenho papas na língua. É o seguinte, sem arrodeio: a cantora Alexandra Nicolas vai fazer sua estreia dia 5 de novembro. Os apressados hão de me corrigir: que estreia? Alexandra Nicolas tem mais de 20 anos de carreira e dois discos lançados, “Festejos” (2013) e “Feita na pimenta” (2018).

Eu não disse que o povo aumenta mas não inventa? Pois é, vou repetir: dia 5 de novembro Alexandra Nicolas estreia. Como compositora. A data marca o lançamento do single e videoclipe “A dona do fuxico”.

A faixa foi gravada entre o Canadá, onde mora atualmente, e o Brasil, com a participação da família Cordeiro, pai e filho, os mestres da guitarrada paraense, Manoel (baixo, pianos, flauta, synths, guitarra solo, arranjos e direção musical) e Felipe (programação eletrônica, guitarra base e arranjos).

Ah, é? Agora ficaram curiosos? Pois agora peguem uma cadeira, botem na calçada e esperem que já já o single chega. E o videoclipe também, rodado em Chelsea, na província do Quebec, e São José de Ribamar, no Maranhão, com direção, roteiro, direção de produção e produção executiva de Thais Lima. Com elenco formado majoritariamente por não atores, o videoclipe consegue captar a essência do recado musical de Alexandra Nicolas, que não guarda segredo: em questão de tempo o fuxico de que é dona estará na boca do povo.

Tudo preparado com muito capricho como é do feitio da artista. Vocês não vão se arrepender do embalo e certamente pularão das cadeiras de balanço de suas calçadas já entrando na dança – como se o vídeo continuasse fora da tela e ganhasse vida.

Agora, se vocês ainda têm dúvida, só digo duas coisas: por favor, não confundam fuxico com fake news. Como dizem por aí pelas redes sociais: “é verdade este bilhete”. E para quem, tal e qual São Tomé, só acredita vendo, deixo que a própria Alexandra Nicolas, a dona do fuxico, conte estas boas novas para vocês. Leiam o que ela me disse – eu não sou o dono, mas ajudo a espalhar.

Lançamentos de single e videoclipe marcam estreia de Alexandra Nicolas como compositora. Foto: Veruskka Oliveira. Divulgação

ENTREVISTA: ALEXANDRA NICOLAS

ZEMA RIBEIRO – Depois de dois discos, pela primeira vez você lança um single e este marca sua estreia como compositora. Qual a sensação?
ALEXANDRA NICOLAS – Uma sensação de ter simplificado a minha vida como artista e ao mesmo tempo um apego com a feitura artesanal de todo o processo, falo do olho no olho, corpo a corpo… Isso mesmo, a feitura de um álbum leva uns bons anos de namoro, outro de concepção, até parir o menino todo mundo já virou família. Me considero uma cantora das antigas já, amo o tempo de estúdio, se pudesse morava em um. Aí você imagina como foi fazer um single. O single é aquela rapidinha que faz menino bonito e inteligente, sabe? Eu amo as preliminares de todo o processo, de me familiarizar com todos os envolvidos e principalmente o meu diretor musical, então eu tive essa dificuldade em ter que fazer algo mais rápido, porque desta vez isso não foi possível, mesmo assim, posso não ter demorado os nove meses, mas uns bons quatro pra conseguir o que eu queria. Martin [Messier, marido e diretor geral] fala que não criei tanta intimidade com o diretor musical; porém criei intimidade com a faixa. Nunca tinha passado tanto tempo trabalhando em uma única faixa. A compositora foi uma surpresa até pra mim, que dormi e acordei com um refrão e três estrofes, é meio místico, parece que tem gente falando no seu ouvido… E deve ter mesmo…

Há todo um clima criado com tuas postagens em redes sociais anunciando a música. Há uma grande expectativa do fã-clube. A ideia é essa mesmo, provocar a curiosidade das pessoas?
Eu tenho isso desde menina, tudo meu é assim… adoro esse ar de suspense, do “nem te conto”, “tu nem vai acreditar”… sempre fiz surpresa com tudo. Minha equipe sofre, pois não deixo vazar nada até a hora h. E meu fã-clube endoida junto… não é à toa que venho bulindo com eles há mais de 10 anos, dando uma pitada de pimenta ali, outra aqui e tudo no final vira uma festa.

“A dona do fuxico” é o título de tua estreia como compositora. O que você pode adiantar sobre a música?
Uma delícia, engraçada, colorida, ritmo fogoso e vai mexer com todo mundo que vive atento pra vida dos outros. É um gênero musical que nunca gravei antes e há anos queria gravar, porque amo demais e danço desde pequena. Com certeza é o ritmo mais quente que gravei até hoje.

Vamos falar um pouco do processo, desde a ideia, até a composição, registro e agora, o lançamento. E também falar em quem está com você nesse registro.
Fui dormir com uma ideia que nasceu em 2008, com uma sensação de dívida. Daí dormi com o mote, e acordei às 4h da manhã com o refrão na cabeça. Fui ao banheiro e gravei esse refrão no celular. Quando voltei para o quarto, meu marido estava assustadíssimo e me perguntou: “está tudo bem? Aliás, está dormindo ou sonâmbula?”. Eu respondi: “acordadíssima e super bem”. Ele retrucou: “é impressão minha ou você estava cantando?”. Eu disse: “eu estava cantando sim, foi uma música que chegou pra mim”… Ele assustado, deu um pulo da cama e disse: “você estava compondo?”. Eu disse: “isso mesmo, e vi quem estava tocando”. Ele perguntou: “quem?”. Eu respondi: “Manoel Cordeiro, o herói da guitarra paraense”. Aí já viu… no dia seguinte fui atrás dele e um colega em comum nos apresentou e assim começamos a fuxicar. Ele ficou feliz com ideia e jura que será um novo gênero da música brasileira. Nasceu Fuxico, com a direção musical e arranjos de Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro, porque eu sou dessas, gosto de combo e o combo Cordeiro assina a produção desse trabalho.

A imagem de pessoas sentadas em calçadas, sobretudo no interior do Brasil, evoca, em “A dona do fuxico”, que também ganhou videoclipe, um certo ar romântico e saudosista. A seu ver, o fuxico e a fofoca são ainda bastante atuais?
Fuxico é ancestral, antepassado, avoengo, fuxico é presente, é o agora e é o futuro pra além da humanidade. Ele faz parte da natureza humana. É essencial à nossa sobrevivência. Desejamos na nossa essência saber o que se passa com o outro. O fuxico nos permite saber quem é quem, furar o véu da hipocrisia, descobrir em quem podemos confiar… Há até quem diga que a nossa linguagem se desenvolveu com o propósito de fuxicar e fofocar. Fuxico é atual, perpétuo e imortal. Permeia todas as classes econômicas, políticas e intelectuais. Não sei o que seria da humanidade sem ele. Fuxico levanta, fuxico desperta, fuxico derruba e fuxico esmorece. Dependendo do fuxico enriquece ou empobrece. O fuxico é internacional! Aqui no Canadá pode ter certeza de que se fuxica tanto quanto no Brasil e no mundo.

Serviço

O quê: lançamento do single e videoclipe “A dona do fuxico”
Quem: a cantora Alexandra Nicolas
Quando: dia 5 de novembro (sexta-feira)
Onde: nas plataformas digitais
Quanto: grátis
Faça aqui a pré-save.

Refletir(-se) (n)o outro: a essência da música de Rommel

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O cantor e compositor Rommel. Foto: divulgação

Essência é uma palavra que cabe bem para definir a musicalidade de Rommel. Cidadão do mundo, o artista tem alinhado em seu trabalho influências do pop e da diversidade da cultura popular do Brasil.

No próximo sábado, 25 de setembro, chega às plataformas digitais o segundo single de “Karawara”, disco que Rommel lança em novembro pela Biscoito Fino. Trata-se de “In essence”, faixa que tem influências do budismo, procurando enxergar para além do que se vê.

No videoclipe, Rommel vê e é visto por pares, num jogo de reflexão – literalmente –, de perceber o outro como uma extensão de si próprio. Em tempos de intolerância e individualismo, o artista passa uma mensagem altruísta. A música é um afrobeat com a rítmica inspirada nos Batás, tambores usados em ritos religiosos da cultura iorubá na Nigéria, mas também em Cuba, no Haiti e no Tambor de Mina do Maranhão.

O videoclipe de “In essence” foi rodado no Canadá, onde Rommel reside, e conta com a participação da dançarina Jade Maya, cujo bailado traduz o jogo da diversidade de que fala a música: “vozes múltiplas, cores, nuances do arco-íris”, diz a letra, cantada em inglês, em tradução livre.

O primeiro single de “Karawara”, “Agô”, lançado no último dia 4 de setembro, teve boa receptividade do público e foi destaque nos principais aplicativos e plataformas de streaming.

Serviço:

O quê: lançamento do single e videoclipe de “In essence”
Onde: plataformas digitais e canal do artista no youtube (Rommel Music)
Quando: sábado, 25 de setembro, às 23h
Quanto: grátis

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Veja o teaser e faça a pré-save do videoclipe:

Single “Agô” antecipa “Karawara”, novo disco de Rommel

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Faixa chega às plataformas de streaming 3 de setembro; álbum sai em novembro

O cantor e compositor Rommel. Foto: divulgação

No próximo dia 3 de setembro (sexta-feira), chega a todas as plataformas de streaming a música “Agô”, primeiro single (pré-save aqui) de “Karawara”, álbum que o cantor e compositor Rommel lança em novembro, pela gravadora Biscoito Fino. O videoclipe de “Agô” será lançado no dia seguinte (4 de setembro, sábado) e no dia 5 de setembro será disponibilizado o mini-documentário “Agô – Até o sopro derradeiro”.

Composta por Rommel, em parceria com Enrico Lima e Orlando Macedo, “Agô” é um ijexá, ritmo pelo qual o artista sempre foi apaixonado. A música passeia pela cultura afro-brasileira, em diálogo com a sonoridade dos terreiros das religiões de matriz africana.

“Pedindo a paz de Oxalá/ dizendo agô aos Orixás/ Agô/ Levando flores para ofertar/ e as pegadas vão pro mar/ Amor”, diz um trecho da letra, que também reforça a importância da arte como uma forma de resistência, o que se manifesta em outras faixas de “Karawara”.

O videoclipe de “Agô” foi rodado no Rio de Janeiro, com a presença de Aline Valentim, professora de danças afro-brasileiras, e é dedicado ao centenário de Mercedes Baptista, bailarina e coreógrafa brasileira, pioneira no combate ao racismo.

“Karawara” tem canções em português, inglês e francês e conta com a participação de músicos do Brasil e do Canadá, onde o maranhense Rommel mora atualmente.

Em “Agô”, Rommel (voz e violão) é acompanhado por Carlos Bala (bateria), André Galamba (baixo e guitarra), Vovô Saramanda (percussão), David Ryshpan (teclado), Parrô Mello (saxofone), Márcio Oliveira (trompete), Debson Silva (trombone), Jordan Zalis e Pryia Shah (backing vocals).

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Leia a letra:

“Agô” (Rommel Ribeiro/ Enrico Lima/ Orlando Macedo)

Ijexá repica e retumba no fim da tarde
Um sonho que passa e o tempo corre ligeiro
Levada que arde ao sol da eternidade
Subindo a ladeira até o sopro derradeiro

Ijexá repica e retumba no fim da tarde
Um sonho que passa e o tempo corre ligeiro
Levada que arde ao sol da eterna Arte
Subindo a ladeira até o sopro derradeiro

Pedindo a paz de Oxalá
Dizendo agô aos Orixás
Agô
Levando flores para ofertar
E as pegadas vão pro mar
Amor

Didê, agô, didê
Didê, agô, didê
Agô
Didê, agô, didê
Didê, agô, didê
Agô

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Assista ao teaser:

SERVIÇO

O quê: lançamento do single e videoclipe “Agô” e mini-documentário “Agô – Até o sopro derradeiro”
Quem: o cantor e compositor Rommel
Quando: dias 3 (single), 4 (videoclipe) e 5 de setembro (mini-documentário)
Onde: nas plataformas digitais
Quanto: grátis

Tribo futurista, a tribo de um presente urgente

Rita Benneditto e Beto Ehong em colagem sobre fotos de Márcio Vasconcelos e Emílio Sagaz. Divulgação

A “Tribo futurista” em que Beto Ehong e Rita Benneditto se encontram é, na verdade, uma tribo do presente, ou, antes disso, uma tribo da urgência. Mais que a soma de dois enormes talentos, o encontro de dois artistas compromissados com a arte para além de mero entretenimento. Que não se eximem de suas responsabilidades de artistas enquanto formadores de opinião e tocam os dedos nas feridas. A sonoridade de mina eletrônica dando voz a minorias e rebelando-se contra discursos de ódio que se tornaram corriqueiros em nossos tristes tempos precisa reverberar entre as paredes das cidades atravessando as cabeças ocas de quem insiste em negar o óbvio. Som para dançar com a cabeça e pensar com o corpo inteiro. Tambores que batem dentro do peito e eriçam cada pelo: arrepio de quem não perdeu a capacidade de se emocionar diante do belo – apesar de toda tragédia que nos cerca. Coisas de que somente são capazes aqueles que realmente manjam dos paranauês.

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Escrevi o textinho acima a pedido do cantor, compositor e produtor Beto Ehong. O single “Tribo futurista” pode ser ouvido nas plataformas de streaming.

O videoclipe será lançado no próximo dia 22 de abril e você poderá assistir abaixo, na data:

A beleza caliente do novo clipe de Betto Pereira

O cantor e compositor Betto Pereira acaba de lançar o videoclipe de “Maldito amor”, single composto em parceria com o poeta Félix Alberto Lima – música que ele canta em dueto com Zeca Baleiro. Para além da participação especial o clipe conta com as ilustres presenças, entre outros, do dj Ademar Danilo, das cantoras e cantores Alcione, Beto Ehong, Flávia Bittencourt, Glad Azevedo, do torcedor boliviano Fumaça e de bailarinos do Grupo de Dança Afro Malungos (GDAM).

“Maldito amor”, o clipe, tem direção de Vicente Simão Jr. (Fábrika) e seu ritmo caliente é envolvido pela beleza das paisagens ludovicenses – o Centro Histórico visto da Avenida Ferreira Gullar ou passeado pela praça João Lisboa e a Feira da Praia Grande, a Escadaria do Beco do Silva, recém-repintada pelo artista Gil Leros, e o Point Magno Roots, no Bairro de Fátima.

“No toca-fitas do meu carro/ uma canção me faz lembrar você”, diz a famosa canção hoje tida por cafona, a que nos remete o ar vintage garantido por uma fita cassete – quando a música começa no videoclipe. Um elemento tragicômico é a cereja do bolo.

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Assista “Maldito amor”:

Gabriella Lima lança quarto single/vídeo de “Bálsamo”

A cantora e compositora Gabriella Lima em locação do videoclipe. Foto: Leonor Patrocínio

Há seis anos Gabriella Lima chegou a Paris, com a pretensão de permanecer por três meses em imersão artística. Foi ficando, após conhecer o Cabaret Aux Trois Mailletz, com quem assinou um contrato de artista residente – por lá já cantaram, entre outras, Elza Soares e Nina Simone.

A cantora e compositora paulistana acaba de lançar o single e videoclipe Máquina de ilusão (Gabriella Lima), quarto de Bálsamo, disco que tem previsão de lançamento para o início do ano que vem, com produção de Alê Siqueira.

O videoclipe, dirigido por Chico Gomes, com coreografia de Fábio Aragão, foi gravado em Lisboa. Na faixa autoral ela é acompanhada por Thiago Barromeo (guitarra e contrabaixo), André Lima (teclados) e Zé Luís Nascimento (percussão).

Ela comenta o trabalho, no material de divulgação distribuído à imprensa: “Queria abrir uma discussão sobre as desilusões amorosas, sobre o fim das relações. Mas não com uma abordagem triste. Afinal, acabar não significa que deu errado. Existe uma confusão em associar o sucesso de uma relação à durabilidade. Não importa o tempo que durou, a relação foi uma parte da nossa vida que constitui quem somos hoje. Essa aceitação evita a insistência em uma relação que não funciona mais. A ilusão de que se tentar mais um pouco, poderia funcionar. Pura ilusão”, arremata.

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Veja o videoclipe de Máquina de ilusão:

Um machado afiado contra o autoritarismo

O único legado de Jair Bolsonaro, em 30 anos de vida pública, será tão somente a distribuição gratuita de violência. Muitos se assustam agora com a vontade do presidente de extrema-direita em “encher a tua boca com uma porrada”, dita a um jornalista que indagou-lhe sobre os 89 mil reais recebidos em depósito na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, não à toa apelidada Micheque.

Bolsonaro é violento por natureza e pelo ethos militar de sua formação. Tão violentas foram declarações suas ao longo de seus mandatos de deputado federal e em campanha para a presidência, em 2018 – quando como bom covarde fugiu de qualquer debate e contou com a mão amiga de Sérgio Moro et caterva para tirar do tabuleiro eleitoral seu principal adversário e até então líder nas pesquisas de intenção de voto em qualquer cenário.

Fosse catá-las, um post seria pouco, uma página de jornal seria pouco, um jornal, uma revista, um livro seriam poucos. Mas Bolsonaro disse à deputada Maria do Rosário que “não te estupro por que você não merece, você é muito feia!”, que “num governo meu índio não vai ter um centímetro de terra”, que, numa comunidade quilombola, o habitante mais leve “pesava sete arrobas”, “vamos fuzilar a petralhada”, e que era “favorável à tortura” e preciso “morrer uns 30 mil, a começar pelo Fernando Henrique [Cardoso, então presidente da república]”, meta mais que triplicada, com a colaboração de sua irresponsabilidade diante da maior crise sanitária dos últimos 100 anos. Sem falar na dedicatória de seu voto, favorável à abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, ao notório torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, ídolo de Bolsonaro.

Se Bolsonaro faz do gesto de arminha com as mãos quase um persignar-se e afrouxa a legislação sobre armas no Brasil, os artistas têm voltado suas armas contra ele. As armas das artes, obviamente. “Letras e músicas, todas as músicas que ainda hei de ouvir”.

Recentemente o paraibano Chico César foi alvo de uma moção de repúdio da Câmara Municipal de João Pessoa/PB, por conta de uma música em que o ex-secretário de Cultura daquela cidade e do estado da Paraíba afirma: “bolsominions são demônios/ que saíram do inferninho/ direto do culto/ pra brincar de amigo oculto/ com satã num condomínio”.

A Banda Borralheira foi alvo de ataques de ódio nas redes sociais quando lançou a primeira faixa da Trilogia dos Palhaços, em que fazem críticas diretas a Jair Bolsonaro, a seus eleitores e aos que insistem em apoiá-lo, mesmo passados 20 meses de um governo que tem por modus operandi as fake news, a perseguição a direitos e a proteção a família – os zeros à esquerda, filhos do presidente, é claro! O conteúdo dos haters acabou dando gás à produção da banda curitibana.

Os poetas Celso Borges e Fernando Abreu durante sessão de gravação de "Machado afiado". Foto: divulgação
Os poetas Celso Borges e Fernando Abreu durante sessão de gravação de “Machado afiado”. Foto: divulgação

Os poetas Celso Borges e Fernando Abreu foram os únicos maranhenses a figurarem em meio à centena de vozes presentes em Lula livre Lula livro, publicado em 2018 como forma de protesto contra a prisão política do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva – o que, junto com as citadas fake news, acabou por pavimentar a estrada (no meio do caminho tinha uma facada, até hoje muito mal explicada) que levou Bolsonaro ao Planalto.

Em plena pandemia do novo coronavírus os dois fizeram uma versão livre de Small axe, de Bob Marley e, mesmo não sendo cantores, gravaram a canção. Com todos os cuidados, o que inclui o uso de máscaras, o distanciamento social e camisas com a efígie do ídolo jamaicano, gravaram também um videoclipe, que será lançado neste sábado (29).

A versão foi gravada no Zabumba Records, do percussionista Luiz Cláudio, que assina a direção musical e toca na faixa, gravada, mixada e masterizada por Jailton Sodré. A banda que acompanha as vozes e os versos de Celso Borges e Fernando Abreu se completa com o próprio Fernando Abreu (violão), Jesiel Bives (teclados e baixo), George Gomes (bateria). Após o registro em estúdio, o videoclipe foi gravado por Inácio Araújo (Carabina Filmes), com a participação especial do artista plástico e capoeirista Edson Mondego tocando berimbau.

Não é um recado direto a Bolsonaro, como se pode perceber na letra – seu péssimo governo não tem sequer o panis et circenses –, mas a governantes autoritários em geral (o que obviamente o inclui).

Conheça a letra:

MACHADO AFIADO
(Versão livre de Fernando Abreu e Celso Borges para a música Small axe, de Bob Marley)

Se é tarde eu não sei
Resistimos
Somos Davi
Se você é Golias

A gente vai pra cima de ti
É inútil fugir
Tua queda é pra já
Cadê tua coragem?

Você me dá pão e circo
Querendo se dar bem
Mas o pau que dá em Chico
Dá em Francisco também

Você cavou sua cova
Se envenenou com seu ódio
Eu já disse e vou repetir
Sai fora, man
Sai fora
É capoeira pra cima de ti
Não corre, man
Não corre

Você me dá pão e circo
Querendo se dar bem
Mas o pau que dá em Chico
Dá em Francisco também

Meia dúzia de videoclipes maranhenses

 

Quando ouvi os primeiros segundos de Como me sinto tive a certeza de um hit instantâneo. Com Gisa Franco, entrevistei-o no Balaio Cultural (Rádio Timbira AM) sobre o EP que lançou antes de rumar para São Paulo. Garoto prodígio, Dhean começou a cantar aos três anos na igreja evangélica que sua família frequentava. A música é, por assim dizer, o carro-chefe do trabalho, que traz quatro faixas autorais e uma releitura inspirada de Demais (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira), sucesso de Maysa.

 

 

Em 17 de maio passado, sob direção de Marcelo Flecha, Cláudio Lima subiu ao palco da Pequena Companhia de Teatro, em São Luís, onde apresentou o show Com a lira, marcando posição no Dia Internacional de Combate à Homofobia. Desfilou um repertório de temática homoafetiva e/ou assinado por compositores e compositoras idem. O show acabou merecendo bis e o cantor ganhou de presente de Zeca Baleiro a canção Qualhira, para a qual o próprio Cláudio Lima, designer de profissão, realizou o videoclipe de animação. Contra a força bruta, delicadeza e beleza.

 

 

Enquanto uns fecham os olhos e assim legitimam e autorizam o extermínio de indígenas, o duo Yamí celebra os povos originários. Marco Lobo (percussão e eletrônica) e Federico Puppi (violoncelo e eletrônica) se unem a Rita Benneditto (voz e percussão) num canto que celebra a conexão do humano/indígena com o divino/natureza. A música une o candomblé ao bumba meu boi, utilizando instrumentos de percussão típicos da manifestação legitimamente maranhense, como o pandeirão e o tambor-onça.

 

 

O registro ao vivo dá ideia do que foi o show de lançamento de Elementos e hortelã na terra dos eucaliptos, segundo disco do cantor e compositor Vinaa, realizado no último dia 1º/11, na Concha Acústica Reinaldo Faray (Lagoa da Jansen). O álbum está disponível nas principais plataformas digitais e tem também edição física.

 

 

Zeca Baleiro já lançou outro disco, O amor no caos – volume 2, mas soltou recentemente o lyric vídeo de Mais leve, gravada pelo cantor e compositor com a adesão de sua parceira na autoria da faixa Cynthia Luz no volume 1. Ambos os álbuns estão disponíveis em cd e nas plataformas digitais.

 

 

Jornalista de formação, a compositora e cantora Valéria Sotão assina direção e edição de vídeo em Desmanchem, single que acaba de disponibilizar no youtube. Antenada com os novos tempos e as mudanças na forma de consumir música, ela tem lançado faixas de modo esparso e anuncia para breve o lançamento de novo single.

Em primeira mão: conheça os vencedores do Maranhão na Tela 2018

Mavi Simão anuncia os vencedores do Maranhão na Tela 2018. Foto: Ascom/ Maranhão na Tela

 

Terminou ontem o 11º. Maranhão na Tela. Este ano o festival concentrou suas atividades de exibição em duas salas do complexo Kinoplex, no Golden Shopping, Calhau, em cuja praça de alimentação aconteceram debates, como “Lugar de mulher é no cinema”, de que participaram a atriz e diretora Aurea Maranhão, a diretora e produtora Mavi Simão, e a diretora Rose Panet, sob mediação da jornalista e escritora Andréa Oliveira, e o bate-papo com os diretores Lírio Ferreira e Paulo Caldas, mediado pelo poeta e jornalista Celso Borges, após a sessão que exibiu versão remasterizada de Baile perfumado (1996).

Esse deslocamento geográfico gerou críticas ao festival nas redes sociais. De minha parte, gosto de pensar em duas questões: a comprovada qualidade das exibições e a possibilidade, a um estudante de escola pública ou a um morador de periferia, sobretudo quem nunca esteve em um cinema, fazer sua estreia logo em uma sala luxuosa, sem pagar ingresso, o que se tornou realidade para muita gente.

Idealizadora e produtora do Maranhão na Tela, Mavi Simão canta uma vez por ano, justamente na festa de encerramento do festival, que ontem ocupou o Fanzine, na Av. Beira-Mar, Centro. Antes, ela mesmo anunciou e entregou os troféus aos vencedores das mais diversas categorias.

Fiz um esforço para tuitar em tempo real, mas por lerdeza, algum grau de mouquidão, lentidão na internet, por vezes, e às vezes tudo isso junto, vacilei na cata de alguns nomes.

A atriz e diretora Patrícia Niedermeir e o diretor e montador Christian Caselli formaram o júri para longa-metragem; videoclipes foram julgados pelo diretor Lírio Ferreira e a produtora cultural Luciana Adão; e curta-metragem pelo curador e produtor Breno Lira Gomes e o técnico Carlos Henrique Santos, da equipe de formação audiovisual do Centro Técnico Audiovisual (CTav), órgão vinculado à Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC).

Além dos troféus, baseados na obra do artista Walter Sá, em que se apoiou toda a identidade visual do festival este ano, os melhores filmes e videoclipes ganharam horas de aluguel de equipamentos e mixagem no CTav. Eis a relação completa dos vencedores:

MOSTRA NOSSO CINEMA

Longa-metragem

Melhor atriz: Keila Gentil, Para ter onde ir

Melhor ator: Aldo Leite (homenagem póstuma), No palco com Aldo Leite

Melhor atriz coadjuvante: Joelma Maestrini, Aurora – O encontro dos pólos

Melhor direção de fotografia: Beto Martins, Para ter onde ir

Melhor ator coadjuvante: Fabio Lima, Aurora – O encontro dos pólos

Melhor som: João Simas, A tribo do reggae

Melhor roteiro: Rose Panet, Manuel Bernardino: o Lénin da Matta

Melhor direção de arte: Dida Maranhão e Geovane Camargo, Aurora – O encontro dos pólos

Melhor montagem: André Garros, Manuel Bernardino: o Lénin da Matta

Melhor filme: Para ter onde ir

Melhor direção: Jorane Castro, Para ter onde ir

Curta-metragem

Melhor direção: Al Danúzio e Thiago Kistenmacker, Aquarela

Melhor filme: Foi-se

Melhor roteiro: Adriano Pinheiro, Foi-se

Melhor som: Foi-se

Melhor direção de fotografia: Roman Lechapelier, Farol

Melhor direção de arte: Jeff Cecim, Raimundo Quintenela – O caçador de vira porco

Melhor montagem: Arturo Saboia, Farol

Melhor ator: Diego Bauer, Obeso mórbido

Melhor atriz: Luna Gandra, Aquarela

Melhor ator coadjuvante: Francisco Gaspar, Raimundo Quintenela – O caçador de vira porco

Melhor atriz  coadjuvante: Rosa Ewerton Jara, Aquarela

Videoclipe

Melhor videoclipe: Cabelo, Liége

Melhor direção: Arthur Rosa França, A menina do salão, do Criolina

Melhor direção de fotografia: Thiago Pelas, Deusa da lua perigosa, de Sammliz e Dona Onete

Melhor montagem: Lucas Domires e Alexandre Nogueira, por Lança (Até morrer), de Juliana Sinimbú

Melhor direção de arte: Neile Albertina, Frimes – Fadinha

Melhor performance: Pratagy, Búfalo

Premio especial do júri: Lucas Sá, Boy, de Butantan e Only Fuego

MOSTRA MARANHÃO DE CINEMA

Melhor filme: 3x melhor

Prêmio especial do júri: Alberto Greciano, Divino Pato

Menção honrosa: Roberto Augusto, Cantiliana e os herdeiros do mal de Lázaro

Menção honrosa: Maria Thereza Soares, José Louzeiro – Depois da luta

Rita Benneditto acaba de disponibilizar novo videoclipe

A cantora Rita Benneditto disponibilizou há pouco no youtube o videoclipe de 7Marias (Rita Benneditto e Felipe Pinaud). Na última sexta-feira (21), o single chegou às principais plataformas de streaming.

O videoclipe tem, além da cantora, seis atrizes interpretando as entidades, pombagiras, as sete Marias a que se refere o título da música: Amanda Calabria, Carmen Eça, Dani Ornellas, Isabel Chavarri, Leona Cavalli e Tati Villela. Na gravação Rita Benneditto (direção, arranjo, voz e vocais) é acompanhada por Fred Ferreira (direção, arranjo e guitarras), Pedro Dantas (contrabaixo) e Ronaldo Silva (bateria e percussões), com participação especial do paraense Felipe Cordeiro (guitarras). O single é distribuído pela ONErpm, em parceria com o selo Manaxica.

Com a mesma pegada, juntando elementos da música popular brasileira com eletrônica a rezas e pontos dos terreiros das religiões de matriz africana, 7Marias celebra os 15 anos do bem sucedido Tecnomacumba, com que a cantora já percorreu o mundo – por enquanto há três shows comemorativos agendados até o fim do ano: dia 29 de setembro no Festival Puroritmo, no CCBB de Brasília/DF; 30 de novembro no Circo Voador (Rio de Janeiro); e 1º. de dezembro no Cultural Bar (Juiz de Fora/MG).

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Assista o videoclipe de 7Marias (Rita Benneditto/ Felipe Pinaud):

Uma de cinco

O cantor e compositor Bruno Batista disponibilizou hoje o primeiro webclipe de uma série de cinco canções que em alguns meses irão compor um EP do artista. Para um amor em Paris, de sua autoria, é a única regravação da série – a música foi lançada originalmente em Eu não sei sofrer em inglês (2011).

Para a regravação, Bruno Batista contou com a participação especial de Rita Benneditto (voz). Acústico e em clima intimista, o dueto foi acompanhado por Guilherme Kastrup (percussão) e Mário Manga (violoncelo, violão e produção musical), marcando também um reencontro: em 1997, ao lado dela e Zeca Baleiro, o ex-Premeditando o Breque foi um dos produtores do disco de estreia da maranhense, quando ela ainda assinava Rita Ribeiro.

A música é recheada de referências: o título evoca o Paulinho da Viola de Para um amor no Recife, remete, pelo uso bem colocado de expressões estrangeiras, a músicas como Samba do approach e Babylon, ambas de Zeca Baleiro, Tem francesa no morro (Assis Valente) e Cabrochinha (Paulo César Pinheiro e Maurício Carrilho), além de citar textualmente o Alceu Valença de La belle de jour (que por sua vez citava o Luis Buñuel de A bela da tarde, no título da película em português). Entre as citações, comparecem ainda o Bernardo Bertolucci de O último tango em Paris e o Jacques Brel de Ne me quitte pas. A direção do webclipe é de Alessandra Fratus.

Uma por mês, Bruno Batista disponibilizará ainda Quedê, com participação especial de Lívia Mattos, Fire Babylon (parceria dele com Alê Muniz e Luciana Simões), com o duo Criolina, Duvido (parceria com Celso Viáfora), com Celso Viáfora e Fabiana Cozza. A quinta música, também inédita, está ainda por definir, segundo o artista.

Previsto para setembro, o EP será lançado apenas em formato digital. A série de webclipes tem patrocínio de TVN, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão.

Música sem fronteiras

A música se chama Marabaixo, ritmo típico do Amapá. Mas o grande homenageado é o tambor de crioula do Maranhão. A dupla Prettos, formada pelos cantores e instrumentistas Magnu Sousá e Maurílio de Oliveira, seus autores, gravou o segundo videoclipe do disco Essência da origem (2017) entre os Lençóis Maranhenses e o Centro Histórico da capital maranhense.

Magnu e Maurílio, ex-integrantes do Quinteto em Branco e Preto, grupo com relevantes serviços prestados à música brasileira e à preservação da memória de gigantes do universo do samba como Adoniran Barbosa e Ataulfo Alves, entre outros, fazem uma música sem amarras ou limites, sejam rítmicos ou geográficos.

Conheceram o marabaixo numa visita ao Amapá com a cantora Beth Carvalho, apaixonaram-se pelo tambor de crioula no Maranhão e, além dos dois ritmos das culturas populares locais, a faixa, batizada pelo primeiro, é um samba com pitadas de forró.

Beleza musical, beleza feminina: o clipe é estrelado por Deise D’anne, Miss Maranhão 2016, além das bailarinas Thalyta e Isabela Sousa e das coreiras do Tambor de Crioula da Alemanha – o duo Prettos gravou uma apresentação do grupo no São João maranhense, colocando a parelha em diálogo cênico com o cavaquinho e o pandeiro que emolduram versos como “olha a nega é bonita e faceira/ e tem muita tradição/ marabaixo, tambor de crioula de São Luís do Maranhão/ ela gosta de samba de roda, de dançar forró no Cachuera/ ai, meu Deus! Umbigada com ela é brincadeira”.

Sobram ginga e malemolência em samba bonito de ver e ouvir.

Veja o clipe de Marabaixo:

Criolina lança clipe antecipando o carnaval

O carnaval vem aí e o Criolina solta novo videoclipe na rede. A menina do salão (Alê Muniz/ Luciana Simões) ainda nem esfriou e eles já saem com Bota pra moer (Celso Borges/ Alê Muniz/ Luciana Simões), música que batiza o bloco (ou vice-versa?) que o casal Alê Muniz e Luciana Simões comandará na segunda-feira de momo (12).

O nome do bloco homenageia Bota pra moer, um dos “doidos antológicos” de São Luís, catalogado pelo saudoso e múltiplo Lopes Bogéa no igualmente antológico Pedras da rua [Sioge, 1988]. Antonio Lima, seu nome de pia, pernambucano de Caruaru, viveu na capital maranhense, onde protagonizou histórias hilárias. Era hábil em matemática, conseguindo dizer, de cabeça, em poucos segundos, quantos dias, meses e anos a pessoa tinha vivido até ali, a partir de sua data de nascimento. Outra habilidade sua era ler naturalmente um jornal. De cabeça pra baixo.

Mas folclórica mesmo ficou a história de quando se tornou porta-bandeira da famosa Greve de 51. São Luís ficou paralisada pela revolta popular contra a posse do governador Eugênio Barros. Bota pra moer puxava o bloco dos descontentes até o Palácio dos Leões, quando viu o aglomerado de policiais montados a cavalo e passou a bandeira a quem estava a seu lado, dizendo: “até aqui eu trouxe. Daqui pra frente, vocês arranjem um mais doido do que eu”.

O novo clipe do Criolina antecipa o clima do que o bloco promete para este carnaval. Bota pra moer, o bloco de Alê Muniz e Luciana Simões não é oportunista: o casal tem balançado o coreto desde que optou por viver em São Luís e produzir a partir daqui, dando uma contribuição fundamental para a organização e a profissionalização da cena musical, com o advento do Festival BR 135, produzido anualmente por eles. Homenageia uma figura folclórica da cidade. Garante o diálogo multicultural durante a folia, algo já destacado no carnaval recifense e inaugurado cá por estas plagas ano passado com o Bloco do Baleiro, sucesso absoluto de público e destaque incontestável do reinado de Momo de ano passado. E realizaram dois ensaios abertos e gratuitos do bloco, na Avenida Beira-Mar, no Centro da cidade.

“Queremos circo, queremos pão/ queremos a libertação”, começa a letra, que traz também a epígrafe da Akademia dos Párias: “loucos somos todos em suma/ uns por pouca coisa/ outros por coisa alguma”. E para não esquecer que o carnaval é também um momento político: “vai querer, vai querer/ bota pra moer/ vai querer, vai querer/ pra gente poder/ sem temer sem temer sem temer”, segue a letra, entre explícita e sutil.

Para o corredor da folia, o Criolina terá como convidados a Bateria da Favela do Samba, o bloco Fuzileiros da Fuzarca, a cantora Rosa Reis e o DJ Pedro Sobrinho, além da participação especial a cantora Elza Soares, entre o estrondoso sucesso de A mulher do fim do mundo [2015] – uma das faixas é intitulada Pra fuder (de Kiko Dinucci, de algum modo antecipando o diálogo com Bota pra moer) – e as gravações de Deus é mulher, novo disco que lançará este ano.

Para o videoclipe, o Criolina contou com as participações especiais de Rosa Reis, Lucas Santtana (que participaram do BR 135 ano passado), Chico César e Zeca Baleiro (que animaram o Bloco do Baleiro ano passado), acompanhados de João Simas (guitarra), Sandoval Filho (teclado) e Thierry Castelo (bateria). A direção do clipe é de Arthur Rosa França, com imagens (em São Luís) de Laila Razzo e direção de estúdio de Rovilson Pascoal (em São Paulo) e Alê Muniz (em São Luís).

Assista o videoclipe de Bota pra moer (Celso Borges/ Alê Muniz/ Luciana Simões):

Bruno Batista lança hoje (27) em São Luís videoclipe de Caixa preta

Divulgação

 

Logo mais às 20h, de graça, no Cine Praia Grande (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande), o cantor e compositor Bruno Batista lança o videoclipe de Caixa preta (classificação indicativa: 14 anos), faixa de Bagaça (2016), seu quarto disco.

Este que vos perturba terei o prazer de mediar um papo entre o artista, o diretor Arturo Saboia, a produtora Luna Gandra e o ator Raffaele Petrini, diretor do Cine Praia Grande. Após a conversa e a exibição do videoclipe, uma after party com entrada gratuita aguarda o público no Chico Discos (esquina de 13 de Maio com Afogados, Centro), em que Petrini assume seu terceiro papel: o de dj da festa.

Com patrocínio de TVN, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão, o videoclipe Caixa preta foi rodado em dois dias em um casarão do Centro Histórico ludovicense. É estrelado por Ana Carolina De Dea e Petrini e a equipe técnica se completa com Arturo Saboia (roteiro e direção), Luna Gandra (produção executiva/set), Elden Magrão (direção de fotografia), Cris Quaresma (direção de arte/figurino), Manoel (logger/drone) e Magaive (gaffer).

Nesta faixa de Bagaça, Bruno Batista (voz) é acompanhado por Rovilson Pascoal (violão e produção), Gustavo Ruiz (guitarra e synth), Meno del Picchia (contrabaixo), Felipe Roseno (percussões e percussões eletrônicas), Pedro Mibielli (violino), Glauco Fernandes (violino), Dhyan Toffolo (viola) e Marcus Ribeiro (violoncelo). O arranjo de cordas é de João Carlos Araújo.

Letra de Bruno Batista e música de Demetrius Lulo, Dandara e Paulo Monarco, Caixa preta é uma canção de amor com referências que vão de Caetano Veloso a Mestre Leonardo. Ouça e chegue cantando ao lançamento do videoclipe:

Música para crianças de todas as idades

Antes de ser pai, meu interesse por música infantil era quase zero. Julgava o nicho de uma tremenda pobreza (letras pobres, arranjos idem etc.), o que não me despertava o menor interesse. Exceções havia, é claro, casos da Arca de Noé, de Toquinho e Vinicius, e de Os Saltimbancos, trilha da peça homônima, formada por versões de Chico Buarque para composições de Luiz Enriquez Bacalov e Sergio Bardotti, entre poucos outros.

Com algum atraso, no início dos anos 2000, o amigo Glauco Barreto apresentou-me aquele que considero um dos melhores discos de música infantil já produzidos no Brasil: Monjolear [1996], dos irmãos mineiros Dércio e Doroty Marques, cujos trabalhos “adultos” eu já conhecia e apreciava – em Erva cidreira [1980], ela gravou Chico Maranhão (Arreuni) e Sérgio Habibe (Cavalo cansado); em Fulejo [1983], ele gravou Cesar Teixeira (Namorada do cangaço).

José Antonio tem microcefalia e um ano e três meses e entre todas as experiências maravilhosas que me tem proporcionado está a revisão do repertório infantil. Desde a gravidez de Graziela intensifiquei a compra de discos de música infantil – com a desculpa de Homem de vícios antigos de presentear o que estava por vir, as recomendações de pediatras de ouvir música desde a barriga etc.

Não sei o que José Antonio vai ser quando crescer, nem se vai detestar música como João Cabral ou detestar poesia como João Donato. Não prevejo nada: tento fazer o melhor possível, o que inclui deixá-lo livre – sem condená-lo a ser como eu, o que seria uma grande crueldade, como já disse o amigo tetra-pai Jotabê Medeiros, com quem sempre aprendo bastante, para além do jornalismo.

O fato é que, desde a barriga, e desde antes, se isso for possível, meu filho sempre ouviu muita música. Do que eu ouvia em casa e no carro, entre minhas preferências e o que chega para resenhar, até os sambas que lhe cantava acalentando – o que gerou um comentário bem humorado do amigo também pai Fernando Matos: “com o pai cantando sambas, sem dúvidas o menino será roqueiro”.

Na crônica Dormir é para os fracos [Folha de S. Paulo, 19/7/2015], compilada em Trinta e poucos [Companhia das Letras, 2016], Antonio Prata, maior cronista brasileiro em atividade (sorry, Veríssimo!) e também pai, lista “catorze constatações a partir da paternidade”, incluindo: “11) Galinha Pintadinha é a imagem da Besta. 12) Galinha Pintadinha é uma bênção divina.”, referindo-se, obviamente, ao poder hipnótico que a azulzinha tem sobre os bebês – por isso o sarro de Diego Freire me fez gostar tanto mais de Bumba, nosso boi [Empíreo, 2016].

Digo, pois, sem falsa modéstia: José Antonio passou incólume por Galinha Pintadinha, amém! Se sobra na tela, até vê, sem reclamar – como o pai vendo, sei lá, uma Ana Maria Braga, por exemplo. Não ligo naquele canal, naquele horário, mas se tem alguém vendo não é necessário instaurar um conflito familiar.

Este texto não é ou se pretende um tratado sobre bom gosto musical infantil (ou adulto). Mas sabemos que, como em qualquer nicho, o que é melhor às vezes fica escondido pela mídia, cujo interesse, antes de informar, é simplesmente vender. José Antonio vê muito Palavra Cantada, Tiquequê, Grupo Triii, Partimpim (a persona “infantil” de Adriana Calcanhotto), o Zoró de Zeca Baleiro e a Arca de Noé (com grandes nomes da MPB interpretando composições de Toquinho e Vinicius), entre outros.

Um exercício a que me proponho é eliminar a barreira – se é que ela existe – entre música adulta e música infantil e os exemplos acima são ótimos. Brinco de aterrorizar minha esposa dizendo que ouvindo o que ouve na infância, o menino será admirador de Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e Premeditando o Breque – que eu adoro e ela detesta! –, entre outros.

Fora o terrorismo conjugal, faz sentido: a Palavra Cantada, por exemplo, é formada por Sandra Peres e Paulo Tatit, este, ex-integrante do Grupo Rumo, outro nome fundamental da chamada Vanguarda Paulista. Aqui e acolá pintam parcerias com Arnaldo Antunes, além da participação do ex-Titãs em músicas, bem como Mônica Salmaso – outro nome cuja voz agrada bastante adultos que apreciam boa música. No que a dupla é craque: fazendo música para crianças, não se despreocupa da qualidade nas letras, melodias e arranjos, mesmo quando estão apenas interpretando alguma cantiga de roda ou tema de domínio público.

A seguir, 12 (+2) clipes musicais infantis, escolhidos entre o lobby de José Antonio (suas preferências) e o que mais agrada este pai coruja entre o que ele vê.

Cuida com cuidado (Paulo Tatit e Zé Tatit), Palavra Cantada
Esta chegou a integrar minha lista de melhores videoclipes de 2016, na tradicional eleição do site Scream & Yell – não fosse José Antonio, provavelmente eu nem a conheceria

O pinguim (Toquinho, Vinicius de Moraes e Paulo Soledade), Chico Buarque
Meu sogro é professor de matemática aposentado. Brinco com José Antonio dizendo que este é o clipe do avô dele

O gigante (Angelo Mundy), Tiquequê
Um grupo bastante interessante em um videoclipe realizado pelo mesmo estúdio que produz a Galinha Pintadinha (viram? É possível!)

Lindo lago do amor (Gonzaguinha), Adriana Partimpim
Música de adulto em belo videoclipe de roupagem infantil

Ciranda da bailarina (Chico Buarque), Adriana Partimpim
Para adultos e/ou crianças Chico é gênio! Pena que os filhos de pais de direita demorarão mais a perceber

Bolacha de água e sal (Sandra Peres e Paulo Tatit), Palavra Cantada
Saquem a pegada rock’n roll que agrada o menino. Talvez a piada de Fernando Matos não fosse apenas uma piada

Eu sou um bebezinho (Paulo Tatit), Palavra Cantada
Sem chiliques, José Antonio!

O ornitorrinco (Zeca Baleiro e Tata Fernandes), Zeca Baleiro
Entre os bichos esquisitos do maranhense há uma girafa regueira e uma onça pintada, entre outros

Rato (Paulo Tatit e Edith Derdyk), Palavra Cantada
Letra longa, cerzida a valsa e choro, mostra o capricho das produções da dupla

A Galinha d’Angola (Toquinho e Vinicius de Moraes), Ivete Sangalo
Clássico infantil originalmente interpretado por Ney Matogrosso

O ar (O vento) (Luiz Enriquez Bacalov, versão de Toquinho e Vinicius de Moraes), Boca Livre
Apesar do erro teórico, garante a diversão dos adultos. Sempre ouvi um ditado, ainda bem que nunca comprovado, que diz que “quem ri de peido caem os dentes”

História de uma gata (Luiz Enriquez Bacalov e Sergio Bardotti, versão de Chico Buarque), Nara Leão e Miúcha
Da trilha sonora de Os Saltimbancos. Há várias músicas com gatos – estes seres que adoram jazz – como protagonistas dos videoclipes

Bônus track

Completado o top dúzia, mais dois clipes animados. Não são infantis, mas José ficou quietinho vendo as novidades. Um prêmio para papais e mamães que se renderam aos encantos da boa “mpbaby”, aguentaram textão e perdoaram o clichê publicitário do título, vocês merecem!

Burn the witch (Radiohead), Radiohead
De A moon shaped pool, disco mais novo dos ingleses

The girl in the yellow dresses (David Gilmour e Polly Samson), David Gilmour
Clipe sensacional e jazz classudo do ex-Pink Floyd, aqui acompanhado pelo The Julian Joseph Quintet